ALL EM REVISTA, Vol. 8, No. 4 - OUTUBRO A DEZEMBRO 2021

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EM REVISTA EDITOR: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - Prefixo Editorial 917536

NÚMERO 8, VOLUME 4 – OUTUBRO A DEZEMBRO 2021 SÃO LUÍS DO MARANHÃO


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE

ALL EM REVISTA Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com

ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Praça Gonçalves Dias, Centro – Palácio Cristo Rei 65020-060 – São Luis – Maranhão ALL EM REVISTA Revista eletrônica da Academia Ludovicense de Letras Gestão 2020/2021 COMISSÃO EDITORIAL


DIRETORIA 2020/2021 PRESIDENCIA

PRESIDENTE HONORÁRIO: PREFEITO DE SÃO LUÍS

2021/2024

DIRETORIA SECRETARIA

TESOURARIA

CONSELHO FISCAL

DIRETORIA EXECUTIVA


DIRETORIA ELEITA GESTÃO 2022/2023 PRESIDENCIA

SECRETARIA

TESOURARIA

CONSELHO FISCAL

CONSELHO EDITORIAL


EDITORIAL

“ALL EM REVISTA” é a revista oficiosa da ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS, publicada em formato eletrônico, disponibilizada através da plataforma ISSUU – https://issuu.com/home/publisher. Este é o quarto número da ALL EM REVISTA publicado na atual administração, de Daniel Blume – 2020/2021 -; após a paralização ao término da administração do Antonio Noberto, e a pedido da Presidencia, voltamos a editar a Revista. Assim, para recuperar a temporalidade e a numeração, foi publicado um volume correspondente ao ano de 2020: 7.1,2,3,4 com a palestra de abertura da Semana Ludovicense de Literatura; o volume correspondente ao primeiuro semestre de 2021, o 8.1.2 com o material de divulgação/participação do Aniversário da ALL, o 8º ; e a seguir, voltando à ‘normalidade’, o número 8.3 correspondente ao terceiro trimestre de 2021. Agora, temos o ultimo trimestre: 8.4, outubro/dezembro 2021. Como puderam notar, houve mudanças na capa: agora trazemos o escudo da ALL, com o títuloo ‘em revista’. Optamos por colocar ‘a cara’ dos colaboradores em seguida, como se se tratasse de um sumário do que vem pela frente e, claro, ao período a que se refere: continuamos com a trimestralidade, e a numeração por volume: corresponde ao ano de publicação, neste caso, o oitavo ano da revista, e o número do trimestre: o quarto. No expediente, o de praxe: o responsável pela edição, com seu prefixo de editor junto ao IBICT, o endereço, e a comissão editorial e o alerta de responsabilidade pelos textos: cada um se responsabiliza pelo que enviou, inclusive a correção gramatical, e o alerta de que o envio é voluntário, e não se paga pelos mesmos. Ainda dentro do expediente, a Diretoria responsável pela gestão; lembrando que o mandato é de dois anos, podendo haver reeleição. Também optamos por constar o Presidente Honorário, o sr. Prefieto de São Luis, com a duração de seu mandato. O atual, de quatro anos, podendo ser reeleito, caso concorra à reeleição, poderá permanecer até oito anos na presidência honorária, como aconteceu com seu antecessor. As contribuições de cada membro efetivo aparecerá com a sua identificação: Cadeira, Patrono, e se se trata de sócio fundador ou primeiro ocupante, ou ocupante eleito; se dará em ordem crescente, da primeira para a ultima, das 40 cadeiras; diferente da antiga diagramação, em que as contribuições apareciam em ordem cronológica de envio. Agora, estão todas embaixo da identificação, na medida em que forem chegando. Abrimos espaço para os sócios correspondentes e os honorários. Já os temos, os honorários... e para outros colaboradores, geralmente suas contribuições são indicação/pedido de um membro efetivo, ou artigo de interesse para a literatura maranhense, em especial a ludovicense. Apresentamos o sumário, e a Palavra do Presidente, com espaço reservado, quando manifestar o queira... Quadro de sócios, com seus respectivos Patronos; infelizmente, não os temos todos com as vestes cerimoniais... creio que logo os teremos... Para o próximo ano, já temos a diretoria eleita, e o novo Conselho Editorial: aguardamos a manifestação se se dará continuidade à publicação da ALL EM REVISTA, na atual forma, sob a responsabilidade do Editor atual... Aguardar para ver... Houve mudança no quadro associativo, com o ingresso de Alexandre Maia Lago, que ocupará a Cadeira 4, patroneada por Sotero dos Reis, e fundada por Antonio Brandão – que preferiu passar para o quadro de Honorários... Realizou-se a Festa de Confraternização, último evento do ano, entrando a ALL em recesso até a próxima diretoria assumir, em 1º de janeiro próximo, quando se inicia um novo cilco/gestão... Encerramos, pos, por aqui a presente edição... jingobel

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR


SUMÁRIO 2 5 6 13 18

EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO RELAÇÃO DE PATRONOS E OCUPANTES DAS CADEIRAS PATRONOS HOMENAGEADOS

COM A PALAVRA, O PRESIDENTE: ACONTECEU: ARTIGOS, CONTOS, CRÔNICAS, POESIAS... AGO NOVEMBRO ENTREGA DE MEDALHA AGE ELEIÇÕES ADVOGADO E ESCRITOR ALEXANDRE LAGO É ELEITO MEMBRO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS DIEGO EMIR FELIS CADEIRA 1 – ANTONIO NOBERTO LÍNGUA PORTUGUESA? CADEIRA 7 – WILSON PIRES FERRO / CLEONES CUNHA CADEIRA 8 – DILERCY ARAGÃO ADLER FLORES VERMELHAS CERIMÔNIA DE OUTORGA: MEDALHA DO MÉRITO “LAURA ROSA” - SAUDAÇÃO POEMA IN(ACABADO) CASA VAZIA FIM DE TARDE CADEIRA 14 – OSMAR GOMES DOS SANTOS IMPRENSA DE LUTO PANE NO SISTEMA NA RESERVA QUEBRANDO O PRECONCEITO A VIDA É EFÊMERA, O AMOR, JAMAIS CAJARI, ALEGRA-TE.

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CADEIRA 15 – DANIEL BLUME DE ALMEIDA DISCURSO DE POSSE DO ACADÊMICO DANIEL BLUME NA CADEIRA N. 15 DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS, EM 02.12.2021

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DISCURSO DE RECEPÇÃO DO ACADÊMICO DANIEL BLUME POR SONIA ALMEIDA

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CADEIRA 16 – AYMORÉ DE CASTRO ALVIM O TEATRO NO AMBIENTE CULTURAL DE PINHEIRO PINHEIRO E O SEU CENTRO CULTURAL PAVOR E SANGUE NA NOITE EM TERESÓPOLIS ROMPENDO O SILÊNCIO!!!- JEAN -PIERRE ALVIM FERREIRA FLOR DE VERÃO. O SINAL DE BLUMBERG AS MEMÓRIAS DE UM VISIONÁRIO. Ah! QUANTAS LEMBRANÇAS. CADEIRA 18 – ARTUR ALMADA FILHO – IN NMEMORIAN : +27/10/2021 PARA CONHECER UM POUCO MAIS ARTHUR ALMADA LIMA FILHO - EDMILSON SANCHES CADEIRA 21 – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ O CURITIBANO FREDERICK CHARLES TATE OU O TENENTE RUI E OS POLONESES - RICARDO BÜRGEL PUBLICAÇÕES RECENTES – LIVROS ONLINE GUAXENDUBA: uma 'BATALHA' ou SIMPLES ESCARAMUÇA? MARANHÃO NO PREMIO JABUTI

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PRIMEIROS REGISTROS DA POESIA NA IMPRENSA DO MARANHÃO – DÉCADA DE 1820 CADEIRA 22 – ANTONIO AÍLTON CADEIRA 26 – JOÃOZINHO RIBEIRO CADEIRA 27 – JOÉ RIBAMAR FERNANDES CADEIRA 31 – ANA LUIZA ALMEIDA FERRO CADEIRA 34 – CERES COSTA FERNANDES AS CEM MIL VAQUINHAS CARLOS DE LIMA, UM HOMEM INVULGAR CONVOCAÇAO PARA O ALÉM A INIMIGA FIEL CADEIRA 37 – JADIR LESSA CADEIRA 38 – JOSÉ NERES CADEIRA 40 – ROBERTO FRANKLIN

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AMOR DO POETA AVÔ PROFISSIONAL O ARREPENDIMENTO O PRIMEIRO BANHO DE PISCINA DE LUCAS CARTA A MEU IRMÃO A CASA

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HONORÁRIOS / CORRESPONDENTES / COLABORADORES

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ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO: FUNDADOR/HONORÁRIO MHARIO LINCOLN: CORRESPONDENTE ROGÉRIO ROCHA FILÓSOFO ROGÉRIO ROCHA/ JORNALISTA MHARIO LINCOLN/ FILÓSOFO ROGÉRIO ROCHA COLETÂNEA “ENTORNOS POLÍTICOS, AFETIVOS E OUTRAS CERCANIAS LITERÁRIAS” MHARIO LINCOLN A LINGUAGEM PÓS-MODERNA DE CARVALHO JUNIOR PAULO RODRIGUES PEQUENA CARTILHA DA TROVA ARLINDO TADEU HAGEN LEMBRANÇAS QUE JÁ VÃO LONGE... FERNANDO BRAGA BRADO DE ALERTA GRACILENE PINTO - Grace Do Maranhão A POESIA ENTRE A REALIDADE E O REAL JOÃO BATISTA DO LAGO CANTO DE AMOR E PRECE FERNANDO BRAGA MORRE CUNHA SANTOS, O POETA GENIAL DO MARANHÃO MANOEL SANTOS NETO O ANVERSO VISÍVEL NO AVESSO ABSTRATO E POÉTICO DE RAFAEL OLIVEIRA FERNANDO BRAGA O NEGRO OLHAR SOBRE A SOCIEDADE MARANHENSE RAFAELA PEREIRA “A CANÇÃO DO BRASIL” EDMILSON SANCHES O ACUADO DE VAL DE GATOS FERNANDO BAGA O ANTROPONAUTA VIRIATO GASPAR RAIMUNDO FONTENELE O SENSO ESTÉTICO DE OSWALDINO MARQUES FERNANDO BRAGA DEZ POETAS O SIMBOLISMO E O POETA MARANHÃO SOBRINHO FERNANDO BRAGA THOMÉ THEMISTOCLES MADEIRA JÚNIOR UMA FAMÍLIA DEDICADA A EDUCAÇÃO PÚBLICA

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ANGELA CHALOUB VESPASIANO RAMOS: ‘COISA ALGUMA & MAIS ALGUMA COISA FERNANDO BRAGA LANÇAMENTOS

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https://blog.portalt5.com.br/clapeclapeclape/2021/12/01/paraibanafara-filme-sobre-bicentenario-de-primeira-escritora-negra-dobrasil/






PATRONOS E OCUPANTES DAS CADEIRAS 01 - CLAUDE D’ABBVEVILLE ANTÔNIO JOSÉ NOBERTO DA SILVA - (Fundador)

02 - ANTONIO VIEIRA JOÃO BATISTA ERICEIRA - (Fundador

03 - MANOEL ODORICO MENDES SANATIEL DE JESUS PEREIRA - (Fundador)

04 - FRANCISCO SOTERO DOS REIS ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO FUNDADOR/ HONORÁRIO

ELEITO

05 - JOÃO FRANCISCO LISBOA RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO. (Fundador

06 - CÂNDIDO MENDES DE ALMEIDA ROQUE PIRES MACATRÃO - (Fundador)

07 - ANTÔNIO GONÇALVES DIAS WILSON PIRES FERRO (Fundador/ FUNDADOR

08 - - MARIA FIRMINA DOS REIS DILERCY ARAGÃO ADLER (Fundadora)

CLEONES CARVALHO CUNHA 2º Ocupante .


09 - ANTÔNIO HENRIQUES LEAL IRANDI MARQUES LEITE - 1º. Ocupante

10 - JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE (SOUSÂNDRADE) MARIO DA SILVA LUNA DOS SANTOS FILHO 1º. Ocupante

11 - CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHÃES ANDRÉ GONZALEZ CRUZ - (Fundador)

12 - JOSÉ RIBEIRO DO AMARAL MICHEL HERBERT ALVES FLORÊNCIO (Fundador)

13 - ARTUR NABANTINO GONÇALVES DE AZEVEDO MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES 1º. Ocupante

14 - ALUÍSIO TANCREDO GONÇALVES DE AZEVEDO OSMAR GOMES DOS SANTOS - (Fundador)

15 - RAIMUNDO DA MOTA DE AZEVEDO CORREIA DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIDA 1º. Ocupante

16 - ANTÔNIO BATISTA BARBOSA DE GODOIS AYMORÉ DE CASTRO ALVIM - (Fundador)

17 - CATULO DA PAIXÃO CEARENSE RAIMUNDO GOMES MEIRELES - (Fundador)

18 - HENRIQUE MAXIMIANO COELHO NETO ARTHUR ALMADA LIMA FILHO - (Fundador)


19 - JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA JOÃO FRANCISCO BATALHA - (Fundador)

20 - JOSÉ PEREIRA DA GRAÇA ARANHA ARQUIMEDES VIEGAS VALE - (Fundador)

21 - MANUEL FRAN PAXCO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - (Fundador)

22. - JOSÉ AMÉRICO OLÍMPIO CAVALCANTE DOS ALBUQUERQUE MARANHÃO SOBRINHO ANTÔNIO AILTON SANTOS SILVA - 1º. Ocupante

23 - DOMINGOS QUADROS BARBOSA ÁLVARES ÁLVARO URUBATAN MELO - (Fundador)

24 - MANUEL VIRIATO CORRÊA DO LAGO FILHO FELIPE COSTA CAMARÃO - 1º. Ocupante

25 - LAURA ROSA MIRIAM LEOCÁDIA PINHEIRO ANGELIM - 1ª. Ocupante

26 - RAIMUNDO CORRÊA DE ARAÚJO JOÃO BATISTA RIBEIRO FILHO - 1º. Ocupante

27 - HUMBERTO DE CAMPOS VERAS JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES - (Fundador)

28 - ASTOLFO DE BARROS SERRA BRUNO TOMÉ FONSECA - 1º. Ocupante


29 - MARIA DE LOURDES ARGOLLO MELLO (DILÚ MELLO) AMÉRICO AZEVEDO NETO - 1º. Ocupante

30 - ODYLO COSTA, FILHO CLORES HOLANDA SILVA - (Fundadora)

31 - MÁRIO MARTINS MEIRELES ANA LUIZA ALMEIDA FERRO - (Fundadora

32 - JOSUÉ DE SOUZA MONTELLO ALDY MELLO DE ARAÚJO - (Fundador

33 - CARLOS ORLANDO RODRIGUES DE LIMA PAULO ROBERTO MELO SOUSA - (Fundador)

34 - LUCY DE JESUS TEIXEIRA CERES COSTA FERNANDES - 1ª. Ocupante

35 - DOMINGOS VIEIRA FILHO JUCEY SANTOS DE SANTANA - 1ª. Ocupante

36 - JOÃO MIGUEL MOHANA RAIMUNDO DA COSTA VIANA - (Fundador)

37- - MARIA DA CONCEIÇÃO NEVES ABOUD JADIR MACHADO LESSA 1ª. Ocupante

38 - DAGMAR DESTÊRRO E SILVA JOSÉ NERES - 1ª. Ocupante


39 - JOSÉ TRIBUIZI PINHEIRO GOMES JOSÉ CLÁUDIO PAVÃO SANTANA - (Fundador

40 – JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS ROBERTO FRANKLIN - 1ª. Ocupante

SÓCIO BENEMÉRITO FLÁVIO DINO GOVERNADOR DO MARANHÃO 2015-2022


PATRONOS HOMENAGEADOS 2014 - MARIA FIRMINA DOS REIS

2015 – MÁRIO MARTINS MEIRELES

2016 – COELHO NETO

2017 – JOSUÉ MONTELLO

2018 – GRAÇA ARANHA

2019 – MARANHÃO SOBRINHO

2020/2021 – CARLOS DE LIMA


Aconteceu... ARTIGOS, CONTOS, CRÔNICAS, POESIAS, Lançamentos ...


AGO 01/11/2021


CERIMONIA DE ENTREGA DA MEDALHA ‘MARIA FIRMINA DOS REIS’ E TITULO DE SÓCIO BENEMÉRITO AO SR. GOVERNADOR DO ESTADO







AGE 30/11/2021 ELEIÇÃO DIRETORIA BIENIO 2022-2023 ELEIÇÃO DE NOVO MEMBRO EFETIVO


Chapa BICENTENÁRIO MARIA FIRMINA DIRETORIA EXECUTIVA PRESIDENTE – JUCEY SANTOS DE SANTANA VICE-PRESIDENTE - ROBERTO FRANKLIN FALCÃO COSTA SECRETÁRIO GERAL – JOÃO FRANCISCO BATALHA PRIMEIRO SECRETÁRIO – CERES COSTA FERNANDES SEGUNDO SECRETÁRIO – ÁLVARO URUBATAN MELO PRIMEIRO TESOUREIRO – IRANDI MARQUES LEITE SEGUNDO TESOUREIRO – CLORES HOLANDA SILVA CONSELHO EDITORIAL DILERCY ARAGÃO ADLER, ANDRÉ GONZALEZ CRUZ, JADIR MACHADO LESSA CONSELHO FISCAL EFETIVOS: DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIDA SANATIEL DE JESUS PEREIRA ANTÔNIO JOSÉ NOBERTO DA SILVA SUPLENTES: BRUNO TOMÉ FONSECA JOSÉ DE RIBAMAR NERES ROQUE PIRES MACATRAO


DIRETORIA EXECUTIVA

SECRETARIA

TESOURARIA

CONSELHO FISCAL

CONSELHO EDITORIAL


ELEIÇÃO CADEIRA 04 - FRANCISCO SOTERO DOS REIS

- FUNDADOR/ HONORÁRIO ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO

ELEITO: ALEXANDRE MAIA LAGO

CONCORRENTES


ADVOGADO E ESCRITOR ALEXANDRE LAGO É ELEITO MEMBRO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS 1 de dezembro de 2021 : 11:06 Advogado e escritor Alexandre Lago é eleito membro da Academia Ludovicense de Letras | Diego Emir

A Academia Ludovicense de Letras tem o seu novo integrante. Trata-se do advogado e escritor Alexandre Maia Lago, que foi eleito na última terça-feira (30), o novo titular da cadeira número 4, que tem como patrono Sotero dos Reis. Na ocasião, ele obteve 25 votos. Os demais candidatos foram: a professora e escritora Wanda Cunha, que obteve 5 votos; o escritor José Carlos Sanches, 1 voto; e o professor e advogado Agenor Almeida, que não obteve votos. A votação ainda ainda contabilizou um voto em branco e cinco abstenções. A Academia Ludovicense de Letras, nos últimos anos, tem exercido um marcante papel na vida cultural da capital. As disputas por uma vaga na Casa têm sido muito acirradas. A vitória expressiva nesse último pleito foi uma surpreendente exceção. Sobre o resultado, Alexandre disse: “Recebo a escolha do meu nome para integrar esse destacado sodalício com humildade. E também como uma mensagem gratificante daqueles que, de alguma forma, têm apreço por mim, pelo meu trabalho. E tenho que estar sempre à altura dessa confiança”.


