NEM TUDO ERA VERDADE
N
ada brincou tanto de misturar o real e o fictício quanto as antigas radionovelas, portadoras de um fascínio misterioso capaz de fazer o ouvinte confundir o que era real com o que não era. No rádio, um punhado de grãos de arroz despejado sobre uma folha de jornal era chuva. O papel celofane amassado bem próximo ao microfone era incêndio. O ruído dos lábios em contato com a palma da mão era beijo. Locutor era galã, mesmo que a voz grave e pausada nem de longe permitisse supor ali um sujeito barrigudo, às vezes careca... Entre o final dos anos 1950 e o começo dos anos 1960, os rio-pretenses se deixaram enlevar por essa doce combinação de situações melodramáticas e efeitos sonoros convincentes. A rádio Difusora, mais tarde cassada pelo governo militar, notabilizou-se pela produção de memoráveis radionovelas, transmitidas ao vivo de seu auditório, na Bernardino. A maioria das histórias radiofonizadas era escrita aqui mesmo, por um autor cuja vida, em si, já era uma novela: Lisbino Pinto da Costa, que chegou a Rio Preto para cumprir pena