LÁGRIMAS DE CRISTO
N
o começo, eram só os vizinhos. Em pequenos grupos, eles se aproximavam; alguns se ajoelhavam penitentes, todos rezavam. Mais tarde, começou a chegar gente de todo lado, de bairros próximos e cidades distantes, mulheres armadas com sombrinhas coloridas que as ajudavam a desafiar a inclemência do sol quente; homens trôpegos apoiados em suas bengalas; crianças algazarrentas atravessando a rua sem olhar, advertidas pelos berros das mães preocupadas. Nas semanas seguintes, esse estranho séquito já era uma pequena multidão e nela crescia a representatividade dos desvalidos – uma frota de cadeiras de rodas, muletas e bengalas, gente despejando sobre o gramado coisas como réplicas de braços e pernas feitos em cera, porta-retratos e fotografias de gente nova, gente velha, gente de todo grau de esperança. Estávamos no final dos anos 1960 e todas essas pessoas comprimiam-se no pequeno anel viário que une as ruas Alberto Sufredini e Fernão Dias, contornando a pracinha de onde se projeta, imponente, o monumento do Cristo Redentor, que abre