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Harmonizar transições entre pinturas em traços e estilo indefiníveis. Referenciais do impressionismo ou da pop art. Taigo Meireles é inspiração na estética contemporânea Por Morillo Carvalho Fotos JP Rodrigues
No início dos anos 2000, um jovem nascido em 1984 ficou conhecido em um cursinho pré-vestibular do Distrito Federal como “o garoto que estuda para fazer plásticas”. Havia certo ar de excentricidade aí, já que alunos de artes não costumam envaidecer donos de cursinhos, que querem aprovar estudantes em Medicina, Engenharia ou Direito. Mas aquele garoto não só entrou na Universidade de Brasília (UnB) para o curso de Artes Visuais como se agigantou enquanto artista e hoje sua obra é reconhecida no mercado e valorizada como pouco vemos acontecer. Aquele garoto virou o fenômeno Taigo Meireles.
O HOMEM PICTÓRICO Alguém que se chama Taigo, aliás, parece estar predestinado a ser artista. Era de se esperar ser nome inventado, artístico, mas este é seu nome de registro e batismo, e na manhã em que recebeu nossa equipe em seu ateliê, na zona rural que há no caminho entre Ceilândia e Brazlândia, com vista para a Floresta Nacional, foi inevitável a curiosidade sobre de onde teria surgido o nome e seus significados. O pai, militar, escolheu Taigo ao ler uma marca, em uma propaganda. Coincidentemente, em sua infância, sua tia se casou com um japonês que, ao conhecer o menino, informou aos seus pais que este é um nome comum no Japão. “Ele ficou intrigado com o fato de uma criança aqui, em Ceilândia, ter um nome japonês. Uns anos atrás, tentei colocar meu nome no Instagram, apenas @taigo, e já tinha: era um senhor japonês, também pintor”, conta, arrematando: “tem a ‘taiga’, que existe no dicionário, e é um tipo de floresta, de vegetação, que se parece com o Cerrado”. Pausamos para rir disso e contemplar o redor. O ateliê, de pé direito altíssimo, oferece a Taigo a vista de um bioma que se parece com a taiga. O espaço é fechado por imensos vidros, que trazem a paisagem para a vista do criador e 136
Taigo Meireles em seu ateliê: lugar de luz, de cor e de fé
a luz natural perfeita para trabalhar. E, embora há vinte anos ele já se destacasse como o artista prodígio que queria estudar na UnB, sua história com a arte começou antes. Bem antes. “Costumo brincar que não começou, sempre esteve. Um priminho veio aqui há alguns dias e estava com o caderninho que ele anda o tempo todo, para desenhar. Minha mãe disse que eu era assim também, já muito obcecado a tudo o que era arte ou remetia à história da arte, desenho e pintura”, conta.