CADEIRA 01 CLAUDE D’ABBVEVILLE

ANTÔNIO JOSÉ NOBERTO DA SILVA FUNDADOR


No Brasil, se fala o Português e ou Brasileiro? Polêmica questão levantada por Antonio Noberto // Texto cedido pelo próprio autor e publicado no facetubes sob sua autorização. // 19/11/2021 às 13h43Atualizada em 19/11/2021 às 18h37 // Por: Mhario LincolnFonte: Antonio Noberto

Variedade de expressões. Montagem ML

LÍNGUA PORTUGUESA? CONVIDADOS: Antonio Noberto* Um amigo europeu que sempre passa férias no Brasil, não faz muitos meses, trouxe-nos uma questão que não é nova. Queria saber o porquê do nosso idioma ainda se chamar português. Ele resumiu que, para os europeus mais inteirados da cultura brasileira, em razão da maiúscula participação de termos indígenas, africanos e estrangeiros na língua brasileira, é incompreensível o país ainda manter algo que não interessa à cultura, a política e, muito menos, à economia nacional. Finalizou dizendo que nossa língua é O BRASILEIRO, e não o português. “É uma questão de justiça e independência”, arrematou. As palavras do nosso amigo, entre outras coisas, nos fizeram refletir também sobre a recente adequação ou revisão ortográfica da língua portuguesa. Em Portugal a resistência à alteração na gramática é assaz acentuada. Tem gente chiando barbaridade, como uma portuguesa que, em um site, sobre a reforma, postou o seguinte: “Mais uma vez Portugal rebaixa-se, porque razão é que temos que ser nós a mudar e não os brasileiros, eles é que não tiveram inteligência suficiente para aprender a língua correctamente, e agora por causa disso somos nós que temos que aprender nossa língua novamente? Como é que vamos pôr nas cabecinhas das nossas crianças que a maneira como aprenderam a escrever agora já não é a correcta. Quanto a mim vou continuar a escrever como sempre escrevi, sou portuguesa não sou brasileira”. Ela chega a nos chamar de 'burros brasileiros'. Mas, como toda moeda tem dois lados, perguntamos: será que ela não tem lá suas razões? O seu sagrado direito de, no mínimo, espernear? Portugal errou quando fez sua primeira grande reforma há um século e – como era de se esperar – não consultou o Brasil, aumentando, com isto, a


distância lingüística entre o dois países. O certo é que o Brasil tem quase duzentos milhões de habitantes e Portugal apenas dez. Ou este se adéqua a mudança ou “não sabemos” o que lhe poderá acontecer. A adequação é questão de sobrevivência para o país do Velho Mundo, que, mesmo com a irrelevante e frágil economia, nunca perdeu o hábito de querer ser colonizador. Mas não percamos o foco… Até meados do século XVIII vigorava no Brasil o escambo, vez que, pela escassez de cédulas e de moedas de metal, a moeda corrente era o pano ou rolo de algodão. O famoso escritor Laurentino Gomes, repetindo as palavras de um viajante francês, disse: “Antes da chegada da Corte ao Rio de Janeiro, o Brasil era um amontoado de regiões com pouco contato, isoladas umas das outras, sem comércio ou qualquer outra forma de relacionamento”. E a língua mais falada até aquela época era o tupiguarani. Isso mesmo, a língua indígena foi a língua mais falada no Brasil até a metade daquele século. Nessa época a população branca era consideravelmente pequena. Em 1600, por exemplo, era de apenas 30.000 e em 1766 a população livre girava em torno de 800.000 (Cronologia de história do Brasil Colonial – 1500 – 1831 / Andrea Slemian… et al. São Paulo; FFLCH-USP. 1994). Em 1756 o Marquês de Pombal proibiu a utilização de qualquer outra língua, inclusive a língua geral, de base tupi. O historiador e escritor Antonio Noberto, da Academia Ludovicense de Letras: ''Ela chega a nos chamar de 'burros brasileiros'. Mas, como toda moeda tem dois lados, perguntamos: será que ela não tem lá suas razões? O seu sagrado direito de, no mínimo, espernear?’’. Os africanos foram escravizados e os indígenas dizimados, o mesmo, felizmente, não conseguiram fazer totalmente com a língua destes povos que, incorporada ao idioma oficial do país, atravessou séculos e permanece viva através dos milhares de termos que usamos no dia a dia.

HistoriadorAntonio Noberto. O legado da cultura negra é bastante presente no Brasil, percebemos isto na religião, na comida, música, no modo de ver a vida, nos mitos e lendas, e também na própria língua. Para cá vieram negros de quase toda a África, sendo o destaque por conta de dois grandes grupos: o guineano-sudanês e o banto – que habitava o litoral africano. Provenientes em sua maioria do Benin, Angola, Nigéria e Congo, falavam diversas línguas e dialetos como o quimbundo, quicongo e o umbundo, dos quais herdamos inúmeros termos, sendo: vatapá, quitute, farofa, acarajé, canjica, mandinga, oxalá, iemanjá, ogum, senzala, Bangu, quilombo, miçanga, tanga, samba, berimbau, maxixe, maribondo, camundongo, mangangá, mutamba, dendê, quiabo, moleque, bagunça, cachimbo, coringa, dengo, quitanda, fubá, bunda, calombo, banguela, e incontáveis outros. Algumas se misturaram com o português: pé-de-moleque, angu-de-caroço, mini-tanga, molecagem, etc. Um maiúsculo legado para nossa língua que não cabe em um simples texto, mas em um volumoso dicionário. Do tupi-guarani são milhares as palavras herdadas dos primeiros habitantes do Brasil. “Do Oiapoque ao Chuí!” a língua inicial tira de letra. São nomes de lugares – a maioria dos nomes dos estados brasileiros são de origem indígena –, acidentes geográficos, nomes de pessoas, etc. A culinária brasileira típica é profundamente indígena. Mas a gente pode começar por uma palavra que pipocou na rede mundial, ao menos aos usuários do Facebook: cutucar – tocar alguém com algo em forma de ponta. Não menos lembradas: cuia, embiocar, espocar, canoa, igapó, abacaxi, capenga, aipim, jacá, araçá, Aracaju, taquara,


beiju, bocó, boitatá, buriti, bruaca, iara, Ipanema, Itaipava, Itamaracá, Itapemirim, tororó, jiqui, jirimum, jururu, piracema, pirão, pitada, pixaim, Piauí, Ceará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Pará, Goiás, Acre, perereca, peteca, pipoca, pindorama, mandioca, maniçoba, maruim, mingau, mirim, moqueca, mussum, mutirão, mutuca, paçoca, socar, pamonha… E tantas e tantas outras. Os termos indígenas e africanos não raro sofreram um doloroso processo de depreciação, como parte de uma política de dominação do vencedor luso. Vemos isto, por exemplo, em mulher (cunhã), menino (curumim), interiorano (caipira), garoto (guri), morada (tapera), piolho / sovina (muquirana), vadia (piranha), pobre (pindaíba), bruxaria / ritual (pajelança), lerdo / tonto (pamonha), pereba, etc. A influência estrangeira na nossa língua e cultura também é muito presente. Temos então, a título de exemplo. Do francês: abajur, ateliê, baguete, baton, bege, bistrô, bijuteria, boate, carrossel, capô, cassetete, etc. Catalã: beldade, baixela, capacete, convite, disfarçar, esmalte, faixa, nau, moscatel, etc. Do inglês: bife, blecaute, blefe, club, coquetel, craque, dólar, drinque, futebol, gol, etc., quase todos os termos utilizados na informática. E tantas outras participações alógenas.

Portugal x Brasil. A mudança da nomenclatura da língua – de português para O BRASILEIRO – será um enorme ganho, principalmente através da atividade turística, uma ótima oportunidade de divulgação da cultura nacional genuína, uma forma de emergir a cultura local gerando riquezas e empregos aos nacionais, pois o estrangeiro ainda tem muita curiosidade com relação à cultura brasileira. Outro ganho imensurável é que as incursões governamentais que tentam diminuir a desigualdade entre ricos e pobres ganhariam reforço, vez que o resgate de tão valoroso legado afro-indígena traria para a pauta as duas culturas secularmente marginalizadas pelo privilégio branco. Para um país que vem galgando enormes passos e vencendo degraus na economia é importante atentar também ao campo cultural sob pena deste não acompanhar a contento o avanço do nosso mercado e não fincarmos marcos mais profundos, quando todos sabem que o poder não prescinde de uma forte produção cultural (existe exemplo mais flagrante do que a produção Hollyhoodiana?). Os galhos do poder constituído são uma tentação, é verdade, mas não devemos ter receio das ideias alternativas, pois, neste caso, a justa adoção d'O BRASILEIRO, ainda que não nos leve ao Jardim do Éden, aumentará a estima dos brasileiros e poderá ser um vetor a mais na atração de fluxos estrangeiros a este paraíso para conhecerem esta terra ainda tida por muitos como sem males. Sonho do imaginário estrangeiro que perdura, sem, no entanto, ser devidamente explorado através da nossa atividade turística. Viva o idioma BRASILEIRO! ------------------------Antonio Noberto é historiador, acadêmico, ensaísta, inspetor PRF, turismólogo, escritor e sócio-efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Ex-presidente da ALL-Academia Ludovicense de Letras.


CADEIRA 07 ANTÔNIO GONÇALVES DIAS

WILSON PIRES FERRO FUNDADOR

CLEONES CARVALHO CUNHA 2º Ocupante



CADEIRA 8 MARIA FIRMINA DOS REIS

DILERCY ARAGÃO ADLER FUNDADORA


FLORES VERMELHAS

Precisamos de Flores Vermelhas! as azuis e as amarelas são lindas... são belas!... mas precisamos de Flores Vermelhas! as cor-de-rosa são bem femininas mas precisamos de Flores Vermelhas... para alegrar o dia a noite a vida e a própria alegria!... precisamos de Flores Vermelhas! para enganar a dor que vem da morte da separação da perda... ... do incisivo corte! só as Flores Vermelhas com o seu vermelho-sangue vermelho de coração vermelho de força vermelho de retidão de indignação vermelho que esconde o limo que devolve a vida que energiza a emoção podem germinar vida! preciso de Flores Vermelhas! precisas de Flores Vermelhas! precisamos de Flores Vermelhas!... precisamos tê-las sentir seu cheiro sua maciez sentir o seu espinho e só depois então se pode morrer de uma única vez!!!!




CERIMÔNIA DE OUTORGA MEDALHA DO MÉRITO “LAURA ROSA” SAUDAÇÃO

ESQUELETO DA FOLHA Laura Rosa, a Violeta do Campo. Laura Rosa, a Violeta do Campo Vede, senhor, apodreceu na lama Eu a vi há muito tempo entre a folhagem Antes do vento lhe agitar a rama E do regato, sacudi-la à margem. De virente e de verde tinha fama Da folha mais famosa da ramagem Desceu nas águas e resta da viagem O labirinto capilar da tinta. Ninguém pode fazer igual verdade Nem filigrama mais perfeito e lindo Nem presente melhor pode ser dado. Guardai, Senhor, guardai este esqueleto Todo cuidado! É uma folha ainda Onde escrevo de leve este soneto. (Professora, Poeta, Contista e Conferencista Maranhense). É alentador, em tempos sombrios permeados por pandemia e discursos de ódio, ver mulheres homenageando mulheres com uma comenda instituída para homenagear uma ilustre mulher professora poeta.... a Violeta do Campo, Laura Rosa. Sinto-me honrada com a deferência de agradecer essa grande honraria, em meu próprio nome e em nome de mais quatro notáveis maranhenses, mas ao mesmo tempo tenho a clareza do peso da responsabilidade que é falar também em nome da Prof.ª Drª. Adelaide Coutinho, Prof.ª Esp.ª Denise Albuquerque, Sr.ª Enide Jorge Dino e Prof.ª Hortência Gago Araújo. Assim, agradecemos a indicação dos nossos nomes para a outorga desta Comenda, ao Comitê de Organização e à Coordenação Geral deste evento, na pessoa da Prof.ª Drª. Diomar das Graças Motta. Entendemos o significado deste VIII Encontro Maranhense sobre Educação, Mulheres e Relações de Gênero no Cotidiano Escolar – EMEMCE e, VIII Simpósio Maranhense de Pesquisadoras (es) sobre Mulher, Relações de Gênero e Educação- SIMPERGEN, como também o nome cunhado na “Medalha do Mérito Professora Laura Rosa”, o que de fato simboliza justa homenagem à ilustre professora, poeta, contista, ativista cultural e defensora de causas populares. Apesar de ainda vivermos tempos difíceis, no que diz respeito à igualdade e à fraternidade em toda e qualquer relação das várias instâncias e grupos sociais, não podemos deixar de registrar avanços que vêm se construindo, retratados em movimentos mais lentos inicialmente, mas que se fortalecem a cada dia, tornando-se mais palpáveis, por meio de iniciativas que objetivam enfatizar a mulher como protagonista da sua história. Louvo as iniciativas de regaste e salvaguarda dos nomes ilustres da nossa terra, assim como de todo o Brasil, em especial, os das muitas mulheres silenciadas ao longo da história.


Quero declarar o meu orgulho em constatar que o Maranhão está antenado com essa missão, principalmente por termos importantes inciativas no interior da nossa Universidade Federal e ainda em seu Programa de Pós-Graduação em Educação da UFMA. Observamos, nas últimas décadas do século XX, iniciativas que se dedicam à desconstrução do silenciamento secular da mulher, e o Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Educação, Mulheres e Relações de Gênero (GEMGe) foi criado no início deste século, mais precisamente, em 15 de fevereiro de 2002, pela Prof.ª Dr.ª Diomar das Graças Motta. O GEMGe estabeleceu relação com a Linha de Pesquisa “Instituições Escolares, Saberes e Práticas Educativas do Programa de Pós-Graduação em Educação (Mestrado) da Universidade Federal do Maranhão e, também, articulação com o Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas sobre Mulher, Cidadania e Relações de Gênero (NIEPEM), afiliado à Rede Feminista Norte e Nordeste de Estudos e Pesquisas sobre Mulher e Relações de Gênero (REDOR). A relevância da “Mulher Professora” tem seu pioneirismo na UFMA, com a obra “As mulheres professoras na política educacional no Maranhão”, Tese de Doutorado da Profa. Diomar Motta, que analisou a trajetória educacional das professoras: Laura Rosa (1894-1976), Rosa Castro (1891-1976), Zoé Cerveira (1894-1957) e Zuleide Fernandes Bogéa (1897-1984), egressas da Escola Normal do Maranhão, criada em 1890 (MOTTA, 2003; 2008). O destaque da memória dessas Mulheres Professoras e de outras possibilita o acesso a uma prática docente que leva em conta o contexto social que passa pela cultura, política, ecologia, que se imbricam aos conteúdos curriculares, numa experiência rica e totalizante. A outorga da Medalha do Mérito “Professora Laura Rosa” em reconhecimento às mulheres professoras por suas atuações no magistério e na constituição da história das mulheres, sobretudo na política educacional maranhense, vem ocorrendo desde 2008, ano de realização do II EMEMCE. As homenageadas foram as professoras: Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, Joseth Coutinho de Martins Freitas, Ceres Costa Fernandes, Lia Varela e Iramari Queiroz. A segunda condecoração data de 2013, por ocasião do IV EMEMCE, e foram homenageadas as professoras Maria Angélica dos Reis Cordeiro, Diana Brito Diniz, Kilza Fernanda Moreira de Viveiros, Tatiane Maria Portela e Kátia Regina Pinto. A terceira Cerimônia deu-se por ocasião do V EMEMCE, tendo sido homenageadas as professoras: Conceição de Maria Ribeiro Quadros, Eulina Gomes Duarte Ferreira, Eunice Cutrim Lauande, Francisca da Silva Gomes e Silvandira Soares de Almeida. Na quarta condecoração, foi instituída a Outorga da Comenda “Mulheres Griôs” para as edições realizadas no Continente. Em Grajaú foram homenageadas as mulheres professoras: Ana de Sousa Carvalho; Carmelita Lopes Guajajara; Maria Eugênia Guajajara; Maria do Socorro da Silva Oliveira e Rita de Cassia Lima Sarmento. Faz-se mister falar um pouco da grandiosidade da Mulher Professora, Poeta, Contista, Laura Rosa, nossa Violeta do Campo. Laura Rosa, “Uma rosa que era violeta”, segundo Jomar Moraes, nasceu em 1º de outubro de 1884 em São Luís do Maranhão e faleceu aos 92 anos, em 14 de novembro de 1976 em Caxias- Maranhão. Neste ano de 2021, Laura Rosa completa 137 anos de nascimento e 45 anos de falecimento. Filha de Cecília da Conceição Rosa e de pai não declarado, Laura foi criada por padrinhos, que lhe proporcionaram uma boa educação. Formou-se professora normalista em 12 de janeiro de 1910, pela Escola Normal do Estado do Maranhão e no dia 18 do mesmo mês foi nomeada professora de um distrito do município de Caxias. Laura Rosa foi a primeira mulher a ingressar na Academia Maranhense de Letras, eleita em 03 de abril de 1943, aos 59 anosde idade, sendo Fundadora da Cadeira nº 26, patroneada por Antônio Lobo, que foi seu professor. Foi recebida por Nascimento de Moraes.


Mais recentemente foi indicada para patronear a Cadeira nº 12 da Academia Caxiense de Letras, a Cadeira nº 10 do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias e, em São Luís, é Patrona da Cadeira 25 na recém-fundada Academia Ludovicense de Letras-ALL. Acho pertinente ilustrar a situação da mulher do seu tempo, por meio de um pequeno trecho do seu Discurso de Posse, na Academia Maranhense de Letras, em 17 de abril de 1943: “Manda a justiça que vos diga, em primeiro lugar, que me trouxeram para esta casa de sábios ilustres as mãos amigas de Corrêa de Araújo e Nascimento de Moraes com a benevolência de seus pares. Trouxeramme, porque, de mim mesma, nunca imaginei suficientes os meus versos, para merecimento de tão honrosas credenciais”. E continua: “Eis-me, portanto, aqui, Senhores, a primeira mulher que aqui entra, porque assim o quiseram os homens ilustrados desta agremiação, guardas fiéis de nossas tradições literárias” (Revista da AML, 1998, p. 15). Por fim, reafirmo que urge romper o silenciamento secular das vozes femininas, mesmo reconhecendo que não é tarefa fácil desconstruir um condicionamento tão enraizado e hegemônico. No entanto, é incontestável que essa quebra está sendo feita, os grilhões como os de toda e qualquer escravidão, estão sendo quebrados, paradigmas superando exclusão... numa viagem sem volta! Laura Rosa Presente!!! São Luís, 25 de outubro de 2021. Profa. Dra. Dilercy Aragão Adler




POEMA IN(ACABADO) Um poeta, diante do papel que branco e vazio se encontram é somente um poeta que vê calado o absurdo do mundo! um poeta que derrama palavras no papel denunciando a injustiça do mundo e - a escancarapronuncia o parto da liberdade!

o poema nunca estará pronto nem perdido enquanto as palavras se encaixarem liricamente no real invadindo o incauto coração!

CASA VAZIA Para o meu querido amigo Tony Alves Dilercy Adler Casa vazia... entro... ninguém... não ouço a tua voz e nenhuma outra... mas - escuto o gorjear dos pássaros que vem do nosso jardimque cuidávamos juntos... saudades sem fim! e era tão bom! casa vazia... entro... paredes com fotos amareladas pelo tempo que dizem de ti que dizem de mim que dizem de nós naquelas nossas horas vividas a dois vividas a três ou mais!... o “dia seguinte” agora só existe pra mim o “dia seguinte” pra nós -ficou pra traz – num passado distante cheio de amor! no presente de hoje só saudade e dor! mas sei que virá de novo


um amanhã pra nós e o espero pra sermos felizes conversarmos amenidades... e essa dor de hoje essa saudade voraz irrefutavelmente tenaz que me consome será passado... a casa mais vazia as paredes despidas de nossa juventude ficarão para traz e sermos felizes de novo outra vez!!! 11 de novembro de 2021. Às 8:40 da manhã.

FIM DE TARDE Dilercy Adler Os raios do sol no final da tarde bucólica se esgueiram entre os galhos das árvores e lambem as águas da lagoa que languidamente se entregam à luz radiante do sol... esse "morrer" do dia - tão lindo! destoa de tudo que significa morte...

e eu sem tempo algum - paro extasiada! e fixo meus olhos ávidos por liberdade e beleza nesse quadro pintado com tintas da natureza que escorrem dos dedos de Deus... e ainda da terra nessa bendita hora bendigo a vida - grata ao infinitoe sussurro apenas mas veementemente amém!...


