possibilidades da fotografia contemporânea: mezanino e portfólio
A verdade mais absoluta ou a beleza mais milagrosa: literatura e fotografia. Três encontros Natalia Brizuela
All that we see or seem is but a dream within a dream Edgar Allan Poe If I could do it, I’d do no writing at all. It would be all photographs James Agee
Fotografia. Literatura Fotografia ou, em seus múltiplos começos, daguerreótipo, heliografia, desenho fotogênico... E também, sim, fotografia. Poderíamos dizer que, no final das contas, não importa se a palavra que permaneceu para denominar a invenção que alterou radicalmente a estrutura da arte no século XIX foi “heliografia”, “calótipo”, “daguerreótipo” ou “fotografia”, e que, pelo contrário, o que importa é que essa mídia, quando se tornou conhecida no segundo quarto do século, independentemente de seu nome, foi modificando certos pilares constitutivos da noção da arte. Mas, sim, importa qual palavra ficou, na medida em que cada uma dessas palavras inevitavelmente remete a – e também invariavelmente conjuga – diferentes elementos, atividades, saberes e práticas. E, então, apesar de terem sido utilizadas para designar mais ou menos a mesma atividade e/ ou objeto, cada uma delas delimita um universo diferencial. Nesse sentido, é mais do que mero resultado de, digamos, questões comerciais ou de uma batalha gramatical, ou uma simples casuali-
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dade que tenha sido a palavra “fotografia”, e não uma das outras, a ter atravessado os últimos quase dois séculos como nomenclatura da nova arte de representação. A que se referem esses nomes? A palavra “daguerreótipo” remetia a um corpo empírico e único, ao universo individual de um sujeito e, nesse sentido, à propriedade, enquanto o termo “desenho fotogênico” se referia a um meio de representação já existente, anterior à invenção, o desenho, que enfatizava a imagem e o universo visual, situando a nova mídia dentro de uma tradição pictórica. Universo visual que se acreditava que chegava à sua morte com o advento da nova mídia. O substantivo “fotografia” indicava também como “desenho fotogênico” um meio de representação já existente, mas, ao contrário do anterior, neste caso essa mídia não destacava a primazia do visual – o desenho –, mas sim a do textual – a grafia, a escrita – na nova arte da representação. O que poderia estar indicando, a quais configurações poderia estar respondendo, então, a escolha do nome que havia prendido o novo meio dentro do campo da escrita, dado que, como temos sugerido, o nome, sim, importa?