Apresentação
Q
uando entramos no ambiente da saúde, não sabemos o que vamos encontrar. De verdade. Romantizamos a enfermeira calma andando pela enfermaria quase vazia com seu uniforme limpo. Ou a médica que consegue, quase heroicamente, realizar um parto na ambulância permanecendo com seu pequeno paciente nos braços, sorrindo de emoção com uma pequena lágrima no canto. Logo no primeiro plantão a realidade bate no estômago como uma pedra mal digerida e que não se pode regurgitar. No sistema público faltam insumos, macas se acumulam em um corredor e pacientes são prescritos a cada dois dias. No sistema privado, a falta de diálogo e posicionamento de alguns gestores nos incomoda e temos que conviver com pessoas diferentes de nós, onde uma Torre de Babel invisível se agiganta dia a dia. Porém, mesmo com todos os percalços, seguimos. E de que forma? Adequadas e felizes? Ou mal, adoecendo e se revoltando? Também vejo mulheres em uma espécie de limbo emocional, onde estamos presas por uma inércia que cai na “casa do sem jeito”. Ou percebo mulheres tão adoecidas pelo sofrimento que simplesmente colocam em si, ou tentam, uma carapaça de “dessensibilidade” para seguirem na profissão. Tudo isso porque de fato amamos o que fazemos. Porque nos sentimos bem em curar quando se é possível e nos dispomos a cuidar sempre. Porque cada “obrigada” funciona como um grande combustível que nos alimenta por dias. Porque simplesmente foi o que nascemos para fazer. Mas como fazer para entender todo esse processo e ficar bem, mental e fisicamente, com ele? 12