ANO 11 # mar.abr.mai 2022
Memorial GITANA LIRA, HUGO RODAS E ORLANDO BRITO: VIVOS ESTÃO
Urbe concreta NO SETOR, NA PISCINA, NA COLINA, A CAPITAL SE RESSIGNIFICA
RAFA KALIMANN
Uma mulher real e influente
“Não existe padrão”
Faz-se arte
#Brasília62
O ECOSSISTEMA QUE DOMINA A EUFORIA DO MERCADO
JK E O CANDANGO, DA SAGA ÁRIDA AO CÉU AZUL
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Diretora de Conteúdo Paula Santana Editora-chefe Marcella Oliveira Editora de Criação Chica Magalhães Fotografia Celso Junior e JP Rodrigues Produção Executiva Karine Moreira Lima Pesquisa de Imagens Enaile Nunes Reportagem Daniel Cardozo, Fernanda Moura, Giovanna Pereira, Juliana Eichler, Letícia Cotta, Morillo Carvalho, Pedro Ângelo Cantanhêde, Roberta Pinheiro e Theodora Zaccara Colaboradores Fábio Altman, Isadora Campos, Maria Thereza Laudares, Maurício Lima, Nelson Wilians, Patrícia Justino e Ricardo Medina Revisão Jorge Avelino de Souza Diretor Executivo Rafael Badra Gerente Comercial Will Madson
GPS|BRASÍLIA EDITORA LTDA. www.gpslifetime.com.br
Contato Publicitário José Roberto Silva
SÓCIOS-DIRETORES Rafael Badra Paula Santana
Tiragem 30 mil exemplares Circulação e Distribuição EDPRESS Transporte e Logística
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QUE SEJA LEVE! Números sempre são emblemáticos e de alguma forma nos forçam a fazer algo com seu misticismo. Há pouco celebrávamos dez anos, nos autoproclamando um clássico diante da tenra infância. Agora podemos, quem sabe, mergulhar no simbolismo que anuncia a chegada da trigésima terceira edição, a idade de Jesus Cristo, aquele que tem rosto divino de homem, rosto humano de Deus. É notório que cremos, todos os envolvidos na confecção desta revista, que páginas e pautas aqui descritas e escritas foram tecidas em parceria com nosso criador. Sempre O vimos presente em nossas rotinas. Brincamos que Ele é o editor chefe, cargo máximo de uma publicação. Vivemos mais um momento celebrativo. O trimestre é um convite a exaltar Brasília 62. Nossas páginas sempre se dedicam à convergência de Brasília com o mundo. Somos a plataforma analógica que permite expandir o que o quadradinho muitas vezes guarda para si. Ou não. Pessoas, objetos, códigos. Muito se fala do modus operandi da capital da República, mas pouco se entende sobre quem realmente somos, os pioneiros do sonhador, os discípulos de JK. E permanecer físico em meio ao ecossistema digital, que direciona a comunicação para fronteiras intangíveis, porém poderosíssimas, valida-nos na liberdade de buscar a essência a partir da cir12
cunstância. E assim fazemos da revista GPS objeto vivo da memória candanga nos norteando para nosso único destino: o futuro. Trazemos dois memoriais. Orlando Brito e Hugo Rodas. Buscamos a nostalgia da Colina, da Piscina de Ondas. Entramos na cena urbana do Setor Comercial, referenciamos personagens que nos representam na arte, Taigo Meirelles, José Eduardo Belmonte e Bhaskar. Contamos histórias que merecem ser sabidas. Como a de Rafa Kalimann, nossa capa, cujos números iniciam sua biografia. São mais de 30 milhões de algoritmos ou leads ou audiência ou seguidores… ou pessoas atentas aos seus passos. Nas redes sociais, no streaming, na telinha. É onde Rafa se criou notória. Como? Pelo perfil do mundo atual. Não são personalidades acadêmicas, não são celebridades do cinema que vibram na frequência da multidão phygital. São pessoas normais, cuja realidade vulgar atrai gerações alfabéticas X, Y, Z e alpha. Rafa é assim. Famosa a partir do real. Também estamos nos acomodando neste admirável universo novo, repleto de “metas” e “versos”. Nossa meta é viver longe do julgamento, próximo do amor. E versar a vida com atos a partir dos fatos. Sem cancelamentos. Ah… Espero que curtam nosso novo projeto gráfico assinado por Chica Magalhães. Nós amamos.
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ANO 11 # mar.abr.mai 2022
Rafa Kalimann foi fotografada por Bruna Sussekind com styling de Gi Macedo e beleza de Tainá Talzi
Foto: Celso Junior
Foto: JP Rodrigues
Valentino
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Ensaio Brasília: é sobre isso
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Centro Os setoristas
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Vila Colina: a lírica do Brutalismo
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Resgate Olha a onda, olha a onda... tchá tchá
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Point Vinte anos de felicidade...
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Legado Memória: fotografias não têm culpa Orlando Brito, o fotógrafo do Brasil
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Memória Improviso poético
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Pioneirismo Para Gitana, com amor
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Artigo Brasília, o mundo está aqui
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Artigo O estúpido e a manada
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Justiça Guardiã dos direitos do povo
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Ativismo Um caso sério com Brasília
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Colecionismo Como não amar Amador?
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Cinema Repertório de experiências humanas
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Música Bhaskar, hey mr. DJ
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Teatro James encena
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Décor A soma perfeita
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Estilo Acolhimento, a nova etiqueta social
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Filantropia Elas sonham e realizam
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Leitura A diferença entre vitoriosos e fracassados
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Tecnologia Contos para um mundo virtual
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Saúde Cirurgia plástica: o diagnóstico do sentimento
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Harmonia Sorria, você está sendo cuidado
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Brasiliense Um vizinho fiel
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Prevenção Tecnologia com experiência salvam
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Mercado Os trigêmeos do Noroeste
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Imóveis Soluções customizadas
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Requinte Haus Noroeste: o desejo vertical
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Futuro Solução ao cenário da crise energética
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Capa Rafa Kalimann, uma mulher real e influente
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Foto: Divulgação
Foto: JP Rodrigues
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Tetê Laudares A Nova Realidade
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Realidade Metaverso: a tridimensão do absurdo
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Patrícia Justino Tendências da temporad
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Propósito Pulso da sustentabilidade
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Lar A opulência do mundo Dolce
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Arte O homem pictórico
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Maurício Lima Onde tudo começou
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Modernismo Liberdade, poesia, natureza, estética
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Mostra Vida e morte de Van Gogh
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Doutrina Histórias trançadas
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Diversidade O ecossistema da arte
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Isadora Campos As Maravilhas da Cidade Maravilhosa
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Marcella Oliveira Um respiro dentro da metrópole
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Turismo Destino: ser feliz e mais nada
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Último Suspiro
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BRASÍLIA: É SOBRE ISSO Na celebração em que se reconhece também os 60 anos – a data impelida a ser vivida – nossa capital instiga em cada brasiliense o melhor de nós a partir de seu criador, JK. Ainda em construção, somos todos candangos Por Paula Santana Fotos Celso Junior
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Memorial JK e a lua
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Os Candangos ao final do dia
Até Juscelino Kubitschek descer a rampa do Palácio do Planalto e se jogar nos braços do povo, desnudando-se por completo da ostentação do poder, foram três dias de festa inaugurando Brasília. De baile de Gala a corrida de carros no Eixo Monumental. Os registros acusam três mil convidados oficiais vindos de todas as partes do mundo. Mas somando-se ao povo, aquele que veio do Oiapoque e do Chuí para levantar uma cidade estranha na terra vermelha do Cerrado, era para mais de cento e cinquenta mil pessoas que já viviam no quadradinho, incrédulas com o que outrora vieram para ver tornar-se real.
pranto de alívio, misturado com alegria. Afinal, concretizava-se ali o projeto de toda uma vida, de uma carreira, a realização de uma utopia que nasceu de um presidente que desafiou o impossível. A notória “loucura” como bradavam seus desafetos. Mas JK jamais deixou de dançar, cantar e poetizar sobre sua criação. Inclusive, tirou das brisas de Ipanema Tom Jobim e Vinicius de Moraes para temporada de dez dias nesta aridez, com a missão de compor um dos primeiros registros musicais sobre a capital, a Brasília, Sinfonia da Alvorada, que versava o olhar lírico sobre a Brasília ancestral e a Brasília moderna.
Talvez tenha sido este um dos motivos que fez JK chorar convulsivamente durante a missa que abençoava a capital, um dia antes do 21 de abril. Diziam que era um
Não passariam duas décadas para que os “filhinhos de papai entediados” dessem a identidade musical de Brasília. Eram eles Renato Russo, Dinho Ouro Preto, Philippe Seabra, com
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verticalização. Até a Rainha Elizabeth, em visita à nossa cidade, na 308 Sul, em 1968, revelou encantamento com tal estrutura. Especialmente com os cobogós, originalmente criados em Pernambuco, mas absorvidos por aqui como elemento funcional para administrar luminosidade e ventilação. Obviamente, tornou-se obra de arte. E a capital da República precisava repor para o bioma a área devastada para sua instalação. E assim foi feito. Aos 62 anos, Brasília carrega o título de uma das cidades mais arborizadas do mundo. São atualmente 5,5 milhões de árvores. Muito se fala nos ipês e seus cerca de 250 mil exemplares, mas a variedade de espécies é imensa. Somam cerca de duzentos tipos de árvores, sendo que para moldar a floresta urbana que compõe o DF, são plantadas cem mil espécies nativas do Cerrado todos os anos. Com o passar dos anos, foram criando robustez as quaresmeiras, cambuís, paineiras, jacarandás, cagaitas, bauínias. Sem contar que Brasília é o maior pomar urbano do mundo, sabiam? Pequi, jabuticaba, jaca, manga, limão...
suas bandas de rock de letras realistas no findar da ditadura militar. As chamadas “vozes da Geração Coca-cola”, filhos da revolução, burgueses sem religião que trafegavam pelos blocos do Plano Piloto à Colina, na UnB... por todas as plataformas, ouvindo, tocando, compondo músicas. “A curiosidade intelectual, a lucidez e a urgência desses jovens de Brasília colocaram a capital no mapa cultural brasileiro, mudando para sempre a música popular brasileira”, disse certa vez Philippe Seabra, em entrevista. E o vazio provocado nos aflitos corações, ganhava força arquitetônica na intenção de Lucio Costa ao imaginar uma cidade equilibrada entre céu e terra. Sim, prédios de seis andares, tal qual Paris, eram mais que suficientes para criar o equilíbrio. Brasília teria que ser o avesso da A imagem de Renato Russo no espaço que leva o seu nome
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A Quadra Modelo 308 Sul
Museu Nacional
“Deixemos entregues ao esquecimento e ao juízo da história os que não compreendem e não amaram esta obra” Juscelino Kubitschek
\Nessa toada suave a cidade vem reformatando a sua história. Nem sempre são flores. Certamente, por muitas vezes, JK se aborreceria com descasos, mas seguimos na intenção. À exceção do Teatro Nacional, o Museu de Arte de Brasília (MAB), a Concha Acústica, o Cine Brasília, o Conjunto Fazendinha, a Biblioteca Nacional, o Memorial dos Povos Indígenas e o Museu Vivo da Memória Candanga ganharam merecidos restauros recentes. Coisa boa foi o Catetinho. Projetado por Oscar Niemeyer, o Palácio de Tábuas foi construído em apenas dez dias, em 1956, numa estrutura absolutamente simples, feita de madeira. E que após dois anos fechado, reabriu. E, assim, véi – gíria que se tornou palavra multifuncional no dialeto brasiliense –, cada vez mais eternizamos os coautores desta epopeia da esperança que surgiu em meio a um País que clamava por progresso, desenvolvimento, e cujo símbolo dessa nova identidade nacional recairia exatamente sobre nós. Israel Pinheiro deixou um depoimento a respeito do momento: “Brasília é obra do 22
civismo sadio, de otimismo criador, de ânimo pioneiro, (…) de iniciativas que rasgam os largos caminhos de um futuro que o Brasil reclama com impaciência, com ímpeto jovem, com fome de renovação. O espírito de Brasília é tudo o que há de contrário ao derrotismo sistemático”. Em toda esta saga, os candangos. Sonhadores de braço forte. JK queria um símbolo que representasse união, força e equilíbrio. Encomendou ao italiano Bruno Giorgi uma escultura para ser instalada na convergência do Executivo, Legislativo e Judiciário: a Praça dos Três Poderes. A peça em bronze com oito metros de altura chamava-se Os Guerreiros. Mas as duas pessoas se abraçando tornaram-se tão emblemáticas que informalmente passaram a ser chamados de Os Candangos, retrato fiel do povo que elegeu Brasília como terra de leite e mel. De alguma forma, reconheciam-se guerreiros em luta. E assim chegamos aos 22.630 mil de dias de existência. Que saga, não? Como dizia dona Julia, mãe de JK: “Só o Nonô mesmo seria capaz de fazer tudo isso”.
A florada dos ipês rosas
Os cobogós nos prédios residenciais
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C e n t r o
A ocupação da urbe Brasília transforma o centro da capital no encontro da diversidade, da arte e do empreendedorismo. Uma desconstrução do quadradinho provocada pela galera do No Setor
OS SETORISTAS Por Morillo Carvalho Fotos JP Rodrigues
Se você fechar os olhos agora e trouxer à memória as imagens do Setor Comercial Sul, posso adivinhar o que você pensaria: agito, vaivém de pessoas, lotação máxima dos estacionamentos, lanchonetes baratas, escritórios, trânsito. Acertei? Agora, pense neste mesmo Setor aos domingos… A pacatez e o deserto transformam o local em centro fantasma, numa cidade que, ao contrário, pulsa nas extremidades que delimitam o local: na ponta de baixo está o Eixão, que é todo dedicado ao lazer neste dia da semana. Na ponta de cima do Setor está o Parque da Cidade, pulsando a efervescência das famílias, ora no foguetinho do Ana Lídia, ora no Nicolândia. Mas desde o fim de 2021 foi diferente… Uma iniciativa deu ao local cor, movimento, som e pulsão: a Feira No Setor. De certa maneira, estar neste ambiente é sentir-se como em uma feira de centro de qualquer outra capital do País. É se sentir numa “cidade normal”, o que é estranho ao brasiliense, já que se há algo universal a ser dito sobre Brasília é que não é – mesmo – uma cidade comum. E se é ótimo viver num lugar tão diferente, é ótimo também se sentir confortado pela normalidade da urbe brasileira. A feira é parte de uma mudança que o Setor Comercial Sul experimenta pela ação do No Setor – instituto que dá 24
nome ao evento e que protagoniza uma diversidade de ações que promovem o local como polo cultural do DF. Já há alguns anos aquela parte da cidade experimenta uma transformação inédita. Desde então, eventos culturais, iniciativas e ideias pipocam ao mesmo tempo em que se observa a chegada de novas ações comerciais, edifícios inteiros revitalizam suas fachadas e o governo debate até mesmo uma mudança das normas locais para permitir residências. Cenários que jamais seriam imagináveis antes de os jovens que começaram a realizar eventos noturnos apostarem nisso.
Multiculturalidade Pausa para um café no carrinho da Confeitaria Griô, do casal Adriana Caitano e Artur Ribeiro. “A gente buscou um nome que tinha a ver com as nossas origens, a nossa ancestralidade. E queríamos deixar marcado que é afroempreendedorismo, que somos uma família negra e queremos incentivar mais e mais pessoas negras a ascenderem. ‘Griô’, na cultura africana, quer dizer, mais ou menos, ‘contador de história’”, conta Adriana.
Nanãn Mattos dá aula de danças afro
Se sua praia for algo mais, digamos, “maiores de 18 anos”, a dica é a barraca ao lado, de kombuchas. As kombuchas em si não são alcoólicas, mas ali se faz drinks com elas. E se quer consumir produtos com história... Ande mais uma casa, ou melhor, barraca: a Oca Agroecológica. Coletivo que trabalha com agroflorestas e produtos originários de famílias indígenas e kalungas do Distrito Federal e do Entorno.
Adriana e Artur, da Confeitaria Griô
cas ou do Estado, e queríamos levar para um lado menos sério, mais descontraído da cidade”, defende Diogo Pipas, um dos idealizadores. A ideia da Feira é, portanto, promover um momento de multiculturalidade. Há inúmeras atrações no intervalo entre as nove horas da manhã e as seis da tarde, o que faz com que o clima seja de festa. E o melhor: festa na rua, em ambiente aberto, arejado e espaçoso. Por falar nas atrações, lá estava Nanan Mattos, multiartista brasiliense, conduzindo um aulão de danças afrobrasileiras, guiada por um percussionista, no dia de nossa visita. Nanda Picorelli, produtora de kombuchas
Pensou que não ia ter “brusinha” nessa reportagem? Pensou errado: há uma área da feira toda dedicada a roupas, objetos e artesanias. Caso da Candanguice, de camisetas e souvenires inspirados em Brasília e fazendo sátiras com as marcas. “As pessoas têm uma identificação rápida com logomarcas, e trazer essa aproximação com Brasília foi uma forma descontraída. Infelizmente, muitas vezes nosso patrimônio remete diretamente a questões polítiDiogo Pipas e Caio Porto, da Candanguice
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Apresentação de percussão, grafite e acarajé dão o tom da feira, coordenada por Caio Dutra (acima, à direita)
Alguns passos mais, sobe o perfume do dendê fervido, tostando a casca dos bolinhos de acarajé. Ao lado, uma barraca com imensa variedade de orgânicos. Já que os sentidos estão aflorados, é hora de contemplar a imensa galeria de arte urbana de Brasília em que se transformou aquele local, por iniciativa do Comitê do Grafite do DF – mais de cem artistas deram cor e vida ao espaço que, há poucos anos, foi cenário de um desabamento. Foi ali que paramos para conversar com o Caio Dutra, presidente do Instituto No Setor e devoto do local há pelo menos sete anos. “Nosso propósito é a transformação do Setor Comercial Sul como um todo e também a perspectiva de termos uma feira de centro em Brasília. Quando você vai para Porto Alegre tem o Brique da Redenção, é uma feira circular no centro centenário. Em Belo Horizonte tem feira de centro. Existe em todas as grandes capitais. Aqui em Brasília a gente tem algumas, o próprio Ceasa, mas que são isoladas ou pequenas, de quadra, de comunidade. A ideia é criar essa cultura de as pessoas virem para o centro da cidade”, conclui Dutra. @nosetor
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Vi l a
COLINA: A LÍRICA DO BRUTALISMO
Por Morillo Carvalho Fotos JP Rodrigues
Colina é a pequena elevação de um terreno, menor que uma montanha. Por essa definição, dá para imaginar o motivo pelo qual os blocos de apartamentos da Universidade de Brasília (UnB) foram batizados assim. Se você sair do centro nervoso da entidade, o Instituto Central de Ciências (ICC), mais conhecido como Minhocão, vai perceber que subiu a rua até chegar aos prédios. Uma colina mesmo. 28
Quem passa por eles raramente vai ter a vista golpeada pelos elementos arquitetônicos ou compreender que aquelas construções foram revolucionárias no modo de se levantar edifícios em pouco tempo. Sem entrar num dos apartamentos, mal saberá que até mesmo a proposta de desconstruir o conceito rígido de planta baixa tem ali: a ideia era que cada morador fizesse a divisão interna dos ambientes como bem entendesse. Assim surgia um lugar de pura inventividade e poesia – afinal, poucos anos após construída, a Colina seria celeiro do rock made in Brasília.
O expoente arquiteto Lelé nos anos 60 não imaginava que o aglomerado de concreto que abriga profissionais da UnB se transformaria no maior celeiro cultural de Brasília. Das artes ao rock
Lelé João Filgueiras Lima, o Lelé, tinha 24 anos e estava recém-formado em Arquitetura quando ficou sabendo que o local onde trabalhava construiria parte de Brasília. Prontificou-se a vir para a nova capital. A “firma” era o Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Bancários (IAPB), no Rio de Janeiro. Logo que chegou, viu-se diante do desafio de criar uma mini cidade na 108 Sul, a primeira quadra: ali deveriam viver todos os operários, técnicos, engenheiros, e em pavilhões com refeitório, lavanderia... A solução adotada: módulos de concreto que já formavam vigas, lajes, paredes prontas. Em pouco tempo, esse método se transformou na principal característica de seu trabalho. E foi o que ele usou nas primeiras obras com sua assinatura: os quatro blocos da Colina, agora chamados de Colina Velha, construídos entre 1963 e 1965. Foram as primeiras construções do País a usar a técnica do concreto pré-moldado, e com a chancela de Oscar Niemeyer. Este método encontra significado em uma corrente estética da arquitetura: o Brutalismo. A proposta da corrente brutalista é valorizar as estruturas, expondo-as, ao invés de escondê-las. Assim, ficam aparentes o concreto armado, as vigas, os veios hidráulicos e elétricos.
Se você reparar bem, os prédios da Colina se parecem com jogos de encaixar: as vigas se entrelaçam de modo a suportar uma laje já pronta, chamada de laje nervurada, e até mesmo pinos de metal dão o arremate a cada andar. Isso vale para os quatro primeiros blocos e também para os outros sete – do E ao K – que foram construídos depois, até 1998. A diferença é que os últimos, chamados de Colina Nova, têm seis andares, enquanto os primeiros têm apenas três – a exceção é o bloco K, que também tem três e é a chamada “Casa do Estudante Universitário – Pós-Graduação”. Elementos queridos de Oscar – e por sugestão dele próprio – também estão presentes na obra do Lelé, como os cobogós, que revestem as fachadas “de serviço”, enquanto esquadrias de vidro que dão vista para o Lago Paranoá recobrem as fachadas opostas, as “da frente”. Se já de cara a Colina guardava tantas histórias, imagina depois que os moradores começaram a chegar? Entrevistamos três: o bibliotecário e editor Briquet de Lemos, pai de Fê e Flávio (do Capital Inicial), e os diretores teatrais Hugo Rodas e Alice Stefânia, atuais residentes do local.
Nos onze prédios da Colina, podem viver professores e servidores da UnB. Apenas no Bloco K podem morar alunos de pós-graduação. São 482 apartamentos no total, com uma população média de 1,5 mil moradores, mas volante, pois todos os meses chegam e saem estudantes e professores. Os alugueis variam: alunos de intercâmbio podem alugar quartos nos apartamentos do bloco K por R$ 400, enquanto que servidores e professores podem pagar R$ 2,5 mil nos de quatro quartos. São valores bem mais convidativos do que os apartamentos que a UnB dispõe no Plano Piloto, que chegam a custar até R$ 8,1 mil. A universidade tem, no total, 1,5 mil imóveis, que geram R$ 46,5 milhões em recursos anuais para a instituição – mas parte é usada para a manutenção deles próprios.
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Briquet de Lemos
“A convivência com pessoas muito interessantes” O piauiense Antonio Agenor Briquet de Lemos levava uma vida sossegada no Rio de Janeiro, onde era bibliotecário da Organização Panamericana de Saúde (Opas), com a mulher, Lúcia, e os filhos. Em 1967, o curso de Biblioteconomia da UnB enfrentava uma crise séria devido à falta de professores, que haviam pedido demissão coletiva dois anos antes por causa do endurecimento da ditadura. Foi quando conheceu o criador do curso, num congresso em São Paulo, o professor Edson Reale da Fonseca, que o convidou para vir trabalhar em Brasília.
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Quando chegou à capital, em 1968, deparou-se com aluguéis que consumiriam mais da metade do seu salário. Um aluno deu a dica: “por que não vai morar na Colina? Eu perguntei ‘que colina?’ Já imaginei algo como a colina dos homens maus, título de filme de faroeste”, lembra, aos risos. Pleiteou um apartamento e ali permaneceria até o início dos anos 80, para mudar-se para o Lago Norte, na casa que construiu e vive até hoje. “A Colina permitiu a convivência com pessoas muito interessantes. Muitos jovens que nos davam a oportunidade de ver o mundo de outra forma. Meus filhos gostavam, e puderam conviver com os filhos de nossos vizinhos – um era geólogo, o outro, antropólogo, tinham médicos, professores de artes”, diz. Incentivados pelos pais, Felipe (o Fê), Flávio e Helena (a irmã que não entrou para o rock) tomaram gosto pela música. A mãe era apaixonada por clássicos eruditos, e havia sido bailarina. Debaixo da Colina, vieram os primeiros batuques da bateria do Fê. “Tínhamos um vizinho baterista e o Fê se aproximou dele, que deu algumas dicas. Então, ele ficava exercitando, embaixo do bloco, sentado naqueles bancos de concreto, com baquetas e tábuas revestidas de borracha”, conta. Fê e Flávio até entraram para Psicologia na UnB, mas largaram porque no caminho vieram o Aborto Elétrico e, depois, o Capital Inicial. Entre aprender a tocar e ter um grupo de roqueiros jovens ao redor, instigados pelo músico Toninho Maya, foi um pulo: estava formada a Turma da Colina, que deu o start no rock da capital.
Hugo Rodas
“Me permitam morrer na Colina” O famoso diretor uruguaio tem 82 anos e está radicado no Brasil há mais de 40, e quase todo este tempo em Brasília. Há 22 anos, vive na Colina. Seu acolhedor e claríssimo apartamento de três quartos é um ateliê de artista multimídia: há memórias, quadros de amigos e que ele próprio pintou, piano e lugar para descanso na varanda. “Minha casa realmente é um lugar de sossego. Pouquíssimas pessoas vêm aqui. É um lugar de repouso, de refúgio”, conta. É, também, seu espaço criativo: “quando eu durmo, muitas vezes eu acordo e crio. É o meu laboratório, é onde eu vivo”. Nascido em Colônia de Sacramento e descendente de italianos, Hugo guarda um espaço especial na sala: uma mesa, em que coleciona objetos de toda a família. São da casa da avó, da tia, da mãe. “Quando eu tinha seis anos dizia pra minha tia que quando ela morresse seria meu”, diz sobre um jarro com copinhos que ela usava para servir cerveja. Agora é Hugo que
tem pensado em sua própria partida, porém, se puder escolher como, já sabe onde quer estar: “em Brasília e na Colina”. Chegamos a este assunto num instante em que ele refletia sobre a pandemia e os amigos que perdeu para a covid-19. Todavia a escolha não tem razões melancólicas não: “a Colina é um lugar muito tranquilo, muito educado. É quase um pequeno paraíso, um pequeno reduto de tranquilidade. Tão inacreditável que tenho um tucano que vive aqui a comer mamão. Você desce e está cheio de macaquinhos, é um lugar muito original. Me sinto totalmente cuidado aqui. Abençoado de estar aqui. Tanto que me dá um pouco de pavor pensar em sair daqui, me dá um pouco de medo. Me permitam morrer na Colina”, pede, sorrindo. Hugo Rodas morreu em 13 de abril de 2022. A entrevista havia sido feita em 2021.
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Alice Stefânia
“Um centro de pensamento. E também esse celeiro de tanta coisa” Atriz, professora da UnB, diretora e pesquisadora cênica, Alice Stefania vive na Colina há seis anos. No apartamento de três quartos vivem ela, o filho de 23 anos e a filha de 19. E muitas memórias afetivas: a mãe, arquiteta aposentada, trabalhou com algumas reformas na Colina. “Tem essa coisa toda da história da Colina, de ser um centro de pensamento. E também esse celeiro de tanta coisa, de rock... O fato de estar dentro do campus, a sensação de estar um pouco no campo estando na cidade”, conta.
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Quando se tornou professora efetiva da UnB, em 2009, pleiteou viver na Colina, ao contrário de muitos colegas que preferem apartamentos em outros lugares. Fazendo um paralelo com seus trabalhos acadêmicos, pode-se dizer que sua vida, ali, é como uma de suas performances. Perceba o movimento contido na descrição que ela própria faz de casa: “é um espaço de descanso, mas é de criação, porque muitos ensaios do grupo de pesquisa têm sido online e partem também pra exploração desse ambiente. Tem sido meu espaço de lazer, a gente começou um projeto familiar de fazer música, tocando violão, cantando... A gente senta aqui, toma um vinho, vê a lua nascer”. Quer saber o cenário? Quadros que se espalham pela sala, como numa galeria, com imagens dela própria – “aqui sou eu numa performance na 508 Sul, no [espetáculo] Corpos Informáticos”, mostra. Este trabalho é dirigido por Bia Medeiros e explora performances corporais e projeções nos corpos humanos – e cria instalações como as kombis coloridas no descampado da UnB, que podem ser vistas da L4 Norte. Há, ainda na sala, quadros de Wagner Hermushe, Nelson Maravalhas, Givanildo... Uma completa performance viva!
Re s g a t e
Fotos: Arquivo Público do DF
Após vinte e quatro anos de nostalgia, o Parque da Cidade recupera a fantasiosa Piscina de Ondas, que por décadas refrescou o coração árido da capital recém-construída
OLHA A ONDA, OLHA A ONDA... TCHÁ TCHÁ Por Theodora Zaccara
A grade de ferro é alta, mas tem vigas espaçadas. Do lado de fora, pés inquietos batem de ansiedade esperando por uma vaga – não há, lotação máxima. Juntam-se famílias de pais deslumbrados, filhos agitados, jovens de biquíni e sunga, cenário praiano. “As pessoas faziam fila na porta esperando para entrar, eram dias sempre muito movimentados”, lembra Silvestre Rodrigues da Silva, administrador do Parque da Cidade. Passado o portão, cabelos molhados secam ao sol quente do Planalto Central. Em mãos: picolés, cervejas, toalhas, cigarros de palha, uma água de coco… e, no horizonte, a onda quebra, depois de meia hora de calma. 34
É 1977, ou 78, o presente é rico em música, amor e paz, e o futuro, que costuma ser tão incerto, chegou: no meio do Cerrado brasileiro, nasceu uma praia. A Piscina de Ondas do Parque da Cidade, uma vez batizada Piscina com Ondas, foi inaugurada prometendo redimir aquele que era, na boca de tantos, o único defeito da capital federal: “não tem praia!”. Entre mergulhos profundos, cangas no gramado e moças de topless, a cultura brasiliense – que ainda tomava forma – misturava-se à carioca, à nordestina, à balneária.
Projeto: Secretaria de Esporte e Lazer do DF
Projeto da nova Piscina de Ondas
Foram quase duas décadas de um brilho dourado em Brasília, quando, em 1997, enquanto Titanic de Steven Spielberg lotava as salas de cinemas, a ironia levava com a maré o nosso mar particular. “Me senti muito triste. Naquela época, todos que vinham de fora queriam conhecer a tal Piscina!” Vinte e quatro anos passados, a lembrança envelhece em tons de sépia na mente de quem viveu a época de uma Brasília litoral. “Os avós contaram para os pais, que contaram para os netos, e hoje muitos jovens pedem pela reativação do espaço”, conta o gestor. “Buscamos muito a nossa comunidade, e ela sempre deixou esse desejo muito claro”. Água mole, pedra dura… Sim, a espera foi longa, mas hoje a notícia já tem caráter oficial: extra! extra! As turbinas irão ligar novamente.
Novos tempos A iniciativa, que levanta as sobrancelhas de quem não antecipava o triunfo desse retorno, tem envolvimento da Secretária do Esporte e Lazer, do gabinete da deputada Celina Leão e da equipe do governador Ibaneis Rocha. So-
O clima praiano promete retorno em breve
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Foto: Arquivo Público do DF
A Piscina de Ondas foi sucesso nos anos 80
mados à administração do Parque, o caldeirão de forças aprovou o projeto da Construtora Conref – e as obras estão previstas para tomar chão ainda em 2022. Além de reforma completa na estrutura da piscina – que, segundo estimativas, exigirá um investimento mínimo de R$ 6 milhões –, o novo plano expande a proposta e presenteia o Parque com um complexo aquático – sim, tal qual os destinos tão atrativos do Nordeste brasileiro. “Teremos toboágua, passeios de boia e vários outros brinquedos da espécie”, desenha Silvestre. “Tomamos como inspiração os resorts que são referência no País, será um grande atrativo para toda a família”, conclui. Ao todo, conjectura-se que R$ 14 milhões serão aplicados na operação total. Muitos detalhes ainda serão abordados em fases futuras, mas o que é garantido é a satisfação dos frequentadores e o nostálgico brilho no olho de quem esperou quase um quarto de século para molhar os pés no mar da capital. “Eventos de cultura e entretenimento ainda serão muito bem-vindos, estamos sempre abrindo espaço para as atividades que enriqueçam a nossa comunidade”, tranquiliza Rodrigues, relembrando encontros festivos, como o Festival Ocupa!. Pensado pelo grupo de sócios do Mimobar, a iniciativa debutou em setembro de 2019, resgatando todo o brilho da década de 1980, com baladas coloridas e shows de agito. 36
Para Giselle Ferreira, secretária de Esporte e Lazer do DF, o momento é de caráter emocionante. “Além de ser um espaço que faz parte da herança da cidade, a Piscina com Ondas também vai funcionar como mais um local para a prática de esporte e lazer, tão importante nos dias atuais. Além de ser mais um polo de geração de renda e de movimentação da economia na cidade”. Executado em três fases, o plano tem início com a recuperação do espaço, investimento de R$ 8 milhões, de emenda parlamentar federal Celina Leão. Em sequência, dar-se-á a construção do chamado Rio Lento, uma bacia em formato fluvial com leves ondulações. Por fim, a última instância visa dar vida ao espaço kids, rico em atividades, brinquedos e entretenimento para os pequenos. “O Parque da Cidade se mistura com a história de Brasília, do DF, faz parte das lembranças de muitas pessoas; e estamos trazendo de volta para a população seus espaços de recreação e de prática esportiva. Essa reforma se soma a inúmeras ações da SEL para a democratização do esporte e do lazer para toda a população do DF”, destaca a secretária. O clima é de ansiosa espera e alta expectativa, com uma forte vontade brasiliense de tirar a poeira dos biquínis, desentortar os bonés e banhar-se em filtro solar. E, no horizonte, a onda quebra, depois de vinte e quatro anos de calmaria.