DISCURSO DE OUTORGA DA COMENDA “MARIA FIRMINA” DO MÉRITO LITERÁRIO E CULTURAL, DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS-ALL, AO GOVERNADOR DO ESTADO DO MARANHÃO, FLÁVIO DINO DE CASTRO E COSTA

Excelentíssimo Senhor Governador do Estado do Maranhão, Flávio Dino de Castro e Costa, Ilustríssimo Presidente da Academia Ludovicense de Letras, Casa de Maria Firmina dos Reis, Daniel Blume, Prezadas Confreiras, Prezados Confrades! Estamos aqui reunidos nesta noite para cumprir um ritual de grande importância para a Academia Ludovicense de Letras-ALL, qual seja, o de galardoar personalidades que tenham prestado relevantes serviços em favor da Casa de Maria Firmina dos Reis, contribuindo para o engrandecimento da Instituição e concorrendo, desse modo, para o aprimoramento da cultura e da educação no estado do Maranhão. Foi com essa finalidade que foi instituída a Medalha “Maria Firmina” do Mérito Literário e Cultural. Passo a ler a Minibiografia do Homenageado. Flávio Dino de Castro e Costa é formado em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), onde é professor de Direito Constitucional, atualmente licenciado. Atuou como juiz federal por 12 anos, exercendo funções de destaque nacional. Foi Presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (AJUFE), Secretário‐Geral do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e Assessor da Presidência do Supremo Tribunal Federal (STF). Em 2006, abriu mão da carreira de juiz para se dedicar à luta para mudar o Maranhão e foi um dos deputados federais mais votados. Eleito seguidamente um dos parlamentares mais influentes do Brasil pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) e um dos melhores parlamentares do país pelo site Congresso em Foco. Entre 2011 e 2014, Flávio Dino presidiu a Embratur Instituto Brasileiro do Turismo. Em 2014, venceu a eleição para Governador no 1º turno. Foi reeleito em 2018, com 59% dos votos. Atualmente, também é Presidente do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal. Nesta Minibiografia fica indubitável uma trajetória marcada por competência, inteligência e dedicação nas áreas profissionais que abraçou e nas funções de destaque nacional que desempenhou. Mas quero trazer outros vieses da vida do nosso homenageado que remontam ao tempo de estudante que foi. É imperioso que eu diga que, desde os anos da mais tenra juventude, já demonstrava arrojo e determinação, a exemplo, como foi Presidente do Grêmio Estudantil Coelho Neto, do Colégio Marista em 1984, aos 16 anos. No auge da juventude, foi Secretário-Geral do Diretório Central dos Estudantes da


Universidade Federal do Maranhão-UFMA, de 1986 a 1987, e Coordenador Geral do Diretório Central dos Estudantes da UFMA de 1987 a 1988, ou seja, dos 18 aos 20 anos. Outro dado importante, a meu juízo, se refere à publicação do que eu acredito ser o seu primeiro livro acadêmico. Tal publicação deu-se em 1991, quando lançou o “Direito de Greve no Brasil”. José Antônio Almeida, Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Maranhão, à época, e Professor da Universidade Federal do Maranhão, foi convidado para prefaciar a obra e, no primeiro parágrafo expressa: Apresentar o livro “O Direito de Greve no Brasil”, de FLÁVIO DINO DE CASTRO E COSTA, resultante de monografia apresentada como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Direito, traz-me enorme satisfação. Flávio foi, sem dúvida, um dos mais brilhantes estudantes com que a Universidade Federal do Maranhão contou ultimamente (grifo meu). Ainda na Dedicatória do mesmo livro está assim registrado: Ao professor Nicolau Dino, orientador deste trabalho. À Rita, minha mãe. E, aos que dedicam os melhores dias de suas juventudes às atividades políticas e sindicais, lutando por justiça e felicidade para todos. E não posso deixar de compartilhar a mensagem de oferecimento feita a mim, 30 anos atrás, nesse seu primeiro livro acadêmico, o que muito me honra: “À Dilercy Adler, companheira de lutas universitárias, com o abraço de Flávio Dino.” Foi durante o seu curso de Direito na UFMA que eu o via, de quando em vez, na Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis, onde eu trabalhava, onde ele ia tratar de assuntos de interesse do segmento acadêmico que representava. Nessas ocasiões demonstrava, claramente, firme determinação e ânimo na exposição das demandas que apresentava. Depois desse primeiro livro, outros trabalhos foram incorporados a revistas diversas, como a Revista de Direito Administrativo, editada pela Fundação Getúlio Vargas, a Revista do Conselho da Justiça Federal. Publicou livros entre os quais: “Medidas Provisórias no Brasil; Origem, evolução e Novo Regime Constitucional”; “O poder, o Controle Social e o Orçamento Público”; “Reforma do Judiciário: Comentários à Emenda Nº 45”; e “Autogoverno e Controle do Judiciário no Brasil: a proposta de criação do Conselho Nacional de Justiça”. Também participou como coautor de várias outras publicações e periódicos acadêmicos e, ainda apresenta na sua intensa agenda palestras em eventos promovidos por instituições acadêmicas do Brasil e de outros países, como a Universidade de Harvard, London School of Economics, Instituto de Estudos Políticos de Paris, Fundação Getúlio Vargas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Universidade Federal do Rio de Janeiro, dentre outras. Ademais, produziu 25 Artigos completos publicados em periódicos, 05 Livros publicados/organizados ou edições, 03 Capítulos de livros publicados, 363 Textos em jornais de notícias/revistas, 33 Apresentações de Trabalhos, 87 Produções técnicas, 26 Textos em jornais de notícias/revistas e 442 trabalhos (LEIS). Na área cultural é membro da Academia Maranhense de Letras Jurídicas e, recentemente, foi eleito para a Academia Maranhense de Letras. No tocante à Academia Ludovicense de Letras e à sua Patrona Maria Firmina dos Reis, em 2017 foi inaugurada, pelo Governo do Estado do Maranhão e pela Prefeitura de São Luís, uma praça em homenagem à Maria Firmina, na Vila Gorete, situada nas imediações da cabeceira da ponte Bandeira Tribuzzi, no bairro Camboa, em São Luís. Nesse mesmo ano, a escritora foi homenageada como Patrona da Feira do Livro de São Luís-FeliS, em sua 11ª edição, de 10 a 19 de novembro, e essa Feira do Livro foi promovida pelo Governo do Estado, excepcionalmente, tendo em vista o Município não ter incluído a sua realização no orçamento daquele ano. Ainda em 2017, foi sancionada pelo Governador Flávio Dino, em 29 de dezembro do mesmo ano, a Lei Nº 10.763, em substituição à Lei Nº 3.754, sancionada pelo então Governador Nunes Freire, em 27 de maio de


1976. Esta Lei, que instituiu o aniversário de nascimento de Maria Firmina como o “Dia da Mulher Maranhense”, resultou do Projeto de Lei de autoria do Deputado Celso Coutinho e a Lei Nº 10.763, do Projeto de Lei do Deputado Eduardo Braide. Isso deveu-se à necessidade de alteração do art. 1º, que trata da data de nascimento de Maria Firmina para 11 de março de 1822, ao invés de 11 de outubro de 1825, esta última constante na Lei original. O conhecimento da nova data, com base em documentos da Câmara Eclesiástica/Episcopal, atualmente disponíveis no Arquivo Público do Estado do Maranhão-APEM, levou-me, como Presidente da Academia, à época, e pesquisadora da vida e obra de Maria Firmina dos Reis, a providenciar a retificação da referida data, por meio da alteração do art. 1º, e, consequentemente, a comemoração do “Dia da Mulher Maranhense. Em 12 de setembro de 2017, por meio do OFÍCIO ALL Nº. 019/2017, foi solicitada a cessão de um prédio para a instalação da sede da Academia, tendo sido autorizada em 30 de setembro do mesmo ano e encaminhada à Secretaria de Estado da Gestão, Patrimônio e Assistência dos Servidores (Segep) para as providências legais. Mas, por motivos alheios ao governo, o processo não foi finalizado. Localizada na Av. Dom Pedro II, no Centro Histórico de São Luís, a Praça dos Poetas foi entregue à população em 2020. “Convido a todos que visitem a Praça dos Poetas, que é a celebração dessa memória”, disse o governador Flávio Dino por ocasião da inauguração da Praça. A Praça conta com um mirante e, no trajeto até ele, são homenageados escritores e poetas maranhenses: Maria Firmina, Gonçalves Dias, Ferreira Gullar, Catulo da Paixão Cearense, Nauro Machado, Sousândrade, Bandeira Tribuzzi, José Chagas, Dagmar Destêrro e Lucy Teixeira e Mariana Luz. Mais recentemente, na IV Festa Literária de Itapecuru-FLIM, recebi uma notícia auspiciosa: o Governador enviou Projeto de Lei à Assembleia Legislativa para ser apreciado e votado. O referido Projeto autoriza consignar no Orçamento Geral do Estado, a título de subvenção social, recursos destinados às Academias de Letras do Estado do Maranhão. É alentador ler no texto: “Mando, portanto, a todas as autoridades a quem o conhecimento e a execução da presente Lei pertencerem que a cumpram e a façam cumprir tão inteiramente como nela se contém.” Acredito que não há sombra de dúvidas de que o homenageado atende aos nobres requisitos desta Comenda. Sua empatia pelas artes e dedicação aos feitos relativos à cultura e à educação são inquestionáveis, e o que desejamos, hoje, é que a sua perseverança em se colocar em prol da “luta por justiça e felicidade de todos”, como asseverou há trinta anos, continue presente em seu viver!!!! E isso passa pelo atendimento às demandas da educação e da cultura. Destarte, as suas ações meritórias fazem jus ao reconhecimento que a outorga da Medalha Maria Firmina, a mais alta honraria da Academia Ludovicense de Letras representa. Com o nosso apreço, Excelentíssimo. Senhor. Flávio Dino, receba esta Medalha que os membros da Casa de Maria Firmina lhe concedem nesta data! São Luís, 17 de novembro de 2021. Dilercy Aragão Adler Ocupante da Cadeira Nº 08, patroneada por Maria Firmina dos Reis







CADEIRA 14 ALUÍSIO TANCREDO GONÇALVES DE AZEVEDO

OSMAR GOMES DOS SANTOS FUNDADOR


IMPRENSA DE LUTO OSMAR GOMES DOS SANTOS

Reservo as próximas linhas para fazer um tributo justo, uma homenagem em tempo de um veículo de comunicação cuja narrativa transcendeu a história e fez parte da vida do maranhense, especialmente dos ludovicenses. Ao findar deste mês de setembro, o maquinário do jornal O Estado do Maranhão terá sido acionado pela última vez, imprimindo suas últimas linhas sobre o nosso cotidiano. O anúncio veio como uma bomba na Imprensa local, que não esperava um tão sólido veículo ruir frente aos desafios da modernidade tecnológica. Os motivos, obviamente, competem aos proprietários, não cabendo qualquer especulação, mas, certamente, as transformações conjunturais, trazidas pelo avanço do digital, impactaram as estrutura do periódico, assim como de tantos outros em todo o Brasil. Cabe a mim, como escritor, imortal e pensador, debruçar-me sobre uma análise menos crítica e voltar-me para a trajetória deste importante jornal e seu peso social. Se considerar seu antecessor, a história vai remontar o ano de 1959, quando da fundação do Jornal do Dia. Mas é somente em 1973 que o jornal ganhou o nome que o projetou. O senador José Sarney deu vida aos trabalhos de O Estado do Maranhão consolidando uma alteração de nome em relação ao antecessor. Naquele editorial, de 1º de maio de 1973, afirmou José Sarney “não temos nenhuma inauguração a fazer. Hoje, o Jornal do Dia chama-se O Estado do Maranhão”. Com a mudança de nome, o periódico ganhava também casa nova, o maquinário mais moderno da época e uma roupagem que ultrapassava o embate político diário. Agora, havia espaço para o quotidiano da cidade sob várias vertentes: política, economia, lazer, esportes, serviços. Era o espírito que carregava o seu co-fundador, ao afirmar que o objetivo do jornal era de modernizar a imprensa maranhense. Propunha a Inovação, a estética bem construída com traços gráficos sempre atuais e a elevação do nível dos debates propostos, inserindo os problemas cotidianos na ordem do dia. A essência do bom jornalismo, pois, entendo que está aí: contribuir com informação de relevância para que os temas importantes da sociedade sejam permanentemente debatidos e solucionados pelos mais distintos segmentos sociais. Aí consiste a dimensão cultural da imprensa. O mundo, o país, o estado, a cidade, a comunidade foram todos trazidos para dentro das folhas, ainda em preto e branco, mas, agora, bem mais cheias de vida. E assim foi ao longo dos 62 anos que se sucederam, com intensa produção jornalística, até culminar com o fatídico setembro de 2021. Por muito tempo, O Estado captou fragmentos do cotidiano, ajudando a formar um álbum de registro da história que passava aos nossos olhos. Acontecimentos, fatos, realizações, conquistas, glórias, feitos épicos, problemas, pessoas. Quantos não foram os grandes nomes que por aquelas cadeiras passaram. Estudantes, estagiários, recémformados, profissionais que ascenderam na carreira após as experiências vividas nos bancos da redação. O jornal, a escola, a faculdade. Após a morte do co-fundador Bandeira Tribuzi, em 1977, outros grandes profissionais exerceram o importante ofício do jornalismo. Repórteres, editores, colunistas, redatores, revisores, colaboradores eventuais. Bernardo Almeida e Bello Parga, Benito Neiva, Pedro Costa Antônio Carlos Lima, foram alguns desses profissionais que comandaram a produção diária de notícias.


O jornal foi palco de muitos acontecimentos. Histórias, aprendizados, críticas, controvérsias, erros e acertos. Convém lembrar que, antes de tudo, qualquer veículo de comunicação é feito de pessoas e tem sua linha editorial própria definida. Certo é que a Imprensa agora está de luto, pois o fechamento não é bom para ninguém. Admiradores, apoiadores, críticos, opositores. Muitos já tiveram a oportunidade de se manifestar ao longo deste mês de setembro. De modo geral, imperou o bom senso, a reflexão e o reconhecimento do importante serviço prestado à sociedade. Em tempos em que a verdade é atacada, o bom jornalismo é vítima de perseguição, o profissional jogado contra as cordas por aqueles que preferem a via antidemocrática, essa se torna uma perda incomensurável. Não se pode medir quão órfão ficarão as narrativas da sociedade. Por outro lado, há aqueles que ainda resistem ao advento da modernidade e seguem impávidos, mas, agora, com ainda mais responsabilidade. Eis a roda da história. Fecha-se um ciclo, na esperança de que outros possam ter início. A última reunião de pauta, a derradeira reportagem, as revisões finais. Conversam dão conta de que é possível a manutenção de uma versão digital, que assim seja. Fato é que ao apagar das luzes deste setembro, na Avenida Ana Jansen, 200, bairro do São Francisco, as máquinas que tanto barulho fizeram por tanto tempo, adormecem. Aplausos para todos que ali fizeram história. Parabéns aos valorosos profissionais que ajudaram a revelar um pouco mais do cotidiano de nossa cidade. Fica o reconhecimento por tudo que fora produzido e a reverência, para a eternidade, pelo desafio de ousar e inovar sempre.Eu fui jornaleiro . Eu gritei o nome do Jornal O Estado do Maranhão nas ruas de São Luís.


PANE NO SISTEMA OSMAR GOMES DOS SANTOS

Era uma tarde de segunda, 4 de outubro, quando o sistema ruiu. Tudo parou e as pessoas estavam, instantaneamente, desconectadas. WhatsApp, Facebook e Instagram, os três pilares do império de Zuckerberg estavam incomunicáveis. Até o Telegram “bugou” com o excesso de pessoas que a ele recorreram como alternativa. O fato causa espécie em razão da magnitude, posto que quase 3 bilhões de pessoas foram impactadas diretamente pela falha dos serviços. O episódio demonstrou como ficamos dependentes dessa tecnologia e, para muitos, como a própria vida é ancorada nas chamadas redes sociais. A pane nos principais canais de relacionamento mostrou toda nossa fragilidade, diante do fluxo dos trilhões de terabytesque por uma tarde congestionaram. E a analogia cabe bem no caso em tela. Imagine como que você está trafegando em uma via com bilhões de outros carros, cada um com um destino. Você olha para um lado e para o outro, tudo parado. Volta-se para trás e não alcança o fim da fila de carros, mira o horizonte e não encontra a luz que representa o fim do túnel. Você não consegue sair do lugar, o carro cheio de pacotes, cada um deles com encontros, compromissos, encomendas, entregas, sorrisos, imagens, informações. Tudo ali, estagnado em uma fila de dados na qual nada se processa. A falha, com codinome tão estranho quanto o próprio problema, até foi detectada em tempo, mas não solucionada. “5XX Server Error”, para quem não é do ramo, algo que certamente soou bem estranho. Na prática, o erro confirma aquilo que se apresentava para o usuário, ou melhor, o que não se apresentava. O termo técnico foi “traduzido” para o leigo como uma solicitação que não podia ser atendida pelo servidor, ou seja, o pacote de dados não podia ser entregue. Sem comunicação entre servidor e usuário, a estrutura, ainda que por um curto período colapsou e mostrou a vulnerabilidade humana diante do emaranhado de complexas conexões que ditam o cotidiano. A vida hoje está nas telas dos smartphones, isso ficou mais do que provado neste 4 de setembro. Muitos acreditam que as redes influenciam o cotidiano, mas sobre essa afirmação cabem muitas reflexões. Creio que a principal dela seja quem influencia quem? Em que dimensão? Ora, se são as redes feitas de pessoas, não seriam elas a moldar tais ferramentas, conformar seus padrões de vida? De toda sorte, mesmo sem uma resposta, visto que este não é o cerne deste ensaio, a paralisação mostrou o quanto nos tornamos dependentes da tecnologia para as mais diversas situações da vida em sociedade. Do simples bate papo às chamadas de emergências que podem salvar vidas. Por uma tarde, negociações paralisaram, transações não foram concretizadas, pedidos, serviços ficaram parados, trabalhos ficaram pendentes de aprovações, muitos trabalhadores cruzaram os braços. Um prejuízo financeiro certamente incalculável. O próprio Judiciário hoje utiliza todas as redes para de alguma forma se relacionar com seu público. Para o exercício diário de suas atividades, cito o WhatsApp, ferramenta que possibilita a realização de um sem número de atos judiciais, todos válidos e atendendo ao princípio do devido processo legal. Intimações, comunicações, cumprimento de diligências e até casamentos já são feitos com base no aplicativo, que já não é só de mensagens, mas um completo sistema de comunicação.


Diante da queda dos sistemas, teve gente que ficou praticamente incomunicável, uma vez que muitos já se habituaram a fazer até as ligações por meio desses dispositivos, em especial o WhatsApp. O episódio foi uma oportunidade para repensarmos a forma como lidamos com esses dispositivos. Se por um lado não podemos mais viver sem as facilidades por eles trazidas, por outro o ocorrido confirma que a concentração em apenas um conglomerado gera um risco iminente ao funcionamento da própria sociedade. Por algum momento, voltamos a ser puramente humanos. Podemos trocar o toque do touch screen pelo carinho ao próximo, o foco nas telas pela atenção ao nosso comum. Os likes puderam ser feitos olho no olho, com transparência e sinceridade, assim como aquele afetuoso abraço em quem amamos pode ser dado em verdade. Salvaguardando eventuais impactos negativos, a tarde daquela segunda constituiu uma grande oportunidade para assistirmos a um bom filme, ler um livro, compartilhar mais momentos ao lado de quem amamos. Por fim, o fatídico evento serviu de lição para mostrar se realmente estamos no controle de nossas vidas, na dianteira dos processos e relacionamentos estabelecidos cotidianamente. E você? Aproveitou aquela pausa para voltar os olhos para o que realmente importa e retomar a rotina “normalmente” no dia seguinte; ou entrou em colapso varou a noite tentando organizar as centenas de mensagens e acontecimentos após o restabelecimento dos serviços? Essa é uma reflexão importante e a resposta definirá bem quem assume as rédeas da sua existência.


