Jornalismo UFMS: Duas décadas e meia em relatos de professores e ex-alunos

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Jornalismo UFMS duas décadas e meia em relatos de professores e ex-alunos


Jornalismo UFMS: duas décadas e meia em relatos de professores e ex-alunos

Acadêmicas Brenda Cirino Lays Colombelli

Orientador(a) Taís Marina Tellaroli Fenelon

Revisão André Moura Brenda Cirino Lays Colombelli

Diagramação Brenda Cirino

Capa Rodrigo Melo Cirino, Brenda; Colombelli, Lays. Jornalismo UFMS: Duas décadas e meia em relatos de professores e exalunos/Brenda Cirino; Lays Colombelli. 2014. 130 páginas. Orientadora:Taís Marina Tellaroli Fenelon Projeto Experimental - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande(MS), 2014. 1.Jornalismo. 2. UFMS. 3. 25 anos. 4. História do Curso. UFMS


“A criação do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul foi não apenas uma conquista da sociedade sul-matogrossense mas também um importante ponto de apoio para a afirmação e fortalecimento da Universidade.” Mario Ramires, em comemoração aos 20 anos do curso de Jornalismo



Agradecimento Agradecemos à todos os entrevistados, em especial ao Edson que nos contou detalhes dessa história. Ao Silvio, que nos incentivou a persistir no tema e a ambos por nos fornecerem documentos internos e indicações. Aos professores em nome de todos os alunos que passaram pelo Jornalismo UFMS, pelos ensinamentos que cada um nos ofereceu. Ao André, por ajudar nas transcrições, emprestar o gravador, por ser paciente e amigo nas horas difíceis. À copa do departamento e a cafeteira, por fornecerem combustível para as autoras. Ao Rodrigo, pela capa.



Dedicatória “Ao Donavan, meu eterno namorado, amigo e marido, pela paciência, carinho e compreensão nas horas difíceis. Dedico esta primeira conquista.” Lays Colombelli

“À minha família e ao André, namorado e amigo que tanto me ajudou, apoiou e fez acreditar que daria certo.” Brenda Cirino


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Sumário Apresentação ....................................................................................... 11 Professores .......................................................................................... 13 Edson Silva .......................................................................................... 14 José Márcio Licerre ............................................................................ 22 Marcelo Vicente Cancio Soares ........................................................ 27 Greicy Mara França ........................................................................... 33 Daniela Cristiane Ota ........................................................................ 39 Márcia Gomes Marques .................................................................... 44 Marcos Paulo da Silva ........................................................................ 48 Silvio da Costa Pereira ........................................................................ 51 Gerson Luiz Martins .......................................................................... 55 Taís Marina Tellaroli Fenelon ........................................................... 59 Katarini Giroldo Miguel ..................................................................... 62 Mauro César Silveira ......................................................................... 65 Jorge Kanehide Ijuim ......................................................................... 68 Robson Ramos .................................................................................... 72 Mestrado - Mario Luiz Fernandes ................................................... 75 Centro de Ciências Humanas e Socias – UFMS 2014 .................... 81 Alunos ................................................................................................... 82 1999 – Paulo Ricardo Gomes e Waldemar Gonçalves Júnior ......... 82 2000 – Juliana da Costa Feliz ........................................................... 89 2001 – Gesiel Rocha de Araújo .......................................................... 95 2002 – Marcelo da Silva Pereira ........................................................ 100 2007 – Priscilla Terezinha Bitencourt ............................................ 106 2008 – Lynara Ojeda de Souza ........................................................ 111 2010 – Lucas Marinho Mourão ........................................................ 114 2011 – Aline Cristina Maziero ........................................................... 116 2012 – Raphaela Paola Potter ........................................................... 120 2014 – Lays Colombelli e Brenda Cirino ......................................... 127


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Apresentação Em janeiro de 1989, a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul realizou o primeiro vestibular de Comunicação Social, após uma longa luta do Sindicato dos Jornalistas Profissionais, para a implantação do curso no Estado. Contar ou relembrar esses 25 anos é o objetivo deste livro-reportagem. Como começar a escrever a história do primeiro curso de Jornalismo no recente Estado de Mato Grosso do Sul, senão através do que aprendemos incessantemente nos primeiros anos de faculdade, o tão importante e herdado do jornalismo norte-americano ‘lead’. Aprendemos e observamos diariamente durante quatro anos os ensinamentos e características da profissão, mesmo quando tornou-se não obrigatório o diploma de jornalismo e menos valorizada uma profissão socialmente e historicamente importante. Um trabalho de pesquisa, apuração, dedicação e muitas vezes abdicação da vida pessoal, em paixão à profissão escolhida. O curso passou por diversos cenários, entre lutas políticas, burocráticas, briga de egos. Em 1984, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais, através de uma Comissão Pró-Curso de Comunicação, expõe ao então candidato à Reitoria Jair Madureira, a criação do curso de Comunicação. Madureira apoia e torna-se o reitor. Ele recebe da Comissão um documento intitulado “Pela criação do curso de Comunicação Social em Mato Grosso do Sul”. Nele continha todo levantamento e a documentação necessária para a criação. O Sindicato tinha um aliado dentro da Universidade, Jorge Manhães, técnico de planejamento, que informava os membros da Comissão todas as impossibilidades criadas para que o curso fosse aprovado. O relatório com o estudo concluído é entregue em abril de 1985. A sociedade campo-grandense queria um curso superior de Jornalismo, e graças à luta do Sindicato, esse curso nasce após 4 anos. A concorrência foi de 20 pessoas por vaga, e em 1993 registra-se a maior procura pelo curso: 27


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pessoas por vaga, superando os cursos de Medicina, Odontologia, Engenharia e Medicina Veterinária. Vinte e cinco anos e 717 formados até 2013. Neste projeto, o objetivo é fazer com que se conheça a luta para a criação do curso, da batalha pela estrutura física e profissional no decorrer desses anos. Esse livro é uma continuidade do projeto experimental de 1999, “A primeira década: opiniões e relatos de professores e acadêmicos”, dos então acadêmicos, Waldemar Gonçalves Junior e Paulo Ricardo Gomes. Esperamos que sirva também como forma de valorizar as conquistas, muitas vezes mencionadas pelos egressos, quando retornam à Universidade. Vinte e cinco anos não são vinte e cinco dias. Com muita história para contar, foram selecionados personagens que puderam nos guiar nessa viagem marcada por obstáculos e conquistas. Boa leitura.


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Os professores Atualmente o curso conta com treze professores, sendo dez professores-doutores (Edson Silva, Gerson Luiz Martins, Taís Marina Tellaroli Fenelon, Greicy Mara França, Daniela Cristiane Ota, Mario Luiz Fernandes, Marcos Paulo da Silva, Márcia Gomes Marques, Katarini Giroldo Miguel e Helio Godoy), dois professores mestres (Silvio da Costa Pereira e Alfredo Lanari de Aragão) e o professor graduado José Marcio Licerre. Em épocas de poucos investimentos em ensino superior, a quantidade total de professores do curso de Jornalismo chegou a cinco, em 2003. Hoje, eles avaliam o quadro docente como bom, devido à quantidade, e por contar com professores efetivos e não mais substitutos. Os professores mais antigos contam que essa era a maior deficiência desde o começo do curso, a falta de profissionais qualificados e concursados. Entre os atuais professores, três deles se formaram na UFMS: Daniela Ota, na turma de 1993, Gerson Luiz Martins, na turma de 1999 e Taís Marina Tellaroli Fenelon, na turma de 2003. Com a criação do Mestrado em Comunicação na UFMS em 2012, pode se tornar mais frequente a inserção de profissionais locais como docentes.


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Foto: André Moura

Edson Silva

“Enquanto os alunos iam aprendendo a fazer jornalismo, a gente ia aprendendo a dar aula.”

Graduado em Comunicação Social- Jornalismo pela Universidade Estadual de Londrina – Paraná, mestre em Comunicação Social pela Universidadede São Paulo (UMESP) e doutor pela Universidade Autônoma de Barcelona. O professor Edson Silva é peça chave para essa história tornar-se (re)conhecida pelos alunos. Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais, foi nomeado o representante do Sindicato na comissão de criação do curso na UFMS. É professor do curso desde 1989.


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Como o curso foi criado? A criação do curso de Jornalismo não seguiu um roteiro que normalmente acontece na Universidade. Foi criado a partir de toda uma mobilização da sociedade de Campo Grande. A iniciativa foi do Sindicato dos Jornalistas Profissionais, até mesmo o Governo do Estado entrou no processo, e os veículos de comunicação acabaram apoiando a criação do curso. Demorou muito tempo, entre o pedido da criação do curso e criação efetivamente foram cinco anos. A demanda apresentada à Universidade Federal tinha uma sustentação que tinha preocupação com a ética, com a formação técnica dos jornalistas, com o fortalecimento da categoria. O curso era demandado pela categoria, mas também por vários segmentos que tinham interesse no aperfeiçoamento do fazer técnico e ético dos jornalistas. Haviam outros motivos pelo qual a Universidade queria barrar o curso? A criação do curso tinha duas correntes: uma era formada pela demanda que vinha do Sindicato dos Jornalistas que trazia outros apoios para a criação do curso. Nós pedimos através de ofício a criação do Curso de Jornalismo. Então nós mobilizamos outros setores. E também a reitoria na época, que o Professor Jair Madureira era o reitor que apoiou a ideia. Durante a campanha para a candidatura a reitoria da UFMS, a exemplo de outros candidatos, afirmou que se fosse eleito, apoiaria a criação do curso de Jornalismo. Ele foi eleito, e quando tomou posse, nós viemos conversar com ele, que honrou esse compromisso. Mas mesmo tendo esse apoio externo, a iniciativa do Sindicato, o apoio do reitor, nós nos defrontamos com outra situação, que era a resistência interna. O curso ia cair em um departamento grande, então era muito compreensível a resistência, porque nós vivíamos em uma situação onde o Governo Federal não dava tantos recursos, fontes de financiamentos. Houve resistência, dificuldades, tivemos que lutar no mundo político. Teve deputado na Assembléia Legislativa que queria reivindicar o direito da criação do curso, eles queriam os créditos. Foi uma época muito efervescente, o Sindicato teve muito trabalho para conseguir. O Sindicato era formado por quem? O Sindicato daqui foi derivado do Estado de Mato Grosso, quando dividiu o Estado, o Sindicato ficou lá no norte e aqui ficou a Associação dos Jornalistas Profissionais do MS, então foi da Associação que derivou o Sindicato dos jornalistas(de MS). Ele foi formado por jornalistas que atuavam no


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Estado, eles vinham de vários lugares, do Paraná, Mato Grosso, Minas Gerais, eu era daqui de MS. Então uma diretoria foi eleita, nós chamamos uma assembléia bem mobilizada e nesse momento nós fizemos a proposta de criação de várias comissões, de ética, de regularização profissional, comissão do jornal Jabaculê e uma comissão que ficou encarregada da criação do Curso de Jornalismo. O Estado demandava de mão de obra de fora? Em 1981, a Delegacia Regional do Trabalho, tinha nove jornalistas registrados. A maioria dos jornalistas eram provisórios, podia contratar jornalistas que não tinham formação. Então a chegada do curso formalizou o mercado, o que não significa que não tínhamos bons profissionais antes da chegada do Sindicato e do curso. Se não tivesse a iniciativa do Sindicato não existiria o curso? Não sabemos. Mas posso dizer que o fato de o curso nascer da iniciativa do Sindicato, nos permitiu que desse um norte para a categoria. Tínhamos um envolvimento, então por isso o Sindicato adotou como estratégia buscar parceiros, tanto é que buscou apoio dentro do Governo do Estado, que na época era do Wilson Martins. Os resistentes diziam que a Universidade não tinha estrutura, laboratórios para formar os alunos, então nós fomos ao Governo do Estado e pedimos que a Rádio e TV Educativa fossem liberadas para servir como laboratório para o curso de Jornalismo, e o governador disse positivo. Então, pegávamos essas informações, documentávamos e trazíamos para a Universidade. A Universidade não tem espaço, não tem sala de aula disponível, o Jorge Manhães, que trabalhava com planejamento, me chamava aqui e me informava qual era o impedimento. “Eles vão dizer que não tem sala de aula aqui, à tarde e de manhã, mas eu vou te dizer que horas tem e onde estão as salas.” Então ele nos passava um relatório. Por isso começou à noite. Por dois motivos: viabilizar o espaço e qualificar os profissionais que não tinham formação, mas o cara só saia do jornal às sete da noite. Por muitos anos, o Curso de Jornalismo foi uma espécie de vigia aqui da Universidade. Porque a gente ficava aqui até dez, onze horas, meia noite, duas horas da madrugada, trabalhando com os alunos aqui, fechando Projétil. Porque precisávamos fazer o trabalho. No dia da votação, praticamente todos os veículos de comunicação estavam aqui fazendo a pressão para que o curso fosse aprovado. Como era a estrutura inicial aqui? O curso começou no tempo da chamada “lauda” de papel, que você


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escrevia, não dava certo, amassava e jogava fora. Começou com uma sala.Aquela sala do primeiro ano, depois foram aparecendo outras salas. Depois se tornou a redação. E a redação tinha mesinhas, cadeiras, e máquinas de escrever, que não eram de jornalistas, eram máquinas de escritório. Depois fomos para uma sala que era aqui na esquina, que hoje é do Mestrado. O laboratório de televisão não tinha câmera, depois surgiu uma câmera só. A gente começou a trabalhar com uma câmera, depois que foi comprando equipamento. O primeiro equipamento de televisão foi comprado quando a gente fez um projeto para o FNDE (Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação), a pretexto de produzir programas voltados para o ensino fundamental e ensino médio. E com esse equipamento começamos a ministrar telejornalismo. Aquela briga sobre a parcela do CCHS que não queria que o curso se instalasse manteve-se após da criação do curso? Depois que a gente entrou sob pressão, começamos o curso com uma professora, a Ana Maria, que não era da área de Jornalismo. E ela tratou de chamar gente que estava no mercado para trabalhar aqui. Depois do primeiro semestre foi feito o primeiro concurso. O Jornalismo não tinha tradição acadêmica. Enquanto os alunos iam aprendendo a fazer jornalismo, a gente ia aprendendo a dar aula, aqui não tinha nenhum mestre formado, não tinha nenhum doutor formado, de área específica. Então todos aqueles professores foram formados aqui. Tinham pequenas resistências, mas como a gente já estava dentro, eles foram percebendo que éramos bons de serviço, e que os alunos que não eram só nossos alunos, porque a gente dependia de professor de Psicologia, Sociologia, Antropologia, Redação, que vinham de Letras, e foram percebendo que o curso de Jornalismo trazia um contingente de alunos com muita vontade e com perfil bom. Como é até hoje, a gente tem um perfil bom de alunos que chegam com muita vontade, interessados, participativos e questionadores. E como não guardamos mágoa nesse período, embora soubesse que muita gente fez força, e viemos cair exatamente ao lado do professor que nos disse não. Depois de algum tempo, estávamos na mesma mesa votando, decidindo as mesmas coisas. Essa resistência acabou se quebrando, até ganharmos a independência que temos hoje. Quando a Rádio Alternativa começou e terminou? A Rádio Alternativa foi objeto da minha dissertação de mestrado. É a parte prática daquilo que eu estudei na parte teórica. O estudo não era voltado só para o rádio em si, mas à comunicação alternativa como um todo, o impresso, TV alternativa comunitária, vários veículos, várias possibilidades


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de trabalho da comunicação alternativa. Eu trabalhava na Universidade, uma disciplina chamada Comunicação Alternativa I e II, e eu criei um laboratório chamado Rádio Alternativa. Fui estudando e trabalhando isso. A ideia era pegar a Rádio Alternativa e mostrar como poderia fazer uma comunicação diferenciada dessa comunicação convencional, trabalhar com comunidade, com movimento social e sindical. Como a Universidade nunca teve o laboratório de rádio, a Alternativa se tornou o laboratório para ensinar rádio, que foi no período que eu fiquei afastado. Nesse período, quem ficou aqui transformou a Rádio Alternativa no laboratório de rádio. Aquele projeto que era para trabalhar na comunidade ficou retido aqui dentro. Porque na primeira fase da Rádio Alternativa, era para gente desenvolver junto com os alunos esse espírito do alternativo, do comunitário, capacitando dentro da Universidade. A Rádio Alternativa tinha um modelo, que depois a gente adaptaria nas comunidades. Nós fizemos essa primeira fase, que era desenvolver a Rádio Alternativa aqui dentro e nos primeiros quatro anos, nos projetos experimentais. Nós conseguimos fazer dois projetos experimentais aqui , que foram a Rádio Popular São Benedito, e o Vídeo Popular chamado “Tia Eva, sua história continua”, como consequência de todo esse trabalho que foi feito em Comunicação Alternativa I e II e em decorrência daquilo que eu havia desenvolvido na minha dissertação de mestrado. Nós fizemos esses dois projetos experimentais na comunidade que são referências. Essa ideia voltada para comunicação comunitária foi refreado quando o departamento transformou esse laboratório em um laboratório convencional. As disciplinas de rádio passaram a ser ministradas nesse laboratório,porque tinha o laboratório básico e tinha a transmissão via ondas eletromagnéticas que pegava aqui no Campus e em um pedaço da cidade, e não podia! Porque não tínhamos autorização para funcionar, e era uma espécie de uma rádio clandestina, pirata. E eu sempre disse que não era nada disso, nem clandestina porque ela tinha endereço, nem pirata porque não visava ouro. Como é que funcionava a rádio? Eu tinha os alunos que faziam, por exemplo, a disciplina Jornalismo Científico, que queriam participar do projeto Rádio Alternativa. E eu dizia, “tudo bem, o que você tem para propor?”,”a gente vai fazer um programa falando da produção científica da Universidade Federal”.”Tudo bem, então põe no papel”, eles montavam o programa e tinham um horário na rádio. Um aluno de Física disse, “professor, nós temos uma banda de música e a gente quer promover, temos composição nossa, música que produzimos e quere-


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mos um espaço na rádio.” Eles iam no dia e tocavam ao vivo. A rádio tinha um telefone, e tinha o feedback. Alunos ligavam lá da Química, por exemplo, ouviam e diziam “ó, nós estamos ouvindo, está legal! Não está muito bom, aumenta o som...” A rádio era um pouco precária, mas funcionava. Tinha um pessoal que trabalhava na obra aqui, entrava às sete horas. Eles chegavam às seis horas com o programa deles no script, e o programa era de música sertaneja, chamava “Bom dia Universidade”. Tocavam todas, traziam as duplas, mandava abraço para mulher. Ele montava um programa que era para o setor dele, só que esse setor interessava também para outras áreas. Tinha um horário fixo? Tinha horário fixo, todas as tarde. Eu estou dizendo o período que eu coordenava. A rádio é democrática, só não pode tomar conta partido político, igreja... Teve um cara que montou um programa que era de seresta. Ele fechava a rádio às nove horas da noite. Vocês viram o tanto de fita que tem lá na minha sala? Eu ainda tenho as fitas, com prefixo da rádio: “Rádio Alternativa, o laboratório de Comunicação Alternativa da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, sintonize 107,7.” Professor, falando agora da estrutura pedagógica, como ela era? Existia um padrão do MEC ou vocês criaram tudo do zero? A comissão encarregada de criar o curso apresentou uma grade. Eu me recordo da época em que nós levantamos várias grades, nós consultamos vários cursos. Até pouco tempo, o pessoal achava estranho nós termos Jornalismo Científico. Então não tinha um padrão do Ministério da Educação? O Ministério da Educação (MEC) exigia as disciplinas base da formação do profissional, e as outras disciplinas nós fomos introduzindo de acordo com a necessidade, por exemplo, ter Comunicação Rural. Na época, eu sugeri Jornalismo Científico e Comunicação Alternativa, eu achava que era importante ter. Nós introduzimos essas disciplinas além das obrigatórias. Foi uma opção do senhor não entrar logo como docente e esperar uma qualificação melhor? Eu pensei “vou me capacitar porque eu quero dar aula nesse curso”. Fui embora para São Paulo, trabalhei na imprensa local e fiz o mestrado. Quando eu estava no final do mestrado, o curso foi criado. Só que antes da criação mesmo, teve um professor que me chamou e disse, “olha, nós va-


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mos adotar tal procedimento aqui e a gente avisa que você vai ser um dos professores”, e eu disse, “como? Se eu ainda estou fazendo mestrado. Já vai ter concurso?” “Não vai ter concurso, mas nós vamos adotar um procedimento e vamos arrumar mais professores e você vai ser um deles. Então queremos saber se você aceita?” “Não.” “Por que como vocês vão colocar esse cara ali dentro, pela janela? Eu não quero. Estou fazendo mestrado, quero que abra um concurso, que eu venho fazer. Quero passar no concurso, ser professor efetivo da Universidade. Como eu tive um compromisso com a criação do curso, eu quero ter um compromisso com a manutenção da Universidade. Eu quero estar lá dentro, quero acompanhar.” Professores qualificados que tinham formação em jornalismo demoraram a chegar? Nós tivemos o primeiro grupo que foi selecionado, um concurso que aprovou seis professores, só que desses, só tinham quatro vagas, foram chamados e depois os outros dois. Depois demorou um tempão. Mas foram chegando aos poucos. Mas o senhor chegou para turma de 89? Quando eu fiz o concurso, eu não era mestre. Porque o concurso não exigia o mestrado, eu ainda era graduado. Tanto é que o último ano do meu mestrado eu fiz viajando. Eu trabalhava e fazia mestrado em São Paulo, quando passei no concurso, e voltei e comecei trabalhar aqui, viajava toda semana. Sobre o Projétil, os primeiros anos. O Projétil sempre acompanhou esse modelo de hoje, de três professores trabalhando. É um professor de Redação, um de Edição e um de Planejamento Gráfico. Sempre foi de uma forma aberta, para que o aluno pudesse participar e dar sugestões. Fizemos inicialmente um concurso para saber qual seria o jornal laboratório, e acabou saindo esse nome “O Projétil”. Os professores trabalham de forma bastante unida e aberta. Os alunos participam abertamente da pauta. Não me recordo como era tecnicamente o jornal, mas sempre foi tablóide, como é hoje. O senhor saiu em 2010 e voltou em 2014, qual foi a maior mudança que o curso teve, na sua opinião? Eu ainda não consegui assimilar. Mas o que eu percebo é que o curso é outro, o grupo de professores é um grupo novo. Os professores antigos ou estão aposentados, ou morreram... Dos professores antigos, tem eu e o Licerre, e o restante é tudo considerado professor novo. Quando eu saí em 2011, já


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estavam chegando os professores Silvio e o Mario Luiz. Ter professores novos é uma diferença, mudou a cara do curso. Eu percebo também a diferença no perfil dos alunos, tem muitos alunos bons com perfil interessante, mas parece que o curso era mais político antes e perfil voltado para o social. O Projétil era mais social. Quando voltei, eu percebi que Comunicação Alternativa, essa coisa voltada para comunidade, foi cortada por alguma orientação interna do curso, dos professores. Percebi essa coisa do Projétil, de envolvimento político. Ele é bem feito dentro do processo e tal. Mas parece que os alunos, no processo, já não apresentam mais esse perfil. Será que o fato de muitos novos estudantes serem de outros estados? Também, as novas tecnologias, o fato de ter alunos de vários pontos que não conhecem a realidade cultural, social daqui, a mudança na grade curricular que teve. Quando eu saí em 2010, eu propus a criação de uma disciplina que substituía a Alternativa, que é dada no quarto ano, “Cidadania, Ciências e Tecnologias”. Porque em 2010 a gente entendia que as dificuldades dos anos anteriores para trabalhar com a comunidade,era não ter instrumentos para fazer um jornal, precisa de mimeógrafo, xerox, usava essas tecnologias para fazer o jornal e os movimentos não tinham dinheiro. Então, nós tratamos de propor essa disciplina, e para nossa surpresa, ela saiu do lugar, que era no primeiro ano. E foi parar no último. Porque você botaria o pé aqui na Universidade e seria uma disciplina de apresentaçãoa esses movimentos sociais, comunidades, o compromisso seria esse. Visitar, gerar relatório, fotografar, conhecer, para ele ter sob a mesa um menu de possibilidades para poder fazer um trabalho mais comunitário mais voltado para os movimentos social e sindical. Quando isso vai para o último ano, dá para fazer alguma coisa, mas o tempo já passou. Não há tempo para mais nada. Você deixa para o final, onde basicamente já definiu qual é seu projeto experimental. Então, como é que você vai fazer um projeto experimental com Comunicação Alternativa se só agora você foi apresentado à área?


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Foto: Brenda Cirino

José Márcio Licerre

“Pagemaker é que nem fazer amor, quanto mais você faz, mais você sabe.”

Formado em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda, pela Fundação Armando Álvares Penteado(FAAP). Veio para Mato Grosso do Sul em 1977, trabalhava na Revista Grifo, onde conheceu o Professor Mario Ramires, montaram uma editora e agência de propaganda chamada Edimat. Ramires foi quem o avisou do concurso para professor na área de Planejamento Gráfico na UFMS. Licerre prestou o concurso e passou na segunda tentativa. Foi chefe de departamento, hoje é coordenador administrativo do CCHS.


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Quando chegou? Como era? Precisava de alguém que ensinasse essa parte de produção gráfica. Quando eu fiz a minha graduação, eu estudei com o professor Mario Ramires e a Marília Leite, que depois se conheceram melhor e se casaram. Eu fui para o Itaú em 74, trabalhar com o professor Ramires em uma divisão de material promocional. Eles vieram para o Mato Grosso do Sul, e resolveram fazer uma revista, a revista Grifo, e precisava de alguém para ajudar na área de produção gráfica. Me convenceram a vir para o MS, de 79 para 80. O curso começou em 89, e 93 eu vim, porque não tinha nenhum professor, prestei um concurso e não passei. Só fui passar em um segundo concurso. Já tinha agência de propaganda, o mercado de propaganda estava mudando muito. O Ramires me convenceu, ele falava “não, você tem que ir lá dar aula, ensinar isso para os alunos”. Comecei trabalhar aqui com uma turma do 3º ano, era turma de pessoal mais velho, não tinha nada de computador, estava começando a surgir a informática, computador era muito caro. Veio chegar aqui quase 8 anos depois. Aí informatizou e ficou mais fácil trabalhar com os alunos. As primeiras turmas penaram muito porque não tinha condições. A professora Ruth Vianna conseguiu montar um laboratório de telejornalismo com aquelas máquinas mais modernas, graças a um projeto que ela fez no FNDE para ajudar a produzir aulas para as TVs educativas que estavam começando a ser formadas. A professora Maria Francisca Marcelo dava a parte de rádio, mas quem conseguiu comprar o primeiro transmissor para fazer rádio, como deveria ser feito, foi a professora Greicy Mara França. A Anatel estava combatendo essas rádios piratas e funcionamos mais de 10 anos na 107,7. Tanto é que a sala Maria Francisca foi apelidada com o nome da professora por conta dessa história, ali funcionava a rádio. Tinha um professor substituto, o Robson Ramos, que era também do mercado, era gente que vinha dar aula aqui que tinha formação jornalística. Ele veio dar aula depois que a professora Maria Francisca ficou doente e veio a falecer. Eu consegui com o professor Amaury duas bolsas, uma ficou com o D2 (Marcelo Pereira) e a outra com o Éder Yanaguita. Então o D2 tocava a rádio das 7h até a 13h da tarde, aí o Éder tocava da 13h às 19h quando começavam as aulas. O professor Robson vinha para fazer a aula que era assim, sabe onde era a salinha do David? Ali que era a cabine de som. Aquelas duas salinhas eram a parte de som e a parte de locução. E a sala de aula, que era do lado, transmitia a aula na rádio. O pessoal até falava que quem não vinha para a aula podia ligar o rádio e a ouvia em casa. Era muito legal. Foi um tempo bom.


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E o Projétil? Ah! Quando eu cheguei o professor Ramires já tinha feito a edição sete ou oito do Projétil. Eu vim trabalhar na terceira turma de Jornalismo. Quem fazia era o professor Mario Ramires, o Edson Silva e o Mauro Silveira. Eles sofriam muito para fazer o Projétil. O curso, como só funcionava à noite, na Universidade, dezoito horas não tinha mais ninguém aqui. A biblioteca fechava às vinte e uma horas. As condições de laboratórios eram bem precárias. Demorou muito para ter essa estrutura que tem agora? Demorou muito. Por exemplo, a redação foi feita graças ao apoio do FNDE. Aquele espaço onde hoje é o laboratório de Jornalismo Científico era o espaço da redação do Projétil. Era uma salona grande, e tinha um monte de carteiras com umas trinta máquinas de escrever, e uma mesa bem velha, que ficava no meio da sala e a gente usava para reunir os alunos. Quando todo mundo estava trabalhando, era aquele barulho de máquina de escrever. E as máquinas não eram muito iguais, tinham umas máquinas Remington, tinham umas Olivetti, então a lauda nunca dava para padronizar porque as máquinas eram diferentes. A gente pegava essas laudas, mandava para composição e montava as artes. Eu me lembro que consegui do curso de Artes uma prancheta que usávamos para montar as artes. Depois quando fomos montar o laboratório de telejornalismo, acabamos ocupando onde é o Núcleo de Jornalismo Científico. As máquinas foram para lá e quando vieram cinco computadores que conseguimos montar uma redação pequenininha. Os alunos digitavam os textos, e tinha um programinha que chamava Ventura, ele era o primórdio do Pagemaker, ele soltava os textos em coluna e imprimia na impressora. Aí já conseguia montar as artes finais, cortando e colando. Sabe o Multimeios? Ali terminava a parede do anfiteatro do CCHS, fomos arrumando divisórias velhas e montando a sala. Chamava de favelinha, porque as divisórias eram tão velhas que parecia mesmo favela. Invadimos ali, depois conseguimos fazer aquele pedaço onde é o Multiuso e o Centro Acadêmico. O professor Edson conseguiu dinheiro com um projeto, e a gente tirou as divisórias e fizemos de alvenaria. Onde era a redação era tudo divisória velha, depois conseguimos umas divisórias de vidro. Quando dávamos aula, o pessoal passava para aula no laboratório de tele e ficava olhando o pessoal dentro da redação pelo vidro e ali funcionou muito tempo, e não tinham todos aqueles micros, vieram depois.


