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GENTE DE GUERRA, FRONTEIRA E SERTÃO: Índios e Soldados na Capitania do Pará (Primeira Metade do Século XVIII)
portugueses tornava esses aliados mais poderosos na relação de poder estabelecido com outros grupos indígenas no sertão. Se, para os portugueses, os objetivos das alianças estavam no limite dos objetivos da colonização, para os nativos as motivações poderiam ser as mais diversas, constituídas de rivalidades anteriores à conquista, redes de comércio, vingança, fugas, negociação, pagamento e/ou a inserção na sociedade por meio das patentes e honrarias. Essas inúmeras razões, em muitos casos, não estavam claras aos colonizadores. Assim como não me parece que os objetivos dos colonizadores estivessem necessariamente bem claros aos nativos. Há ainda um último aspecto sobre o qual é preciso refletir. Dado o ambiente provocado pela disputa entre ingleses, holandeses, franceses, espanhóis, portugueses pelos territórios amazônicos, desde cedo, as alianças pareciam um caminho inevitável. Os índios se aliavam porque o ambiente de contato não permitia mais a manutenção de relações outrora estabelecidas. A expansão colonial provocou um desiquilíbrio nas relações entre os indígenas. A militarização percebida principalmente pela reconfiguração da guerra e introdução da arma de fogo exigiu das diversas nações indígenas novos comportamentos, que passavam pelas múltiplas relações estabelecidas com os estrangeiros. A aliança com os portugueses dava aos índios acesso a armas e a maior poder de enfrentamento contra as nações inimigas. Essa posição também os recolocava em possibilidade de novos modos de inserção social, através do merecimento, patentes e honrarias militares.
5. Além da guerra: prestação de serviços e mercês Conforme destaquei até agora, a capacidade defensiva da tropa portuguesa estava alicerçada em dois grupos: os índios aliados e os oficiais militares que ocuparam postos de comando nas tropas regulares. Nesse sentido, no oficialato das companhias regulares, foi mantido um grupo de militares de grande experiência de guerra. Esses sujeitos construíram longa carreira nos serviços das armas e buscavam a partir desse aspecto se inserir em redes de favorecimento e mercês. Diogo Pinto da Gaia, por exemplo, que ocupou o posto de capitão de uma das companhias pagas da capitania, seguiu esse caminho. Era filho de Manoel Luís de Matos e de Margarida de Siqueira, e natural do Pará. Consta