NA RESERVA Osmar Gomes dos Santos Não é novidade para qualquer brasileiro que a vida está cada dia mais difícil. Independente da posição ocupada na sociedade, as dificuldades se apresentam a todos que observam o poder aquisitivo ser corroído gradativamente. Naturalmente, sofre mais aquele que está na camada menos favorecida, cujos recursos são limitados. Para eles, dirijo este breve comentário com poucas e escassas, mas profundas palavras nas quais tento demonstrar o abismo no qual nos aprofundamos dia após dia. O mesmo brasileiro que um dia teve sua mesa farta, agora sequer tem o gás para cozinhar os poucos caroços de feijão. Junto com o aumento do desemprego, a inflação galopante voltou a assombrar milhões de lares país afora. A pobreza regressa de forma preocupante aos lares brasileiros. Em um cenário de grande instabilidade política e econômica, de ameaças a liberdades e ao próprio regime democrático, o líquido dourado desponta como novo vilão. Tocado por uma política claramente especulativa e que dá de ombros para a sociedade, a Petrobras já não parece ser o orgulho da nação. As cores do país carregadas na bandeira da estatal já não simbolizam a paixão do brasileiro. Longe disso, no máximo representam o capital especulativo que passou a imperar na estatal. É bem verdade que a empresa não andava tão bem das pernas e que houve um forte processo de recuperação. Mas se ela é, também, uma estatal, deve gerar e distribuir riqueza para toda a nação e não apenas distribuir os altos lucros e dividendos a alguns que empregam seu capital especulativo nela. Não sou nenhum economista, longe de ser um analista do mercado financeiro, mas de desemprego e fome, conheço bem e posso falar com propriedade. Estes fatores somados levam a uma série de outros problemas na sociedade, inclusive no aumento da violência. Quantos não foram os casos que, como magistrado, julguei réus com vida pregressa irretocável, que alegaram cometer um ou outro crime em razão de não ter o que dar para comer aos filhos. Não estou a justificar o crime, tampouco pretendo adentrar nesse debate, mas é preciso refletir sobre o desemprego e a fome de uma forma macro. Voltando ao espinhoso assunto, vejo a política de preços da BR como de difícil compreensão até mesmo para alguns mais entendidos na matéria. Temos hoje dois fatores preponderantes: cotação do câmbio e preço do barril de petróleo. Ambos oscilam muito no mercado internacional. Embora defender esse atrelamento seja justo, o que não consigo compreender, leigo que sou, é como essa política funciona muito bem para a alta e muito pouco para a baixa dos preços. Vivemos um momento de pandemia em que esses fatores dólar e preço do barril deveriam ter contribuído para uma queda brusca dos subprodutos do petróleo. Embora a moeda tenha sofrido oscilação para cima em 2020, vimos um movimento de queda logo em seguida. Já o brent, petróleo bruto negociado pela estatal, caiu praticamente pela metade para o padrão da época, sendo negociado na casa dos 20 dólares, acompanhando a significativa queda do consumo. No entanto, o que causa estranheza é que para ocorrer a diminuição do preço, as premissas do mercado parecem não ser acompanhadas. Surge sempre um terceiro, um quarto e até um quinto fator para nos empurrarem goela abaixo, de forma que a queda não chegue ao consumidor final. No máximo, houve a manutenção dos preços já praticados. Lei da oferta e da procura para quem?


Resultado é um lucro recorde de 42,8 bilhões de reais por parte da estatal, com grande fatia distribuída aos milhares de acionistas. Do outro lado, os milhões que dependem da companhia ficam a ver navios. Como compreender como justa essa metodologia para determinar os preços da commoditie? O livre mercado, quando bem funciona, deveria ser para os dois lados, como uma gangorra. Os preços aumentam seguindo uma tendência, mas não baixam seguindo o movimento inverso da mesma tendência. Não dá para explicar isso para a dona de casa que precisa pagar 110 reais em botijão de gás. Impossível explicar isso ao pai de família desempregado que recorreu ao aplicativo e tem que pagar 6,29 reais em um litro de combustível. No Brasil, sabe-se lá porque cargas d'água, a moda costuma pegar somente para elevar os preços. Assim com o aço, com o petróleo, com alimentos. Estamos fadados a sofrer eternamente pelo fracasso de nossos líderes? Quando o tão esperado "futuro" chegará para os brasileiros? Uma outra questão importante, que não posso conceber, é que o brasileiro recebe seu soldo em reais e não em moeda americana. O ajuste no salário mínimo é feito anualmente, com base na inflação. Como pagar uma gasolina cotada em dólar, que impacto nos preços de dezenas de outros produtos e sofre variação diária quase sempre para cima? O resultado dessa desastrada política é o empobrecimento do povo brasileiro, a diminuição do poder de compra. O gás já consome 10% do mínimo salário, que ainda precisa pagar a gasolina e o diesel mais caros em tudo que consome. A grande maioria da cadeia logística do país é feita sobre rodas e a quase totalidade de toda ela depende da gasolina ou diesel para levar todo tipo de produto aos quatro cantos do Brasil. Mesmo aquele cidadão que não tem carro, para o qual, digamos, seria um artigo de luxo, paga a conta. Ele paga o mesmo preço da bomba tanto quanto aquele que deixa suas lamúrias para os frentistas que os atendem. A alta dos combustíveis vem no preço da passagem do coletivo, do açúcar, do café, do feijão, do arroz, do leite, do ovo, do sabão em pó, da feirinha. Lição para reflexão: vide preço da cesta básica. Moral da história é que estamos todos andando na “reserva”, seja no tanque ou na dispensa de nossas casas. A conta chega para todos, indistintamente. O Congresso sinaliza com um esforço para intervir e arrefecer essa dinâmica. Se alguma coisa vai mudar de fato, só perguntando lá no posto Ipiranga.


QUEBRANDO O PRECONCEITO Osmar Gomes dos Santos O mês de outubro é período de vestir-se de rosa. Fita no punho, broche no peito, camisa a rigor. Além da vestimenta e adereços, o importante mesmo é deixar-se incorporar o rosa de forma plena e despir-se de preconceitos e tabus. A despeito de qualquer retórica, estamos aqui a falar de vida, mas também de morte. É preciso maturidade e consciência para um debate maduro e para a adoção de práticas e comportamento preventivo. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, cerca de 66 mil mulheres em 2020 tiveram pelo menos uma das mamas acometidas pela doença. No ano de 2019, a título de comparação, foram aproximadamente 19 mil mortes pelo tipo de câncer. Para minimizar os impactos negativos na vida de milhões de pessoas e reduzir os riscos de morte por esse mal, o Brasil aderiu, desde 2002, à campanha Outubro Rosa. Várias organizações e, notadamente, a área médica, dedica tempo e força de trabalho para ações informativas e realização de exames de diagnósticos. Uma campanha que, somente no Brasil, desde sua implantação, certamente já salvou milhões de pessoas. Com o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, já disponível nas redes pública e privada de saúde, pessoas estão tendo a oportunidade de continuar sonhando, seguir vivendo. Chamo atenção para o emprego, em alguns momentos, da palavra “pessoas”, de gênero indefinido. Isso porque, diferentemente do que muitos pensam, o câncer de mama também atinge homens. Naturalmente em proporção menor, mas estão tão vulneráveis quanto às mulheres. A doença que surge silenciosamente, não escolhe paciente, gênero, cor, etnia. No máximo diferencia pela idade, mas também não se pode cravar que pessoas mais jovens não terão a doença. Isso vai depender de uma série de questões, que somente o mapeamento é capaz de identificar. Há casos em que surge repentinamente, sem fazer qualquer alarde. Quando se descobre, já não há tanto o que fazer. Por outro lado, a descoberta em tempo, que só é possível com a rotina anual de exames, aumenta significativamente as chances de cura e do prolongamento da vida. Existem situações em que o mal impõe ao doente uma verdadeira batalha. A doença avança sem se preocupar com a dor e o sofrimento. Sofre quem tem o câncer, sofre a família, sofrem os amigos. A medicina avança em diversas frentes. Tratamentos e novas drogas são descobertos ano após ano para combater com mais eficiência os vários tipos de câncer. Pesquisas relacionadas à cura começam a mostrar resultados animadores e promissores, mas que ainda não passam de experimentos. Não se pode olvidar que a coragem, a determinação e a fé são companheiras daqueles que carregam consigo algum tumor maligno. São elementos que trazem perseverança e força para vencer etapas difíceis. A fé é a fortaleza da alma, que transborda boas vibrações para que a estrutura física esteja de pé. Conselho aos mais próximos, ou mesmo aqueles mais distantes, é jamais mirar com olhos de pena para aqueles que estão doentes, seja em que fase for. Eles precisam de olhar encorajador, de esperança e otimismo. Em tempo, ainda que outubro se vá, a vida continua e a rotina de cuidados deve iniciar, ou continuar, para aqueles que já começaram. O novembro azul bate às portas, visando à prevenção de outro tipo de câncer agressivo: o de próstata. Perante preconceitos e tabus, a vida deve falar mais alto, a vontade de viver deve prevalecer ao leve e necessário exame do toque. O contato é rápido, indolor e de extrema eficiência.


Bom ressaltar que o toque retal não tira a virgindade ou a masculinidade daquele que arrota testosterona. Ninguém sai do consultório menos homem, mas certamente sai com as certezas necessárias para prosseguir a jornada da vida. Homens e mulheres, mais ou menos jovens, amem a si e aqueles que estão ao redor. Pais, filhos, irmãos, amigos. Pense no quanto você é importante e fundamental para a vida de dezenas, ou mesmo centenas, de pessoas a sua volta. Antes de se autossabotar, antes de exitar e decidir de forma particular e egoísta, pense naqueles para quem você é a razão de um sorriso. Pense na esposa, no marido, filhos e filhas que te recebem todos os dias após uma longa jornada de trabalho. Dê uma pausa no trabalho, na correria, no preconceito. Tire um tempo para você. Tire um tempo para a vida


A VIDA É EFÊMERA, O AMOR, JAMAIS Osmar Gomes dos Santos Após mais de três anos escrevendo de forma ininterrupta, todas as semanas, simplesmente fiquei sem palavras. Entre soluços e lágrimas, apenas prostrava os joelhos no chão e elevava o pensamento ao Divino. Sem forças para resistir, o luto apanhou-me de surpresa e tomou conta de mim. Este que agora vos fala, ainda perdido nos labirintos de uma mente que ainda não assimilou o choque, se arrisca em alguns rabiscos. Não poderia falar de outra coisa, não haveria tema com tanto sentido a ser tratado nesta hora. Afinal, não há tempo para o amor. Recentemente, noutro escrito, falei do convite especial que havia recebido para uma grande festa. Diante do ocorrido, tal escrito vinha em minha mente, como se a literatura se confundisse com a vida real. Vi-me dentro de meus próprios rabiscos enquanto em ti a pensar, minha vida. Lembrei-me que naquela ocasião, vesti-me da melhor maneira, usei o melhor perfume e aproveitei intensamente a oportunidade. Apresentastes a mim, doce e meiga, que ao primeiro olhar, logo percebi que serias tu a mulher que faria meu coração pulsar mais forte a cada dia. Vieram filhos, netos... a família cresceu. Viveste também a tua noite, a tua festa. Ela viveu a sua festa, cujos efêmeros acontecimentos esvaem-se como a névoa da noite ao alvorecer. De forma tão intensa, mas ao mesmo tempo tão sutil. Deixou sua marca, sem precisar marcar ninguém, sem ferir, nem ofender. Tu partiste, ó, Maria. Depois de 37 anos ao meu lado, tão repentinamente como entrou em minha vida, tua alma escorreu pelas minhas mãos naquela fria madrugada. Sem reclamar, sem blasfemar, sem perder o brilho nos seus olhos. Apenas adormeceu e nos deixou. Discreta, doce, meiga e singela, da mesma forma como viveu. Ó, Maria, a forma dileta como acolhia até mesmo os desconhecidos, virou sua marca de vida. Olhar, atenção, doação. Despir-se de si, de vaidades, preconceitos, bens, em favor do outro foi uma missão que perseguiste até o suspiro derradeiro. Não à toa, escolheste ser professora. Não consigo falar de ti, minha rainha, se não for proseando os momentos que vivemos. Dos olhares enamorados na sala de aula, da vida difícil em um quarto pequeno da casa da minha mãe. Ali, frente à rua enlamaçada, arquitetamos nosso projeto de família. Eu servidor público e tu estudante. O salário era mínimo, o sofrimento era grande, mas os nossos sonhos não tinham dimensões. Com retidão de caráter, humildade e seriedade, foi e, sempre será, exemplo de mãe, de esposa e de mulher. Ó, Maria, vivemos com paixão cada momento daquela noite, das nossas vidas. Fazemos valer a pena cada minuto, mas, para ti, o dia amanheceu mais rápido e seu brilho, agora, disputa espaço junto aos mais lindos raios de sol. Nesta festa que é a vida, não queria jamais ser convidado para outra. Aceitaria tantos quantos fossem os convites para estar contigo, meu amor. Se precisasse conquistar-te a cada dia, o faria sem pestanejar. E se recebesse eu a oportunidade de me casar 100 vezes, poderias tu preparar 100 modelos de vestidos diferentes. Saíste repentinamente, com a mesma velocidade com a qual chegaste. Mas tuas lições ficarão guardadas em mim. De quando me punha em seu colo, como criança, afagava-me seus braços e me aconselhava como uma amiga, uma mãe. Foi e será a mulher da minha vida. Espero, ao final da festa, poder pegar em tuas mãos, olhar em teus olhos e te levar para passear. Vou querer matar toda a saudade dessas horas que não passam.


Mas, para mim, ainda é madrugada. Ainda tenho dever a cumprir junto aos nossos. Quero poder abraçar filhos e netos com a mesma ternura e deixar em cada um deles um pouco da tua marca. Seguirei firme nesta missão, que sempre foi nossa. Não sei quando chegarão meus primeiros raios de sol, mas tenho certeza de que, em breve, eles delinearão a tua silhueta. Deixando transcender o mais puro de tua alma e (re)contemplarei tua formosura. Maria, Maria. Antes de dizer até breve, não penses tu que estou infeliz, a final , foi Deus quem te chamou e ele chama sempre os melhores primeiro. Confesso um tanto triste, pelo chão que se esvaiu sob meus pés. Mas se agora tenho o que lamentar, é porque outrora tu me destes motivos para rir. Sublimemente, a chama da vida se apagou em ti, mas o amor não cessará. Ficará guardado em cada momento que fizeste do mundo à sua volta um lugar melhor. Sem egoísmo, conseguiste trazer alento a muitos corações aflitos e agora, minha amada, é chegado o momento do teu descansar. A mim , aos nossos filhos e netos resta o fortalecimento dos nossos corações para transformar a dor e o sofrimento em saudades. UM BEIJO DE QUEM SEMPRE TE AMOU E VAI TE AMAR ETERNAMENTE.


CAJARI, ALEGRA-TE. Osmar Gomes dos Santos O Município de Cajari vive um misto de alegria e tristeza. A primeira em razão da passagem de mais um aniversário no dia 15/11, alcançando seus 73 anos de emancipação. Por outro, ainda chora a recente perda de sua gestora municipal que, em pouco tempo, muito realizou pela Cidade. Não é segredo que de lá eu vim em busca de melhores oportunidades de vida, após a morte de meu pai. Naquela noite fria éramos eu, uma irmã e a mãe, algumas galinhas, um punhado de farinha e algumas poucas roupas. Quando aportei na Rampa Campos Melo fechei os olhos e disse que seria um até breve e assim é até os dias atuais. Cajari sempre esteve na minha essência, na minha alma, na minha vida. Não perco uma só oportunidade de fazer a viagem de volta, pisar naquele que é meu chão e sentir que minha alma está em paz naquela que é a minha terra. Falando de gestão, como foi bom ver meu Cajari florescer nos últimos nove meses. Nove meses e vinte e dois dias, para ser mais exato. Tempo esse que mostrou ser possível fazer um trabalho sério, como tem sido feito pela maioria dos gestores municipais em cada rincão deste Estado. Quem pôde desfrutar dos avanços recentes, das melhorias visíveis em diversas áreas, sabe que existe motivos para comemorar e ter esperanças. Nos últimos meses, quem andava “cabisbaixo” levantou a cabeça, quem tinha o semblante triste voltou a sorrir. Aquela que já não está entre nós devolveu o sorriso e a esperança ao povo de Cajari, encorajando cidadãos e cidadãs daquele pedaço do Maranhão e fazendo-os acreditar que o amanhã há de ser melhor. É possível. Possibilidade que transformou um pequeno porto em pujante e promissora Cidade, com terras férteis, lagos e rios de beleza exuberante, que garantem o alimento de um povo forte e trabalhador. Meu coração transborda por meus olhos, mas como dizia a forte Maria Felix “um povo forte e trabalhador não baixa a guarda, precisa arregaçar as mangas e seguir”. Não é hora para chorar, Cajari. Falo-te como bom filho desta terra e viúvo daquela que te abraçou, levando você no peito e deixando uma marca indelével de seu amor por teu chão. Que os mistérios que esta terra ainda carrega, possa teu povo desvendar e descobrir a própria força que carregam dentro de si. Povo de tantas voltas por cima, que mesmo diante do luto recente encontra forças para dizer-te: parabéns, Cajari. Que seus campos continuem a esverdear esperança por este pedaço do Maranhão, pois há motivos para comemorar. É possível manter o Município no rumo do progresso, da preservação do seu peculiar ecossistema e do cuidado com a sua gente. Existe um dizer que fala do “mal acostumado”, que remete a alguém que se acostumou com algo e que agora não consegue mais ficar sem. Soubesse ela que o pouco tempo que passou deixou em Cajari, eu diria, um povo bem acostumado. Acostumado a participar, a cobrar, a acreditar que é possível uma Cajari melhor. Acreditar que cada um pode dar sua contribuição no progresso do Município. Acreditar que não há batalha perdida que nos fará abaixar a cabeça. O povo de Cajari é antes de tudo um forte. Sua essência está em mais de um século de luta e trabalho para fincar raízes às margens do Rio Maracu. É hora daquele que te ama te abraçar, Cajari. Envolver-te nos braços da alma e te sentir com o coração. Teu passado de encantos permitiu ao teu povo um presente de esperança e um futuro de realizações. Erga-te, Cajari. Felicitemos com mais um ano e sigamos avante rumo ao progresso. TUDO NO TEMPO DE DEUS.



CADEIRA 15 RAIMUNDO DA MOTA DE AZEVEDO CORREIA

DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIDA 1º. Ocupante


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Nossa crônica publicada no Estadão — uma honra. Obrigado!

POLITICA.ESTADAO.COM.BR A Ordem pela ordem A quizila entre esquerda e direita, que monopoliza o Brasil e desarmoniza os seus Poderes, tem am Capa do meu próximo livro jurídico, dedicado ao amigo PLPC, que será lançado na OAB Nacional. Uma adaptação da minha dissertação de mestrado em Portugal. Contracapa do Ministro Reynaldo Fonseca e prefácio do Conselheiro Marcello Terto. Obrigado!


Em cerimônia no Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, lançamento do nosso livro “Omissão Legislativa e Covid-19: Responsabilidade Civil do Estado no Direito Português comparado ao Brasileiro”. Obrigado! #direitoshumanos #COVID19


Dois de nossos poemas “Mascavo” e “Putrefação” publicados na antologia da “Académie des Lettres et Arts LusoSuisse”. Obrigado!