Po i n t
VINTE ANOS DE FELICIDADE... ... e entrosamento com o brasiliense. O que gosta de natureza, o que busca entretenimento, o que aprecia gastronomia. O Pontão é unanimidade: agrada moradores e turistas sem distinção Por Giovanna Pereira Fotos: Bento Viana
No meio do Cerrado, um lago se encheu ainda no sonho profético de Dom Bosco e que, antes mesmo da inauguração da capital, já se tornara “moldura líquida” de Brasília, como enfatizava Juscelino Kubistchek. Pronto, tínhamos um “mar”. Uma das pontes que liga o Plano Piloto ao Lago Sul, a Costa e Silva, foi desenhada por Oscar Niemeyer, que fez questão de a projetar “como uma andorinha tocando a água, apenas a pousar na superfície”. Aos seus pés e às margens do Lago Paranoá, surgiria, anos depois, a “nossa praia”: o Pontão do Lago Sul. Hoje, é impossível imaginar Brasília sem aquele convidativo portal imponente que tornou-se cartão-postal da cidade. E pensar que ele tem apenas vinte anos de idade... O sonho surgiu anos antes. O complexo de gastronomia e entretenimento ao ar livre começou a ser imaginado ainda em 1996, com a publicação do Edital de Concorrência Pública pela Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap). O empreendimento é uma Concessão de Direito Real de Uso com participação da Terracap e do Governo do Distrito Federal (GDF) e tem a Empresa Sul-Americana de Montagens S/A (EMSA) como cessionária. Mas foi em março de 2002 que o espaço, de 134 mil metros quadrados, ganhou vida.
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Parte do Projeto Orla, o Pontão foi construído para desenvolver o turismo em Brasília, mas a cidade ganhou muito mais. Situado no Lago Sul, uma das regiões administrativas nobres da cidade, o local tornou-se reduto para todas as tribos. De surfistas a gourmands. Dos boêmios aos atletas. Point de barcos e bicicletas. De solteiros a enamorados. Quem não gosta de passear pelo seu calçadão de 1,2 mil metros em um dia de sol? Se a mistura do lago, céu e sol já encantam, acrescente a isso toques de cultura, gastronomia, lazer, esporte. Do Lago Paranoá, píeres dão acesso a todos os veículos náuticos. Uma verdadeira marina. Vale observar o espetáculo de manobras de amadores e profissionais de esportes aquáticos. Ali há uma das mais belas vistas do horizonte brasiliense. Pode ser a contemplação da água branda com o céu de cores. Pode ser a admiração dos monumentos no centro da cidade. A dica é sempre ficar para o pôr do sol.
Diversa diversão “Tô na dúvida!”. “Então vamos no Pontão, que a gente escolhe lá”. Fausto & Manoel, Geléia no Container, Gran Bier, KiosKids, La Paleta, Manzuá, Med Cuisine & Club, Mormaii Surf Bar, Oakberry Açaí Bowls, Quiosque Náutico, Sallva Bar & Ristorante, Same Same, Soho Restaurante, Stonia Ice Creamland e Wine Garden oferecem experiências gastronômicas com vista privilegiada, happy hour agitado e noites fervilhantes. O Gran Bier foi o primeiro a aportar no complexo, mas ali outras casas somam-se à diversidade, como o Mormaii Surf Bar, clima praiano que se tornou sede do “movimento dos sem-praia”, uma brincadeira bem-humorada dos seus frequentadores. Sempre se reinventando, as casas reforçam o bem-estar dos frequentadores, em geral assíduos:
“Temos vários projetos e novidades preparados para 2022 e início de 2023, como a chegada de uma nova casa do grupo Chicago Prime”, conta Sandra Campos, administradora do local há mais de 17 anos. Festivais gastronômicos são o forte do Pontão. Ao menos quatro por ano. Festas em atmosfera cool também são frequentes. Se for lá, deve ser bom. Produtores e ativistas culturais têm no local uma das preciosidades de Brasília. Tem estacionamento, é bonito, há atividades de lazer, enaltece a cidade e estimula o melhor lado das pessoas, que é o bem-estar.
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Vista aérea da orla do Pontão
Fotos: Bento Viana
O pôr do sol no Lago Paranoá
O fato é: o Pontão cumpre muito bem o seu papel fim, ao ser palco de cultura, entretenimento e lazer. Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de Brasília? Houve vários concertos. Cinema a céu aberto? Foi sucesso. Campeonatos esportivos? Sempre tem. Encontros de motociclistas? Uma animação. Grandes shows? Agenda disputada. “Fazemos um trabalho constante para que seja um espaço do brasiliense, para que ele se sinta em casa, e para que o turista retorne. É muito difícil equalizar esses dois pilares: ser atrativo para o turismo e para quem mora na cidade, e, orgulhosamente, o Pontão atende. É um local presente na memória afetiva do brasiliense e do turista, o que muito nos orgulha”, diz Sandra. Nesses vinte anos de história, as memórias são incontáveis, mas algumas marcam de um jeito diferente. “Vivemos momentos especiais no Pontão, a exemplo da Copa do Mundo do Brasil, em 2014. Recebemos um fluxo de visitantes nunca visto, um sucesso de ações e público do mundo inteiro que nos deu uma visibilidade internacional ainda maior e anteriormente nunca alcançada, mesmo o Pontão sediando competições e shows internacionais. A passagem da tocha olímpica, em 2016, no complexo, também foi especial”, lembra.
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A Ponte Costa e Silva, projetada por Oscar Niemeyer
Nos últimos três anos, o local sediou eventos que atraíram visitantes de vários estados do País e do exterior, entre os quais, eventos esportivos importantes, a exemplo do Campeonato Mormaii Sul-Americano de Wake Surf, Challenge Brasil, Aloha, GP Extreme, Festival de Triathlon Homem de Ferro e Caixa Triday Triathlon, Circuito Petrobrás Rei e Rainha do Mar, pela primeira vez foi disputado em água doce e não no mar. “Nos sentimos honrados com a escolha e pela adesão e aprovação dos competidores de todos os cantos do País”, fala saudosa a gestora. Já anualmente, outras ações especiais marcam o espaço, como a tradicional decoração de Natal, que se tornou ponto de visitação de milhares de pessoas e uma das principais comemorações natalinas da cidade. Ações sociais também fazem parte no DNA do Pontão e são desenvolvidas, muitas vezes, em parceria com instituições em campanhas para doação de alimentos e agasalhos, e de conscientização de ações em prol da saúde, como ser receptora da campanha de vacinação em parceria com a Secretaria de Saúde. Eventos para a comunidade agradam e muito. O Sesc Seresta ou a Semana do Lago Limpo. O que esperar daqui para a frente? A resposta imediata é: “a certeza de ainda mais memórias construídas juntas”. @pontaodolagosul | www.pontao.com.br
Parabéns, Brasília! Temos orgulho de construir a nossa história ao seu lado.
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L e g a d o
Ao longo de cinco décadas, Orlando Brito se transformou no mais importante repórter fotográfico de um Brasil que acabara de mergulhar na ditadura militar e só voltaria à democracia 21 anos depois
MEMÓRIA: FOTOGRAFIAS NÃO TÊM CULPA. ORLANDO BRITO, O FOTÓGRAFO DO BRASIL Por Fábio Altman
Pelas lentes de Brito passaram todos os presidentes da República – de Castello Branco a Jair Bolsonaro. É possível contar a trajetória do País pelas lentes de Brito, entre o espanto e o incômodo, entre o sorriso aberto e a emoção delicada. 44
A lista de fotografias marcantes é infindável. O soldado em guarda à frente do Congresso Nacional em 13 de dezembro de 1968, dia da promulgação do AI-5. A silhueta de Ulysses Guimarães e seu perfil inconfundível. João Figueiredo de terno e gravata, cercado de militares. Geisel tomando banho de mar. A dança das cadeiras no gabinete do terceiro andar do
Palácio do Planalto, com Figueiredo, delfim Netto e os generais Newton Cruz e Golbery do Couto e Silva. Os primeiros passos de Lula na política. A intimidade de Collor, Itamar e FHC. As diretas já. Tancredo no caixão. Sarney ao pé de uma frondosa árvore nos jardins do Alvorada. Dilma, Temer.
A escultural torcida do Corinthians
Orlando Brito Brito tinha especial apreço por uma foto feita dele – e não por ele. No retrato, registrado muito possivelmente por um colega, ele aparece ao lado de Pelé em 1965, antes de um amistoso. Pelé tinha 25 anos. Brito, 15. Ambos olham firme para a lente que os flagrava. O Rei do futebol veste o imaculado uniforme branco dos Santos. Brito tem a mão esquerda na cintura – uma postura que manteria por toda a vida, como uma marca registrada. A mão direita segura uma máquina fotográfica.
O ex-presidente Fernando Collor cortando os cabelos
‘’Minha primeira câmara, minha primeira Leica. Ainda a tenho. Hoje são nove Leicas, três já digitais. Uma M2, com tele 135mm, uma 50 e uma angular”, Brito legendou a cena, 50 anos depois, num post no Facebook. 45
Um de seus bons companheiros de carreira comentaria, ao saber da morte do colega: “só quem o conheceu em ação sabe o que era essa combinação de talento, garra, elegância, calma diante do perigo, malandragem e inteligência”. Em Brasília, a soma de todos esses atributos instalou Brito em posição que nenhum outro profissional da imprensa conseguiria: ele era capaz de estar próximo o suficiente dos políticos, que lhe abriam as portas, mas na medida certa para manter o olhar crítico. Uma postura não influenciava a outra, em cuidadoso balé. Fotografou Fernando Collor, então presidente eleito, debaixo d’água, na piscina da Casa da Dinda, em proximidade improvável e cena insólita – depois conseguiria, por meio de ajuda de um de seus milhões de amigos, as fotos do babilônico jardim da residência do presidente, publicadas em VEJA, em 1992, e que acelerariam a queda do aventureiro.
Manifestação na Esplanada dos Ministérios em 1971
Filho de um casal de agricultores mineiros que fora tentar a vida na capital inventada por Juscelino Kubitscheck, Brito tinha acabado de começar a trabalhar como laboratorista na Última Hora de Samuel Wainer. O encontro com Pelé, intuía, poderia ser o primeiro grande passo da carreira com a qual sonhava. O resto é história, nas páginas de O Globo, Jornal do Brasil, VEJA, Caras e em sua própria agência, OBrito News. Ao longo dessa carreira, as fotografias de Brito não são meros registros de oportunidade, o “instante preciso” a que se referiu Henri Cartier-Bresson. Elas sempre têm algo a mais. De cada cena ele extraía a temperatura exata do momento político que as cercava, em retratos que serviam como registro coletivo de um tempo e dos dilemas individuais de seus personagens. 46
Em texto escrito para o livro Poder – Glória e Solidão, uma antologia lançada em 2002 e que pede uma reedição urgente, Brito definiu seu trabalho: “Cada protagonista da história deixa suas digitais impressas na própria história. As fotos aqui publicadas possibilitam um retrospecto visual de todos eles dentro do mundo do poder, numa sequência lógica, singular, quase didática, às vezes triste, às vezes bem humorada e até patética. Mas sempre foi fiel. Fotografias não têm culpa. São derivadas de algo existente, são reproduções de alguma coisa visível. Não se fotografa o nada”. Como não se fotograva o nada, Brito foi o mestre da paciência com oportunismo, capaz de colar às imagens um tanto de ironia, a crueza quando era preciso aridez, a ternura quando se exigia algum sentimentalismo, e a realidade – transportava para as fotografias seu próprio jeito de ser.
Com João Figueiredo foi o avesso: nunca um general da ditadura fora tão ostensivamente acompanhado por uma câmara afeita a registrar a preferência do mandachuva por cavalos a gente. Depois, quando Figueiredo deixou o Planalto, Brito começou a marcar conversas semanais com o ex-presidente em um banco da praia de São Conrado, em relatos anotados em pequenos pedaços de papel e que nunca vieram a público. Fotografara o poder, e agora ouvia a solidão de quem já não mandava e pedira para ser esquecido. Mas Brito não esquecia. Ao conseguir aquelas fotos do jardim da Casa da Dinda e ao ouvir Figueiredo, ele exercia uma outra faceta: a de repórter puro sangue. Não seria exagero sacramentar: Brito foi um dos grandes repórteres da imprensa brasileira. Fotografava e, simultaneamente, sabia onde estava o furo. Cabe aqui, portanto, contar um de seus feitos sem que tivesse apertado o botão da Leica – e com o toque da boa e inofensiva malandragem. Foi no início de 1979. O então ministro da Justiça, Petrônio Portella, um dos principais articuladores da anistia que representaria o fim
melhor dos jornalistas, mas também o mais carinhoso, o mais acolhedor, o mais cuidadoso no trato com os jovens que decidiam pela carreira. A conversa com Brito, depois de uma reportagem, iluminava os caminhos. Era sempre ele quem dizia: “a notícia está aqui”. E estava. Leal e amigo, fazia de tudo para ajudar quem o acompanhava de caneta e bloquinho. Numa viagem em 1990 para cobrir Fernando Collor na Espanha, fiz “dupla” com Brito, ambos em VEJA. Um certo dia ele me chamou de lado e disse: “Hoje tem uma sessão de fotos lá dentro do palácio, com o rei e a rainha – mas só fotógrafos podem entrar. Faz o seguinte: pega essa minha máquina, põe no pescoço, finge ser fotógrafo e vem comigo”. E assim foi. A generosidade talvez tenha sido a grande marca de Brito – e foi ela, não há dúvida, que o levou a erguer um edifício profissional inigualável, o Brasil em preto e branco e cores. Generosidade, aliás, é o que exala de um trabalho menos conhecido de Brito, Senhoras e Senhores, de 1992, feito a partir de uma bolsa da Fundação Vitae. Nele, fotografou pessoas com mais de 80 anos. Nas sessões de foto, levava um tecido vermelho e pedia aos personagens que o colocassem onde lhes parecesse mais conveniente. Batia as fotos, analógicas, então – e em seguida, fazia três ou quatro perguntas. No caso de Paulo Gracindo, virou toalha de mesa. Para Dom Hélder Câmara, um biombo. Ulysses Guimarães o pôs como colcha na cama. A obra O Menino do Planalto
da ditadura, reunia em seu gabinete na Esplanada dos Ministérios uma penca de lideranças do Congresso para negociar, e depois apresentar, o texto final do que seria a Lei da Anistia. Na sala lotada estavam o repórter Etevaldo Dias e Brito, que trabalhavam para O Globo. Aproveitando-se de uma distração de Petrônio, que deixara o documento em cima do sofá, roubaram o texto original. Brito sentou em cima do documento – que no dia seguinte seria aprovado
pelo Conselho de Segurança Nacional – e sem que ninguém se desse conta colocou-o em sua maleta de fotógrafo. Quando Petrônio percebeu o sumiço da papelada, mandou revistar os jornalistas, que protestaram. Na manhã seguinte, O Globo dava a manchete em letras garrafais: O Globo divulga o projeto da Anistia. A proximidade com os poderosos e o sucesso profissional nunca tiraram Brito do trilho que estabelecera, do começo ao fim. Ele não foi apenas o
Uma das respostas de Gracindo para Brito, lida agora, parece refletir a própria travessia do fotógrafo: “Não se enjoa do carinho que os outros possam ter por você. Às vezes tem-se a sensação de que se é um bem público. Ter fama é ter responsabilidade”. Brito morreu no dia 11 de março de 2022, aos 72 anos, de complicações de uma cirurgia no intestino. Teve pouco tempo para ecoar outra frase que Gracindo lhe havia dito: “Ficar mais velho é como mudar de casa. No começo você estranha o quarto, a sala, tudo. Depois, o tempo vai passando e você acaba se acostumando. Chega um momento em que você sabe de cor tudo entre a varanda e o quintal”.
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M e m ó r i a
IMPROVISO POÉTICO Trágico, épico, cômico. Documentário Rodas de Gigantes expõe fragmentos da intensa vida de Hugo Rodas. Na plateia ou na coxia, mas sempre exercendo a sua genialidade Por Roberta Pinheiro Fotos Diego Bressani
Foi nos corredores da Universidade de Brasília (UnB), em 1992, enquanto cursava Artes Cênicas, que a produtora cultural, roteirista e diretora Catarina Accioly conheceu uma das pessoas que mais marcaram a sua vida. Ali estava aquele professor com sotaque uruguaio, acalorado, intenso, sempre pronto a ensinar e com um discurso engajado. Era Hugo Rodas, um dos maiores nomes do teatro latino-americano. Dos encontros pelos corredores e em sala de aula surgiu uma amizade de longa data pautada na admiração e no carinho. Foi por influência dele também que Catarina introjetou que a arte é um ofício e, hoje, acumula 28 anos de experiência em cinema, teatro e TV, tendo atuado em múltiplas funções, como produtora, roteirista e diretora, mas também como atriz e preparadora de elenco. Em um mundo que gira como rodas, como o próprio sobrenome do diretor traz, Catarina decidiu que queria estrear como roteirista e diretora em longas-metragens com um documentário sobre seu maestro. Rodas de Gigante, dirigido por Catarina e roteirizado por ela e Daniela Diniz, expõe fragmentos de quatro anos da intensa vida do diretor uruguaio. “Não quero me achar único. Jamais. Porque é impossível ser único. Mas não quero descansar. Preciso quebrar-me o tempo inteiro para sentir que estou vivo”, afirma Hugo Rodas para as lentes da câmera.
O multiartista Hugo Rodas
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Aos 82 anos, Hugo Rodas não tem medo de ser Hugo Rodas e, menos ainda, de viver. Sob o olhar de Catarina, mas protagonizando a cena, o diretor realiza exitosas obras, descobre um câncer, submete-se a cirurgias e confronta com coragem uma pandemia e a quimioterapia. Vive sem pedir permissão. Vive produzindo sem parar, com voracidade, apesar de todos os obstáculos. Quebra-se continuamente para manter-se vivo. “O mundo precisa de pessoas como você e como eu”, afirma o diretor após ler um lambe-lambe na parede do Instituto de Arte de Brasília.
Ao longo de 65 anos de carreira, Hugo recebeu inúmeros prêmios e se tornou uma figura icônica do teatro brasileiro
A carreira Radicado no Brasil, Hugo Rodas é um multiartista. Atuou como ator, diretor, bailarino, coreógrafo, cenógrafo, figurinista e professor de teatro. Em Brasília, criou o Grupo Pitú, que levou o teatro da capital para o restante do País nos anos 70 e 80, e hoje dirige a Agrupação Teatral Amacaca (ATA), sua atual companhia, juntos há 12 anos. Ao longo de 65 anos de carreira, Hugo recebeu inúmeros prêmios por suas criações, tornando-se, assim, uma figura icônica no cenário teatral brasileiro. No entanto, o documentário Rodas de Gigante, ainda em processo de finalização, não se atém apenas à faceta artística de Hugo Rodas. “Ele transcende totalmente esse contorno da visão do artista. É um ser humano contundente e diverso”, explica Catarina.
Em momento algum, o documentário almeja ser um filme-homenagem. “O teatro não é uma arte de massa, mas as obras do Hugo carregam esse ímpeto revolucionário, essa qualidade de estar vivo e contribuir. E o documentário é isso. A adesão não é pelo que ele faz no teatro é pelo que ele é”, pontua Catarina. “Se eu quero fazer um documentário sobre uma pessoa viva, tenho que pegar ele em atividade”, resume.
Improviso poético Diante de uma personalidade tão forte e do arcabouço criativo de Hugo Rodas, Catarina Accioly optou por uma linguagem diferente da do documentário clássico. Rodas de Gigante não tem entrevista ou depoimentos. “Ele é um improviso poético, um documentário que a gente entra em contato direto com o Hugo”, descreve. Ele fala dele mesmo e da própria visão de mundo. Ele rompe os paradigmas da lente e o distanciamento clássico do sujeito protagonista e dialoga com todo mundo. Tem um papel ativo. “Ele é o protagonista e nós todos somos do elenco de apoio”, conta a diretora. “Esse estilo de filmar, do improviso poético, significa uma câmera com dois pontos de vista. O observacional, onde as coisas acontecem, e o ponto de vista de quem está dentro do acontecimento. Foi uma escolha para que eu pudesse contar mais e de outras visões que as pessoas não conhecem”, explica. 49
A equipe do documentário Rodas de Gigante
Vida e morte A primeira filmagem ocorreu em 2018, durante o aniversário de 79 anos do diretor uruguaio. A proposta era acompanhar seu cotidiano e observar seu discurso engajado, atual e estimulante, reverberando em espetáculos e convivências múltiplas com artistas e amigos, que são um recorte das artes da capital federal. Mas o diretor descobriu um câncer e extraiu 40% do intestino. “Essa iminência da morte de Hugo se apresentou também como virada narrativa. Um susto que repercutiu na urgência de filmá-lo. E também no estabelecimento de um conflito que eu não tinha previsto”, escreve a diretora em material de apresentação de Rodas de Gigante. As gravações incluem ainda o período da pandemia do novo coronavírus e a forma contundente e firme com que Hugo Rodas lidou com o distanciamento. Para finalizar a produção do documentário, que envolve o trabalho das produtoras Stelios Produções, Griô Produções, ABR Filmes e OF Produções e do Instituto SOMA Cidadania Criativa, a equipe viajou ao Uruguai, às origens de Hugo Rodas e ao reencontro com os familiares. Além de Montevidéu, berço artístico do diretor, as filmagens percorreram Juan Lacaze, onde Hugo nasceu, e Colônia del Sacramento. Hugo Rodas reúne em si todos os gêneros consagrados do teatro: a tragédia, o épico, a comédia e o musical. Se por anos ele assistiu, ou da plateia ou da coxia, ao reverberar 50
da sua genialidade, agora é hora de ele ser o protagonista do seu discurso e assumir o centro das lentes. “Espero que as pessoas saiam desse diálogo transformadas, como eu me transformo a cada encontro com o Hugo”, afirma Catarina Accioly. *Esta entrevista foi feita em dezembro de 2021 e a publicação já estava pronta quando o diretor Hugo Rodas morreu, em 13 de abril de 2022. Como forma de homenagem, deixamos a matéria na íntegra.
P i o n e i r i s m o
Em dezembro de 2020, Paraíba, DF e Brasil perdem a força pulsante e luz doce que foi Gitana Lira – uma mulher que, entre tantas coisas, viveu o amor. Com a passagem de seu aniversário no dia 4 de maio, a revista presta uma homenagem à mestra e filantropa em seu formato favorito: declarações de amor
Gitana Lira entre sua família
PARA GITANA, COM AMOR Por Theodora Zaccara
Em Verona, na escondida, mas sempre abarrotada, região de Villa Cappello, cartas de amor são depositadas sob o olhar patrono de Julieta Capuleto, imortalizada em bronze. Dos buracos e recantos entre as paredes de tijolo, as Secretárias de Julieta recolhem, dia sim, dia também, os manuscritos sujos de terra, debulhados em afeto. Abençoadas pela personagem de William Shakespeare e muito bem versadas na arte do amar, as comissárias já leram de tudo. Histórias de corações partidos, de amores vingados. Finais felizes, mulheres tristes, enredos inacabados, dor, paixão, amor. E até elas, ouso dizer, molhariam os papéis de modo inédito quando lessem, e relessem, as correspondências trocadas por Raimundo e Gitana Lira – cartas es52
sas que, entre lágrimas largas e muita emoção, o ex-senador e eterno-marido compartilha sobre uma mesa de vidro, na sala de estar da casa em que ainda mora, rodeado de retratos em que sorri ao lado dela. “Nunca amei ninguém que não ela. Casei com a mulher muito além de extraordinária”, com olhos que pousam, às vezes, na mão – que ainda veste a aliança –, às vezes, na filha Isabela, abre o coração e deixa espaço para a saudade. “É necessário dar duas voltas no mundo para encontrar uma Gitana”. Fato. E, enquanto ouço, numa tarde solar de quarta-feira, pai e filha recontarem juntos a história de Gitana, é quando penso: “quem sabe, até três”.
namoro, noivado e enlace. Os aniversários, as datas comemoradas longe ou perto. As viagens que separavam... As lembranças que uniam… “Ela tinha uma sensibilidade enorme para o belo, conseguia achar a beleza em tudo, encantar a todos, ajudar quem fosse”, destaca Isabela.
Gitana em desfile de 7 de Setembro de 1961 em Campina Grande (PB); nos 70 anos do marido, em 2013, em Brasília; e em seu aniversário, em 2003
Nascida em Campina Grande, cidade paraibana a 120km da capital João Pessoa, Gitana Figueirêdo era a filha mais jovem do casal Bento e Elza Figueirêdo. Desde menina, cultivava uma conexão muito forte com o pai (“Os dois sempre foram muito próximos”, relembra Isabela), uma estatura de chamar a atenção (“Era a mais alta da turma do colégio!”, conta Raimundo) e um sorriso doce. Quando moça, frequentou a Escola das Irmãs de Nossa Senhora das Graças, uma das instituições mais respeitadas do estado. Em sequência, ingressou no Colégio de Damas de Campina Grande – e foi nesse período adolescente que o também muito jovem Raimundo Lira a viu pela primeira vez: em 7 de setembro de 1961, durante o desfile de Dia da Independência, Gigi – como sempre foi e sempre será muito carinhosamente chamada – roubou, sem intenção qualquer, o olhar de seu futuro marido. Ao vê-la, profetizou: “Vou me casar com essa mulher”. E em 5 de dezembro de 1969, o prenúncio vingou. Casava-se, na cidade natal de Campina Grande, o casal Raimundo e Gitana Lira. Ela, que sempre teve gosto pela literatura (“Tenho dois ou três livros permanentemente na minha cabeceira”, confessou certa vez ao jornal Correio da Paraíba), teria abraçado as páginas do caderno, se pudesse ler a própria história. História essa que, por mais de meio século, inspirou o que se pode apenas presumir se tratarem de montanhas e montanhas de cartas apaixonadas. Entre os dedos, pude tocar correspondências que se estendem pelos anos de
A simplicidade era norte de sua elegância, e a caridade, sua missão na Terra. Cursou Sociologia e Política na Universidade Federal da Paraíba, na época a segunda maior instituição do Brasil. Percebeu aí que filantropia não era apenas uma palavra bonita: era dedicar tempo, enxergar o próximo, trabalhar pelo outro. Direcionou, então, seus esforços para o bem: ensinava em escolas de regiões fragilizadas, organizava eventos festivos para famílias em situação de vulnerabilidade, arrecadava fundos para causas sociais e vivia uma vida em eterna busca pela solidariedade. “Todo ano, enquanto morávamos na Paraíba, minha mãe organizava um Natal para as crianças carentes do município de Serraria e também para as famílias dos funcionários das empresas em Campina Grande. Eram festas lindas, cheias de brinquedos, comida para todos… Em alguns eventos, chegamos a receber 1.500 pessoas! Tenho muitas lembranças de todos eles”, compartilha Isabela. Professora condecorada – recebeu, dentre tantas honrarias, o diploma de membro titular da Academia Internacional de Cultura –, sempre usou de sua alta educação e nobre intelecto em prol dos amigos, dos filhos e do marido, que, até hoje, “jura de pé junto” só ter vencido as eleições para senador em 1986 graças ao empenho da esposa. “O pai dela foi prefeito em Campina Grande e, por isso, ela não gostava da vida política. Quando manifestei minha vontade de me candidatar, ela me apoiou de uma maneira inacreditável. Caiu em campo e fez um trabalho incorrigível”, afirma. Mulher-Maravilha de um toque suave. Era a linha entre a firmeza e a doçura. Mudou-se para Brasília pouco tempo depois, trazendo na mala os tradicionais costumes nordestinos e uma vontade louca de aqui fazer morada. Logo, firmou amizades e fez da capital seu segundo “canto” no mundo, educando uma família de quatro filhos muito amados: Rodolfo, Eduardo, Isabela e Rogério. Hoje, é o quarteto que carrega seu legado por uma década que, muito triste, já nasceu sem ela. “É uma saudade que nunca chega ao fim”, remarca a filha do casal. Gostava de ir a Miami, mas precisava visitar a Paraíba. Viajava pelo mundo, mas zelava pela casa como ninguém. Criava o lar e era o porto de tanta gente, de tanta história. Era ponto de partida, de repouso e de destino. Era equilíbrio entre a delicadeza e a firmeza. Calma e alegre, alto-astral, para cima. “Nem nos momentos de doença eu a ouvi reclamar. Não tinha palavras ruins ou amargas para compartilhar, era sempre a pessoa mais doce do ambiente”, descreve Raimundo. E, como personagens das crônicas que estrela, memorada com carinho na mente de todos, Gitana Lira continua sendo, sem dúvidas, a estrela de qualquer salão. Com a mesma intenção, a revista GPS usa tinta e papel para, também, eternizar a memória de uma mulher que, sobretudo, amou e foi amada. Beijos, Gigi. Sentimos sua falta. 53
A r t i g o
Ricardo Medina Jornalista, escritor e consultor de comunicação
BRASÍLIA, O MUNDO ESTÁ AQUI
Brasília chega aos seus 62 anos com um chamado urgente: assumir de vez sua vocação cosmopolita, rompendo definitivamente o distanciamento que ainda atinge alguns de seus principais círculos sociais.
to e do Lago Paranoá. O lado oriental seria, por definição, a Esplanada dos Ministérios e seus arredores burocráticos, onde perfilavam grupos de políticos, militares e diplomatas.
Aí está um dos maiores desafios das capitais nacionais. Porque desse convívio virão não apenas a riqueza cultural, melhor instrumento de troca que existe, mas também informações fundamentais para estarmos plenamente conectados ao mundo. A questão é de sobrevivência, nossa e das gerações futuras.
Com maior ou menor grau de aparhteid, os “brasilienses natos” pouco conviviam com os “forasteiros”. E talvez o caso mais curioso seja em relação aos diplomatas, tanto brasileiros quanto estrangeiros. A disposição ao distanciamento era recíproca. Da parte dos locais porque os achavam “esnobes”. Já os diplomatas padeciam do engessamento de uma instituição mundial que desde seus primórdios sempre foi composta exclusivamente por membros do círculo íntimo das cortes reais.
Neste aniversário de Brasília, lembrei-me de um fato que marcou o início de minha carreira, há 30 anos. Na década de 1990, um grande empresário do DF, analisando a vida social da cidade, disse para mim: “Você que é um jovem colunista não pode se esquecer que Brasília tem dois lados. O ocidental, onde estamos nós que construímos esta cidade e aqui criamos nossas famílias. E o oriental, onde estão os outros. Esses lados não se misturam”. Essa ideia anacrônica de separação de vidas e territórios ainda vingou com força até a consolidação irreversível da globalização e da internet. Numa capital como Brasília, isso se mantinha em lados isolados, à base do torcer o nariz, o que naquele tempo se chamava de “panelinhas”, as tribos sociais. Parêntesis para dizer que este texto é cheio de aspas porque reproduz o que ouvi de viva voz. O mapa se desenhava assim: do lado ocidental estavam os empreendedores da cidade, candangos e pioneiros com seus descendentes, habitantes das quadras do Plano Pilo-
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Mas isso caiu em desuso. O mundo, o Itamaraty e a Avenida das Nações se democratizaram e se existe hoje algo démodé é a tal postura elitista, monárquica, autocrata. Sem falar que o tal “nós contra eles”, num tempo moderno e hiperconectado, tornou-se simplesmente cafona. Por isso, passou da hora de você ter amigos diplomatas nesta Brasília internacional, jovem e vibrante. É uma cidade repleta de excelentes oportunidades para conversar com eles sobre as coisas do mundo. Seja nas mesas de bares, nos restaurantes e nos salões de festas. Inclusive no dia a dia, que leva ocidentais e orientais a frequentar os mesmos shoppings, feiras livres, consultórios médicos e espetáculos. E que também se informam por veículos de comunicação como este GPS|Lifetime, sala de visitas da cidade. Brasília é você ponto com o mundo.