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Vieram os equipamentos do Laboratório do Núcleo de Jornalismo Científico, mas demorou para fazer a obra, só saiu depois de dois anos e meio e o projeto já tinha acabado. O estúdio de rádio era terrível. Conseguimos pegar a sala anexa e montamos a sala de aula, a redação e parte técnica. Hoje, eu digo que a única coisa que não conseguiu é montar a redação do Projétil, que sempre funcionou na redação que é de todas as disciplinas. Como foi um curso que veio de fora para dentro, a gente considera uma boa estrutura, foi uma briga. Nós pegamos uma época em que o Fernando Henrique Cardoso queria privatizar as Universidades, então tem que parabenizar o Lula que devolveu isso, e trouxe mais Universidades, ampliou as vagas. Esse dinheiro todo para reformas vem por conta disso. E professor sempre foi uma dificuldade. Hoje, dizemos que o curso tem até uma estrutura razoavelmente boa para fazer ensino, mas durante uns quinze, dezoito anos, a estrutura era bem precária. Ainda tem coisa para arrumar, ainda falta professor e tem que melhorar as salas de aula. Como foi a transição dos equipamentos manuais como datilografia para o computador? Quando o pessoal inventou o PC, que era uma máquina de escrever, que ao invés de por papel você via tudo no monitor e a saída era uma impressora com jato de tinta, a máquina de escrever morreu. Foi muito rápido, foi coisa de cinco anos. E o PC custava muito caro. Antes, o pessoal escrevia, a gente pegava as laudas e através do cálculo de texto e de catálogos, você sabia mais ou menos como é que ia pedir o texto. Envia para uma empresa que chamava empresa de fotocomposição, que compunha. Eram máquinas enormes que soltavam os textos em tiras, de acordo com o que você tinha desenhado no gabarito de diagramação. Mandava compor os textos, tinham as pranchas que eram como o gabarito de diagramação, cortava, montava, isso ia para uma máquina enorme chamada de fotoliteira. Fazia todo o processo de impressão. Com o advento do PC, em seguida surgiu um programa chamado Ventura, que era o embrião do Aldus Pagemaker. O primeiro programa que instalamos na redação foi o Pagemaker. Só que, como a impressora a laser era pequenininha, desenhávamos as páginas e depois imprimíamos em pedaços e fazíamos as artes. Quando eu percebi isso, falei para minha esposa “vou ter que aprender esse negócio de computador, senão a gente vai morrer de fome”. Quando eu estava no curso, em 98, já estávamos fazendo as artes no


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computador. A informática transformou essa parte da comunicação impressa. E os jornais se adaptaram muito rapidamente. Era caro comprar os programas e não tinha tanta pirataria. Lembro que o primeiro Pagemaker que a gente instalou veio de um jornal da Grande Dourados e eles tinham comprado. O professor Eron Brum que era muito amigo dos donos, falou “eu tenho que levar esse programa para Campo Grande para ensinar os alunos”. O pessoal fez uma cópia e trouxe. Porque não tinha como comprar. Eu aprendi um pouco com o professor Jorge Ijuim, e um pouco com o Éser Cáceres. Foram os dois que me ensinaram a trabalhar nesse programa na parte de fazer jornal. Comprei um tutorial e um IBM. Era legal. Tenho saudades desse IBM. Até o dia que oladrão entrou e levou ele embora. Quais as principais mudanças que o curso sofreu nesses 25 anos? As primeiras gerações dos alunos vinham fazer jornalismo porque queriam ser jornalistas. Era um pessoal mais maduro. E hoje muito pelo contrário, já é um pessoal mais novo, que não sabe muito bem o que está fazendo aqui no curso. Eu sinto um pouco isso. As primeiras gerações eram de alunos que também vinham pelo horário de funcionamento do curso porque era noturno, então já recebia alunos que estavam com mais idade, que vinham atrás de uma formação, de uma capacitação e que já estavam no mercado. Hoje é diferente do perfil do aluno que entrou há 25 anos. É claro, e os meios de comunicação não eram os mesmos de 20 – 25 anos. Hoje o mercado mudou, os meios de comunicação mudaram, a internet é uma coisa que está levando muita gente a trabalhar com comunicação desde cedo. Como vai ser ensinar comunicação para essa garotada que já está na rede social, essa tecnologia eles já vão dominar. Então o que vamos ensinar? Criação, como trabalhar o texto, porque mexer nos programas o pessoal já vai vir sabendo. Os professores vão ter que evoluir para poder trabalhar melhor essa questão.

Disciplinas que deu aula? Sempre foi Planejamento Gráfico e tinha outra que era Preparação de originais, Revisão, Provas e Videotextos. A gente resolveu incorporar, mas eu ainda explico a lauda, o cálculo de texto. Acho que o pessoal precisa ter noção disso.


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Graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre e doutor em Ciência da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutorado pela Universidade Autônoma de Barcelona. Após o retorno da Espanha e a saída do professor Mario Luiz Fernandes para o pós-doutorado, assume a coordenação do Mestrado em Comunicação.

Foto: Brenda Cirino

“Com algumas experiências eu aprendi que eu sempre tenho que insistir com um aluno.”

Foto: Brenda Cirino

Marcelo Vicente Cancio Soares


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Como e quando foi sua chegada aqui? Eu comecei a trabalhar na UFMS em 1994, como professor substituto por dois anos. Depois retornei em 1996, fiz concurso e entrei como professor efetivo. Entrei dando aula de Telejornalismo, História da Imprensa e Comunicação Rural. Como o senhor veio parar em MS? Era uma época que estava difícil conseguir trabalho no Rio de Janeiro. Aqui era um Estado que tinha sido criado recentemente. Havia necessidade de profissionais não só na área de comunicação, mas de todas as áreas. E acho que vim na hora certa. E as experiências que o senhor teve de mercado aqui? Foram muito boas, porque rapidamente comecei a trabalhar na TV Morena e fiquei dez anos. Trabalhei como repórter, editor, apresentador, muito tempo no MS Rural e foi uma experiência fantástica para mim, eu queria trabalhar em televisão. Tive a oportunidade de trabalhar e agarrei com determinação. Depois trabalhei também na assessoria de Imprensa do Governo do Estado, na Empaer, na Fontoura Vídeo, na TV Educativa e aqui na Universidade. O senhor sempre foi para essa área de televisão? Meu maior período de trabalho foi em televisão, quase vinte anos de trabalho ligado à televisão, em telejornais. Na TV Educativa fiz programa rural, de educação, debates, entrevistas. Me pediram e eu fiz uma proposta de jornal, que eles não tinham. Foi criado o Jornal da TVE, em 1994. Naquela época, introduzimos uma questão que era diferente nos outros jornais que permitia a participação das pessoas. A partir de um tema central, sempre haviam dois entrevistados que debatiam e as pessoas em casa podiam ligar e fazer perguntas ao vivo para aqueles entrevistados. Naquele momento, isso foi uma diferença entre os telejornais que haviam na época. Hoje isso é mais comum. Era um jornal que tinha uma dinâmica, um retorno do telespectador muito interessante. Ele marcou uma divisão dentro da história do telejornalismo no MS, pela situação nova que criou. E eu tive a felicidade de criar o projeto, apresentar a ideia desse telejornal e depois ser o diretor de telejornalismo e apresentador. Por que o senhor resolveu sair do mercado e vir dar aula? Porque eu percebi que a televisão estava excluindo os profissionais mais antigos, para contratar profissionais mais novos, e não havia por parte


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da emissora valorizar a experiência profissional,valorizar o trabalho que você realizava. Durante meu período na TV Morena, eu ganhei três prêmios de Jornalismo. E mesmo assim isso não importava para eles. Eu vi na Universidade um novo campo de trabalho. De atuar na área de Comunicação que antes não existia, o curso não existia ainda. A principio eu não pensava nisso, mas depois percebi que era um campo interessante que me permitia estudar mais, e realmente, depois que entrei aqui eu pude fazer mestrado, doutorado e pós-doutorado. Se eu estivesse no mercado até hoje sei que não conseguiria. Com toda experiência profissional que eu tinha, isso ia me ajudar muito nesse novo desafio. Eu gostei, era um trabalho diferente, mas continuei dando aula e acompanhando os alunos. Eu deixei de fazer esse processo para ensinar os alunos a fazer isso. E essa nova função foi uma coisa que me deixou contente. Embora aqui tivesse deficiência de equipamentos, de mão-de-obra, cinegrafistas... mas me dava prazer. E depois ver os alunos no mercado e saber que suas primeiras gravações foram aqui no estúdio, isso dá uma satisfação pessoal. Com o passar do tempo, percebi que era o trabalho que eu devia investir e continuar exercendo. Como se lembra da estrutura que tinha para ensinar tele? Tinha equipamentos que precisavam de manutenção, e isso era um problema. Quando um dos equipamentos deixava de funcionar, era uma situação complicada. Tinha deficiência do estúdio, de lâmpada, de ar condicionado e lá esquentava absurdamente. Me lembro de ter comprado com dinheiro do meu bolso spots de iluminação, porque nunca resolvia. Os cinegrafistas eram contratados por três meses e tinha que fazer uma renovação por mais três meses e depois tinha que contratar outro. Também era um problema sério, porque quando ele começava a entender como era o funcionamento, porque com aluno é muito diferente, tem que trabalhar individualmente. O cinegrafista que vem do mercado para cá tem que saber que tem que ter muita paciência, muito cuidado porque não está trabalhando com profissional, está trabalhando com alunos e eles estão aprendendo. Tem que trabalhar toda a auto-estima do aluno para que ele perceba que aquilo é um processo de aprendizagem. Ele não está trabalhando profissionalmente, ele está aprendendo a fazer e o cinegrafista também tem que saber disso. Então tinha que trazer gente que tivesse paciência, que cuidasse do equipamento. Era um problema sério porque você fica seis meses com um cinegrafista, aí tem que trocar. Agora com esse processo de uma empresa que contrata e o cinegrafista fica à disposição, isso ajuda bastante. O curso de Jornalismo é um curso diferenciado, tem que fazer reportagem fora daqui, precisa de um veículo, precisa de um motorista, de telefo-


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ne, de máquina fotográfica, precisa de equipamentos... Não é um curso de sala de aula, é um curso de ir buscar as coisas fora daqui. Durante muito tempo, a Universidade não entendia o curso tem características diferentes dos demais. A estrutura para atender isso foi muito deficiente. Se estraga um microfone, não pode levar seis meses para consertar, têm quarenta alunos para dar aula, que vão usar esse microfone. Essa estrutura operacional da Universidade foi muito falha, por uma série de fatores. Não tem uma agilidade como no mercado. Algumas coisas dificultavam as práticas que o curso tinha que ter. Isso realmente melhorou, nós temos um laboratório que está bem montado, com um ar condicionado que funciona, com iluminação, os materiais chegam com maior rapidez. Melhorou também a questão dos números de professores. Eu fui chefe de departamento em 2002 e fiz um levantamento de que precisaríamos ter um quadro de treze professores e o número de disciplinas pudessem ser distribuídas entre os professores sem sobrecarregar muito e que pudessem fazer pesquisa, participar de congresso, comissões e etc. Agora em 2014, que estamos próximos de chegar a esse número, sendo que nesse meio tempo foi criado o Mestrado, que aumentou a carga de trabalho dos professores. O Mestrado possibilita muitas coisas interessantes para o curso e para os alunos e até para os professores, mas ele aumenta a carga de trabalho sem que haja remuneração para isso. Ele dá aula no Mestrado como contribuição. Então os professores que atuam na graduação e mestrado sabem que vai aumentar a carga e vai ser um acréscimo de trabalho e não de remuneração. Os professores, por mais que atuem, participem, dêem aula e tudo, eles não conseguem, o numero de solicitações exigidas à eles, às vezes não permite que consiga publicar em congressos. Eu acho que nosso curso de quando começou, ele deu um avanço em vários sentidos, na estrutura física, sala de professores, avançou no numero de professores, novos concursos, na criação do Mestrado, nas instalações, e isso reflete para vocês que são alunos, vocês terão mais professores, que prepararão melhor uma aula. Acho que o curso, nesse nível que está, vai avançar mais. Vem em um processo crescente de melhoria estrutural e de recursos humanos e de equipamentos, e a tendência é melhorar mais. Com equipamentos cada vez mais próximos da realidade do mercado.


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Tem alguma história que marcou? Me lembro de um caso que aconteceu com a Aline Maziero. Ela saiu e foi gravar uma passagem em uma escola e ela gravou, com toda a dificuldade dela. Ela me mostrou o material e eu falei “Aline, olha, eu tenho que dizer para você que bom não está”, eram erros de enquadramento, não ficou bem coordenado isso. Ela foi com a mãe dela de novo e gravaram novamente. E dei orientações sobre como devia fazer. Então, vou dizer para a Aline também, que ela mostrou para mim naquele dia que foi uma troca. Ela me mostrou vontade, determinação, coragem, ela me demonstrou um monte de coisa. E foi emocionante, porque ela me mostrou toda orgulhosa. Realmente tinha ficado melhor. Foi um aprendizado para ela e para mim também. Com algumas experiências, eu aprendi que eu sempre tenho que insistir com um aluno. Quantos alunos passaram por aqui, quantos estão trabalhando, ganhando a vida depois do ensinamento que ele teve aqui, bom ou ruim. Quando um aluno entra na Universidade, é o acumulo de conhecimento dele, não é uma aula ou outra, uma disciplina ou outra. Mas é o acumulo, cada coisa que ele assimila é que vai tornar esse aluno um cidadão que sairá daqui e nem percebe, mas esse acumulo possibilita que cada um siga uma carreira. O que a Universidade proporciona é um processo contínuo de ensinamento, conhecimento, de assimilação do aluno, que vai transformá-lo em um profissional. Ele demonstrou o conhecimento adquirido que foi passado por nós, professores. Esse conhecimento da Universidade é muito importante para a formação das pessoas. Os alunos entram aqui muito novos. Como o senhor vê a mudança do perfil do estudante de jornalismo? Eu vejo a mudança do aluno que entra no primeiro ano e quando sai no quarto ano. O primeiro ano, com cara de assustados, a maneira como se comportam, muitas brincadeiras, não dão muita importância para aquilo. Quando chega no quarto ano, na época das defesas dos TCCs, você percebe como o aluno amadureceu em quatro anos. Ele já viveu experiências e o jornalismo permite isso. Vocês se desenvolvem muito, escutam muita gente com experiência de vida falando, fazem matérias, escrevem... E isso vai incorporando. Quando chega ao quarto ano, tem uma mudança visível de comportamento, está mais preocupado que tem que entrar no mercado. Está mais amadurecido, está preocupado com a vida dele, e isso se repete. A diferença de 1994 para cá, que eu percebo era a diferença de idade. Eram


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alunos mais maduros que já estavam no mercado. E hoje o perfil é muito mais novo. O perfil do aluno está mudando por conta das tecnologias, é uma mudança comportamental, a possibilidade de ter informações mais rápidas que tínhamos há vinte anos. O senhor acha que o curso tem formado bons profissionais? Sim, mas isso não depende só do curso, depende das pessoas. Mas com certeza. Tem pessoas que se sobressaem profissionalmente. Uma coisa fundamental que o curso proporcionou foi que existia uma geração de pessoas antes de existir o curso, que trabalhavam na área já fazia muito tempo, que não tinha uma preocupação com questões éticas, de redação.A mudança que houve foi da mentalidade que existia antes e depois do curso de Jornalismo. Então, começa-se a ter profissionais nas redações com outro tipo de comportamento, preocupação em fazer o processo jornalístico. Agora, com o Mestrado, alunos que se formaram há 15 anos estão voltando para se aprimorar. Daqui para frente, vamos ter gerações que passaram pela Universidade. O aluno que se formou, ao trabalhar com outros que também se formaram, terão uma preocupação com o conhecimento adquirido na Universidade. Vai depender do esforço, dedicação e caráter dele, e isso é falado no curso, de como ele deve agir profissionalmente, que deve ter espírito de equipe, que o jornalismo não se faz sozinho. O jornalista precisa ter muita disposição para ter um trabalho que tenha relevância na sociedade, se ele vai fazer isso ou não, vai depender de cada um. Depois que ele se forma, você não pode sair por ai apontando e dizer “olha, você está trabalhando mal”. Depende de cada um. O curso dá base e informações suficientes para que ele seja um profissional de bom para cima. São muitos profissionais que saíram e hoje estão no mercado, que hoje estão fazendo um trabalho muito legal, muito digno, correto, que tem valor social, que falam coisas importantes a serem ditas. E espero que vocês acompanhem isso e melhorem.


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“Brigamos a vida inteira por isso.”

Foto: Arquivo pessoal

Greicy Mara França

Graduada em Matemática (FUCMAT), atual Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), com mestrado em Informática pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e doutorado em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Iniciou a docência no curso de Computação e depois transferiu-se para o curso de Jornalismo em 1996. Foi três vezes coordenadora de curso.


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Como foi sua entrada na UFMS e posteriormente no curso de Jornalismo? Em 94, eu comecei a dar aula de informática aqui no curso, e eu tinha interesse em sair lá do departamento de computação. O jornalismo tinha interesse em ter um professor da área, a gente negociou e depois de duas tentativas eu consegui a remoção para cá. Quais disciplinas trabalhou no início? E atualmente? Na época eu só dava Informática, depois que eu fiz especialização e comecei a dar História da Imprensa. Depois do doutorado, eu dou Metodologia da Pesquisa, Planejamento da Pesquisa Jornalística, Jornalismo Cientifico, Jornalismo Ambiental e Comunicação e Saúde. Eu já trabalhei Comunicação Comparada, que hoje é a disciplina de Sistemas de Comunicação. Já tinha algum interesse na área de jornalismo antes de vir para cá? Não. Eu comecei dar aula e comecei a me envolver. Porque quando eu comecei, foi quando o curso teve o primeiro laboratório de informática. Um laboratório com cinco micros. Imagina um laboratório com cinco micros! Naquela época,você tinha que ligar em rede, o Márcio Licerre não estava conseguindo e pediu minha ajuda. Meu ex-marido ajudou também, nós colocamos o laboratório para funcionar. E com cinco micros, eu tinha que dar aula de noite até de madrugada, porque tinha que dividir a turma. Foi aí que começou meu envolvimento com o curso. Como foram os períodos de coordenação do Jornalismo? Três vezes. Assim que eu vim para cá, em 96, eu assumi a coordenação porque a coordenadora adotou uma criança e saiu de licença maternidade. Ninguém queria, então eu fiquei. Todas as vezes que eu peguei a coordenação, foi nessa situação. Na segunda vez, foi para substituir. Depois ninguém queria e jogaram para mim de novo. Mas como eu não tinha formação na área na época, foram na direção de centro consultar se eu podia assumir a coordenação novamente. Eles disseram que se ninguém quisesse eu podia. Acabei pegando de novo e agora não pego mais. Mas essa “briga” para não assumir a coordenação é por causa de problema interno do curso ou é muita coisa para resolver? É um abacaxi. É muita coisa para resolver e a burocracia da Universidade é uma desgraça.


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Houve muitas desavenças entre o Jornalismo e outros cursos desde a criação. Você se lembra de algum episódio importante seja ele relacionado a desavenças entre cursos ou internas? Quando eu entrei aqui, o Jornalismo e a Artes eram um departamento só, o Departamento de Comunicação e Artes (DAC). Ficava ali onde é o Projele. Depois construíram um bloco para Artes, a atual Unidade VIII (localiza-se em frente ao portão 20 do Morenão). Nós optamos por não ir para lá, porque nós iríamos enquanto sala de professores, os laboratórios ficariam aqui e o curso era noturno. Ou seja, se eu tivesse em uma sala lá e tivesse que vir dar aula, eu teria que vir no escuro. Eles foram para lá, nós entramos de férias e quando voltamos, a Universidade tinha leiloado aquele espaço do Projele. Não estávamos nem lá e nem aqui, estávamos no meio do corredor. Nós tínhamos feito uma vez uma reunião com a reitoria e tínhamos um documento por escrito que esse espaço ia ficar para nós. E com esse documento conseguimos garantir ali. Era para ficar tudo para nós e teríamos as quatro salas de aula do curso. O diretor de centro na época negociou e passou as salas de aula para frente sem nos comunicar. É uma briga de espaço desde que nós estamos aqui. Eu fui para o doutorado, quando eu voltei tinham dividido e criado o departamento de Jornalismo, que era, na época, onde hoje é a Secretaria Acadêmica. Aquela metade era onde ficava o Jornalismo. Tanto não tinha espaço, que quando voltei do doutorado, fiquei em uma mesinha na hemeroteca porque não tinha onde ficar. Depois eu acabei pegando a chefia do departamento que não tinha nem gratificação porque ninguém queria também, e eu dividia a sala com outro professor porque não tinha como ter uma sala só para chefe de departamento. Depois que as pró-reitorias foram lá para cima, a Direção de Centro viria para cá, e nós ficaríamos com todo o espaço. Só que lá na Secretaria Acadêmica tem um armário que fica a pasta de todos os alunos que um dia passaram pelo CCHS, e para desmontar e tirar ele dava muito trabalho e então eles negociaram com a gente. Nós viemos para cá e eles ficaram com o espaço lá, por isso hoje temos um espaço grande. E com relação às salas de aula que o curso ainda não tem, tem alguma proposta para isso? E nem vai ter. Porque a Universidade está criando os espaços para todo mundo, a unidade VI e o Multiuso são assim. Para não ficar nessa coisa, a sala é minha e ninguém usa, o que acontecia era isso.Tanto é que o


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Multiuso não é de ninguém, ele está cadastrado na Pró-reitoria porque quem responde por aquele espaço é a Pró-reitoria. Hoje já estamos bem em termos de espaço, tem espaço no Multiuso e temos no mestrado. A grade tem um período para ficar ou ela depende do MEC? Quando eu entrei no Jornalismo, tinha uma normatização da grade, que tinha que ter tais disciplinas. Tanto que planejamento gráfico, uma disciplina que achávamos desnecessária porque podia condensar em outras, não podia tirar da grade. E quando eles liberaram isso, nós mudamos a grade para melhorar. E isso a gente manteve, e agora se institucionalizou que será bacharelado em Jornalismo, e não mais em Comunicação-habilitação. Então nós estávamos aguardando a aprovaçãopara mudar a grade. A partir do ano que vem, a grade é nova e o curso se chama bacharelado em Jornalismo. Você participou da informatização do curso nos anos 90. Como foi? Houve muita dificuldade? Brigamos a vida inteira por isso. Nós recebemos uma leva grande de computadores. Foi a primeira redação decente que tivemos. Dali ficamos só remendando computadores, até que um tempo atrás vieram computadores novos. Em termos de informatização foi sofrido. O que fez melhorar foi meu projeto do Núcleo de Jornalismo Científico. Esse projeto, foi encabeçado pelo Mauro Silveira e o Jorge Ijuim, que hoje estão na Federal de Santa Catarina, eu, o Márcio Licerre e o Davi Trigueiro. Fizemos reuniões lá com a Secretaria de Informática do Estado, eles nos apoiaram, tentamos o projeto e não deu. Depois foi tentado com o apoio do deputado Antônio Carlos Biffi, que conseguiu uma emenda parlamentar para aprovar o projeto. Foi aprovado, mas o dinheiro só veio um ano após. Quando a verba veio, o que tínhamos pedido de equipamento já estava tudo desatualizado. Fizemos um novo levantamento de material, mandamos para o Ministério da Ciência e Tecnologia para aprovação dessa compra. Foi aprovado, e nesse período o Mauro já tinha ido, porque ele passou em primeiro lugar no concurso, o Jorge tinha passado em segundo e foi por transferência e eu fiquei na responsabilidade do projeto. Eu comprei todos os equipamentos, só que a contrapartida da Universidade, que era a reforma do espaço, não foi feita. Esses computadores ficaram dois, três anos amontoados na minha sala. Eu e o Alfredo Lanari ficávamos na outra sala, instalei dez computadores aqui( na atual sala da Greicy e Lanari). Depois de um tempo, eu e o Licerre conseguimos que viessem computadores novos para a redação. E conseguimos a reforma do laboratório do Núcleo, que foi montado e nós ficamos com dois laboratórios, a sala da


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frente, Multimeios, é do projeto.Eu equipei praticamente o curso inteiro. A impressora da secretaria é do meu projeto, vários professores têm computadores do meu projeto. A rádio estava sem computadores e eu cedi para Daniela Ota instalar para ter o laboratório de rádio. Quer dizer, o Núcleo por um bom tempo foi o que segurou o curso, em termos de laboratório, computadores. Com relação ao novo projeto pedagógico que vai entrar em vigor no ano que vem, em que a nova grade pode beneficiar os novos alunos? Aquelas disciplinas do sétimo semestre, Científico, Ambiental, Rural, passarão a ser optativas. Assim, você tem que optar a área que quer. Hoje você é obrigado a assistir aula, gostando ou não gostando. Eles estão começando a deixar o aluno mais solto para poder escolher. E eu acho que isso é uma grande vantagem para vocês. O Planejamento da Pesquisa passa a ser Projeto Experimental I e II. No I faz o projeto e qualifica e no II termina de desenvolver o seu TCC. E dessa forma, tendo uma disciplina que tem que qualificar o projeto, vai ter um professor te cobrando e você sabe que no final do semestre ou qualifica ou volta ano que vem. Isso vai ajudar o aluno a não ficar perdendo tempo. Como você vê o curso hoje, em relação a todas as mudanças ocorridas, sejam elas pedagógicas e de estrutura... Há algo ainda que melhorar? Melhorar, melhorou muito! É aquela história, você compra equipamento hoje e ano que vem já está defasado. Os laboratórios, com exceção talvez da rádio, o resto talvez já esteja tudo defasado. Segundo, o nosso maior problema é técnico. Laboratório nenhum aqui tem técnico. Porque os funcionários da Universidade não querem trabalhar. Chegamos em um ponto em que o técnico ficava sentado em uma sala com o data show, ele te dava o data show, a chave da sala, você assinava um papel, abria a porta e instalava. Se no meio da aula você precisasse de um técnico, não tinha. Eu falei para o pessoal “gente, se for para fazer isso, a gente não precisa de um técnico, você põe tudo na secretaria e cada um pega o seu.” Hoje é desse jeito, os data shows estão na secretaria. Agora que conseguimos um secretário, porque nem secretário tinha! Em termos de apoio técnico não temos nenhum. Eu tenho um data show que é do Núcleo, então não preciso ficar esperando. Mas temos que abrir a porta, temos que fechar a porta, se eu for a última a sair daqui tem que ligar o alarme.Eu não ganho para isso.Se eu me importo de fazer isso? Não, uma vez ou outra, mas virou lugar comum. Nossa grande defasagem sempre fo-


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ram os técnicos. E professores, sempre na base do substituto. E muitas vezes não atendem as necessidades mas é o que tem. Agora o grande passo que a gente deu, foi o mestrado. Depois de anos! Com relação ao quadro de professores, o curso está bom ou... Considerando o que já foi, nós estamos bem. O que fez crescer foi a força do mestrado. Por exemplo, o Jorge foi embora e nós conseguimos depois de anos um concurso, porque como ele foi transferido, precisava vir uma vaga de lá para cá. O Mauro saiu, nós fizemos um concurso. Então nós perdemos professores. A Desiree Cipriano, Mauro, Jorge, já conta menos três. Teve a morte do Mario Ramires, a Ruth Vianna aposentou. Nós fomos repondo, fomos substituindo. Porque até certo momento, se você perdia um professor,o problema era seu. Hoje não. Se um professor morre, se um professor se aposenta, nós temos direito a um concurso. Então já é automático, se eu aposentar hoje,o curso já tem direito de abrir concurso na minha vaga. Então isso melhorou também. O Jornalismo UFMS e o Jornalismo em si tem cumprido sua função social? Eu acho que o curso tenta. O problema do jornalista é que ele tem que seguir as normas da empresa que ele está. Qualquer mídia você vai ter que seguir a linha editorial da empresa,não adianta dizer nada. A gente diz o que é o correto, agora o problema é você chegar no mercado e querer impor o que não está na linha editorial. A maioria das vezes ele não cumpre o papel social. Se você for analisar o jornal só tem desgraça. Só sensacionalismo. Cumpre o papel social em partes, mas não é só isso. Jornalismo não é só mostrar as tragédias.


Foto: Arquivo Pessoal

Daniela Cristiane Ota

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Foto: Arquivo pessoal

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“Queria dar uma devolutiva ao curso onde me formei.”

Graduada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), mestre pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), e doutora pela Universidade de São Paulo. Desde 2009, é a chefe da Coordenadoria de Comunicação Social da UFMS. E a primeira aluna concursada que volta para dar aula no curso de Jornalismo.