DISCURSO DE POSSE DO ACADÊMICO DANIEL BLUME NA CADEIRA N. 15 DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS, EM 02.12.2021 “Grandes coisas fez o Senhor por nós, pelas quais estamos alegres.” (Salmo 126-3) –I– Senhor presidente da Academia Maranhense de Letras. Senhor presidente do Tribunal de Justiça, na pessoa de quem saúdo as autoridades que hoje me honram com suas presenças. Acadêmicas e acadêmicos desta centenária Casa de Antônio Lobo, aos quais, novamente, agradeço pela minha eleição para ocupar a Cadeira n. 15, cujo patrono é Odorico Mendes e os meus antecessores, respectivamente, Godofredo Viana, Silvestre Fernandes, Erasmo Dias e Milson Coutinho. Minha família. Meus amigos do Maranhão e de fora do Estado. Senhoras e senhores, presencial ou virtualmente, nesta solenidade literária. Hoje é o tempo que bate na porta. É mesmo de leite condensado a lembrança mais longínqua de minha educação. Falo daquela salada doce de frutas preparada pelos próprios alunos da então “Escolinha João e Maria”, sob os olhos atentos das professoras, com carinho de tia. Tempo em que Cristina, Dulce e Mercedes ainda davam os primeiros passos que chegariam ao consagrado “Colégio Literato”, onde estudei até o científico. A elas devo muito do que sou. Naqueles tempos de escola [e lá se vão mais de quatro décadas], nunca, imaginei que ingressaria neste importante sodalício. Nem ousei sonhar. Mas estava sendo preparado. Aqui destaco os meus pais, Sonia e Djalma. Não trato apenas da formação de minha personalidade. Não cuido apenas do incentivo aos meus estudos. Falo do exemplo caseiro (e cotidiano) do amor pela escrita e pela leitura, além da busca pela realização e pela conquista positiva. Basta dizer que — pela primeira vez na história desta casa fundada em 10 de agosto de 1908 — uma mãe fará, nesta tribuna de honra, o discurso de recepção de um filho como membro efetivo e confrade da Academia Maranhense de Letras. – II – Pois bem! Sei que, ao longo da minha existência, sob a condição de acadêmico, terei a missão de manter perenes as memórias e as obras de Odorico Mendes, Godofredo Viana, Silvestre Fernandes, Erasmo Dias e Milson Coutinho. Optei em não descer a minúcias para não me tornar sobremodo extenso nestes tempos líquidos, até porque estamos em sede de um discurso. Porém, não posso descurar-me da tradição, nem abrir mão do prazer de falar do patrono e dos ocupantes da Cadeira n. 15 da AML, dos quais conheci pessoalmente Milson Coutinho.


Milson nasceu na cidade maranhense de Coelho Neto, em 9 de março de 1939. Homem culto, mas de hábitos simples. Sempre bem-humorado e afável, com um cigarro na boca. Depositário de respeito e de confiança, foi tudo o que quis. Historiador, jornalista, acadêmico, procurador do Estado, conselheiro seccional da OAB, desembargador, além de presidente do Tribunal de Justiça do Estado e do Tribunal Regional Eleitoral, onde eu, desde estudante de Direito da Universidade Federal do Maranhão [atualmente dirigida pelo acadêmico/reitor Natalino Salgado Filho], passava nos lançamentos dos livros de Milson, sem imaginar que — um belo dia — integraria aquele tribunal como juiz eleitoral por dois biênios. Muito menos imaginava que, anos depois, sucederia ao grande Milson Coutinho na AML, instituição que presidiu e para qual, muito além daquela foto na galeria de honra, é uma saudade que não cessa. Certamente, Milson foi o maior pesquisador — de todos os tempos — da história das instituições maranhenses. Aqui falo dos poderes legislativo, judiciário e executivo. Escreveu, por exemplo, Apontamentos para a História Judiciária do Maranhão, O Maranhão no Senado, História do Tribunal de Justiça – Colônia, Império, República, A Presença do Maranhão na Câmara dos Deputados, Os 390 anos da Câmara Municipal de São Luís, e Constituições Políticas do Estado do Maranhão. Destaco também as seguintes obras de interesse histórico: Apontamentos para a História do Maranhão, A Revolta de Bequimão, A cidade de Coelho Neto na História do Maranhão, e Fidalgos e barões: uma história da nobiliarquia luso-maranhense, um estudo sobre as famílias tradicionais de nosso Estado. Faleceu aos 81 anos, no dia 4 de agosto de 2020, em São Luís. A saudade de Milson não é maior porque, pouco antes de partir, deixou-nos o seu irmão, Elsior, membro efetivo desta Casa. Os dois, inclusive, parecem-se bastante. Não falo apenas da competência, mas da aparência e do jeito. E, como Milson, Elsior – juntamente a outros irmãos – costumava soltar a voz nas luaradas vida adentro. Os Coutinho, portanto, estão aqui. III – O patrono da Cadeira n. 15 da AML era de São Luís. Manuel Odorico Mendes nasceu no dia 24 de janeiro de 1799, em um belo casarão na Rua Grande. Ainda adolescente, foi estudar em Portugal, onde permaneceu de 1815 a 1824, ano em que retornou ao Maranhão. Além de jornalista, foi um aguerrido político do Brasil Monárquico. Deputado na Câmara do Império por vários mandatos, fazia oposição a Pedro I. Chegou a bradar diretamente ao Imperador que seu compromisso não era com governos, mas com o povo do Maranhão, que o elegera. Mendes era tido como grande orador, além de polemista. Uma forte mistura, para dizer o mínimo. Poeta satírico, ganhou mesmo dimensão no mundo literário como tradutor. São de Odorico Mendes, por exemplo, as primeiras traduções para o português das obras completas de Virgílio e Homero, sendo o precursor da moderna tradução criativa. Depois de uma vida dedicada à política e à literatura, Odorico retornou à Europa. Morou com a família na França, mas acabou falecendo inesperadamente em uma viagem à Inglaterra, no dia 17 de agosto de 1864, em um vagão de trem. Ressalto que vida e obra do meu patrono estão detalhadas em trabalhos acadêmicos do professor Sebastião Jorge, membro desta Academia Maranhense de Letras. Destaco também que o maranhense Manuel Odorico Mendes foi distinguido como Patrono da Cadeira n. 17 dos membros correspondentes da Academia Brasileira de Letras, a Casa de Machado de Assis. Entre os seus descendentes, está o escritor francês Maurice Druon, que inclusive já esteve em visita nostálgica ao Maranhão na companhia de Josué Montello e José Sarney. O saudoso membro da Academia Francesa de Letras era bisneto de Odorico Mendes. – IV – Godofredo Mendes Viana, fundador da Cadeira n. 15 da AML, nasceu na cidade de Codó em 14 de junho de 1878. Estudou no Liceu Maranhense. Depois, foi para a Bahia cursar Direito. Após seu bacharelado, exerceu os cargos de promotor e juiz, até que ingressou na política do Maranhão, Estado que acabou por governar de 1923 a 1926. Em mensagem ao parlamento maranhense, em 05 de fevereiro de 1923, a menos de uma quinzena de assumir o governo, disse que a “educação primária se requer disseminada no Estado, e não quase que centralizada na capital”, época na qual o Estado contava com cerca de 850 mil habitantes. Disse ainda: “não há de ser negada instrução aos nossos conterrâneos, proporcionando-lhes uma educação deficiente e manca.” Godofredo foi também deputado e senador. Como parlamentar e jurista, participou diretamente da redação da Constituição Brasileira de 1934.


Em sua última década de vida, tornou ao magistério, dedicando-se a escrever em jornais do Maranhão e da Bahia, bem como a participar dos trabalhos desta Academia Maranhense de Letras. Dentre os seus trabalhos literários, estão Poemas bárbaros, Musa antiga (poesia), Paixão de caboclo (romance) e Padre Francisco Pinto (novela). Em um de seus sonetos, versa que “A vida é uma canção dolente/Um suspirar em vão de magoa em magoa”. Como ocorre com todos nós, sua vida não foi uma sucessão de vitórias. Consta na ata da AML, datada de 24 de julho de 1916, que Viana então disputou a presidência da Academia com Ribeiro do Amaral, que ganhou a disputa. Viana obteve apenas um voto. Provavelmente, o seu. Faleceu no Rio de Janeiro em 12 de agosto de 1944. Ao norte do Maranhão, no litoral próximo à divisa com o Pará, fica o Município bem denominado de “Godofredo Viana”, onde nascem os godofredenses. –V– O segundo ocupante da Cadeira n. 15 da AML foi José Silvestre Fernandes. Maranhense, nasceu em Arari no dia 1º de agosto de 1889. Sua mãe morreu no parto. Por iniciativa do pai, aos nove anos, veio para São Luís estudar na Escola Normal, o que não o impediu de fundar o primeiro jornal de sua cidade natal, batizado de “A Luz”. Silvestre Fernandes focou sua vida no magistério. Inicialmente, na cidade de Cururupu. Depois, em São Luís. Mais tarde, lecionou na Escola Pedro II, no Rio de Janeiro, então capital da República. Segundo Silvestre “O mestre não pertence a si próprio, integra-se na sociedade em que vive”. Apesar de um tanto gago, o Professor dominava a turma com seu conhecimento. Além de educador, foi um geógrafo prolífico. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Ingressou na Academia Maranhense de Letras em 1948 e aqui foi saudado pelo acadêmico Achiles Lisboa. Escreveu vários livros didáticos adotados nacionalmente. Por exemplo, Cartilha das Crianças, Geografia 1, 2 e 3 e Matemática das Crianças. Como pesquisador, publicou Os sambaquis do noroeste maranhense, O assoreamento da costa leste maranhense e Os semi-deltas do nordeste maranhense. Em Baixada Maranhense, analisou as características geológicas da região. Dentre as suas publicações como literato, destaco Ilha dos Lençóis, divulgada na revista da AML, na qual descreve a influência dos fenômenos da natureza para a formação das lendas do Maranhão. Ou seja, explica como mito e realidade se conectam em nossa terra. Silvestre Fernandes morreu em 1971 no Rio de Janeiro, aos 82 anos. É patrono da Cadeira n. 17 da Academia Arariense de Letras, na cidade onde possui nome de praça com busto em bronze. – VI – Antes de Milson Coutinho, a Cadeira n. 15 da AML era ocupada por José Erasmo Dias. Ludovicense, nasceu em 2 de junho de 1916. Jornalista e crítico literário, Erasmo era o que podemos chamar de “uma figura”. Culto, carismático, audaz, polêmico e irreverente. Tinha pena desaforada nos jornais da época. Ativista da vida literária do Estado, era notívago. Um boêmio inveterado! Presença constante no Bar do Brega, ZMB e Moto Bar. Foi prefeito interino de São Luís. Deputado estadual por dois mandatos. Destemido — no início da carreira — fazia oposição ao poderoso Vitoriano Freire, senador que mantinha, então, a hegemonia política do Maranhão. Erasmo Dias elegia-se, especialmente, pelos discursos eloquentes lançados não somente da tribuna parlamentar, como também da Praça João Lisboa, aqui ao lado da AML. Utópico e sarcástico, sua maior obra talvez tenha sido ele próprio, com sua língua de fogo, que oscilava entre as luzes e as trevas, mesmo entre a sanidade e a loucura fronteiriça dos gênios. O poeta Nauro Machado — a quem tive a satisfação de dar algumas caronas depois de eventos literários — era um de seus amigos íntimos. Descreve-o no livro Erasmo Dias e Noites, publicado postumamente, depois da morte de ambos. Segundo Nauro, “Erasmo Dias personificou como ninguém a concepção do escritor como modelador de atitudes. Seus cacoetes eram imitados, seu estilo existencial moldado no viver perigosamente, saltando sobre abismos na embriaguez dionisíaca do culto báquico, um modelo a ser seguido por todos aqueles que na província tinham por sonho a vocação, quase sempre desmentida, do caminho literário”. Erasmo Dias deixou muitas obras inconclusas, mais por ausência de sistematização do que por falta de inspiração ou de tempo. Das concluídas, escreveu as novelas Rapsódia das muitas Terezas e Maria Arcangela, esta adaptada para o


teatro por Aldo Leite com direção de Reynaldo Faray. Também publicou Páginas de crítica, onde analisa o estilo de alguns expoentes da literatura universal, como Hemingway. O mestre dos Apicuns, já abstêmio e recluso, faleceu em 14 de maio de 1981, não antes de escrever “Tanka para uma partida”, o poema de sua própria morte. – VII – Senhoras e senhores! Neste dia de posse, preciso ratificar a missiva que dirigi aos acadêmicos quando de minha candidatura para a Academia Maranhense de Letras. Hoje, para minha alegria e para meu orgulho, meus confrades. Assim o faço mesmo que com palavras distintas e em circunstâncias diversas, pois não a fim de pedir, mas sim de agradecer pela acolhida neste dia feliz. Prezados acadêmicos! Nem todo escritor de nossa terra formaliza a pretensão de integrar a Academia Maranhense de Letras, mas todos conhecem a Casa de Antônio Lobo, espaço prestigioso na história do Maranhão. Para além da relevância literária, sempre vi, quase como um mistério, as vestes escuras sob as medalhas douradas que têm a imortalidade como conteúdo simbólico. Falo dos autores das obras do robusto acervo maranhense, os quais se tornam, paralelamente, guardiões de nossa memória intelectual. Sempre me despertou respeito a liturgia por detrás daquelas cortinas vinho que se abrem ao público, revelando não só a anfitriã de lançamentos, posses e outras solenidades de cunho cultural, mas também a erudita educadora secular, que guarda o acervo original do pensamento e da arte maranhense. Meus amigos! Sinto que hoje, realmente, o tempo bate na porta de minha vida, na qual compartilho sonhos com Priscila, Beatriz e Valentina. Ao longo de quarenta e quatro translações, estudei, pelejei e ousei ganhar mundo sem me desgarrar do Maranhão. No vai-e-vem dos caminhos, tive o prazer de publicar livros, de participar dos eventos e de conhecer os membros desta Casa de Antônio Lobo, onde honrado ingresso disposto a colaborar com sua importante missão institucional. Então, eis-me aqui! Com os nós da garganta e da gravata; e, ainda, com aquele gosto de leite condensado na saliva das perspectivas. Muito obrigado!

DISCURSO DE RECEPÇÃO DO ACADÊMICO DANIEL BLUME POR SONIA ALMEIDA, CADEIRA Nº 20 Eu vi um menino correndo eu vi o tempo brincando ao redor do caminho daquele menino.1

Senhoras e Senhores, Recebo, nesta noite de 2 de dezembro de 2021, para a Academia Maranhense de Letras – na condição de confrade Daniel Blume Pereira de Almeida. Para a maioria, Daniel Blume, para poucos – Daniel, a quem eu recebi, sob o propósito de Deus, no dia 27 de outubro de 1977. Faço-lhes uma breve apresentação baseada nos fatos que palmilham suas conquistas, ao longo de seus 44 anos: filho primogênito de Djalma Almeida e Sonia, Daniel é, pelo lado materno, neto de Josely Pires Pereira e Carmelinda Correa Pereira e sobrinho das manas Pereiras – Alzira, Conceição, Helena, Eliane e Ana Maria. Pelo lado paterno, neto de Agostinho Moura de Almeida e Daisy Nellie Blume de Almeida e sobrinho de Ana Maria Blume de Almeida. O casamento de seus pais lhe deu seus irmãos, Rafael e Danilo, e todos os que eles acrescentaram à família: Rossana, Rafael Aboud e Lara Aboud; Tirza e Caio Blume, respectivamente. Ele chega aqui com Priscila, Beatriz e Valentina Blume, sua família. Daniel Blume carrega consigo o perfil de quem associa disciplina à paixão pelo que faz. Tem renitente determinação. Uma pulsão de vida intensa que contamina os mais próximos a vigiarem cada projeto seu. Vive policromando o estilo de fazer direito. Depura do deserto deste mundo, das travessias jurídicas e das experiências pessoais e sociais, uma


espécie de travessura verbal que chega ora da inicial, ora do penal, ora do que se esconde na formalidade do terno, que encobre – em suas noturnas delações - a ternura, mas não necessariamente a elimina. Largo meu mundo parado na esquina das palavras enquanto me desgoverno nas cruzadas de páginas² Daniel Blume insiste, mas suas delações não o deixam ocultar totalmente o riso que gerou seu poema. Riso terno, às vezes, mas também de um risível que ora vem do humor, ora da acidez de um olhar crítico afinado e atento ao que desafina. Onde estão meus pais? Também não me encontro mais.3 É advogado e jurista por vocação. Essa escolha por temperamento chega com o tempero do cronista da cidade e do poeta. Poeta sim - que toma seus banhos de palavras e vai lavando as surpresas dos dias. Deixa escorrer pelo ralo dos sentidos tudo o que não pode entrar para a coleção do vivido. E vai inventando, tratando acontecidos por dizeres – em prosa ou em verso. Fica com as palavras, compartilha-as, publica-as, deixa-as na gaveta, ou rasga-as. Transformaas em lixo reciclável ou em material fertilizante. Mas livra-se do nó. Da garganta. Da gravata? Nunca. Daniel Blume cursou Direito na UFMA e se especializou em Processo e Direito Eleitoral pela Faculdade Cândido Mendes. Cursou Harmonização do Direito na Europa e o Papel da Advocacia Pública, na Universidade de Roma II. É Mestre e doutorando em Ciências Jurídicas pela Universidade Autônoma de Lisboa. Advogado, Daniel Blume é inscrito tanto na Ordem dos Advogados do Brasil, quanto na Ordem dos Advogados de Portugal. É Procurador do Estado do Maranhão de carreira. Conselheiro Federal da OAB pelo MA, por três mandatos. Presidente da Comissão de Direito Lusófono da OAB Nacional. É membro efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros. Foi Presidente da Associação dos Procuradores do Estado do Maranhão por dois biênios. Foi Juiz do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, por dois biênios. Faço referência a duas publicações solo na área do Direito: Natureza Jurídica das Decisões dos Tribunais de Contas4 e Omissão Legislativa e Covid-19: responsabilidade civil do Estado no Direito português comparado ao brasileiro.5 (Neste livro, em especial, há uma ponderação importante: em tempo de covid, houve quem fosse preso por estar fora de casa, mas havia ali, não discutido, um direito constitucional ferido: o da liberdade de ir e vir, pela omissão do Estado, na impossibilidade gestora de garantir mesmo um leito, quanto mais um respirador.) Daniel Blume é organizador e coautor dos livros: Aspectos Polêmicos do Direito Constitucional Luso-Brasileiro6 e Aspectos Polêmicos do Direito Penal Luso-Brasileiro.7 Quanto ao reconhecimento de seu mérito na área jurídica, Blume recebeu, dentre outras: A Medalha do Mérito Judiciário Antônio Rodrigues Velozzo do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão; A Medalha do Mérito Legislativo Manuel Beckman da Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão e O Troféu Mérito da Advocacia Raymundo Faoro da OAB Nacional. Fica difícil, então, separar o jurista do poeta. Ambos se condensam em um nó que guarda outro nó, aliás, outros nós: o da gravata e o da garganta. É um limite que só consigo ver abstraindo contextos: letras, direito, filosofia, política. Porque a poesia em Daniel Blume associa discursos: ousa pensar ternura por meio do terno, debaixo do qual o coração não se esconde. E por aí ele vem dizendo: Prestes a reunião, lembro do julgamento: o coração bate


como quando o telefone de casa grita na madrugada. Antes da tribuna, absolutamente seguro, a situação estava sob controle. Depois, o papel fica ao encargo de outros nós.8 Na literatura, além de crônicas esparsas publicadas em jornais da cidade, Daniel Blume é: Poeta premiado, nacional e internacionalmente, autor das obras Inicial: entre o nó da gravata e o da garganta9, Penal10, Resposta ao Terno11 e Delações12. (Inicial e Penal foram traduzidos para o Espanhol. Resposta ao Terno, para o Espanhol, Italiano e Francês); Membro Titular do PEN Clube do Brasil por indicação do Acadêmico e Ex- Presidente da República José Sarney; Atual Presidente da Academia Ludovicense de Letras, onde ocupa a Cadeira nº 15; Poeta agraciado com o Prêmio Moacyr Félix da União Brasileira de Escritores, na categoria Poesia, em 2018. Com o Troféu Talentos Helvéticos na Categoria Poesia, em Genebra (2020) e com o título de Expressão Nacional da Academia Internacional de Cultura – Brasília, 2019; Cidadão Honorário da Cidade do Rio de Janeiro. Autor de diversos artigos na área do Direito. Lendo a obra poética de Blume, na direção de onde fica alguma poderosa caneta - material ou politicamente falando - o homem é, independentemente da posição que ocupe, “pobre, cego e nu”. Toda realidade é penal. Porque é dada à pena que escreve e, na maioria das vezes, pune. A poesia em Blume é libertadora de um poeta que, se não vomitar pela poesia, morre e, se não caricaturar verbalmente os personagens deste mundo, perderá – para sempre – a ternura. E as iniciais são escritas todos os dias. E reiniciadas muitas vezes quando a noite chega com suas delações. Então, vaise a ternura e vem o riso com seus vários matizes: ou da delação de algum espanto provocado por certa e intocável beleza, ou pelo ridículo do mundo que pode estar completamente fora dos grandes conflitos, feito na normalidade cotidiana dos processos. Entre a prosa da lei e as possibilidades de interpretação; na filosofia das doutrinas que alerta para a visão dos sonhos e os ideais poéticos da busca incessante da justiça, o poeta, muitas vezes, fica esgotado diante das reais relações humanas. Cem cenários no olhar. Sem sentido de sorrir. Sem força. Sem centro: Perdido.13 Mas o poeta não cede. Acredito que, por isso, Daniel vai militando pelas palavras, escrevendo no campo jurídico, colecionando ideias em organizações de textos publicados, polvilhando aqui e ali a vida com crônicas da cidade que despertam a nova história tecida por cada um, no vai-e-vem de todos os dias. Dependendo de seu estado de humor, Daniel Blume vira um prosador do cotidiano da cidade, até que outra noite chegue para acordá-lo. Debaixo do sol a pino, o advogado sua as rusgas da humanidade. Às vezes nos parece longe. Mas por onde quer que ande, muitas vezes em Brasília ou na PGE, ou no escritório, ou na biblioteca, lendo e escrevendo sem gostar de ser interrompido, nutre a certeza de que está ali preparando banquetes como este que nos está sendo servido por Deus, nesta noite de vitória. Senhoras e senhores, permitam-me testemunhar, sem trocar de tom, o banquete de que estou sendo servida nesta noite: se não fosse o Deus que eu sirvo, vivo e fiel, que tem nome e poder e se chama Jesus Cristo, grandes coisas não nos aconteceriam e não estaríamos tão alegres hoje. Desejamos o salto, mas é Ele quem decide o momento exato de saltar. Daniel saltou fora das próprias asas verbais e aterrissa aqui hoje, neste acontecimento, também intelectual e também poético.