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A r t i g o
Discordo em parte, até porque o direito de votar e determinar quem irá deter o poder político é fundamental e protegido por todas as democracias. A nossa Constituição de 1988, por exemplo, além da inclusão do voto em vários casos, como para Presidente da República, assegurou o atual regime político (“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”). Até este momento, dois candidatos imensamente conhecidos (Lula e Bolsonaro) continuam a manter acesas “as crenças irracionais e os preconceitos pessoais dos eleitores comuns”. Esse posicionamento vai ao encontro do pensamento do sociólogo e cientista político italiano Giovanni Sartori, que entende que “a competição eleitoral não garante a qualidade dos resultados, apenas seu caráter democrático”.
Nelson Wilians Empreendedor e advogado
O ESTÚPIDO E A MANADA No ano de 2022 temos eleições, o que me faz recordar uma frase do primeiro-ministro inglês Winston Churchill: “A diferença entre os humanos e os animais é que os últimos nunca permitem que um estúpido lidere a manada”. As pesquisas eleitorais continuam a apontar uma polarização entre esquerda e direita, que, diga-se, fornece até aqui uma âncora para a tomada de decisões políticas de parte do eleitorado, na ausência de apego partidário. No livro O Mito do Eleitor Racional, o economista americano Bryan Douglas Caplan faz reflexões sobre o comportamento do eleitor. Em síntese, ele diz que o maior obstáculo para uma política econômica sólida não são os interesses especiais arraigados ou o lobby desenfreado, mas os equívocos populares, as crenças irracionais e os preconceitos pessoais dos eleitores comuns. Caplan argumenta que os eleitores elegem continuamente políticos que compartilham seus preconceitos ou fingem fazê-lo, resultando em políticas ruins, que vencem repetidas vezes pela demanda popular. Extremamente provocativo, ele afirma ainda que a democracia falha precisamente porque faz o que os eleitores querem. 56
Porém, tudo está dentro do jogo democrático. A democracia política é, sem dúvida, condição indispensável para a conquista das democracias social e econômica. Mas o regime democrático, como é sabido, é caracterizado não apenas pelo aspecto representativo, mas por ser um sistema de expectativas. Nem sempre a democracia “quantitativa é qualitativa”, mas, em tese, o esforço é escolher sempre aquele que irá agir no melhor interesse da nação. Retornando às eleições de outubro, duas figuras extremamente divisivas predominam no cenário político nacional. Até aqui, a eleição sinaliza a despedida do poder para um e o retorno de outro. Mas tudo pode mudar no inconstante cenário eleitoral. Há ainda um tempo, um precioso tempo para que se manifestem milhões de brasileiros, que torcem para que a esquerda e a direita percam, pois não se alinham a essa “identidade social” e aos seus eixos econômicos e socioculturais. Lula e Bolsonaro carregam um enorme fardo emocional e psicológico, são extremamente dependentes de seus eleitores fiéis e fortemente rejeitados pelos outros. E, ainda, parecem incapazes de satisfazer a uma cidadania mais crítica, distante do engajamento político institucional e do ativismo partidário. Essa parte do eleitorado, desconfiada, permanece silenciosa. E pensar que esse eleitorado, independente e cansado da polarização, está apenas esperando o afago de outra opção identificada com o centro é puro engano. Eleitores “moderados” não formam um bloco homogêneo. Eles são complicados, têm pouco em comum e são ideologicamente diversos, não havendo, portanto, um posicionamento simples que agrade a todos.
J u s t i ç a
À frente do TCU, a ministra Ana Arraes deixará legado na corte: humanização e paridade nos cargos. A herança política em favor dos pobres tornou-se sua identidade
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Por Daniel Cardozo Fotos JP Rodrigues
A preocupação com os mais pobres fez Ana Lúcia Arraes de Alencar, 74 anos, seguir a tradição familiar e ingressar na política. O exemplo de como fazer política estava bem perto, já que o pai, Miguel Arraes, e o filho, Eduardo Campos, foram governadores de Pernambuco e lembrados pelas realizações no estado. Hoje, mais conhecida como Ana Arraes, presidente do Tribunal de Contas da União, a ministra está prestes a se aposentar. O legado à frente da corte responsável por fiscalizar os gastos públicos tem a ver com a responsabilidade com o dinheiro do contribuinte e a assistência aos pequenos municípios. Ana Arraes tomou posse como presidente do TCU em dezembro de 2020 e foi reconduzida ao cargo por mais um ano, no fim de 2021. Embora já fosse sabido que ela se aposentaria compulsoriamente assim que completasse 75 anos, em julho deste ano, como determina a lei, os colegas a reelegeram, talvez como forma homenageá-la por seus inúmeros méritos. A fala da ministra é lenta e suave. A presidente do TCU é descrita pelos assessores como uma pessoa tímida, apesar da vivência na vida pública. Entretanto, bastaram poucos minutos de conversa para que ela se soltasse e desse até algumas gargalhadas. Ana Arraes é a segunda mulher na história do tribunal a exercer o cargo de ministra. A primeira delas foi Élvia Castello Branco, entre 1987 e 1995. Ao descrever a composição da equipe, conta que fez uma escolha consciente. “Todo o meu gabinete é de mulheres, com exceção do Henrique”, disse enquanto apontava aos risos para um dos assessores que acompanhava a entrevista.
Foi sob a gestão de Ana Arraes que o TCU adotou a paridade nos cargos de gestão. Os dados mostram que o quadro de servidores tem cerca de 30% de mulheres. A presidente decidiu, então, que um terço dos cargos de chefia deveriam ser ocupados por elas. Essa foi uma forma de privilegiar as lideranças femininas. “Eu acho que falta incentivo. Às vezes as mulheres são muito capacitadas, mas não conseguem ascender. Não é por falta de capacitação. Temos muitas mulheres inteligentes e bem informadas”, opina. Durante a pandemia, veio a decisão de fixar residência em Brasília, para evitar os deslocamentos e, assim, proteger-se da Covid-19. A ministra gosta de Brasília. “Tudo aqui é muito bonito, né? Único”. Foi inevitável ficar um pouco mais reclusa, até por fazer parte do grupo de risco. “Não tive Covid. Tomei três doses da vacina e incentivei muita gente a se vacinar”, contou. A preocupação com a doença motivou os protocolos dentro da sede do Tribunal de Contas da União. Só entra no prédio quem apresenta comprovante de vacina. O trabalho remoto foi instituído e a corte não parou.
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Antes de ser ministra, ela foi eleita deputada federal por Pernambuco nos anos de 2006 e 2010. Na primeira eleição que disputou, obteve 178 mil votos, o que lhe garantiu o terceiro lugar. Quatro anos mais tarde, o resultado foi ainda melhor: 387 mil votos, a mais bem votada do estado, com 8% dos votos válidos. Foi escolhida pela Câmara dos Deputados para assumir uma cadeira no TCU em outubro de 2011. Como política, teve contato com a pobreza extrema. “Certa vez, eu descia uma ladeira e uma senhora me chamou. Entrei na casa e lá havia três meninas abaixadas, apertando a barriga com o joelho. A mulher me perguntou ‘a senhora sabe o que a gente comeu hoje? Água’. As lágrimas vieram na hora. Chamei um ajudante e disse ‘vai lá e compra comida para esse povo’. Eu não queria saber se era crime eleitoral ou se não é. Não estou matando ninguém (risos)”, contou. Foi enquanto falava do pai, Miguel, e do filho, Eduardo, que Ana Arraes demonstrou empolgação e carinho. Ela lembra com carinho das gestões deles no Palácio do Campo das Princesas, sede do Governo de Pernambuco. Segundo a ministra, o pai, eleito por três mandatos, é reconhecido como um governante que privilegiou os pobres e confrontou interesses de poderosos.
O pai, Miguel Arraes, e o filho Eduardo Campos, ambos falecidos, são a força e a referência da ministra Ana
A situação da saúde pública no Brasil também acendeu um alerta no TCU. Foram abertos mais de cem processos para apurar suspeitas de mau uso do dinheiro público. Mas a tática não foi apenas baseada na repressão e punição dos gestores que teriam agido inadequadamente. O tribunal lançou o programa TCU + Cidades, que aposta na capacitação de prefeitos e ordenadores de despesas. O diagnóstico era que uma parte considerável das irregularidades tinha a ver com falta de gestores qualificados, principalmente nas prefeituras das cidades pequenas. Apesar de todo o trabalho de fiscalização, a presidente do TCU reconhece que as consequências trazidas pela pandemia foram mais profundas para a faixa mais carente da população. “A gente está sempre atento ao que acontece, para que o povo brasileiro tenha os direitos preservados, principalmente os mais pobres, porque nessa pandemia muita gente ficou sem emprego. Sempre os afetados são os mais fracos e, não, os mais poderosos”, analisou.
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A reação da ministra quando começou a falar do filho foi uma sequência de emoções. No princípio, pausa e respiração profunda, já que a partida foi uma ferida na família. Mas bastou pouco tempo para virem as lembranças agradáveis. Eduardo começou a fazer política cedo e atuou como chefe de gabinete do avô. “Quando ele era jovem, andava com o papai o tempo inteiro. E papai quando saía dizia ‘vamo, Eduardo’”, relembra. O aprendizado surtiu efeito. Eduardo Campos exerceu o cargo de governador de Pernambuco entre os anos de 2003 e 2010. Quatro anos mais tarde, morreu aos 49 anos em um acidente de avião durante a campanha para Presidência da República. O legado político da família é representado atualmente pelo neto de Ana Arraes, João Campos, prefeito de Recife e filho de Eduardo. A sobrinha, Marília Arraes, é deputada federal por Pernambuco. O irmão de João, Pedro, deve ser candidato neste ano. Se vai voltar ou não a participar da política partidária, a presidente do TCU não parece ter uma opinião firme. Mas os planos para aposentadoria incluem continuar ajudando as pessoas. “Vou continuar trabalhando. Não aqui, pois já dei minha contribuição. Quero fazer algo que tenha repercussão nas vidas das pessoas. Talvez trabalho voluntário, já que o analfabetismo é alto no Nordeste. Ainda vou pensar no que vou fazer”. Independentemente da decisão que tomar, o que está claro é que Ana Arraes deixou sua marca entre os pernambucanos e à frente do Tribunal de Contas da União.
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A t i v i s m o
UM CASO SÉRIO COM BRASÍLIA Ela age, protesta, incrementa, implementa. Falou que é pela capital, ela comparece. Da chegada para lecionar em Taguatinga, em 1957, a filantropa e defensora do Lago Sul, Natanry Osório, aos 83, é ativista da vida
Por Morillo Carvalho Fotos JP Rodrigues
“Eu vou querer fazer lá onde eu moro, porque é um paraíso terrestre e tem as minhas lhamas, que comem na mão da gente”. Foi o que Natanry Osório disse ao começarmos esta conversa, e combinarmos o ensaio fotográfico para a entrevista. E é mesmo um paraíso, com mata nativa, vista livre para o Lago Paranoá e as bichinhas, tipicamente andinas, que chegaram à sua casa após uma conversa com o embaixador da Bolívia, em 2002, em que declarou seu apreço por elas. Ele enviou um casal para Natanry – e a fêmea estava prenha. Chegaram a 20, mas hoje são apenas quatro. “Eu sou apaixonada por lhamas desde jovem, veja como nos olham, quando correm é como se fossem bailarinas’”, diz. Mas, para além da dedicação aos animais exóticos, a pioneira Natanry é dona de uma história que merece ser contada. Até porque, ao entrelaçarmos essa história com a de Brasília, tal qual pontos de croché que sua tia Iracema a ensinava na juventude, percebemos que demos um nó indissociável. “Eu sou goiana. Quando foi decidida a transferência da capital, ou seja, a desapropriação, meu parente, José Ludovico de Almeida, era o governador do estado de Goiás. Um dia, a tia Iracema (Caldas, esposa do governador) me chamou para ir ao palácio, comer pão de queijo e fazer croché. Eu tinha 17 anos, era 1955, era normalista e sempre fui uma mulher de fé e ligada ao social. Passei no corredor e ouvi o tio conversando com Germano Roriz e Dercílio de Campos Meireles (tio de Henrique Meireles), e escuto ele dizendo que tinham que descobrir quem faria a tradução do sonho de Dom 62
Bosco e onde seria construída Brasília. Na mesma hora, falei com meu anjo da guarda, com quem converso todos os dias: é para lá que eu quero ir. Eu quero ajudar a construir essa nova capital, alfabetizando!”, revela.
Mistérios da fé e o primeiro milagre A história que aconteceu ficou esquecida na memória de Natí, como é carinhosamente chamada. Até que em 1958, numa matinê dançante com amigas, conheceu um jovem com ar de francês, formado em Direito e Filosofia na Universidade de Sorbonne, em Paris. Ele a chamou para dançar e, no meio do salão, soltou: “quero pedi-la em casamento”.
Era Antônio Carlos Osório, gaúcho, e tinha ido para Brasília em 1957 e, na capital, estabelecido seu escritório de advocacia. “Quando ele falou isso, meus olhos brilharam e meu coração disparou”, continua. É que o homem havia falado a palavra mágica: Brasília; e sua memória se remeteu ao dia em que havia entregado para o anjo da guarda a vontade de se mudar para a nova capital. Um ano depois, estavam casados. Mas na volta da lua de mel, ele queria deixá-la na casa da mãe, porque ia para Brasília e as condições ainda eram precárias. “Eu disse: se for para você ficar indo e eu aqui, nosso casamento acabou aqui e agora. Ele insistiu que lá era terrível, rústico, e eu disse: ‘me casei com você por Brasília e por você, não foi atrás de conforto’. E viemos”, lembra. A união durou 57 anos,
até o falecimento de Antonio, aos 88, em 2016. Na Cidade Livre, foram viver em um barracão de madeira, com cama de viúva e o guarda-roupa era um cordão de um lado a outro. “Eu disse: ‘meu Deus, que aventura!’”. Empolgada com a nova vida, sem qualquer espécie de luxo, mas repleta de experiências que só poderiam ser proporcionadas pela “epicidade” que significava a construção da capital, botou o diploma debaixo do braço e foi à Regional de Ensino. Ali, soube que todas as vagas para alfabetizadora estavam preenchidas na Cidade Livre, e que só havia outras em Taguatinga. Ia de jardineira exercer o ofício. Ao engravidar da primeira dos cinco filhos que teria (e agora somar à prole 12 netos e cinco bisnetos), recebeu um ultimato do médico: ou deixar de lecionar, ou se mudar para Taguatinga, que na época tinha apenas barracos. O marido, no entanto, comprou uma casa de alvenaria, das primeiras da cidade, ainda sem reboco na parede ou acabamentos, e próximas ao Hospital São Vicente de Paula. Em 8 de março de 1960, nasceu o primeiro filho. E, claro, não deixou de trabalhar. “Eu o levava no moisés para a sala de aula, na hora de amamentar a diretora cuidava da turma. Alfabetizei mais de 50 crianças numa turma. O doutor Ernesto Silva, que era o diretor da área de Educação da Novacap, foi para a formatura e perguntou qual a minha metodologia. Respondi que era o amor, o compromisso”, lembra. Já em 1960, ano da inauguração, foi transferida para o Plano Piloto, e estabeleceu-se na Escola Parque da 308 Sul. A conversa com o anjo da guarda até este ponto de sua história é o que Natanry considera o primeiro milagre de sua vida.
Natanry define sua residência como um "paraíso na Terra" e expõe a vista do local e suas lhamas
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Ação Social e o segundo milagre Quando o criador da Universidade de Brasília (UnB), Darcy Ribeiro, tornou-se ministro da Educação no governo de João Goulart, Natanry foi sua secretária do Ensino Supletivo. O serviço público, no entanto, não agradou. Ela já conhecia Carmela Salgado, que havia criado a Casa do Candango, e foi com ela que, observando a demanda das mães de candanguinhos, que trabalhavam como vendedores de jornal e engraxates, resolveu criar um espaço para acolher essas crianças: a Ação Social do Planalto. É a iniciativa que considera o segundo milagre de sua vida. Seu pai havia falecido quando ela tinha nove anos, assassinado com uma facada nas costas, numa vingança por ter praticado justiça social. Decidiu, então, que seria à prática da justiça social que dedicaria a própria vida. Aos 83 anos, orgulha-se do que construiu – e revela a idade com a alegria de saber que não parece tê-la: “pra mim idade não é limite, está na sua cabeça, se você não é egoísta, se preocupa com o outro, não vive só pra você e é extremamente otimista”. Ano que vem, a Ação Social completará 60 anos. E coleciona feitos. “Já passaram por nós mais de 20 mil meninos, que transformaram suas vidas. Nossa sede funcionou anos na L2 Sul. Tínhamos oficinas de marcenaria, gráfica, serigrafia, futebol, natação...”, rememora, sobre o local que servia de contra turno na escola em um convênio com a então Fundação Educacional do DF, agora Secretaria de Educação. Sem nunca deixar a Ação Social do Planalto, Natanry teve idas e vindas, ao se ocupar em outros cargos na Arquidiocese de Brasília ou na Legião Brasileira de Assistência (LBA), criada em 1942 pela então primeira-dama Darcy Vargas para promover a assistência a famílias necessitadas. Também foi administradora do Lago Sul – lugar em que vive e pelo qual milita, agora como presidente do Conselho Comunitário do Lago Sul (CCLS) – até receber o chamado para voltar à direção da instituição que criou com dona Carmela. Deparou-se com uma realidade muito distinta de outrora, quando chegavam a atender, simultaneamente, 400 crianças e adolescentes. Agora era necessário ir até onde as crianças estavam. Assim, a antiga sede foi convertida em mantenedora e a sede de atividades, mesmo, passou a funcionar em São Sebastião.
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Natanry em seu recanto de fé, em casa
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Acidente e o terceiro milagre Em janeiro de 2021, quando saía de casa, no terreno acidentado que a abriga, Natanry avistou uma sandália. Parou o carro para apanhá-la, mas num lapso, esqueceu-se de imobilizar o veículo. Sozinho, ele a atropelou. Por instantes, ela esteve deitada e com uma das pernas presa à carroceria capotada. Socorrida por familiares, amigos e pelo Corpo de Bombeiros, foi constatada fratura em seu metatarso e a região foi imobilizada. As imagens daquele dia ainda não saem de sua cabeça, já que, ao lembrar, embarga a voz e tem os olhos marejados: “me emociono quando lembro desse episódio, sabia? Mas já estou andando. Estou mancando um pouquinho, não tenho mais a mesma agilidade... Não importa. As pessoas falavam, ‘puxa, você é bonita, olha como você é, você não dobra o corpo quando quer pegar alguma coisa no chão, você agacha... Como é que você consegue isso com 70, 80 anos?’, e eu levava aquilo numa naturalidade tão grande... Talvez eu tinha até inconscientemente um pouco de vaidade nisso. Então, foi preciso isso acontecer pra eu ter um pouco mais de humildade, ser um pouco mais tolerante e continuar agindo com fé, confiança e esperança. Nada vai me deter, a não ser Ele, Deus”. Quem tem ouvidos, ouça a pioneira.
Ela desembarcou em Brasília em 1959, acompanhando o marido, o advogado Antônio Carlos Osório
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C o l e c i o n i s m o
Excelente anfitrião, o colecionador adora receber para falar sobre gastronomia, arte e cultura
Herdeiro de pais europeus amantes do belo, o colecionador Amador Outerelo é uma das figuras mais emblemáticas da sociedade brasiliense. Vive em seu palácio vertical, onde se dedica a arte e literatura
COMO NÃO AMAR AMADOR? Por Marcella Oliveira Fotos JP Rodrigues
Ao imaginar um apartamento onde vive um colecionador de arte, pensei que entraria em um museu, um local intocável. Talvez haja uma distância preestabelecida entre obra de arte e ser humano, tal qual aprendemos em museus e galerias mundo afora. “Não passe da linha”, 66
“não fotografe”, “não toque”. Mas assim que o elevador abre a porta, no sexto andar de um moderno prédio no Sudoeste, ao dar o primeiro passo antes mesmo de saber se iria para a esquerda ou para a direita, ouço: “seja bem-vinda”. De portas abertas, Amador Outerelo Fernández Junior me esperava.
De lá, a família foi transferida para Brasília em 1971, quando Amador tinha quatro anos. Por um ano e meio, moraram no Brasília Palace Hotel. Depois na 202 Sul e na 316 Sul. Quando Amador pai se aposentou, dedicou-se ao Direito e a família melhorou de vida. “Até então, conhecia pouco de arte. Por mais que meu pai contasse que minha avó possuía 20 aparelhos de jantar ingleses, nunca tinha visto sequer um prato. Mas, então, com as melhores condições, eles, que cresceram com essa sofisticação, foram adquirindo itens valiosos e artísticos e fui educando meu olhar”, conta. Foi então que participou de seu primeiro leilão de arte, acompanhando os pais. “No início, era influenciado pelo olhar deles. Na época, não havia informação nem livros. Muitas vezes, passava por algo de valor e não sabia. Foi quando comecei a desenvolver o meu próprio olhar”, lembra. Estudos e viagens o formaram. Museus, igrejas, palácios tomam horas dos dias do colecionador. “E também morei na Bélgica, na França, nos EUA e na Itália, por pouco tempo, mas períodos riquíssimos culturalmente”. Em 2007, mudou-se para o apartamento no Sudoeste em que vive hoje e fixou morada em Brasília. A primeira obra comprada está na parede do segundo andar do duplex: um quadro de um pintor chamado Vieira, adquirido no início dos anos 80 na Galeria Costerus (no antigo mezanino do aeroporto). “ Não tem valor comercial alto, mas grande valor afetivo”, revela. “O olhar do colecionador principiante é apaixonado. Com o passar do tempo, agrega-se o conhecimento e torna-se um negócio”, completa o hoje especialista que cuida do seu próprio acervo e do de toda a família. No apartamento em um dos bairros mais novos da cidade mais moderna do País, em vez de se encontrar com um mobiliário de Sérgio Rodrigues e com a arte de Athos Bulcão, você se transporta para o século 16. O olhar se perde entre tantas coisas a observar. Quadros, louças e objetos presos nas paredes, mobiliário imponente, peças em porcelana, prata e cristal. “É como estar em um museu”, brinco. Amador me leva até um prato de sobremesa em que há uma paisagem da França pintada com pincel de um fio só, de 1828. “Existem dez desses, feitos sob encomenda por Carlos X, chamados de Petites Vues de France, ou seja, Pequenas Vistas da França. Oito estão no Louvre, em Paris, um é este aqui e o outro não sei”, diz, aos risos. Ele me convida a pegar. Segurando firme com as duas mãos, fico nervosa ao imaginar o valor artístico e histórico da peça. “Como tudo isso começou?”, pergunto. “Quando eu tinha 19 anos”, conta o colecionador, hoje com 55, carioca de coração brasiliense, filho de imigrantes – pai espanhol e mãe francesa. Amador Outerelo Fernández e Maria Vilany Outerelo pertenciam a famílias de nobres que empobreceram durante a Segunda Guerra Mundial e vieram para o Rio de Janeiro nos anos 50. Apaixonaram-se e se casaram.
O apartamento-museu São 520 metros quadrados de cultura, história e arte. Incontáveis objetos – mas todos catalogados – ocupam todos os cômodos e são um convite a uma viagem no tempo. Referências do período do Renascimento, do Barroco e do Neoclassicismo misturadas com vivências históricas e familiares de Amador compõem o acervo. Nada ali passa do ano de 1920. Com o bilhete em mãos desse passeio histórico e artístico, é como visitar um palácio europeu e poder tocar, sentar, ver de perto. “Aqui não é museu, é uma casa viva e todos têm direito de pegar em tudo, porque acredito que a gente vê com as mãos também, sente as texturas. Tirando as peças que sirvo nos jantares, tudo está exposto. Não quero ter nada guardado no armário”, justifica. E Amador fala isso sem arrogância, cheio de paixão. É amoroso e doce. Não quer se exibir, quer nitidamente compartilhar. Tudo foi arrematado em leilão ou herdado de sua família. “Acho que nunca comprei nada novo para esta casa”, diverte-se. Ele garante que não há um preferido. Mas não esconde a satisfação em apresentar a mesa em madeira
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çóis perfeitamente arrumados, armários com roupas organizadas e até um quarto de vestir. Chama atenção um punhado de papéis. “Anoto aqui as roupas para eu vestir, senão eu uso sempre a mesma”, explica. “Os castiçais eram iguais aos que têm no Palácio da Pena, de Portugal. São meissen do século 18”, conta. O espaço entre os dois quartos abriga o que Amador chama de tesouro: sete aparelhos de jantar, faqueiros, oito jogos de copos, toalhas de banquete, peças de cristal e outras coisas para compor a mesa. “A mesa é meu palco”
O convite é para seguir ao andar de cima. Ao chegar à sala, destaque para um piano de três quartos de cauda. É alemão, dos anos 1890, da marca Bösendorf. “Todas as peças sobre ele têm relação com a música”, explica. Um altar que é aberto e fechado diariamente mostra a devoção de Amador. “Sou muito católico”, diz. “Sou devoto de São Judas Tadeu, Santiago de Compostela, Santa Rita de Cássia e Santo Expedito”, revela. Encanta a organização e disposição. E a limpeza? “No dia a dia, eu e minha funcionária usamos luvas para tocar nas coisas. Ela limpa e depois eu, pessoalmente, coloco tudo no lugar”. Acidentes já aconteceram com empregados ou convidados? “Sim, mas faz parte. A partir do momento que minha casa está aberta, está suscetível a isso. Eu não vou brigar com ninguém por causa de algo material que se quebre”, garante.
Sua residência é um museu vivo
jacarandá, toda decorada com paliteiros de prata organizadamente dispostos sobre ela. “Aqui é meu palco”, diz. E a origem do móvel? “Ela foi do personagem Salviano Lisboa na primeira versão da novela Pecado Capital, em 1976. Meu pai comprou do Roberto Marinho”, revela. Ao andar pela casa, cada objeto, obra, peça ou móvel vem com uma história. “Aqui são pratos da aristocracia brasileira. Marquês de Ibirocaí, Visconde de Santa Isabel, Marquês de São Clemente”, lista. “Este móvel foi o primeiro que comprei. Da Rainha Ana, inglês, do século 18, adquirido numa feira de antiguidades que tinha no Gilberto, em 1986, de um casal mineiro de antiquários”, lembra. Também compõem o acervo peças Tiffany & Co. e Fabergé. “Eram meu sonho comprar”. “Essa xícara herdei da minha avó, era do tipo casca de ovo, feitas com pincel de um fio só”, mostra, levantando até a luz para mostrar sua translucidez. Além da sala de jantar, compõem ainda o andar de baixo a sala de estar, o escritório e os dois quartos. No de visitas, um jogo de quarto de 1730. No principal, outro jogo que foi do primeiro embaixador português no Brasil, quando o País se tornou independente, vindo de Portugal. Len68
A arte de receber Durante o tour, Amador contou entusiasmado sobre como funciona a dinâmica da casa ao oferecer seus famosos jantares. O colecionador tornou-se uma referência na arte de receber. “Aprendi com a minha mãe, estudei e criei o meu próprio jeito”. Ser convidado para um jantar na casa de Amador é mais que estar à mesa para uma boa refeição. É viver uma experiência. Uma vez ao mês, Amador abre as portas de sua casa para amigos. Sempre numa sexta-feira, às 21h. O planejamento começa dias antes. Em um caderno, anota, à mão, todo o planejamento. Lista dos convidados, desenho da mesa e como se sentarão, o aparelho de jantar, jogo de copos e tudo mais que será usado, o cardápio. Os mínimos detalhes. “Fica tudo mais fácil, porque você parte de uma coisa concreta e não da sua cabeça”, explica. “E também é fotografado”. Apenas dez pessoas. Ao chegar, o anfitrião espera o convidado na porta. Após as boas-vindas, direciona-o para a sala de estar. Por volta das 22h, o convite para sentar à mesa, convidando os presentes a ocuparem seus lugares, identificados com o placement. Tudo é pensado milimetricamente. “Duas pessoas extrovertidas não podem sentar perto nem duas caladas”, explica. Se é a primeira vez, possivelmente Amador o colocará logo ao seu lado. O menu está escrito à mão em um papel na mesa, em francês. Jantar com entrada, prato principal e sobremesa.
Amador fala com paixão sobre sua coleção de arte
Em seguida, se o grupo não conhecer o apartamento, um tour. São, então, convidados a irem ao andar de cima, para o licor, ouvir uma música e conversar. “E você curte o jantar?”, perguntei. “Só faço a digestão no dia seguinte, que vou pensar com calma em tudo e ver o que funcionou ou não”, explica. As anotações no caderno são lidas e, a lápis, ele anota o que não deu certo, algo que foi cancelado ou uma pessoa que não compareceu.
Prazer, Amador A conversa com Amador durou quatro horas. Impossível não se apaixonar pelo seu jeito metódico, educado e formal. Não é apenas seu apartamento-museu que é um interessante contraste com a arquitetura moderna de fora. O próprio Amador é uma pessoa única, que destoa. “Fui educado de um jeito não brasileiro. Tudo meio diferente mesmo”, assume. Entretanto, assim como sua casa não é um palácio intocável, ele também não é. Falante, é amante das boas histórias. Apesar de amar estar entre amigos, hoje é avesso ao tumulto. Que show te tiraria de casa? “Nenhum”, confessa. “Ia em todas as boates de Brasília que são da minha época. A Corte, Sunshine, Le Scalier, Zoom, Machine, Curtição”, relembra. Clássicos da época foram a trilha sonora escolhida por Amador para a nossa tarde juntos. Formado em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), Amador já foi professor de Inglês da Casa Thomas Jefferson – fala quatro idiomas: português, inglês, espanhol e francês. “Fui também frade dominicano, advogado, trabalhei na Defensoria Pública. Hoje, administro o acervo artístico da família”, conta.
Sua rotina é bem caseira, mesmo antes da pandemia. Três pausas diárias para leitura, cada uma com um título diferente. “E cada um em um cômodo diferente. Eu preciso aproveitar toda a casa”, diz. A mãe faleceu há dois anos e o pai e a irmã vivem no Lago Sul. Gosta de almoçar fora com amigos. Ao final da conversa, fica claro que Amador é um carioca com espírito europeu. Nada de samba no pé nem Carnaval na Sapucaí. Do Brasil, carrega o jeito caloroso e amoroso de ser. A bem verdade é que ele parece um personagem saído dos castelos franceses, que cumpre a profecia do significado de seu nome: “o que ou aquele que gosta muito de alguma coisa; amante, apreciador, entusiasta”. “É um nome muito comum na Espanha”, justifica. Amador é como um monarca na corte brasiliense. E vem a pergunta: por que a moderna Brasília? “Cheguei aqui aos quatro anos, em 1971, e vi a cidade se tornar realidade. Ela faz parte de mim. Quando a coisa se constrói junto com você, você vai formando seu senso estético ao mesmo tempo. Eu me sinto meio que dono de Brasília. Existe uma conexão muito forte, é minha referência de lugar. E, mesmo já tendo morado em outros países, Brasília é minha reserva emocional. Eu tenho casa no Rio e em SP, mas eu preciso viver aqui”, confessa. Curioso pensar que entre tantos lugares no mundo onde se sentiria mais em casa, talvez andando diariamente por ruelas de Florença – uma de suas cidades preferidas – ou em prédios com arcos, abóbadas e cúpulas de Paris, o homem que gostaria de ter vivido no século 19 escolhe a cidade mais moderna do século 20 para construir um palácio vertical. Assim, a cada recepção, apresenta um pouco do mundo clássico ao mundo contemporâneo. Um contraste curioso, intrigante e apaixonante. 69
C i n e m a
REPERTÓRIO DE EXPERIÊNCIAS HUMANAS Egresso da frutífera geração 80 da UnB, José Eduardo Belmonte é nome que orgulha o cidadão brasiliense. Ávido em suas produções, intenso ao criar, perspicaz ao dirigir. Aguardem, 2022 só vai dar Belmonte nas telas Por Morillo Carvalho Fotos Bob Wolfenson
Ele é o diretor artístico da TV Globo, coleciona cerca de vinte projetos audiovisuais em uma carreira com pouco mais de 25 anos. Ele procura uma reinvenção tão constante que faz com que leve sua assinatura para projetos sempre muito distintos. Aos 52 anos, formado na Universidade de Brasília (UnB), onde foi aluno de
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Nelson Pereira dos Santos, precursor do Cinema Novo, o cineasta José Eduardo Belmonte coleciona histórias que vão de clipes dos Raimundos a Alemão 2, que acaba de estrear nas salas de cinema de todo o País. Num cálculo rápido, dá para perceber que vinte projetos audiovisuais em 25 anos significam uma média de quase um por ano. Pois só em 2022, deve lançar ainda As Verdades, O Pastor e o Guerrilheiro, uma comédia baseada em contos de Ariano Suassuna para a televisão.
