1 EU SEMPRE QUIS SER MÉDICA.
A
os seis anos de idade as coisas começaram a se delimitar em minha cabeça e eu sentia que havia nascido para isso: cuidar de vidas. Eu tinha plena certeza desse fato, porém quando entrei na adolescência, uma fase que a gente sempre acha que entende mais das coisas que os pais, eu pensei em ser bióloga marinha, hoje não consigo me lembrar bem porquê. Quando quis compartilhar essa dúvida com a minha mãe, ela, com sua sensacional capacidade de síntese, me perguntou: “E tu vais mergulhar onde? No Rio Guamá? ”. Com essa simples pergunta, minha opção de descobrir a vida marinha foi para o espaço. Explico: Em Belém, nosso rio é grande, imagine a diversidade que se encontre nele... porém suas águas são barrentas, e não se consegue ter uma visão muito nítida ao mergulhar. Com esse questionamento minha mãe me jogou na realidade. Me chocou e me centrou, mesmo sendo eu ainda uma criança. Claro que eu podia ter feito biologia e ido embora mergulhar onde quisesse, mas o fato era que eu me perguntei verdadeiramente se era isso que eu queria a partir daquela confrontação. Se fosse, eu pagaria o preço. A resposta foi NÃO! Frente às infinitas possibilidades que podemos “ser quando crescer”, senti que aquela frustraçãozinha só me fez bem. Na hora doeu, mas sou muito grata à minha mãe até hoje. Mergulho, por enquanto, só em mim mesma! Estudar nunca foi um sacrifício. A não ser Física e Matemática que nunca entraram na minha cabeça (ainda não desisti), porém nunca fui o tipo de aluna que tirava dez em tudo. Estudar era uma fonte de prazer, uma chave que abria todas as portas. Portas entre mim e o mundo. E como eu queria conhecê-lo por meio do cuidado com os outros, especialmente das crianças e idosos, esse era o mundo que eu visualizava. Me via de branco, passando por velhos corredores de enfermarias lotadas de leitos, cuidando de doentes necessitados, e me enchia de orgulho de mim mesma e assim sonhava... e assim estudava as matérias que eu gostava mais como 19