Gente de Guerra, Fronteira e Sertão

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Defesa luso-indígena: militares, indígenas e alianças na capitania do Pará

europeia, verificável na atuação de oficiais de experiência, e do conhecimento das diversas nações indígenas sobre a arte de guerra nativa. Foi esse mecanismo integrado e compósito que garantiu à tropa lusa força para fazer frente à resistência dos índios hostis e à manutenção do território. Trata-se, portanto, de uma defesa luso-indígena. Por defesa luso-indígena designo a combinação de ações que na prática defensiva na capitania do Pará, na primeira metade do século XVIII, qualificou a tropa paga. Essas ações se manifestam em diversos fatores. 1) nos instrumentos de guerra: arma de fogo e o arco e flecha; 2) na estratégia do assalto eminentemente indígena com a obstrução estratégica dos caminhos a partir das fortalezas portuguesas ao longo dos rios; 3) da sagacidade do guerreiro indígena com a expertise do oficial luso. Esses fatores compõem um conjunto complexo de defesa, que não se explica somente do ponto de vista das companhias regulares. A introdução da arma de fogo, o domínio pelos nativos dessa tecnologia de guerra moderna e a compreensão da guerra indígena pelos oficiais, combinados nas atividades militares ressignificaram a defesa. Uma prática que não pode ser mais europeia, e, também, já não é mais nativa. É algo novo, uma defesa luso-indígena constituída no ajuste de interesses dos diversos sujeitos envolvidos. A envergadura da tropa lusa está, portanto, nos indígenas que colaboraram e em sujeitos do oficialato de larga experiência de guerra do sertão. Para o universo militar, a arte de guerra nativa se mostrou indispensável aos portugueses. Mas afinal, do que se trata a arte de guerra?

1. A arte da guerra: algumas reflexões Compreende-se por arte da guerra o conjunto de práticas que inclui o domínio da técnica e da tecnologia de combate; mas também da inteligência que abrange a estratégia, o conhecimento do terreno, das limitações e capacidades de si e do inimigo. Das razões do combate e dos significados das motivações e fins da guerra. Além da disciplina ligada ao sujeito enquanto construção do militar e/ou guerreiro.603 603 Conceito elaborado a partir das leituras de: TZU, Sun. A arte da guerra. Tradução de Sueli Barros Cassal. Porto Alegre: L&PM, 2006; MAQUIAVEL, Nicolau. A Arte da Guerra. São Paulo: Martins Fontes, 2006; MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2010; CORRÊA, Carlos Alberto. Princípios de Guerra. Lisboa:

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Referências bibliográficas

22min
pages 365-380

Fontes impressas

6min
pages 359-364

Fontes manuscritas

24min
pages 343-358

Considerações Finais

12min
pages 335-342

Conclusão

2min
pages 332-334

5. Além da guerra: prestação de serviços e mercês

28min
pages 316-331

4. Razão das alianças: algumas reflexões

9min
pages 311-315

Imagem 20. Mapa da Aldeia Majuri, 1728

4min
pages 308-310

3.2. A Guerra do Rio Negro

18min
pages 299-307

colonização

15min
pages 279-286

e alianças na capitania do Pará

3min
pages 267-268

Conclusão

1min
pages 265-266

1. A arte da guerra: algumas reflexões

19min
pages 269-278

3. Conexões e experiências de militares e índios

27min
pages 249-264

2. Redes de mobilização de soldados para defesa do Pará

22min
pages 238-248

Capítulo 4. Redes de mobilização militar na capitania do Pará

22min
pages 211-222

1. As redes de mobilização militar no sertão

30min
pages 223-237

Conclusão

3min
pages 206-210

Imagens 17 e 18. Mapa da Barra do Pará, 1793

8min
pages 197-201

Imagem 19. Planta da abertura de canal

6min
pages 202-205

Imagem 16. Mapa de defesa da Barra e Cidade do Grão-Pará

3min
pages 195-196

Imagem 15. Planta do Armazém da Pólvora

3min
pages 193-194

Imagem 14. Planta da Fortaleza da cidade do Pará

3min
pages 191-192

Imagem 13. Planta da fortaleza da barra do Pará

0
page 190

Imagem 12. Fortaleza de Nossa Senhora das Mercês da Barra de Belém

0
page 189

3.1. Das obras de fortificação e os desafios da construção na Amazônia

22min
pages 167-178

Imagem 11. Casa Forte do Rio Araguari

14min
pages 181-188

Mapa 1. Fortificações e rios

0
page 179

3.2. O engenheiro e o desenho: as fortificações na capitania do Pará

1min
page 180

capitania do Pará

1min
page 166

Imagens 9 e 10. Estampas de Azevedo Fortes presente no Engenheiro Portuguez

1min
page 165

Imagem 8. Baluarte segundo o Tratado Methodo Lusitanico

4min
pages 162-164

Imagem 7. Praça Forte de Mazagão (1541-1542

0
page 161

Imagem 4. Traçado Vauban

2min
pages 154-155

Imagem 6. Fortificação de Praça Irregular

6min
pages 157-160

Imagem 5. Fortificação de Praça Regular

0
page 156

Imagem 3. Traçado Vauban

0
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Imagem 2. Traçado abaluartado

1min
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Imagem 1. Traçado de Di Giorgi Martine

1min
page 151

2. Fortificação à moderna: ciência, conhecimento e formação

5min
pages 148-150

1. Casa Fortes, Fortalezas e Presídios: o problema das terminologias

7min
pages 144-147

Capítulo 3. Povoar e defender: as fortalezas do Grão-Pará

5min
pages 141-143

3. As Companhias Auxiliares

22min
pages 126-136

Conclusão

5min
pages 137-140

Tabela 2. Número de gente nas ordenanças na capitania do Pará e capitania do Maranhão (1647-1747

8min
pages 122-125

2. As Companhias de Ordenança

20min
pages 112-121

Tabela 1. Gente de paga e de ordenança. Pará e Maranhão (1623-1747

46min
pages 87-111

1. As Companhias Regulares

5min
pages 84-86

Capítulo 2. “E, que gente é que temos?” Companhias militares e soldados pagos no norte da América portuguesa

5min
pages 81-83

Conclusão

3min
pages 77-80

2. A letra da Lei. Decretos, Regimentos, Alvarás

25min
pages 58-70

1. Portugal e a guerra moderna

33min
pages 41-57

Capítulo 1. Militarização e poder em Portugal

3min
pages 39-40

3. Inovações Institucionais

11min
pages 71-76

Introdução

28min
pages 23-38

O “laboratório” das práticas: as fortificações e os engenheiros militares na

12min
pages 5-18

Prefácio

6min
pages 19-22

Índios aliados nas tropas portuguesas e o avanço da fronteira da

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