Redes de mobilização militar na capitania do Pará
defesa só pode ser entendida se considerarmos esses circuitos de mobilização e atuação desses diferentes sujeitos nas diligências militares na capitania.
1. As redes de mobilização militar no sertão Em 22 de dezembro de 1709, uma carta do governador Cristóvão da Costa Freire relatava as contendas existentes entre o padre Francisco Pedro do Redondo com o Alferes tenente da casa-forte do Rio Negro, Baltasar Alvares Pestana. Na carta, constava que “castelhanos de Quito tinham chegado ao Sertão dos Solimões”, com intenção de invadir a casa-forte. O tenente pediu socorro de munição, soldados e índios ao cabo da fortaleza dos Tapajós. Solicitou ao padre Francisco Pedro Redondo, religioso da província da Piedade, que lhe enviasse índios, “os quais não só não lhe quis dar”, como também se compôs com o militar com “palavras injuriosas”. Ficando assim o tenente impossibilitado de enviar o socorro por “não haver índios que remassem a canoa podendo seguir desta falta em um grande dano, se os Castelhanos viessem à dita Casa Forte”.493 É importante notar que, diante da ameaça, o tenente Baltasar Alvares Pestana articula uma estratégia de defesa que incluía soldados e índios. A prática defensiva verificada nas diligências e expedições de tropas depende da presença indígena, como bem ressaltou o militar, já que sem eles teria ficado “impossibilitado” de enviar socorro ao Rio Negro. Todavia, esses indígenas não integram as tropas através das determinações vinculadas a regimentos e alvarás que definem o recrutamento para não índios. Essa é a razão pela qual uma análise estritamente em soldados, oficiais e burocracia militar não percebe os indígenas. Mas, afinal, quais são esses caminhos para os índios? A carta de Cristóvão da Costa Freire apresenta alguns indícios importantes. O primeiro são os sujeitos envolvidos, observa-se o governador, os militares, os religiosos e os índios enredados por um problema de defesa que exigia comunicação que nem sempre confluía para o mesmo interesse. O fato de o religioso da província da Piedade ter negado o pedido do militar é sintomático. Por outro lado, é evidente que se trata de índios aldeados.
493 Carta do Governador Cristóvão da Costa Freire, para o rei. Pará 22 de Dezembro de 1709. AHU, Avulsos do Pará, Cx. 5, D. 440.
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