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Qual turma era a sua, professora? Turma de 93. O curso era quatro anos e meio, houve uma alteração curricular e nós já entramos como período de conclusão total do curso de quatro anos. Nós pegamos aquela parte de implantação do curso. Não trabalhávamos nada de meio digital. Eu lembro que as primeiras pautas que nós fizemos foram em máquinas de escrever. Não tínhamos suporte laboratorial ainda. As práticas a gente fazia, mas sem a estrutura que tem hoje. O corpo docente também não estava montado por completo, estávamos em uma fase de transição, tinham muitos professores substitutos. Eu fiz concurso em 2005, e eu já vinha de uma leva de muitos anos sem concurso. Recentemente, o curso recebeu uma leva muito boa de professores, começamos a completar o quadro, tem uma boa estrutura laboratorial. E a partir da entrada do Mario Luiz,o curso começou a se estruturar não só em relação a recursos humanos, mas em relação à estrutura física mesmo. E o que te motivou a ser jornalista? Porque Jornalismo? No segundo grau, eu fiquei muito na dúvida entre Direito e Jornalismo que sempre foram duas coisas que me chamaram muita atenção. Cheguei a passar em Direito na UNESP de Bauru, mas eu fiz a opção de continuar em Campo Grande. A minha opção era Jornalismo também porque eu sempre gostei de escrever, de ler, que são características bem pertinentes para quem gosta da área. Como só existia o curso de Jornalismo da UFMS, naquela época os estagiários saiam tudo daqui. Não estou dizendo que isso é bom, às vezes era até prejudicial. Porque existe um conflito com o que se faz no mercado e o que se faz na academia. No mercado não dá para apurar todas as informações, tem a questão da linha editorial. Mas como naquela época tínhamos três jornais diários, tinha uma certa efervescência. Tinha uma demanda por mão de obra, começávamos a trabalhar muito cedo. Sempre trabalhei com impresso no tempo da Universidade. Trabalhei no Diário da Serra que era do grupo Correio do Estado. Comecei em cidades, que eles chamam de clínica, cabe tudo. O foca sempre entra em cidades para começar a aprender o que é pauta, desenvolver os textos jornalísticos. Fui editora de economia e suplemento rural. Foi uma experiência muito boa, que eu aprendi bastante. E quando era editora de economia, o Mcdonalds estava vindo ser instalado aqui e eles me convidaram para ser assessora de imprensa em 1997. Foi quando comecei a trabalhar com assessoria de imprensa. Fui contratada pela Uniderp para ser assessora de imprensa também. Foi nessa época que estavam implantando o curso de Jornalismo com o


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professor Eron Brum que também foi professor aqui do curso. Fiquei uns dois anos na assessoria de imprensa, e surgiu um curso de especialização com a Cátedra da Unesco, lá na UNESP de São Bernardo do Campo com o professor José Marques de Melo. Eu estava na Uniderp, e acabei fazendo essa especialização e depois fui para o mestrado. No meio do mestrado, o Eron me convidou para dar aula. Eu não queria porque eu achei que o meu foco era o mercado e assessoria de imprensa. Ele me disse “você vai para o laboratório com os alunos”. E na verdade eu brinco que foi uma enganação. Porque ele ficou dois dias comigo e depois falou “toma que a aula é sua” e eu assumi. Quando eu estava terminando o mestrado, o Eron falou que não estava mais interessado em coordenar o curso e que tinha me indicado. Então a vida acadêmica foi surgindo e quem foi o fio condutor desse direcionamento foi o Eron. Foi ali que eu tive experiência administrativa de Universidade, de coordenação de curso e de aula. Só não dei aula de tele,o resto dei aula de todas as disciplinas. A questão administrativa te impede de avançar academicamente, então foi o período que resolvi investir na carreira acadêmica e fui fazer doutorado. Eu estava no meio do doutorado e surgiu aqui um concurso na área de rádio que era exatamente o que eu trabalhava. E como não tinha indicação de doutor, era mestre, fiz o concurso, passei, assumi em agosto e defendi minha tese em setembro. Hoje só abre concurso para doutor, mas naquele tempo não. Foi no doutorado que eu mergulhei no rádio. Nesse período, eu me envolvi muito na rádio USP. Como era a estrutura física quando você estudava aqui? A Universidade tinha poucos cursos noturnos, então à noite ficávamos meio isolados. Tínhamos poucos recursos humanos, poucos professores do quadro e muitos professores substitutos. Eu acho que um diferencial das outras turmas para essa é que antes eram pessoas do mercado que faziam a Universidade, e hoje o perfil é completamente diferente, são pessoas muito jovens que acabaram de sair do ensino médio. Então eram pessoas que não eram jornalistas ou que atuavam há muito tempo na área ou trabalhavam a pouco tempo e queriam entender esse processo. Tinha um acirramento, uma discussão muito crítica. Eu acho que a partir dos anos 2000, o perfil começou a mudar. Até porque também foi o boom das Universidades privadas de abrir cursos de Jornalismo. Tínhamos muita carência de recursos humanos e carência laboratorial. Mas eram turmas que faziam. Muitos colegas falam que hoje as turmas têm tudo, tem uma estrutura montada para fazer e fazem muito menos do que se fazia antes. Lembro que fazíamos cobertura de jornal diário de evento que tinha no Glauce Rocha para fazer exercício laboratorial. Mas a gente fazia muita


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coisa, não com uma estrutura adequada, mas fazia. Talvez porque o curso estava em fase de implantação, e os alunos se sentiam um pouco responsáveis por esse processo de um curso que estava nascendo e que era polêmico. E como foi voltar para cá como professora? Quando me formei, eu não tinha foco para trabalhar com viés acadêmico. Como eu fiquei quase dez anos na Uniderp eu tinha experiência de dar aula de trás para frente e de frente para trás. Foi uma coisa diferente porque aqui as turmas são pequenas, e eu dava aula no auditório. Eu sempre quis voltar para o curso para dar alguma devolutiva. Porque quando você é aluna de um curso, você entende o processo, as dificuldades que passaram e como estamos hoje. Eu voltei porque eu queria trabalhar em uma Universidade Federal e onde eu me formei. Voltar foi muito bom, primeiro por rever os professores. Eu fui bem recebida e fui a primeira ex-aluna a voltar e me tornar professora do curso. Então os professores estavam muito empolgados porque eles falavam que iria começar uma geração de ex-alunos a voltar para dar aula no curso. E é muito bom ter pessoas que quando escolhem o mundo acadêmico podem voltar e contribuir de alguma forma com o crescimento do curso. Quais disciplinas tinham? A aula que eu mais me lembro é de rádio. Sou capaz de descrever tudo. Me lembro da primeira aula do Eron em que ele sentou todo mundo na máquina de escrever e mandou fazer uma redação. Eu me lembro que todo mundo tirou C e D, porque todo mundo pensou que era redação e não matéria jornalística. Ninguém estava acostumado, porque antes escrevíamos à mão. Foi a primeira barreira. E da aula da Maria Francisca, me lembro que tinha um estúdio pequeno, gravávamos em rolo e ela deu um exercício de fechamento do semestre que era montar um programa de rádio onde podíamos montar o programa que quiséssemos. A primeira matéria jornalística que eu fiz na vida foi na máquina de escrever, na aula do Eron, e a aula da Maria Francisca que foi a montagem desse programa de rádio. Como se interessou por rádio? Foi no mestrado. Quando eu entrei na Uniderp, eu não imaginava, porque eu trabalhava na assessoria de comunicação. Quando surgiu a oportunidade do mestrado, eu pensei qual seria um projeto bacana para trabalhar aqui no Estado. Surgiu a oportunidade de conhecer a comunidade Furnas de Boa Sorte, que é uma comunidade remanescente quilombola. Tinha gente que


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nunca tinha visto televisão na vida. O Eron tinha um sítio ao lado da comunidade. Conheci a comunidade e fiquei um tempo lá. Os cursos de Farmácia e Medicina da Uniderp começaram a atender a comunidade, porque eles tinham muitas doenças ligadas à verminose. Eles começaram a fazer um estudo lá, e eu comecei a acompanhar para me envolver com a comunidade. Eles só ouviam um programa que era “A hora do fazendeiro” da Educação Rural. Eles amavam rádio. Para eles, o que o rádio falava era verdade absoluta. Começou a nascer esse projeto, me interessei por rádio e comecei a conhecer pessoas da área. Eu não sabia o que eu ia fazer no doutorado, mas sabia que ia ser alguma coisa com o rádio. Como é estar aqui em 2014 e ver as mudanças? É muito legal. Quando eu cheguei aqui em 2005 e me mostraram o laboratório, eu falei “nesse laboratório eu não posso dar aula”. Porque desde a morte da Maria Francisca, nunca tinha tido um professor fixo de rádio. Achavam que quando tivesse um professor efetivo, ele resolveria a área. Então os primeiros anos foram muito complicados. Tinha um laboratório em fita cassete e todo mundo já estava trabalhando em computador, com programas. Eu comecei a fazer a transição em 2005, e o laboratório efetivamente com as condições ideais foi ter em 2011. Então, de 2005 a 2011, começamos a estruturar primeiro com equipamentos, depois com softwares. O laboratório estava muito comprometido com fungos e sem limpeza. Depois que conseguimos equipamento, começamos a trabalhar com formatos digitais de áudio e a pensar no espaço físico. A prioridade era resolver esse problema de equipamento, e em 2010 começou a possibilidade de ter um espaço físico que também não era ideal porque não tinha acústica. Nesse ano,começou a correr o processo para reforma e hoje temos as condições ideais. Eu fico muito feliz, porque eu acho que mostra uma evolução. Tenho quase dez anos de UFMS, e ficaria muito triste se depois de dez anos meu laboratório ainda tivesse as mesmas condições. E tem mercado de trabalho para rádio aqui no Estado? Tem, mas os salários não são muito bons. Quem gosta de rádio está indo para as AMs.Achamos que não porque ouvimos pouco. Mas o público de AM é imenso, um público muito fiel.É difícil trabalhar em FM, a estrutura é ruim e os programas não são muito jornalísticos. Eu entendo quando as pessoas dizem que não querem ir para não queimar o currículo.


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Foto: Bárbara de Almeida

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Márcia Gomes Marques “Eu vejo potencial nos alunos”

Possui graduação em Sociologia e Política pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, especialização em Cooperazione e Sviluppo pela Scuola Di Politica Internazionale Cooperazione e Sviluppo, mestrado em Comunicación pela Pontificia Universidad Javeriana, doutorado em Scienze Sociali pela Pontificia Università Gregoriana, pós-doutorado pela Universidade Autônoma de Barcelona e aperfeiçoamento em Educazione AlloSviluppo pela Università degli Studi Di Roma La Sapienza. Foi coordenadora do curso de 2005 a 2007.


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Professora, como foi a experiência de estudar fora? Eu estudei Comunicação Social no mestrado e foi uma experiência muito enriquecedora. Estudei na Colômbia e no México o mestrado e na PUC. Foi uma entrada bem interessante na área de Comunicação porque eu já me interessava por esse campo de estudo, tanto que minha monografia de final de curso foi sobre os meios de comunicação, sobre o programa Globo Repórter. Foi bastante interessante porque uma das questões mais enriquecedoras do mestrado foi ter contato com os autores latino americanos. Tem uma grande produção, e uma reflexão bem interessante sobre os meios de comunicação em vários países latino-americanos. E não temos tanto acesso a essa produção aqui. Além do mais, há uma intensa produção em meios de comunicação. Têm vários países produtores muito importantes em nível de mercado mundial. A Venezuela produzia muito, principalmente televisão. Tinha uma produção importante de novelas, de ficção seriada televisiva. Eu conheci mais dessa produção, seja do meio de comunicação factual, ficcional, unitários, produção em série, desses países. Me familiarizei, por exemplo, com as produções em telejornalismo, talk shows, ficção seriada peruana, argentina, mexicana, sul dos Estados Unidos, que tem uma presença latino-americana muito forte. E a respeito da bibliografia, foi uma experiência que valeu a pena. A senhora estudou em lugares renomados fora do país. Por que escolheu trabalhar na UFMS? Quando eu voltei do doutorado, eu estava interessada em dar aula em Universidade. Surgiu a possibilidade de dar aula em uma outra faculdade aqui de Campo Grande, logo surgiu essa possibilidade de dar aula aqui. Eu considero Campo Grande uma cidade com uma qualidade de vida muito alta. Comparada com os grandes centros. Pensei na questão de que a UFMS talvez não fosse tão integrada ao mundo acadêmico de uma forma geral. Não havia mestrado aqui, mas um dos colegas do curso me assegurou que o grupo da Universidade queria desenvolver o mestrado. Eu tinha muita vontade de trabalhar na pós-graduação e ele me garantiu que esse era um projeto que ia ser implantado. Eu comecei a trabalhar primeiro como professora substituta em 2003. Achei o perfil do acadêmico do curso bem interessante. Vi muita potencialidade nos alunos, uma vontade grande de crescer, de saber e levar à diante projetos. E isso é uma coisa bastante interessante,então teve uma combinação de fatores.


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Quando a senhora chegou, como era a estrutura física do curso e estrutura pedagógica? Com o que a senhora se defrontou? A estrutura do curso era bem mais precária do que agora. Nós estávamos em um outro local, as salas eram compartilhadas por vários professores, havia pouco espaço para os acadêmicos. As máquinas eram antigas e com problema de funcionamento. Eu vinha de uma Universidade particular, com uma estrutura física muito boa. A biblioteca era bastante modesta. Essa foi a primeira impressão que eu tive. Eu dava aula para o primeiro ano. Era uma sala do curso de letras. Nós usamos por alguns anos aquela sala. Logo começamos a ver uma modificação nessa estrutura. Primeiro o departamento conseguiu esse espaço. Foi uma boa notícia para o curso. Aqui tinha potencial, tinha muita gente com vontade de trabalhar, com vontade de fazer projetos. Mas essa estrutura que a Universidade nos propiciou, deu lugar ao desenvolvimento de uma série de ações. Maior inserção dos alunos de pós-graduação na Universidade, maior tempo de integração entre pós e graduação.São projetos de pesquisa que possibilitaram a compra de equipamentos que são disponibilizados para estudantes, para o trabalho de pesquisa. De um lado o Governo Federal, de outro lado a Universidade que está prestando atenção nessas demandas dos cursos. Por outro lado, a Fundect, que é nossa agência estadual de pesquisa, que também tem sido sensível a essa demanda.. E quanto às disciplinas que a senhora já deu. Sempre foram as mais teóricas? A minha prova de concurso aqui foi para a área de Teoria da Comunicação. Essa é uma matéria que eu dou aula desde o meu mestrado. E a minha disciplina, não é voltada à Sociologia, é voltada à Comunicação. Eu sou formada em Sociologia e tenho mestrado em Comunicação e doutorado em Ciências Sociais, na área de Comunicação. Eu dou aula de Teoria da Comunicação aqui desde 2003, Sociologia da Comunicação, acho que é desde 2010. E eu dou aula de Cultura de Massa, que é uma disciplina que está absolutamente dentro da Comunicação. E são disciplinas mais voltadas para a teoria, sim. Eu já dei aula de Metodologia e de História da Imprensa. Como o mestrado contribui com a profissão? A pós-graduação é fundamental para o desenvolvimento de qualificação profissional aqui. Você tem que qualificar a região e qualificar os quadros que vão dar aulas nas instituições de ensino. Atualmente, já não cabe mais que você tenha professores com nível de graduação dando aula para a graduação. O primeiro fator de colaboração é a qualificação de pessoas que vão dar aula nos cursos de graduação da região. A gente precisa de, pelo


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menos, o nível de mestrado, que é um tipo de formação mais sistemática, com mais aprofundamento teórico, mais discussão e mais reflexão. É importante ter cursos de pós-graduação interagindo com a graduação porque você amplia os horizontes do estudante. Algumas vezes, em lugares onde só há graduação, os estudantes nem pensam na possibilidade de fazer pós-graduação. E o mercado de trabalho, ele pede um profissional mais qualificado atualmente. É importante ter essa relação porque o estudante de graduação, vendo essa possibilidade de perto, consegue visualizar de uma maneira mais próxima a potencialidade que há por trás de uma qualificação mais dedicada e ter uma formação mais circular e que desenvolvam vários aspectos não só as habilidades técnicas. O perfil do estudante de jornalismo está muito diferente?Porque essa é uma questão que todos os professores têm tocado. Nosso perfil de estudante era diferente. Na época, nós tínhamos vestibular e tivemos uma grande modificação do perfil do acadêmico depois que entrou o Enem. E o curso era noturno. Isso também fez com que o nosso estudante modificasse um pouco o perfil. Tinham menos bolsas de estudo. Não havia esse espaço físico para receber os estudantes, não tinha toda essas acomodações de agora, de laboratório. Existiam dificuldades dentro do curso? Na época, nós tínhamos muitos professores substitutos.Tínhamos pouquíssimas pessoas com pós-graduação. Eram profissionais que estavam no mercado e que vinham dar aula. Tiveram várias contratações de lá para cá. Isso é bom ou ruim? Tiveram algumas modificações na profissão, não foi só a queda da necessidade do diploma, mas também todo esse conjunto de mídias e produção que temos agora, ligadas ou não ao exercício direto da profissão, e notei que tem uma maior participação de estudantes do interior do MS do que antes. Tem gente de várias localidades. Eu acho essa mistura de origens produtiva. Eu não sei se esses novos mecanismos de canalização de estudantes pegam os que querem fazer jornalismo ou não. O curso era de Comunicação e vai passar a ser jornalismo, acho que vai ter outra modificação. Com a nova grade, a disciplina da senhora muda alguma coisa? Melhora. Na última grade, nós tivemos uma ampliação das disciplinas práticas de laboratório e diminuição das teóricas. Agora com a grade nova deve haver mais equilíbrio e aumento das teóricas. Acho que outra vez vai modificar o perfil do aluno. Um dos desafios agora é diminuir a evasão.


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Foto: Brenda Cirino

Marcos Paulo da Silva “Eu queria que daqui a dez anos as pessoas vissem o curso de Jornalismo da UFMS como referência.”

Formado em Jornalismo e mestre em Comunicação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Fez doutorado-sanduíche na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), e em Syracuse University, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Concluiu o doutorado no final de 2012, quando passou no concurso para professor na UFMS. No segundo semestre de 2013, assume a coordenação do curso.


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Professor, nos explique como foi sua chegada na UFMS. Em 2006, quando fazia mestrado, percebi que eu queria trabalhar com ensino. Comecei a cursar um doutorado de história na UNESP, mas queria trabalhar com ensino na área de comunicação. Fui para São Bernardo do Campo, solicitei uma bolsa parcial em uma faculdade particular e consegui integral, e fui viver só do doutorado. Fiz o chamado doutorado sanduíche, em 2011 lá na Universidade de Syracuse nos Estados Unidos. Quando voltei, me deparei com a reta final do doutorado, começou bater aquele desespero.O que seria do dia que eu defender o doutorado? Então, comecei a vasculhar empregos, concursos que pudesse prestar. Voltei em janeiro de 2012, e comecei a lecionar em Universidades pequenas, até que eu pudesse me encaixar em uma Universidade Federal. Mas não em qualquer uma e sim uma que tivesse estrutura. Ao ler a ementa do concurso eu disse, “esse concurso é para mim, é o que eu estou estudando”, mas eu estava nos Estados Unidos. E para minha surpresa, em novembro de 2012, eu abri o email e vi novamente a mesma ementa. E depois eu fiquei sabendo que era o mesmo e aquela vaga não tinha sido preenchida. Vim, porque era o que eu estudava, e aqui tinha mestrado, recém-inaugurado, mas um dos meus focos era lecionar em uma instituição que tivesse o mestrado, para que eu pudesse manter a pesquisa acadêmica, e não me limitar ao ensino. O concurso exigia o titulo de doutor, eu estava com a tese pronta e ainda não tinha defendido. Tinha que defender até dia 31 de janeiro, para dar tempo de tomar a posse. E foi um estresse muito grande. O meu orientador viajava no dia do natal e voltava dia 25 de janeiro. Ou seja, do dia 19 a 25 de dezembro eu tive que fechar minha banca, fazer os convites, enviar exemplares. Conseguimos fechar a banca, nos 47 do segundo tempo, com uma boa banca e 31 de dezembro eu defendi o doutorado, peguei a ata de aprovação. Comecei a carreira acadêmica, como todos os professores começam, com uma carga horária grande e peguei três disciplinas com o primeiro semestre. Quais disciplinas ministra? Sistemas de Comunicação, Redação, e Jornalismo, Cidadania e tecnologias. Mas foi muito legal, eu propus uma discussão mais teórica. É a única disciplina mais teórica do último ano. Como é a experiência de ser coordenador com menos de dois anos de instituição? É um cargo que exige muita dedicação, e muitas vezes acabam ficando com professores mais jovens na instituição. A vida acadêmica também te cobra muito, tem que dar aula, tem que corrigir trabalho, fazer prova, escre-


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ver artigo para congresso, publicar em revista, ter projeto de pesquisa. Se você for fazer isso bem feito, leva tempo. A coordenação em si só, toma muito tempo. No ano passado, eu chegava às oito horas da manhã e saia às dez horas da noite. A coordenação de curso precisa resolver questões burocráticas e não só pedagógica. Outra coisa que toma muito tempo é a mediação entre alunos e alunos, alunos e docentes. Tem dia que eu brinco de adicional psicólogo e eu não estou reclamando disso, faz parte do trabalho. Tem muita coisa legal na coordenação também, mas tem muita coisa desgastante. O Silvio me ajudou muito nesse processo de transição de coordenador, como manusear o Siscad (Sistema que a UFMS utiliza para informar notas e frequências dos alunos). Quando se é coordenador, tem acesso a um monte de coisas a mais, como fazer a matricula dos alunos. Ano que vem vai ser um processo bastante importante, mudança de projeto pedagógico, quem entrou até 2014, vai concluir o curso como entrou.

Como o senhor vê o curso pra frente? Quem entrar em 2015, entra em uma nova proposta. O curso passa a ser de manhã e tarde. Esse projeto pedagógico novo tem alguns elementos que não eram exigidos no projeto atual, por exemplo, semiótica, estágio obrigatório, o MEC recomenda que seja curricular. Foi minha obrigação saber a história. Lógico que eu não tenho a mesma memória de quem estava aqui nesse período, como o professor Edson, o professor Licerre e os outros professores que saíram daqui. Eu procurei me informar, mas meu propósito é visualizar daqui pra frente. Eu queria que as pessoas vissem no curso de Jornalismo da UFMS como referência. Que é diferente, que tem pesquisadores, mestrado, que tem determinada linha de pesquisa. Não é fácil, envolve muito capital humano. Eu estou muito disposto, e considero um bom curso. É um desafio, mas sem deixar de lado todo o legado. O curso de Jornalismo não é o mesmo de 25 anos atrás, Campo Grande não é a mesma de 25 anos atrás. O mercado jornalístico não é o mesmo e a realidade do país também não. Essas mudanças acabam refletindo na Universidade. Outro desafio é pensar no Jornalismo a partir da crise do próprio Jornalismo. Vivemos um período de crise de linguagens e suportes. Como sobreviver economicamente com todos esses modelos passando por abalos? Isso é para que os professores não se acomodem. Mais que ensinar o fazer jornalístico, temos que ensinar o pensar o fazer. Acho que esse é o grande desafio do curso daqui para frente.


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Graduado em Engenharia Mecânica e em Comunicação Social – Jornalismo, mestre em Educação, todos pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Chegou à UFMS em agosto de 2010. Silvio tinha um novo foco na carreira: trabalhar com educação. Essa guinada pessoal iniciou-se em 2005 culminando na vinda para Campo Grande.

Foto: André Moura

“Vim para trabalhar.”

Foto: André Moura

Silvio da Costa Pereira


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Já tinha lecionado em outras Universidades,professor? Em Santa Catarina, eu era professor da Estácio, do curso de Jornalismo e publicidade de 2008 até 2010. Fui professor substituto no curso de computação em Florianópolis na UFSC, dava curso de parte estrutural, desenho mecânico, AutoCAD. Ministra quais disciplinas atualmente? Já deu quais? Hoje eu trabalho Fotografia e Fotojornalismo e uma optativa, que tento ministrar anualmente, Prática em Reportagem Fotográfica. Desde o ano passado eu estou trabalhando laboratório de Produção Gráfica II, além de Projetos Experimentais. Aqui na UFMS, eu já trabalhei Redação com o Mario Ramires e foi uma experiência muito legal, e Legislação e Ética também. Como era a estrutura física do curso quando você chegou? A estrutura física está melhorando. Quando eu cheguei aqui, só tinha o laboratório de redação. De lá para cá, foram criados o laboratório de Jornalismo Cientifico e o laboratório de Rádio,não sei se funcionava em outro lugar antes. Ele migrou para um espaço próprio que tem o aquário, tem a parte de gravação, de computadores e de sala de aula. Não tinha mestrado, o laboratório de Ciberjornalismo, o espaço do projeto Observatório de Mídia. Dentro de tele não existiam os espaços que os alunos estão começando a trabalhar com edição de vídeo, só quem fazia era o técnico. Isso está começando a mudar. A gente não tinha nenhuma rede sem fio aqui, o professor Gerson trouxe um roteador sem fio da casa dele e instalou, agora estão entrando os roteadores da própria Universidade. Nós não tínhamos câmeras digitais DSL, que fotografam e filmam, o laboratório de fotografia analógica estava desativado. Eu reativei esse laboratório. Então são usos às vezes didáticos, de pesquisa e de extensão. Mas mudou bastante coisa, esperamos que mude mais. E que mais você quer, de estrutura para dar a melhor aula de fotografia? Que ainda falta? Laboratório de fotojornalismo. Na verdade é uma coisa que está na minha cabeça já faz um tempo, mas como eu estou saindo para o doutorado, não botei no papel, porque é uma coisa de 5 a 10 anos para executar. Com relação aos equipamentos que o curso tem hoje são suficientes? Quando eu cheguei, se não me engano, tínhamos seis câmeras analógicas. Com algumas lentes muito boas, tripés, flashes, câmeras digitais


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velhas e amadoras. Não dava para trabalhar em sala com os alunos. Em 2010, eu trabalhei com os alunos com minha câmera. Trazia uma câmera compacta. Os alunos que tinham traziam suas câmeras. Melhorou bastante quando um projeto de extensão chamado Prata da Casanos convidou para ajudar no registro fotográfico. Eu disse “a gente não tem equipamento”. E eles disseram que tentariam colocar no orçamento e conseguiram. Eram para ser duas câmeras, vieram dez. Foi fantástico para nós. Não são suficientes, mas seguram a onda bem. Temos 10 câmeras Nikon d7000 que daqui a pouco vão começar a dar problema, porque não temos manutenção periódica, a Universidade não consegue fazer isso. Outro problema são os cartões dessas câmeras, três já estão queimados. A gente sabe que isso acontece, quem usa sabe que isso acontece. E não tinha para reposição. Então faz mais de um ano que tem três câmeras paradas, estou com dois mil reais parados por causa de trinta reais. No futuro, queremos comprar mais essas coisas. O que agora mais precisamos são bons computadores e softwares para trabalhar com fotografia. Como eu me viro? Eu uso software livre, acho super bacana trabalhar software livre com o pessoal. Mas estou trabalhando com padrão um pouco fora do mercado. Como foi seu período de coordenação? Foi turbulento. Entrei na coordenação quando fez um ano que eu estava aqui e fiquei dois anos até o Marcos Paulo entrar. Coordenação tem duas coisas: uma que é muito boa, que você conhece a Universidade e entende como ela funciona. Conheci muitas pessoas aqui na Universidade, quem funciona e quem não funciona. Isso é muito bom. Consigo transitar nas pró-reitorias, dentro dos centros, em outros cursos. A parte estressante é que nossa estrutura de recursos humanos são mínimas. Isso são problemas de gestão. Eu, como jornalista, tenho algum conhecimento de gestão? Eu acho que professor não devia estar fazendo papel de administrador. Eu não sou. Não é o caso de 80% dos professores. Não existe um treinamento para isso. Então essa é a parte estressante. Fale um pouco sobre esse projeto de fazer a catalogação dos TCCs. Alguma coisa legal que você descobriu com os projetos? Eu desconhecia qualquer memória que tinha sido feita, talvez porque eu tenha entrado há pouco tempo. Esses dias, o Edson estava me dizendo “ eu tinha os TCCs, a gente fez a documentação”. Mas talvez por não ter um secretário e os anteriores não terem esse hábito de organizar essas coisas. O fato é que se hoje eu quiser saber quem apresentou TCC lá em 2004, eu não


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tenho essa lista ali pronta. Eu decidi me meter nessa porque na virada de 2010 para 2011 estava todo mundo de férias. Como só tem direito a férias depois de um ano, eu estava aqui. Optamos por ter férias nesse período, não só porque nós gostamos, mas porque a Universidade fica vazia. Eu comecei a dar fé nas coisas aqui, e uma coisa que eu sempre gostei era a hemeroteca. Foi frustrante pegar as caixas dos TCC e ver que estava tudo bagunçado. Porque foi um momento que eu entrei e pensei “quero ver o que fizeram de TCC em fotografia”, e eu não achava. Eu estava de férias, e comecei a tirar todos os TCCs. Coloquei nas caixas e organizei. Em 2012, como eu estava na coordenação e decidimos refazer o site do curso, tiveram problemas técnicos e tínhamos que tirar o site antigo do ar. Eu disse “porque os TCCs não podem ser consultados como eu consulto uma dissertação de mestrado?”. Eu via coisas interessantes, e pensava como as pessoas não viam isso. Uma maneira muito fácil hoje é botar na rede. Basta ter a autorização e digitalizar os TCCs, que é esse longo e tortuoso processo que dura até hoje, porque ele é lento. Esse é o papel da Universidade, não é se trancar aqui dentro dos muros e sim botar esse conhecimento para fora. Fazemos esse trabalho porque acreditamos que é útil. Ano que vem o curso muda. Como vai ser o 26º ano desse curso, muda algo para suas aulas? Eu acho que vai mudar. Não tanto no primeiro ano, segundo ano. Mas, à medida que formos lidando bem com a nova grade, o novo curso, e talvez quando acabar o curso de Comunicação e começar o Jornalismo, acho que vão ter mudanças substanciais. As disciplinas foram realocadas, então todos esses problemas que vimos ao longo desses anos,eu e o Marcos Paulo juntamos as reclamações e tentamos aproveitar tudo isso. Tem coisas que não conseguimos mudar.Mudamos uma série de coisas que no meu entender, são para melhor. Acho que o curso vai dar uma crescida por resolver uma série de problemas que estavam travados. Acho que estamos tendo uma aproximação melhor com o mercado, preparando mais para o mercado futuro. E em termos de fotografia vai ser legal. A gente desloca ela do primeiro semestre, entra semiótica, o número de optativas cresce. Eu boto fé nesse projeto. Tiveram muitas cabeças e olha, foi super produtivo.


