A t i v i s m o
UM CASO SÉRIO COM BRASÍLIA Ela age, protesta, incrementa, implementa. Falou que é pela capital, ela comparece. Da chegada para lecionar em Taguatinga, em 1957, a filantropa e defensora do Lago Sul, Natanry Osório, aos 83, é ativista da vida
Por Morillo Carvalho Fotos JP Rodrigues
“Eu vou querer fazer lá onde eu moro, porque é um paraíso terrestre e tem as minhas lhamas, que comem na mão da gente”. Foi o que Natanry Osório disse ao começarmos esta conversa, e combinarmos o ensaio fotográfico para a entrevista. E é mesmo um paraíso, com mata nativa, vista livre para o Lago Paranoá e as bichinhas, tipicamente andinas, que chegaram à sua casa após uma conversa com o embaixador da Bolívia, em 2002, em que declarou seu apreço por elas. Ele enviou um casal para Natanry – e a fêmea estava prenha. Chegaram a 20, mas hoje são apenas quatro. “Eu sou apaixonada por lhamas desde jovem, veja como nos olham, quando correm é como se fossem bailarinas’”, diz. Mas, para além da dedicação aos animais exóticos, a pioneira Natanry é dona de uma história que merece ser contada. Até porque, ao entrelaçarmos essa história com a de Brasília, tal qual pontos de croché que sua tia Iracema a ensinava na juventude, percebemos que demos um nó indissociável. “Eu sou goiana. Quando foi decidida a transferência da capital, ou seja, a desapropriação, meu parente, José Ludovico de Almeida, era o governador do estado de Goiás. Um dia, a tia Iracema (Caldas, esposa do governador) me chamou para ir ao palácio, comer pão de queijo e fazer croché. Eu tinha 17 anos, era 1955, era normalista e sempre fui uma mulher de fé e ligada ao social. Passei no corredor e ouvi o tio conversando com Germano Roriz e Dercílio de Campos Meireles (tio de Henrique Meireles), e escuto ele dizendo que tinham que descobrir quem faria a tradução do sonho de Dom 62
Bosco e onde seria construída Brasília. Na mesma hora, falei com meu anjo da guarda, com quem converso todos os dias: é para lá que eu quero ir. Eu quero ajudar a construir essa nova capital, alfabetizando!”, revela.
Mistérios da fé e o primeiro milagre A história que aconteceu ficou esquecida na memória de Natí, como é carinhosamente chamada. Até que em 1958, numa matinê dançante com amigas, conheceu um jovem com ar de francês, formado em Direito e Filosofia na Universidade de Sorbonne, em Paris. Ele a chamou para dançar e, no meio do salão, soltou: “quero pedi-la em casamento”.