capÍtulo 4 : ENTREVISTAS E PERGUNTAS
Eduardo Brandão1 Artistas Cia de Foto I Daniel Santiago I José Frota I Jonathas de Andrade I Patrick Pardini Portfólio 2007 e 2008
1 - Como define a importância, para o circuito de mostras fotográficas brasileiras, do Projeto Mezanino de Fotografia, posteriormente denominado Portfólio, do Itaú Cultural, direcionado à difusão da produção fotográfica contemporânea emergente (e, a partir de sua segunda edição, também à literária)? A ideia era mostrar produções. Essas produções normalmente são mostradas em forma de coletivas, e não em individuais. E, claro, quando o artista vê seu trabalho no grupo é uma coisa. Ver o próprio trabalho sozinho, em uma sala, como acontecia no Itaú Cultural, tem outra potência. Essa situação é importante, e mais a situação de mapeamento. Eu fiz Recife e fiz Belém [do Pará], além de São Paulo. Em Recife, vi o trabalho do Jonathas de Andrade e, em Belém, o do Patrick Pardini. A exposição do Jonathas no Itaú Cultural foi muito importante, difundiu o trabalho dele. Ele continuou ganhando prêmios. É óbvio que não é somente por causa da exposição daqui [no Itaú Cultural], mas ajuda, acaba contribuindo, porque abre uma rede de possibilidades, inclusive, de começar a mostrar em outros lugares que não em Recife. No caso do Patrick [Pardini], ele não é um jovem emergente. Não seria o perfil do Portfólio, mas mudamos esse perfil no meio do caminho porque eu achei que era importante ter o trabalho do Patrick, relevante para lá [Belém do Pará], para ampliar seu reconhecimento aqui [em São Paulo]. Um trabalho importante, delicado, que tem qualidade muito contemporânea. Questões contemporâneas, melhor que qualidades, porém desconhecidas por nós. Se a gente for fazer um apanhado, eu acho que para a Cia de Foto foi maravilhoso, porque deu a ela um lugar dentro da fotografia de arte. A Cia trabalha muito fotografia publicitária. É como um intercâmbio com outro campo de atuação onde as pessoas possam também conhecer essa produção. E para eles [da Cia de Foto] oxigenarem o campo da arte e vice-versa, a arte oxigenar o campo da publicidade. O Daniel [Santiago] começou mostrando o trabalho dele aqui. Mas, hoje, o Daniel voltou para a Colômbia, ele mora lá. Está em mostras importantes. Então, isso que eu acho que é bacana. Quando você pergunta sobre a fotografia brasileira, a gente trabalhou com um garoto que era aluno aqui,
ele estudou na Faap [Fundação Armando Alvares Penteado], morou no Brasil um ano, um ano e meio, eu acho. Não é brasileiro, mas contribuiu para a fotografia brasileira. Voltou para seu país de origem e está superbem. Aqui, sem dúvida, foi o trabalho de pontapé, eu acho que isso a gente pode chamar de boa troca. O Itaú paga a produção e isso é importante, fundamental, nesse momento bem de início de carreira, como no caso do Daniel e do Jonathas, de ver os trabalhos bem mostrados e benfeitos. No caso da Cia, que mostrou os trabalhos em vídeo, eram pequenos portfólios em vídeo, o Itaú Cultural propiciou essa experimentação. E, para o Patrick, ele viu o trabalho dele impresso em papel, jato de tinta. Pudemos fazer impressões grandes, como ele nunca tinha feito ainda, em todo tipo de formato, pequeno, médio e grande: P, M, G. As fotografias pequenas e médias eram dele, todas mais antigas. O que a gente fez foi ampliar, acho que oito grandes, de uma série das seringueiras. Conseguimos os tons certos, foi perfeito, ele acompanhou todo o processo. Ficou lindo e também foi importante por ser uma passagem de uma fotografia analógica para uma fotografia digital: não a fotografia em si, mas a reprodução digital. Então, para o Patrick também foi uma experiência. Abriu um caminho que ele não conhecia. Enfim, acho o Portfólio uma iniciativa muito bacana porque cria estruturas para o sujeito fazer experimentações e mostrar o resultado disso. 2 - Como define o papel da curadoria nesses projetos? Qual seu principal desafio? Acho que a proposta era trazer jovens artistas, não apenas bons trabalhos. Eu procurei mostrar, encontrar trabalhos que fossem bons e que, ao mesmo tempo, quebrassem um pouco o que a gente tinha visto. Esse aí foi outro questionamento. Artistas que tivessem uma pesquisa pouco trabalhada, até então, no campo da fotografia. Não bastava mostrar um bom trabalho. A Cia de Foto tem um trabalho que muita gente liga direto à publicidade, ao jornalismo. Mas, para mim, tinha um cheiro de que aquilo pudesse ecoar aqui em outras instâncias. Então, era desafiador pra eles, sem dúvida, colocar o trabalho dentro do
1 Nota da organizadora: entrevista com Eduardo Brandão gravada em 26 de maio de 2009, concedida a Daniela Maura Ribeiro na Galeria Vermelho, em São Paulo/SP.
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