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Foto: Mylena Rocha/ AF UFMS

“O curso basicamente eram salas de aula e a vontade de trabalhar dos professores.”

Foto: Arquivo pessoal

Gerson Luiz Martins

Formado em Filosofia e Psicologia pela Universidade Católica Dom Bosco, em Jornalismo pela UFMS, mestre e doutor pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutor em Ciberjornalismo pela Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha. Trabalhou como jornalista profissional sem ter o curso. Defendia a importância do diploma e em 1999 cursou Jornalismo simultaneamente ao doutorado.


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Quando estudava aqui na UFMS, o senhor já estava no mercado de jornalismo? Eu trabalhava na UCDB como assessor de comunicação e professor. Fiz mestrado em Comunicação e foi uma auto-cobrança minha ter a graduação, depois de já ter registro e fazer o doutorado em Jornalismo. Para mim era muito importante, porque sempre defendi a exigência do diploma. Já estudava ciberjornalismo? Sempre gostei de tecnologia, mas em 95 começou a internet no Brasil. Sempre tive interesse de aliar o Jornalismo com tecnologia. Sempre me interessei em cuidar da página de Jornalismo da UCDB. Comecei a pesquisar e estudar. Quando eu entrei na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, havia uma disciplina optativa de Jornalismo Online e eu assumi essa disciplina. Na minha cabeça, como é que o futuro do jornalismo era uma disciplina optativa? Desde que eu trabalhava em Campo Grande, comecei a mexer com Ciberjornalismo, isso foi em 2000, 2001.

Como era a estrutura física? Quais professores te deram aula? Na época era o Jorge Ijuim, o Mauro Silveira, a Maria Francisca Marcelo, a Desiree Cipriano Rabelo, o Edson Silva. A infraestrutura era muito fraca, muito ruim. Haviam máquinas de escrever, depois trocou para computadores e eram IBM. Eram usados por outros setores da Universidade e depois doados para o curso de Jornalismo. Hoje que nós temos uma situação, que não é ideal ainda, mas muito mais confortável que antigamente. Quanto à estrutura pedagógica, o que o senhor achava? É interessante observar que havia um grupo de professores que eram concursados, o caso do Mauro, Edson, Licerre. Quase metade do curso erade professores substitutos. Havia dificuldades nesse sentido e o professor substituto não atendia às necessidades. Qual era o maior desafio nessa época? Sem dúvida a pedagógica, era a capacidade dos professores.o Curso de Jornalismo na UFMS nasceu da demanda dos profissionais de Jornalismo de Campo Grande e os primeiros professores eram professores do mercado, que tinham boa experiência profissional. Essa experiência,aliada à vontade de qualificar o aluno, foram fundamentais para ter uma qualidade do curso, mesmo não obstante ao problema de infraestrutura. O curso nasceu notur-


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no, a primeira expectativa era atender os jornalistas que estavam no mercado. Quais diferenças o senhor percebe da época em que fez parte do curso e agora como professor? Tanto na estrutura física quanto pedagógica. A Universidade como um todo está mais organizada. Do ponto de vista dos professores, tem um grupo grande. Já tem uma redação, um laboratório de televisão e rádio informatizados, que é uma coisa natural e fundamental, que faz a grande diferença no curso da UFMS. Também tem um grupo de professores que, mesmo mais novos, tem uma experiência profissional aliada a uma bagagem acadêmica. Essa é uma característica daqui nos últimos anos. Como o senhor vê a diferença do perfil dos alunos? O grupo de alunos era muito mais maduro, a faixa etária caiu muito. Quando diminui, às vezes o aluno entra na Universidade sem saber direito o que quer. Antes, faziam dois anos de disciplinas teóricas, e só no terceiro ano faziam disciplinas práticas. Com a mudança que houve nos últimos anos, com mais práticas no primeiro semestre, ajuda os estudantes a escolherem a profissão. Naquela época,os ingressos sabiam o que queriam, muitos estavam no mercado. Ministrou quais disciplinas? Redação, Assessoria de Imprensa, Sistemas de Comunicação, Ética em Jornalismo, Ciberjornalismo, e História da Imprensa. Foi o senhor que implantou o Ciberjornalismo aqui na UFMS? Foi, quando eu cheguei aqui. Primeiramente eu trabalhava Ciberjornalismo na disciplina de Redação. E depois na reforma que eu e a Daniela fizemos em 2009, implantada em 2010, criamos a disciplina. Em 2003, 2004 estava começando jornalismo na internet. Quais foram suas experiências em rádio? Trabalhei um ano na rádio Educação Rural, como locutor. Comecei a fazer programa gravado no domingo e depois ao vivo. É outra coisa. Antigamente a rádio AM tinha uma audiência muito grande, ao vivo, tinha que atender telefone do ouvinte, aquela interatividade, é fantástico! Adoro rádio! Quando eu fazia graduação aqui, o curso tinha uma rádio comunitária.


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Eu me voluntariei e fazia um programa na rádio, trazia os discos de casa. Teve experiência com televisão ou impresso? Tive, trabalhei na TV Morena com produção de programa. Em redação impressa como colaborador no Diário da Serra, no Correio do Estado e no jornal O Estado de Mato Grosso do Sul. Vivenciava aquela coisa de redação, mas sem trabalhar como repórter. Como o mestrado está colaborando com o mercado? Com o mestrado, a mídia local vai ser analisada, criticada e avaliada pela academia.O mercado não está preparado, embora teve a iniciativa da redação de um veículo para que o curso de Jornalismo oferecesse cursos para formação. É um primeiro passo. Ainda não foi concretizado, mas é interessante nesse aspecto. Outro fato interessante é que muitos jornalistas do mestrado são do mercado. Como o senhor recebeu a noticia da não obrigatoriedade do diploma? Pessimamente, toda minha vida eu entendi que o diploma é fundamental, que o curso de Jornalismo é uma das áreas estratégicas para a democracia de um país. Uma área dessa importância, precisa de profissionais oriundos da Universidade, não pode ser alguém da prática. É uma condição imprescindível para o Jornalismo de qualidade. Hoje em dia, 90% dos jornalistas que estão no mercado têm formação e temos problemas, imagina se não tivesse formação universitária.


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“Na minha época de aluna era muito difícil.”

Foto: Arquivo pessoal

Taís Marina Tellaroli Fenelon

Formada em 2003 pela UFMS, fez pós-graduação em Jornalismo e Mídia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mestrado em Comunicação Midiática na Unesp de Bauru e doutorado na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), em 2013, quando passou no concurso para professora na UFMS.


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Como foi sua experiência profissional no mercado? Em todo esse tempo que me dediquei à área acadêmica, eu paralelamente atuava no mercado, fiz estágio na TVU e TV Morena, trabalhei como profissional na TV Campo Grande, lá fui apresentadora, repórter, editora,trabalhei em todas as áreas e trabalhei um ano na Band no Programa do Picarelli, e dois meses na Record, no Programa do Picarelli também, eu fazia matéria política. Quando voltei de São Paulo,estava cursando o doutorado simultaneamente, o Picarelli me convidou para assumir a Diretoria de televisão da Assembleia Legislativa, lá fui diretora de divulgação de rádio e TV por um ano e alguns meses.Eu era responsável pela programação da TV, gerenciamento de funcionário. Eu era responsável por tudo. Em que ano entrou no curso de Jornalismo? Em 2000, quando entrei, o curso era noturno, nossas aulas eram só à noite, e eu não tinha muita noção do que seria a profissão de jornalista. Não sabia também o que eu queria, só que no decorrer do curso a gente vai se apaixonando pela profissão. Como era a estrutura física do curso de Jornalismo? O curso tinha uma estrutura bem precária, não tínhamos equipamento de fotojornalismo, lembro que essa disciplina nós mal tivemos. Como o curso era noturno, nossa produção ficava mais complicada, diferente de hoje, que os alunos acabam produzindo muito mais que naquela época. Comparando hoje, além do quadro de professores estar maior, a estrutura de laboratório está infinitamente melhor. O curso melhorou muito. Quais professores davam aula? Eu tive aula com os professores Edson Silva, Marcelo Cancio, Mario Ramires, Ruth Vianna, Licerre. Tive aula com professores voluntários e substitutos. Algum fato diferente ou importante marcou a época que era acadêmica do curso? Ah, nas externas que fizemos. A professora Monique Klein nos levou para fazer um programa de rádio ao vivo no Bairro Coophavila 2. Acontecia uma feira, se não me engano na terça-feira à noite, foi um evento bem legal. Fomos para o Pantanal com o professor Edson, fazer Entrevista e Pesquisa Jornalística, acho que no segundo ano. Foi quando começamos a entender o que era fazer uma entrevista, tínhamos que escrever uma reportagem sobre o Pantanal. Fomos de ônibus, aqui da Universidade, e ficamos hospedados na base da UFMS de Corumbá.


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Já existiam laboratórios nessa época? Laboratório de TV sim, no mesmo lugar, não mudou muito do laboratório de hoje. A rádio funcionava, chegou a ter um programa ao vivo, então aprendemos na prática mesmo. Tinha audiência, as pessoas ligavam e pediam música. Naquela época não tinha internet direito, não existia Jornalismo Online, Ciberjornalismo. Não produzíamos e nem aprendemos a fazer isso. Quais disciplinas tinham? No geral, não mudou muito, mas o que tem diferente hoje é a produção dos laboratórios que é mais intensa, a disciplina nova de Ciberjornalismo, que não existia, e talvez as disciplinas do primeiro ano, que eu tive Antropologia, Sociologia, Economia, Psicologia da Comunicação, não sei se hoje os alunos tem isso. Quando veio lecionar, quais foram as diferenças observadas, tanto de questões físicas quanto pedagógica? Primeiro, o quadro de professores que é bem maior, pessoas novas que chegaram, com doutorado para fazer o curso crescer. A estrutura física, por incrível que pareça, melhorou. Pensava em ser professora aqui? E como decidiu? Desde quando eu comecei a cursar a faculdade, eu sabia que ia fazer mestrado e doutorado e ia seguir essa área. Tinha isso como objetivo. E como é voltar para Universidade onde se graduou para dar aula? É muito bom saber que eu posso contribuir com esse curso, de alguma forma. Ajudar a formar as pessoas que começaram como eu.Antes eu também não tinha muito essa noção do que era o Jornalismo, e hoje muitos alunos chegam assim, meio perdidos. Eu sei que vai chegar uma hora que eles vão se encontrar na profissão e vai dar tudo certo. Como você vê o curso hoje? Perspectiva do futuro do curso. Na minha época não tinha laboratório de rádio, de Fotografia, Fotojornalismo, de Jornalismo Cientifico, só tinha de televisão e uma rádio que funcionava ao vivo. De estrutura, o curso melhorou muito, os alunos têm muito mais acesso, e eu acho que só tende a melhorar. Está abrindo vaga para contratação de professor. Na minha época de aluna era muito difícil. No período de um ano, entrou o Marcos, eu e a Katarini para dar um reforço, e provavelmente a gente vai abrir mais uma ou duas vagas. A tendência é melhorar mesmo.


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Foto: André Moura

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Katarini Giroldo Miguel “É um curso que tem uma estrutura muito legal, parecida com a que eu estava acostumada a ver.”

Jornalista pela Universidade do Sagrado Coração (USC), mestre em Comunicação pela UNESP/Bauru e doutora em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Atuou em Radiojornalismo e Assessoria de Imprensa na área de Jornalismo Ambiental.


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Porque fazer concurso para docência? Depois que fui fazer doutorado, eu tinha intenção de entrar em uma universidade pública, onde tem plano de carreira, mais reconhecimento e pode se dedicar mesmo à docência, tem toda a estrutura. Porque a universidade particular é muito difícil, eles te pagam só pela hora/aula, não valorizam pesquisa e nem extensão. Para conseguir ter um salário razoável em uma particular, tem que dar muita aula. E, além disso, é muito instável. Se tiver um corte, eles não pensam duas vezes antes de te mandar embora. Tinha essa questão da estabilidadee de me dedicar à pesquisa, à docência, que só conseguiria em uma universidade pública. Então, começa a pesar e ver que o melhor seria prestar concurso. Só que não é tão simples, porque concurso tem uma exigência muito grande, tem muita concorrência. E qual foi a primeira impressão do curso? Achei muito tranquilo na verdade. É um curso que tem uma estrutura muito legal, parecida com a que eu estava acostumada a ver tanto na faculdade que eu fiz graduação quanto na UNESP. Mas parece que isso é recente. Você conversa com as pessoas antigas, elas falam que nem sempre foi assim. Era mais sucateado, agora têm laboratórios, computadores, máquinas fotográficas. Eu fiquei surpresa com a quantidade de máquinas fotográficas que tem, porque é difícil ter tanto material a disposição. Ou mesmo a TV que é super equipada, tem técnico o tempo todo, o laboratório de rádio também. Tem salas boas, tem sala para professores. Muitas particulares, por exemplo, a UNIP, onde eu dei aula, não tem sala para professores. Tinha uma sala de professores onde ficava todo mundo junto. Não havia um espaço para trabalhar,trabalhava em casa. Não era como aqui, de ter esse contato com o aluno, que é muito importante, de poder se dedicar integralmente às aulas e às pesquisas que você está fazendo. Quais outras disciplinas que você leciona? Atualmente eu dou Redação Jornalística II, Redação para Rádio, Assessoria de Imprensa que é uma reoferta e Legislação e Ética. Mas meu concurso foi para as disciplinas de Assessoria de Imprensa e Administração da Empresa Jornalística.


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Você percebe uma mudança no perfil dos alunos de quando você se graduou para os dias de hoje? Mudou muito. Principalmente por conta das tecnologias. (Quando eu fiz graduação) eram algumas salas da universidade que tinham internet, poucos computadores com acesso e poucas máquinas. Fotografia eu fiz analógica, tive que aprender a revelar, ampliar. Não era essa agilidade que tem hoje. Não conseguia fazer nada sozinha igual fazem hoje, baixa um software e estuda um pouquinho e já consegue. Acho que aluno é aluno independente do tempo e espaço. Talvez no Jornalismo em geral eu perceba uma preguiça. Uma precarização da categoria que não nos estimula a se empenhar, a realmente se dedicar àquilo. Isso eu vejo muito mais hoje, por conta dessa facilidade que as tecnologias criam. Porque se ali na internet já tem tudo, porque eu vou pesquisar? Vou só copiar. Então essa preguiça me preocupa bastante.


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Ex-professores Durante as entrevistas com professores e alunos, muitos citaram os nomes dos ex-professores Mauro César Silveira, Jorge Kanehide Ijuim, Robson Ramos, Marcos Morandi e Eron Brum. As autoras tentaram contato com eles por e-mail, segue um breve relato de suas experiências na UFMS, com exceção de Marcos Morandi e Eron Brum, que não conseguimos o depoimento até o fechamento deste livro.

Graduado em Jornalismo Gráfico e Audiovisual pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestre e doutor em História Ibero-americana pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Mauro chegou no curso de Jornalismo em 1989. Sua primeira experiência como professor foi na UFMS. Foi repórter da IstoÉ, Veja e jornais diários do Rio Grande do Sul e recebeu diversos prêmios de Jornalismo, como o Esso e o Abril. Atualmente, é professor na Universidade Federal de Santa Catarina e ministra as disciplinas História do Jornalismo e Redação VII na graduação e Os primórdios do Jornalismo nos países do Cone Sul na pós-graduação (Mestrado e Doutorado). Coordena o Grupo de Estudos de História do Jornalismo na América Latina.

Foto: Arquivo pessoal

Mauro César Silveira


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Qual foi o maior obstáculo enfrentado quando o senhor lecionava na UFMS? A falta de infraestrutura foi o maior obstáculo nos primeiros anos. Mas superamos - alunos e professores - as deficiências com garra e determinação. Ainda lembro que a primeira edição do Projétil gerou muita repercussão em Mato Grosso do Sul, destacando na capa os conchavos entre as oligarquias políticas do Estado. Alunos e professores chegaram a dar entrevista à TV Morena, comentando essa nova opção jornalística em Campo Grande. A improvisada redação, com carteiras apertadas e velhas máquinas de escrever, ficava em uma apertada (e quente) salinha ao lado do auditório do CCHS. Lembra-se de algum fato diferente/interessante que tenha acontecido enquanto era professor na UFMS? Foram muitos momentos emocionantes - com muitas conquistas, incluindo os sonhados laboratórios, depois de sucessivas ocupações do curso na Reitoria - e algumas situações pitorescas. Uma dessas cenas engraçadas que guardo na memória foi a reação de alguns professores do CCHS diante da chegada dos quatro primeiros professores do novo curso - na época, eu, o Edson Silva e os já falecidos Mario Ramires e Maria Francisca Marcelo, todos jornalistas. Um desses professores chegou a se queixar ao diretor do CCHS naquela época que “o pessoal do Jornalismo não trabalha muito, pois passa o dia inteiro lendo jornal e vendo televisão...” Naqueles primeiros anos, destinaram uma pequena sala, bem no meio do prédio, próxima à direção, onde contávamos apenas com um aparelho de TV e os jornais que levávamos de casa. Como estávamos na mira dos curiosos olhares dos professores das outras áreas, a novidade chamou atenção. Como era estrutura física do curso em 2007? Quais foram as maiores conquistas de espaço que o jornalismo teve enquanto o senhor era professor aqui? Penso que em 2007 a maior conquista em termos de espaço físico foi o laboratório de telejornalismo, que permitia a realização de bons programas veiculados na TV Universitária. Embora todos tenham se envolvido nessa luta, destaco o nome dos professores da área, Marcelo Cancio e Ruth Vianna, decisivos para essa conquista.


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Sobre o perfil dos alunos, o senhor acha que mudou muito? As turmas oscilam muito ano após ano. Quando retornei da Espanha, nos primeiros dias de setembro passado, por exemplo, tive uma agradável surpresa, depois de um ano desenvolvendo um projeto de pesquisa de pósdoutorado. O entusiasmo e a participação dos alunos é muito grande, incluindo uma disciplina que às vezes não empolga muitos acadêmicos de Jornalismo como História do Jornalismo. Estou muito animado depois do meu regresso. Afinal, os alunos e alunas são a razão de tudo. Como o senhor recebeu a notícia da queda do diploma? Recebi a notícia da queda da obrigatoriedade do diploma com uma certa indiferença, por mais surpreendente que isso possa parecer. Por um bom tempo, fui um ferrenho defensor da exigência do diploma para o exercício do Jornalismo no Brasil. Mas quando saiu essa decisão e perguntaram minha opinião, respondi que a dura realidade das últimas décadas mostrou que, como outros diplomas legais do país, incluindo decisões emanadas da Constituição Federal, a lei da obrigatoriedade do diploma nunca foi respeitada pelas empresas de comunicação, que sempre contrataram pessoas não formadas sob o eufemismo de “estágio”, que também era proibido. Então, quando uma lei que não era cumprida caiu, imaginei que a situação não mudaria muito, como de fato ocorreu. Os profissionais continuaram sendo muito explorados, a política de “estágios” seguiu firme e a preferência do mercado ainda recai sobre aqueles oriundos dos cursos de Jornalismo. Quer dizer, quase nada mudou. Infelizmente, os empresários de comunicação do país continuam tratando o Jornalismo como um negócio qualquer, sem nenhum compromisso social. Felizmente, as redes sociais e o novo cenário digital permitem outras experiências de Jornalismo, alternativas e colaborativas.


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Jorge Kanehide Ijuim

Foto: Arquivo Pessoal

Faculdade de Artes e Comunicações da Fundação Educacional (FAAC) de Bauru, mestre em Ciência da Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero (FCL) e doutor pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, também leciona na Universidade Federal de Santa Catarina. Ao receber o convite para esta entrevista, Ijuim foi muito receptivo. Sua resposta foi tão diferente e emocionante, que se tornou o motivo para ser mantida em seu formato original.

Minhas vivências na UFMS Chegada Desembarquei em Campo Grande em fevereiro de 1994. Fui recebido pela professora Lúcia Mont’Serrat então chefe do Departamento de Comunicações e Artes (DAC), e pelo coordenador do curso na época professor Edson Silva. Iniciava-se um desafio em terras estranhas após ter passado por quase treze anos na Unesp de Bauru. A adaptação foi mais rápida e tranquila do que eu imaginava. Assumi disciplinas e tarefas que estava bem à vontade para cumprir. Tive apoio e estímulo para desenvolver as atividades, o que ajudou a estabelecer uma atmosfera favorável para minha integração ao curso e à Universidade. Estávamos nos fins do governo Itamar Franco e início da gestão de Fernando Henrique. Nesse meio de caminho houve alguns percalços. Meio do caminho O governo FHC foi marcado por restrições econômicas drásticas. O recente implantado Plano Real trazia como “júbilo” o controle inflacionário, mas carregava no seu bojo uma onda de cortes que atingia aspectos essenciais para a consecução das atividades fins da Universidade, como em pessoal e infraestrutura.


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Pessoal e infraestrutura Em meados da década de 1990, o quadro de professores do curso era razoável, mas sobre ausências inesperadas como duas aposentadorias (uma delas por invalidez), colegas que se afastaram para qualificação ou por cedência ao Governo do Estado. A política econômica federal congelou contratações de qualquer tipo de servidor. O time da casa tinha que dar conta de todo o trabalho. Certa vez, o colega Edson Silva se deu conta de que contávamos com apenas cinco professores efetivos (e outros cinco substitutos) e lamentou que ‘nosso curso cabia em um fusca’. Se não bastasse, os investimentos em equipamentos para o ensino caíram a zero. Uma sala informatizada – a nossa Redação – instalada no início dos anos 1990 sobreviveu quase 20 anos sem renovação significativa; teve apenas alguns upgrades paliativos. Na área de TV, não fossem iniciativas individuais de alguns colegas, estariam ainda na era Betacam. A produção laboratorial, por isso, era desenvolvida muito mais pela criatividade e esforço de professores e estudantes do que pela retaguarda disponível. A equipe de técnicos – sempre minguada – foi reforçada temporariamente por profissionais terceirizados, contratados via projeto junto a uma fundação. Mas essa prática foi logo interrompida por questionamentos à sua legalidade. Sobre salas de aula, a grande maioria delas, eram mal mobiliadas, as aulas tinham que acontecer na base de quadro e giz. Os velhos retroprojetores viviam com as lâmpadas queimadas. O primeiro Datashow disponível era “disputado a tapas”. A falta de espaço físico fez com que partíssemos para o improviso, fechando corredores para ganhar mais duas salas de aula. Esse espaço criado “na marra” foi apelidado carinhosamente (ou ironicamente) de “favelinha”. Eu me orgulho de ter ministrado muitas aulas nessa favelinha. Equipe de fôlego – conquistas O bom da história é que sempre contamos com uma equipe de fôlego. Se as condições de trabalho não eram as melhores, a disposição, o empenho e o desprendimento de pessoas valorosas mantiveram o curso em pé. Vieram os anos 2000 e tivemos um momento, para mim, especial. Eu e Marcelo Cancio formamos uma dupla para enfrentar o desafio de comandar o curso. O Marcelo como chefe de departamento e eu na coordenação do curso. Batemos de porta e porta em todos os setores da Universidade – das pró-reitorias ao GRM. Naquele momento, também conseguimos estreitar as relações com a TV e Rádio Educativa, do Estado. Na falta de um estúdio de rádio suficiente, o sempre disposto professor Robson Ramos levava os alunos à Rádio Educativa para a produção de programas ao vivo. Se os resultados eram tímidos (ou só paliativos), o clima de boa vontade e desejo


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de superação foram extraordinários – e contagiantes. Essa atmosfera, no meu entender, refletiu na qualidade do ensino. Por exemplo, os projetos experimentais – o momento alto do curso – eram vigorosos e de alta relevância social. Outro episódio que nos orgulhou muito foi o fato de, pela primeira vez, em 2003 (ou 2004?) o curso de Jornalismo teve “A” no Provão, o Exame Nacional de Desempenho do Inep. Conquistas como estas só foram possíveis pelos esforços individuais e coletivos, em outros termos, pelo privilégio ao relacionamento humano. Penso, logo existo Se a infraestrutura, as tecnologias atualizadas ou as condições de trabalho nunca foram os pontos fortes do nosso curso, o grande empenho pela conjugação entre “ação e reflexão” sempre foi sua marca. O esforço contínuo e persistente pela qualificação dos professores, a atenção à pesquisa e à extensão repercutiram de força consistente no maior interessado – o estudante. Enquanto outros cursos do Estado estavam muito bem estruturados, equipados com tecnologias de última geração, nosso curso se destacava pela dedicação ao pensar. Ainda assim, o Projétil nunca deixou de circular, vários alunos venceram concursos de reportagens – no Estado e também nacionais. No encontro do Intercom Centro-Oeste, sediado na UFMS em 2006, nosso curso foi o que apresentou o maior número de trabalhos – professores e acadêmicos. Saída Algumas realizações que considero muito importantes foram minha participação em algumas ações fundamentais para os passos futuros do curso. O primeiro que gostaria de destacar foi liderar um grupo de pesquisa sobre Narrativas (cadastrado no CNPq) durante dois anos. Seus membros eram todos alunos e ex-alunos do curso e hoje vários deles já defenderam o mestrado e/ou o doutorado e são professores em várias instituições pelo país. Outro momento relevante foi a reestruturação do projeto pedagógico do curso, em 2006-2007, quando tive atuação intensa especialmente na fundamentação do novo projeto. Um terceiro foi tomar parte em uma comissão que deu os primeiros passos para a implantação de um mestrado em Jornalismo, entre 2005 e 2006. Este não pode se concretizar naquela época, mas ajudou a criar um espírito de corpo que tornou possível esta conquista mais tarde. Por fim, vale lembrar dos esforços de uma equipe, que também tive o


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privilégio de liderar, no sentido de constituir o Núcleo de Jornalismo Científico. Este começou com um seminário sobre o tema e a edição de uma revista, em 2006. Em seguida, elaboramos um projeto e o apresentamos ao Ministério de Ciência e Tecnologia. Aprovado, iniciamos sua implantação, mas não houve tempo para que eu visse pessoalmente este sonho se concretizar. Em fevereiro de 2008, me transferi para a UFSC. Após quase oito anos em Florianópolis, quando me perguntam se sinto falta de Campo Grande e da UFMS, eu respondo que sim e que não. Por quê? Porque não me apego a lugares, me apego a pessoas. Não sinto falta dos prédios ou da instituição UFMS, nem das casas e avenidas de Campo Grande. Sinto falta das pessoas da UFMS e de Campo Grande. Sinto falta de pessoas valorosas com Maria Francisca Marcello e Mario Marques Ramires, que infelizmente não estão mais entre nós, de técnicos administrativos como Telma D. Vera. Alunos... são tantos que não convém mencionar para não cometer injustiças. Sobre esses 14 anos de UFMS não tenho necessariamente um mar de lamentações, mas a consciência de muitos desafios extraordinários, e muito para agradecer.


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Robson Ramos

Foto: Arquivo Pessoal

Graduado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Ermelino Robson Lima Ramos, integrou a primeira turma de alunos da UFMS e é um dos primeiros formados pelo curso que volta para lecionar. Trabalha há cerca de 35 anos com rádio em Campo Grande e em outras cidades. Foi professor substituto de Radiojornalismo, Cultura de Massa, Comunicação Rural e Comunicação Comparada.

A oportunidade surgiu através dos concursos para professor substituto. Faz-se aquela avaliação, você dá uma aula para os professores que já fazem parte do quadro e aquele que é considerado o mais apto acaba sendo o escolhido. Para mim foi interessante ter voltado depois de ter feito o curso de Jornalismo por lá. Eu já exercia a profissão como locutor há muito tempo, e fiz o Jornalismo para não ficar por baixo em relação àqueles que se consideravam até melhores que os demais, porque tinham diploma ou provisonamento. Fiz na primeira turma de Jornalismo. Depois voltei para dar aula. Morava perto da Universidade. Foi um período interessante, no sentido de absorver também um pouco de energia da rapaziada nova, do idealismo, de estudando em uma escola pública fazer rádio como objetivo de transformação social, em um momento político interessante. Havia toda aquela mística da rádio alternativa, uma rádio que não tinha censura. Você podia dizer o que quisesse. A rádio começou como alternativa, e era de fato um laboratório bem deficiente em todos os sentidos. Não chegava a ser um laboratório, porque um laboratório tem que reproduzir as condições de trabalho que o aluno vai encontrar depois.


