Gente de Guerra, Fronteira e Sertão

Page 137

“E, que gente é que temos?”. Companhias militares e soldados pagos no norte da América portuguesa

eram as atividades de cultivo e as distâncias da capitania que dificultavam o agrupamento dos moradores em companhias, que regularmente deveriam reunir-se para treinamentos, ou mesmo atividades de guerra e defesa. E terceiro, e mais importante, é que no Estado do Maranhão e Pará, a Coroa contava com a presença e participação indígena nas diversas atividades de defesa, portanto, ao que parece, não houve muito interesse em implementar a força auxiliar porque esse papel era desempenhado pelas nações e grupos indígenas que integravam as tropas e diligências militares. Eles são os sujeitos da defesa e os senhores das estratégias de guerra e estavam inseridos nas mais diversas atividades. A integração indígena em tropas portuguesas qualificou as ações militares lusas na região, como veremos no capítulo 5.

Conclusão A fragilidade defensiva no império português exigiu flexibilidade na composição humana das companhias militares, característica observada pelos experientes militares Álvaro de Sousa e Fernão Teles, em 1643, ao afirmarem que nesse contexto a guerra se compõe de toda sorte de gente.315 Trata-se da incorporação de nativos nas forças defensivas do reino, sobretudo nas áreas coloniais. Negros, ciganos, pardos e indígenas fizeram-se presentes nas tropas militares portuguesas. Valer-se dessa gente foi a estratégia para manter forças exíguas de soldados lusos, e ainda estabelecer-se em frentes importantes de defesa do império. A composição étnica tornou a tropa um lugar multifacetado. Um espaço múltiplo também do que se referem como a “qualidade” da gente. Vadios, vagabundos e degredados, estigmatizados pela condição de inferioridade social e moral também foram prontamente utilizados como força defensiva.316 O serviço militar foi um mecanismo de ascensão social no mundo colonial. As mercês, os privilégios e postos de comandos eram galgados pela prestação de serviço à Coroa317. Essa lógica, prontamente interpretada pela gente 315 ANTT, Conselho De Guerra, Consultas, Maço 3, Caixa 28, D. 119.

316 Sobre essa questão ver: PIERONE, Geraldo. Vadios e ciganos, heréticos e bruxas: os degredados no Brasil-colônia. 3. ed. Rio de Janeiro: Betrand Brasil, 2006.

317 A esse respeito ver: OLIVAL, Fernanda. As ordens e Estado Moderno. Honra, mercê e venalidade em Portugal (1641-1789). Lisboa: Estar Editora, 2011; XAVIER, Ângela Barreto e HESPANHA,

135


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook

Articles inside

Referências bibliográficas

22min
pages 365-380

Fontes impressas

6min
pages 359-364

Fontes manuscritas

24min
pages 343-358

Considerações Finais

12min
pages 335-342

Conclusão

2min
pages 332-334

5. Além da guerra: prestação de serviços e mercês

28min
pages 316-331

4. Razão das alianças: algumas reflexões

9min
pages 311-315

Imagem 20. Mapa da Aldeia Majuri, 1728

4min
pages 308-310

3.2. A Guerra do Rio Negro

18min
pages 299-307

colonização

15min
pages 279-286

e alianças na capitania do Pará

3min
pages 267-268

Conclusão

1min
pages 265-266

1. A arte da guerra: algumas reflexões

19min
pages 269-278

3. Conexões e experiências de militares e índios

27min
pages 249-264

2. Redes de mobilização de soldados para defesa do Pará

22min
pages 238-248

Capítulo 4. Redes de mobilização militar na capitania do Pará

22min
pages 211-222

1. As redes de mobilização militar no sertão

30min
pages 223-237

Conclusão

3min
pages 206-210

Imagens 17 e 18. Mapa da Barra do Pará, 1793

8min
pages 197-201

Imagem 19. Planta da abertura de canal

6min
pages 202-205

Imagem 16. Mapa de defesa da Barra e Cidade do Grão-Pará

3min
pages 195-196

Imagem 15. Planta do Armazém da Pólvora

3min
pages 193-194

Imagem 14. Planta da Fortaleza da cidade do Pará

3min
pages 191-192

Imagem 13. Planta da fortaleza da barra do Pará

0
page 190

Imagem 12. Fortaleza de Nossa Senhora das Mercês da Barra de Belém

0
page 189

3.1. Das obras de fortificação e os desafios da construção na Amazônia

22min
pages 167-178

Imagem 11. Casa Forte do Rio Araguari

14min
pages 181-188

Mapa 1. Fortificações e rios

0
page 179

3.2. O engenheiro e o desenho: as fortificações na capitania do Pará

1min
page 180

capitania do Pará

1min
page 166

Imagens 9 e 10. Estampas de Azevedo Fortes presente no Engenheiro Portuguez

1min
page 165

Imagem 8. Baluarte segundo o Tratado Methodo Lusitanico

4min
pages 162-164

Imagem 7. Praça Forte de Mazagão (1541-1542

0
page 161

Imagem 4. Traçado Vauban

2min
pages 154-155

Imagem 6. Fortificação de Praça Irregular

6min
pages 157-160

Imagem 5. Fortificação de Praça Regular

0
page 156

Imagem 3. Traçado Vauban

0
page 153

Imagem 2. Traçado abaluartado

1min
page 152

Imagem 1. Traçado de Di Giorgi Martine

1min
page 151

2. Fortificação à moderna: ciência, conhecimento e formação

5min
pages 148-150

1. Casa Fortes, Fortalezas e Presídios: o problema das terminologias

7min
pages 144-147

Capítulo 3. Povoar e defender: as fortalezas do Grão-Pará

5min
pages 141-143

3. As Companhias Auxiliares

22min
pages 126-136

Conclusão

5min
pages 137-140

Tabela 2. Número de gente nas ordenanças na capitania do Pará e capitania do Maranhão (1647-1747

8min
pages 122-125

2. As Companhias de Ordenança

20min
pages 112-121

Tabela 1. Gente de paga e de ordenança. Pará e Maranhão (1623-1747

46min
pages 87-111

1. As Companhias Regulares

5min
pages 84-86

Capítulo 2. “E, que gente é que temos?” Companhias militares e soldados pagos no norte da América portuguesa

5min
pages 81-83

Conclusão

3min
pages 77-80

2. A letra da Lei. Decretos, Regimentos, Alvarás

25min
pages 58-70

1. Portugal e a guerra moderna

33min
pages 41-57

Capítulo 1. Militarização e poder em Portugal

3min
pages 39-40

3. Inovações Institucionais

11min
pages 71-76

Introdução

28min
pages 23-38

O “laboratório” das práticas: as fortificações e os engenheiros militares na

12min
pages 5-18

Prefácio

6min
pages 19-22

Índios aliados nas tropas portuguesas e o avanço da fronteira da

0
page 4
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.