“Quando eu comecei, tinha a preocupação de construir uma carreira. Vi uma entrevista do Scorcese em que ele dizia: ‘O problema não é fazer um filme, fazer um filme é fácil. O difícil é construir uma carreira’”, recorda o diretor. “Outra frase que guardei comigo veio de um colega de faculdade, que falava que existem dois tipos de cineastas: aqueles que demoram muito a fazer um filme, lançando os projetos em longos intervalos, como o Kubrick, e os que preferem produzir um filme atrás do outro, como o John Houston, o caminho que decidi seguir”. Bom... Deu certo, né? O prognóstico, porém, parecia desfavorável, como ele próprio conta: “Quando entrei na UnB, Brasília produzia apenas um longa a cada cinco anos e eu resolvi fazer cinema justamente quando o Collor acabou com a Embrafilme, ou seja, parecia a pior escolha no pior momento, mas por outro lado a minha turma tinha apenas quatro alunos e as aulas eram praticamente particulares”. E com professores incríveis: além do já citado Nelson Pereira dos Santos, aprendeu tudo sobre montagem com Armando Bulcão – documentarista que assina, entre outros, Hollywood do Cerrado e Alma Palavra Alma.
Cena do filme Alemão 2
Nascido em São José dos Campos (SP), mas criado na capital federal, Belmonte não teve influência familiar nas escolhas profissionais, já que seu lar não era afeito à arte. Porém, como bom adolescente brasiliense, queria ser músico e chegou a montar bandas de rock e de jazz, acompanhando a verve da cidade nos anos 80, em suas Legiões, Capitais e Plebes. O desvio de rota teve como cenário o Cine Brasília, onde acompanhou uma mostra de cinema fantástico. Assistir Pasolini e Tarkovski na adolescência abriu nele a percepção de que estava diante do que faria pelo resto da vida. Aproveitou que, no colégio em que estudava, havia uma câmera de VHS e uma ilha de edição aberta aos alunos. Assim iniciou seus primeiros experimentos: bingo, em 1988, começava o curso na UnB. “O cinema para mim é uma experiência humana e, por incrível que pareça, o cinema comercial teve um quê de experimental, assim como as minhas videoartes, os clipes e os filmes independentes”, define.
O diretor em ação
Alemão 2
Alemão é o nome de uma das 14 comunidades que, juntas, formam o conhecido Complexo do Alemão, hoje com mais de 180 mil habitantes e considerada uma das mais violentas do Rio de Janeiro. Em 2014, quando do primeiro filme, o local era alvo do projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que deram a tônica da trama. O abandono do projeto, a corrupção policial e os interesses políticos na manutenção da “guerra às drogas” dão o fio condutor do novo longa.
É impossível desassociar este filme de clássicos brasileiros do período chamado de Retomada (o cinema brasileiro pós-1995), com Cidade de Deus e Tropa de Elite. Mas não se engane: Alemão 2 tem espaço próprio entre os filmes ambientados nas comunidades do Rio. A trama dá sequência a Alemão, de 2014, porém pouco do elenco segue aqui, e sem dúvida o enorme destaque se dá para Mariana, personagem de Mariana Nunes. Agora ela é mãe de Cavi, apelido de Carlos Vinicius (Lucas Sapucahy), fruto da relação com Playboy, o traficante que, no primeiro filme, foi vivido por Cauã Reymond. Agora o Complexo do Alemão é dominado por outro traficante, Soldado (Digão Ribeiro).
Em tom documental, cenas reais de noticiários lembram a intervenção das Forças Armadas nas comunidades cariocas em 2017 e suas justificativas que não se sustentaram. Há também cenas da vitória de políticos que se apoiaram em redutos eleitorais dominados pelo tráfico e as milícias, em 2018. Há cuidado estético nas imagens de realidade e de ficção: as jornalísticas são borradas e há tarjas sobre os olhos das figuras públicas. “Nem faria sentido se imagem real fosse confundida com ficção, a ideia não era promover essa mistura na cabeça do espectador. Ao contrário, tem que ficar claro o que é fato e o que é ficção”, explica Belmonte.
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O longa de 2014 teve elenco de protagonistas brancos vivendo histórias do lado “do bem” – os policiais que viviam infiltrados no Complexo – para desarticular o lado “do mal”, os traficantes, composto por negros. A crítica foi implacável quanto ao reforço dos estereótipos e também pela pouca presença feminina. Em Alemão 2, nota-se o acolhimento à crítica e sua correção: a chefe do comando policial é uma mulher negra, Amanda (Aline Borges). O roteiro tem como premissa apresentar uma operação que seja capaz de desarticular o comando de Soldado, mas com o uso da inteligência e sem que se dê sem um único tiro. O insucesso da iniciativa tem como causa policiais corruptos e articulados com o próprio tráfico. A apresentação de dados reais corrobora: o percentual de investimentos em inteligência na Polícia Civil do Rio foi de apenas 1,2% do total de recursos dedicados ao setor. O acolhimento às críticas também é revelado na presença de Zezé Motta, que dá vida a uma enfermeira que perdeu o próprio filho em operação policial e que tem falas fortes como “nem toda mulher negra vestida de branco é vendedora de cuscuz”. O elenco conta ainda com Leandra Leal e Gabriel Leone. “Em toda a minha formação, pensava em fazer cinema sobre questões existenciais, não sobre grandes temas. Mas acabou sendo inevitável entrar neles, depois de Carcereiros”, revela Belmonte, diretor da série do Globoplay. De fato, os temas existenciais marcaram suas primeiras grandes produções, como A Concepção, de 2005, marco do cinema brasiliense, e Se Nada Mais Der Certo, de 2008. “Filmei em abril de 2019, mas tinha dois filmes ainda pra rodar, nos meses seguintes. Pela pandemia, tive o privilégio de poder montar em três, quatro meses, o que é o dobro do tempo em que se monta hoje um filme”, revela Belmonte. Outra curiosidade é sobre as cenas sanguinolentas, com armas e tiros. Inevitável tocar no assunto após o acidente no set de Rust, em Hollywood, em que o ator Alec Baldwin acabou matando a diretora de fotografia Halyna Hutchins, em outubro de 2021. “Nossos técnicos no Brasil não usam armas com festin, como foi o caso lá. São dispositivos a gás aqui. Festin é perigoso, pode machucar e até matar, como matou, e nem consigo entender porque este recurso ainda é usado. Fora isso, muitos dos efeitos são executados na pós-produção”, conta o diretor. Belmonte parece estar satisfeito com a vida, ao colocar o feito de Alemão 2 em perspectiva com a carreira que construiu. “Havia uma grande indefinição sobre se eu conseguiria viver de cinema. Graças a Deus, tenho conseguido nestes 52 anos de vida, e acho que ainda conseguirei um bocado mais”, diz. Certamente que sim.
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M ú s i c a
BHASKAR, HEY MR. DJ Personagem influente no mainstream eletrônico, Bhaskar ascende tal qual o irmão gêmeo, Alok, expandindo sua música para fora do Brasil. Nascido em Goiânia e criado na Chapada dos Veadeiros, é Brasília onde considera o seu lar 74
Por Daniel Cardozo
Ao completar 18 anos, os irmãos foram se aventurar na Europa. Os primeiros dois meses foram de abundância, mas depois veio um período complicado. Os irmãos tiveram que procurar empregos em outras áreas. “Eu trabalhei de pintor e garçom, o Alok de barman. A gente teve que mudar nosso contexto de vida. Eu pensei: ‘será que a música é isso mesmo?’”, questionou. Era hora de se reencontrar. O retorno a Brasília foi o desfecho natural. Bhaskar passou anos afastado das picapes. “Precisava ter esse movimento de pausa para entender que era isso mesmo que eu queria. Nossos pais sempre foram DJs e fomos vinculados a uma vida artística. Nesse momento, eu quis viver outra experiência. Mas, no final, eu resolvi atender ao chamado da música”. A identificação com Brasília se deve aos períodos em que morou na cidade, dos 11 aos 18 e dos 25 aos 30 anos. “Eu até brinco com as pessoas que eu me considero meio a meio. Eu não nego minhas raízes como goiano, mas eu fui criado em Brasília. Toda minha personalidade foi criada pela capital. Eu a tenho como meu lar”, revela.
Caminhos Enquanto Alok passou a fazer apresentações ao lado de artistas mais populares, Bhaskar optou por se firmar na cena da música eletrônica. As comparações entre os irmãos ficaram para trás. “Para mim, foi bom e foi ruim. Houve essa pressão porque as pessoas perguntavam ‘será que o irmão do Alok vai ser o novo Alok?’, mas ao mesmo tempo abriu muitas portas”, admite. A pegada de Bhaskar é mais conectada às músicas de baladas da cena eletrônica. O DJ até fez incursões no mainstream, como a remixagem de um hit de Anitta e Silva, além de uma música com o rapper Hungria. Entretanto, o que move Bhaskar é fazer música para a cena de origem. Já o irmão, Alok, rompeu a bolha do gênero e passou a atuar na música popular, com presença frequente em festivais ao lado de artistas de sertanejo e axé, por exemplo.
Fotos: Filipe Miranda
O cenário era a Brasília dos anos 2000. O momento do rock já tinha passado, e a capital vivia uma descoberta de outros sons, com o eletrônico. Foi então que os irmãos gêmeos Bhaskar e Alok, por volta de 16 anos, começaram a se aventurar nas picapes. Até então, nada surpreendente, uma vez que cresceram acompanhando os pais Adriana ‘Ekanta’ e Juarez ‘Swarup’ Petrillo, DJs e idealizadores do Universo Paralello, realizado inicialmente em cenários como a Chapada dos Veadeiros e, mais tarde, em lugares paradisíacos do Nordeste. “Quando estávamos finalizando o Ensino Médio, a carreira de DJ estava acontecendo. Tínhamos várias solicitações para turnê internacional, havia várias músicas nossas nos charts do beatport [site que ranqueia hits de música eletrônica]”, conta Bhaskar, sobre o início da carreira.
Além das parcerias musicais e dos laços familiares, os gêmeos também estão juntos na gravadora Controvérsia, fundada por Alok, na qual Bhaskar exerce o cargo de A&R (Artistas e Repertório). Trata-se de uma espécie de curadoria para pesquisa de talentos e novos negócios. O DJ resume a relação com o irmão com uma frase curiosa: “Apesar de termos nossos caminhos bem distintos, a Controvérsia nos une”. Como planos para o futuro, Bhaskar estipula a meta de ser mais conhecido no mercado internacional, já que tem bons resultados no Brasil. A imersão em música eletrônica é tanta que Bhaskar escuta o gênero em 90% do tempo. Como referências, o DJ elenca os trabalhos de Zoo, Sofi Tukker e Rufus. De vez em quando, os fones de ouvido tocam MPB, hip hop e trap.
Momento Bhaskar se considera um cara de família e passa bastante tempo em casa, mas sabe que é o momento de se dedicar ao trabalho. O DJ tem turnês agendadas em março e maio nos Estados Unidos, temporadas de semanas a milhares de quilômetros da família. A carreira musical de Bhaskar dá sinais de consolidação nos últimos anos. Apenas em 2021, mais de 21 milhões de pessoas ouviram suas músicas no Spotify. O canal no Youtube tem hoje 47 milhões de visualizações e 235 mil inscritos. Ao mesmo tempo que os negó75
Foto: Filipe Miranda
Além de músico, Bhaskar tornou-se empresário e, nas horas livres, refugia-se em casa com a mulher e o filho
cios vão bem e o foco é o trabalho, o DJ encontra tempo para ficar com a mulher, Carol Cola, e o filho Gaian, de 2 anos e 8 meses, além de andar de skate. Em Brasília, é sócio do gastrobar Mezanino, na Torre de TV, seu primeiro projeto que não está diretamente relacionado à música. “Eu sou sócio da Evvo, que agencia vários artistas da música eletrônica. Era um trabalho que estava dentro da minha zona de conforto. Eu ajudava a aplicar os acertos da minha carreira com outros artistas, mas o Mezanino foi uma experiência totalmente nova que estamos adorando”, garante. A intenção foi fazer um espaço que reunisse música e arte, com comida e bebida de qualidade. As inspirações vieram das experiências individuais dos participantes da empreitada. “Eu, que viajo muito, conheço restaurantes e esse é um dos meus maiores prazeres. Às vezes eu até
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prefiro ir jantar, comer muito bem, beber muito bem, do que ir para uma festa”, confessa. A decisão de se mudar para São Paulo, há seis meses, ocorreu depois de um período muito produtivo para ele no Distrito Federal. Bhaskar começou a fazer sucesso em 2016, ainda morando na capital. No ano de 2018, veio uma sociedade com a R2 Produções, que rendeu bons frutos em eventos, maior visibilidade e um leque maior de contatos comerciais. A pandemia foi um momento de aprender a capitalizar de outras formas e entendeu que os músicos também precisam entender da parte empresarial. Antes de 2020, o DJ nunca teve um patrocínio e foi aí que a cerveja Becks entrou para dar força às lives. Agora que os eventos estão voltando, as portas que foram abertas nos últimos anos continuam escancaradas.
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Te a t r o
O florescer do movimento cênico no DF teve um incansável agente. Ao longo de três décadas todos os grandes artistas estiveram nos palcos do admirável James Fensterseifer
JAMES ENCENA Por Morillo Carvalho Fotos JP Rodrigues
Numa dessas traduções que se faz ao Google, “fensterseifer” significa “soluço da janela”. Como não há muito sentido nisso, vamos ignorar a literalidade e os adjetivos e falar sobre janelas, portanto. Uma canção da banda baiana Scambo diz que “a janela forma a tela e o mundo todo, dentro dela, é pequeno pra mim”, e compara a vida passando pela janela como que estar passivo diante de uma televisão, enquanto se troca os canais. Daí o refrão: “não quero ver TV nessa janela”. Essa divagação toda foi porque o cara sobre o qual você vai ler agora é James Fensterseifer. O homem que ofereceu, por mais de 30 anos, à capital federal, uma janela permanente sobre cenas temporárias. 78
À frente do Jogo de Cena, evento que começou semanal, passou a ser quinzenal, depois mensal e, por fim, bimestral, ele convocava artistas de Brasília a apresentarem cenas de suas produções em cartaz. Para o público, era a oportunidade de abrir a visão sobre a produção brasiliense, já que eram exibidas cenas de peças, de espetáculos de dança, trechos de óperas e musicais, enquanto um artista plástico pintava, ao vivo, uma tela – algumas delas, inclusive, ilustram essa reportagem. O Jogo de Cena esteve no teatro Galpãozinho, na Escola Parque, no Sesc Garagem, no Teatro Nacional, mas se consagrou na Caixa Cultural. Em muitos dos espetáculos apresentados, era ele próprio, James, quem dirigia ou assinava a luz, pois não foi apenas o catalizador da arte cênica brasiliense: é também um realizador. E se você precisa da memória do teatro da capital federal, pode saber: é bem provável que, entre as malas, caixas, sacolas e prateleiras da sala comercial que ele conserva no final da Asa Norte, esteja o que você procura. Foi este, também, o cenário de nossa conversa.
Nascido em Porto Alegre, James veio parar em Brasília em 1984, quando concluiu o ensino médio. O pai, funcionário da Receita, recebeu uma oferta de transferência e, dentre os benefícios de viver na capital estavam um apartamento funcional, na 108 Norte, e a matrícula de James na Universidade de Brasília (UnB). Primeiro, estranhou a vida na Superquadra. “Parecia uma prisão”, diz. Depois, ao procurar fazer amigos, acabou picado pelo mosquitinho do teatro, pois o pessoal que conheceu era do meio. Foi o que o fez abandonar a faculdade de Administração. “Amigos que fiz na UnB e mais ligados à arte me chamaram pra fazer o Presépio Vivo do Conjunto Nacional. Lá eu conheci tanta gente que você nem imagina: Iain Semple, Léo Neiva – o criador do Jogo de Cena, já falecido – e vários artistas da cidade que faziam aquele ‘bico’ porque era um jeito de ganhar um dinheiro perto do Natal. O Sérgio Peçanha, que montava o Presépio, acabou me chamando para atuar no espetáculo Com o céu entre os dentes, em que fiz um par romântico com a Ana Paula Padrão, em uma cena. Então, comecei a conhecer muita gente pela arte, e muito rápido”, lembra James. O resultado já foi dito: adeus, universidade. Todavia, houve um porém, um “antes”: James fez o desenho da luz desta peça, também a convite de Peçanha. Tempos depois, estava na plateia da Feira de Música, que semanalmente ocupava o teatro Galpão, e que era uma mostra dos shows que ocorreriam na cidade. Foi quando ouviu o convite de Néio Lúcio para que quem quisesse fazer a luz do evento o procurassem. Ele quis. Iluminou quatro edições da Feira, suficientes para receber o convite para ser o iluminador do Jogo de Cena – evento concebido para ter o mesmo formato da Feira de Música, porém aplicado às artes cênicas. “O Luiz Humberto era o diretor da então Fundação Cultural – hoje Secretaria de Cultura e Economia Criativa – e estava muito empolgado e implementando tudo. E participei das primeiras reuniões de formatação do Jogo de Cena. O Luiz estava vindo do Rio, onde participou do Circo Voador, numa época em que se mesclava Paralamas do Sucesso com apresentação do Asdrúbal Trouxe o Trombone (famoso grupo teatral que tinha nomes como Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães, Deborah Bloch e Evandro Mesquita) e tinha essa cabeça”, conta. 79
James fala de situações que ocorreram há mais de 35 anos como se fossem ontem. A memória, portanto, é invejável, mas a sala feita para abrigar as lembranças e de onde ele dá a entrevista é reveladora sobre o porquê dela ser tão boa: é exercitada a cada foto que ele puxa de um montinho, enquanto conta uma das histórias. Ou com as camisetas de todas as incontáveis edições do Jogo de Cena, cuidadosamente guardadas. Ou, ainda, quando saca uma espada feita em serralheria, concebida por ele próprio para ser usada em espetáculos.
Fundador do Jogo de Cena, James também é iluminador e fotógrafo de peças e festivais
Entretanto, foi a luz o que sempre o guiou ao teatro. Trabalhou com Robson Graia – que era chamado de “príncipe do entretenimento do DF” – em Homem Não Chora. “Em seguida, fui chamado para realizar a iluminação de Crepe Suzette 2, de Alexandre Ribondi, e passei a fazer muitas produções. Fiz No Verão de 62, de Ribondi também, em que a luz participava do espetáculo como personagem”. Com Graia, aliás, esteve pela primeira vez no palco como ator. E última. Ao se ver no VHS daquela peça, desgostou da própria interpretação. Já estava montando dois outros espetáculos, como ator, e convenceu seus diretores a sair dos elencos e voltar para aquilo que já sabia que gostava muito: a iluminação. Não foi na velocidade da luz, mas foi assim que, rapidamente, criou laços com boa parte dos diretores de Brasília. Viajou o País e o mundo para levar luz aos espetáculos. Em 1988, por exemplo, esteve em Londres com a AntiStatusQuo Companhia de Dança, de Luciana Lara. Em paralelo à luz, foi fotógrafo de inúmeras companhias – e suas imagens compõem grande parte de seu acervo – produtor de outras como A Culpa é da Mãe – hoje, Melhores do Mundo –, G7 e Anônimos da Silva, e abriu as próprias companhias de teatro: a Brasilienses, que faz a releitura de clássicos da dramaturgia, e a Fictícia, já mais dedicada à comédia. Ministra oficina de escrita de textos teatrais, que resultaram no livro Dramaturgia em Isolamento, lançado ano passado. Por falar em livros, também é autor de Carne Viva e do mais recente, lançado em 2021: O Labirinto sem Fio de Dédalo. Essa história de devoção, entrega, catalogação e envolvimento com a arte cênica do DF teria um ano comemorativo em 2020: seriam cinco edições do Jogo de Cena para celebrar os 35 anos da existência do projeto. Nem é preciso dizer o que impediu que acontecesse, mas agora a expectativa é realizá-lo em 2022. Se a pandemia nos fechou as janelas para a arte, basta que ela passe para que saibamos quem é que há de abri-las novamente: James Fensterseifer.
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A SOMA PERFEITA Cada um compõe a sua história, mas, quando atuam juntos, o resultado se torna uma empolgante contradição. Mariana Jardim e Gilson Freire são robustos no conceito, leves na execução Por Giovanna Pereira
A história dos arquitetos Mariana Jardim e Gilson Freire é essa. Ambos se conheciam de outros carnavais, até que Brasília os uniu profissionalmente anos mais tarde. Nascidos no Rio de Janeiro, ele na capital do estado e ela, em Niterói, vieram para a cidade da República ainda na infância, aqui ficaram e se apaixonaram por este museu aberto. Cada um seguiu seu caminho, mas logo no ensino médio se conheceram. “Foi na escola, durante a época do Marista, que nos esbarramos pela primeira vez”, lembra Mariana. Por entre os corredores, durante as lições de Matemática e de Artes, na fala dos professores que lhes ensinavam que a criatividade é transformadora, a todo instante, desde cedo, os interesses de ambos convergiam. “Criamos um laço sincero de amizade e, quando a vida sorriu, nos encontramos novamente já formados para trabalhar juntos”, brincou. Entretanto, chegar até aqui, o caminho, para Mariana não foi tão simples. Tornar-se arquiteta foi uma enorme transformação. “Em 1991 fiz vestibular para Arquitetura, não passei em Brasília, apenas em Belo Horizonte. Como em minha família muitos são juristas, meu pai me sugeriu fazer uma universidade particular de Direito para ficar na cidade”, conta. “Foi um período infeliz”, completa. O caminho jurídico a levou a ganhar uma bolsa de estudos na Espanha. “Quando cheguei lá, maravilhada com o que via, veio a pergunta: é isso mesmo que eu quero para mim? Definitivamente não era”. De volta ao Brasil, Mariana engravidou pela primeira vez e foi a grande chance da virada. Era hora de recomeçar. Matriculou-se em Arquitetura e Design. Entre idas e vin82
Foto: João P. Teles
Brasília é encontro. A união de caminhos e histórias. Desde sempre foi assim. Do sonho que reuniu homens e mulheres de todo o País para construção de uma nova capital até hoje, quando amigos de escola se reencontram para contribuir com a cidade que os acolheu.
Os arquitetos Gilson Freire e Mariana Jardim
das, com uma rotina sempre muito exigente, ela conseguiu, finalmente, em 2018, formar-se. Sua atuação aos poucos foi crescendo, começou projetando quartinhos de bebê e, assim, sua empresa prosperou na capital e projetos importantes entraram no portfólio. Paralelamente a essa história, caminhou a jornada do arquiteto Gilson Freire. Formado em Arquitetura pela Universidade de Brasília (UnB), desde 1998 ele atua na capital. “Assim que me formei, trabalhei em grandes escritórios da cidade, com nomes importantes da arquitetura local. Também me aproximei da engenharia, acompanhei projetos de obras grandes na cidade”, conta. Músico, Gilson não mede as palavras ao contar que cada projeto deve “pulsar, ser inspirador e empolgante, se não for assim não vale a pena”. Em 2003, o arquiteto abriu seu próprio escritório e, desde então, escreve partituras visuais em diferentes escalas, desde a residencial até a urbana, com projetos em maior escala. Mas a lição que Gilson leva da arquitetura é a que ela “nos permite, enquanto profissionais, trocas riquíssimas com o meio, com o outro e com nós mesmos”.
Fotos: Cláusen Bonifácio
Casa Ipê: a dupla criou um ambiente em homenagem à GPS|Foundation na CasaCor 2021
No ambiente, um mobiliário contemporâneo com toque de rusticidade e brasilidade. Elementos naturais, como painéis de madeira e iluminação cênica, além disso, o projeto usou materiais de cunho ecológico no piso, aplicados na entrada. “O olhar para a sustentabilidade, exigência da edição da feira de 2021, muito nos alegrou”, disse Mariana. A Casa Ipê convidou a todos para circularem em um espaço de eventos, onde os arquitetos propuseram, assim, um ambiente sem recortes. “Criamos um projeto leve, com um mood tranquilo e convidativo, como é o carinho e o jeitinho de Brasília”, disseram.
A simplicidade e a força dos ipês
Com aproximadamente 90m², o espaço na mostra inspirou-se na força dessa árvore tão característica da cidade, que, mesmo em situações adversas, tem sua floração. As diferentes flores da espécie foram representadas nas cores alegres do ambiente.
Enquanto a poesia de Mariana está na paixão de encontrar-se, em olhar para o detalhe e realizar sonhos, Gilson arquiteta cada etapa do projeto com maestria. Foi reconhecendo essa harmonia de contrários que a dupla de arquitetos se uniu para criar um ambiente na 29ª edição da CasaCor Brasília, que homenageou o trabalho realizado pela GPS|Foundation. Na Casa Ipê, o trabalho de ambos foi exaltado em um ambiente robusto em conceito e execução leve. “Inicialmente, havíamos pensado em um projeto mais glamoroso, seguindo a identidade do grupo GPS, mais voltada para o lifestyle. Mas, então, adaptamos para a proposta que homenageia o lado social”, explicou a arquiteta e designer. “A partir disso, pensamos em um conceito que pudesse amarrar nossas ideias visuais e o trabalho realizado pela entidade. Buscamos nos ipês essa inspiração. Voltamos nosso olhar para Brasília e para a beleza do Cerrado”, completou Freire.
Um dos destaques foi aplicação de tecido no teto, que remete à formação de nuvens no céu da capital. Em uma união de amizade, profissão e missão, Gilson diz sem titubear: “Eu e Mari somos uma soma perfeita. Ela é detalhista, carinhosa e cuidadosa com o lado humano do projeto. Eu olho para o material, para a escala e percurso de execução. O olhar para o macro e para o micro”. Mariana logo finaliza dizendo que “por mais trabalhoso que seja um projeto, por mais enlouquecedor, tudo vale a pena se fazemos comprometidos com o conceito e com a vontade de uma entrega de excelência. A casa Ipê foi isso”. @gilson_freire_arq www.agaleriadf.com @marianajardimarquitetura vsco.co/mjardimarquitetura/gallery
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E s t i l o
Autora de vinte livros, Claudia Matarazzo ensina sobre comportamento nesta era de transformações: relacionar-se de forma agradável para que os vínculos não se percam
ACOLHIMENTO, A NOVA ETIQUETA SOCIAL Por Juliana Eichler Fotos JP Rodrigues
Lembre-se da época das grandes monarquias no mundo: bailes elegantes, mesas postas com inúmeros tipos de talheres, taças, pratos. O comportamento era impecável à frente de outras pessoas. Como uma tradicional família italiana, os Matarazzo, que embarcaram do continente europeu diretamente para a cidade de São Paulo, seguiam muitas dessas normas de conduta. E foi com uma série de regras como essas que, na década de 1960, cresceu Claudia Matarazzo. 84
Os caminhos que trilhou em sua vida a levaram até onde ela se encontra hoje: jornalista especializada em etiqueta, com passagens por renomados veículos de comunicação brasileiros, além de escritora e chefe do Cerimonial do Governo do Estado de São Paulo. Porém, diferentemente do que muitos podem imaginar, o que a fez falar sobre comportamento de forma geral não foi o fato de fazer parte de uma família tradicional, mas sim ter convivido com diferentes culturas ao longo de sua vida – estudou em uma escola bilíngue na capital paulista.
Hoje, aos 64 anos, ela vê essa experiência como uma das responsáveis pela escolha de sua carreira. “Eu convivia em meio a pessoas com maneiras e hábitos completamente distintos e, para mim, era muito natural aprender o jeito de cada um”, explicou, em entrevista à GPS durante passagem por Brasília. Claudia esclarece: etiqueta não é somente saber em qual taça servir determinada bebida, por exemplo, é a linguagem universal das culturas, uma maneira de se relacionar de uma forma agradável para que os vínculos não se percam e as relações evoluam. Inicialmente, era baseada em três pilares: bom-senso, naturalidade e afetividade. “Mais importante do que se preocupar com a maneira certa de manusear um talher, é saber deixar o outro confortável física e emocionalmente”, destaca. “É a etiqueta do acolhimento”. Tais normas mudam à medida que os anos passam e se adaptam de acordo com a evolução da sociedade. Em uma retrospectiva em meio a uma conversa descontraída, Claudia revê as diversas fases que a população mundial já viveu: “Houve uma grande revolução de costumes no final dos anos 60 e início dos 70”, introduz, com seu forte sotaque paulista. “Nessa época, o mundo era todo certinho, parecia um filme de ‘Sessão da Tarde’”, comenta. Havia uma hierarquia dentro das famílias e nos ambientes corporativos. Veio então a icônica cultura hippie. “O mundo virou de cabeça para baixo, nunca mais foi o mesmo”, acredita. Essa ebulição durou cerca de 15 anos e deu lugar à geração YUP (young urban professional: jovem profissional urbano, em tradução livre), que surgiu com Wall Street. Os trabalhadores dessa época cresceram em um cenário em que liberdade era moda, e isso impactou diretamente no comportamento dentro dos ambientes corporativos. “Chefe? Dresscode? RSVP? Ninguém sabia o que era isso, a etiqueta era algo careta”, ressalta. “Era uma geração com jovens ambiciosos, mas que não se portavam como profissionais e, por isso, precisavam de orientação”, analisa.
Transformar hábitos em carreira Nascida em São Paulo, casada há 34 anos e mãe de uma única filha, Valentina, de 24 anos, Matarazzo conta que sua relação com essa série de protocolos comportamentais nem sempre foi das melhores. “Eu achava tudo isso muito chato”, confessa, aos risos, relembrando as reviravoltas em sua vida – e com uma postura na poltrona sempre impecável. E ela só foi enxergar que esses hábitos poderiam se tornar algo mais do que uma tradição de família quando recebeu a proposta para escrever um livro sobre a temática. Eti-
queta sem Frescura foi lançado em 1995 e tornou-se um verdadeiro sucesso no País. “Percebi que a ‘coisa do sem frescura’ era muito importante, porque as pessoas queriam saber mais sobre o assunto e se relacionar melhor, mas não queriam que fosse complicado”, comenta. “Etiqueta já é um assunto de que as pessoas geralmente têm medo, então tento evitar que elas criem uma barreira antes mesmo de conhecerem mais”. Desde então, já foram lançadas vinte publicações em diferentes nichos, como casamento e comportamento na internet, até a sua mais recente, Mesa Brasileira, que fala sobre a rica culinária do País. “Quando você começa a lidar muito com o assunto, percebe que há uma série de ramificações”, explica. 85
A revolução da informação “O mundo virtual mudou tudo”, avalia Matarazzo. Ela analisa que, do ponto de vista comportamental, muitos ajustes precisaram ser feitos a partir do momento em que surgiram a internet e os primeiros celulares. Assim como em 1970, essa nova era revolucionou novamente os costumes da sociedade, que, agora, tem acesso à informação mais fácil e rapidamente. Apesar de a criação do ‘world wide web’ ter trazido inúmeros benefícios para a população mundial, Claudia acredita que, por causa do turbilhão de informações diário, hoje em dia tem-se mais pressa, as relações interpessoais são mais rasas e informais, e os indivíduos, mais ansiosos. “Antigamente, as pessoas tinham vínculos profundos, amizades sinceras. Agora, elas têm seguidores”, lamenta. Nesse cenário de ansiedade e que, na opinião de Matarazzo, torna as pessoas mais afobadas e deseducadas, ela passou a ser requisitada para palestrar sobre administração do tempo e tempo de qualidade. “As pessoas acham que não dão conta de nada e eu digo que não é bem assim! O mundo não acaba se você pisar no freio”, destaca. Com a propagação da informação, houve também a defesa do lutar da população feminina no mundo, mas ainda há muito por que lutar. Claudia destaca que desigualdade salarial, tarefas domésticas e desvalorização da profissão são alguns dos fatores que atrapalham a ascensão feminina no mercado de trabalho, independentemente do ramo. “Mas não vamos reverter o quadro partindo para briga com os homens ou nos amargurando”, ressalta. “O que temos que fazer é não perder o foco e lembrar que precisamos continuar sempre no exercício de valorizar as pequenas conquistas do dia a dia”, diz. Claudia Matarazzo usa a tradição familiar para orientar novas geraçōes
A pandemia Mais uma vez, mudam-se os hábitos e os costumes da sociedade. O surgimento do coronavírus e a consequente declaração de uma pandemia fizeram com que todos desacelerassem o ritmo corrido e olhassem mais para dentro de si e de suas casas. “Foi um momento para parar e repensar o jeito de viver, de se comunicar e até de se relacionar com o outro”, acredita. O ambiente corporativo também foi fortemente afetado com a crise, e o mundo foi obrigado a lidar com o home office, com as videochamadas e com os novos comportamentos que a nova realidade, agora à distância, exige. A etiqueta precisou, então, se adaptar aos moldes atuais e ditar diferentes regras. O assunto tornou-se o principal tema das palestras de Claudia nos últimos anos, e a jornalista e especialista em etiqueta compartilha valiosas dicas para cultivar boas re86
lações neste período. “Tom, voz e expressões faciais não enganam. Só assim sentimos a pessoa, percebemos suas características e personalidade”, conclui. Só assim mantemos a máxima da etiqueta social: o acolhimento.