Chego até aqui em um processo de recepção, contendo a poesia que paira sobre a essência deste evento. Mas, mesmo como confreira a partir de agora de Daniel Blume, estaria aqui encenando, em nome da formalidade acadêmica, uma frieza que não sei viver: minhas mãos estão geladas como se ouvisse a melodia do tempo, no profundo silêncio da história. Portanto, creiam, senhoras e senhores, que daqui de onde estou assistindo a esta proeza divina; daqui desta tribuna, como diz a música de Gonzaguinha que já ouvi tanto, “palavra por palavra, eis aqui uma pessoa se entregando”14. Senhoras e Senhores, permitam-me o devaneio: estando aqui, abrindo minha garganta, essa força é tanta, que tudo o que eu estou dizendo agora é e será - até o fim - o que eu estou vivendo. Deve haver brilho nos meus olhos, porque há tremor nas minhas mãos e meu corpo todo – inteiro - transborda gratidão.15 Este evento é um acontecimento existencial, todo coletivo, mas essencialmente particular. E não tenho como fugir desse fato, nem como não transcender a ele. Caetano sopra na minha inspiração: “eu vi o menino correndo, eu vi o tempo, brincando ao redor do caminho daquele menino”. 16 Senhoras e Senhores, “a vida é amiga da arte”, é alguma das partes que Deus ensinou, dessa força estranha, tamanha. É que eu vivi “a mulher preparando outra pessoa e o tempo parou pra eu olhar para aquela barriga”. Hoje o tempo está parado, e eu continuo vendo o menino correndo, continuo vendo o tempo brincando ao redor do caminho daquele menino Daniel, no homem Daniel Blume. Essa força divina é tamanha.17 Aqui, diante do tempo, percebo, nos muitos cabelos brancos na fronte dele, que o tempo não parou. É verdade: o menino não envelhece. Nunca envelhecerá. Trata-se de Daniel em Daniel Blume. De Daniel Blume em Daniel. Tenho que recebê-lo hoje: jurista, cronista, poeta, pesquisador, acadêmico da AML, enquanto escuto choro de recém-nascido na alma e o canto de minhas expectativas. O que será se mistura com o que está sendo. As minhas ponderações, com o imponderado. Sou o passado vendo o futuro ser hoje. Esse futuro do passado no presente me assombra de alegria. Onde o sonho? Onde a ficção? Onde a realidade? Onde o merecimento? No inexplicável. “[...] Na nossa última palavra perfeita que contém “uma essência do evangelho como uma gota de água pode conter a imagem do sol.” No milagre. Na graça, o favor imerecido.18 Por isso a força de Deus me leva a dizer que há esta força estranha e tão íntima no ar. Por isso é que eu canto. Porque não posso dissimular essa minha voz tamanha para este discurso de recepção. Pari o menino que permanece no homem. Daniel Blume, teu nome, a partir de agora, estará na história cultural do nosso Estado. Honra a medalha, sem esquecer de que o que vale ouro não é a medalha. É o coração. Este é um parâmetro para entenderes que a imortalidade deste mundo tem telhado. Que teu nome esteja escrito no livro da vida.19 Senhoras e Senhores, ouço uma batida na porta dos fundos de uma casa lá no Maranhão Novo. Enquanto isso, recebo - na Academia Maranhense de Letras “esse menino, filho de Djalma e Sonia”: procurador de carreira, jurista nacional, poeta, cronista, autor de publicações literárias e jurídicas, pesquisador, o qual passa a ser, a partir de agora, Daniel Blume, o imortal da AML. Sê bem-vindo, confrade, à casa de Antonio Lobo.

NOTAS E REFERÊNCIAS 1Força Estranha de Caetano Veloso, em 1978. (http://museudacancao.blogspot.com/2012/11/forca-estranha.html) 2BLUME, Daniel. Delações. Cabo frio - RJ: Helvetia Edições, 2020, p. 22. 3 BLUME, Daniel. Resposta ao terno. São Luís: Belas Artes, 2018, p. 24. 4BLUME, Daniel. Natureza jurídica das decisões dos tribunais de contas. Imprenta: São Luís, [s.n.], 2003. 5BLUME, Daniel. Omissão Legislativa e Covid-19: responsabilidade civil do Estado no Direito português comparado ao brasileiro. Brasília: OAB Editora: 2021. 6BLUME, Daniel & COSTA, Thiago Branner Garcês (orgs.). Aspectos Polêmicos do Direito Constitucional Luso-Brasileiro. Lisboa: Legit Edições, 2019. 7 BLUME, Daniel & COSTA, Thiago Branner Garcês (orgs.). Aspectos Polêmicos do Direito Penal Luso-Brasileiro. São Paulo: Garcia Editioni, 2019. 8 BLUME, Daniel. Inicial: entre o nó da gravata e o da garganta. São Luís: AML, 2009, p. 26. 9BLUME, Daniel. Inicial: entre o nó da gravata e o da garganta. São Luís: AML, 2009 10BLUME, Daniel. Penal. São Luís: AML, 2015


11BLUME, Daniel. Resposta ao terno. São Luís: Belas Artes, 2018 12BLUME, Daniel. Delações. RJ Cabo Frio: Helvetia Edições, 2020. 13BLUME, Daniel. Inicial: entre o nó da gravata e o da garganta.São Luís: AML,2009, p.34. 14Gonzaguinha. Sangrando. 1980 (https://www.youtube.com/watch?v=5Iz7HkbLXqM) 15Gonzaguinha. Sangrando. 1980 (https://www.youtube.com/watch?v=5Iz7HkbLXqM) 16Força Estranha. Composição de Caetano Veloso, em 1978. (http://museudacancao.blogspot.com/2012/11/forca-estranha.html) 17Força Estranha. Composição de Caetano Veloso, em 1978. (http://museudacancao.blogspot.com/2012/11/forcaestranha.html) 18Romanos 6: 8-13 18YANCEY, Philip. Maravilhosa Graça. Vida: Prazer, Emoção e Conhecimento. Tradução de Yolanda M. Krievin. São Paulo: Editora Vida. 1999 19 Apocalipse 20: 11-15


CADEIRA 16 ANTÔNIO BATISTA BARBOSA DE GODOIS

AYMORÉ DE CASTRO ALVIM FUNDADOR


O TEATRO NO AMBIENTE CULTURAL DE PINHEIRO AYMORÉ ALVIM Desde o início do Movimento Cultural de 1920, Pinheiro passou por uma série de transformações, principalmente, no seu ambiente artístico-cultural. Foram criados a Loja Maçônica Renascimento de Pinheiro, o Jornal Cidade de Pinheiro, a Biblioteca Popular, o jornal A Vanguarda, os teatros Guarany, Santo Inácio e São José, o Rádio Clube Pinheirense, o Cassino Pinheirense, o Salão do Cinema além de cursos de primeiro e segundo graus. Não podemos esquecer, contudo, a fundação de times de futebol, o esporte preferido por todos, times de Voleibol e Basquetebol. O bumba-meu-boi, reisados, festa do Divino, tambor de crioula e pastorais eram manifestações que já existiam antes de 1920, mas que receberam incentivos e ainda fazem parte do Calendário turístico-cultural do município. O importante desse Movimento foi que, ao mesmo tempo, se preocupou em atender os diferentes segmentos sociais da cidade recém-criada e preservar essa riqueza já existente. De todas essas atividades, destacamos o teatro como instrumento importante, no campo educacional, pois amplia o conhecimento e ajuda na formação da cidadania pela contribuição que dá, principalmente, às crianças e aos jovens para o seu desenvolvimento intelectual e expressão dos seus sentimentos e emoções. A primeira casa dessa arte milenar, em Pinheiro, antecedeu o movimento de 1920. Na segunda metade da década de 1910, José Cruz Lima e esposa, dona Santa, criaram o “Recreio de Maria”, um salão, na própria residência, onde eram apresentados dramas, comédias, pastorais por crianças e jovens de ambos os sexos. Mas foi a partir do Movimento Cultural que as atividades teatrais foram consolidadas. Foi criado o Teatro Guarany, instalado, na Rua Siqueira Campos, em frente ao atual Patronato São Tarcísio. Na sua inauguração, em 22 de janeiro de 1922, foi levado ao palco o drama bíblico Esther, dirigido pela professora Raimunda Nogueira. Do elenco participaram as senhoritas Naíza Sousa, Zirza Jinkings, Inah Guterres, Rosalina Castro, Alice Guterres Sousa e Inez Frazão. Em maio desse mesmo ano, o Teatro voltou a abrir suas portas com a comédia “Chalé à beira da estrada” com interpretação a cargo dos jovens artistas: Benedito Durans, Alcides Reis, Antônio Beckman, Ulysses Durans, Cândido Castro, Antônio Durans, Ataliba Ribeiro, Paulo Soares e os cantores de fados e sambas Alice e Waldemir Guterres Soares. Com o desaparecimento do Teatro Guarany surgiu o Teatro Santo Inácio, fundado, em 25 de março de 1925, cuja sede ficava, na atual Avenida Getúlio Vargas, onde se encontra o Armazém Paraíba. Coronel Libório foi a peça inaugural. Era uma comédia escrita, produzida e dirigida por Waldemir Soares que, também, atuava como ator juntamente com o seu grupo formado pelos jovens: Benedito, Antônio e Ulysses Durans, Paulo Castro, Raimundo Soares, Vicente Costa, Odim e Ernani Leite e Carlos Pimenta. Outras iniciativas que ocorreram, na segunda metade dessa década, foram promovidas por dona Izabel Fialho Felix com o apoio do pároco, padre Severo, por dona Fausta Abrão e pela Sociedade Cívico-Teatral Pinheirense, fundada em 1925. Tudo isso reflete a boa atmosfera criada pelas artes que envolvia o povo de Pinheiro.


A década de 1930 foi, também, muito fecunda em artes, educação e cultura. No local onde está, atualmente, o Grupo Escolar Odorico Mendes, na Praça da República, foi instalada, em 1933, a primeira sala de cinema pela Empresa Felix & Frutuoso. Com o desaparecimento do Cassino Pinheirense, um grupo de cidadãos, tendo à frente Dr. Antenor Abreu e Izidoro Pereira, criou, no local onde funciona o atual Forum, o Clube Recreativo Pinheirense que além das festas que oferecia, abriu espaço para o teatro. Lá foram representadas pastorais e comédias de cujo elenco participaram várias senhoritas da sociedade local como Alcinda e Lucinda Gomes, Inez de Castro, Maria Rosa Serra, Fausta Gomes, Nice Peixoto, Ondina Castro e outras. Na área de esportes, apoiou as primeiras iniciativas de criação de times de basquete e volley-ball para os quais chegou a construir quadras, nas suas dependências. Com a segunda guerra mundial, houve uma parada do movimento que só retornou, em fins da década de 1940, com os trabalhos realizados pela professora Olga Leitão, no Grupo Escolar Elizabetho Carvalho, que funcionava na atual Avenida Presidente Dutra onde se encontra um Templo Evangélico. Nos anos de 1950 e 1960, as atividades teatrais prosseguiram, no Colégio Pinheirense cujas peças eram dirigidas pela Sra. Maria Ewerton dos Santos, no teatro da Casa de Paulo de Tarso sob a direção da Sra. Benedita Castro e pelos estudantes quando em férias que eram dirigidos pelo padre Luís Zechinatto. Estas reminiscências devem servir de estímulo aos agentes públicos e educadores de Pinheiro, para que dêem prosseguimento ao teatro local pela importância que tem, no desenvolvimento e na formação cultural e artística da criança e do jovem, em face do exemplo que nos foi legado pelos nossos antepassados.


PINHEIRO E O SEU CENTRO CULTURAL AYMORÉ ALVIM As repercussões positivas, no pós-guerra, dos frutos produzidos pelo Movimento Cultural Pinheirense, em 1920, começam a ressurgir, em março de 1959, com a fundação do Centro Cultural da Mocidade de Pinheiro. Transcorriam as férias do final do ano de 1958. Alguns dias após haver chegado a Pinheiro, recebi a visita do Tenente da Aeronáutica Oliveiros de Assunção Castro também conhecido por Olí de Castro que havia implantado, há alguns anos, o Centro Espírita Pinheirense. Discorreu ao longo da sua conversa sobre a importância para a juventude local da criação de uma instituição cultural que lhe propiciasse o aprimoramento intelectual, nas letras e nas artes, em todas as suas expressões sobretudo de caráter literário, moral, educacional, social, artístico e científico através de palestras, debates , conferências, etc. Falei a ele sobre a possibilidade de tal realização, mas eu queria aguardar outros colegas que estudavam em São Luís e que estavam chegando para as férias. Enquanto isso, comecei a conversar com Abraão do Carmo Cardoso, Aderaldo dos Santos Alves, Francisco Reis Castro, aos quais ia expondo a ideia do Tenente Oli de Castro e de todos recebi o incentivo e apoio para prosseguir na busca de mais adesões. A este grupo inicial se juntaram depois os estudantes Jurandy Leite, Edméa Machado Carvalho e Eldonor Peixoto Cunha. Após as primeiras reuniões, a ideia ficou consolidada e, assim, parti para convidar outras pessoas que viessem dar maior representatividade ao movimento. Procurei conversar com o próprio Oli de Castro, com o padre Luís Zecchinato, o poeta e professor Abílio da Silva Loureiro, com os Srs. Francisco José de Castro Gomes e Edésio Castro, funcionários públicos do IBGE, com a Professora Darly Dalva Durães e com a poetisa e professora Maria Carolina de Moraes. Em meado de fevereiro de 1959, houve uma reunião com todos os membros para as providencias finais. Foram encaminhadas várias propostas para nomear a nova instituição, ficando por fim aprovada a de Centro Cultural da Mocidade de Pinheiro apresentadas em conjunto por Jurandy Leite e Abraão Cardoso. Prosseguindo apresentei a proposta do Estatuto social que também foi aprovada e, assim, foi eleita uma Diretoria provisória, que deveria ficar até julho desse mesmo ano, assim constituída: Presidente-Aderaldo dos Santos Alves, VicePresidente – Almir da Silva Soares, 1ª Secretaria – Darly Dalva Durães, 2ª Secretaria – Abílio da Silva Loureiro, Tesoureiro - Eldonor Peixoto Cunha e Bibliotecário – Abraão do Carmo Cardoso. Por fim, ficou estabelecido que a sessão de fundação e posse da Diretoria ocorreriam, no dia 8 do mês seguinte, às 10:00h, na sala de reuniões da Biblioteca de Geografia e História de Pinheiro. Com a presença de autoridades civis e religiosas, ocorreu como havia sido aprovada, a sessão solene de fundação que foi presidida pelo Promotor Público, Dr. Francisco de Souza Coêlho tendo como Secretária “ad hoc” Edméa Machado Carvalho. Aberta a sessão e executado o Hino Nacional, ocorreu a solenidade de posse dos novos diretores da entidade. Logo a seguir, discursou enaltecendo a efeméride o poeta Abílio Loureiro que foi sequenciado pelo Tenente Oli de Castro e Padre Pedro Tidei que executaram belas canções ao acordeom. Coube a mim declamar do poeta português Guerra Junqueiro a poesia “A Caridade e a Justiça”.


Por fim, discursaram destacando a importância da fundação do Centro para a mocidade de Pinheiro. o Padre Luís Zecchinato e Jurandy Leite. Infelizmente, o Centro Cultural da Mocidade de Pinheiro teve vida efêmera. Quando retornamos para as férias de julho já não mais existia. No entanto, foi mais uma experiência vivida pelos jovens pinheirenses que não devem se frustrar com tais percalços, mas prosseguir com denodo na luta pelo desenvolvimento cultural, literário e artístico da nossa cidade com vista às gerações futuras. Tudo por Pinheiro! *Fonte: Ata de fundação do Centro Cultural da Mocidade de Pinheiro, em 8 de março de 1959.


PAVOR E SANGUE NA NOITE EM TERESÓPOLIS. Aymoré Alvim A fazenda Teresópolis fica em terras do município de Peri-Mirim, na borda do campo do Pericumã, distante alguns quilômetros, no sentido nordeste, da cidade de Pinheiro. Inicialmente, foi ali desenvolvida pelo seu proprietário, Sr. Antônio Souza, uma próspera agro-indústria com ênfase na produção de açúcar de cana. Depois, passou por alguns outros donos e, atualmente, é apenas uma fazenda de criação de gado. O destaque histórico que lhe vem sendo dado pela curiosidade popular, desde as primeiras décadas do século passado, é devido ao fato de ter sido palco de uma das mais violentas incursões do banditismo que proliferou, nessa época, na Baixada Maranhense. Desafiando a segurança pública, na Região, bandos armados apavoravam fazendeiros e moradores, invadindo suas propriedades, saqueando-as e matando com extrema crueldade quem se interpusesse às suas ações. Destes grupos, o mais temido era o do perigoso e violento Tito Silva. Naquela fatídica noite que se perde, nos últimos meses de 1921, um pesado silêncio caia sobre a fazenda Teresópolis. Calmo ninguém estava, pois o dono era um dos desafetos do facínora que lhe jurara vingança. Após o jantar, alguns vaqueiros e outros serviçais trocavam um dedo de prosa, na sala do andar térreo da casa principal da fazenda. O assunto, como sempre, girava em torno dos crimes que grupos de bandoleiros armados vinham praticando, na região. Relatos dessa época deixados, principalmente, pelo Tenente Francisco de Araújo Castro, o Chico Castro, então Delegado de Polícia de Pinheiro, e pelo Juiz de Direito local, Dr. Elizabetho Barbosa de Carvalho, contam que por volta das nove horas daquela noite os bandidos invadiram a casa grande, atirando para todos os lados. Os empregados apavorados se dispersaram buscando proteção contra as balas. Um deles ao tentar subir as escadas foi, mortalmente, baleado. Outros, no entanto, escaparam e correram até Pinheiro, chegando à casa do delegado lá pelas vinte e três horas. Muito cansados, tentaram relatar o que presenciaram, sem contudo saber o que realmente havia acontecido. De imediato, com o delegado Chico Castro, todos rumaram para a casa do Juiz. Ali, as duas autoridades planejaram algumas medidas que pela urgência o caso exigia. Na primeira hora da madrugada, o delegado à frente de soldados e de vários voluntários em armas, reunidos à ultima hora, chegaram a Teresópolis. Chico Castro entrou e logo, no andar térreo, foi encontrando alguns corpos. Subiu ao andar superior e se deparou com o corpo do fazendeiro Antônio Souza ainda na rede onde antes repousava. Mais adiante, no mesmo andar, estavam os corpos de uma criança e de uma senhora paralítica, já avançada em idade, que moravam na casa. Ruídos, em um quarto ao lado, chamaram a atenção do delegado. Pela janela, retirou o filho do proprietário, o jovem Lauro Souza e um amigo seminarista de nome Pitágoras que ali se encontrava a passeio. Disseram não ter visto nada. Assim que ouviram os tiros, pularam a janela e se esconderam no telhado.