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O problema é que nós tínhamos um sonoplasta surdo que se achava o dono do laboratório. Não queria que os alunos mexessem e nós liberamos para a gurizada mexer, aprender. Inventamos. Introduzimos por nossa conta na ementa, Introdução ao Radialismo. Abrimos espaço para todo mundo, com agendamento prévio para operar, falar no rádio. A gente tinha programação praticamente o dia todo. Do período da tarde até a noite, nós tínhamos alunos transmitindo. Inclusive a Glaura Vilalba, que está no ar pela TV Record, estava toda tarde lá. Fazia duas ou três vozes, era bacana. Nesse período houve uns enfrentamentos por conta desse sonoplasta surdo, acabei até me afastando um pouco do laboratório. Aí fizeram uma mobilização “Volta Robson”. Retornei e dei aula por dois anos. Com essa Introdução ao Radialismo, que eram as primeiras noções de rádio para quem nunca tinha feito rádio, e só depois então, os formatos jornalísticos. Fiz de novo o concurso para professor substituto, e aí já não se tinha uma rádio. Não havia mais professor, só tinha o laboratório e umas caixinhas de som espalhadas pelo corredor. Foi nesse período que nós conseguimos um convênio com a Rádio Educativa. Isso foi convênio meu, não iniciativa da Universidade. Toda terça-feira nós tínhamos um programa ao vivo feito pelos alunos do curso. Nós formamos, se eu não me engano, quatro ou cinco equipes. Todas elas atuavam nos dias de programa. Uma estava com o programa no ar, outra era responsável por repercutir o programa em um bar onde ele era ouvido, o Esquina 20, que nos permitiram colocar o som da Rádio Educativa e interagir com os clientes do bar sobre os assuntos que estavam sendo tratados. Eram sempre mesas redondas, debates em relação a um tema específico. Outro grupo ficava na Universidade avaliando o programa, tinha um grupo que ficava fazendo repercussão dos temas do programa para o site de notícias. Nós mandávamos a cada dez, quinze minutos o que estava acontecendo no programa e dos momentos mais interessantes. E isso nós fazíamos por nossa conta. A gente se reunia na Universidade, saía cada um com seu carro e levava três ou quatro colegas, eu levava mais alguns no meu carro. Isso na terça-feira. Na quarta-feira, nós avaliávamos como tinha sido o programa. Foi muito bacana o trabalho. Não retornei mais para a Universidade. Perdi o interesse, a motivação porque na segunda vez que eu estava dando aula lá a minha esposa adoeceu. Acabou internada no Hospital Universitário, e morreu de infecção hospitalar sem qualquer assistência de professor do curso de Medicina. Fiquei muito frustrado com isso, mas se vocês observarem tem uma placa onde eu sou paraninfo e outra placa que muito me


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orgulha, onde eu sou nome de turma. Para mim, isso é importante demais, eu reencontro com os alunos no mercado de trabalho e tenho o maior orgulho deles. Rádio é o que sobra para quem não é nem bonito e nem intelectual. O bonitinho faz Jornalismo e vai para a TV, o intelectual faz Jornalismo para ir para o impresso. O que não é nem bonitinho e nem intelectual vai para o rádio, que é gostoso, não precisa ter cara boa. Na segunda fase que eu retornei e tal, no laboratório não era mais o sonoplasta surdo. Nós já tínhamos um técnico muito competente, que era o Granja. A mesma equipe que repercutia os debates da Rádio Educativa fazia uma divulgação para o site no dia anterior, tipo uma assessoria de imprensa, sobre qual seria o tema que os convidados debateriam.


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Mestrado em Comunicação Desde 2002, o curso de Jornalismo tenta a criação do Mestrado em Comunicação, porém sem sucesso. Em 2011, após a instituição de uma nova comissão coordenada pelo professor Mario Luiz Fernandes, adequação das instalações e do corpo docente é criado o novo curso de pós-graduação. Em entrevista, Fernandes relembra sua trajetória no Jornalismo e também como professor e primeiro coordenador do mestrado.

Mario Luiz Fernandes Formado em Comunicação SocialJornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, mestre e doutor em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Com sua chegada e início do envolvimento com o curso, ele se interessa pela história do mestrado e toma a frente da comissão de criação.

Como surgiu a ideia do Mestrado? Começou em fevereiro de 2002. Foi constituída uma comissão e o professor Mauro César Silveira era o coordenador. Na época, quando comecei a levantar a história do mestrado, o professor Mauro mandou uma síntese para mim. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) é um órgão que autoriza, fiscaliza e que pode inclusive fechar os cursos, se eles não corresponderem às exigências. Por exemplo: número mínimo de oito professores doutores. A biblioteca deve ter pelo menos quatro mil títulos da área da comunicação e áreas afins. Os professores têm que ter um nível de publicação. São vários indicadores que a Capes leva em consideração para autorizar ou não um curso de mestrado ou de


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doutorado. Veio uma comissão para cá, fizeram uma avaliação disso. Instalações físicas, por exemplo. Esse espaço é uma exigência da Capes. Em 2002, a Universidade não tinha essa estrutura. Desde o número de professores à biblioteca, não tinha uma série de coisas. Então não foi possível a UFMS montar um mestrado sozinha. O professor Mauro e a comissão foram até a UnB, a Universidade de Brasília, para criar uma modalidade de mestrado que a Capes chama de “Minter” ou “Minter dinter”. Nada mais é do que um mestrado em parceria com outras Universidades que já tenham mestrado ou doutorado, onde serão compartilhados professores. A Universidade chegou a fazer esse contato com a UnB de Brasília para fazer esse mestrado na modalidade de “Minter”. Lembro que quando cheguei, achei isso em algum lugar. Em 2005, a Universidade anunciou que ia ter mestrado, em parceria com a Universidade de Brasília. Já tinham assinado alguns protocolos, documentos com ambos os reitores. Parecia que a coisa estava toda encaminhada, mas de repente, no meio do caminho, o mestrado simplesmente não aconteceu. Estava praticamente confirmado. O Mauro foi para Santa Catarina, em 2007, então foi menos um professor. Depois o Jorge Ijuim também foi para Santa Catarina. Então são menos dois professores. E eram justamente os dois que estavam conduzindo o processo. Eu descobri mais tarde, em 2009, que foi criada uma outra comissão. A professora Ruth Vianna era coordenadora, mas eu lembro que a coisa não estava fluindo. Chegamos a fazer umas duas reuniões sobre o mestrado. Tomei a iniciativa, fiz alguns levantamentos, e comecei a levar materiais para a reunião para ver se começava a render alguma coisa. Tivemos um momento que foi delicado no curso. O professor Dercir Pedro de Oliveira, que era o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, chamou todos os professores do Jornalismo em uma reunião na sala dele e questionou a gente. A Capes estava em uma política de levar os mestrados e doutorados em Comunicação para o interior do país, porque a maioria deles está nas grandes capitais. Falamos para ele que tinha uma comissão que estava começando a fazer todo o levantamento da história, o projeto, e que essa comissão era coordenada pela professora Ruth. Só que o professor Dercir chamou todos os outros professores e não chamou ela. Ele destituiu a comissão que existia, apesar de nós, professores, termos avisado que tinha um processo em andamento, coordenado pela professora, e que não seria bacana atropelar o negócio. Mas o professor Dercir era um cara que tinha um jeito muito peculiar. Foi criada uma nova comissão e eu fiquei como coordenador. Em três,


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quatro meses, nós montamos o projeto. Porque a Capes tem um prazo. Fiz os documentos, e eu levava para as reuniões o documento pronto. A gente ia lendo artigo por artigo, código por código, para a coisa poder agilizar. Tinha que levantar, por exemplo, o acervo bibliográfico da área de comunicação e áreas afins, infraestrutura, corpo de professores, grupos de pesquisa, produção intelectual dos professores. É um negócio meio trabalhoso. E nós conseguimos fazer isso em um tempo recorde. Porque o Dercir colocou essa pressão para a gente entregar o projeto e tivemos que fazer dentro desse espaço de tempo. Uma coisa interessante que o Mauro me mandou é que o nosso mestrado era para ser o primeiro Mestrado em Jornalismo do Brasil. Porque todos os mestrados que existem são em Comunicação. Se não me engano, em 2007 ou 2008, a Federal de Santa Catarina criou o primeiro mestrado especificamente em Jornalismo, e agora em 2014, eles criaram o primeiro doutorado em Jornalismo. São dois ou três mestrados que tem hoje, no Brasil, em Jornalismo, e todos começaram de 2007 para cá. Não se concretizou essa proposta, mas era a intenção. Em 2011, mandamos a nossa proposta para a Capes, veio novamente uma comissão aqui para avaliar as condições, ver se estava tudo nos conformes. Essa comissão ainda sugeriu mais algumas mudanças, fizemos novos ajustes, mandamos para uma segunda avaliação. Em abril de 2011 é que saiu a autorização. A ideia era começar em março de 2012, mas o professor Dercir novamente: “Não, vamos começar agora, por isso e por aquilo e tal e tal”. Então, quanto maior o número de cursos de pós-graduação que uma Universidade tem, mais verba ela recebe do Governo Federal. Criamos a primeira turma em agosto de 2011, que começou a se titular dois anos depois. Já estamos com a quarta turma e são dez alunos que entram cada ano. Como está o mestrado hoje em questão de estrutura e de professores? Temos uma estrutura física ótima. Porque não temos um grande número de alunos. Nós temos duas salas de aula, a coordenação, a secretaria, e uma sala aqui de orientação para os professores orientarem seus alunos. São coisas que a Capes exige. Um outro ponto que avançamos muito é a nossa biblioteca. Na área da comunicação, quem frequentava a biblioteca há dois anos percebe a mudança. Já solicitamos a compra de mais de 1.500 livros. Ainda não é o ideal. Eu sempre estou pedindo aos professores sugestões de livros, porque é sempre um professor que tem que pedir.


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Corpo docente a gente também evoluiu bastante. O curso na graduação mesmo tinha quatro, cinco professores do Jornalismo. Fora colaboradores de outras áreas. Estamos em onze professores doutores. E no nosso núcleo do mestrado, nós temos ainda a professora Maria Luceli, que dá aula no Mestrado de Linguagens e para o nosso aqui também. O professor Álvaro Banducci, que é da Antropologia Social. Esse é um número muito bom, significativo. Considerando que a Capes exige o mínimo de oito. E outro fator também que é muito bom é a nossa produção acadêmica, a chamada produção intelectual. Acordamos para buscar o aperfeiçoamento. Nós tivemos a professora Márcia, o Gerson Martins, o Marcelo Cancio que fizeram pós-doutorado em Barcelona. E eu estou indo para o pós-doutorado em Portugal. Além desses pós-doutorados, tivemos outros professores que estiveram em Barcelona fazendo cursos de curta duração. Já existe um projeto para o doutorado? Tem a ideia do doutorado que é um pouco voltado à ideia do mestrado. Estamos encaminhando, na verdade, o processo de criação do doutorado em Comunicação no sistema de rede. É um doutorado formado pelo nosso mestrado, o da Federal de Goiás, o da Universidade Católica de Brasília e da Universidade Nacional de Brasília. A ideia é fazer esse doutorado dentro de uma instituição, chama Rede Pró Centro-Oeste, que é uma rede de pesquisa criada dentro do Ministério de Ciência e Tecnologia. O Ministério criou três redes: uma no Centro-Oeste, uma no Norte e uma no Nordeste. Por que o Ministério criou isso? O Ministério criou para promover o desenvolvimento científico nessas regiões que são mais carentes. Por que o Sul e o Sudeste já são as regiões mais ricas e têm as grandes Universidades e etc. Só que são redes criadas para a área de biotecnologia e biodiversidade. Mas o que tem a ver com Comunicação? Elas são redes para promover o desenvolvimento científico de um modo geral. Só que essa ideia do doutorado nasceu aqui. Uma conversa minha com o coordenador geral da Rede Pró Centro-Oeste, que é o professor Rui Caldas, que era o coordenador geral dessa rede e um dos assessores da equipe científica do ministro da Ciência e Tecnologia. No Brasil, se faz muita pesquisa, muito avanço tecnológico, e isso que se produz não chega para as pessoas comuns. Quem faz isso é a imprensa, que faz esse papel de mediador, de divulgador das ideias. A ideia de uma das linhas de pesquisa é Jornalismo Científico, ou seja, preparar doutores que vão depois para a sala de aula com um olhar mais


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crítico sobre Jornalismo Científico. E esse doutor vai ensinar o pessoal da graduação a ter esse olhar mais atento em relação à ciência. O jornalista traz novo conhecimento teórico e técnico da ciência e chega ao veículo e começa a produzir matérias mais interessantes e focadas na divulgação científica. Então a gente tem que se juntar com essas outras Universidades porque a proposta é essa mesmo. Estão desenvolvendo a Ciência e Tecnologia e nós entraremos no sentido de divulgar essa Ciência. Mas é uma proposta que eu espero que aconteça no ano que vem. Não é uma coisa que depende só da gente, depende de toda essa articulação. Eu estou um pouco com o pé atrás porque a Rede Pró Centro-Oeste foi criada em 2009, mas com um prazo de validade. Ela tem uma duração de cinco anos. O prazo de atuação dela termina justamente este ano, 2014. E aí depende de continuar. E o ministro da Ciência e Tecnologia tem que dar o aval para a rede prorrogar por mais cinco anos, de 2015 a 2020. E também vai ser muito interessante trazer esse tipo de pesquisa para cá, para popularizar a ciência. A gente percebe isso, tem muito aluno procurando, é um campo que está despertando o interesse. Acho que seria o primeiro doutorado com essa linha de popularização da Ciência. Seria uma coisa inovadora. Esse projeto era para ter sido encaminhado para Capes este ano, mas, em função dessa mudança de ministro, a coisa ficou no ar. Estamos trabalhando para encaminhar no ano que vem. Qual a importância do mestrado? Eu acho que vocês poderiam responder melhor do que a gente. Do ponto de vista operacional, parte da biblioteca, por exemplo, eu vejo que vocês ganharam um monte. Nós temos trazido muita gente do exterior para cá. No começo do ano, teve uma palestra com um professor da Espanha, da Universidade de Navarra. Volta e meia estamos trazendo palestras com professores de outras Universidades. Quer dizer, são pessoas que estão chegando toda hora, participando de palestras, seminários, que trazem um novo ponto de vista sobre o Jornalismo. São coisas que, pela graduação, dificilmente a gente teria como trazer essas pessoas para cá. A circulação de ideias é uma coisa fundamental. Os próprios alunos do mestrado estão produzindo Ciência, pesquisa. Se eu perguntar para vocês qualquer coisa sobre o sistema, os meios de comunicação de Mato Grosso do Sul, vocês não vão saber, porque não existem dados. O que é a Comunicação em Mato Grosso do Sul? Ninguém sabe.


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Como se faz? Por que se faz? Qual o efeito do que a mídia produz aqui no Mato Grosso do Sul? Qual é o efeito disso para as pessoas que lêem jornal, que assistem televisão? Ninguém sabe. Não sabemos em que mundo estamos atuando aqui dentro do Mato Grosso do Sul. O que é a nossa mídia? Qual é o efeito? Não se sabe, porque nunca se fez pesquisa. Nunca se avaliou isso. Nunca se dimensionou isso. Porque pesquisa é mestrado e doutorado. Graduação não é. Claro que a graduação faz pesquisa também e deve fazer, mas é um outro grau de compreensão, outra frequência de pesquisa. O que tem e o que não tem. O efeito que isso causa. E quando a gente se entende, se conhece, fazemos melhor depois, lá na frente. No mínimo, o que estamos trazendo é uma nova dimensão, uma nova compreensão do que é a Comunicação no Mato Grosso do Sul. Qual a perspectiva para o mestrado? A grande perspectiva é a criação do doutorado. Como eu falei, depende de uma série de questões políticas. Mas vai ser nosso grande salto. A Capes a cada três anos dá uma nota que vai até sete. No Brasil, na área de Comunicação, nós não temos nenhum mestrado com nota sete. Esse ano agora teve avaliação de 2010 a 2012. Os cursos novos que são criados recebem nota três. A nossa grande ambição é, na próxima avaliação que termina no final de 2015, chegar a um conceito quatro.


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UFMS - CCHS Desde 2010, a UFMS sofre processo de reestruturação. Os departamentos foram extintos e cada curso responde ao Centro respectivo à sua área. As matrículas passaram de anual para semestral. Essa mudança implicou na reformulação de toda a grade de disciplinas dos projetos pedagógicos dos cursos de graduação, e as matriculas são feitas em duas etapas, a online via Siscad e a presencial. Além de questões administrativas, a UFMS vem ganhando espaços físicos que beneficiam todos os cursos da Instituição, como o Complexo Multiuso, que é um prédio em que diversos cursos utilizam-o. O curso de Jornalismo teve laboratórios adquiridos com verbas nacionais viabilizadas pelo Núcleo de Jornalismo Científico, coordenado pela professora Greicy Mara França, a atual redação, carinhosamente chamada de aquário, os estúdios de TV e rádio passaram por reformas para modernização. A criação do Mestrado em Comunicação foi mais uma conquista. A chegada de três professores doutores nos últimos anos foi o reforço no quadro docente.


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Alunos Foram 717 jornalistas formados pelo curso até 2013. Muitos profissionais que tiveram destaque no mercado e na vida acadêmica. Selecionamos alguns que contaram as experiências vividas durante a graduação. No dia 13 de outubro de 2014, foi realizada uma de nossas últimas entrevistas e os personagens dessa conversa foram os autores do primeiro e até então, único trabalho em relatos que contava a história do curso de Jornalismo. Nos baseamos nesse trabalho e agora contamos as experiências vividas pelos autores do livro-reportagem “Jornalismo UFMS. A primeira década: Opiniões e relatos de alunos e professores”, Paulo Ricardo Gomes e Waldemar Gonçalves Junior, sobre a passagem deles pelo curso.

Foto: Lays Colombelli

Waldemar Gonçalves Junior e Paulo Ricardo Gomes

Onde trabalham atualmente? Waldemar: Eu trabalho no Midiamax. Paulo Ricardo: Eu atualmente trabalho no Instituto Federal de Educação de Mato Grosso do Sul. Sou jornalista concursado e trabalho na AMV Comunicação, uma agência de publicidade.

Porque escolheram jornalismo? Waldemar: Eu sempre gostei. Tem essa coisa de ser rebelde e querer mudar o mundo, de gostar de escrever. Encarei e fiz. Paulo Ricardo: No segundo grau, eu tinha uma banda de rock e escrevia letras de música. Tinha uma professora que, na época, começou a


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curtir o que eu escrevia e começou a “pilhar”. Ela dizia “você tem que fazer Jornalismo ou Letras.” E aquilo ficou na minha cabeça. Eu não queria fazer nada, tanto é que eu fiz o primeiro vestibular para odontologia, e (a concorrência) eram 40 por vagas, e falei “não vou passar mesmo, mas pelo menos eu não passo bonito!”. Mas a ideia do jornalismo ficou martelando, martelando... Até que fiz, curti, e estou aí. Como vocês se lembram da estrutura física e pedagógica do curso? Waldemar: Deve ter algumas coisas que vocês brigam até hoje. Quando vocês me falaram que faziam 25 anos e quando nos formamos o curso estava completando 10, eu tomei um susto. Na minha cabeça não passaram 15 anos. Meu primeiro estágio foi na TVU e na assessoria. Lembro que as coisas estavam começando, que estavam comprando equipamentos. Era uma briga para melhorar a estrutura. Tinha muito professor que não parava. Vinha, ficava duas semanas e ia fazer doutorado na Conchinchina. Depois ele voltava e ia fazer pós-doutorado na Conchinchina do Sul. Ficava aquela coisa do curso meio abandonado. Por outro lado, tinha uma energia muito legal, um povo muito bacana. Veteranos e calouros que a gente olha com muito carinho. Tínhamos professores que eram dedicados, e uma turma bacana. A estrutura era bem deficitária, mas a gente teve oportunidade de fazer muita coisa. No primeiro ano, eu fiz um trabalho na rádio, totalmente calouro, chamava “Barulheira”, era muito legal. O curso era capenga, mas era legal. Paulo: Eu acho que eu o Waldemar éramos um pouco exceção na turma, porque estávamos sempre interagindo com alguma coisa. TVU, rádio universitária... Waldemar: As calouras. (Risos) Paulo: Tivemos uma turma boa. Entraram 48 e formaram 50. Agregaram mais dois. A turma era muito ligada, as aulas eram legais. Isso foi construindo.


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Waldemar: A nossa turma era legal porque era muito misturada.Tinha gente de todo tipo. Caras mais velhos, mais convencionais, galera mais maluquinha, as patricinhas... Paulo: O Projétil, nossa turma fez quatro edições na raça. Eu e o Éser Cáceres chegamos na redação, tinham cinco computadores e nenhum deles funcionava. Desmontamos e colocamos três para funcionar para conseguir diagramar o jornal. Waldemar: Eu vejo hoje o número de sala que tem aqui e departamento específico. São coisas que não tínhamos na época. Era gambiarra para fazer o jornal, era na garra, na raça. Mas já tinham algumas coisas. Com certeza, as turmas precedentes eram piores. Paulo: Se vocês estão analisando o histórico e pegaram nosso trabalho, perceberam que o pessoal antes da gente não tinha nem como fazer jornal, TV muito menos. Uma colega nossa contou que a primeira passagem dela, fez com uma caneta Bic, para simular o microfone. Então as deficiências na época não impediam de aprender jornalismo? Paulo: Eu tenho uma teoria sobre isso. Depois que a gente foi para o mercado, eu comecei a perceber que quando eu precisava contratar pessoas, as que vinham da Federal estavam mais acostumadas a resolver problemas. Acaba sendo o que o mercado precisa. Pessoas que vêm de outras Universidades com mais estruturas tinham conhecimento, mas na hora que as coisas apertavam, você precisa ser rápido, trazer soluções para o seu editor. Waldemar: Existe uma coisa que é a academia e outra que é a realidade. São completamente diferentes. Aqui me deu alguma base, alguns conceitos, noções que eu carrego até hoje. Mas eu aprendi a fazer jornal, a executar jornalismo na rua, não foi aqui. Aprendi no dia-a-dia e conhecendo o mercado. Existe uma distância gigantesca entre o que faz aqui e lá fora. Vocês trabalharam com impresso, TV? Paulo: No terceiro ano, o Waldemar já estava na Folha do Povo. Waldemar: É. Eu comecei a trabalhar em jornal impresso, de internet também, fiquei 8 anos trabalhando fora do jornalismo mas trabalhando com texto, com redação. E depois voltei para o Jornalismo. Ter um diploma da Universidade Federal, pelo peso da Instituição, é uma porta gigantesca aberta lá fora. Nosso mercado parece pequeno, mas as possibilidades desse pequeno são muito variáveis. Paulo: Eu só não trabalhei em rádio. Trabalhei em todas as TVs, no


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jornal O Estado, no Midiamax, e assessoria faço até hoje. Quando eu saí da Universidade, meu primeiro trabalho foi na TV Educativa, uma baita de uma escola. Fui para TV Campo Grande, depois para o Mato Grosso, trabalhar na Centro-América. Existia algum desafio para aprender Jornalismo? Waldemar: Hoje, acho uma injustiça falar mal de qualquer coisa da época. Talvez, na época, você quer mais para se formar e tal. Hoje, eu estou fazendo uma matéria e lembro de um lance que um professor falou para mim. Essa turma, essa energia, os professores que estavam, tentavam. O Márcio, Jorge, Mauro, tantos caras bacanas que deram aula para a gente. Deve ter problema até hoje. Mas na minha época, o maior problema, além de estrutura e de corpo docente, era a distância que existia para o mercado. Vocês percebem que o perfil do acadêmico de jornalismo mudou? Waldemar: Tudo mudou. Acho que foram 15 anos de mudanças muito grandes. O nível de acesso a informação que tem hoje é muito maior. Qualquer pessoa tem, no mínimo, todas as condições de ser bem informada. Isso é importante para o Jornalismo, e já muda o perfil. Paulo: E pesquisa, o Google ensina a fazer. Se o cara não chegar com algo mais... Waldemar: O que eu vejo é o jornalista se adaptando às novas mídias. Qualquer cidadão faz um blog e posta a opinião dele, e isso vira informação. Ele está fazendo o que a gente faz? De certa forma sim. Então, onde que a gente tem que fazer diferente? Acho que o perfil obrigatoriamente tem que ser diferente. Hoje, temos mais ferramentas para lidar com a informação, não tem nem como ser igual na nossa época. Na minha opinião, a grande deficiência é o básico. É saber escrever. Tem que saber onde é o começo, o meio e o fim. Paulo: E ter o mínimo de argumentos para fazer um começo diferente do convencional. O que vocês se lembram do TCC? Paulo: Eu lembro que tivemos a ideia. Sabíamos que o curso ia completar 10 anos e foi o resultado de uma indignação. “Pô, não vai ter nada de 10 anos do curso? Vamos fazer alguma coisa.” Waldemar: Tínhamos tanto envolvimento com o curso, brigamos por tanta coisa, que é uma relação de amor e ódio. Trouxemos muito disso enquanto estávamos escrevendo.


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Era como se estivéssemos escrevendo a biografia de um parente. Waldemar: Me lembro que isso foi ressaltado na banca, os dez primeiros anos. Paulo: A primeira década. Waldemar: Essa imagem da capa foi um amigo meu, o Israel. Ele fez a capa e ajudou a gente na diagramação. Isso era a porta do departamento. Paulo: A gente procurou, procurou, e de repente... A porta do departamento! Waldemar: Tem muito dessa relação próxima que tivemos com o curso. Paulo: A coisa foi surgindo. Fomos orientados pelo Edson e pela Alda Maria Quadros do Couto. Lembro que essa parte do planejamento até apresentamos na banca. Tinham fichas de planejamento, fichas de entrevistados, catalogamos tudo. Era tudo documentado em vídeo. Waldemar: Lembro de um termo que a Alda falou na nossa apresentação, que eu achava que ela estava nos criticando, mas ela estava elogiando. Usamos ironia socrática. Se hoje fossemos editar, faríamos muita coisa diferente. Tem muita essência na forma como a gente via as coisas. Paulo: Tomamos esse cuidado de trazer a característica do personagem para o título. Waldemar: Poderíamos ter pesquisado mais. Mas por termos entrevistado n pessoas, ficou uma coisa documental, de relatos. Mas não teve caráter “fuçador”. Cortamos umas madrugadas fazendo isso, as entrevistas eram à noite. Paulo: Decupamos entrevistas de madrugada e, no meio do trabalho, eu tive uma crise de criação e não conseguia escrever. Waldemar: O nosso trabalho traz esse “push” juvenil e amador. Não tinha como ser diferente. Hoje seria uma outra história. Quais fontes vocês utilizaram durante o levantamento histórico? Paulo: O Edson, todos os alunos nos ajudaram. Waldemar: O Edson era o presidente do Sindicato dos Jornalistas na época. O cara sabia muito, e até por isso ele foi nosso orientador. Ele falava “entrevista fulano, entrevista ciclano”. Paulo: Uma coisa que eu me lembro é que ele nunca falou “faz assim, faz assado”. Ele dava orientação para você fazer o seu caminho. E na época eu ficava p*to. Chegava com um monte de dúvidas e queria que ele me respondesse e ele me dava os caminhos.


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Waldemar: A gente não tinha toda essa noção do que estava fazendo. Mas eu tinha essa visão de que era um documento que depois alguém ia ver. Paulo: Quando vocês me contataram eu disse: “Ufa! Alguém viu!” (Risos) Waldemar: Tem que ter um documento que conte com riqueza de informação o que acontece aqui. Essa noção a gente tinha. Paulo: Essa foi nossa indignação. Tem que ter alguma coisa com 10 anos de curso. E o pessoal que já viveu? E o pessoal que não viveu ainda? Como é que isso vai ficar registrado? Discutimos isso altas vezes. Waldemar: Pensávamos: “esse curso forma gente que é boa pra caramba, temos que entrevistar esses caras, porque se eles conseguiram, também vamos.” Era muito latente essa história do curso, de como surgiu, como influenciou o mercado. Praticamente não tínhamos concorrência. O curso da Uniderp estava começando. Paulo: Víamos um pouco mais. Comíamos bandejão no Restaurante Universitário. Tínhamos acesso aos professores no corredor e aos alunos antigos. Trocávamos ideias. Não é todo mundo do curso que teve essa vivência. Waldemar: Eu vivi muito isso. Meu primeiro estágio foi na assessoria da Universidade, trabalhando com Jornalismo Científico e com TV. Tínhamos um programa chamado Quark, nome de uma partícula pré-átomo que dá explosão e origem das coisas, que era feito com supervisão da assessoria do Departamento de Comunicação da Universidade. Aproveitei bastante. Percebemos que essa é uma característica dos ex-alunos. Eles contaram que viajavam, que professor levava os alunos para a base do Pantanal. Waldemar: Eu fui muito para a base. Aquele lugar é genial, tem uma estrutura incrível. Acredito que eles devem ter mantido e melhorado. Eu era completamente urbano, comecei a me ligar em natureza quando fui para lá, aprendi na vivência. Eu lembro que fomos com o Cancio. Paulo: Com a turma fomos com o Cancio e com a Alda. Mas como trabalhávamos na TVU, íamos sozinhos com a equipe da TV, íamos fazer matéria, reportagem... Quais critérios vocês usaram para escolher as fontes? Paulo: Tínhamos meta de pegar três egressos por ano. A gente tinha esse lance de procurar as pessoas certas. Mas teve uma época que não achá-


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vamos as pessoas certas. Waldemar: Normal. É claro que procurávamos as pessoas referências. É tão natural quanto impossível. Paulo: Na época, isso nos ajudou a tirar o melhor de cada entrevistado. Tinha o planejamento, e quando não dava certo, procurávamos tirar o melhor disso. Waldemar: Tinha ícones, mas procuramos diversificar. A gente procurou trazer a história desses caras. Vocês entrevistaram todos os professores que deram aula ou pesquisaram os que já tinham passado pelo curso? Paulo: Não lembro se teve critério. Lembro que tinha uma professora que estava fazendo doutorado na Espanha e, quando ela chegou, ficou brava porque não estava no livro, a Ruth. Waldemar: Tinham os professores que eram lendas, que estavam fora. Eu gostei da parte que eu sentava na frente do computador e escrevia. Paulo: Era assim, “Paulo, faz o planejamento”, eu fazia. “Paulo, faz o texto”, eu congelava. Eu lembro que (na banca) falaram dez, dez... e não esperávamos. Eu não consegui dormir depois do dez. Waldemar: Foi todo esse perrengue. Fazíamos o livro de madrugada. O Paulo tem uns métodos muito f*das. A correria toda quem fez foi ele. Foi legal porque, na apresentação, os professores começaram a falar com garbo e elegância. E pensávamos que iam f**er com a gente. Paulo: E só pensava “f**eu”. (risos) Waldemar: Lembro que a Alda mandou uma correção ortográfica sobre o uso da palavra ‘onde’ no lugar de ‘no qual’, na nossa apresentação. E nunca mais esqueci disso. Pensavam em dar continuidade, manter o projeto? Paulo: Tínhamos ideia de que era importante e que em algum momento ele seria retomado. Depois que acabamos, nunca pensei em fazer um mestrado ou doutorado baseado no TCC. Mas tínhamos noção da importância histórica e do peso que ele tinha para o curso, justamente por essa dificuldade que vocês têm hoje: achar ata de criação, achar foto de reunião do curso. Tem tudo isso no nosso trabalho. Conseguimos um material bem bacana. Sabíamos que naquelas páginas, esses documentos estariam preservados. Daqui a 25, 30 anos, alguém ia dizer que tiveram dois malucos que fotografaram uma porta e uma pá de coisa legal nesse caderno.


