Gente de Guerra, Fronteira e Sertão

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Militarização e poder em Portugal

ências de guerras anteriores a esse contexto também balizaram iniciativas de militarização em Portugal, como por exemplo, as ordenanças do tempo de Dom Sebastião para as campanhas no Norte da África.34 Muito embora nenhuma delas tenha significado mudanças estruturais, como as sistemáticas medidas de meados do século XVII, consolidadas na segunda metade do século XVIII. Portanto, neste capítulo, busca-se verificar como se dá, em Portugal, o processo de integração da militarização à prática de governação do Estado a partir da interpretação da defesa como instrumento político para manutenção das fronteiras no reino e nas conquistas. Nessa perspectiva, sistematiza-se o aparato legislativo e institucional que compõe a centralização do sistema defensivo nas mãos do Estado e os limites vinculados aos desafios impostos pela dilatação do império.

1. Portugal e a guerra moderna As primeiras iniciativas de transformação das forças medievais em exércitos do Estado, em Portugal, constituíram-se no ano de 1508, durante o reinado de Dom Manuel (1495-1512). O Alvará de Regimento da gente de ordenança e das vinte lanças da guarda de 1508, estendido com o Alvará das ordenanças de 7 de agosto de 1549, previa a listagem de todos os homens livres de 20 e 65 anos que “deveriam possuir armas correspondentes a sua fortuna e estatuto social”, além da obrigação de treinamentos militares e armamentos.35 As ordenanças com um caráter local tornaram-se um preâmbulo fundamental para a constituição do exército permanente em Portugal em 1640. Tentativas anteriores de expansão territorial verificadas ainda no século XIV mostravam que a tradicional forma defensiva36 estava desajustada aos objetivos da monarquia portuguesa. No reinado de D. Fernando, o formoso (1367-1383), por exemplo, três guerras que aspiravam expansão territorial 34 35 36

DOMINGUES, Francisco Contente. “O império no mar e na terra (1495-1580)”. In: TEIXEIRA, Nuno Severiano; DOMINGUES, Francisco Contente; MONTEIRO, João Gouvêia. História Militar de Portugal. Lisboa: a esfera dos livros, 2017. p. 209-262 COSTA, Ana Paula Pereira. Corpos de ordenanças e Chefias Militares em Minas Colonial: Vila Rica (1735-1777). Rio de Janeiro. Editora FGV, 2014. p. 17-18. Compreende-se aqui como forma tradicional de defesa o período anterior à descoberta da pólvora e da arma de fogo. Aquele que mantém exércitos formados por mercenários, cujo sistema de defesa está atrelado a cidades ou castelo verticalmente amuralhados. Caracteriza-se pela utilização de bestas, catapultas, aríetes e torres de assédio como armas de guerra.

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Referências bibliográficas

22min
pages 365-380

Fontes impressas

6min
pages 359-364

Fontes manuscritas

24min
pages 343-358

Considerações Finais

12min
pages 335-342

Conclusão

2min
pages 332-334

5. Além da guerra: prestação de serviços e mercês

28min
pages 316-331

4. Razão das alianças: algumas reflexões

9min
pages 311-315

Imagem 20. Mapa da Aldeia Majuri, 1728

4min
pages 308-310

3.2. A Guerra do Rio Negro

18min
pages 299-307

colonização

15min
pages 279-286

e alianças na capitania do Pará

3min
pages 267-268

Conclusão

1min
pages 265-266

1. A arte da guerra: algumas reflexões

19min
pages 269-278

3. Conexões e experiências de militares e índios

27min
pages 249-264

2. Redes de mobilização de soldados para defesa do Pará

22min
pages 238-248

Capítulo 4. Redes de mobilização militar na capitania do Pará

22min
pages 211-222

1. As redes de mobilização militar no sertão

30min
pages 223-237

Conclusão

3min
pages 206-210

Imagens 17 e 18. Mapa da Barra do Pará, 1793

8min
pages 197-201

Imagem 19. Planta da abertura de canal

6min
pages 202-205

Imagem 16. Mapa de defesa da Barra e Cidade do Grão-Pará

3min
pages 195-196

Imagem 15. Planta do Armazém da Pólvora

3min
pages 193-194

Imagem 14. Planta da Fortaleza da cidade do Pará

3min
pages 191-192

Imagem 13. Planta da fortaleza da barra do Pará

0
page 190

Imagem 12. Fortaleza de Nossa Senhora das Mercês da Barra de Belém

0
page 189

3.1. Das obras de fortificação e os desafios da construção na Amazônia

22min
pages 167-178

Imagem 11. Casa Forte do Rio Araguari

14min
pages 181-188

Mapa 1. Fortificações e rios

0
page 179

3.2. O engenheiro e o desenho: as fortificações na capitania do Pará

1min
page 180

capitania do Pará

1min
page 166

Imagens 9 e 10. Estampas de Azevedo Fortes presente no Engenheiro Portuguez

1min
page 165

Imagem 8. Baluarte segundo o Tratado Methodo Lusitanico

4min
pages 162-164

Imagem 7. Praça Forte de Mazagão (1541-1542

0
page 161

Imagem 4. Traçado Vauban

2min
pages 154-155

Imagem 6. Fortificação de Praça Irregular

6min
pages 157-160

Imagem 5. Fortificação de Praça Regular

0
page 156

Imagem 3. Traçado Vauban

0
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Imagem 2. Traçado abaluartado

1min
page 152

Imagem 1. Traçado de Di Giorgi Martine

1min
page 151

2. Fortificação à moderna: ciência, conhecimento e formação

5min
pages 148-150

1. Casa Fortes, Fortalezas e Presídios: o problema das terminologias

7min
pages 144-147

Capítulo 3. Povoar e defender: as fortalezas do Grão-Pará

5min
pages 141-143

3. As Companhias Auxiliares

22min
pages 126-136

Conclusão

5min
pages 137-140

Tabela 2. Número de gente nas ordenanças na capitania do Pará e capitania do Maranhão (1647-1747

8min
pages 122-125

2. As Companhias de Ordenança

20min
pages 112-121

Tabela 1. Gente de paga e de ordenança. Pará e Maranhão (1623-1747

46min
pages 87-111

1. As Companhias Regulares

5min
pages 84-86

Capítulo 2. “E, que gente é que temos?” Companhias militares e soldados pagos no norte da América portuguesa

5min
pages 81-83

Conclusão

3min
pages 77-80

2. A letra da Lei. Decretos, Regimentos, Alvarás

25min
pages 58-70

1. Portugal e a guerra moderna

33min
pages 41-57

Capítulo 1. Militarização e poder em Portugal

3min
pages 39-40

3. Inovações Institucionais

11min
pages 71-76

Introdução

28min
pages 23-38

O “laboratório” das práticas: as fortificações e os engenheiros militares na

12min
pages 5-18

Prefácio

6min
pages 19-22

Índios aliados nas tropas portuguesas e o avanço da fronteira da

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page 4
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