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GENTE DE GUERRA, FRONTEIRA E SERTÃO: Índios e Soldados na Capitania do Pará (Primeira Metade do Século XVIII)
Santa Ana de Macapá. Essas patentes para aldeias sem dúvida ampliavam a ação desses sujeitos sobre as demais nações indígenas aldeadas. Uma relação entre índios, militares e Coroa construída a partir de interesses múltiplos. Aqui a intenção é chamar atenção sobre aspectos que resultam da atuação e participação de militares e índios nas atividades militares da capitania. Se a estratégia dos colonizadores, como escrevia Bento Maciel Parente, ainda em 1637, era conseguir o apoio indígena a partir do oferecimento de “dádivas”,769 os índios, certamente, também se valeram da aliança com os brancos para inclinar essa relação a seu favor a partir de seus próprios interesses. Afinal, se nesta parte da conquista a Coroa portuguesa não poderia contar com os soldados pagos nem com uma tropa auxiliar, valeram-se dos oficiais de experiência e, principalmente, da importante atuação dos índios aliados, sem os quais o avanço da fronteira colonial parecia impraticável durante a primeira metade do século XVIII.
Conclusão Neste ponto, evidencia-se que a defesa da capitania do Pará na primeira metade do século XVIII e as atividades de conquista em geral dependeram, em grande parte, da força indígena mobilizada para essas ações. Portanto, o sistema defensivo da capitania não se compõe somente de uma estrutura militar arraigada na esfera das companhias pagas. Retomando o texto que inicia este capítulo, são os indígenas que descobrem os caminhos, definem as jornadas, fazem as paradas […] confiando em sua capacidade a marcha militar. Todavia, não se trata de sua arte de guerra como uma ação isolada. Mas sim articulada com um conhecimento de guerra europeu praticado pelos oficiais. Um aprendizado que decorre da convivência nas tropas e práticas dos sertões, que ressignificou o conflito e a ação militar pelo contato, constituindo uma defesa luso-indígena construída da relação entre os diferentes sujeitos que a compõem. O universo militar construído a partir do contato teve um impacto social impressionante para as diversas nações indígenas que habitavam o vale 769 Requerimento do governador Bento Maciel Parente ao rei Felipe III. Ant. 9 de outubro de 1637. AHU, avulsos do Maranhão, Cx.1, D. 116.