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Formada em 2000, na época em que o vestibular era quatro dias de provas e concorridíssimo. Mestre em Estudos de Linguagem pela UFMS. Acaba de se graduar em Letras pela Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro (UNESA). Feliz é professora do curso de Publicidade e Propaganda e coordena a pós-graduação em Assessoria de Comunicação da Faculdade Estácio de Sá de Campo Grande.

Foto: Arquivo Pessoal

Foto: Arquivo pessoal

Juliana da Costa Feliz

O que te motivou a fazer Jornalismo? Eu escolhi Jornalismo porque eu queria defender direitos sociais, direitos humanos. Tinha pensado em fazer Direito, mas eu estaria defendendo mais direitos individuais que coletivos. Por isso optei por Jornalismo e por eu gostar de escrever e de ler. Sempre tive mais o talento para escrita desde o tempo da escola. Eu não tinha talento para outras coisas. Eu vivi muito o curso, participava e organizava eventos, estava envolvida com os professores, sempre envolvida nos projetos, era de ficar o dia inteiro na Universidade. Me formei e fui trabalhar na Secretaria de Reestruturação e Reajuste, onde fazia um boletim informativo para os funcionários públicos. Trabalhei seis meses na Gazeta Mercantil. Morei na Inglaterra com meu marido. Quando voltei, retornei para o mesmo trabalho de antes e comecei a trabalhar mais com assessoria. Montamos uma cooperativa de assessoria de imprensa, a Comunicativa, que reuniu vários jornalistas, publicitários, pessoas na área de eventos, e funcionou super legal, durou 2 anos. Começamos a atender bons clientes na cidade, até porque não tinha ainda muitas assessorias, mais ou menos em 2002. Trabalhei na Gira Solidário, que é uma organização que trabalha na área dos direitos das crianças e adolescentes. Era a jornalista responsável, trabalhava com uma equipe. Fiquei lá por 10 anos. Comecei a dar aula em 2006 na UFMS, como substituta, e em 2008 fui voluntária no primeiro semestre. Na Estácio, comecei em 2008. Tinha


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feito uma especialização em Imagem e Som. Em 2007, ingressei no Mestrado no curso de Letras, em Linguagem e Semiótica, ambos na UFMS. Fiz minha pesquisa falando de violência sexual contra a mulher no Jornal Primeira Hora, de matérias de estupro relacionadas à sessão “Garota da Hora”. Trabalhei em vários lugares, mas tive uma experiência em jornal impresso, que eu fiquei dois dias. O editor pediu para eu copiar umas matérias de outros sites para pôr no jornal. Não achei legal e no outro dia pedi minha demissão. Quando eu estava fazendo o curso de Jornalismo, imaginei que fosse trabalhar em televisão, em jornal, mas a minha vida foi caminhando para outros lados e aceitei. Hoje vejo que foi melhor para mim. Como era a estrutura física da UFMS na sua época de aluna? Como era a redação, os laboratórios? Quando eu entrei, Comunicação e Artes eram em um departamento só. O curso ficava onde era o Projele hoje. Tínhamos aula ali e na unidade 6. O curso nunca tinha o espaço só dele, ficava espalhado, um pouco aqui e um pouco ali. Eu lembro que tínhamos uma sala bem fechada que era chamada de BatCaverna, dividida com o espaço de fotografia. A gente tinha câmeras Pentax 10, câmeras manuais. Tinha que saber trabalhar com obturador, fotografávamos em preto e branco e fazíamos a revelação manual. As matérias do Projétil eram com essas fotografias. Hoje está tudo muito fácil para os alunos. A gente fazia o gabarito do Projétil. Os computadores tinham acabado de chegar e ainda tinham máquinas de escrever. A redação era onde é hoje o laboratório do Jornalismo Científico. Tinham computadores bem antigos. Ao lado, havia uma salinha menor que era do Licerre, e as máquinas de escrever ainda ficavam ali. O estúdio de TV não existia. Quando eu estava fazendo o curso, estava na fase de terminar o laboratório de TV, que é o estúdio que tem hoje. Na época, era algo incrível, que não sonhávamos. A sala chamada Maria Francisca, se não me engano era o estúdio de TV, muito improvisado, para poder trabalhar. O estúdio de rádio era bem pequenininho, ficava em frente à sala Maria Francisca, que era um cubículo. Eu participei da Rádio Alternativa, junto com o Professor Robson Ramos. A gente dividia a turma em equipes, fazia um resumo das notícias mais importantes do dia e lia. Trabalhávamos o dia inteiro e depois ainda íamos para a aula. O Projétil, a minha turma fez uma coisa bem diferente: fizemos o primeiro Projétil colorido e semanal, conseguimos fazer 4 em um mês. Minha turma era muito boa. A parte de TV era o professor Cancio. Ele fazia os


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telejornais conosco. No final do ano, tinha exibição de todos os telejornais produzidos. Era tipo um evento. Eu não vejo que o curso tenha faltado alguma coisa para mim, vivi tão intensamente, estudei muito, até porque eu queria entrar. Foi uma conquista dar aula com os professores. Sempre vou sentir que nunca estarei à altura do curso de tão importante que ele foi. Como era a grade curricular? Quais professores davam aula? Eu lembro da professora de Teorias da Comunicação, a Desiree Cipriano. O Oswaldo Coimbra, a professora Ruth Vianna, que estava fazendo doutorado fora, ela deu aula de Comunicação Rural. Fomos para a base do Pantanal umas quatro vezes. Montamos uma rádio na base da Universidade. Lembro do professor Ramires, de Edição. Jorge Ijuim, professor de Comunicação Comparada. Ele tirava foto de todos os alunos, um por um. Tinha uma chamada que era ficha do aluno. Fichava todo mundo, anotava se entregou trabalho, as notas, se o aluno faltava. Para acompanhar o desenvolvimento de cada um, ele tirava uma foto da sala inteira e recortava essas fotos e fazia essas fichas. Tinha o professor Morandi, substituto que deu aula de Assessoria para mim. De Filosofia foi a Ana Lucia Valente. A professora de Psicologia, Sônia Urt, hoje é do mestrado em Educação. O professor de inglês era o professor Kurien, que era indiano. A grade era totalmente diferente do que é hoje, era anual. No primeiro ano, eram as disciplinas mais básicas das Humanas e, no terceiro ano, já vinham as práticas. As aulas de Educação Física eram para os alunos não ficarem só estudando, aí eles praticavam um esporte. Eu fiz natação durante um ano. De optativa tinha Produção Audiovisual com o professor Hélio. Tivemos uma vivência das matérias que fizemos, coisas que tinham antigamente que hoje eu vejo que se perderam. Não um texto só voltado para o lead, para o mercado. As saídas que os professores nos proporcionavam de ir para aldeia, para comunidade quilombola, isso foi importante. É o que nos diferencia dos demais. Porque se não tiver isso, o que nos torna diferente dos alunos das outras instituições? A UFMS está formando pessoas que pensam, que questionam, que estão mais voltadas ao lado acadêmico. O curso já formou vários profissionais que hoje são professores de Jornalismo em vários estados do Brasil. Depois que caiu o diploma, teve uma queda vertiginosa. Muitas Universidades particulares fecharam seus cursos porque não conseguiram mais formar turma. Uma coisa que eu vejo se perdendo é o jornalismo humanizado, voltado para as questões sociais. Mas vejo que um jornalista que se forma em um curso tão antigo tem que


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aprender o Jornalismo tradicional. Sentar com a fonte olho no olho na hora de entrevistar. Teve alguma coisa inusitada ou fato importante da sua época de acadêmica? Meu TCC foi algo muito importante na minha vida. Foi sobre os catadores de papel da Coopervida, que montaram uma cooperativa. Foi o primeiro TCC que quebrou o protocolo da história do curso de Jornalismo, onde os professores não saíram para dar nota, deram ali mesmo. Nós fizemos em quatro alunas porque era multimídia. Fizemos um site com entrevistas perfil dos catadores. Na época, quase ninguém fazia isso. Fizemos um documentário de dez minutos, um material alternativo de divulgação deles, spots de rádio e mais a monografia, trabalhando a questão sociológica dos catadores, dessa mudança de você estar excluído da sociedade e depois fazer parte de uma sociedade organizada como é a cooperativa. O professor Licerre foi o orientador. Quais foram os maiores desafios para aprender o Jornalismo? A gente fazia com o que tinha, se virava para fazer, não era empecilho. Não ficava dependendo de nada do curso. Eu lembro que na época que a TVU começou, ela tomou conta e isso foi muito ruim. Eles chamavam alunos de outros cursos para apresentar programas, gente de fora ao invés de dar o espaço para nós. Virou uma TV da reitoria. Víamos a falta de qualidade dos programas e não tinha espaço, tinha que brigar para poder fazer um trabalho para pôr na TV. Rádio e Projétil, fazíamos com o que tínhamos, comprávamos o papel fotográfico porque a Universidade não dava. Câmera, eu também não aguentava esperar para emprestar. Não gostava de ficar dependendo das coisas que a Universidade dava porque era tudo muito ruim. Hoje vocês estão no paraíso. Não é o melhor que podia ser, mas é muito mais do que nós tínhamos. Quando voltou para UFMS, quais foram as maiores mudanças que te surpreenderam? Em 2006 e 2007, eu já achei que tinha melhorado bastante coisa, mas na parte de infraestrutura. A grade, eu não acho que está boa, era melhor. Agora é amontoado, misturado. Já tinha base, preparação, era primeiro o Projétil e depois TV e rádio. Já tinha trabalhado Técnicas de Reportagem e Entrevista. Ia para a prática sabendo fazer isso. Por ter virado semestral, não sei se funciona. Tínhamos um tempo maior, e era feito com mais qualidade. Hoje, as coisas são feitas com outro ritmo. Demoramos a ter acesso à


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internet na redação, hoje tudo entra, na minha época não era assim. Ali você estava trabalhando com o texto. Vejo que o curso desenvolveu em várias áreas. Fico triste por outras coisas, que considero que Universidades particulares estão à frente. Professor não vai, por qualquer motivo falta. Eu acho que isso perde em qualidade. Aqui temos uma exigência muito grande. Acho que minha turma, em 97, tinha um nível de cobrança muito maior. Até qualidade de TCC. Eu participei de bancas e vi que caiu muito, trabalhos superficiais, sem base e profundidade teórica. Não sei se é a safra de alunos que está vindo ou professores que não cobram. Inclusive matéria do Projétil, matérias fracas, sem contexto social, político, matérias de programas de variedades. Me deixou triste de pensar “nossa, esse é o curso que eu sai?!” Você percebe a diferença de perfil do acadêmico atualmente? Os alunos da minha época eram muito mais militantes ou queriam muito a profissão, queriam transformar a sociedade, não era discurso, eles acreditavam na profissão. Hoje, não sei se é a forma de ingresso, o Enem, que o aluno queria fazer Direito, mas a pontuação não dava e acabou fazendo Jornalismo. Não está ali pelo desejo de ser jornalista. Tem exceções. Na minha turma, entraram 40 e formaram 36. O curso de jornalismo era um curso de menor evasão. E porque agora formam 20? Onde está o problema? Será que é a forma que estão entrando? É o desinteresse pela profissão? No vestibular, você tinha uma única opção. Hoje, tem alunos que dizem “eu não gosto de escrever, não gosto de ler”. Como você vai fazer Jornalismo? Tem alunos brilhantes, mas tem alunos que você pensa que está ocupando a vaga pública. Como foi receber a notícia que o diploma tinha caído? Ah, foi horrível. Eu era coordenadora do curso aqui na Estácio. Em 2008, não abriu mais turma aqui, vinham cinco ou seis alunos interessados. Migravam para Publicidade, e os que queriam Jornalismo iam embora. Tem aluno que queria fazer Jornalismo e acabou mudando a área. Foi um golpe não só contra a profissão, mas contra a sociedade inteira. E ainda estamos colhendo fruto ruim disso. O que você trouxe da faculdade para sua profissão? Acrescentou muito. Eu tinha uma visão um pouco romântica do Jornalismo, hoje menos. O que me marcou foi a vivência com professores antigos, com histórias de vários lugares que vieram. Mas era um curso que tinha pensamento ideológico. Eles acrescentaram muito como pessoa e como profissional. Coisas ruins aconteceram, mas eu trouxe coisas boas. Respeito e


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admiro os professores que tive. Ijuim, Licerre, Ramires, Edson, Coimbra, marcaram muito e, para mim, são o coração do curso. Sei que tem grandes profissionais entrando. Eu não queria que essa história se perdesse no tempo, que não se lembrasse no futuro. Eles foram o início. A memória é a base, o alicerce do que o curso é hoje. Cada um põe seu tijolinho na história. Esses precursores e até professores que eu não conheci, que vieram depois, têm seu valor e isso não pode ser esquecido. Se isso existe hoje é graças a eles. Se não tivesse tido esse início, esse desejo de fazer um curso de Jornalismo no MS, os jornalistas eram de fora, os professores eram de fora. Imagina se até hoje estivéssemos importando os profissionais.


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Gesiel Rocha de Araújo

Foto: Arquivo pessoal

Formado em abril de 2002. Sua turma era originalmente prevista para terminar em 2001, mas por conta de duas greves que ocorreram durante a graduação, houve esse atraso no término do curso. Foi repórter especial e editor de economia do jornal O Estado de Mato Grosso do Sul, trabalhando como assessor de imprensa parlamentar durante o mesmo período. Atualmente desenvolve comunicação interna na Vale em Corumbá. Onde trabalha atualmente? Teve experiências em veículos de comunicação? Minha experiência com veículos de comunicação, mesmo após mais de doze anos de formado, é muito limitada. Eu fiquei três meses trabalhando em uma revista impressa de Campo Grande, a Metrópole, que não existe mais. E, depois, quatro meses nas funções de repórter especial e editor de economia, mundo e agronegócios do jornal O Estado de Mato Grosso do Sul. O restante da minha vida profissional foi dividida em trabalho na comunicação interna do Governo do Estado, e assessor de imprensa parlamentar, na Assembléia Legislativa. Depois fiquei mais de dois anos morando na Europa, não exercendo atividade de Jornalismo. Quando eu voltei para MS, trabalhei no jornal e logo em seguida assumi a função de chefe de comunicação da Prefeitura de Corumbá, fazendo comunicação institucional em órgão público. Atualmente, trabalho na mineradora Vale, em Corumbá, ocupando o cargo de relações institucionais para o MS. Eu me divido entre Corumbá e Campo Grande, fazendo relacionamento institucional da empresa nos dois municípios. Eu assumi a função em que estou hoje, fazendo relacionamento institucional sem nenhuma conexão, portanto, com veículos de comunicação, ou mesmo com qualquer prática jornalística. Digo isso porque não considero o período em que estive em assessorias de imprensa ou comunicação como uma prática jornalística.


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Eu sou da opinião de que as assessorias de comunicação ou imprensa não são Jornalismo. São funções e profissões perfeitamente exercidas por jornalistas. Eu entendo que são os profissionais mais qualificados para exercer essas funções, porém não as considero Jornalismo. O que te motivou a fazer Jornalismo? Eu acredito que é o que motiva a maior parte dos jornalistas, das pessoas que gostam e fazem Jornalismo. Sempre gostei muito de escrever, tive muita facilidade, uma espécie de dom natural para escrever. Uma paixão muito grande pela possibilidade de contar histórias de pessoas simples e humildes, principalmente. Também, uma vontade de contribuir com a sociedade em termos de tentar mostrar aquilo que eu via que estava errado. E também um desejo intrínseco de viajar, de conhecer outros cenários, outras culturas, outros ambientes em geral. Gostando de escrever, gostando de experimentar novas culturas, enfim, adquirir sempre mais conhecimento sobre coisas diferentes e não fazer a mesma coisa sempre. Essa, pelo menos, era a ideia inicial. E, também, gostando muito de contar histórias. Eu, na verdade, sempre quis ser jornalista. Com dez, onze anos de idade, me lembro que comecei a pensar em exercer uma profissão e já tinha fascínio pela ideia. Acreditava ser um profissional que tinha toda a condição de conhecer coisas novas do mundo. Infelizmente, durante o curso, principalmente nos últimos anos, vamos tomando mais consciência do que é a profissão, do que é a função de jornalista. Vamos observando que não é bem daquele jeito que imaginávamos. E essa noção vem quando se forma e pensa, “e agora? O que eu vou fazer para ganhar a vida?” E vê que ser jornalista, na verdade, é muito mais sofrido e muito menos possibilitador de experiências diversificadas do que imaginávamos. Por isso, nunca tive a coragem e disposição de exercer o Jornalismo plenamente. Como era a estrutura física do curso? O que eu me lembro é que foram quatro anos com muita transformação. Nós tivemos anos bons, anos ruins, anos com péssima estrutura, anos com boa estrutura. Então foi muito variado. Haviam anos que nós tínhamos três, quatro professores doutores excelentes, com grande bagagem. E anos que nós tínhamos quase só professores substitutos recém formados, praticamente na mesma condição que nós. Iniciamos o curso com uma estrutura de certa forma bastante deteriorada, bastante defasada, praticamente sem computadores nas redações. Embora houvesse chegado uma ilha de edição de vídeo recentemente, mas


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ainda era tudo muito arcaico, ultrapassado, porque já se usava o digital e até então tudo era analógico. Mas, de um modo geral, tínhamos uma boa estrutura de pessoal, porque, pelo menos no primeiro ano, nós tivemos bons professores de muito gabarito teórico, intelectual. Já no nosso segundo ano, ganhamos um laboratório de informática novinho, uma redação nova. Mas o nível dos nossos professores caiu demais. Nós passamos a ter muitos professores substitutos. Vários professores do curso se afastaram para fazer doutorado ou até foram transferidos. E nós perdemos muito em qualidade da docência do curso. Nosso terceiro ano, um ano inteiramente prático, com muito laboratório de rádio, de TV e redação. O trabalho com o Projétil, com uma equipe bem entrosada de docentes, formada pelos professores Edson Silva, Mario Ramires e Marcos Morandi, que embora substituto, teve uma boa participação, sobretudo na área de redação para o Projétil. Nós tivemos uma grande condição de aprender muito. Tivemos a possibilidade de aprender muito da prática jornalística. Foi um ano pesado, um ano puxado. A estrutura, embora não fosse tão boa, nos permitiu aprender muito daquilo que precisava aprender para ir para o mercado. Nós tivemos um professor excelente de rádio, chamado Robson Ramos, que era substituto. Era uma pessoa com muita experiência na área, com muita condição de ensino e que nos ensinou coisas fantásticas na área de Radiojornalismo. No quarto ano, nós voltamos a ter uma situação semelhante a do segundo ano. As matérias voltaram a ser mais teóricas, muita coisa segmentada, como Jornalismo Empresarial, Comunicação Rural, Assessoria de Imprensa, enfim. Muitas dessas matérias eram dadas por professores substitutos. Não havia muita prática. E a maioria de nós já estava com a cabeça no projeto experimental, já estava trabalhando em alguma coisa, naquele clima de saída da faculdade. Mas, mesmo assim, ainda conseguimos fazer um bom ano, fechar o curso de uma forma muito interessante, muito integrada, muito unida e com um grande aprendizado. Portanto, em termos de técnica, sempre achei muito tranquilo e acho até hoje o aprendizado e exercício do Jornalismo. É triste saber que basicamente a única coisa que o jornalista precisa conhecer do ponto de vista técnico, que é escrever bem, a maioria ainda não sabe. E ter senso de cuidado, de apuro, de qualificação, de busca por conhecer, por saber melhor, por estar sempre se qualificando. Quais professores te deram aula? Quanto aos professores, não vou me lembrar de todos, mas alguns marcaram. No primeiro ano: Ana Lúcia Valente. No segundo ano, nós já


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tivemos o Edson Silva, Mario Ramires, Jorge Ijuim, Márcio Licerre, Marcos Morandi, que inclusive deu nome à nossa turma. No quarto ano, tivemos professores como Márcia Chiad, Monique Klein. Teria que ver os arquivos antigos para lembrar de outros, porque já são entre dezesseis e doze anos. Eu fui orientado pelo professor Edson Silva no projeto de conclusão de curso. Um professor muito importante que tivemos, que foi meu co-orientador de projeto, o Mauro Silveira, ficou bastante marcado na história do curso. Como foi sua experiência na faculdade? O curso de Jornalismo nunca foi um curso que exigiu muito, em comparação com outras profissões, como as Engenharias, Medicina, Direito, enfim. Foi um curso muito tranquilo, relativamente muito fácil. Eu tive a possibilidade de vivenciar muita coisa. Pude fazer muitas disciplinas extracurriculares. E por três anos, iniciação científica. Participar de projetos de extensão. Participar de inúmeros congressos e eventos diversos, tanto na Universidade como fora. Tive a oportunidade de participar do Centro Acadêmico. Tive uma vivência universitária realmente muito intensa. Quais foram os desafios para se aprender Jornalismo? O Jornalismo é uma profissão que, do ponto de vista técnico mesmo, exige muito pouco. Eu digo que a obrigação do jornalista é escrever bem, é saber daquilo que está escrevendo e seguir algumas regras muito elementares. Ouvir os dois lados, só dizer aquilo que realmente foi checado e apurado, ter todos os cuidados com o tratamento da informação. Você há de convir comigo que não é nada comparado a construir uma ponte, um edifício ou operar o peito ou a cabeça de uma pessoa, ou mesmo levar uma peça judicial, uma peça jurídica para um tribunal, coisas assim. Não menosprezando a nossa profissão, mas vamos ser honestos que não é lá grande coisa. Para mim, aprender Jornalismo, que já gostava de escrever e gostava de contar histórias, não foi muito desafiador. Eu entendo que ser ético é fundamental para ser um bom profissional, para se manter íntegro consigo mesmo. E esse talvez seja o principal desafio, principalmente no que é o desafio seguinte, participar desse mercado que se tornou extremamente prostituído, destituído de qualquer noção de profissionalismo de valorização. Porque, por mais que seja um curso relativamente fácil, que tenha uma demanda técnica muito inferior às demais profissões, está extremamente desvalorizado. O profissional de Jornalismo hoje, é visto como quase nada, já que qualquer um pode exercê-lo. E não estou dizendo que isso tem a ver com a exigência do diploma. Para quem realmente quer ser jornalista, quer exercer essa profissão


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no dia-a-dia e quer se manter ético, é realmente um grande desafio, porque essas coisas dificilmente andam juntas. A situação em que nos colocaram é de horas exaustivas de trabalho, de um estresse sobrenatural, tanto que o Jornalismo é constantemente colocado nas listas das profissões mais estressantes do mundo. Tem a remuneração mais vergonhosa e pífia que existe para uma profissão de nível superior. Tanto que qualquer profissão, hoje, de nível superior, tem um piso maior e uma remuneração média para recém formados e, principalmente, para profissionais seniores, muito maiores do que o Jornalismo. E, se você me perguntasse se eu faria Jornalismo de novo, eu diria imediatamente: “jamais!” Porque foi uma profissão na qual eu realmente não me realizei, não me encontrei, não tenho nenhum aspecto que eu possa dizer que valeu a pena. Estou falando em termos de Jornalismo propriamente dito, não de outras possibilidades que a Comunicação Social oferece. Eu entendo que o jornalista que está disposto a sair da faculdade e se manter como profissional, para trabalhar nos veículos convencionais ou mesmo nos novos sites, blogs, seja lá o que for, ele está fadado a uma vida de sofrimento e privações. Infelizmente, tenho que dizer isso para ser honesto. Você não tem vida pessoal, você não tem tempo para si mesmo, você não tem tempo para lazer, não tem condição de viajar, que é a coisa mais espetacular do mundo. Eu diria “fez Jornalismo, escolheu a Comunicação, então busque os caminhos alternativos que existem”. Eu acho que ter a noção da ética no exercício da profissão é muito complicado, principalmente do ponto de vista dos veículos que nós temos no nosso Estado, e, se formos olhar de forma mais ampla, em todo Brasil e em todo o mundo. Você, por exemplo, hoje, se sujeitar a escrever para veículos que pura e simplesmente têm o propósito de defender os interesses de seu proprietário, como é o caso do nosso maior jornal do Estado. É uma situação muito complicada e que coloca muito conflito para aqueles que exercem o Jornalismo de fato. Muitos fatos marcaram a minha passagem pela faculdade, é claro. Acho que o que mais chama a atenção foi a união da minha turma. Uma turma que até hoje se comunica constantemente por todos os meios eletrônicos possíveis. Que se reúne para se confraternizar, para comemorar as datas importantes do curso. E que se mantém muito conectada. É uma turma realmente agradável, gostosa, harmoniosa. Claro que quebrava muito pau discutindo questões de cunho jornalístico, teórico, político também. Mas que sabia se respeitar e conviver de uma forma gostosa, muito harmoniosa e unida.


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Foto: Thayná Oliveira

Marcelo da Silva Pereira

Formou-se em 2003, após nove meses de greve. Uma disciplina obrigatória, nas palavras de Marcelo. Foi monitor e locutor da Rádio Alternativa, laboratório da disciplina Comunicação Alternativa, entre 1999 e 2001.Trabalhou como assessor de imprensa na Assembléia Legislativa de Campo Grande e atualmente é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFMS.

O que você se lembra da sua época de graduação? Existem duas coisas no Jornalismo: a primeira é a história e a segunda são as estórias. Das duas partes, passei por bastante delas, ou pelo menos por algumas marcantes. Com relação à história do Curso, o que me marcou muito foi a falta de estrutura. Fui um dos caras que não abandonou o curso. Eu terminei e continuei frequentando a UFMS. Um pouco antes também de entrar no curso, eu já frequentava a Universidade, não exatamente no Jornalismo. Mas depois que eu me formei, eu continuei vindo aqui. Tanto é que o pessoal falava que eu era do quinto ano. Na época, não era seriado por semestre, era por ano. Depois de um tempo, havia uma pós-graduação que eu acabei acompanhando. Apesar de não ter feito, eu acompanhava por outros motivos. Mantinha uma relação de amizade com os colegas. Esse tipo de coisa fortaleceu muito. A relação de amizade com as pessoas. Não que eu fizesse da Universidade um lugar para convívio social, mas naquela época esse convívio era mais facilitado. As turmas não eram divididas. As aulas eram todas juntos, exceto rádio e TV. Tirando essas duas disciplinas, por conta do laboratório, todos os alunos ficavam na mesma sala. Então fortalecia essa questão da turma. As pessoas adotavam camisetas como uniforme. O fato de ficar mais localizado em um bloco facilitava para as pessoas se conhecerem.


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Então desde o primeiro ao quarto ano as pessoas se conheciam. E a coisa que mais me marcou no curso: foram os melhores anos da minha vida, sem sombra de dúvidas. Na graduação e até nesta história recente, acho que tive um período mais legal na minha vida. Não consigo dissociar da UFMS hoje, mesmo sendo mestrando aqui. Outra coisa que me marcou bastante foi a questão da rádio, porque era um negócio que estava parado. Os nossos veteranos tentaram tirar do papel. Mas o estágio, o mercado de trabalho, tinham mais vagas do que tem hoje, não que fosse mil maravilhas. Acadêmico que era bom no estágio, os caras contratavam como jornalista. Não importava se tinha ou não diploma. Tinha um monte de gente fazendo exercício ilegal da profissão. Lembrando que o curso era noturno e as pessoas trabalhavam de manhã e à tarde. Nesses turnos, tinha que tocar a rádio. O pessoal falou assim “vamos chamar os calouros”. Eu e o Éder Yanaguita fomos chamados pelo professor Márcio e pelo Edson Silva. Eles falaram assim “o que vocês acham de tocar a rádio? Tem uns veteranos que tocam, mas queremos que vocês fiquem”. E naquela época o assédio do mercado de trabalho existia. Para quem estava no segundo, primeiro ano, não era tão forte. Eles queriam levar a sério para oficializar a rádio, que é uma concessão, e ampliar o sinal para a cidade inteira e tal. Naquela época, não tinha FM Uniderp e nem UCDB. Fomos trabalhando para fazer isso. Montamos um projeto. Ele foi aprovado só em uma primeira parte porque é um projeto caro. Uma rádio é uma coisa cara, apesar de ser um veículo mais barato. Na época, a UFMS era uma pindaíba sucateada. Ninguém queria tocar uma rádio. Onde você vai colocar uma rádio aqui dentro? E aí conseguiram duas bolsas. Era uma bolsa milionária de R$ 248, dividida por dois. Era informal o negócio. Um mês eu recebia e passava a metade para o Éder, outro mês ele recebia e passava a metade para mim. Umas gambiarras loucas. E começamos a tocar a rádio. Vimos dentro do Jornalismo quem queria tocar a rádio com a gente. Não dava para preencher. Por que? Trazer o acadêmico de Jornalismo da noite para fazer programa de manhã era muito difícil. Tinha seis só que conseguiam vir de manhã aqui porque morava perto ou porque o pai trabalhava perto e pagava carona. À tarde já tinha um pouquinho mais, principalmente depois das três, porque o povo vinha para o programa cinco, seis horas e ficava direto para a aula.