Dicas de etiqueta para o mundo atual • • • • •
Não faça virtualmente o que você não tem coragem de fazer ou falar presencialmente Sempre que possível, valorize o contato pessoal, o “ao vivo e a cores” Entenda que interagir é diferente de se comunicar: comunicar-se é aprofundar um vínculo, um raciocínio Confie na sua intuição Entenda que você não é obrigado a dar conta de tudo
@claumatarazzo www.claudiamatarazzo.com.br
F i l a n t r o p i a
ELAS SONHAM E REALIZAM Dinamismo e ação são prerrogativas na vida de Lola Endres, fundadora do Clube dos Sonhos, uma empresa social que convoca lideranças femininas a amparar o próximo Por Juliana Eichler
Em sua trajetória profissional, Lola passou por diversas áreas: graduada em Jornalismo, trabalhou com design de interiores e foi atriz por 18 anos. Atualmente, ela divide seu tempo também com a empresa imobiliária de seu marido. Mesmo entre todas essas expertises, jamais ficaram de fora os trabalhos voluntários. A vontade de transformar a existência de quem cruza seu caminho e motivar o próximo a seguir seus objetivos levaram Lola a fundar o Clube dos Sonhos. A empresa social nasceu em setembro de 2021 e em sua missão está transformar as vidas daqueles que vivem em estado de vulnerabilidade. O clube tem se destinado à segurança alimentar e à doação de cadeiras de rodas e produtos que auxiliam na locomoção. E mais: por onde passa, incentiva e auxilia pessoas a abrirem seus próprios negócios. Pois não é somente sobre doar e, sim, capacitar. Em 2021, Lola criou o Encontro MSR: Mulheres Sonhadoras e Realizadoras, um projeto do Clube dos Sonhos. “Quero contribuir, realizar e transformar vidas por meio da solidariedade e da esperança”, afirma. A primeira edição ocorreu no Dia das Mulheres deste ano e convocou 12 lideranças femininas do Distrito Federal para integrarem a associação. “São mulheres que compartilham dos desejos de contribuir e partilham suas próprias histórias”, pontua. “Quis criar um grupo de mulheres fortes, que eu respeito e admiro em suas carreiras. Todas são mães e precisam dividir seu tempo com outras tarefas, mas, ainda assim, conse88
Fotos: JP Rodrigues
Quando criança, a empresária Lola Endres separava, todos os meses, roupas que não usava mais para levar a orfanatos. Foi quando começou a desenvolver o olhar para o próximo. Neste ato, algo tocava o seu coração. “Eu estava contagiada com a forma como as crianças ficavam felizes”, revela. Os anos se passaram, mas as lembranças dos momentos de caridade permaneceram na memória da brasiliense.
guem tirar um tempo para administrar um grande negócio e amparar quem precisa”, conta Lola. Cada uma das selecionadas faz doação de cestas básicas para auxiliar famílias em situação de vulnerabilidade no Distrito Federal.
O futuro Este semestre será repleto de projetos. O clube prepara o lançamento de um podcast. No SonhoCast, Lola entrevistará mulheres e pessoas que venceram dramas como depressão, doenças terminais, drogas. Relatos que possam resgatar a esperança daqueles que a perderam. “Sucesso não significa dinheiro, significa vencer”, define. Logo após, no Dia das Mães, Lola deu uma missão para as voluntárias: convocar, cada uma, mais três lideranças femininas. E assim, até o fim do ano, ela pretende realizar eventos para um público maior, com cerca de 200 pessoas. Em dez anos, Lola vê o projeto em todo o País. “Queremos uma plataforma educacional, canal de televisão, eventos com palestras, feiras de exposição”, conclui. @clubedos_sonhos
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Fotos: Divulgação
Recurso para se fortalecer da fragilidade provocada pela pandemia, há dois anos o livro Mais Esperto que o Diabo é best seller no Brasil. O autor Napoleon Hill discorre sobre os medos que o dito cujo imprime na mente humana
A DIFERENÇA ENTRE VITORIOSOS E FRACASSADOS Por Morillo Carvalho
“Um dos mais astutos instrumentos que uso para o controle da mente humana é o medo. Planto a semente do medo nas mentes das pessoas e, conforme essas sementes germinam e crescem, pelo uso contínuo dos pensamentos negativos, controlo o espaço que elas ocupam. Os seis medos mais efetivos são o medo da pobreza, da crítica, da perda da saúde, da perda do amor, da velhice e da morte”. Palavras do diabo, a quem me referirei com inicial minúscula por não conseguir me livrar do dogmatismo cristão nem mesmo no campo profissional. Mas, sim, cada
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frase foi proferida pelo dito cujo a Napoleon Hill, autor estadunidense que, na década de 1930, esteve com ele, o próprio, transformando suas palavras em livro que, agora, em 2022, comemora dois anos seguidos como o maior best seller do Brasil. O autor era daquelas pessoas que têm o que se costuma chamar de faro para o dinheiro. O que tocava transformava-se em ouro, em qualquer ocupação que resolvesse ter. No entanto, após algum tempo em cada uma das profissões que exerceu, e foram muitas, entrava num ciclo de tédio e desânimo que o levava a desistir. Por vezes, abrindo mão também das fortunas que ia acumulando.
Essa inquietude levou Hill a procurar respostas que o tirassem deste círculo vicioso que alternava prosperidade e penúria, e uma das missões que assumiu para si foi entrevistar Andrew Carnegie. À época, o escocês radicado nos Estados Unidos era um dos homens mais ricos do mundo, industriário, chamado de Rei do Aço. Queria compreender, conhecendo os seres humanos mais bem-sucedidos, o que os levara ao sucesso. Foi quando ouviu o desafio de Carnegie: que não se dedicasse a conhecer apenas as mentes dos milionários, mas também a dos fracassados. Que entrevistasse centenas, milhares de pessoas, num trabalho que duraria décadas, para desenvolver uma filosofia de realização prática, e que desse o insumo para que outras a conhecessem e passassem a, também, deixar o círculo de derrotas. A partir dessa busca nasceu Mais Esperto Que o Diabo. Na imersão por ir ao encontro de vitoriosos e fracassados, Napoleon encontrou-se com um dos seres mais bem-sucedidos da História do mundo: o capiroto. Segundo o ser das trevas, 98% da humanidade estaria sob seu controle, pois teria implantado toda a noção derrotista diante da vida. “Planto esses medos nas mentes das pessoas de forma tão inexorável que elas acreditam que são a sua própria criação. Realizo essa tarefa, fazendo com que as pessoas acreditem que eu estou lá, esperando-as no portão de entrada da próxima vida, esperando para julgá-las e puni-las por toda a eternidade. É claro que não posso punir ninguém, exceto na própria mente dessa pessoa, por meio de alguma forma de medo – mas medo daquilo que não existe é tão útil para mim quanto o medo daquilo que existe. Todas as formas de medo ampliam o espaço que ocupo na mente humana”, revelou. O livro, portanto, é uma arma para combater aquilo que o mundo ocidental convencionou, por sua tradição judaico-cristã, chamar de diabo. E entrega as ferramentas para que seja possível vencê-lo, sem a necessidade de unir-se ao próprio, contrariando a máxima norte-americana sobre inimigos, segundo a qual, “se não pode derrotá-los, junte-se a eles”. E se, num tempo de medo de algo que existe – o coronavírus – o cão fez a festa, é bem provável que esteja bem triste em saber que muita gente optou por enfrentá-lo ao escolher pela leitura de um livro que entrega as ferramentas para tal. O editor da versão brasileira, líder de vendas em 2020 e 2021, Marcial Conte Jr, credita o sucesso das palavras de Hill a uma missão – já que ele é considerado o pai da literatura de desenvolvimento pessoal, ou autoajuda. “O propósito era trabalhar com desenvolvimento pessoal. Colocar em prática a filosofia do sucesso era colocar em prática as regras de ouro”, revela Conte. Nesse percurso de crises existenciais de Napoleon, em 1937, um ano antes de encontrar o sucesso quando escreveu este livro, houve o fundo de um poço. “Ele foi acabar morando no sótão da casa de parentes, no oeste da Virgínia. E dizia pra si: como eu, que fiz as maiores entrevistas com os homens de maior sucesso, e descobri as causas do
O autor norte-americano Napoleon Hill, na década de 30
sucesso e do fracasso, como é que eu posso estar numa situação dessa? Ele não conseguia se olhar no espelho”, detalha. Depressão, juras de morte e proximidade da loucura foram as consequências deste processo. E foi quando ele teve essa epifania. “Foi quando decodificou a mente do diabo e descobriu como ele faz pra sabotar a mente e a vida das pessoas. É quando ele tem a revelação de que o diabo não é uma criatura de rabo pontudo e cara feia e sim a parte negativa de tudo, está presente no átomo. E você tem a opção de vibrar negativo ou vibrar positivo”, destaca o editor brasileiro. Se contarmos mais do que isso, estragaremos toda a graça e a surpresa da leitura. Então tomemos como exemplo a jornada do nosso conterrâneo: seguindo os passos de Napoleon Hill, o editor brasileiro deu uma virada radical na própria vida. De empresário da área de saúde, viu no texto a possibilidade de abrir uma editora para criar a edição brasileira. Nas prateleiras das livrarias desde 2014, sempre com boas vendas, o best seller atingiu os ápices nos anos pandêmicos. “Esse livro eu comprei numa viagem. Cheguei no Brasil e quis dar de presente para um tio, mas não tinha esse livro aqui. Aí mandei um e-mail para a fundação Napoleon Hill, que me informou que não existia tradução em português do Brasil. Fiz contato com um grupo de investidores e montei a editora para o livro. E hoje a Citadel tem 230 títulos lançados e, este ano, lança mais cem títulos”, conta. Uma coisa é certa: se quer ter sucesso, melhor seguir o exemplo dos que já o encontraram... Mais Esperto Que o Diabo Editora Citadel, 208 páginas Preço médio: R$ 20
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D i g i t a l
Uma companhia que conta histórias, cria narrativas e expande repertório. Objetivo: atrair a dispersa audiência que transita na mídia digital, e vender. Essa é a Reset Content
CONTOS PARA UM MUNDO VIRTUAL Por Letícia Cotta Foto JP Rodrigues
Saber comunicar e emitir justamente o necessário ao público-alvo é algo que poucas instituições são capazes de fazer perfeitamente. O êxito, diante desse desafio, é inovar, agradar e atrair novos públicos. Foi com a ideia de dar um reset em toda a marca e provocar um real rebranding que os publicitários Aloísio Brandão e Luan Martins apresentaram ao mercado a Reset Content. O fundador da Reset, Aloísio Brandão, é formado em Comunicação Social e pós-graduado em Mídias Digitais. Em mais de 25 anos de empreendedorismo, já passou por todas as áreas da comunicação, como agências, veículos e produtoras — e, com todo esse tempo de carreira, foi preciso astúcia para fazer o mesmo, só que diferente, e melhor. Por isso, tornar-se único passou a ser o objetivo. O caminho se cruzou com Luan Martins, comunicólogo, cuja performance o fez sair do quadro de colaboradores para a sociedade na empresa. Especializou-se em Growth Hacking, ampliando e aprofundando o negócio na emergente área da tecnologia da comunicação. Diante da transformação digital pela qual o mundo atravessa, Aloísio e Luan decidiram, então, desfazerem-se 92
do modelo tradicional de agência de publicidade e investiram em planejamento e produção, libertando-se do modelo de trabalho adotado pelo mercado publicitário. A Reset produz conteúdo de alto padrão. On line e off line. Phygital. Isso tornou-se especialidade, cuja ideia é contar histórias, aliar-se aos clientes e mostrar-lhes o admirável mundo novo. “Nos últimos anos, as pessoas mudaram a forma de consumir conteúdo. Elas não têm mais tempo para ver algo que não as interessam. Hoje, para conquistar a atenção das pessoas, são utilizadas estratégias para captar a audiência. Mas o processo é mecânico e automatizado, sem humanização. A Reset Content vem para suprir esse gargalo e alcançar a simpatia da audiência para com as marcas”, explica Luan Martins. Dessa forma, procuram a Reset apenas empresas que buscam algo disruptivo, sem chance de erro ao traçar o objetivo de fugir da caixinha e inovar nos negócios, atraindo novos clientes. Aqueles que buscam a empresa entenderam e se adaptaram ao inovador processo. Percebem que é a forma mais assertiva de se comunicar atualmente. Aloísio costuma dizer que boas histórias criam conexões com as pessoas, fazendo com que olhem para o produto ou negócio que consomem com admiração e, consequentemente, desejo. “Eu comparo as redes sociais de hoje às mídias de tevê das décadas de 80, 90 e início dos anos 2000, em que as pessoas passavam várias horas do dia assistindo aos entretenimentos. Hoje vivemos o inverso, são horas de atenção na telinha do celular. É claro que a comunicação precisa ser diferente em sua narrativa. São outros gatilhos a serem despertados”, compartilha o fundador. @daumreset
S a ú d e
CIRURGIA PLÁSTICA
Humanizar, customizar, é a nova ordem diante das transformações pelas quais o mundo atravessa. O cirurgião plástico Douglas Freire é precursor neste modelo de atuação
O DIAGNÓSTICO DO SENTIMENTO Por Pedro Ângelo Cantanhêde Fotos JP Rodrigues
“Pacientes como amigos”. Nas redes sociais do cirurgião plástico Douglas Freire, a frase tornou-se hashtag. O médico trabalha com sonhos, autoestima e expectativas. Ao longo de seus 28 anos de carreira, criou uma forma singular de atuar: olha no olho, escuta suas dores para, assim, propor soluções. “A cirurgia plástica deve ser feita no momento adequado. O paciente precisa estar mentalmente bem, nunca procurando resolver problemas pessoais por meio da cirurgia”. A mudança tem que ser de dentro pra 94
fora. Um midset. A consciência de que a cirurgia plástica vem para complementar uma mudança interna”, acredita., acredita. As previsões realistas e a construção de uma troca sincera fazem de Douglas um destaque da área em Brasília, onde atua há 15 anos. Muitos chegam com sonhos alcançáveis, outras vezes, não condizentes com o melhor que pode ser realizado. “Cada corpo é um corpo. Não adianta realizar processos idênticos, pois é necessário respeitar as individualidades mórficas de cada um. Faço questão de que as pessoas entendam a seriedade de um
procedimento cirúrgico plástico”, afirma. Os limites do corpo são respeitados em totalidade no processo. Não se trata apenas da estética, mas também da saúde do paciente e, tão importante quanto, do pós-operatório. Douglas Freire se envolve no acompanhamento após o procedimento, em 100% dos casos, durante meses ou até mesmo anos. A sensibilidade humana passa pela primeira consulta e se estende até a completa satisfação de ambos. “O paciente tem todo o direito de ter o melhor que eu posso oferecer. E o melhor inclui segurança e responsabilidade da minha parte”, analisa.
Trajetória Douglas começou sua carreira em São Paulo, sua cidade natal. Formado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), tinha como plano seguir na obstetrícia. Mas ainda estava na faculdade quando conheceu e se encantou pela cirurgia plástica. O poder de transformação que a especialidade proporciona fez Douglas se apaixonar e a eleger como profissão para a vida. O cirurgião viveu seus primeiros 13 anos como profissional na capital paulista, até que uma brasiliense o fez conhecer e se mudar para o centro do País. Nos últimos 15 anos, Brasília é sua casa, de onde não pretende sair. Seu consultório está localizado no Metropolitan Flat, no Setor Hoteleiro Norte, onde faz os sonhos estéticos de inúmeros brasilienses se tornarem realidade.
No consultório A experiência clínica do médico mostra que os procedimentos mais procurados variam entre a lipoaspiração e aqueles ligados às mamas. Nos últimos dez anos, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) registrou um aumento de 141% no número de procedimentos entre jovens. A minilipo, que vem ganhando destaque nos últimos tempos, tornou-se carro-chefe do especialista – e faz companhia para a quarentona lipoaspiração. O cirurgião relata que os locais do corpo onde os pacientes mais buscam a técnica são a cintura, a lateral das coxas, o abdômen, tanto inferior quanto superior, as costas e a papada. O objetivo e resultado são os mesmos: reduzir excessos de gordura de uma determinada região do corpo; além dos mesmos materiais: as cânulas. Contudo, por ser com anestesia local a área deve ser restrita aos limites seguros de uso do anestésico . Entretanto é perfeitamente possível o resultado desejado desde que as etapas sejam bem planejadas. Douglas ressalta ao paciente que é indispensável que o pós-operatório seja um trabalho conjunto. Não é o cirurgião, por si só, que proporcionará a beleza máxima a partir de suas operações, o paciente deve respeitar suas
Douglas Freire busca a sintonia entre corpo e mente
recomendações e de outros profissionais, como nutricionista e personal trainers, que podem somar ao aperfeiçoamento buscado. “Não é uma questão apenas estética, existe um trabalho fisiológico em que todos devem estar aplicados, mesmo após os procedimentos. Deixo isso bem claro”, esclarece. No caso da minilipo, é recomendada a execução de exercícios físicos sete dias após o procedimento. E eles devem ser mantidos a fim de garantir a manutenção das transformações já alcançadas. “Se você não tiver o compromisso em buscar manter aquele peso ou diminuir, pode ser perigoso”, alerta, já que eventuais novas gorduras passarão a surgir em locais não aspirados. Com experiência, segurança e sensibilidade, Freire é o retrato do que se busca atualmente diante de tanta oferta em tecnologia: uma relação verdadeira e humanizada do que faz sentido na evolução estética. Tudo é real: mais que expectativas, a perspectiva segura de um resultado que satisfaça paciente e médico. Instagram: @dr.douglas.freire Contato: (61) 99660-2018
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Karina e Rodrigo Braga atuam à frente da Implantec
São poucas horas que distanciam o diagnóstico do tratamento dentário. Na Implantec, um ateliê com laboratório próprio permite que o processo ocorra de maneira humanizada e segura
Essa, também sumamente importante, vem a se revelar mais tarde. Com diferenciais como laboratório próprio, ateliê digital, impressoras 3D e outros recursos de ponta instalados in loco, todo o processo de diagnóstico e tratamento se tornam incomparavelmente mais rápidos – nada de múltiplas visitas a laboratórios de raio-x externos, ou retornos que parecem se estender por semanas. Na Implantec, jornadas que costumavam exigir dias, se condensam em horas.
Foto: Divulgação
“Quando o paciente chega, fazemos questão que responda a um questionário sobre sua saúde. É uma etapa muito importante para criarmos vínculo e familiaridade não apenas com seus hábitos e seu histórico, mas com o indivíduo, a pessoa”, lista. “Em seguida, é encaminhado para nossa sala de radiologia, onde realizamos o protocolo fotográfico, dentro do próprio consultório, num estúdio cheio de aconchego”, explica Rodrigo. “Por fim, efetuamos o exame radiográfico novamente, num espaço inteiramente nosso. Assim, em poucos instantes, nossos clientes já podem ser atendidos por mim ou pela Karina Braga. Tudo com muito dinamismo, rapidez, sem filas e um toque humanizado”, conclui.
Por Theodora Zaccara
A luz branca, o chão gelado, o cheiro químico no ar. O bater de teclados na recepção, o barulho de “motorzinho”, “escavadeira”, que já te coloca em desconforto. O farfalhar das páginas de revista na sala de espera, o olhar inquieto no relógio de pulso. É... visitas ao dentista não são um parque de diversões, e só de pensar no assunto… já nasce aquela sensação aguda no fundo dos dentes. Esqueça dela e disso tudo – aqui, o sorriso entra primeiro pela porta. Seja bem-vindo à Implantec, uma clínica odontológica que prefere ser chamada de “casa”. “Queremos que nossos pacientes sintam um conforto comparável ao do lar”, frisa Rodrigo Braga, um dos três sócios que comandam o espaço no Centro Comercial Gilberto Salomão, no Lago Sul. Aconchegante, o ambiente te abraça logo nos primeiros passos: sofás largos, cores quentes, iluminação indireta, folhas e flores por toda a parte. Apesar do foco em soluções tecnológicas, o que ganha na primeira impressão não é a inovação, mas o acolhimento. 96
A quem está ponderando o uso de lentes de contato, por exemplo, mais motivos de celebração: enquanto outros consultórios se utilizam de uma via externa para produzir as peças dentárias, a Implantec desenvolve, dentro de casa, as aplicações que cobrem os dentes. Novamente, agilizando o processo e valorizando o tempo de cada paciente. “Nossos consultórios são climatizados e possuem televisões no teto, também contribuindo para esse clima de comodidade e bem-estar de todos que por aqui entram”, afirma. Aquela típica – e demasiado agonizante – massinha usada para extrair o formato dos dentes também deu adeus, abrindo espaço para um scanner infinitas vezes menos incomodo. “Queremos criar uma experiência que seja, em todas as etapas e por todos os ângulos, prazerosa, além de apenas satisfatória”. No final, quando o sorriso genuíno ganha sua melhor roupagem, é momento finalizar o registro do “antes e depois”. Para fechar o ciclo, uma taça de champanhe cai bem em mãos. “Brindamos a conclusão de um trabalho bem-sucedido e comemoramos ao lado do paciente a conquista de uma nova face”. @clinicaimplantec
Foto: Divulgação
SORRIA, VOCÊ ESTÁ SENDO CUIDADO
Foto: JP Rodrigues
H a r m o n i a
Fotos: Felipe Menezes
B r a s i l i e n s e
UM VIZINHO FIEL Projeto de sustentabilidade, aplicativo para delivery, supermercado e atacado, academia acoplada e vinte unidades espalhadas pelo DF. BIG BOX, presente para Brasília 62 Por Theodora Zaccara
O conceito do macro, do master, tem se desgastado com o tempo. Especialmente no momento em que muitos voltam o olhar para o que está ao seu redor. De repente, formatos acolhedores, humanizados passam a fazer mais sentido. E percebe-se... há quanto tempo aquele estabelecimento está ali? Muitas vezes, ele integrou boa parte da história pessoal. De repente, o despertar de que o funcionário é o mesmo há anos, e apenas olhares foram brevemente trocados. Mesmo assim, na superficialidade da rotina, sabe-se que pontos fixos da cidade compõem a existência do quadradinho e sua comunidade. E cada vez que Brasília faz aniversário, a nostalgia misturada com doçura bate forte no peito. Assim é o BIG BOX, um bom vizinho. Sempre presente. Candanga, a empresa nasceu e cresceu em Brasília, formada por gente que faz. Em trinta anos, o mercadinho da quadra tornou-se o supermercado da vizinhança, sempre pertinho. Nesse processo, o que era uma unidade agora são vinte. E assim a trajetória foi ganhando forma. Dos itens básicos aos produtos importados. As verduras e frutas agora também com a opção de orgânicos. Ao açougue agregou-se uma seção de pescados. Os queijos podem ser nobres e harmonizados com selecionados rótulos da adega. Aos adeptos do fit universe, alimentos integrais, sem glúten, sem lactose ou zero açúcar.
O negócio uniu conveniência e comodidade. Assim surgiram no ambiente caixas eletrônicos, lotérica, lanchonete, farmácia. Mas havia espaço para mais... claro, por que não resolver a vida num só local? Surgiu então a academia Acuas, com equipamentos de alta performance, bem como profissionais e suas expertises em inúmeras atividades, como natação, dança e musculação. São seis exclusivas unidades conectadas ao supermercado nos endereços: 413 Sul, 508 Sul, 106 Norte, 105 Sudoeste, QI 11 do Lago Sul e Rua das Castanheiras, em Águas Claras. E, assim, passaram 33 dos 62 anos da capital da República. Durante o recolhimento forçado e a mudança de hábitos de convivência, o grupo compreendeu a importância de preservar a ambiência da casa. A iniciativa de delivery, que já existia antes mesmo do surto pandêmico, ganhou força e relevância com atrativos que não apenas facilitam a experiência de compra do consumidor, mas diferenciam o BIG BOX dos demais concorrentes, a exemplo do aplicativo de entregas próprio, que conecta o cliente diretamente a um funcionário BIG BOX. E como o conteúdo atualmente é a busca direta pela informação, as mídias sociais trazem dicas de receitas a bem-estar e saúde. E, diante do processo evolutivo da própria cidade, o BIG BOX cresceu junto. E lançou a rede de atacado ULTRABOX. Hoje, atende 13 regiões do DF, com planejamento de inauguração em outras localidades ao longo de 2022. Um atacado em completa ascensão no seguimento. @bigboxsupermercados @ultraboxatacado www.bigbox.com.br www.ultraboxatacado.com.br
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P r e ve n ç ã o
TECNOLOGIA COM EXPERIÊNCIA SALVAM Sentir dor frequente não é normal. Porém, 80% dos brasileiros já sofreram com a coluna. O ortopedista Rodrigo Lima atesta: tratamento conservador e reabilitação curam Por Fernanda Moura
Comparar o corpo humano com a engenharia por trás de uma construção parece loucura? Há uma relação familiar. Toda casa precisa de sustentação, existe uma estrutura responsável por mantê-la em pé. Então, ao passo que toda edificação necessita de um esqueleto, o corpo humano também não consegue manter-se sem um suporte: a coluna. E como é exatamente uma coluna? Voltando às aulas do Ensino Médio, a coluna é uma haste óssea, firme e flexível, responsável por proporcionar mobilidade ao tronco, permitindo as mais diversas posições e conectando-se à qualidade de vida de cada indivíduo. Afinal, já pensou em como deve ser realizar as atividades do dia a dia com problemas nesse órgão? A maior contradição é: como uma estrutura firme, sustentada pela presença de ligamentos e músculos resistentes, pode ser, ao mesmo tempo, frágil e delicada? De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 80% da população brasileira já teve ou terá dor na coluna. Ainda, entre as condutas responsáveis por gerar complicações na estrutura central do corpo estão: sedentarismo; sentar-se de qualquer jeito para trabalhar, assistir à televisão, dirigir; carregar peso de forma errada; não praticar atividade física; usar saltos muito altos; e até mesmo a posição em que a pessoa dorme.
“Quando você associa uma boa tecnologia com uma boa técnica e uma boa experiência do cirurgião, a cirurgia não é traumática para aqueles que já estavam sofrendo” 98
Fotos: Agência Mithi
Quais as maiores consequências na vida de quem tem comportamentos danosos para este pilar do corpo humano? Além de conviver com dores agonizantes, as simples tarefas rotineiras, a prática de exercícios, o desempenho no trabalho e os momentos de lazer tornam-se atividades muito difíceis. “Hérnia de disco, artrose, dor lombar e estenose estão entre os problemas mais comuns relacionados à coluna. Com o passar do tempo e sem tratamento adequado, essas complicações podem gerar sequelas motoras”, comenta o médico ortopedista Rodrigo Lima. Contudo, reverter alguns quadros é possível. “É sempre importante lembrar que a maioria dos casos se resolve sem cirurgia. Em torno de 70 a 80% das ocorrências melhoram com tratamento conservador e com uma boa reabilitação. Desses, até 30% das vezes é indicado um procedimento cirúrgico, muitas vezes porque houve falha no tratamento conservador”, esclarece.
Cirurgias na capital federal Foi-se o tempo em que as pessoas preferiam conviver com dores agudas a se submeter a intervenções consideradas mais delicadas. Depois de passar uma temporada em Los Angeles e se aprofundando em Cirurgia Minimamente Invasiva e Deformidade do Adulto com Técnica Minimamente Invasiva, na renomada Cedars-Sinai Medical Center, Rodrigo Lima acrescenta o cenário brasiliense no universo das cirurgias de coluna vertebral. De acordo com o ortopedista, antigamente, era necessário causar grandes lesões no paciente durante os procedimentos invasivos — afinal, abrir e fazer cortes são técnicas agressivas. “Havia muitos casos de complicações, alterações neurológicas, sangramentos intensos e transtornos no pós”.
Porém, em 2018, essa realidade passou por mudanças, principalmente na capital do País. Hoje, as cirurgias são feitas com cortes cada vez menores, em que o objetivo é preservar ao máximo as estruturas do corpo. Assim, os médicos não abrem mais as camadas dos tecidos. “Aqui, nos últimos anos, houve uma revolução imensa de tecnologia e qualidade de serviço”, conta Rodrigo. O médico explica que Los Angeles é referência em termos de tratamentos médicos e equipamentos e, em contrapartida, quando traz para o cenário do Brasil, torna-se claro que não existe mais uma diferença gritante. Nós não ficamos para trás. Nas palavras de Rodrigo, o mesmo material que é usado na Califórnia hoje em dia, podemos encontrar em Brasília. Cada vez mais, o Planalto Central é reconhecido mundo afora. “Em um caso de hérnia de disco, por exemplo, conseguimos fazer um corte de cerca de meio centímetro e, assim, introduzir uma câmera de alta resolução”. Uma das vantagens das cirurgias batizadas de percutâneas é a recuperação. O paciente fica menos tempo internado no hospital, terá uma melhora mais rápida, além de diminuir o número de complicações no pós-operatório. A resposta observada traduz-se pelo sorriso no rosto do paciente e pelo brilho no olhar de uma família que consegue qualidade em seus momentos de lazer. “Quando você associa uma boa tecnologia com uma boa técnica e uma boa experiência do cirurgião, a cirurgia não é traumática para aqueles que já estavam sofrendo”. É mito falar que os indivíduos com lesões na coluna não podem fazer atividade física ou que ficarão limitados para o resto da vida. Pelo contrário, as cirurgias são realizadas para que o paciente volte a fazer tudo que fazia antes. Cicatriz menor, mais precisão e vida normal. @dr.rodrigo_lima
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M e r c a d o
Foto: Divulgação
Inovador na dinâmica do bairro, o complexo Mandarim reúne três prédios, onde residência e comércio se integram em referência às comerciais do Plano Piloto
OS TRIGÊMEOS DO NOROESTE Por Pedro Ângelo Cantanhêde
Não é de hoje que o Setor Noroeste, nobilíssimo bairro de Brasília, chama a atenção por sua performance inovadora. Empreendimentos autorais, modernos e tecnológicos atraem moradores e investidores. Hoje, quem por ali circula já observou que a entrequadra 4/5 tem três prédios que podemos chamar de trigêmeos e que, inclusive, levam um mesmo nome: Mandarim. Por trás do projeto do complexo está a Villas Boas Incorporações, que traz ao Noroeste o conceito que mescla lojas comerciais e apartamentos de um e dois quartos, numa área de total de mais de 15.000 m². Com entrega prevista para junho de 2023, o projeto é assinado pelo escritório Crosara Arquitetura e conta com paisagismo integrado, lobby coworking e vagas para bicicletário. Essa forma de composição dos prédios foi pensada de forma estratégica: 24 lojas ocupam o térreo do Mandarim, com até 100 m² e pé direito duplo. O objetivo desses espa100
ços comerciais é trazer serviços essenciais que facilitam o dia a dia de quem vai morar nos andares de cima. Entre as expectativas, academia, lojas de conveniência, farmácia, lavanderia, dentre outros, quase que numa espécie da ideia original das superquadras de Brasília, de ter todos os serviços nas redondezas.
Além de casais e famílias, o complexo é uma oportunidade para quem quer comprar um imóvel para investir. “As unidades do Mandarim se encaixam muito nos perfis de investimento”, relata o diretor da incorporadora – presente no cenário imobiliário da cidade há mais de 20 anos. O projeto desperta o interesse por suas unidades pequenas, que variam de 34 a 75 m². Os custos reduzidos chamam a atenção de uma grande parcela da população que procura empreendimentos que entregam aquilo que o Mandarim oferece: comodidade, localização privilegiada e infraestrutura completa.
Diferenciais
Foto: Divulgação
As unidades residenciais, de um e dois quartos, são ideais para famílias recém-formadas ou com filhos. “A Villas Boas tem como prioridade manter o alto padrão de qualidade com projetos inovadores, rigorosos critérios na escolha da localização de cada empreendimento e matéria-prima de primeira qualidade”, explica Mundim.