Os primeiros depoimentos ali tomados dos sobreviventes que, pouco a pouco, iam chegando, dão conta de que o bando era do Tito Silva e que a motivação era vingança. O delegado deu, então, ordens para que fossem recolhidos os corpos e levados para Pinheiro para serem sepultados. Pela manhã, ainda sob o impacto emocional da noite passada, chegou a notícia de que o bando, logo após a chacina, rumara para Cabeceiras, hoje, Bequimão, onde Tito Silva foi ajustar contas com um comerciante e delegado do local por nome José Castro. Após haver sido acordado juntamente com a família, foi levado para a via pública e ali assassinado. Por fim, dizem que o Tito Silva cortou-lhe uma das orelhas e a levou consigo. Esse foi mais um problema, no complicado ambiente político-social da Região, naquela época, que exigia solução imediata por parte das autoridades. Rixas, ambições, rancores e mágoas foram os fortes ingredientes que alimentaram as atividades desses facínoras que espalharam, naquelas populações, pavor e ódio, em cujo epicentro está Teresópolis, pela frieza e covardia com que manifestaram sua agressividade e expressaram toda a sua violência. Tempos depois, chegou a Pinheiro a notícia de que outro bando, comandado por João Mole, prendeu Tito e o entregou às autoridades. Transferido para São Luís, o mesmo foi recolhido à Penitenciária e, pelo que falam os mais antigos, ninguém mais soube do seu paradeiro. Algumas outras diligências levaram as autoridades de Pinheiro a desmantelar os últimos grupamentos de bandidos que operavam, nas proximidades do Bom Viver, fazendo, assim, que a paz e a tranqüilidade voltassem à cidade e ao seu povo


ROMPENDO O SILÊNCIO!!! JEAN -PIERRE ALVIM FERREIRA

Moema de Castro Alvim, nasceu em 22/08/1942, na cidade de Pinheiro/MA, filha de José Paulo Alvim e de Inés Castro, numa família composta por mais quatro irmãos,meus tios a quem eu só tenho, muito orgulho,admiração,respeito e amor. Obrigado tios por tudo: Tatiana Loureiro Matias, Cleuber Cláudio de Castro Loureiro, Aymoré de Castro Alvim( Patriarca) e José Paulo Filho Alvim. Casada com Francisco Sousa Ferreira, o grande artista plástico Fransoufer, do qual foi sua companheira, além musa inspiradora e incentivadora em sua andança pela vida. Minha mãe colecionou vários títulos durante sua inesquecível existência aqui na Terra. Foi Farmacêutica,pesquisadora,sendo a primeira Professora da Universidade Federal do Maranhão a ter Mestrado em Parasitologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, fundadora da Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências (APLAC), sendo também filha, irmã, esposa, madrinha, afilhada e mãe. E que Mãe! Algumas pessoas dizem que Deus manifesta-se através do outro. A maior experiência que tive na vida foi perceber a manifestação divina através da minha mãe, de uma maneira tão linda e genuína, que será para mim uma tarefa extremamente desafiadora traduzi-la em palavras neste momento em que a saudade aperta forte o meu peito. Mas eu tentarei resumir estes trinta e quatro anos da minha vivência com ela. Das coisas que soube sobre minha mãe antes de eu nascer, foi o fato de ela sempre ter sido uma aluna exemplar, e que minha avó tinha muito orgulho por ela ser a primeira da turma, destacando-se desde o início dos seus estudos, no Ginásio Pinheirense e no Colégio Santa Teresa, acompanhando-a em sua vida acadêmica e até os seus últimos dias de vida. Eu sou filho adotivo, fato este que nunca foi um empecilho ou algo negativo, que trouxesse algum tipo de dúvida para a nossa relação familiar. Pelo contrário, na verdade esta questão de eu ter sido adotado foi um grande trunfo que eu tive na vida, pois alguns do meus amigos presentes nesta cerimônia diziam: "Jean Pierre, tu és o mais amado de todos nós." Porque o amor dela por mim era algo sem precedentes. Dentre as minhas lembranças da infância, eu lembro que fui uma criança que sempre gostou muito de futebol. No dia do meu aniversário de oito anos, ela comprou um uniforme completo de um time (camisa, calção, meião e a bola) e falou: "Pronto, agora você é o dono do time." Era simplesmente fantástica a maneira como minha mãe me amava. Eu lembro que tivemos que morar um período em Minas Gerais, pois ela foi fazer o seu Mestrado, sempre com muita excelência e louvor. E, como qualquer famílía de classe média, fomos ascendendo socialmente. Nasci e fui criado no bairro de Monte Castelo, um bairro de clásse média de São Luis, no final da década de


70, depois mudamos para Turu e, posteriormente, fomos morar numa casa no Alto do Calhau até chegarmos no resnasença.Nos meus 15 anos, maioria dos meus amigos ganhou uma viagem para os Estados Unidos, só que ela e meu pai decidiram dar-me um presente inusitado: uma casa. Além de já estarem pensando em assegurar minha moradia futura, como também em criar um ambiente propício para eu que recebesse os meus amigos. E por muitos anos esta casa foi o cenário de muita alegria, diversão e boas risadas. Ela conhecia todos os meus amigos pelo apelido, bem como os pais e a história da família de cada um, demonstrando mais uma vez a sua habilidade em criar e manter laços de afetividade e respeito com o outro ser humano, bem como revelava a sua memória invejável. Pois apesar de eu não ter tido irmãos biológicos, a vida me presenteou com os melhores amigos que um ser humano pode ter. Eu não vou citar nomes, para não cometer nenhuma indelicadeza, mas meus olhos conseguem enxergar muitos aqui presentes, sem a ajuda dos quais eu não poderia estar aqui hoje. O meu sentimento por vocês, meus queridos, é o da mais sincera gratidão. Juntamente com meu pai, ela sempre foi uma incentivadora para que eu despertasse para o universo da leitura e do conhecimento. Estudei no Colégio Marista de São Luis, um dos melhores da cidade, e posso dizer que tive acesso ao melhor que meus pais puderam fazer por um filho. Eu tive tudo o que uma criança pode querer, principalmente no que se refere ao amor e, dentro do possível, as questões materiais. Tive a oportunidade de estudar inglês em Londres, local onde pude manter contato com um outro tipo de educação e aspectos culturais. Fiz faculdade na cidade do Rio de Janeiro, onde morei durante quatro anos. Estudei também na PUC em Campinas/SP. Tudo isso porque minha mãe sempre acreditou que a educação era o único caminho para se fazer uma melhor trajetória pela vida. Infelizmente, eu não consegui na época entender e mesmo absorver todos os ensinamentos que ela quis me passar. E, por volta dos meus vite e poucos anos de idade, num determinado momento da minha vida, eu fiz escolhas que não estavam ligadas a todo esse amor e zelo que recebi dos meus pais. Não é segredo, tampouco motivo de vergonha, os problemas que tive com drogas desde a adolescência, e agravaram-se ao ponto de eu precisar de ajuda. Este momento foi talvez o mais difícil que enfretamos juntos. Lembro da minha mãe dizendo: “Filho, as únicas coisas que fiz na minha vida foram estudar e trabalhar, mas te confesso que eu não me preparei para este problema que se abateu em nossa família.” Mas, como não poderia ser diferente, ela recebeu todo o apoio que necessitava naquele momento para poder enfrentar a situação. Gostaria de agradecer ao Sr. Rui Luna e a Professora Regina Luna que na época foram as pessoas que estendera-na as mãos, pessoas a quais ela fora extremamente grata. Registro meu muito obrigado aos Tios Rui e Regina, bem como meu parinho Antonio Gaspar, Anrea Pires, Ozinete, Josilene meu estimado e amado primo Bruno Alvim. Estendo inclusive a todos os outros que direta ou indiretamente ajudaram-me na busca da recuperação. Minha mãe nunca se envergonhou de tudo o que passei ou mesmo desistiu de mim. Não era de sua natureza desistir. É evidente que foi muito doloroso para meus pais ver o único filho sofrer os terrores de uma adicção, tendo que lidar com o sentimento de impotência perante a esta situação. Aos 60 anos de idade, ela levantou esta bandeira e foi atrás de estudar e aprender sobre a dependência química, bem como as formas de tratamento existentes para poder ajudar-me. Meus pais gastaram o que tinham e o que não tinham para me salvar, desde a contratação de Tratamentos em São Paulo e Fortaleza, e tudo o mais que foi possível fazer para que passássemos esta fase juntos. Em meus piores momentos de crise e dor, ela olhava-me nos olhos e dizia que que iria me curar pela força do amor. Iria alimentar-me e manter-me vivo porque tinha certeza de que um dia ela me veria vencendo esta batalha. Só por hoje, ela viu. Estou vencendo as drogas um dia após o outro e encontro-me limpo. Sou um Técnico em Dependência Química e trabalho como terapeuta numa instituição de referência em Fortaleza/Ce. E se algo hoje pode reconfortar o meu coração é o fato dela ter vivido este momento da minha vida e poder ver minha vitória diária. Posso não carregar em meu ser a contribuição genética dos meus pais, contudo herdei de Dona Moema a educação, a paixão pelos livros e pela cultura, o amor pela vida e o respeito ao próximo e, sobretudo, o humor. Em vários lugares em que fui e apresentei-me como filho da Professora Moema, deparei-me com as portas sempre abertas, em sinônimo de respeito à sua ombridade. Atualmente, destaca-se na mídia o fenômeno


social da ostentação, que está muito ligado a uma forma de alguém exibir ao outro as suas posses materiais. Para a minha mãe, ostentação era utilizar corretamente a língua portuguesa, ter lido obras literárias, conhecer sobre a história e a cultura do seu povo. Era saber onde estava cada livro dos mais de mil livros constantes do seu acervo, e ela sabia a localização exata de cada um na prateleira. Era mais ser do que ter. Se eu puder citar um defeito, eu diria que era quando ela metia-se em política, ocasião em que atraía para si alguns bons debates sobre o assunto. Mas, até nisso, ela era sempre impecável no desenvolvimento dos seus argumentos e na sua sagacidade crítica. Mesmo estando aposentada há alguns anos, vivia recebendo alunos e professores que a visitavam no intuito de consultá-las sobre os mais diversos temas, bem como solicitar revisões ortográficas em livros e trabalhos acadêmicos. Nos últimos tempos, o termo que ela mais gostava de ser chamada era o de alfarrabista, que é aquela pessoa que compra e vende livros antigos. Ela destinava boa parte do seu tempo e dedicação ao Sebo Papiros do Egito, do qual era proprietária, e que virou referência para grandes escritores, tais como Josué Montelo e o ex-presidente da República José Sarney. Sempre conectada com seu tempo, virou uma figura pública na internet através das redes sociais e do blogg que mantinha sobre a história da cidade de Pinheiro/MA: Pinheiro em Pauta. Eu recebi muitas mensagens de apoio e condolências de várias partes do mundo, tais como Alemanha, Estados Unidos, Eslovênia, Inglaterra, Itália, como também de vários recantos do Brasil mais principalmente de sua terra natal pinheiro. São muitas lembranças boas da minha mãe e que carregarei comigo ao longo da minha Vida. A pessoa que sou hoje devo muito a ela e a meu pai. Minha mãe foi uma mulher que soube como ninguém conjugar o verbo amar. E para Dona Moema de Castro Alvim este verbo era de ação. Mais do que fazer moradia em seu peito, o seu amor era algo a ser compartilhado com o próximo. Talvez esse seja o seu maior legado. Eu não sei como será a minha vida agora na ausência dela. Mas seguirei grato por tudo o que vivi e aprendi com ela. E, se ela pudesse ouvir um única frase minha antes de partir eu diria: “Minha Rainha, muito obrigado por tudo. Faça uma boa viagem minha querida minha benção. Lembre-se de que “eu te amo”. Certaremente ela me sorriria com o olhar e diria: “Meu filho, não é ´eu te amo´ é ´ EU A AMO.


FLOR DE VERÃO. Aymoré Alvim, ALL, AMM, APLAC.

Flor de verão és tu, minha querida, Que te gerei durante a primavera Nem imaginas quanto eu quisera Poder te ver um dia, nesta vida. Realidade ou sonho, eu só queria Materializar-te e ver quem eras E ter de ti uma visão eterna Se não pudesses minha ser um dia. Assim eu vou fazendo a travessia Criando sempre uma estrela-guia Que possa conduzir-me ao meu poente. Criei um mundo pra mim de fantasia De sonhos, frustrações e nostalgia Vivendo de um passado sem presente.


O SINAL DE BLUMBERG AYMORÉ ALVIM A Medicina quer na área clínica ou cirúrgica, é rica em epônimos. Mas, ultimamente, pelas dificuldades que causam ao médico e ao estudante, vêm sendo mudados. Por exemplo. O Ponto de Mc Burney que coincide com a projeção do apêndice cecal, na parede da fossa ilíaca direita, foi substituído por Ponto apendicular. Na Faculdade de Ciências Médicas do Maranhão, o nosso professor de Clínica Cirúrgica era o Mestre Antônio Hadade. Dentre os vários procedimentos por ele abordados, em sala de aula, um deles foi o Sinal de Blumberg. Quando se faz uma compressão, no ponto de Mc Burney, dói. Mas essa dor se intensifica bastante se, em seguida, se provoca uma súbita descompressão. Isto é sugestivo de irritação peritoneal no local e está, geralmente, associado com apendicite aguda. Esse epônimo foi uma homenagem ao grande cirurgião alemão Dr. Jacob Moritz Blumberg. No dia da inauguração da nova sede da Academia Maranhense de Medicina, conversando com um colega sobre casos da época, lembrei-me de um ocorrido num plantão do Pronto Socorro, um prédio de dois andares que ficava à Rua do Passeio, ao lado dos fundos da Santa Casa de Misericórdia. Quando eu fazia o quinto ano médico, um colega pediu-me, um dia, para tirar o seu plantão noturno, na Equipe do Prof. Zilo Pires. Da equipe fazia parte um quartanista cujo nome não me recordo, mas o apelido dele era “Burrinha”. Por que? Não sei. Em dado momento, quando saí para atender uma ocorrência no Goiabal, deu entrada no plantão um senhor com queixas de dor na barriga e vômitos. Prof. Zilo, como estava terminando outro atendimento pediu ao acadêmico “Burrinha” para iniciar os procedimentos. Daí a pouco ele retorna e Prof. Zilo pergunta-lhe: - Como é, já concluiu? -Tá tudo bem, professor. - Tudo bem o que, rapaz? E o Blumberg? - Blumberg? Sei não, senhor. - Mas você não conhece o Blumberg? - Professor, eu nunca vi esse sujeito por aqui, Mas se o senhor quiser vou perguntar ao pessoal. Talvez alguém o conheça. Bastou. A risada foi geral. Burrinha ficou meio desconfiado. - Vem cá, meu filho. Deixa eu te mostrar como se procura o sinal de Blumberg. - Professor, ele não tem sinal nenhum. Nem no rosto, nem no peito. Não vi nada. Quando entraram na sala de exames... - Ah! Professor, esse tal de Blumberg é esse cara aí? Ele me deu outro nome. Só se for o apelido dele. Prof. Zilo para não perder a paciência, o que era muito difícil, resolveu fazer tudo sozinho. Quando eu voltei, me contaram o ocorrido. Eu não sei como, mas no outro dia, quando eu cheguei à Faculdade que funcionava, ainda, no atual prédio do Hospital Universitário Presidente Dutra, todo mundo já sabia.


Passaram, então, a chama-lo de Dr. Blumberg. No começo, ele quis se aborrecer, mas depois achou que melhor seria chama-lo de Dr. Blumberg do que Dr. Burrinha e assim ficou. No outro ano ele foi concluir o curso no Rio ou São Paulo. O certo é que nunca mais o vi. Como podem ver, quando não se aprende, o tempo ensina


AS MEMÓRIAS DE UM VISIONÁRIO. Aymoré Alvim No final do século XIX e limiar do XX, Pinheiro era, ainda, uma vila pequena com seu comércio pouco desenvolvido, voltado mais para as transações internas. O número de eleitores, distribuídos, por três seções eleitorais, não ultrapassava 400 inscritos. Os investimentos públicos eram precários. O orçamento que vinha sendo elaborado desde a instalação da primeira Câmara de Vereadores, em 1861, não era suficiente nem para cumprir os compromissos com os servidores públicos. O fato de Pinheiro está assentado numa sesmaria de índios, muito dificultou por em prática uma eficiente política de ordem fiscal. Quando essas terras foram integradas ao patrimônio da Câmara, em 1888, e criado, oficialmente, o município de Pinheiro pela Lei N° 02 de 14 de setembro de 1892, foi, então, elaborada uma nova legislação para a administração municipal. O Regimento Interno, o primeiro Código de Posturas e o Orçamento do novo município só foram entrar em vigor, quase dois anos depois, na sessão solene da Câmara Municipal de 1º de julho de 1894, segundo o que dispunha o Artigo 1° das Disposições Transitórias da citada Lei. Na senda de novas oportunidades que passaram a surgir, despontou um grande comerciante, considerado o mais rico da época, o cidadão Frederico de Sá Peixoto. Com uma visão bastante avançada para o seu tempo, entendia o coronel Frederico que os lucros auferidos, no trabalho empreendido, deveriam ser aplicados, em parte, na região ou no local onde eram gerados. Imbuído desse elevado espírito de cidadania, iniciou uma transformação na área, que fica em frente ao campo, onde, mais tarde, se instalou a Organização Albino Paiva, Câmara Municipal e por todo o quarteirão limitado pelas atuais Ruas Paulo Ramos, Luís Domingues e Josias Abreu até o antigo prédio da usina elétrica, hoje, sede da Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências - APLAC, conforme “Cidade de Pinheiro”, 1955. Todo esse espaço era um pântano com muito mato e lama, principalmente, no período das chuvas. As águas que inundavam o campo, no período invernoso, avançavam até a Rua do Sol atual Rua Luís Domingues. Buscando recuperar esse setor, o coronel Frederico tomou para si a tarefa de mandar aterrá-la e urbanizála. Construiu várias casas residenciais e de comércio. Preparou, no espaço entre as casas e o campo, no local onde mais tarde seria edificada a Casa Veneza dos Gonçalves, uma bonita avenida, bem arborizada, com canteiros centrais e bancos que recebeu da Câmara o nome de Bulevar Frederico Peixoto e que passou a ser o ponto de encontro das famílias e dos jovens, nas tardes de domingo. Sua visão futurista o levou mais adiante. Instalou, no local onde se encontra a Organização Albino Paiva, uma grande casa comercial e, ao longo do Bulevar até em frente ao prédio da APLAC, implantou sua indústria com a inauguração da primeira máquina para descaroçamento de algodão e o primeiro motor para pilar arroz. A partir dessa iniciativa, o comércio de Pinheiro passou a experimentar um bom surto de desenvolvimento, atraindo vários outros empreendedores que começaram a chegar e se instalar com seus negócios, na emergente vila de Santo Inácio.Em 1905, já haviam se instalado Doroteu Raimundo Durans, Simões Oliveira & Cia, Custódio Sousa, Felipe Mariano Reis e outros. Em 1908, chegou José Paulo Alvim inaugurando a sua Farmácia da Paz. Em 1912, foi a vez de Albino Paiva que se tornou um grande empresário. Em meado de 1914, Alexandre Aboud abriu a Casa Otomana, e outros negócios, no ramo de tecelagem. Agostinho Ramalho Marques, Francisco Castro, João Bertoldo Ferreira, Filadelfo Mendes, Abreu& Campos, Francisco da Costa Leite, Adelino Machado, João Moraes são outros que ajudaram bastante o desenvolvimento do município aproveitando as boas oportunidades ofertadas pela Vila para seus negócios. Na política, o coronel Frederico militou por algum tempo. Eleito um dos vereadores mais votados, nas eleições de 31 de agosto de 1909, tomou posse juntamente com seus pares, em 1° de janeiro de 2010, para um mandato de três anos. Voltou a ser reeleito, em 1912.