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Eu falei “professor Márcio, não dá para ficar tocando só com esse pessoal aqui e o Robson Ramos”, que era o professor de rádio da época. Para a rádio ficar no ar com programa, tinha que abrir para os outros cursos. O Licerre respondeu “Não pode, tem que ter alguém que oriente”. Bem, eu vou ficar meio período, o Éder vai ficar no período da tarde, então nós coordenávamos os trabalhos. Acadêmico de outro curso não podia mexer na mesa. Então, desde o começo, era o acadêmico de Jornalismo que mexia na mesa. O técnico de som falava “ó, o transmissor está alto”. E às vezes nem isso. A gente entrava na rádio e ele já saia pelo corredor, conversando. O primeiro curso que lembro que veio foi o de Física. Eles tinham um programa muito legal que tocava essencialmente rock e blues, que se chamava “Física Ótico”. Era um programa muito bem ouvido e vou explicar por quê. Eles tocavam ao vivo? Era. Só que eram dois caras. Um era o Sassá e o outro era o Buzi. O Buzi que traziam os caras para tocarem ao vivo. Eram dois programas da Física. Medicina tinha dois programas. Um era “Vísceras” e o outro eu não lembro o nome. Era onze horas o programa deles. Onze horas, meio dia, eram os horários que ninguém queria. Mas era o horário que dava para eles saírem do Hospital Universitário, virem para cá a pé tocar o programa de rádio. Chegavam os caras todos vestidos de branco, tocavam suas músicas, faziam seus comentários, davam dicas de saúde. Era muito legal. Alguns faziam entrevistas. Teve um pessoal de Letras com um programa à tarde que comentavam livros do vestibular. Davam dicas. Era muito bem trabalhado esse tipo de questão. A gente ajudava na produção. Tudo era muito artesanal porque a UFMS não tinha tanto computador. A rádio mesmo tinha um computador só. Quase não tinha CD. Só no segundo ano que o computador foi tocar mp3. O cabeamento da UFMS era fibra ótica, era muito rápido para a época, comparado com outros lugares. A gente usava o Napster para baixar música. Tinha o pessoal do “Mix Total”, que eram pessoas da minha turma e umas veteranas. Era um programa com notícias de variedades e música. Tinha um programa chamado “Chega Chipa”, que era antes do horário da aula, o último programa. Começava seis horas e acabava às sete, quando começava a aula. O “Chega Chipa” era essencialmente esportivo e algumas notícias vinculadas à cultura. Eu não vou puxar a sardinha para mim, mas já puxando, um dos programas mais marcantes, que na época todo mundo conhecia, era o “Já Basta”.


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Fizemos um mutirão com o pessoal da exatas, porque eles tinham um projeto de ficar com um programa, mas ia dar briga entre duas turmas que queriam. Abrimos um terceiro horário. Ficaria com o horário quem consertasse as caixas de som. Além de consertarem as caixas de som, eles levantaram a antena da rádio. Aí começaram as nossas dores de cabeça. Teve gente que fez um flyer bem pequeno, que vinha lá, “apoio Rádio Alternativa 107,7, a rádio da UFMS”. Aquilo começou a ficar maior do que dávamos conta. Porque o sinal começou a pegar no Noroeste, no Nova Lima, no Itamaracá... Começou a ligar gente do Recanto dos Pássaros, Coophasul. A rádio começou a pegar em Campo Grande inteira e é óbvio, não vai ficar só o pessoal que escuta a Rádio Alternativa. Naquela época, não existia o search do rádio digital, o povo girava o “negocinho”. Tinha programa de MPB e os caras achavam que estava tocando a 104, que é a FM Educativa. Começou a dar interferência na 104. E quem que tinha a maior audiência, na época? A Rádio Ativa. Foi antes de ser Ativa Gospel, que era a 102,7. Eles falavam que estava entrando e tal. Em um evento até encontramos os caras e falamos que não estava entrando. A partir daí foi um passo para começar uma série de denúncias. Quando começou essa série de denúncias, era porque o transmissor estava transmitindo para além daquilo que era permitido. Queriam colocar regras nas rádios comunitárias, mas não era uma rádio comunitária, era uma rádio universitária. Mas não tinha no papel dizendo que era universitária, era só uma concessão de uma rádio educativa. Essa rádio funcionava o dia inteiro nos corredores? Ela funcionava nos corredores praticamente o dia inteiro. Sete da manhã o técnico chegava, ligava o som para tocar música. Oito horas eu entrava com o primeiro programa. Nove horas vinha o “Mix Total”. Era das nove às onze. Depois entrava o “Já Basta”. O técnico saía onze horas e eu ficava com a chave até meio dia, trancava o laboratório, e o Éder vinha depois. De meio dia até uma hora era só música que estava tocando. Quando era por volta das duas horas, o Éder entrava com o programa dele. E começavam outros programas da tarde até as dezenove horas. Alguns dias, se não me engano, tinha aula de rádio para algumas turmas. Tinha professor que dava aula ao vivo. O professor pegava o microfone e começava a dar aula com os alunos. O Robson Ramos totalmente louco. Hoje, quando dou aula de rádio, fico impressionado como os alunos têm medo do ao vivo. O equipamento da época era muito rudimentar, tudo muito rústico. Eram dois decks de K7 e dois decks de CD. Depois, teve a


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saída do computador. Só que era só saída, não dava para montar nada. No máximo você colocava uma playlist de mp3 e ficava play, pause, play, pause, abrindo o microfone e tal. Foi super legal. A gente fazia um trabalho em formatos que ninguém adotava, porque era alternativo e experimental. Mas era puramente jornalístico. Para mim, foi a maior contribuição. Hoje tem muita influência, mas é sempre perto de um padrão da massa. Aqui tinha muita liberdade para criar. O “Já Basta”, por exemplo, era um formato que eu nunca vi. Na época, criamos uma rede de contato com outras rádios universitárias de outros lugares do Brasil. Quando cresceu essa coisa de ampliar o sinal, foram os alunos mesmo, não foi professor. Pelo contrário, o Márcio Licerre, no começo, deu apoio, mas depois ele viu que o troço virou uma bola de neve e ele não aguentava mais segurar. Tomou uma proporção gigantesca, muito grande. Em 2000, foi a primeira vez moderna que o transmissor foi lacrado. E aí conversaram, dois, três dias depois, estava tudo normal. Abaixou a antena, colocamos dentro da regularidade. Mas não demorou muito, mesmo com a antena baixa, começou a interferir em outros bairros. As reclamações continuaram e a fiscalização em cima da gente. A rádio continuou e teve mais uma vez que, nessa época, já era Anatel, veio para lacrar de novo o aparelho. Só que, não sei porque, eles tinham feito dois transmissores, um conectado no outro, mas um não funcionava, e eles lacraram o que não funcionava. Vieram na hora do almoço, o técnico tinha saído, o Éder não tinha chegado, e eu não estava na rádio. E foi quando lacraram o transmissor mais uma vez. Só que aí foi simples, foi só tirar um cabo, colocar no outro e continuamos tocando a rádio. Antes disso, teve uma época que o transmissor, ficava no carro. A gente levava os cabos todos até o estacionamento, no carro de alguém. Se a Anatel chegasse, a gente saia correndo com o transmissor. Era muita loucura. Aliás, se isso acontecesse, eu não sei como seria. Os caras estão chegando, vamos sair correndo, solta os cabos. Era uma aventura. Tinha o seu lado maduro de fazer Jornalismo, um produto de boa qualidade. Mas, ao mesmo tempo, tinha uma inconsequência do tamanho do mundo. Depois dessa época, teve uma vez que o transmissor explodiu, no final de 2000, dentro da rádio. Eu cheguei e tinha pó de extintor de incêndio em cima da mesa, na parede onde ficava o transmissor. Pegou fogo mesmo. Aí sossegou um pouco, porque o curso não tinha dinheiro, e a rádio dava dor de cabeça. A professora Daniela Ota contou que, quando ela veio para cá, em 2005, o laboratório estava fechado há anos.


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Fazia uns três anos. Eu sei que, pelo menos os dois anos seguintes, pegaram a mesa de som e colocaram na sala que fica o Observatório de Mídia. Colocaram o transmissor lá com os microfones. Algumas aulas passaram a ser ali. Mas houve a troca de professor também. Deixou de ser o Robson Ramos e passou a ser a Márcia Chiad. Quando a rádio acabou, foi por conta da explosão ou da Polícia Federal? O que aconteceu foi o seguinte: a Polícia Federal veio, lacrou o transmissor e deslacramos e continuamos as transmissões. O dia que o transmissor explodiu, a rádio estava no ar à tarde normalmente. O que eu fiquei sabendo foi que tentaram consertar o transmissor. Era muito caro para consertar. E o curso de Jornalismo já tinha recebido notificação da Anatel. Essa foi a história que eu escutei e que não duvido que seja verdade. Porque eles chegaram a lacrar de fato. Só que quando eu estava no terceiro ano, já não funcionava mais a Rádio Alternativa. O Sílvio Granja e o Dejair eram técnicos, eles começaram a tocar algumas coisas só para manter no ar. E algum dia, quem sabe, vai ter a rádio universitária, alternativa, enfim, coisa que não se concretizou. Depois de um tempo, o Sílvio foi para outro departamento e o Dejair aposentou. Ficou sem técnico e só tinha a aula. Uma vez a Márcia Chiad estava dando aula e me chamou para auxiliar. Eu vi como estava tudo zoado. Ninguém entendia da mesa e ninguém mexia. Então acabou quando o transmissor explodiu e foi para o conserto. Quando voltou, foi lacrado, e aí acaba a rádio. É bem nebuloso. Quem era o professor nessa época? Em 2001, ainda era o Robson Ramos. Em 2002, eu acho que era a Márcia Chiad. Ela deve ter ficado até 2003. Agora não lembro quem veio depois dela. Em 2005, veio a Daniela Ota. Como aluno, você participou bastante da Rádio Alternativa. Há algo desse período que você não esquece? Tinha umas vinhetas sensacionais. A vinheta do “Já Basta” eu não esqueço. Até pouco tempo, eu tinha ela em mp3. Era um programa hiper alternativo porque ele começava com: “Abraço para os mano, beijo para as mina, aí galera do xadrez, gatas da zona, gurizada da rua e excluídos em geral. Com vocês, mais um Já Basta.”


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Foto: Arquivo Pessoal

Priscilla Terezinha Bitencourt Formada em 2007. Começou como estagiária na TV Morena. Trabalhou como repórter em Tangará da Serra-MT, em Campo Grande pela TV Morena e atualmente é repórter na TV SERGIPE/Globo.

O que te motivou a fazer jornalismo? Eu gostava de escrever, era comunicativa, vinha de muitos anos de trabalho no teatro e não queria fazer Direito. Por pouco não fiz Artes Cênicas. Entrei na UFMS com 17 anos. Para minha família, eu era muito nova para me mudar para o RJ e me aventurar por esse caminho. Comecei Jornalismo pensando em parar, mas me apaixonei. A princípio acreditava que minha vocação estava no impresso. Com o tempo, a vida foi me levando para a TV. O primeiro repórter de TV que me inspirou foi o Marcelo Canellas. Como era a estrutura física do curso quando era estudante? Bastante precária. Laboratórios antigos, salas velhas, pouco ou quase nenhum equipamento e, é claro, tudo analógico. Até as aulas de fotografia foram dadas com câmeras analógicas o que, para mim, não era necessariamente um problema. O conceito é o mesmo. Era engraçado porque a nossa “redação” tinha computadores muito antigos e acesso restrito à internet. Coisa quase impossível em uma redação de grande porte. Quais disciplinas você lembra que teve?Quais professores? Ah! Eram muitas. Mas as disciplinas teóricas do primeiro ano foram as que mais me “pegaram”. Acho que é porque você sai de um universo prédeterminado do ensino médio e aí recebe uma enxurrada de conhecimento que te “abre” os olhos para reflexão. Isso foi muito marcante na minha vida. Eu fui monitora, participei de um grupo de pesquisa e fiz Iniciação Científica (sem bolsa) com a Márcia Gomes e é natural que gostasse muito


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de Teoria da Comunicação e Cultura de Massa. Me lembro do Álvaro Banducci, de antropologia, Inara Leão, de Psicologia, do Jorge Ijuim de Redação e Expressão Oral (que foi também meu orientador do projeto de conclusão), Márcio Licerre de diagramação e afins, Edson Silva, cuja maior lembrança está no Projétil, Ido Michels, de Estudos Socioeconômicos (que nunca compareceu a nenhuma aula), do Marco Túlio de Fotografia. Na época, o Marcelo Cancio estava fazendo o doutorado em Portugal e tivemos Telejornalismo com a professora Ruth Vianna e tinha também a Greicy Mara. Não me lembro de todos. Além disso, fiz algumas disciplinas optativas nos cursos de Letras, Ciências Sociais e Direito. Aconteceu algum fato importante que marcou você durante o curso? Foi muito importante a experiência de pesquisa científica e discussão de teorias que tive com a Márcia Gomes. Foi algo que realmente eu só poderia ter feito naquele momento e foi de grande importância na minha vida. Por muito tempo, pensei em seguir carreira acadêmica por influência dela, que é uma grande intelectual e muito excêntrica e engraçada. Um projeto que adiei, mas pretendo retomar no momento apropriado da minha vida. No segundo ano, eu e uma grande amiga, que é uma jornalista excelente, chamada Nina Rahe, decidimos escrever sobre a Festa do Divino na Pontinha do Cocho para o Projétil e isso terminou em cerca de 2 anos de pesquisa e um projeto pelo qual tenho imenso afeto, que foi a nossa conclusão de curso. Mas, para mim, o mais importante foi o encontro que a Universidade proporcionou. O fato de ter um ingresso por vestibular que era bem concorrido, o curso acabava tendo um grupo muito heterogêneo. Alunos tão diferentes com algumas semelhanças tão marcantes. Antagônicos e similares ao mesmo tempo. Era lindo! Fomos descobrindo juntos esse universo de conhecimento, essa possibilidade de pensar, de questionar, de ceder, de argumentar. Era por isso que eu acreditava muito no vestibular. Além disso, a concorrência era grande, uma turma de nerds rebeldes reunidos. A relação com os professores também foi importante e eu não posso deixar de mencionar o Jorge Ijuim. Ele foi um grande amigo nesses anos de UFMS. Quais foram as maiores dificuldades ou desafios enfrentados para aprender o jornalismo? Acho que não aprendi Jornalismo na Universidade. Na verdade, sete anos após concluir o curso, nem sei se já aprendi. Jornalismo se aprende no


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dia a dia. No desafio diário, na dúvida que surge das situações mais inusitadas, no exercício de se escrever uma nova história todo dia. Nova mesmo, mas, muitas vezes, com notícias já ditas milhares de vezes. Não conheço ninguém que tenha alcançado esse grau de conhecimento apenas com a sala de aula. Acho que a reflexão na Universidade te dá ferramentas para ser capaz de aprender. De cumprir esse desafio. Foi todo esse universo de conhecimento que já mencionei que me deu base para entender a imensa complexidade que é a realidade. Ou para tentar entender. Não é fácil ser uma garota de 21 anos e sair por aí cobrindo assuntos completamente distantes do seu universo. É por isso também que acredito na Educação. Porque há uma grande diferença em uma formação voltada para a técnica de uma formação voltada para o raciocínio. Seu TCC foi sobre o que? Fizemos um documentário chamado Terra e Céu, sobre uma festa religiosa centenária que acontece todos os anos na Pontinha do Cocho. Uma comunidade do município de Figueirão que, até pouco tempo, tinha acesso restrito por uma estrada de chão complicada e, por isso, manteve intactos alguns ritos dessa tradição. Decidimos o tema no 2º ano. Fizemos uma matéria para o Projétil. Depois começamos uma pesquisa, entrevistamos pessoas, analisamos, fizemos pesquisa histórica e isso resultou em um pré-projeto bem fundamentado sobre a importância de retratarmos essa festa. Por fim, fizemos um documentário e um Plano de Mídia e divulgação. Exibimos o vídeo na UFMS, no CINECULTURA e no MARCO, onde realizamos uma espécie de “lançamento” com coffee break. Conseguimos patrocínio para os panfletos e cartazes e fizemos também camisetas promocionais. Tudo patrocinado. Convidamos o cineasta Roberto Berliner, autor do documentário ”A pessoa é para o que nasce” para a nossa banca. Hoje, talvez fizesse algumas coisas diferentes no documentário. Sou mais experiente. Mas acredito que para duas estudantes demos o nosso máximo por esse trabalho e me orgulho disso. O professor Ijuim foi nota dez, só nos dava asas. Como foi seu contato com tele, rádio e impresso na faculdade? Como descobriu seu talento para tele? Eu fiz um estágio muito rápido na TVU antes de entrar na TV Morena, considero que aprendi tudo mesmo durante o estágio. Quando tive aula de tele, no terceiro ano, já sabia muita coisa. Tivemos um programa de rádio que ia ao ar às 18h na rádio corredor e era muito bacana, foi minha única


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experiência com rádio. Era uma mistura de entrevista, música, poesia e reportagens. Eu gostava bastante. No impresso, além do Projétil, eu publiquei uma reportagem em um livro da Fundação de Cultura do Estado chamado Vozes do Teatro, isso já depois de formada. A princípio, eu achava que teria uma carreira no impresso. Uma vez fui convidada a fazer um estágio na TVU onde fiquei por uns 3 meses e fiz pouca coisa. Nesse mesmo ano (o final do segundo de faculdade), uma colega que estava se formando e me conheceu na TVU me indicou para um processo seletivo da TV Morena para estágio. Fiz teste de vídeo, prova escrita, teste com psicóloga, teste de redação e entrevista. Fui aprovada e entrei na emissora em Novembro de 2005 como estagiária na produção. Acho que foi aí que percebi que gostava daquilo. Não acredito muito em talento, acredito em dedicação, empenho e oportunidades. Qualquer um pode fazer qualquer coisa. Trabalhou em outros veículos, além da TV Morena? Na TVU, por poucos meses. Na TV Morena em praças de Corumbá, Dourados e Campo Grande. Na TV Centro América em Tangará da Serra. E na TV SERGIPE. Também tive algumas experiências na Globo como 1 semana no Globo Rural e uma semana como produtora no Fantástico. A falta de estrutura da Universidade de alguma forma te prejudicou na profissão? Não. Acho que é mais difícil aprender a pensar do que aprender a técnica. Até porque, esses recursos técnicos mudam muito rápido, mudam de emissora para emissora e, claro, são fáceis de dominar. Difícil mesmo é ter ética, é ter bases teóricas para analisar uma situação, para duvidar, para questionar. Acho que a Universidade é esse espaço aberto para a reflexão. Quando um aluno entra na Universidade tentando logo gravar uma passagem ele comete um erro, porque é só a plástica. Difícil mesmo é ele saber o que dizer, por que dizer, como dizer o que é preciso. É isso que o torna diferente. Uma amiga minha brincava que, na UFMS, vivíamos como em uma bolha separada do mundo. Por um lado, acho que é importante esse universo paralelo e até utópico. Porque se não sonharmos, como vamos melhorar o real? Em 2013, você foi convidada pelo Professor Marcelo Cancio a ir conversar com acadêmicos, como foi voltar na UFMS depois de alguns anos e que tipo de diferenças você notou? Fui muito bem recebida por todos. Conversamos e debatemos. Percebi


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que era uma turma mais novata e ouvi algumas perguntas que, talvez, minha antiga turma não faria. Coisas sobre a maquiagem que eu usava, não me lembro muito bem. Mas é natural, é um universo curioso mesmo. O que eu já esperava (e que aconteceu) foi aquele embate ideológico sobre as políticas editoriais da empresa da qual faço parte. Natural também. Pelas mesmas questões ideológicas, alguns estudantes de Universidades Públicas questionam muito o mercado, o condenam, como se não fosse fazer parte deles um dia. Acho que o caminho é justamente tentar melhorá-lo em vez de abominá-lo. Conheço pessoas que fazem parte desse mercado e que são verdadeiros poetas do Telejornalismo, como o já citado Marcelo Canellas, que tive a honra de conhecer pessoalmente na minha carreira. Gente que faz muita coisa boa com as palavras, com essa loucura chamada Jornalismo e toda essa parafernália que nos cerca. Se eu voltasse hoje ao meu tempo de estudante, certamente repetiria essa escolha: a de me inspirar em quem faz coisas boas e tentar realizá-las do meu modo. Quem sabe um dia eu possa fazer algo realmente memorável.


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Graduada em Jornalismo pela UFMS. Tem especialização em Linguagem Jornalística pela Uniderp/Anhanguera. Assessora de Comunicação e coordenadora de atividades do Programa Escola de Conselhos e assessora de comunicação do Programa de Ações Integradas e Referenciais de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes no Território Brasileiro (PAIR) no Contexto das Grandes Obras, pelo Instituto Aliança e Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

Foto: Arquivo Pessoal

Lynara Ojeda de Souza

O que te motivou a fazer Jornalismo? Minha motivação era a mais superficial e comum de todas! Sempre fui comunicativa, então sempre achei que deveria fazer alguma graduação nessa área. Prestei vestibular para Rádio e TV e para Jornalismo, já que era o único curso de Comunicação na UFMS. Ao passar em Jornalismo, é claro que não tive dúvidas e iniciei a graduação na UFMS. Felizmente, o tempo na Universidade me fez desconstruir toda a idéia superficial que tinha sobre a profissão. Ao longo da graduação, me apaixonei pelo fazer Jornalismo em sua essência. O compromisso e a responsabilidade social da profissão me fascinam. O fato é que, na Universidade, pude conhecer e admirar muito o Jornalismo. Quando você era estudante, como era a estrutura do curso, tanto física como pedagógica? Nossa turma (2008) teve muita sorte. A Universidade vinha de algumas greves nos anos anteriores, então lembro que uma turma (do terceiro ano) estava com a grade toda atrasada. Mas nós não tivemos esse tipo de problema, nem mesmo com a falta de professores. Tínhamos vários que não Foto: Arquivo pessoal eram doutores concursados, mas no geral tivemos bons professores, mesmo


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As dificuldades eram mais de estrutura e equipamentos, computadores velhos, máquinas fotográficas antigas. Era um desafio, mas acredito que a turma se virou muito bem nesse sentido. Tinha muita reclamação, é claro, mas não deixamos isso prejudicar a formação da turma. Sempre estive entre os alunos que reivindicavam melhorias para o curso, mas não deixava de lado o foco, que era a formação. Tem algum fato importante/engraçado que te marcou durante a graduação? Vários. Mas um dos fatos mais interessantes e importantes para mim como aluna foi voltarmos a ter um coordenador de curso graduado em Jornalismo. Quando entramos na Universidade, teve um tempo que nosso curso era coordenado por professores que vinham de outras áreas, não estou dizendo que eram ruins, mas acreditávamos que somente um jornalista conseguiria de fato compreender as necessidades que nós acadêmicos tínhamos no processo de formação. Então brigamos para que o novo coordenador fosse jornalista e conseguimos. Em 2007 (se não me engano), a coordenação passou a ser da professora Daniela Ota. Quais foram as maiores dificuldades ou desafios enfrentados para aprender jornalismo? Acredito que os maiores desafios sempre foram éticos. Pois aprender a técnica em si é muito fácil e simples. Mas compreender de fato qual é o meu papel e, principalmente, quais são os meus limites enquanto profissional, sempre foram minhas dificuldades. Qual foi o tema do seu TCC? Fiz um livro-reportagem em trio (Andressa Domingos de Mello e Luisa Amorim) sobre abuso sexual contra crianças no âmbito intrafamiliar e suas consequências na vida adulta, intitulado: Verbos libertos – Relatos de Abuso Sexual. Orientado pelo professor Edson Silva. Como você teve contato com a Escola de Conselhos? Porque optou trabalhar as questões sociais? Meus primeiros contatos com área dos Direitos Humanos foram nas aulas de Técnicas de Reportagem do professor Edson Silva, e de cara me apaixonei. Entre 2006 e 2007, fui voluntária no Caminhos, que era um site laboratório coordenado pelo Edson e que trabalhava nessa área. Foi ótimo, aprendi muita coisa lá. Em abril de 2007, entrei em uma seleção de estágio na


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o tema, mas com pesquisas e com a atuação dos profissionais que atuam na promoção dos Direitos Humanos. Posso dizer que me descobri. Estou na Escola há sete anos, e não me vejo fazendo outra coisa. Não acho que escolhi a área, foi ela que me escolheu. Acredito muito na necessidade de termos mais jornalistas atuando diretamente com a temática, de forma aprofundada e responsável. O tema é sério, delicado e exige muito compromisso. Trabalhou em algum outro veículo? Sim. Trabalhei paralelamente durante 18 meses no Jornal de Domingo. Foi uma experiência interessante, era bem diferente, mas foi o suficiente para perceber que, enquanto eu puder, continuarei atuando na área dos Direitos Humanos. As limitações da Universidade te prejudicaram na profissão? Não, muito pelo contrário. Por mais clichê que pareça, as dificuldades te tornam mais “safo”. Fora que você aprende a encontrar alternativas com mais facilidade. Você precisa se virar e se vira. Entrei no curso de Jornalismo da UFMS há nove anos e desde então conheci mestres incríveis. Também encontrei pessoas que se tornaram amigos para a vida toda. Mas foi no Jornalismo também que descobri minha vocação, minha luta. Descobri que o exercício responsável e ético da minha amada profissão pode ser transformador, libertário, humano. Descobri que ser jornalista vai muito além de saber fazer um textinho redondinho, com bom lead, um gancho bacana. Ser jornalista é a busca eterna pela mudança, pela transparência, pela cidadania, pela igualdade, pela garantia de direitos. Sou muito abençoada por ser jornalista e ainda mais por poder fazer do Jornalismo um instrumento singular na construção de um mundo mais justo. Isso tudo só foi possível por eu ter passado pelo Curso de Jornalismo da UFMS. Tenho certeza!


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Foto: Arquivo Pessoal

Lucas Marinho Mourão Jornalista pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, bacharel em Teologia pelo Centro Universitário Filadélfia (UNIFIL), e mestre em Comunicação pela UFMS. Atualmente é doutorando em Comunicação pela Universidade de Coimbra (Portugal).

O que te motivou a fazer Jornalismo? Gosto muito de comunicação e de lidar com pessoas. Todas as disciplinas do curso e as ferramentas para se trabalhar no Jornalismo me atraíram. Sempre admirei essa profissão, e me considero alguém das Ciências Humanas. Lembra do seu período de graduação? Das disciplinas, estrutura física do curso. Lembro sim. O curso passava por uma grande reestruturação de professores, disciplinas e infraestrutura. Lembro que nos primeiros semestres não tínhamos tanto ânimo, por não cursar nenhuma disciplina prática. Mas no segundo ano em diante, a paixão pelo Jornalismo cresceu gradativamente. Tivemos ótimos professores e inesquecíveis experiências nas rotinas das reportagens. Quem dava aulas? Os professores dos primeiros semestres eram quase todos de outros departamentos. Mas me lembro bem dos excelentes docentes que foram o Marcelo Cancio, Mario Fernandes, Mario Ramires, Daniela Ota. Todos sempre muito preocupados com nosso aprendizado. Naquela época, havia muita diferença do curso que você viveu enquanto acadêmico do curso para o que você encontrou quando entrou no mestrado? Quais? Sim. Hoje enxergo um curso mais estruturado. O que facilita para o aluno. Apesar de que a falta de estrutura sempre nos fez correr atrás do prejuízo. A estrutura física hoje é mais acessível, o quadro de professores está melhor estruturado e o curso tem mais base para poder educar os uni-


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versitários. Ainda pode melhorar muito. Mas vejo que está em uma crescente. Qual foi a sensação de retornar à UFMS como mestrando e também como docente por um tempo? É curioso, pois você volta com outra mentalidade, outra visão. A forma como você enxerga o mundo afeta muito a maneira como se comporta na Universidade e como interpretará os conteúdos. Na faculdade, eu sentia que tínhamos pressa, estávamos ansiosos pelo resultado. Hoje, um pouco mais sossegado, pode-se refletir melhor, seja no Mestrado (que tem uma dinâmica diferente da graduação), seja na docência. Como professor, aprendi bastante. Dei aula para uma turma interessante, que me instigou a aprender mais. O engraçado foi estar lá na frente sabendo exatamente o que os alunos estão passando e pensando. Como sou novo, ainda estão frescas todas as experiências pelas quais passei. Acho que isso foi bom para eu repensar a maneira de dar uma aula. Tem algo que você levou da graduação, das suas vivências dentro da UFMS para sua vida profissional? Aprendi a duvidar e investigar com cuidado. Trabalhar em equipe em situações de tensão e com pouco tempo. Dedicação em fazer um trabalho bem feito. Lidar com diferentes tipos de pessoas.


