SEXTA-FEIRA SANTA AO VIVO
J
á houve tempo, acredite, em que feriados como o da Sexta-Feira da Paixão eram realmente “dias de guarda”. Como durante muito tempo a igreja recomendava a seus fiéis que sequer ligassem o rádio, muitas emissoras nem entravam no ar nesse dia, enquanto outras apresentavam uma programação de música sacra. A Rádio Rio Preto PRB-8, por sua vez, programava todo ano a dramatização da Paixão de Cristo ao vivo, direto de seus estúdios na Boa Vista. A radiofonização durava horas. Os principais papéis eram destinados, é claro, aos locutores experientes, mas uma história com tantos personagens requeria o envolvimento de todos os funcionários da emissora, dos operadores de som às meninas do escritório e da portaria. Porém, para essas pessoas sem tanta familiaridade com o microfone, a tarefa de recitar ao vivo mesmo uma pequena fala, às vezes uma única frase, transformava-se em alguma coisa próxima do suplício. Se o tarimbado Alexandre Macedo, o intérprete de Cristo, nem ao menos se preocupava em passar os olhos pelo texto antes de entrar