Foto: JP Rodrigues
O privilégio de contar com esses serviços incorporados às suas fachadas permite aos prédios o benefício de oferecer estrutura interna minimalista que se reflete na diminuição do custo condominial, quando comparado a outros residenciais da região.
O apartamento decorado é aberto para visitação e está
Para os pequenos, é fácil encontrar parquinhos nas praças do setor, onde é possível gastar toda a energia acumulada durante o dia e ainda conhecer a vizinhança e fazer amizades, tão essenciais nas primeiras fases da vida. A localização vizinha ao Parque Ecológico Burle Marx, que integra uma área verde de 280 hectares e preserva uma das maiores manchas de Cerrado da cidade, inspirou a Villas Boas a projetar o empreendimento dentro de padrões internacionais de sustentabilidade e tem seu ar limpo garantido pelas ruas arborizadas e praças que compõem as ruas próximas, somadas ao Parque Nacional, localizado a cerca de 4km dos edifícios. O diretor da incorporadora destaca ainda a segurança do empreendimento. “Com monitoramento 24h, as câmeras de segurança garantem a tranquilidade ao morador e sua família. Além disso, a guarita eletrônica, que assegura a entrada exclusivamente dos autorizados, é a prova de que a Villas Boas pensou cuidadosamente na garantia de um estilo de vida repleta de sossego em todos os momentos”, afirma Mundim.
localizado no stand de vendas da Villas Boas Incorporações, ao lado da obra, no endereço EQSW 04/05, lotes H, I e J.
Foto: JP Rodrigues
O diretor da incorporadora destaca a localização do Mandarim e ainda vislumbres de piqueniques em família ou caminhadas em grupo, que se tornam reais pela proximidade ao Parque Burle Marx, a cinco minutos de bicicleta dos prédios. Sua afeição é pelos esportes? “As áreas do Noroeste que rodeiam o Mandarim são enriquecidas por quadras poliesportivas para a prática de diferentes modalidades”, completa.
Dessa forma, o Mandarim do Noroeste faz jus ao nome escolhido, inspirado no pato homônimo que é exuberante e tem uma plumagem multicolorida inconfundível, conhecido popularmente como “o pato mais bonito do mundo”. O projeto já nos permite vislumbrar esses valores. Agora é esperar 2023 para se encantar in loco com os trigêmeos do Noroeste. @villasboasincorporacoes villasboasincorporacoes.com.br
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I m óve i s
SOLUÇÕES CUSTOMIZADAS Uma plataforma integrada de gestão imobiliária é a atividade que compete ao empreendedor José Martins na busca de criar resultados no mercado de alto luxo Por Letícia Cotta Fotos JP Rodrigues
Há 26 anos, quando o corretor de imóveis José Martins, 48 anos, começou a atuar no mercado de Brasília, vislumbrou um bom negócio: sabia que o mercado imobiliário da capital ganharia força. Começou intimista, atuando com aluguel e venda de residências, e viu, aos poucos, a trajetória fazer da José Martins – Soluções de Desenvolvimento Imobiliário uma referência quando o assunto é imóvel de alto padrão, tanto corporativo quando residencial. “A imobiliária nasce com o corretor de imóveis. Resolvi investir na criação de uma empresa que trabalhasse em todos os segmentos e, hoje, somos uma das poucas de Brasília que atua nas duas frentes e sempre com excelência”, afirma Martins, que soma 450 mil m² de carteira de gestão imobiliária, isso só no Distrito Federal. Segundo o corretor, o diferencial da José Martins é o atendimento profissional personalizado, conforme a necessidade do cliente. “Isso se deve ao foco nas soluções customizadas ao imóvel em questão. Somos líderes em soluções imobiliárias”, responde prontamente. Pensa-se desde os estabelecimentos que estarão presentes no empreendimento, até a sustentabilidade de toda a estrutura e a modernidade necessária para acomodar e acolher seus futuros clientes – seja em locações, compra ou venda. A capacidade de se adaptar ao público-alvo é o que mantém o negócio vivo e em expansão, tanto que, recentemente, a pedido de um cliente, atuou no mercado de Gramado, no Rio Grande do Sul. “Ele insistiu em nossa consultoria para construir um complexo que abrangerá rede de hotelaria, residencial de alto luxo, arena para shows, casa de eventos e aceitamos. Foi uma experiência diferente de tudo o que eu tinha feito até então”, contou.
conforme as regras e leis vigentes, o que facilita a resposta da corporação em situações que envolvam demissões e denúncias de assédios, combate à corrupção, garante segurança aos clientes, funcionários, fornecedores e muitos outros processos internos.
Assim, ao longo de seus 26 anos e com mais de 30 funcionários, é a primeira imobiliária da região a adotar o compliance, ao sentir a necessidade de otimizar seus processos internos, já que a técnica consiste em estar
Com uma base interna bem estabelecida, volta-se para o externo, à força de trabalho: criam-se residências, edifícios corporativos, centros hospitalares, escritórios de multinacionais, laboratórios farmacêuticos, supermercados, con-
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domínios logísticos e até mesmo lojas de varejos. Tudo isso se divide em três setores propostos pela instituição, considerada full service: a property management, imóveis residenciais e corporativos/logísticos. Além disso, esses três eixos incluem serviços como administração de contrato de locação, avaliação e aconselhamento, operações built-to-suit, consultoria e representação de proprietários e retail, vendas e locação de imóveis residenciais e comerciais, desenvolvimento, entre outros casos. Dessa forma, ao ser procurado pelo cliente, José Martins tende a sanar todas as possíveis dúvidas e, dependendo do ramo escolhido (como o exemplo da hotelaria a ser criada em Gramado), aconselha determinadas ações com base na expertise do corpo de funcionários da empresa. Nesse processo de investir, não há espaço para preguiça, é necessário fazer pesquisas para entender a parte burocrática, encontrar o público-alvo, identificar diferenciais, e saber focar em outras oportunidades — além, é claro, de registrar tudo isso para comprovar sua eficácia. Por isso, a não participação de um corretor em seu próprio empreendimento pode, por exemplo, causar dificuldade de performance. “A busca por oportunidades e informações não pode ser apenas uma ‘fase’, estar sempre atualizado e em harmonia com o ramo o tempo inteiro é um trabalho contínuo e que se torna intuitivo depois de tantos anos de carreira, deve ser uma característica importante do empreendedor bem-sucedido”, destaca. Esse foco no produto em que está investindo e no serviço utilizado ou consumido ajuda a encontrar novas maneiras de empreender, já que estimulam a criatividade e a
adaptabilidade. Além disso, facilita a criação de informações estratégicas sobre os seus concorrentes, clientes ou da própria empresa. No seu portfólio, empreendimentos importantes da cidade, como o Parque Cidade Corporate, Centro Comercial Gilberto Salomão, Park Shopping Corporate, Village Mall & Residence, Village Mall Noroeste, Corporate Financial Center, Linea Vitta, dentre outros, além de residências nos Lagos Sul e Norte, Park Way, Sudoeste e Plano Piloto. José Martins atua ainda com em asset management (gestão inteligente dos seus ativos), gestão de facilities e administração predial, e possui uma plataforma integrada de gestão com acesso mobile e web, o que dá transparência nas ações executadas para os clientes. “Ofereceremos uma consultoria completa”, conclui. @josemartinsimoveis www.josemartinsimoveis.com.br
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Fotos: JP Rodrigues
Re q u i n t e
HAUS NOROESTE: O DESEJO VERTICAL Por Theodora Zaccara Fotos: JP Rodrigues
No início, a cidade era barro. Terra seca de árvores tortas, Cerrado brasileiro. Aos poucos, cada cantinho da capital foi nascendo e crescendo. Plano Piloto, Lago Sul, Sudoeste… entre os mais novos da ninhada, uma região se torna a menina-dos-olhos de quem busca viver com conforto e tecnologia, sem abrir mão deste em prol daquele. “Cons104
O novo morador do alto luxo busca sossego frente ao mundo externo. Em seu lar, há de ter um bom home office, maiores espaços internos, tecnologia, segurança e o máximo de conforto
truir no Noroeste significa estar ao lado dos grandes players do mercado imobiliário e atender ao mais alto padrão de exigência do consumidor de luxo de Brasília”. Em poucos anos, o bairro tornou-se a Mecca da juventude brasiliense. Em busca de um comodismo que agregue as mais modernas novidades do mercado imobiliário, a Intter entra em cena ofertando tudo isso – e mais. “As experiên-
O ambiente decorado do projeto
cias tornam o Haus Noroeste um empreendimento único”, apresenta Mazé Vasconcelos, gerente de vendas da empresa Intter Incorporadora, responsável pelo projeto. Previsto para abrir as portas em junho de 2022, o novo ‘titã’ do Planalto Central toma as localidades da SQNW 106 bloco C, com área total de 920 m² e múltiplos espaços compartilháveis, como brinquedoteca – com câmeras, para a tranquilidade dos papais –, piscina aquecida, academia com área externa, salão de festas, churrasqueira e espaço gourmet com terraço. Quando se fala em diferenciais, Mazé não economiza: “As linhas finas e delicadas, em conjunto com o dinamismo dos brises trouxeram uma arquitetura única e sofisticada”, lista. “Os detalhes construtivos, a escolha de cada material, a tecnologia e o design foram pensados para proporcionar aos moradores o conforto e a funcionalidade que a vida moderna pede. Sem mencionar a sua beleza exuberante com elementos que fazem do Haus sinônimo de exclusividade”, acrescenta.
começa a nascer dentro do mercado imobiliário – e cabe à Intter entender e agradar esse consumidor. “A vontade de aproveitar a vida, os momentos com a família e com os amigos… isso mudou o olhar; os imóveis deixam de ser investimento financeiro e passam a ser investimento em moradia. O high end é a bola da vez no mercado imobiliário”, explica. “A necessidade de isolamento do mundo externo e o home office, pedindo maiores espaços internos, fez aumentar a busca por imóveis maiores, arejados e seguros. Atributos que somente casas e apartamentos de alto padrão dispõem”, compartilha Mazé.
O foco também se estende à sustentabilidade. Com soluções inteligentes, a Intter lançou mão de estratégias tecnológicas que englobam todas as arestas do viver: torneiras com arejadores de vazão, ponto completo para recarga de carro elétrico, iluminação e ventilação natural, medição individual de água fria e quente com hidrômetros entregues instalados, Dual Flux para racionalização do consumo de água e mais. “Por estes e outros fatores, temos um mercado altamente atrativo para imóveis de alto padrão e luxo no Distrito Federal. O desafio das equipes de criação, das construtoras e incorporadoras é acertar no produto, nas necessidades e principalmente nos desejos deste novo cliente.” Sim, um novo cliente.
E por falar em segurança, esta é outra frente que muito importa à construtora – e novamente, o domínio dos mais tecnológicos atributos vem muito a calhar. Sendo o bem-estar e proteção de seus condôminos uma das mais latentes prioridades, o Haus Noroeste se gaba de uma larga lista de mecanismos eletrônicos para uma vida mais segura. Entre eles: sistema de alarme antipânico, SOS de comunicação entre a suíte master e a central de controle do prédio, fechadura eletrônica digital com abertura por senha na porta da entrada social do apartamento, sensor de vazamento de gás na cozinha com supervisão na central de controle do prédio, infraestrutura para sistema de comunicação interna por vídeo porteiro integrado, elevador social privativo com acesso através de senha, entre vários outros. “O fator segurança é um dos itens mais importantes no momento da compra de um imóvel, seja no ambiente interno ou externo. E foi pensando na segurança, conforto e bem-estar dos nossos clientes que o Haus Noroeste conta com uma vaga de garagem anti-sequestro, guarita blindada e circuito de câmeras em todas as áreas comuns do empreendimento”, completa. Para o consumidor, são novidades e avanços que despertam o ‘Intteresse’.
Após dois anos de pandemia, adaptações rígidas e mudanças em todos os protocolos sociais, um perfil diferenciado
@hausnoroesteoficial @intterinc
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Fu t u r o
SOLUÇÃO AO CENÁRIO DA CRISE ENERGÉTICA A Economize, empresa pioneira no DF, explica a importância da energia fotovoltaica e desmistifica a barreira do investimento na tecnologia Por Pedro Ângelo Cantanhêde Fotos JP Rodrigues
O que o futuro nos reserva? É impossível ter certeza de como o mundo funcionará daqui a cinco ou cinquenta anos, mas, ao acompanhar a história passada, o futuro pode ser vislumbrado. Há visionários que investem em cases de sucesso. Ao analisar o impacto de movimentos sofridos nos anos recentes, fica clara a urgência para o amanhã: a sustentabilidade. Não se trata apenas de preservar o meio ambiente ou de salvar os animais. O que está em jogo é a própria suficiência humana para as próximas décadas e as futuras gerações. Dentro dessa tendência sustentável, destaca-se a importância da geração de energia. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), a busca de pessoas físicas e empresas por esta tecnologia se mostra maior do que nunca nos últimos 18 meses. Em Brasília, uma das pioneiras na área, a Economize Energia Soluções Inteligentes surgiu em 2018 pelas mãos do casal de brasilienses João Felipe Tallarico Santiago e Fernanda Tallarico Santiago. Eles perceberam três anos antes o mercado fotovoltaico como o próximo passo para a energia no mundo. Antes atuando no ramo de ares-condicionados, eles investiram em conhecimento, capacitações e, com um pouco mais de R$ 300, iniciaram as atividades da empresa. Em trinta dias, começaram a surgir os primeiros clientes. Mês a mês, a demanda aumentou. Nos últimos dois anos, a Economize alcançou um crescimento substancial. De um pequeno escritório em casa, hoje funciona em uma 106
loja física no Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA) e conta com um time formado por 15 pessoas, entre engenheiros, instaladores e funcionários que trabalham diretamente com o contratante. “Nosso foco são as pessoas. Este é o nosso maior patrimônio”, reflete João Felipe. Especializada em geração de energia por sistemas solares fotovoltaicos, a Economize atende desde uma pequena loja, que necessita de apenas dois painéis solares, até grandes indústrias com dez mil painéis. A empresa, contudo, faz mais do que a venda e a instalação. É um processo de estudo estratégico para cada cliente. “São produtos muito novos, dos quais grande parte da população ainda não tem conhecimento. Na hora da compra, é comum os clientes terem dúvidas entre tipos e marcas, e nós fazemos todo o direcionamento pensando no melhor para cada caso”, afirma o empresário. A credibilidade alcançada no Distrito Federal ultrapassou os limites territoriais e, atualmente, a empresa também atua no Mato Grosso, em Sergipe e em Goiás. Já são mais de 150 usinas solares pelo Brasil desenvolvidas pela Economize – e um plano de expansão para se tornar referência nacional no setor.
Mitos e Verdades De acordo com João Felipe, aos poucos, pessoas e empresas tomam consciência das vantagens de utilizar uma fonte energética ilimitada. “Um futuro que já é realidade. Sustentável, mas também rentável, mesmo com os custos de instalação. Dados do setor mostram que a economia chega a 97% quando comparada às fontes tradicionais de energia”, explica. O investimento na instalação depende da quantidade de painéis e há facilidades: a própria Economize tem parceria com instituições financeiras para financiamentos bancários. Uma vez implementado, o funcionamento pode chegar a 50 anos. E a manutenção? Barata e acessível: “é uma limpeza trimestral que o próprio cliente pode fazer. Damos todas as instruções para que seja um processo simples”, garante o empresário. Graças às possibilidades trazidas pela prosperidade da energia fotovoltaica, o governo brasileiro aprovou a Lei nº 14.300/2022, que institui a cobrança dos custos de distribuição de energia para quem gera a própria energia solar. A taxação começará a acontecer em janeiro de 2023. Para quem adquirir e registrar seus painéis solares até a data, as taxas não serão cobradas até 2045. Portanto, a hora – e o futuro – é agora.
As usinas fotovoltaicas não produzem energia em dias nublados Mito. Não são as altas temperaturas que fazem a energia ser transformada, e sim a radiação. Mesmo em dias nublados, os raios solares continuarão a alimentar os painéis. Energia Solar é limpa Verdade. Por ter uma fonte natural, o sol, ela não utiliza qualquer tipo de combustível fóssil nem emite gás poluente. Os módulos solares duram até 25 anos Mito. O avanço da tecnologia e a atualização dos produtos oferecidos fazem com que as usinas solares funcionem por no mínimo cinquenta anos. O painel solar é frágil e quebra com facilidade Mito. Os painéis solares são construídos e instalados para que possam enfrentar diferentes tipos climáticos, incluindo sol, chuvas e granizo. A energia solar é um investimento de longo prazo Verdade. Estima-se que o retorno no investimento seja positivo nos primeiros três a cinco anos. @economizeenergiadf www.economizeenergiadf.com.br/
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C a p a
RAFA KALIMANN
“Não existe padrão”
Uma mulher real e influente
Por Morillo Carvalho Fotos Bruna Sussekind
\ Quando ela nasceu, 29 anos atrás, a pequena Campina Verde, no Triângulo Mineiro, não tinha mais do que os atuais 19 mil habitantes. Em abril, mês em que veio ao mundo, os termômetros costumam registrar entre 19ºC e 31ºC por lá. A temperatura não varia muito ao longo do ano, o que torna as coisas ainda mais pacatas... Uma pacatez que não comportaria a grandeza da menina nascida Rafaella Freitas Ferreira de Castro: aos seis anos, começaria a participar de concursos de beleza na região, até ganhar um mais relevante aos 13. Aos 14, deixaria a cidade rumo a São Paulo, onde tentaria modelar, fazer teatro e esbarrar nas dificuldades de quem resolveu escancarar as portas de um mundo tão gigante para quem era acostumada às poucas ruas e à simplicidade. Voltou para casa aos 19: o colo de dona Genilda, a mãe, a esperava agora em Uberlândia para dar o consolo à menina, acabava de sofrer a perda de um bebê, espontaneamente. O pai, Sebastião, já vivia fora desde que ela tinha 12. Apenas dez anos depois, Rafa agora é Kalimann – por ter sonhado com este sobrenome – e é uma das influenciadoras digitais mais bem sucedidas do País. É também dos nomes de destaque da Rede Globo: depois de uma participação muito vitoriosa no Big Brother Brasil 20, o qual terminou como vice-campeã, é apresentadora de um dos programas mais assistidos da emissora sobre o próprio reality: o Bate-Papo BBB. 110
Nem por isso se deslumbra. “Sento para almoçar e penso ‘nossa, eu tô almoçando no Projac!’, uma coisa que eu sonhava tanto quando era criança... Eu tô aqui realizando! Eu acho importante que a gente mantenha acesa essa chama, de olhar para as coisas e não se acostumar com isso, porque senão perde o sentido! Eu acendo muito a Rafa criança, deixo-a viva dentro de mim, para conseguir olhar as coisas e valorizá-las”, reflete Rafa, que soma 22,8 milhões de seguidores apenas no Instagram, tornando-se a quarta ex-BBB mais influente da história, atrás somente de Juliette (33mi), Sabrina Sato (31mi) e Grazi Massafera (24mi). É a simplicidade de quem chegou ao topo, sem se perder. “Nada mudou, sabia? É claro que hoje a gente tem mais conforto, mais segurança... De fato eu venho de uma família mais humilde, e a gente mantém isso genuinamente no dia a dia. Fazer questão de sentar-se à mesa junto, por exemplo. Meus primos moram comigo e é outra coisa que me mantém muito pé no chão: estar perto de pessoas que me veem como a Rafa lá do interior, aquela que me trouxe até aqui que, por consequência, construiu tudo. O cheiro da comida aqui em casa é o mesmo e isso já faz com que eu seja a mesma. Às vezes, eu chego cansada e esse aroma do jantar me remete ao interior. Isso me faz instantaneamente desligar a chavinha do que está lá fora, da internet, do programa, de tudo”, revela.
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A internet de que Rafa se desliga ao chegar em casa também foi a responsável por alçá-la ao lugar em que se encontra: em 2013, abriu uma conta no Instagram, ainda estudante de Psicologia. Ao alcançar 100 mil seguidores e perceber o potencial da rede, entrou de cabeça nesse mundo. Do início, como influencer de moda, passando pelo casamento com o sertanejo Rodolffo (participante do BBB 21, que faz dupla com Israel), até aqui, constituiu patrimônio; lançou mão de um lado missionária como embaixadora da ONG Missão África; engajou no político Ato pela Terra, em Brasília, ao lado de Caetano Veloso e outros artistas contra projetos de de lei que agridem o meio ambiente; criou sua própria marca de roupas, a RK; e comprou uma mansão de 600 metros quadrados para viver com a família no Rio de Janeiro –fora ela, tem casas em São Paulo e Goiânia. Tudo isso tem um preço, e o mais caro é ser alvo dos haters. Por mais centrada que seja, o corpo cobra: assim que terminou a estreia do Bate-Papo BBB, em janeiro, parou no hospital, tamanha a ansiedade. No fim, no entanto, celebra o sucesso: “estou muito aliviada. Na estreia, eu estava apreensiva. Já vinha da Casa Kalimann [talk-show que teve no Globoplay e que foi criticado], de expectativas... Quando anunciaram o meu nome, as pessoas já começaram a criticar. Por mais que tente anular isso na nossa cabeça, a gente absorve de alguma maneira, e
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meu corpo sentiu. Agora que encerrou, foi muito gostoso. Foi um sentimento de paz, de alívio, de estar grata a toda a equipe. Eu tô muito feliz com o resultado”, conta. O mais recente ataque que sofreu foi dos mais preocupantes: ao expôr fotos vestida para o Carnaval na Sapucaí, com os dez quilos que perdeu nos últimos meses, ganhou uma saraivada de críticas. Ela responde com empoderamento. “Disseram: ‘Você está ridícula, parece uma caveira, se perdeu, falam até que a Globo exigiu isso!’ O que me deixa assustada não são nem as críticas, estou feliz comigo, com meu corpo, estou com saúde, que é o principal. Não afeta minha autoestima. Me assusta porque, como que a nossa sociedade hoje, ainda hoje, com tanta informação que a gente tem, ainda está nesse lugar?”, diz. “É consequência de tantos padrões que foram estabelecidos lá atrás, só que não cabe mais estar nesse lugar que determina um padrão, que estereotipa uma mulher. Toda hora que eu mostro meu corpo deixo nítido como estou feliz com ele. É uma sociedade inflamada de padrões, e que precisa julgar o outro para se sentir melhor. Por isso que eu acho que esses comentários dizem muito sobre quem critica. Se você está bem com você, você não tá nem ligando, nem reparando se o outro engordou ou emagreceu... Se o outro está bem e feliz é isso o que importa! Me disseram ‘você era mulherão, você tinha corpo de brasileira e agora você está esquelética’... Quem disse que existe um corpo de brasileira? O nosso País que tem mil formas!”, completa.
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E se há sucesso – e consequentemente, há inveja – o antídoto para manter-se firme é a fé. “Te confesso que nunca levei essa questão para um lugar racional-social. Minha fé é o que me fortalece, é o que me acalma, o que me dá força. Eu acredito que tudo o que eu construí foi graças a Deus. Cada um vive a sua fé de maneiras diferentes, mas até foi interessante ser questionada a respeito, porque eu comecei a me abrir para outras religiões – não de passar a seguir outras doutrinas, mas estudá-las e conhecer como as pessoas enxergam as religiões”, revela. Foi impossível não rir muito nessa entrevista: mais do que simpática, Rafa é divertida e cai na gargalhada quando questionada sobre relacionamentos ou sobre os momentos mais engraçados do Bate-Papo BBB (onde sua incapacidade de segurar os risos foi nítida). “Tem coisa
que tem que ser levada na zoeira mesmo, na brincadeira, para as coisas serem mais leves. Até as críticas ao Casa Kalimann eu dei risada! Agora botaram um vídeo meu olhando para o mar e escrito ‘tô olhando para o tudo e pensando em nada’, eu amei! Mas o meme que fizeram comigo que mais gosto foi o do ‘Aleluia, Arrepiei’”. Bom, como meme não se explica, fica a dica: procure-o. São, portanto, mostras de que está bem, feliz e realizada. Falta algo, então? Um só: “ser mãe. É o que mais grita no meu coração. Tudo o que construo hoje, o que venho fazendo – e sou muito pé no chão para todas as decisões que venho tomando, onde investir meu dinheiro, como eu faço isso acontecer – é voltado para o momento de ser mãe. Eu quero viver esse momento, acalmar, sentir a experiência. Quero ser presente, estar num lugar muito aceso de mãe”, conclui.
“Quem disse que existe um corpo de brasileira?”
Stylist: Gi Macedo Beleza: Tainá Talzi
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r eo tur taunr ce a C
Fovari
Celia Kritharioti
Rahul Mishra
La Metamorphose
Viktor & Rolf
Valentino
Yanina Couture
Zuhair Murad Linda Sow
Alexis Mabille
SEJA ONÍRICA, SONHE
A estética de arquitetura e escultura que trafega entre o minimalismo e o surreal. Refinamento onde a mística faz todo sentido ao construir com coragem e imaginação um futuro menos soturno. Em alguns momentos, a beleza é abstrata, inacessível. Em outros, monumental. Ou clássica, infundindo códigos que bebem da história. Elementos ornados se alimentam de flores, lantejoulas, cores, laços e cristais. A reconstrução da vida exige bordados. E que sejam criação humana em mãos que tecem. (PS)
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Alexandre Vauthier
Ronald Van der Kemp
Fendi
Elie Saab
Yuima Nakazato
Christian Dior
Juana Martin Stephane Rolland
Chanel
Azzaro Imane Ayissi
Schiaparelli
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Pa r i s
CAMINHAR E BRILHAR
Elementos estruturais que produzem uma abstrata beleza. Paralelo ou opostos, mas convergentes. Tecidos sólidos com transparências, cores aflitas imersas na atemporalidade. Novas dimensões no desafio de criar conexões emocionais. O brilho, sim, o brilho. Ir na fonte abundante de lindos detalhes da alta-costura. Que babado é a vida, quantos laços serão feitos, quais histórias serão novamente bordadas, como ser leve como plumas... A roupa fala, sente, vibra. (PS)
Miu Miu
Christian Dior
Elie Saab
Stella McCartney Hermès Chanel Chloé
Louis Vuitton Givenchy
Isabel Marant
Valentino
Sacai
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M i l ã o
Etro
Salvatore Ferragamo
Max Mara
Bottega Veneta
Ermanno Scervino
Jil Sander Gucci
FUTURIZANDO O PASSADO Moschino
Giorgio Armani
Tod’s
Versace
O fantástico, mas criado para a realidade. O senso de elegância predomina. Há a tensão do gênero, o enfrentamento à subcultura, o toque pervertido do que é compreensível. A desconstrução do que foi para refazer o que será. Mas o avanço vem da adaptação, da adoção, e não da invenção. Ir contra a corrente não é, agora, o nome do jogo. Há de ser enérgico, mas fresco. O código se estabelece na direção do que é calmo e positivo. O híbrido faz o levante da razão e da sensibilidade. (PS)
Missoni
Fendi
Prada
Dolce & Gabbana
Diesel
Alberta Ferretti
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r er te rnadnyc a T
Bottega Veneta
Moschino
Prada
Chanel
Givenchy
Valentino
Gucci
Balmain
CARREGUE-ME SE FOR CAPAZ A passarela indica, a rua define. Os acessórios estão inteligentemente adaptáveis ao estilo próprio de seus usuários. O que se tornou uma brincadeira que revive os baús de cada label ao mesmo tempo em que é proclamado o high-low. Mais uma vez são os códigos clássicos atravessando gerações de modo entendível, elegante, funcional e, sobretudo, fluido. Uma bolsa há de ser leve. (PS) Miu Miu
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Christian Dior
Chloé
Fendi
Hermès
Louis Vuitton
TETÊ COM ESTILO
Maria Thereza Laudares mtlaudares@gmail.com – @mtlaudares
A NOVA REALIDADE
A moda em tempos de metaverso
Os últimos dois anos propiciaram o crescimento da realidade virtual, quando o “tudo-online” ganhou protagonismo. Definir o Metaverso é assunto complicado. O termo, que surgiu em Snow Crash (1992), obra sci-fi de Neal Stephenson, descreve um mundo virtual que ultrapassa os limites digitais e físicos das nossas vidas. Existe apenas um Metaverso, mas são tantos metamundos quanto websites na internet. “É um novo mundo no qual ainda não vivemos”, disse Ian Rogers, chefe de experiência da Ledger, desenvolvedora de cryptocarteiras, para a plataforma Business of Fashion.
O mercado da transformação Esqueça fibras e fábricas. Nesse novo mundo, os designs tomam forma por meio de computadores e animações tridimensionais. A indústria da moda está atenta à comunidade de consumidores do futuro: gerações jovens que passam seu tempo fazendo compras, socializando e jogando online. No Metaverso, somos representados por nossos avatares, que consomem moda virtual com comportamento de colecionador.
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Em 2021, a marca americana Ralph Lauren “abriu” uma loja para esqui em colaboração com a plataforma de gaming Roblox, apostando em vendas no mundo digital, assim como naquele físico. Seguindo a mesma linha, a maison de moda francesa Balmain se uniu à Altava para oferecer peças exclusivas e limitadas. A Louis Vuitton, antes de comemorar os 200 anos de nascimento de seu fundador, em 2021, lançou um jogo para celular (Louis the Game) e desenvolveu skins para o game de sucesso Fortnite. No esporte, Nike, Adidas, e Vans acreditam que existe ainda mais espaço para crescer, e os e-jogos são apenas uma parcela do Metaverso.
Na expectativa das temporadas de desfiles, o British Fashion Council saiu à frente e lançou o The Fashion Award for Metaverse Design Experience na plataforma Roblox, um prêmio de moda para design no Metaverso. A experiência virtual ficou aberta por nove dias e os visitantes foram transportados ao Royal Albert Music Hall para se divertirem no tapete vermelho com os amigos. Alessandro Michele, diretor-criativo da Gucci, marcou presença por meio de seu avatar e criou uma série de produtos virtuais da casa italiana, que foram vendidos aos visitantes.
A liderança do amanhã A Balenciaga, maison de luxo francesa considerada inovadora na metamoda, tornou-se referência em estilo e sensibilidade cultural. Fazendo suas próprias regras, transformou, na mente dos fãs, a imagem da casa e legado históricos em modernidade. As experiências criadas no mundo virtual são rapidamente alcançadas por todos os seguidores da marca, mesmo aqueles que não consomem seus produtos no mundo físico. Cédric Charbit, CEO da Balenciaga, confirma que a empresa tem grandes planos para o Metaverso. “Poderemos vestir a altacostura da Balenciaga em nossos encontros virtuais”, assegura. A marca já criou skins para Fortnite e também seu próprio jogo – Afterworld: The Age of Tomorrow –, que foi palco para sua coleção de outono-2021. Charbit acredita que o Metaverso levará as empresas e seus consumidores para o próximo nível de consumo, no qual a interação com o produto irá além de curtidas e comentários.
Collabs, o portão de entrada O sucesso das collabs é comprovadamente uma ação extremamente lucrativa, tanto em coleções físicas quanto em suas metaversões. A Roblox e a Gucci criaram juntas o Gucci Garden, um jardim virtual onde é possível comprar versões intangíveis de seus produtos, como a icônica bolsa Queen Bee Dionysus, que no mundo real custa USD 3,4 mil. A versão virtual da bolsa chegou no Roblox por 350 mil
Robux – moeda virtual e intransferível do jogo – que equivale a mais de USD 4 mil. Já o sneaker da marca foi vendido na realidade aumentada por apenas nove dólares. O luxo virtual atinge seu ápice com as NFTs, cujas blockchains de proprietário único se aproximam da ideia de exclusividade da alta-costura no mundo real. Vale ponderar que o crescimento do consumo digital pode ainda impulsionar o aumento das vendas dos produtos físicos fazendo com que muitas marcas de moda considerem o Metaverso como a porta de entrada para o consumo de bens de luxo.
Universo em expansão Ficar preso ao passado não vai mudar o futuro. É preciso que marcas, consumidores e designers de moda se adaptem para alcançarem o sucesso no novo mundo. Não se engajar nas comunidades que ocupam esses espaços é abrir mão de vendas e, como resultado, de seu status. A nova era da moda quebra as barreiras físicas que criadores e criativos encontram hoje em nossa chamada “vida real”. Por não exigir materiais caros e nem o savoir-faire tradicional, o Metaverso revela-se como um espaço mais acessível para designers deixarem a criatividade fluir livremente. Aprender a fundir o real com o virtual e realizar a transição para o futuro é o grande desafio para profissionais da indústria. As novas gerações estiveram sempre à frente do rompimento de limites, e não há porque pensar diferente dessa vez. O Metaverso será o ambiente ideal para testar as fronteiras com o mundo físico, bem como as capacidades de expressão e criação. Na ausência de normas e códigos de vestir, o Metaverso se revela apropriado para a realização de sonhos, um campo fértil para a moda. A associação com a ficção-científica é evidente e, assim como no mundo real, avatares interagem com aqueles que compartilham os mesmos gostos de consumo. A desmaterialização da moda promete forjar um novo capítulo, não apenas na indústria da moda, mas também na história das sociedades do século 21.
