Povoar e defender: as fortalezas do Grão-Pará
de fortificação à moderna; e, finalmente, as relações sociais em torno dessas construções.
3.1 Das obras de fortificação: os desafios da construção na Amazônia As obras de fortificação na Amazônia não eram tarefas para qualquer tratado de engenharia militar e/ou arquitetura resolver. Como vimos, no período compreendido entre 1640 e 1668, Portugal enfrentava os conflitos decorrentes da restauração da monarquia. Os esforços militares mal permitiam acudir as fronteiras domésticas, como destacamos no capítulo 1. No reino, a necessidade de tornar as praças mais defensáveis tornava-se patente. A profissionalização e formação de engenheiros eram também uma condição para a manutenção das fronteiras internas e externas. Como destacamos atrás, foi somente em 1647 que em Portugal se instituíram as Aulas de Fortificação e Engenharia Militar. E somente em 1680 publicava-se o primeiro tratado luso de fortificação, escrito por Luís Serrão Pimentel. Se considerarmos as primeiras fortificações lusas na região do século XVII, verifica-se que a tarefa de desenhar e construir nesse contexto inclui uma ação emergencial e improvisada porque mesmo no reino ainda não havia base de formação sólida para esses profissionais. Nos anos em que ocorre a expulsão dos franceses do Maranhão (1615), a fundação do forte do Castelo (1616), principiando a cidade de Belém, as conquistas realizadas ao rio Xingu, Cabo do Norte e Gurupá, as fortificações eram levantadas pelos próprios conquistadores. Lyra de Tavares lista Antônio Chichorro, Bento Maciel Parente, Bento Rodrigues de Oliveira e Francisco Caldeira de Castelo Branco no rol de sujeitos que desempenharam papel de engenheiros, levantando fortes no norte da América portuguesa. É o caso, por exemplo, da Fortaleza de Gurupá, constituída em 1623 por Maciel Parente logo após a destituição das construções holandesas na região.376 Portanto, nos primeiros anos da conquista, as obras eram construções que estavam muito mais ligadas à manutenção do domínio da Coroa sobre o espaço conquistado, no contexto dos embates com as pretensões de outras nações europeias na região, do que propriamente enquadrado em técnicas de 376 TAVARES, Lyra de. A engenharia militar portuguesa na construção do Brasil. Lisboa: Biblioteca do Exército Português, 1965.
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