Defesa luso-indígena: militares, indígenas e alianças na capitania do Pará
O teatro da guerra, portanto, apresenta elementos de guerra europeia, como a arma de fogo e o estabelecimento do arraial, como os de guerra nativa, a presença do arco e flecha e da emboscada. A canoa de João Pais do Amaral surpreendeu a canoa dos Aruã em um determinado igarapé. São circunstâncias que implicam em um formato novo de guerra, que é “a guerra do mato” caracterizada por Pedro Puntoni, ou “guerra do sertão”, como chamou Francisco de Sá e Meneses, em 1689. Pelas informações da devassa, os índios que integraram a tropa de combate aos Aruã eram provenientes das aldeias do Arapijo, Tupinambá, Tocantins. Ou seja, pelo menos três aldeias auxiliaram na empreitada militar. Uma aliança que não se restringe à logística da tropa, como a necessidade de guias e remeiros. Mas também pela potencialidade da arte de guerra, pelo número e qualidade dos guerreiros, e, sobretudo, pelas informações que esses têm dos “inimigos”. Trata-se de um elemento importante da arte de guerra: conhecer as práticas de combate do adversário, e sobre essa questão parece que os índios aliados dos portugueses conheciam bem a respeito dos Aruã. Tornaram-se centrais para a desarticulação do comércio mantido entre Macapá e Gurupá no Marajó. A interpretação de Pedro Puntoni, que explica a superioridade da tropa lusa pela sua capacidade de assimilação e adaptação da técnica de guerra nativa, deve ser ponderada. Ora, o que ocorre é a aliança com os guerreiros indígenas. É a atuação indígena nas diligências militares que qualifica as ações de defesa da tropa. Nessa perspectiva, a adaptação ou assimilação decorre dessa presença indígena. Ou seja, deve-se a um aprendizado de ambos por meio da experiência de guerra e convivência nas tropas militares. Considerar que foram os portugueses que souberam assimilar a arte de guerra indígena é, na minha compreensão, diminuir a importância desses grupos que atuaram decisivamente nos eventos militares.
3.2 A Guerra do Rio Negro Além do avanço para fronteira Norte, é possível verificar a presença indígena imbricada em outros momentos de expansão do domínio luso na região na primeira metade do século XVIII. Tomemos, por exemplo, a expansão da fronteira Noroeste, especificamente no Rio Negro com a guerra contra os
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