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Te c n o l o g i a
METAVERSO: A TRIDIMENSÃO DO ABSURDO Uma nova camada do universo que integra os mundos real e virtual. Chega para revolucionar conexões humanas, gerar negócios milionários e iniciar polêmica sobre o sentido da nossa existência
Por Pedro Ângelo Cantanhêde
O que difere a vida real do mundo dos sonhos? Não é difícil encontrar pessoas que se consideram mais felizes quando dormem, quando vivem as criações fantásticas da fértil mente humana. O sonho é a liberdade, mas uma liberdade restrita. Por quê? Pois, diferentemente da nossa vida com os olhos abertos, não controlamos nossas ações no sonho, apenas aceitamos – ou acordamos. O metaverso chega com vislumbres oníricos, mas que vão além do sonho. Promete ser real e, acima disso, livre em escolhas. Não gosta do seu nome?, crie agora mesmo um nickname; cansado da sua aparência?, aqui você pode ter o corpo que você quiser. Entretanto, antes de entrar nesse mérito, é preciso entender do que se trata realmente o metaverso. O sufixo “meta” vem do grego e significa “mudança”, assim como em “metamorfose”, a mudança da forma. Aqui, tal mudança é maior: é de universo. Contudo, o crescimento e a valorização dessa ideia são ainda muito novos, não sendo possível uma definição concreta do que é o metaverso, mas as principais concepções se centram na união de tecnologias que fazem da realidade aumentada um ambiente digital no qual será possível a vivência completa e conjunta com a “vida real”, ou até mesmo independente. “Tentar definir o metaverso seria como tentar explicar, em 1989, o que era a internet e como ela impactaria a vida da humanidade”, afirma o chefe de alianças estratégicas para inovação e novos aparelhos da Positivo Tecnologia, Roger Finger. 124
No final de 2021, o vice-presidente da Intel, principal fabricante de processadores do mundo, Raja Koduri, afirmou que, para ter o metaverso em funcionamento, seria necessária uma infraestrutura computacional mil vezes maior do que a que temos hoje. Mas, ao que parece, os gigantes do Vale do Silício apostam forte na chegada dessa potência. Afinal, quando os Estados Unidos levaram o homem à lua pela primeira vez, em 1969, a tecnologia da NASA era mais simples e frágil que o smartphone que carregamos no bolso no século 21. E tal como a corrida espacial que dominou as headlines durante décadas, a luta pelo êxito no metaverso é uma verdadeira maratona. Em pouco tempo, o Facebook mudou seu nome para Meta; a Microsoft anunciou já estar investindo no potencial inevitável; o CEO da Apple, Tim Cook, também já começa a falar em metaverso e planeja lançar óculos de realidade virtual.
Os pioneiros Não se pode dizer que o metaverso já é uma realidade. O que os internautas podem encontrar são pequenas demonstrações do que muitos anos de inovações tecnológicas futuras serão capazes de proporcionar a ponto de criar, de fato, um universo além do que conhecemos. Programas como o Horizon Worlds e o Roblox usam ferramentas online que permitem convívios e interações entre usuários ao redor do mundo, com possibilidade de propriedades, vendas e entretenimento. Contudo, uma realidade como esta em nível global é um sonho distante – mas alcançável. 125
E por que todos os olhos se voltaram para essa realidade? Segundo Roger Finger, porque é o futuro. “A pandemia ajudou a mostrar que a tecnologia está pronta para um novo salto. Há anos dizem que o smartphone morreu, e as empresas estão entrando nesse consenso. Para usar um iPhone, precisamos segurá-lo com a mão. Por que não deixá-la livre? São problemas que muitos tentam descobrir como solucionar, e o metaverso é uma resposta a isso”.
Realidade virtual x Realidade aumentada Coexistir em um mundo alternativo pode parecer assustador, ainda mais em um universo onde o destino é determinado por uns e zeros. O executivo da Positivo, contudo, crê em uma mudança de rumo no metaverso. Ele não será uma realidade paralela e totalmente virtual, mas sim uma expansão da vida real. A realidade aumentada não tira sua visão do mundo em que vivemos, mas acrescenta coisas a ele. “Você poderá, na sua sala de estar, descobrir se cabe um sofá em determinado espaço, ou prever a cor da parede. Isso é mais bem aceito porque não te tira da realidade e não é só entretenimento, são infinitas as utilidades”. Há 15 anos, ter um smartphone era um luxo para poucos. Hoje, o barateamento das peças e produção tornou o aparelho acessível a grande parcela da população, e a realidade aumentada deve seguir o mesmo caminho. “As empresas fornecedoras de tecnologias trabalham no desenvolvimento de equipamentos mais compatíveis com realidade aumentada. Isso é a confirmação de que cada vez será mais simples e barato entrar nesse metaverso. A evolução promove a acessibilidade”, explica Finger.
Um futuro inevitável Quando empresas como o antigo Facebook, a Microsoft e a Apple apostam juntas no que pode se tornar o futuro da tecnologia, é difícil imaginar outro caminho a ser seguido. Em 1989, não conseguíamos imaginar as maravilhas e revoluções que a internet traria. Daqui a 33 anos, o que será o metaverso? Difícil prever. Ele será sinônimo de liberdade ou de alienação? De acessibilidade ou de desigualdade? Independentemente das respostas, não há como fugir. Nosso universo ainda estará aqui por um bom tempo, e a tecnologia também. Poderíamos continuar levando o homem à lua, mas porque não explorar o que está em frente aos nossos olhos – ou o que criamos para estar?
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ENTRE NÓS Patricia Justino
pattyjustino@hotmail.com – @patjustinovaz
Fabricando bem-estar É bem verdade que “a união faz a força” e, quando existe um propósito maior em meio às parcerias, o sucesso de todos acaba sendo o destino final. Nesse espírito de “agregar para o bem coletivo”, o studio brasiliense FABRIK, pioneiro do método Body and Mind Fitness, cuja base são exercícios de alta intensidade, meditação e técnicas de respiração para a alta performance, vem liderando um movimento que visa tornar a QI 9 do Lago Sul a quadra modelo do bairro. O objetivo das ações planejadas é proporcionar experiências diferentes às pessoas que frequentam a região, envolvendo parceiros que, através dos seus serviços, promovam saúde e bem-estar à comunidade. O restaurante Greta, a clínica Corporeum e a própria FABRIK são os primeiros estabelecimentos da vizinhança a dialogar nessa filosofia e prometem ser protagonistas de grandes momentos e ótimas transformações por lá. Acompanhem! @fabrikbrasil
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Piper Heidsieck O francês Florens Louis Heidsieck começou a produzir em 1785, na França, o champagne que ele dizia na época que seria digno de ser servido à realeza: o icônico Piper Heidsieck, que já nasceu com cara de comemoração e era, inclusive, a bebida escolhida para trazer alegria aos momentos de celebração da rainha Maria Antonieta. Presente nas rodas mais nobres do mundo, ela conquistou ao longo do tempo tanto reis e rainhas como também grandes joalheiros, estilistas famosos e poderosos artistas, como a atriz Marilyn Monroe, por exemplo, que foi uma das suas fãs mais declaradas. Hoje o Piper é o champanhe oficial da premiação do Oscar e ao longo da história foi um dos que mais apareceu em filmes de Hollywood. Inovadora e sempre pensando em ações de inclusão, a marca também é conhecida por criar campanhas especiais, trazendo novas roupagens em edições limitadas para as garrafas Brut. Já estamos ansiosos pela chegada ao Brasil dos últimos kits de lançamento: embalagens tipo Pop art, em formato de batom e perfume. Mais fashionista, impossível! www.piperheidsieck.com
Extrato da beleza Símbolo da cosmética de luxo no mundo, a francesa Lancôme não se cansa de lançar produtos surpreendentes, uma constante que a faz se manter no topo das marcas-desejo em mais de 160 países desde a década de 50, quando passou a ser comandada pela LÓreal. Entre as novidades que está dando o que falar está o sérum anti-idade Absolue L’Extrait Ultimate Concentrate. Quem já usou o compara a um verdadeiro elixir da juventude, pois a sua fórmula age de forma intensiva na pele, fazendo rejuvenescer de dentro para fora. Os resultados? Pele mais firme, luminosa, com textura refinada, menos rugas e contornos mais definidos. Vale a pena conferir! www.lancome.com
Oásis no Deserto Aventureiros que não abrem mão de beleza e conforto em seus programas de viagem já podem anotar esse nome que pode ser o próximo destino ideal para você: Amangiri hotel. Ao sul de Utah, nos Estados Unidos, região árida onde se misturam paredões rochosos, montanhas, mesas, desfiladeiros e desertos, um verdadeiro refúgio de luxo foi estruturado em forma de hotel boutique, perfeito para uma estadia romântica ou para quem ama experiências diferenciadas. Lá as acomodações são um show à parte, oferecem desde suítes cinematográficas a tendas exclusivas com piscina privativa ou, ainda, se você deseja viajar em família, casas com vista diferenciada dos cânions, fireplaces e outros mimos incríveis. A apenas 25 minutos do aeroporto de Page, os hóspedes contam também com translado exclusivo, spa de luxo ao ar livre, restaurante com gastronomia de ponta, academia e treinos individuais ao gosto do cliente, passeios e aventuras personalizadas, tais como: esportes radicais (trilhas, montanhismo, escaladas, etc.), passeios de balão ou helicóptero. Especialíssimo! www.amangiri.com
Pisando no futuro Acreditando que os passos para o amanhã podem ser mais leves, livres e potentes, a marca Feet of tomorrow veio ao mercado brasileiro desenvolvendo um tênis para seguir a forma natural dos pés, mantendo o conforto e a estabilidade de andar descalço, mas com proteção. O DNA da marca traz a filosofia de que os pés são a nossa ligação com o mundo, o que nos leva a querer senti-lo por inteiro. Essa é a mesma linha de pensamento, inclusive, do movimento Barefoot, um estilo de treinamento, corrida ou caminhada, que busca minimizar qualquer interferência com o movimento natural do pé, ou seja, nessa prática não se usa nada de solas com amortecedores, por exemplo, ou se corre descalço ou com algum calçado que simule essa condição. Os tênis da Feet of Tomorrow possuem tecnologia minimalista, com solado fino, sola zero drop, toe box largo e shape muito maleável, que libertam a inteligência natural dos pés. Quem mais acredita que passos mais livres nos levam mais longe? www.feetoftomorrow.com.br
New Vintage O designer Douglas Poon nasceu em Hong Kong e seguiu carreira fashion em Londres, onde lançou sua primeira coleção em 2014. Sua fascinação pela luz e seus reflexos através de vidros antigos serviu como a principal inspiração para os produtos carros-chefes da marca: as bolsas artesanais esculpidas em resina e polidas à mão, verdadeiras obras de arte. Douglas conta histórias através de suas coleções meticulosamente elaboradas. Seu trabalho conciso o colocou em um patamar acima da média dos criadores, levando-o a lugares como o V&A Museum, Fenwick, Paul Smith, Carnegie Museum of Art, Vakko, Beymen, Ginza e mais de 100 boutiques e galerias estabelecidas no mundo todo, além do mercado online, que atua, inclusive, com entregas no Brasil. www.douglaspoon.com
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Fotos: Divulgação
P r o p ó s i t o
A Panerai se revela na alta relojoaria como a marca que vive propósitos claros na manutenção do meio ambiente, sua raiz originária. A palavra agora é pesquisa, consciência e inovação
PULSO DA SUSTENTABILIDADE 130
Por Juliana Eichler
De uma pequena oficina de relógios na Itália para uma das principais marcas da alta relojoaria do mundo. A trajetória de sucesso da Panerai teve início no ano de 1860, quando o italiano Giovanni Panerai fundou a marca, que durante décadas atuou com a Regia Marina, a marinha real da Itália, oferecendo acessórios especiais e de alta precisão para seus mergulhadores. Sua boutique histórica e a primeira sede da marca — que na época era chamada de Officine Panerai — baseava-se na Ponte alle Grazie, em Florença, e era reconhecida por ser a primeira escola de relojoaria da cidade. Atualmente, com o centro de manufatura em Neuchâtel, na Suíça, a marca une o design e a grandiosidade italianos com a precisão e o know-how dos suíços, o que resulta em relógios de altíssima performance. Com o italiano Alessandro Ficarelli à frente da direção de Design, Inovações de Produtos e Marketing, a Panerai segue fazendo jus à sua essência e às suas raízes, quando alia pesquisas que se frutificam em tecnologia. “Precisamos achar o equilíbrio exato entre quatro elementos principais: modernidade, funcionalidade dos nossos produtos, relação com a marinha italiana e, é claro, com o mundo dos oceanos”, destaca Ficarelli, em entrevista à GPS. “É importante para nós pensarmos na história da marca, respeitando seu design, sua estética, autenticidade e exclusividade”, completa. Parte fundamental do DNA da label é seu compromisso com a sustentabilidade. Com uma forte e antiga conexão com os mares ao longo dos mais de 160 anos de existência, a Panerai tornou-se incansável na preservação da vida marinha e na saúde do planeta. Tal propósito é um dos fatores que a posiciona tão bem no mercado, e a cada ano atrai mais e mais admiradores da causa.
Design com propósito Exemplo disso é que a maison italiana tornou-se a primeira marca de luxo a apresentar aço composto 95% por material reciclado. O eSteel, como é chamado, compõe relógios, cases e pulseiras da linha Submersible, e possui as mesmas propriedades do aço convencional, como estrutura física e resistência a corrosão. “É um novo jeito de pensar, de agir e de impulsionar a economia circular”, pontua Ficarelli.
Pesquisa e consciência Para manter seus compromissos com o meio ambiente, a Panerai firmou uma parceria com a Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) da UNESCO, que resultou no programa Ocean Literacy, baseado na ONU. A marca promoverá educação, ciência cidadã e envolvimento da indústria com o objetivo de transformar conhecimento em ação.
Mike Horn, embaixador da Panerai
Ficarelli explica que o projeto é também uma oportunidade de a label se associar a universidades na disseminação da causa. “Três anos atrás eles nos perguntavam se luxo e materiais recicláveis poderiam andar juntos. Hoje, eles nos pedem para acelerar esse processo e nos tornar totalmente sustentáveis”, revela o diretor.
Economia circular Ainda no mesmo contexto, a Panerai foi de encontro com a Watchfinder & Co., empresa que vende relógios seminovos de luxo. “Não é apenas sobre reciclar, mas também sobre dar uma segunda vida para um produto”, afirma Ficarelli. Entre outras metas, está a de ter mais de 30% da coleção criada e produzida com materiais sustentáveis até 2025.
O embaixador “A próxima geração terá uma qualidade de vida melhor, se nos propusermos a investir no planeta agora”, afirmou Mike Horn, embaixador da Panerai, em conferência realizada na Watches and Wonders, a maior feira de alta relojoaria do mundo, que ocorreu em Genebra, na Suíça, no mês de abril. Explorador profissional, Mike já fez as mais extremas expedições nos mares e, com sua experiência, oferece à relojoaria análises e relatórios sobre mudanças climáticas, além de participar ativamente dos projetos da marca e trabalhar para melhorar a saúde dos oceanos. Com a duradoura e proveitosa parceria de Horn, Ficarelli pretende, para os próximos anos, manter a “autêntica Panerai, seguindo, é claro, nossas raízes e origens, porém em um novo contexto, contemporâneo e ousado”. @panerai
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H e r a n ç a
Brinco Festejo, Carla Amorim - R$ 23.700
Colar Festejo, Carla Amorim - R$ 27.980
Seleção meticulosa, componentes preciosos, matérias rígidas para dar articulação no orgânico, simetria em geométricos. O design tem que ser icônico. Pode ser clássico. Mas precisa de mãos habilidosas, pois só o artesanal importa. Peças personalizadas que retrabalham heranças de família, gemas antigas. O legado é trendy. Gerações, origem e gênero. Essa é a verdadeira joia. (PS)
COM VALOR Colar em ouro e diamantes da coleção Antheia, Grifith - R$ 8.200
Pulseira em ouro e diamantes da coleção Antheia, Grifith - R$ 9.950 Brinco em ouro e diamantes da coleção Antheia, Grifith - R$ 22.900
Brinco ear cuff em ouro com citrino, granada e topázio azul, Silvia Badra - R$ 3.600
Anel, Tiffany&Co. - preço sob consulta
Pulseira Serpenti Viper em ouro branco e diamantes, Bvlgari - preço sob consulta
Pulseira, Tiffany & Co. - preço sob consulta Brinco Serpenti Viper em ouro branco e diamantes, Bvlgari -R$ 65 mil
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I n ve s t i m e n t o
TUDO
TEM Cartier para Grifith - R$ 26.300
Panerai para Grifith - R$ 60 mil Bvlgari - R$ 64 Mil
O SEU Hublot - preço sob consulta
Rolex - preço sob consulta
IWC para Grifith - R$ 43.600
A história nunca foi tão providencial. A alta-relojoaria flui para o caráter essencial de cada marca. O direcionamento exige que a tradição seja mantida, pois é no perpétuo que a preciosidade de instala. Mas inovar é movimento automático. Microtecnologia em dimensões artesanais. Objeto e significado caminham para um propósito. É chegada a hora de contribuir para um mundo habitável. (PS)
TEMPO
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C o n s u m o Dolce & Gabbana - R$ 12.750
A atmosfera é de adaptação. A rigidez de outrora ainda permeia a realidade que busca o arco-íris em seu imaginário, mas se abriga à sombra do que é seguro. Ser sóbrio parece coerente! A monocromia é delicada, elegante, robusta. Ser black também é ser plataforma para hospedar a essência. Rocker, minimal, classical. Metal, cristal. Traços, laços. Ornados, bordados. Preto é base. Black is the new black. (PS)
Dolce & Gabbana - R$ 11.750
Dion Lee para Farfecth - R$ 7.686
Gucci - preço sob consulta
POR TODA A ETERNIDADE Jacquemus - R$ 6.439
Versace
Burberry - R$ 11.350
Fendi - preço sob consulta
Louis Vuitton - R$ 22.300
Saint Laurent - R$ 5.890
Jimmy Choo - R$ 4.886
Valentino - preço sob consulta Prada - preço sob consulta Miu Miu - preço sob consulta
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L a r
Por Paula Santana Adornadamente colorida. Mais que aguardado o momento em que a italiana Dolce&Gabbana finalmente distribuiria a sua vibração pelos ambientes da casa. Que não seja tão somente a de seus criadores, Domenico e Stefano. Após flertar com eletrodomésticos e acessórios, eis que surge uma decor completa. A essência se mantém no legado que sua origem aporta. Os motivos é que mudam, atentando-se a quatro elementos inspiradores: Azul Mediterrâneo, Carretto, Leo e Zebra. São os considerados clássicos a partir das coleções de roupa que a marca produz e também em referência à primeira encenação oficialmente realizada no Salone de Mobile, em Milão, em 2018, quando pintaram à mão cem refrigeradores. Absolutamente atentos e ávidos com o comportamento humano, foi natural o entendimento de que nos últimos anos a humanidade voltou o olhar para a única segurança que havia: o lar. O espaço da acolhida, do consolo. Assim surgiu, com as devidas e icônicas parcerias de artistas e fornecedores, a maximalista e vibrante casa Dolce&Gabbana. Ela é feminina, exuberante, alegre, e celebra a opulência. Praticamente viver em um universo de fantasia, o que não deixa de ser uma deliciosa aventura.
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A r t e
Harmonizar transições entre pinturas em traços e estilo indefiníveis. Referenciais do impressionismo ou da pop art. Taigo Meireles é inspiração na estética contemporânea Por Morillo Carvalho Fotos JP Rodrigues
No início dos anos 2000, um jovem nascido em 1984 ficou conhecido em um cursinho pré-vestibular do Distrito Federal como “o garoto que estuda para fazer plásticas”. Havia certo ar de excentricidade aí, já que alunos de artes não costumam envaidecer donos de cursinhos, que querem aprovar estudantes em Medicina, Engenharia ou Direito. Mas aquele garoto não só entrou na Universidade de Brasília (UnB) para o curso de Artes Visuais como se agigantou enquanto artista e hoje sua obra é reconhecida no mercado e valorizada como pouco vemos acontecer. Aquele garoto virou o fenômeno Taigo Meireles.
O HOMEM PICTÓRICO Alguém que se chama Taigo, aliás, parece estar predestinado a ser artista. Era de se esperar ser nome inventado, artístico, mas este é seu nome de registro e batismo, e na manhã em que recebeu nossa equipe em seu ateliê, na zona rural que há no caminho entre Ceilândia e Brazlândia, com vista para a Floresta Nacional, foi inevitável a curiosidade sobre de onde teria surgido o nome e seus significados. O pai, militar, escolheu Taigo ao ler uma marca, em uma propaganda. Coincidentemente, em sua infância, sua tia se casou com um japonês que, ao conhecer o menino, informou aos seus pais que este é um nome comum no Japão. “Ele ficou intrigado com o fato de uma criança aqui, em Ceilândia, ter um nome japonês. Uns anos atrás, tentei colocar meu nome no Instagram, apenas @taigo, e já tinha: era um senhor japonês, também pintor”, conta, arrematando: “tem a ‘taiga’, que existe no dicionário, e é um tipo de floresta, de vegetação, que se parece com o Cerrado”. Pausamos para rir disso e contemplar o redor. O ateliê, de pé direito altíssimo, oferece a Taigo a vista de um bioma que se parece com a taiga. O espaço é fechado por imensos vidros, que trazem a paisagem para a vista do criador e 136
Taigo Meireles em seu ateliê: lugar de luz, de cor e de fé
a luz natural perfeita para trabalhar. E, embora há vinte anos ele já se destacasse como o artista prodígio que queria estudar na UnB, sua história com a arte começou antes. Bem antes. “Costumo brincar que não começou, sempre esteve. Um priminho veio aqui há alguns dias e estava com o caderninho que ele anda o tempo todo, para desenhar. Minha mãe disse que eu era assim também, já muito obcecado a tudo o que era arte ou remetia à história da arte, desenho e pintura”, conta.
Como todo bom artista contemporâneo, traços e estilo são indefiníveis em sua obra. Há séries de pinturas que remetem às cores chapadas e explosivas da pop art, há outras que podem ser lidas como próximas do impressionismo, outras ainda podem ser percebidas como que inspiradas em arte. Foi, portanto, inevitável saber de Taigo de onde surgiram suas referências. E o que há de implícito nessa pergunta é saber como um jovem de uma cidade com muita arte, mas pouca oferta de espaços para fruição, como galerias e museus, desenvolveu seu olhar.
“Eu entendo que existe uma cidade que possui uma proposta de arte e arquitetura moderna. E existem essas periferias, a Ceilândia, por exemplo, onde eu encontro o que eu chamo de paisagem pós-moderna. Em corrosão, amalgamada, que está sempre em construção, em ruína, derrubada e em reconstrução. Ter estudado na UnB me colocou em trânsito entre essas duas paisagens e eu acho caríssimo”, reflete. E recorre à História da Arte para posicionar seu lócus: “dos grandes pintores, grandes mestres, pouquíssimos tiveram uma vida privilegiada. Muitos vieram de uma família humilde, muito normal, um esforço danado para poder estudar”. 137
Obras de Taigo remetem a Expressionismo, Renascentismo e Pop Art
Contudo, assim como Goya – citado em nossa conversa – prosperou com sua arte na Espanha, Taigo prospera. Basta um Google com “Taigo Meireles preço” e dificilmente encontrará uma obra com valor inferior a R$ 10 mil – e isso num site de leilão de artes, ou seja, este seria um lance inicial. O que o posiciona neste espaço de grande reconhecimento são questões que estão ao lado de seu talento: sua dedicação, sua produção diária com hora para começar e acabar, e sua percepção sobre o mercado de arte logo nos primeiros anos de faculdade. “Por mais que eu estivesse envolvido com processo criativo, e tem toda essa aura de loucura que permeia o universo da pintura, sempre estive muito ciente da realidade. Logo cedo entendi que essa obra tinha potencial de mercado. Foi onde enxerguei essa possibilidade de sustentar essa prática, essa vida”, revela. Foi inevitável pararmos por mais um instante para tomarmos um café e comermos um chocolatinho Lindt. O canto dos pássaros brincando ao redor pareceu conduzir a conversa metaforicamente: é que Taigo enxergou os “pássaros azuis”. Diz-se que quem os enxerga e os persegue são conduzidos aos bons caminhos. No caso do artista, os pássaros azuis foram essa percepção sobre o mercado que o levaria ao sucesso e ao reconhecimento profissional. No entanto, o artista garante que não se curvou às demandas. É esse entendimento que dá a ele a possibilidade de criar livremente e inserir seu trabalho nos meios de compra e venda de pinturas. “Preciso de uma lógica interna, harmonizar as transições entre as séries de pinturas que desenvolvo”, conta. E, para a livre criação, muita disciplina diária: “novamente recorro às biografias dos pintores, e a pintura sempre exigiu um rigor na rotina. Acorda tal hora, começa a pintar tal hora, almoça, e eu não fujo disso. Acordo cedo e pinto até o anoitecer, raramente trabalho à noite”. 138
Foi impossível manter a conversa olho no olho estando ladeado pelas obras de Taigo. Pedi perdão por isso, já que a arte da entrevista é bem mais confortável quando feita com a troca cúmplice de olhares entre quem pergunta e quem topa abrir a própria vida. Ele disse que tudo bem. É provável que olhar para sua arte seja também como que olhar em seus olhos. Nesse percurso, deparei-me com telas da série Altares, que são altares de igrejas. E questionei se ele sentia, em seu processo de criação, algo como a analogia do que se diz sobre a gastronomia: o senso comum tende a enxergá-la como algo relaxante e terapêutico, enquanto os mestres dizem ser exaustivo e extenuante. “Durante o processo, desde a concepção até a exposição, todo tipo de sentimento perpassa. Inclusive os contraditórios. Você está num embate reflexológico com a pintura. Aquilo lá é você se expondo. O resultado, a aparência e a verdade daquilo fazem parte dessa série de sentimentos que te acometem. Essa postura não é para pessoas covardes ou que querem simular coisas, só querem gozo e deleite. Você enfrenta uma série de frustrações e respostas duríssimas da própria obra. O custo psíquico e emocional de uma obra ou conjunto é altíssimo”, conta. Ele olhava para seus altares. Perguntei, então, sobre como ele lidava com isso e, talvez, essa seja a resposta mais bonita da entrevista toda. A que gira uma chave capaz de decodificar este processo criativo tão bem-sucedido. “Eu lido simplesmente me dedicando a essa contemplação religiosa da coisa. É assim que eu faço o contraponto. Eu estou fazendo aquilo diante de Deus, eu estou diante da Totalidade, do Julgador-Mor, supremo da coisa. Estar diante dessa ideia, dessa Presença, atenua um pouco o desespero que a criação artística te impõe”, diz. Eis o mistério da fé... @taigomeireles www.taigomeireles.com
C a r r o
Com pegada esportiva, versão entrega ainda mais força para o SUV elétrico
AUDI E-TRON S SPORTBACK: ENERGIA DE SOBRA Agora que os carros elétricos estão ficando mais comuns, as marcas já apostam em variações para atrair um número maior de clientes. O Audi E-Tron já conquistou algumas pessoas por ser um SUV 100% elétrico e com um bom desempenho, enquanto o E-Tron Sportback foi a opção para quem queria o design mais arrojado de um SUV-cupê. O Audi E-Tron S Sportback completa a oferta do veículo no Brasil com uma proposta mais esportiva, com mais desempenho, mesmo que isso reduza a autonomia. Até o momento, o Audi E-Tron S Sportback é a opção mais potente possível para o SUV elétrico, ao menos até que a Audi decida fazer um E-Tron RS com este tipo de carroceria. A identificação como um carro elétrico e da linha S aparece olhando com atenção. O carro é 50mm mais largo do que o Sportback normal, um efeito do alargamento dos arcos de rodas e dos novos para-choques. Isto foi feito para reduzir o coeficiente de arrasto para 0,26, melhorando a aerodinâmica. Afinal, estamos falando de um SUV que pesa 2.805 kg, então cada detalhe que possa ajudar no desempenho é importante. Tem ainda um par de câmeras no lugar dos retrovisores tradicionais. O interior traz uma leve evolução das linhas usadas nos SUVs mais caros da Audi. Utiliza duas telas, uma para a central multimídia e outra apenas para o ar-condicionado. Tem área grande para guardar objetos, onde fica escondido o carregador sem-fio para smartphones. O pai-
nel de instrumentos digital e o head-up display ajudam a passar a sensação de estar em um carro mais tecnológico. Tem teto solar panorâmico, rodas de liga leve de 21”, park assist plus, sistema de som Bang & Olufsen 3D, bancos dianteiros com aquecimento e ventilação, ar-condicionado de quatro zonas, controle de cruzeiro adaptativo com stop and go, iluminação interna em LED, acabamento em couro vermelho, e mais. Para criar a receita esportiva do E-Tron S Sportback, a Audi adicionou um terceiro motor elétrico, fazendo com que tenha dois no eixo traseiro e um no dianteiro. A potência combinada sobe dos 400 cv do E-Tron normal para 503 cv, enquanto o torque salta de 67,7 kgfm para 99,2 kgfm. Porém, o conjunto de baterias de íon-lítio segue o mesmo, de 95 kWh. Estes números impressionam, principalmente por conta do torque. O desempenho extra tem o seu custo. A autonomia acabou reduzida dos 420 km da versão normal para 380 km. Como utiliza apenas 86 kWh dos 95 kWh, a autonomia real é de 368 km, ante os 382 km do E-Tron convencional. O consumo foi de 3,4 km/kWh na cidade, enquanto no ciclo rodoviário marcou 3,6 kWh. A recarga feita com um posto de carga rápida de 150 kWh leva apenas 40 minutos. Como este tipo de estação é raro no Brasil, acabaremos usando mais os wallbox de 22 kW, então prepare-se para deixar por mais tempo, pois o tempo declarado pela Audi é de 4h25 para atingir os 100%. O Audi E-Tron S Sportback chega para conquistar quem quer o o máximo de desempenho possível em um carro da marca. 139
ARTE
Maurício Lima Consultor em investimento em arte mauricio@galeriaclima.com.br
ONDE TUDO COMEÇOU Colagem de 1969, um dos primeiros trabalhos construtivistas de Eduardo Sued
A série de trabalhos que deu origem ao estilo que Eduardo Sued se consagrou Eduardo Sued é inquestionavelmente um dos maiores coloristas que o Brasil já teve e, dentro do movimento artístico construtivista, um dos maiores nomes. Sued começa seu caminho pelas artes em 1949, quando inicia formação como artista plástico no curso livre de pintura e desenho do pintor alemão Henrique Boese (1897 – 1982). Depois desse curso, não parou mais de se envolver com a arte. De 1950 a 1951 colabora como desenhista de arquitetura no escritório de Oscar Niemeyer (1907 – 2012). Durante esse período já fazia algumas aquarelas e com a venda delas consegue ir para Paris em 1951, lá permanece até 1953 e frequenta as Académies Julian e de La Grande Chaumière, que mais do que escolas eram locais onde os estudantes se expressavam livremente por meio do desenho e da pintura. De volta ao Brasil, inicia curso de gravura em metal com Iberê Camargo (1914 – 1994), tornando-se mais tarde seu assistente no ateliê.
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Colagem de 1969, um dos primeiros trabalhos construtivistas de Eduardo Sued
Em 1956 inicia a carreira de professor de desenho, pintura e gravura em metal, atividade que abandona 1980. Na década de 60, Sued realiza importante produção de gravuras e participa de mostras como a Bienal de San Juan de Gravura Latino-Americana (1970) e da Bienal Internacional de Gravura (1970), na Polônia. O interesse por grandes áreas cromáticas e a busca por mais plasticidade levam-no a dedicar-se de forma cada vez mais exclusiva à pintura em meados dos anos 1960, e foi durante essa década que houve uma mudança brusca na pesquisa artística, a qual eventualmente o levou para o construtivismo, movimento que, com o uso de equilibradas combinações de cores, transformou-o em um dos mais importantes coloristas brasileiros. Essa transição ocorreu de forma relativamente rápida, durante os anos 60 o artista passou por vários estilos. Em sua pesquisa com gravuras dessa década, Sued ainda transitava por uma arte mais figurativista, retratando pessoas com rostos bem definidos.