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Aline Cristina Maziero Jornalista e mestre em Estudos de Linguagens pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Atualmente é acadêmica do curso de Letras - Português/ Espanhol também pela UFMS.

Foto: Arquivo Pessoal

O que te motivou a fazer Jornalismo? Posso dizer simplesmente que o que me motivou a fazer Jornalismo foi a identificação com a profissão, porque eu sempre tive um lado meu meio inconformado, que queria lidar com as injustiças do mundo e achava que podia fazer isso escrevendo. Sim, porque o Jornalismo para mim sempre foi escrever. Pode perguntar aos meus professores de rádio e telejornalismo, Marcelo Cancio e Daniela Ota, mas eu sempre fui uma negação falando. E mesmo assim, adorava aquilo. Acho que a razão principal de eu ter feito Jornalismo foi eu querer me mudar da cidade do interior onde eu morava, Nova Andradina. Então, em 2006, quando os vestibulares ainda eram de somatória e guardavam vaga para o início do ano seguinte, eu escolhi Jornalismo por ser um curso que não tinha na minha cidade. Passei. Daí, tive de me mudar para Campo Grande no ano seguinte, trazendo papai e mamãe. Em uma cadeira de rodas, porque eu tenho paralisia cerebral e certa dificuldade para andar, enfim, dificuldades com a coordenação motora. Cheguei a Campo Grande, adorei a cidade e criei uma identificação muito forte com a UFMS. Eu adoro aquele lugar, tanto que continuo lá até hoje. Estou cursando Letras, depois de ter feito o mestrado em Estudos de Linguagens, orientada pela professora Márcia Gomes. A professora Márcia, aliás, foi minha primeira referência. As disciplinas que ela ministrava eram as que mais tinham a ver com Comunicação. Eu adorava os exemplos que ela dava, quase sempre tirados da ficção seriada. Aprendi muito, e sofri bastante para aprender também, mas valeu a pena. Teoria é das coisas que você só valoriza depois que tem mesmo, acho.


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Que outras referências você tem do tempo de estudante de Jornalismo? No segundo ano, minha grande referência foi o professor Edson. Na época, ele estava precisando de um monitor para o site Caminhos, cujas pautas se relacionavam com Direitos Humanos e eu gostei da ideia. Naquele ano, nas pesquisas jornalísticas eu e o meu grupo falamos de “acessibilidade” e discutimos o tema dentro e fora da UFMS. Engraçado que depois disso acabo sempre falando em acessibilidade, já em várias ocasiões para alunos do curso mesmo. Fiquei três anos como bolsista, convivendo bastante com o professor Edson e ele se tornou meu orientador de TCC. Eu, assim como você, trabalhei com histórias de vida e memórias. No meu caso, de passageiros do trem da ferrovia Noroeste do Brasil, em um livro-reportagem intitulado “Sobre os trilhos dessa terra”. Foram com o professor Edson as minhas primeiras experiências jornalísticas mesmo, de pesquisa, apuração, essas coisas. No segundo ano, ainda, chegou à UFMS o professor Gerson Martins, que ministrava a disciplina de Redação Jornalística já com recursos do ciberjornalismo, mas ainda na grade antiga. Essas matérias tinha de fazer a cada semana e foi uma experiência muito enriquecedora. Eu sempre fui uma aluna daquelas muito certinhas, que faziam tudo no prazo, e faziam tudo mais ou menos bem. No terceiro ano, pela antiga grade, tínhamos tudo que era bom: rádio, Projétil e TV. E era tudo em grupo, o que complicava um pouco as coisas para mim que precisava ajustar ao meu horário, o da minha mãe – que me levava – e o do restante do grupo e se fosse TV, por exemplo, ainda o horário do cinegrafista. Era meio complicado, mas foi também a fase da minha vida que mais me senti inclinada ao Jornalismo. Isso por causa, talvez, dos professores fantásticos que eu tive: tinha a Daniela Ota, para quem fazíamos vários roteiros de “Rádio Corredor”, segmentados, radiodocumentários. Era um ritmo intenso - pelo menos para mim - e um pouco sofrido, porque eu às vezes falava rápido demais e ficava sem ar. Tinha o Marcelo Cancio, que me pediu para refazer uma passagem até que eu ficasse de olhos abertos diante da câmera, um dos momentos mais marcantes da graduação para mim. Mostrou para mim que ele nunca ia desistir de um aluno, por menos apto que ele fosse. E teve os professores do Projétil - Mario Luiz, Mario Ramires e Márcio Licerre - que foram três das pessoas mais incríveis que eu conheci na UFMS. O Mario Ramires estava nesse curso desde a fundação como o professor Edson e era absolutamente fantástico. Acho que cada professor com o qual eu tive contato me modificou um pouco, mas eu pre-


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cisava citar o Ramires. Daqueles que nos fazem pôr em dúvida todas as certezas, para escrever melhor, ser melhor. E a estrutura do curso e da UFMS com relação à acessibilidade? Quando eu cheguei à UFMS, não havia muitas rampas e as que haviam eram bem íngremes. Alguns lugares, como o Anfiteatro do LAC, não permitiam o meu acesso. Não havia banheiro para que a minha cadeira pudesse entrar, nem a rampa principal, nem rampa no Anfiteatro do CCHS, que aliás, no dia em que fomos estrear, eu e meu amigo Flávio caímos. De modo geral, vejo que a Universidade tem tentado melhorar, mas isso não se prova eficaz. Digo isso, porque, por exemplo, eu tenho um pouco de mobilidade, posso descer as escadas do laboratório de TV, mas e quem não consegue? Esse é só um exemplo, acredito que as pessoas, a UFMS, e talvez até o próprio curso, têm de se conscientizar que o que se precisa mesmo no campo da acessibilidade é uma política de longo prazo. Não é você resolver o problema imediato, de um acadêmico. É perceber que assim como no passado houve alguém que precisou de estrutura e não teve possibilidades de usufruir dela, no futuro outras pessoas vão precisar. Só digo que isso envolve antes de tudo uma mudança de mentalidade, o que é um pouco mais complicado que uma série de medidas paliativas. E como foi seu contato com o mestrado logo depois da graduação? No quarto ano, eu já estava com dor no coração por deixar a UFMS e foi aí que eu tive a ideia de fazer Mestrado - em Estudos de Linguagens - e voltei a ter mais contato com a professora Márcia Gomes. Resolvi fazer um projeto sobre adaptação de obras literárias na ficção seriada, estava fazendo o TCC, mas estudava à noite e de madrugada e assim, passei na prova escrita. No dia da fase final - entrevista - nem tinha defendido o TCC ainda. Foi um fim de ano muito diferente, muito bom, porque não sinto como se tivesse me dedicado pouco para fazer o TCC. Foi um trabalho exaustivo, exasperante e emocionante como quase tudo, e ainda assim, tinha passado no Mestrado, tinha perspectiva de futuro, tinha possibilidade de bolsa CAPES e tal. Foi um momento excelente da minha vida, recompensador e assustador. Eu estava na UFMS, mas em um departamento que me era estranho, minha orientadora estava na Espanha e eu tinha muito o que aprender sobre cinema e literatura. Por outro lado, no ano seguinte, fiz algumas disciplinas do Mestrado de Comunicação, já que a preocupação maior da minha dissertação era com os meios de comunicação, a relação emissor/receptor.


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Acho que esse intercâmbio que a professora Márcia faz, dando aula nos dois Mestrados e fazendo os acadêmicos conhecerem os dois lados, é muito produtivo.

E quais são seus próximos passos? Algum no Jornalismo? Não trabalhei com Jornalismo, decidi me dedicar à vida acadêmica, estou na segunda graduação e espero em breve iniciar um doutorado na área de Letras.


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Raphaela Paola Potter Jornalista formada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul no ano de 2011. É repórter na TV Morena, onde entrou como estagiária e foi efetivada. Trabalhou na afiliada em Corumbá, voltou para Campo Grande como repórter esportiva, onde ficou 8 meses e no final de 2014, retorna para a Cidade Branca.

Foto: Arquivo Pessoal

Como que foi aquela época dos quatro anos da faculdade? Eu lembro que no primeiro dia de aula não tivemos aula. Foi mais ou menos uma semana sem aula porque não tinha sala, não tinha um dia certinho que podíamos usar tal sala porque dependíamos muito do curso de Letras. A primeira aula foi no chamado Aquário, que eu acho que é a redação para vocês. Lá não era aquilo cheio de computador, era uma sala que chamava de aquário porque chovia e alagava e porque tinha paredes de vidro. Esse primeiro ano foi legal, eu achei um ano muito importante para parte teórica. Tínhamos Teoria de Comunicação de Massa, que são disciplinas que ainda estão na grade. Comunicação Comparada com a Márcia, tinha Antropologia, Sociologia, Psicologia da Comunicação, Filosofia. Então eram matérias densas, muito livro, muita teoria. Não fomos direto para prática para entender o que era o Jornalismo de rua no primeiro ano. No segundo ano, já tivemos uma vivência maior, já teve umas aulas de Redação com o Gerson, uma matéria que era com o Licerre, uma espécie de Planejamento Gráfico. Nos perguntávamos “para quê essa aula, meu Deus”? Então começamos a entender um pouquinho melhor de escrever texto, de estrutura. No terceiro ano, teve prática mesmo, porque daí separou de vez, separou a turma só da tarde e a turma só da noite. O que mais me marcou nesse ano foi Rádio e Telejornalismo. Foram as coisas que eu mais gostei. Também o Projétil me marcou por causa do Ramires, que infelizmente não está mais conosco, foi um professor que me marcou muito. Trabalhávamos bastante para conseguir


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fechar o Projétil, era como uma redação mesmo, como se estivéssemos ganhando para fazer aquilo. O terceiro ano foi o ano da prática mesmo, quando descobrimos o que era o Jornalismo. Então cada um se identificava com alguma coisa, muita gente já trabalhava na época. E no quarto ano, a gente entrou com clima de TCC. Já entramos pensando, fazendo dupla, trio ou sozinha. Escolhendo o que ia fazer, escolhendo orientador. Era uma disputa por orientador. Eu fiz com a Cláudia Camargo uma dupla. Queríamos muito o Cancio e no fim, conseguimos. A partir do terceiro e quarto ano, a estrutura do curso começou a mudar. Antigamente, não tínhamos sala, aquela coisa de sempre ter aula no mesmo lugar. O aquário virou redação, até fechamos alguns jornais do Projétil lá. Eram computadores novos. Eu peguei uma redação onde é o Núcleo. Ali que tinha aula de Planejamento Gráfico com o Licerre, naqueles computadores de tubo branco. Nesse período, eu peguei a fase de transição. De um curso antigo, que não tinha redação, os computadores eram todos velhos e funcionavam três, que não tinha sala. Depois já começou a mudar, chegar investimento. Só que não aproveitamos muito, porque já tinha feito três anos desse jeito. Então foram quatro anos que aproveitamos o máximo até as mudanças que tiveram. Eu não sei desde quando estava o curso como quando eu entrei, acredito que muito tempo. E dos professores, quem você lembra? Ah! lembro da Márcia Gomes, do Cancio, do Ramires, que são os que mais me marcaram e que eu gosto muito. Mas eu também lembro da Greicy que está aí até hoje. Tínhamos aula com o professor Éser Cáceres que saiu, acho que hoje em dia ele trabalha no Midiamax. Tive aula com o professor Orlando, de Filosofia, que largou no meio do curso, aí veio o professor Djalma que pegou o bonde andando e muitos alunos reprovaram e deu o maior rolo. Tinha a professora Lívia, de Psicologia da Comunicação, Silvino, de Antropologia, a Dani Ota de rádio. O Gerson deu aula para a gente, de redação, no segundo ano e o Ramires depois no terceiro. Não eram muitos, dava para contar no dedo. Era sempre essa dificuldade de ter professor, muitos eram temporários ou voluntários. O que te motivou a fazer Jornalismo? Desde que eu estava na sétima serie, queira fazer Jornalismo. Eu coloquei isso na minha cabeça, e como na época era vestibular e minha mãe sempre falou “você tem que passar na Federal”, eu estudei para isso. Sempre gostei de ler, de escrever, de revista e de jornal. Mas quando você entra


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no mercado de trabalho, você se decepciona com muitas coisas, daí fica pensando “porque eu não mudei de curso?”, mas eu não me arrependo porque ainda acho que Jornalismo combina comigo. Eu gostei das pessoas que conheci na faculdade, gostei das matérias que fiz, gostei do meu TCC, dos professores. Eu acho que, se tivesse feito outra coisa, não seria feliz. Problemas têm, mas já vira uma outra questão, não com Jornalismo, uma questão de empresa, de emprego. Me motivou achar que combinava comigo e ainda acho que combina. Porque às vezes quando eu estou estressada e falo “quero largar tudo”, eu penso “mas se eu largar tudo, vou fazer o quê?”, daí não penso em mais nada. Por isso que eu acredito que Jornalismo era minha primeira opção e vai continuar sendo. Teve algum fato inusitado ou legal que te deixou marcada durante seu período na Universidade? Teve. No segundo ano de faculdade caiu o diploma, e todo mundo ficou muito revoltado. Então eu, a Keyciane Pedrosa, o Flávio Brito e o Rafael de Abreu, fomos junto com um pessoal da Uniderp lá no Palácio Popular da Cultura, porque o Gilmar Mendes veio para cá logo depois que caiu o diploma. Fizemos protesto, batemos panela, usaram nariz de palhaço, fez um monte de coisa. Só que o Gilmar não nos viu, ele entrou pelos fundos e ficamos lá fora. O pessoal foi embora, e eu falei “a gente tem que ficar aqui, tem que falar com ele”. Conseguimos entrar onde ele estava dando a palestra. Na hora que entramos, a palestra acabou. Eu fiquei louca, peguei uma câmera pequena, uma Sony Cybershot. E enlouquecidamente me juntei aos os jornalistas e ficava gritando “por que você vai depor o diploma do curso de jornalismo, por quê?”. Uma jornalista disse “pode deixar que eu vou perguntar”. Ela viu que eu não era jornalista de nenhum veículo, eu era acadêmica. Mas aí ele respondeu e eu gravei tudo. A Keyciane, o Flavio e o Rafael ficaram olhando com aquela cara de “como você fez isso?” Fizemos um texto e postamos lá no blog a resposta dele. Isso ficou marcado e até lembramos o episódio na formatura. Como a sua vida que foi acontecendo, por exemplo, com o telejornalismo e o Jornalismo em si? O que eu vejo hoje é que vocês têm mais dificuldade de fazer estágio do que tivemos. Os professores estão viabilizando pouco. Eu acho muito importante essa vivência na redação, porque é lá que vai ver como realmente funciona, o deadline, a hora que você tem que entregar tudo. Eu era muito curiosa quanto a isso. Comecei a fazer estágio no segundo ano, na Plaenge,


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no atendimento online, atendendo pessoas que queriam comprar apartamento pela internet. Tinha nada a ver com Jornalismo. Mas depois de um tempo, a TV Morena abriu seleção para estagiário. Tinha uma prova, depois uma entrevista e depois da entrevista tinha três dias na redação para eles avaliarem como você trabalhava. O Fernando da Mata, que é um colega meu de turma, fez a prova e passou, começou a trabalhar lá. Como eu era curiosa porque eu só vendia apartamento e queria saber como funcionava, perguntei para o Fernando e ele falou “olha, Rapha, tem mais estagiário saindo de lá e vai abrir outro processo seletivo”. Ele me passou o email da Andréia, que na época era secretária lá e eu mandei um email, “olha meu currículo, estou sabendo que tem seleção”. Ela me respondeu “tem seleção tal dia. Se quiser, vem cá fazer a prova”. Todo mundo da turma já estava sabendo, umas dez, quinze pessoas foram fazer essa seleção para o estágio. Eu fiz, passei na nota de corte. Era uma prova de português, conhecimentos gerais, e algumas coisas como “escreva uma nota pelada, escreva uma nota coberta” e eu não fazia a menor idéia do que era isso, mas eu fiz. Eu passei nessa nota, fui para entrevista com os chefes e depois me chamaram para fazer o período de acompanhamento. Me chamaram para estagiar. Logo que comecei, me encantei, falei “nossa, aqui é minha segunda casa”. Não ligava de passar horas e horas lá. Aprendi bastante. Mas desde que eu entrei, na entrevista, antes de eu fazer o período de estágio, eles perguntaram “você gosta do quê?”. Eu falei “gosto de esporte”. Todo mundo assim, olhou aquela menina muito loira, parecia que não sabia de nada falando que gosta de futebol. A gente tinha um blog. Eu acordava domingo oito horas da manhã para vir para o Morenão, pegava dois ônibus da minha casa até lá para assistir jogo da série B do estadual. E isso já chamou a atenção deles, por que é muito difícil alguém gostar de esporte aqui no Estado. Tenho certeza que foi por isso que eles me contrataram. Eu fiquei dois anos lá. Nesse tempo, eu produzia. Depois tive a experiência de fazer vídeo, que era fazer o mapa tempo. Quando apresentei meu TCC, em 2011, falei que gostaria de continuar trabalhando na empresa, porque foi lá que aprendi tudo que eu sabia de Telejornalismo. E tele não era uma coisa que eu queria muito, para deixar claro. Eu queria ser jornalista, gostava de escrever, e gostava de todas as possibilidades. Na faculdade, o que eu mais gostei de fazer foi rádio. Gostava até mais do que tele, bem mais. Só que aqui no Estado não tem muita área para trabalhar. Quando eu saí, não tinha vaga para trabalhar lá e eu fiquei espe-


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rando. Comecei a pedir emprego em outros lugares. Fui procurar em assessoria, fui procurar em TV. Consegui um trabalho em janeiro, na TV Campo Grande cobrindo férias. Vinte dias depois, o Alfredo, que é o gerente de Jornalismo da TV Morena me chamou, perguntou se eu queria trabalhar em Corumbá. Aí eu falei “quero demais!”. Porque era a TV Morena. Porque a Vivian de Castro, que era a editora regional lá, tinha trabalhado comigo quando eu era estagiária. Ela gostava de mim e eu gostava muito dela. Falei “é agora que eu vou”. Sabe quando você não pensa? Falei “tchau TV Campo Grande” e fui. Lá em Corumbá, foram 2 anos e 15 dias, mas eu aprendi muito mais ainda do que no estágio. Porque no estágio eu produzia, mas não é a mesma coisa que entrevistar e escrever um texto. Quando cheguei lá, eu tinha dificuldade de escrever texto, demorava muito, os offs eram muito longos e na TV não dá. Tive que aprender objetividade. Aprendi a fazer ao vivo. Porque lá a equipe é reduzida e o mesmo jornal que tem aqui, o MS 1°edição, tem lá, só que de Corumbá e região. E a gente que fecha. São duas pessoas de manhã e duas à tarde. Um dos repórteres da manhã apresenta o jornal, não tem como ele fazer muita coisa. Eu chegava na redação, não tinha produtor. Ligava para a polícia e para o bombeiro para ver o que estava acontecendo. Fazia o VT, entrevistava, voltava, escrevia o texto, gravava o off e ia editar a matéria, imprimia os links e ia para o link do jornal. Fazia tudo isso sozinha. A Vivian olhava meu texto, me liberava, fazia meu link, marcava o entrevistado. Como são 40 minutos e a equipe é pequena, às vezes eu tinha três entradas de links com quatro minutos cada de baixo do sol quente. Então você aprende, não tem para onde você fugir. Eu fui para lá e me propus esse desafio. Não dá para desistir na primeira dificuldade. Nesse primeiro ano, eu só ralei. No segundo ano, o Bruno Grubert, que era o apresentador, saiu. Eu tive a oportunidade de apresentar. Eu ficava lá no estúdio, no ar condicionado, tranquila e feliz e os outros iam para o link, os novos que chegavam. Então já foi um crescimento. Eu comecei a aparecer mais, e tive a oportunidade de vir para cá esse ano. Criaram um novo programa de esporte, o Morena Esporte. Antes só tinha o Globo Esporte, aquele programinha de 6 a 8 minutos que passa depois do MS 1° edição e antes do Globo Esporte nacional. Esse programa tem 35 minutos e precisava de alguém para produzir e não tinha aqui na equipe. Como sempre souberam que eu gostava de esporte, me chamaram para cá. As duas partes foram boas, e apesar dos problemas que acontecem em toda empresa, eu me sinto feliz com o que estou fazendo hoje. É como


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você crescer na faculdade até o TCC. Depois você cresce no seu estágio até ser contratada e depois cresce até ter outro desafio. Você manteve contato com seus colegas que trabalham em outros veículos de comunicação? Queria saber o que vocês pensam sobre o atual cenário jornalístico do Estado? Eu mantive contato por um tempo, porque muita gente se mudou. Teve gente que foi para outro Estado, que voltou para sua terra natal. Teve gente que começou a fazer outro curso. O cenário não é muito animador, em termos de salário e oportunidades. É muito difícil encontrar alguém no nosso grupo que esteja completamente feliz tanto no trabalho quanto no salário. As pessoas começaram a se adaptar ao que elas gostam de fazer. Acho que as pessoas que fizeram concurso estão melhores, ou quem foi para as mídias sociais, que é uma área que cresceu muito. Você tem pouca estabilidade no cenário. Não é como antigamente, quando você ficava lá aguentando chatice do chefe. Mesmo depois de formada você ainda tem contato com o curso e com a universidade? Eu gosto de saber, fico no grupo do Facebook, acompanhando os calouros, pergunto. Eu não venho aqui com frequência. Eu gosto de ver TCC dos calouros, mas não dava porque estava lá em Corumbá. Não sou daquelas pessoas “ah, saiu da UFMS, nunca mais”. Nunca vou negar nada se for alguma coisa da UFMS, sempre vou fazer com o maior prazer. Tenho muito amor e carinho pelo curso. Você se arrependeu de alguma coisa que fez no curso? Acho que não. Acho que talvez eu me arrependo de não ter lutado um pouco mais pelo curso. Me arrependo de quando entrei no estágio eu ter deixado a UFMS em segundo plano, de ter dado mais prioridade para o estágio. Primeiro a UFMS era minha segunda casa e depois o estágio virou minha segunda casa. Eu poderia ter aproveitado muito mais da Universidade. Não acho que estágio seja uma coisa ruim. Foi uma escolha minha. Acho que todo mundo tem que fazer estágio, mas fazer se lembrando da universidade. E o Projétil, foi seu único contato com o impresso? Sim. Nunca tive outro contato com impresso fora daqui. Eu gostei muito. O Ramires fazia a gente discutir, questionar. Era muito legal a discussão da pauta, se ela valia ou não, qual era o interesse. Teve a primeira


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vez no curso que ameaçaram a não ter um segundo Projétil. Foi a minha turma. Teve briga, teve gente que não quis fazer a matéria. Ficamos eu, a Samyra Galvão e o Fernando da Mata vindo até quando não tinha mais aula. O jornal saiu depois das férias para terminar de diagramar e fazer matéria. Eu e a Samyra fizemos mais uma matéria para preencher o espaço em branco. O espaço vazio foi preenchido com uma entrevista realizada com o Ariano Suassuna. Naquele dia, foi só para preencher um espaço em branco. Hoje eu vejo que foi épico. São coisas que compensam muito, não só de você ter essas oportunidades que são únicas, mas também por ter o poder de questionar. E o que você levou das suas experiências daqui da UFMS? Acho que a UFMS foi o que me levou à carreira inicial que eu tenho hoje. Eu não acredito que foi pelo estágio e pelas coisas que eu fiz fora, porque se eu não tivesse entrado aqui, não teria tomado todos esses rumos. Eu tinha uma idéia do que era o Jornalismo. Aqui eu aprendi o que era o Jornalismo e na redação eu vivi o jornalismo. Eu tenho certeza de que a UFMS é o principal de tudo que consegui, do trabalho que tenho hoje. Claro que vem o esforço e tudo mais, mas foi daqui que eu decidi o que queria fazer. E você tem planos ligados ao jornalismo? Eu tenho pensado muito em estudar, voltar para a Universidade, fazer mestrado e doutorado. Pensando em longo prazo, desejo voltar para estudar. Não quero demorar muito para isso, porque já vou fazer 24 anos. É diferente você pegar o ritmo de estudo depois de muito tempo. Não sei se aqui ou se fora, mas eu quero estudar Jornalismo. A TV vai me acompanhando, é o que eu tenho, é minha experiência, meu ganha pão.


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E por fim... nós Brenda Cirino e Lays Colombelli Formandas do curso em 2014, se conheceram na faculdade e desde o primeiro ano eram colegas e faziam trabalhos juntas. Com sonhos distintos, uma luta pela carreira acadêmica e a outra não sabe o que fazer depois de formada. Decidiram em agosto de 2014 sobre o tema do Projeto Experimental: os 25 anos de história do curso que as acolheu. Foram poucos meses para pesquisa e desenvolvimento deste trabalho, mas foi um grande aprendizado. Apesar de todo esforço, dedicação e pesquisa, conhecemos somente a ponta do iceberg. São infinitas histórias, centenas de personagens. Descobrimos coisas inimagináveis. Nos emocionamos com o e-mail do Jorge Ijuim, rimos com as histórias do Licerre e aprendemos muito com o Edson. O Jornalismo surge em nossas vidas de formas diferentes. A família da Lays dizia que ela tinha talento para o teatro. Quando criança, a Brenda morava em frente à um posto de saúde e corria para ver a ambulância. Sua família a chamava de Picarelli. Queria estudar Biologia, mas mudou de ideia. Quando começamos o curso, a estrutura física era diferente da atual. No primeiro ano, tivemos aula em uma sala do curso de Letras. Os laboratórios de rádio e TV eram recém reformados, com ótima estrutura e apoio técnico. Fizemos duas edições do Projétil, uma delas não foi impressa. Quanto aos professores, pegamos alguns substitutos e outros não vinculados ao Jornalismo. A Brenda lembra de uma rádio corredor que fez com colegas, no dia de uma mobilização nacional contra corrupção em 2013. Estavam animados e tocaram músicas revolucionárias e notícias relacionadas ao tema e o único ouvinte era o André Moura, seu namorado, pois a Universidade estava vazia. Além de ter ganho uns trocados fazendo os trabalhos do Licerre, usando o fusquinha, que tantos acreditam estar atrasado. E ele nos ensinou que: quem sabe dirigir um fusca consegue dirigir a Ferrari. Sempre usou essa comparação entre o Pagemaker e o InDesign em sala. Para Lays, a experiência mais marcante foi um exercício da aula de Reportagem, Pesquisa e Entrevista Jornalística sugerido pela professora Juliana Feliz, onde cada aluno deveria abordar um desconhecido nos corre-


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Jornalismo

dores e descobrir sua história. Ela sem saber nome, nem curso, remexeu a Universidade atrás da menina japonesa de cabelos coloridos e roupas engraçadas que passava pelo Corredor Central todos os dias e era motivo de chacota. Em 2011, chegamos à Universidade com expectativas diferentes. Entre os obstáculos de aprendizado, as crises existenciais e a tão famosa disciplina obrigatória de todos os cursos, a chamada greve, chegamos ao fim. Alguns professores do atual quadro docente se formaram na UFMS e voltaram para dar um retorno e ajudar a formar novos profissionais. Enquanto alunas, esse trabalho é a nossa devolutiva ao curso: fazer com que essa história não seja esquecida. Esperamos que esse livro sirva como base para outras pesquisas, assim como tivemos nossa base em um Projeto Experimental. Agradecemos a cada professor em nome de todos os alunos que passaram pelo Jornalismo UFMS, pelos ensinamentos que cada um nos ofereceu.

“A gente aprende a contar histórias, mas também saímos cheias delas.” Brenda

Foto: Arquivo pessoal

Foto: Arquivo pessoal

“Hoje eu vejo curso de Jornalismo como minha segunda casa.” Lays


25 Anos

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Jornalismo

Todos os direitos reservados Brenda Cirino e Lays Colombelli




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2014 – Lays Colombelli e Brenda Cirino

3min
pages 129-134

2012 – Raphaela Paola Potter

14min
pages 122-128

2010 – Lucas Marinho Mourão

2min
pages 116-117

2008 – Lynara Ojeda de Souza

4min
pages 113-115

2007 – Priscilla Terezinha Bitencourt

8min
pages 108-112

2011 – Aline Cristina Maziero

6min
pages 118-121

2000 – Juliana da Costa Feliz

10min
pages 91-96

2002 – Marcelo da Silva Pereira

12min
pages 102-107

2001 – Gesiel Rocha de Araújo

9min
pages 97-101

Centro de Ciências Humanas e Socias – UFMS 2014

0
page 83

Mestrado - Mario Luiz Fernandes

11min
pages 77-82

Jorge Kanehide Ijuim

6min
pages 70-73

Mauro César Silveira

4min
pages 67-69

Robson Ramos

4min
pages 74-76

Gerson Luiz Martins

4min
pages 57-60

Katarini Giroldo Miguel

2min
pages 64-66

Taís Marina Tellaroli Fenelon

4min
pages 61-63

Silvio da Costa Pereira

6min
pages 53-56

Marcos Paulo da Silva

4min
pages 50-52

Edson Silva

14min
pages 16-23

Greicy Mara França

10min
pages 35-40

Daniela Cristiane Ota

9min
pages 41-45

José Márcio Licerre

8min
pages 24-28

Professores

0
page 15

Márcia Gomes Marques

6min
pages 46-49

Marcelo Vicente Cancio Soares

10min
pages 29-34

Apresentação

2min
pages 13-14
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