Óleo sobre tela de 1967
Na segunda metade dessa década, a cor apareceu de forma muito forte e já mostrava todo o potencial cromático que o artista apresenta até hoje, com seus 96 anos. Em alguns trabalhos daquele tempo, um resquício de figurativismo pode ser visto principalmente com o uso de cabeças humanas que fazem parte de uma composição repleta de formas sobrepostas, já descartando o uso de sombra para dar tridimensionalidade e usando apenas as variações de cores para criar camadas e certa perspectiva. Posteriormente em seus trabalhos construtivistas Sued utiliza de forma primorosa a variação de cores para gerar um aspecto tridimensional em suas obras. Até o final da década, o artista continuou desenvolvendo trabalhos nesse estilo, tanto em pinturas, quando em gravuras e desenhos. Sempre variando e criando objetos que se sobrepõem e usando as cores para criar os volumes. Em 1969 continua com o estilo dos anos anteriores, porém, nesse ano, Sued começa a explorar o movimento construtivista com suas linhas retas e formas geométricas mais regulares e definidas. Foi então que o artista cria alguns de seus primeiros trabalhos construtivistas, uma série de pequenas colagens sobre papel, quase todos pintados na cor prata – nesses trabalhos o artista usa camadas de papel cartão para criar obras tridimensionais.
Gravura de 1965
Nos anos seguintes, algumas dessas obras foram vendidas, mas um grupo de sete colagens ficou guardado no ateliê até 2021, quando foram vendidas. Esses trabalhos são de grande importância histórica dentro da carreira do artista e dentro da história da arte brasileira, pois foram a base construtivista que o artista usou para desenvolver sua pesquisa de quase sete décadas. Eduardo Sued continua firme e forte trabalhando em seu ateliê no Rio de Janeiro, fazendo lindas pinturas.
Desenho sobre papel de 1968
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M o d e r n i s m o
Foto: Acervo Itaú Cultural
LIBERDADE, POESIA, NATUREZA, ESTÉTICA
Fala, Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti
O diálogo do passado com o futuro, ressignificando o período. Este é o desafio de contemporâneos e suas artes dentro da processual evolução sociopolítica-cultural do País Por Letícia Cotta Fotos JP Rodrigues
O que vertentes do conhecimento humano, como História e Arte, têm em comum? Já se perguntou isso? Esses ramos compartilham o objetivo mútuo da disrupção, a exemplo da efervescente Semana de Arte Moderna de 22, que há cem anos desestabilizou o Brasil e reacendeu o debate sobre conceitos artísticos em todo o território nacional, dando início a novos movimentos. E pensar que essa contracultura surgiu não de uma classe simplória e sem voz, mas sim de uma turma elitista do Sudeste, estudada e refinada, que queria muito expandir sua liberdade criativa, até então aprisionada nas fazendas dos portentosos barões do café da época. Aliada a este contexto cultural, a Semana de Arte Moderna veio de encontro a fortes movimentos políticos, como o surgimento do emergente Partido Comunista, sequenciado pela Revolução Constitucionalista até culminar na ditadura, 15 anos depois. 142
Atualizações traumáticas de Debret, Ge Viana
A resposta a esta catarse foi uma primeira fase modernista com forte influência das vanguardas europeias, até criar uma identidade própria, rompendo com padrões estéticos estrangeiros. E, assim, fazer surgir nomes como Anita Malfatti, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Graça Aranha, Plínio Salgado, Guilherme de Almeida, Heitor Villa-Lobos, e Di Cavalcanti. O tempo passou, o legado permaneceu. E se acentuou. Dessa forma, um modo de celebrar os precursores da arte DNA do Brasil foi criar a exposição Brasilidade Pós-Modernismo, de curadoria de Tereza de Arruda, em itinerância pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Dessa vez, no entanto, os artistas serão outros, a citar Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, Arnaldo Antunes, Cildo Meireles, Daniel Lie, Ernesto Neto, Ge Viana, Jaider Esbell, Rosana Paulino e Tunga. O desafio destes profissionais é justamente fazer esse diálogo do passado com o futuro, e ressignificar, enquanto homenagem, o período. Quem sabe não surge um novo movimento artístico, do qual estaremos falando anos a
gualdade a partir de um europeísmo proveniente do período colonial a ofuscar o nativismo original, o popular e o regionalismo. As obras deste segmento apresentam uma brasilidade com diversas facetas da população brasileira e, em muitas representações, imersa em seu universo cotidiano que a molda. Essa população é, por vezes, despercebida, ofuscada ou camuflada por ícones, padrões e tradições preestabelecidas. Vista da exposição ‘Brasilidade Pós-Modernismo
De que maneira a Semana de 22 vem como guia para a narrativa curatorial?
Todo movimento de frente, inovador, audacioso, tem um toque de radicalismo. Mudanças se fazem necessárias como respostas às novas perguntas da evolução sociopolítica-cultural de ordem global e continuada. A Semana se concretizou como um desses exemplos sob diversas perspectivas, sem delegarmos a plenitude do “início” do modernismo no Brasil ou mesmo o seu “auge”. Seus protagonistas usavam da potencialidade do momento e de seus universos particulares para arriscar, em passos largos, conquistas almejadas em nome de uma inspiração coletiva, respaldada na utopia de um novo futuro para a brasilidade. Ex Cord, Flávio Cerqueira
As velas e os girassóis, Francisco de Almeida
fio novamente? “Foi necessário um centenário e um longo processo de reconhecimento, conscientização, assimilação, integração e desbravamento para chegarmos à essência da arte contemporânea brasileira com artistas representantes de diversas etnias, gerações e procedências geográficas”, explica Tereza para GPS. E complementa: “Esta exposição não é idealizada com o olhar histórico, mas sim focada na atualidade, com obras produzidas a partir de meados da década de 1960 até os dias de hoje, sendo algumas inéditas, ou seja, já com um distanciamento histórico dos primórdios da modernidade brasileira”. O Pós-modernismo provoca inúmeras reflexões. De que maneira o visitante conseguirá se conectar com essa questão?
R. Mutt, da série Quem é quem?, Nelson Leirner
O indivíduo brasileiro enaltece em toda sua história a busca por um perfil, uma identidade, imersa em contradição e em dualidade. Sabemos hoje que esta é diversificada e consequentemente envolta em desi-
Cada núcleo temático da exposição conta com um peso de argumentação visual próprio. De que maneira eles se relacionam?
A mostra é dividida em seis núcleos, que norteiam um percurso individual, porém interligado às questões da atualidade. Repare, olhe, observe, note! Estamos reparando, revendo, restaurando, renovando! A exposição não é elaborada como um ponto-final, mas como um ponto de partida, assim como foi a Semana para uma discussão inovadora para atender a demanda. Hoje, a atitude, a ideia por trás do artista, é decisiva. Tem uma atuação significativa não somente na busca do meio de expressão do artista, mas também na formação de opinião e de sua propagação. A função da arte atende a metamorfose de nosso tempo. Falar sobre modernidade e apresentar a mostra em Brasília faz todo sentido?
Um exemplo de futuro construtor considerado como um dos maiores êxitos do modernismo no Brasil foi a criação de capital, tida, inicialmente, como uma ideia utópica. A vertente modernista era urbanista. Não nos delimitamos exclusivamente a Brasília, mas também a outros centros urbanos, pois a arquitetura e a cidade em si exercem, em geral, um grande papel como construtores de ideologias e ideais responsáveis pela consciência social. Exemplar é a obra de Lina Bo Bardi, que, igualmente como arquiteta, foi futurista ao executar a transformação de uma fábrica em um centro cultural, como é o caso do SESC Pompéia. Os protagonistas das obras aqui expostas enfatizam este contexto com seus desenhos, pinturas e ideais de criação. São eles Oscar Niemeyer, Lucio Costa, Jorge Bodanzky, Joaquim Paiva, Márcia Xavier e Lina Bo Bardi. Brasilidade Pós-Modernismo Centro Cultural Banco do Brasil Brasília Até 5 de junho de 2022
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M o s t r a
A trajetória conturbada do holandês torna-se acessível àqueles que não frequentam museus, mas veem na arte uma forma sensitiva de história e deleite
VIDA E MORTE DE VAN GOGH Fotos: Divulgação
Por Pedro Ângelo Cantanhêde
Em meio a tanta tragédia, a arte. A vida de Vincent Van Gogh pode ser caracterizada assim. Do alcoolismo a um suposto suicídio, foram as cores e as pinceladas que mantiveram a mente do holandês maquinando, por meio de obras que refletiam a rotina e a prodigiosidade do artista. Hoje, mais de 130 anos depois, o mundo também vive tribulações. Seja em questões sanitárias, sociais ou de confrontos políticos, são muitas as tragédias que atingem a mente de todos. Talvez, mais uma vez, a esperança virá pela arte. A arte dentro de nós; nós dentro da arte. Beyond Van Gogh é este sopro de crença transformado em realidade. Em exibição em São Paulo, a exposição imersiva chega a Brasília em julho, no ParkShopping, após rodar continentes e ser prestigiada por mais de vinte milhões de pessoas ao redor do mundo. 144
Imagine a sensação de estar em um museu e apreciar cada detalhe de uma obra de cores vibrantes e temas melancólicos, mas sempre tendo como limite a distância entre o quadro e você. Feche os olhos vá além: sinta-se imergindo em cada pincelada da quase fotografia de seu quadro Auto-Retrato, em cada pétala de Os Girassóis e em cada estrela eternizada pelo tempo em A Noite Estrelada. Em seus dois mil metros quadrados de projeções, o visitante vivencia, agora de olhos abertos, uma viagem por dentro dos sonhos e aflições de Van Gogh, transformados em pinturas pós-impressionistas. De origem calvinista e absolutamente antissocial, Van Gogh se aproxima da arte aos 16 anos, ao trabalhar na galeria da família. Depressivo, tentava ser teólogo enquanto desenhava. Ao irmão Theo, que o incentivou no início da carreira de pintor, disse: “Eu não quero pintar quadros, eu quero pintar a vida”. A partir daí passa a realizar pinturas a óleo, tomando de uns as pinceladas separadas e de outros as cores precisas. Desta fase surgiram mais de duzentos quadros, entre eles Auto Retrato (1887). Numa temporada isolado no campo, já com a saúde debilitada, surgem suas obras mais importantes. Entre as mais de cem produzidas, Girassóis (1888), em que uma única tonalidade é valorizada por intermédio de modulações de luz, e Quarto em Arles (1888). Foi nessa época que ocorreu o famoso episódio da orelha cortada, envolvendo uma mulher. Em relatos, sua amante teria se relacionado com Gauguin, e, ao descobrir, Van Gogh discute e agride o amigo com uma navalha. Arrependido, corta um pedaço de sua orelha e manda num envelope para Gauguin. Durante sua recuperação em casa, pinta o Auto Retrato com a Orelha Cortada (1888). Van Gogh morreu praticamente no anonimato. O suicídio foi em 1890, quando saiu para um campo de tricô munido de uma arma, prevendo o tiro no peito. Sua trajetória está escrita em mais de setecentas cartas ao irmão, de quem era muito próximo. O artista morreu na França, país onde amontoava mais de setecentos quadros sem comprador. A fama veio após a sua morte. Na exposição, parte desta trama é contada de maneira bem-humorada numa narrativa de cordel, com referências à Semana da Arte de 22. Pelos ouvidos, a trilha sonora contemporânea em piano acompanha o ritmo acelerado de um coração emocionado. “Você consegue se envolver de maneira completa na obra do artista. O momento é esse, pessoas que talvez nunca entraram em um museu vão se encantar”, afirma o brasiliense Rafael Reisman, CEO da Blast Entertainment, responsável por trazer a exposição ao País. Beyond Van Gogh @beyondvangoghbrasil
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Fotos: Fernando Siqueira
Doutrina
Museu Judaico, uma nova matriz com princípios de diversidade, resistência e atualidade. Um espaço para manter vivas memórias e tradições num diálogo com a cultura brasileira e a arte contemporânea
Museu Judaico de São Paulo
HISTÓRIAS TRANÇADAS Por Paula Santana
Foram vinte anos de planejamento, fruto de uma mobilização entre a sociedade civil. Revitalização, restauração, modernização e se fez o Museu Judaico de São Paulo, recém-inaugurado, no antigo prédio do templo Beth-EL, uma das sinagogas mais antigas da cidade, no bairro da Bela Vista. Um reconhecido presente para a comunidade judaica, que tem presença em solo brasileiro desde o século XVI. Com narrativas diversas, o local trata da história de um povo com trajetória milenar ligada também à força da comunidade em Recife e ao judaísmo amazônico, exemplos 146
de reverberações locais que, por mais que se diferenciaram em alguns pontos ao longo dos séculos, compartilham a mesma originalidade. Ao mesmo tempo, há o incentivo de produções artísticas contemporâneas ao promover o diálogo profícuo da cultura brasileira e da arte contemporânea. É um museu conectado a seu tempo, mas que reverencia o memorial histórico – como um talit com mais de 150 anos e talheres vindos de um campo de concentração, além de numerosos documentos e objetos – junto às produções atuais.
Fotos: Divulgação
Teresita, Alex Cerveny
Timbuktu, Alex Cerveny
Rolo com oval de porcelana branca, Anna Bella Geiger Livro Socorro 1, Hilal Sami Hilal
O museu abriu com quatro exposições simultâneas: A vida judaica e Judeus no Brasil: histórias traçadas, ambas de longa duranção; e Inquisição e cristãos novos no Brasil e Da letra à palavra, em cartaz até o dia 28 de março. Elas contemplam o schedule do espaço, que tem à frente do projeto o presidente Sergio Simon, o diretor executivo Felipe Arruda e, na curadoria, a pesquisadora e crítica Ilana Feldman, além do grupo de voluntários que construiu a instituição. Segundo a curadora, o museu “não é apenas lugar de preservação e difusão, mas de produção de conhecimento e experiências, em conexão com o tempo presente”. Além de quatro andares expositivos, há uma biblioteca com mais de mil livros para consulta e um café com comidas judaicas. O Centro de Memória do MUJ é uma atração expressiva. Oriundo do espólio do antigo Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, foram coletados documentos raros sobre a comunidade judaica no Brasil no âmbito narrativo, proporcionando o acesso atual a documentos que ajudam pessoas a compreenderem suas relações genealógicas.
São mais de 20 mil livros (8 mil em íidiche), 100 mil fotos, 400 depoimentos de história oral, um milhão de documentos, periódicos e outros registros que versam sobre os imigrantes, as instituições, a cultura e a contribuição à sociedade brasileira. Tal gesto possibilita uma história viva que redescobre, na atualidade, gerações e elos até então perdidos. “Concebemos o Museu Judaico de São Paulo como um espaço de visões plurais sobre o judaísmo, apresentado como um complexo sistema cultural e identitário, que está sempre se reinventando. A partir da experiência judaica, o MUJ reflete sobre o tempo presente e cria tranças com a diversidade cultural do contexto brasileiro, acionando debates sobre preconceito, intolerância e outras questões sociais e políticas urgentes”, afirma Felipe Arruda. @museujudaicosp Título atribuído (Carrinho II), Arthur Bispo do Rosário
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D i ve r s i d a d e
Aspirar uma plataforma global, conectar comunidades, convergir ideias, impulsionar o pensamento artístico. Esta é a nova missão da SP-Arte, que retorna à sua essência, mas cria vínculo com divergentes
Alegria Circular Alegria, Arnaldo Antunes
O ECOSSISTEMA DA ARTE 148
Por Paula Santana Jean Royère, Grade em ferro
Foto: Reinaldo dos Santos
Foto: Reinaldo dos Santos
O retorno da feira depois de dois anos veio acompanhado por entusiasmo e bons negócios. Um dos pontos que mais chamou a atenção foi a maior diversidade artística e os numerosos novos clientes: jovens, curiosos e etnicamente plurais – mas foi intencional –, a exemplo dos setores emergentes Radar e Arte Natureza, instalados no térreo, com espaço para artistas autônomos, ONGs e aqueles sem representação comercial. Felipe Molitor e Carolina Ralston assinaram as curadorias, confirmando que diversidade comunga com acessibilidade, o que provoca e estimula todas as vertentes que envolvem uma feira de arte.
Foto: André Visockis
Sāo Paulo – Tempos imperativos verbais se tornaram palavras de ordem nesta retomada dos ânimos, da rotina e da vida. Renova, inova, evolui. Foi nessa ambiência que a SP–Arte, Festival Internacional de Arte de São Paulo se reencontrou presencialmente com sua essência ao voltar ao Pavilhão da Bienal e ofertar 133 galerias de arte e design a 25 mil ávidos visitantes.
Armarinhos Teixeira, Mantas de poliester Galvão, sem título
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150 Foto: Galeria Raquel Arnaud - Comunicação Galeria)
Foto: Guilherme Gouvêa
Luiz Zerbini, Rio
Julio Villani, sem título
Foto: Diego Mercado
Di Cavalcanti, Morro
Entre os veteranos, a euforia era evidente. “Percebemos um novo público na feira, mais jovem e bem qualificado, que procura se inteirar sobre o assunto, visita museus, pesquisa”, avalia a galerista Luisa Strina, que comemorou a venda de 21 obras. O mesmo tem a dizer Ricardo Rinaldi, da Kogan Amaro: “a melhor de todas em termos de resultados. É sempre um bom espaço para novidades”, diz ele, que surpreendeu ao apresentar obras em NFT muito bem recebidas. Myra Babenco, da Galeria Raquel Arnaud finalizou celebrando “as vendas relevantes de importantes artistas, como Julio Vilani, Waltercio Caldas, Carla Chaim, Iole de Freitas, Célia Euvaldo e Cruz-Díez”.
Foto: Comunicação Casa Triângulo
Muntadas, Marina Mantoan
Foto: Maysa Aquino
E o design cada vez mais se aproxima e conquista esta seara. Mais uma vez ocupou um amplo espaço da Bienal, provocando o branded exposition, cujo efeito é a larga visibilidade ao setor. Casa do Povo, Etel, Pivô habitam entre os exitosos da feira. “Estamos muito felizes com essa edição, que teve sabor especial de reencontro, trazendo também novos agentes para a cena artística. Muito orgulho de minha equipe extraordinária de arquitetura, design, comunicação, produção, curadoria, fotografia e vídeo, por termos realizado uma edição histórica, com enorme repercussão de público e da imprensa. Não é fácil esgotar ingressos e muito menos mobilizar um público tão qualificado e engajado em torno da arte”, conclui Fernanda Feitosa, idealizadora e diretora da feira.
Foto: Marcelo Pallotta
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Eduardo Berliner, Retrato
Coleção Barbara Spanoudis
ÍCONES Isadora Campos @isadoracampos
Dizem que somos todos cariocas: no samba, nos gostos, no coração. Entre as residências de Brasília e Rio de Janeiro, conheci mais razões, cheias de ginga e bossa, para amar e adotar o Rio como seu.
AS MARAVILHAS DA CIDADE MARAVILHOSA
O luar sobre a Baía de Guanabara A magnífica propriedade de família Monteiro de Carvalho, palco de emblemáticas festas, acolhe hoje o convidativo hotel boutique Vila Santa Tereza Hotel & Spa. Em meio a um bucólico jardim suspenso de 80 mil metros quadrados, é possível admirar a privilegiada vista do Pão de Açúcar e da Baía de Guanabara. Charmoso refúgio da agitação da cidade, no boêmio bairro, o empreendimento é liderado pela quarta geração de empreendedores da tradicional família, que preservou o design original dos ambientes e parte do icônico mobiliário para garantir o requinte e a autenticidade do espaço, em seu processo de renovação. O hotel, muito procurado para cerimônias de casamento, oferece suítes confortáveis, com destaque para a Cláudia, em homenagem à sua matriarca, cuja banheira permite uma vista singular dos principais cartões postais da Cidade Maravilhosa. Ainda, em noites de Lua Cheia, o restaurante de culinária francesa com temperos brasileiros e ingredientes cultivados na própria horta. O público é recebido para um evento único: contemplar o pôr do Sol com o surgir da lua cheia, que oferece um espetáculo ao banhar de prata a Baía de Guanabara com seu reflexo. www.vilasantateresa.com
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Receitas de Doçuras Caçula de uma família de empreendedores, Maria Raphaela Trussardi Severiano Ribeiro lidera a Raph’s Patisserie, que celebra seus 15 anos de expressivas receitas. Unanimidade nas recepções da cidade, sejam nos mimos a serem presenteados ou nas composições das celebrações, a marca de doces artesanais abre sua nova fábrica em uma das mais agitadas avenidas da cidade: a rua Jardim Botânico. Em um prédio de cerca de 5 mil metros quadrados, o novo espaço atenderá a produção dos doces, mas também o primeiro Café da Raph’s, onde receberá o público para degustação dos seus icônicos produtos, como o Brownie da Raphinha e outros. Em estratégica localização, o espaço é convidativo também aos turistas que visitam o Jardim Botânico e o Parque Lage, e a decoração traz o mood instagramável da brand feminina. Vale reservar a visita, e já encomendar seus pedidos. www.raphspatisserie.com
Acessórios com Identidade Se o mood da carioca é ser despretensiosa, mas sempre ter bossa, a marca das cunhadas Roberta e Maria Claudia Palhares é a tradução literal desse lifestyle. Com ampla expertise na composição de acessórios para as principais marcas brasileiras, a dupla criou a sua ID Bags para atender a demanda por bolsas e acessórios em couro de qualidade, com modicidade e extremo bom gosto. Com a possibilidade de compor os itens com as iniciais ou emblemas, escolher cores e materiais, o portifólio de produtos da marca expandiu, dando lugar também a uma linha Home, com porta guardanapos, velas e até itens de escritório que são de extremo requinte. Celebrando sua primeira década de máximo sucesso, a marca recentemente abriu sua primeira loja própria, onde é possível personalizar suas peças no ato. @id_bags
De braços abertos
O requinte da carioca Tida como uma das mais elegantes cariocas de sua geração, a deisgner Luisa Schröder debruça seu apurado e talentoso olhar em suas criações autorais de sua homônima joalheria. Carregando consigo a jovialidade descomplicada da bossa carioca e o requinte nato herdado das gerações de icônicas mulheres de sua família, Luisa traduz em peças versáteis o que faz do estilo da carioca ser contemplado em todo o mundo. Delicadas, mas como amuletos repletos de significados, as suas criações têm conquistado o mundo e já pode ser adquirida nos principais e-commerces de moda. Ainda, in loco, no coração de Ipanema, seu ateliê merece a visita para um mergulho no universo criativo da designer que, por si só, é uma referência no mundo das artes. @luisaschroder
Eleito pela UNESCO como uma das 7 Maravilhas do Mundo Moderno, o Cristo Redentor é possivelmente o mais icônico monumento da Cidade Maravilhosa. Situado a 710 metros acima do nível do mar, o monumento é louvado como símbolo de fé e abriga, em seu pedestal de 8 metros de altura, o Santuário Nossa Senhora Aparecida. Visitado por uma imensidão de turistas diariamente, o Cristo recebeu um processo de renovação para a celebração de seus 90 anos, marcados no último 12 outubro. Além do restauro dos mosaicos de pedra-sabão que compõem sua estrutura externa e também o seu coração de mais de um metro, em seu nono andar interno. O monumento foi minuciosamente adaptado às necessidades de segurança atuais. Sob liderança de seu pároco e também reitor, Padre Omar Raposo, ele seguiu de braços abertos mesmo quando suspensas as visitações pela pandemia, com missas televisionadas para todo o mundo. Símbolo de fé e amuleto arquitetônico do brasileiro, a visitação é imprescindível. Estrada Velha Tijuca | (21) 2225-0401
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EXPLORA Marcella Oliveira @marcella_oliveira
Um respiro dentro da metrópole Quando os arranha-céus de São Paulo vão ficando um pouquinho mais distantes, a placa escrito Parque Burle Marx explica o porquê de tanto verde ao redor. O corredor de árvores leva a uma construção histórica que lembra um palácio. Literalmente um. “Bem-vindos ao Palácio Tangará”, diz a recepcionista. O hotel seis estrelas – que pertence à Oetker Collection – é sonho de consumo de muitos e, se me perguntarem, vale a experiência. Com diárias a partir de R$ 2,2 mil, todos os 141 apartamentos têm vista para o parque. Todavia, além da estrutura física, a vivência passa também pela gastronomia. Afinal, o menu é assinado por ninguém menos que o aclamado chef francês Jean-Georges Vongerichten, que opera mais de 40 restaurantes pelo mundo, em cidades como Nova York, Tóquio e Paris. Um dos restaurantes, o Tangará Jean-Georges, apresentou recentemente novidades no menu – elaborado ao lado do novo chef executivo do hotel, Filipe Rizzato –, que agora é inspirado na sazonalidade, com ingredientes regionais a cada temporada. Um exemplo? O Tartar de Bijupirá com redução de tangerina, azeite defumado e ovas de mujol. Difícil escolher um prato, mas um irresistível é a fraldinha de black angus, roulade de abobrinhas, parmesão e emulsão de pimenta habanero. Se quiser optar por experimentar a veia asiática contemporânea, vá de lombo de cordeiro e costelinha crocante, bok choy e glaze de pimenta defumada (foto).
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Para o clima palacial ficar completo, a dica é o Tradicional Chá da Tarde Inglês, lindamente servido no restaurante Pateo do Palácio ou no terraço externo, com vista para o Parque Burle Marx, das 15h às 18h, de segundafeira a sábado. Basta fechar os olhos e abrir a boca para se sentir em Londres: é que a experiência foi inspirada no chá da tarde servido no Lanesborough, hotel Oetker Collection na capital do Reino Unido. Servidos em formato de torre, finger de sanduiches, fine pastries e, claro, o que não poderia faltar: os tradicionais scones londrinos, tipo bolinhos. Afinal, estar no Tangará é mais do que se hospedar. É viver uma experiência que sai da São Paulo cinza, urbana, tomada por barulhos e entra em uma poesia urbana. Imperdível. @palaciotangara
Um dia no casarão
Sabor oriental Em uma discreta porta em meio a uma rua pouco movimentada no período da noite no bairro de Barra Funda encontra-se o restaurante Komah. No comando, um dos chefs queridinhos do momento, Paulo Shin. Paulistano filho de coreanos, cresceu aprendendo em casa os sabores e hoje leva ao público um pouco dessa gastronomia. O local é pequeno, apenas 40 pessoas, simples, inspirado em lofts novaiorquinos, e muito acolhedor. A dica é saborear o menu degustação (R$ 115 por pessoa), chamado de Banquete, uma experiência que vai abrir seus olhos para a culinária coreana: uma explosão de cores, sabores e texturas. São cinco pratos que com certeza você nunca comeu igual: Banchan set (seleção de conservas), Yukhoe (steak tartare coreano com pera asiática e gema curada), Samgiopsal + Ssam set (panceta glaceada, arroz, pasta de pimenta, hortaliças e salada de cebolinha), Kimchi Bokumbap com omelete (arroz de kimchi salteado) e Galbi Jim (costela bovina marinada com nabo, arroz e salada). Difícil explicar em palavras, é preciso experimentar os sabores, porque realmente é diferente de tudo que você já comeu por aí. Ah, e não vá sem fazer uma reserva. @komahrestaurante
Do lado de fora, as janelas grandes com jardineiras floridas já chamam atenção. A movimentação de clientes é intensa o dia todo no casarão da esquina da Haddock Lobo com a Alameda Franca. Mesas de madeira, azulejos e objetos de decoração nos transportam para o aconchego da casa de nossos avós. “Quero que as pessoas se sintam em casa”, explica Juliana Primon, uma das sócias à frente do negócio e que com apenas 24 anos dá um show de empreendedorismo. É dela todo o conceito da Casarìa, desde preservar os azulejos e louças antigos até o clima acolhedor e familiar. De cabelo preso, roupa confortável, mostra que com ela não tem tempo ruim: “estou aqui de domingo a domingo, há mais de um ano”, conta. Hoje, a casa, que funciona das 7h às 23h, recebe diariamente cerca de mil pessoas. Um cardápio contemporâneo que enche os olhos: destaque para os sanduíches – experimente o croissant de salmão e o croque monsier. E não deixe de ir até o balcão “comer com os olhos” os doces em exposição, criações exclusivas do também sócio Diego Lozano, marido de Juliana. Seguimos a dica do preferido da Ju: crocante de coco e castanha do Pará, massa de coco, compota de maracujá e banana e mousse de coco. Valeu cada garfada. @casariasp
Brunch dos deuses Não importa a hora do dia. Se você passar pela porta de uma das três unidades do Botanikafé – nos Jardins, no Butantã e em Pinheiros –, vai encontrar uma fila. O ambiente impressiona pela pegada de botânica, como o próprio nome diz. Plantas por todos os lados, detalhes de uma arquitetura industrial e até um toque meio praiano. “Há conceitos de Venice, Byron Bay e Bali na arquitetura e comida”, explicam os sócios Manuela Albuquerque e Felipe Scarpa, que fundaram o local em 2018. “Tudo surgiu a partir da cultura do brunch, dele ser desfrutado diariamente, a qualquer hora”, explica Manuela. Aberto todos os dias, com o slong “brunch all day”, o carro-chefe da casa são os bowls com cremes de frutas (R$ 38) e os ovos beneditinos (R$ 30 a R$ 42), que podem vir com diversos recheios, inclusive pernil. Há ainda uma variedade de toasts e combinações de sucos super diferentes. Para além do brunch, a casa tem pratos asiáticos e pizzas no forno à lenha. Vale a visita – e chegue cedo. @botanikafe
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Tu r i s m o
Experiência e gastronomia compõem a entrega do grupo espanhol Palladium, que domina as águas do Caribe e Atlântico com seus resorts de luxo em ilhas turquesas
DESTINO: SER FELIZ E MAIS NADA Fotos: Divulgação
Por Fernanda Moura Enviada especial
Punta Cana – Desde a sua descoberta como paraíso tropical, na década de 70, o Caribe permeia o imaginário daqueles que contam dias para relaxar num balneário à altura do merecimento. Pois, neste mar de águas límpidas e maré mansa, situa-se um país chamado República Dominicana, cujos atributos têm o transformado num destino imperdível. Especialmente se a região for Punta Cana, adornada por 32 ilhas repletas de resorts luxuosos. 156
Um deles se destaca e se encaixa fielmente à atmosfera fleumática do local. O TRS Turquesa, resort de luxo que integra o grupo Palladium, de origem espanhola, que surgiu em Ibiza nos anos 60. Ao entrar no espaço do complexo, onde, além do TRS estão fixados outros três hotéis — Grand Palladium Punta Cana, Grand Palladium Palace e Grand Palladium Bavaro —, a sensação é de liberdade. Independência. Com a flora nativa intacta e com a presença de lojinhas, centro médico, cassino e diversos bares e restaurantes, é tal qual um vilarejo dominicano autossuficiente.
Além da experiência, outra relevância do resort que fica na praia Bávaro é a gastronomia, com quatro restaurantes a la carte de diversos estilos e sabores. Um deles, o Chic Cabaret, top trend da cidade, oferece degustação com oito pratos — harmonizados com vinhos e drinks, e embalado por um espetáculo musical no padrão Broadway. Vale dizer que o TRS não aceita menores de 18 anos. Entretanto, e claro, a grande atração é o litoral com seus incontáveis coqueiros na beira do mar de temperatura agradável, que convida a entrar sem hora para sair. Ainda mais pelo serviço na praia, um beach club que atende até pensamentos. Mas há de se fazer um esforço para deixar o resort e desvendar algumas ilhas. Uma delas, a Isla Saona, bastante famosa, foi cenário para Brooke Shields e Christopher Atkins e seus personagens no filme A Lagoa Azul. Sāo duas horas de viagem de catamarã a partir do Porto de Bayahibe.
O Grand Palladium
O gigante turquesa quer impressionar ao oferecer exclusividade e sofisticação. Para dias de romance, para curtir a família, para badalar ou até mesmo para refugiar-se do caos urbano, serviços personalizados são a ordem do dia para os hóspedes. E os quartos têm piscinas exclusivas com espreguiçadeiras. O Spa Zentropia também deixa seu encantamento, especialmente pelas saunas, tratamentos corporais e banhos medicinais. Sem contar as três piscinas – a central, a secreta e a do spa – como opção à praia.
Além do TRS Turquesa, o complexo abriga outros resorts que atuam no esquema all inclusive. O Grand Palladium é composto por três hotéis. Com localização central, 16 opções gastronômicas, quartos amplos, piscinas e brinquedotecas, é ideal para as famílias. Entre os visitantes recorrentes que partem da América Latina estão os brasileiros. Para aqueles que também desejam curtir um pouco fora dos hotéis, há experiência submarina, nado com golfinhos, ida ao Coco Bongo – espetáculo formado por 40 artistas – e a visita à ilhas. Sem contar as diversões que ocorrem na calada da noite. @trsturquesahotel @grandpalladiumpuntaca *A repórter viajou a convite do Palladium Group
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Ú l t i m o
Coleção Botanica - Tiffany & Co.
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