Após a morte da esposa, o coronel Frederico talvez não resistindo a separação veio a falecer, em seguida, em 1915. Não deixou filhos mas legou aos pinheirenses uma herança de força de vontade, desprendimento, cidadania e coragem, além da total dedicação à terra que o acolheu.


Ah! QUANTAS LEMBRANÇAS. Aymoré Alvim, APLAC, AMM, ALL.

Não sei por que de ti eu não esqueço E já faz anos que nos separamos Se não me engano esse é o grande apreço De quem te amou e, mesmo assim, inda te ama.

Quando de ti me aproximo, já não me ufano Tudo é estranho, foi-se toda a alegria Daqueles dias que em teu colo descançava Quantas saudades! Bons momentos nós passamos.

Já faz bom tempo que te sinto indiferente Por mais que tente tu já não me reconheces E nem parece te lembrares quem eu era.

Quantas lembranças se quedaram em minha mente, Dos bons momentos que se foram para sempre Junto de ti, Pinheiro, minha terra.


CADEIRA 18 HENRIQUE MAXIMIANO COELHO NETO

ARTHUR ALMADA LIMA FILHO Fundador


ARTHUR ALMADA LIMA FILHO (17/10/1929 -- 27/10/2021) Vítima de problemas cardiorrespiratórios, faleceu em São Luís, próximo às 5h da manhã de 27 de outubro de 2021, Arhur Almada Lima Filho, desembargador, educador, escritor, pesquisador da História e Cultura caxienses, fundador e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias. Deixa cinco filhos e nove netos e viúva (em segundas núpcias), a professora universitária Antônia Miramar Alves Silva (UEMA). Arthur Almada Lima Filho nasceu em em Caxias (MA), em 17 de outubro de 1929. O corpo será cremado, atendendo a desejo pessoal manifestado há muito tempo. As cinzas, atendendo também a pedido, serão lançadas no Morro do Araim, próximo à BR-316, em Caxias, em data ainda a ser confirmada. Esse morro é local onde, na infância, Arthur Almada e irmãos brincavam.



PARA CONHECER UM POUCO MAIS ARTHUR ALMADA LIMA FILHO EDMILSON SANCHES

--- O ilustre caxiense faleceu neste 27 de outubro de 2021, aos 92 anos. --- Texto abaixo foi publicado quando de seus 90 anos, em 2019. Muitos daqueles que passam pela avenida Getúlio Vargas, em Caxias (MA), e veem o grande prédio e os galpões imensos da antiga estação ferroviária não imaginam o quanto de sonho, de visão, de esperança, de burocracia, de esforço e de amor pela terra está misturado a cada mão de tinta, pá de cal, lata de areia, barro e cimento e metros de fiação elétrica e outros materiais utilizados para a recuperação daquelas construções e o resgate ou ampliação de considerável fatia do amor-próprio dos caxienses.


Aqueles prédios da antiga Estrada de Ferro São Luís—Teresina (EFSLT), da Rede Ferroviária Federal S. A. (REFFESA) estavam até há algum tempo ao Deus-dará. Desmoronando -- como sempre, menos pela ação do tempo e mais pela omissão dos homens. Décadas de história estavam ruindo sem ruído, numa fragmentação silenciosa, num desfazimento criminoso de um passado que, embora não tão distante, foi responsável por parte das bases econômico-sociais de que talvez ainda se jactem alguns poucos que vivenciaram aqueles tempos e/ou que deles têm memória. Arthur Almada Lima Filho passava por ali, olhava aquelas edificações e se inquietava -- pode-se dizer, até: se indignava. Era o filho ilustre sabendo o quão igualmente ilustre havia ali de historicidade. Dos contatos iniciais, das correspondências obrigatórias, dos obstáculos e dificuldades que se (o)põem à frente dos que querem fazer a coisa certa neste País, até a autorização para uso e utilização, “sine die”, das portentosas instalações “refesianas”, Arthur Almada Filho teve de munir-se de paciência e persistência, sob pena de suas (boas) intenções irem juntar-se àquelas que assoalham o caminho da Geena. Foi assim que Caxias e seu Instituto Histórico e Geográfico (IHGC) ganharam adequado espaço para se passar o passado -- ou ao menos parte dele -- a limpo. O Instituto é o espaço institucional por excelência e de referência para a busca, guarda, zelo e divulgação de itens e fatos, marcas e marcos do passado histórico de Caxias (que o histérico presente ainda não soube respeitar à altura). Esse espaço, sede do IHGC, vem recebendo pacientes reformas e melhorias e é mantido a troco de suadas colaborações de algumas (poucas, diga-se) pessoas, físicas e jurídicas. Neste ponto entra novamente Arthur Almada: em vez de curtir o merecido ócio após décadas de ofício na Magistratura e na Educação, ele incumbe-se e desincumbe-se nas tarefas de, em igual tempo, presidente do Instituto e encarregado de fazer a cobrança (ou, eufemisticamente, “lembrança”) aos voluntários mantenedores -- muitas das vezes conquistados a troco da confiança e persuasão arturianas. * O passado só ainda está presente e somente terá algum futuro se dele tiverem cuidadores como Arthur Almada Lima Filho. Aos 90 anos, que se completam exatamente neste 17 de outubro de 2019, esse renovado Arthur senta-se à sua távola quadrada e pequena em uma modesta sala no pavimento superior do remoçado prédio da Estação Ferroviária e dana-se a ler, estudar, pesquisar, escrever, telefonar para outros membros e apoiadores do Instituto, sempre tendo em vista algum aspecto da gestão da Entidade ou, o mais das vezes, sobre fatos históricos de Caxias, cujos documentos ou livros a eles relacionados, existentes no Brasil ou no Exterior, Arthur pede que sejam pesquisados ou conseguidos exemplares ou cópias, para o acervo do Instituto e fonte de pesquisas para estudantes, professores, escritores, pesquisadores e outros estudiosos. Anatole France, escritor francês (1844–1924), disse que “(...) o passado é o nosso único passeio e o único lugar onde possamos escapar a nossos aborrecimentos diários”, pois “o presente é árido e turvo, o futuro, oculto”. É o caso de Arthur Almada de Lima Filho, que gosta de passear no passado de Caxias, e o faz sem aborrecimento, pois o passado caxiense é, para ele, desafio e combustível, é mister e mistério de arqueólogo, que se vai descobrindo camada a camada, limpando as contaminações, rearrumando em ordem lógica, até a leitura e documentação final. O paulista Eduardo Paulo da Silva Prado, que nem o Arthur, era homem do Direito e escritor; também acadêmico, foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Viveu só 41 anos, tempo bastante para, entre seus amigos, contarem-se, entre outros, portentos literários e intelectuais como Eça de Queirós e Ramalho Ortigão. Eduardo Prado escreveu: “Certamente o homem deve viver no seu tempo, mas a tendência para a contemplação do passado é um dom nobilíssimo da sua alma”. Mais do que contemplar, Arthur Almada Filho, no caso do passado de Caxias, quer contribuir para organizá-lo, trazê-lo ao presente


para garantir-lhe algum futuro. Como constatou o filósofo e poeta francês Paul Valéry, 146 anos de nascimento em 30 de outubro de 2017: “O passado (...) age sobre o futuro com um poder comparável ao do próprio presente”. Em geral, Caxias pouco sabe dos esforços e da história, das lutas, lides e lidas desse Arthur Filho, filho caxiense que, à maneira de Bilac, “ama com fé e orgulho” a terra em que nasceu. Juiz de Direito, desembargador, vice-presidente e presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, presidente da nascente universidade estadual maranhense, é citado no prestigioso e internacional “Who’s Who”, seus votos como jurista são transcritos em obras de Direito, tem seu nome na testada de prédios públicos, seja em fórum seja em escola estado adentro, tais os méritos que a sociedade maranhense quis reconhecer e homenagear. Ex-reitor da UEMA, autor de livros, pesquisador infatigável, magistrado intimorato, tem honrado o nome e o ofício do pai e o conceito da família – família que, no passado e no presente (e, pelo visto, para o futuro também), legou tanta gente inteligente para Caxias, o Maranhão e o Brasil. Pelos feitos que fez, certamente não lhe cabe a observação do educador e abolicionista norte-americano Horace Mann (século 19): “Tenha vergonha de morrer até ter obtido alguma vitória para a Humanidade”. Arthur e eu somos conterrâneos, confrades e amigos, pertencemos às sadias -- e lutadoras -- hostes do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias (IHGC), da Academia Caxiense de Letras (ACL) e da Academia Sertaneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão (Asleama). E não estamos apenas para estar ou ser, mas para fazer. É preciso conviver um pouco com o Arthur para ver-lhe os esforços em nome de coisas e causas coletivas, caxienses. É preciso estar perto para dele ouvir exemplos de inconteste entusiasmo e incontida satisfação quando da descoberta de um novo nome de caxiense de talento, ou nova informação sobre Caxias, dados que zanzavam por aí, escondidos sob a poeira da História ou maquiados, encobertos pelo pó do desinteresse humano. No fim do ano 2013, Caxias e o Maranhão receberam de presente uma obra ("Efemérides Caxienses") em que Arthur Almada organizou, sistematizou e sintetizou eventos passados, com nomes e datas da História caxiense, mas com pontos de contato com a História maranhense e brasileira. Como diz o Arthur, ausente todo laivo de ufanismo: "Sem a História de Caxias não há História do Brasil". E, com ardor e energias moças, já organiza e escreve novas obras de fôlego, como um livro de perfis caxienses e um avançado "Dicionário Biobibliográfico de Autores Caxienses". Entre outros... É esse conterrâneo, caxiense com muito orgulho, que aniversaria neste 17 de outubro de 2019: nada menos do que 90 anos fazendo valer a pena a loteria da criação que concedeu que fosse ele, Arthur Filho, o sorteado com a vida – longa, saudável, produtiva e útil vida. Esse caxiense de boa cepa sabe de seus fins e de nossa finitude. Sabe, já há muito tempo mas sobretudo a esta altura da vida, sabe que, como ele, muitos de nós, neste jogo da existência, temos mais passado que futuro. E disto nem ele nem nós temos receio. Pois, para nós, para gente do naipe de Arthur Almada Lima Filho, o passado nos fortalece. Como no dizer do poeta e dramaturgo francês Henry Bataille (1872—1922): “O passado é um segundo coração que bate em nós”. Parabéns e feliz aniversário, Arthur. Vida, saúde e paz, amigo.



CADEIRA 21 MANUEL FRAN PAXECO

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ FUNDADOR


FACETUBES.COM.BR Publicaremos uma sequência de artigos do Imortal APB Leopoldo Vaz sobre cultura indígena (facetubes.com.br)

O FACETUBES publicará a partir desta semana, artigos do imortal APB LEOPOLDO VAZ sobre a cultura e o esporte indígena. Este primeiro foi o agilizador da participação de Leopoldo em importante congresso, que discutiu inúmeros assuntos ligados ao indianismo brasileiro, promovido pelo MEC/INDESP, em 1994.


VINHAIS - DE ATLAS DIGITAL DA AMÉRICA LUSA Vinhais – Histórico - Vinhais - Atlas Digital da América Lusa (unb.br) Denominação

Início

Término

Aldeia de Uçaguaba Populacao > Aldeia

antes de 1612

1614

Aldeia da Doutrina Populacao > Aldeia

depois de 1614

1757

Vinhais Populacao > Vila

1757

1808

por Manoel Rendeiro

A Vila de Vinhais, segundo Leopoldo Gil Dulcio Vaz, remonta historicamente a presença francesa no Maranhão, e suas relações com os povos tupinambá da região. Os povos tremenbé, e depois os tupinambá, foram moradores da Aldeia de Uçaguaba. E nessa aldeia residiram alguns franceses, desde o século XVI, com algumas menções a localidade de Miganville.[1] Após a expulsão dos franceses e de seu empreendimento colonizador, os índios aliados dos lusitanos, provenientes de Pernambuco, residiram na Aldeia de Uçagoaba.[2] Com a chegada das missões jesuítas no Maranhão, é indicado que a mesma aldeia, porém com nova denominação de Aldeia da Doutrina, foi o ponto de partida do projeto evangelizador.[3] Por execução do decreto real que previa a emancipação do indígena, fim do domínio missionário sobre os silvícolas, a Aldeia da Doutrina é transformada em Vila de Vinhais, por instalação do capitão-mor governador da Capitania do Maranhão, Gonçalo Pereira Lobato e Sousa, em 1 de agosto de 1757.[4]. De acordo com a lei de 6 de junho de 1755, aldeias que possuíam mais de 150 moradores deveriam ser elevadas à categoria de Vila.[5] Na Vila de Vinhais, os bens jesuíticos foram arrecadados pelo capitão-mor governador, Lobato e Sousa, e repassados para a Coroa.[6] Referências ↑ ABBEVILLE, Claude d’. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975 ↑ MORAES, José de. HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NA EXTINTA PROVÍNCIA DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ. Rio de Janeiro: Alhambra, 1987 ↑ CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL. São Luís: SIOGE, 1990. ↑ MEIRELES, Mário Martins. História do Maranhão. 2. ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980. 426 p. ↑ LIMA, Carlos de. Historia do maranhao. Brasilia: Senado Federal, 1981. 224 p ↑ LIMA, Carlos de. Historia do maranhao. Brasilia: Senado Federal, 1981. 224.


Atualizações no www.facetubes.com.br https://www.facetubes.com.br/.../leopoldo-vaz-participa... Leopoldo Vaz participa da secção "Textos Escolhidos", com: Relato do piloto TENENTE RUI MOREIRA LIMA

FACETUBES.COM.BR Leopoldo Vaz participa da secção "Textos Escolhidos", com: Relato do piloto TENENTE RUI MOREIRA LIMA


O CURITIBANO FREDERICK CHARLES TATE OU O TENENTE RUI E OS POLONESES O tenente Rui e os poloneses – Revista Ideias

RICARDO BÜRGEL Relato do piloto TENENTE RUI MOREIRA LIMA1 de uma das suas missões de ataque na área de Casarsa durante a Segunda Guerra :

"No dia 11 de março de 1945, decolaram duas esquadrilhas do 1º Grupo de Caça sob o comando do Capitão Lagares, com a finalidade de bombardear a muito conhecida ponte de Casarsa, localizada ao norte de Veneza. Completava eu a 59ª missão de guerra. A ponte era conhecida por motivos óbvios. Ali, alguns companheiros trouxeram a marca da acurada artilharia alemã. Um deles, o Ten Armando de Souza Coelho, teve seu avião atingido, saltando de pára-quedas em território amigo. O Ten Othon Correia Neto, que não teve a sorte do Armando, saltou sobre a área de Casarsa, sendo feito prisioneiro. Eu mesmo já havia recebido meu quinhão, quando o meu P-47 foi atingido na asa, por estilhaços de 88. A verdade é que esse não era o lugar mais aprazível para ser "visitado". Quando nos designavam para ir até lá, não havia entusiasmo de nossa parte. Casarsa soava, para nós pilotos, como Bolonha, Ferrara, Legnago, Udine, Lavis, Piacenza, Isola di Scala e mais uma dezena de bem defendidos alvos do Vale do Pó. Lançar bombas em alvos como esses,

1 Rui Barbosa Moreira Lima (Colinas, 12 de junho de 1919 — Rio de Janeiro, 13 de agosto de 2013) foi um piloto militar de caça e Tenente-brigadeiro-do-ar brasileiro. Foi o criador do lema do 1º Grupo de Aviação de Caça (Senta a Púa). Até o início de 2013, era um dos três únicos pilotos veteranos da participação brasileira na Segunda Guerra Mundial ainda vivos. Moreira Lima atuou ao lado dos militares legalistas que se opuseram ao Golpe de 1964, tendo sido perseguido e torturado pela ditadura militar que se seguiu. Rui Moreira Lima – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)


se bem que fôssemos voluntários - o 1º Grupo era constituído somente de voluntários - causava-nos profundo respeito. Decolaram as esquadrilhas Verde e Marrom. Na primeira, comandada pelo Cap Lagares, voavam o Ten Tormin, como nº 2, eu como líder de elemento, e o Ten Coelho como nº 4; a Marrom, também sob o comando de Lagares, formada pelo Cap Pessoa Ramos, o Ten Meira como nº 2, o Ten Perdigão como líder de elemento e o Ten Paulo Costa como nº 4. Todos veteranos. O menos experiente era o Tormin, mas que se tornou veterano nas suas primeiras missões, conquistando este título por bravura, precisão nos ataques, descontração no vôo sob o fogo antiaéreo e mais um punhado de qualidades que o tornaram um dos mais hábeis pilotos de caça de nossa Unidade. A rota escolhida até o alvo saiu da rotina, pois ao invés de voarmos diretamente para o objetivo, o Lagares, para evitar o Flak de Bolonha, voou sobre nossas linhas até Florença, rumando daí para Casarsa. Nessa ocasião, parte da "Estrada 9" tinha caído nas mãos do VIII Exército Inglês. Ao cruzá-la, deixamos à nossa esquerda a cidade de Forli, recentemente conquistada pelos ingleses, estando ocupada por um esquadrão de aviões de ataque A-20, formada de poloneses da RAF. Para esta história, este detalhe é importante. Chegamos a Casarsa na hora estabelecida, e iniciamos o ataque. Era uma ponte ferroviária sobre o rio Madunna, que só poderia ser considerado como tal na época das águas. Parecia um desses nossos rios do nordeste que, na seca, vira estrada. Mergulharam o Lagares e o garoto Tormin, vindo eu em seguida. No momento em que iniciava o mergulho, descobri uma bateria de 88 alemã, localizada a uns 200 metros da ponte. Avisei pelo rádio: - "Jambock Verde, de Jambock Verde, nº 3, localizei uma bateria, vou atacá-la, antes de lançar minhas bombas". - "Boa sorte", replicou o Lagares. Como era de esperar, fui recebido "festivamente", não somente pela bateria que estava atacando, mas por outras armas de menor calibre, inclusive canhões antiaéreos de 40 e 20 mm. Deixei tudo em volta e me fixei na bateria. Mais ou menos a uns 3000 pés, fui atingido no motor, perdendo dois cilindros. O motor começou a pegar fogo. Novo aviso ao Lagares: - "Jambock Verde, fui atingido, o avião está pegando fogo, vou continuar o ataque sobre a bateria, saltando de pára-quedas em seguida". Sem aguardar a resposta, desci mais sobre o alvo, que somente parou de atirar quando o seu último artilheiro foi eliminado. Honra à memória daqueles bravos alemães. Tudo isso correu no relógio em segundos. A velocidade de mergulho andava pelas 420 mph. Transmiti nova mensagem: - "Jambock Verde, estou com fogo a bordo, vou agora lançar minhas bombas sobre a ponte, 'entregando-as a domicílio', e depois saltarei". Por sorte, no momento em que sobrevoávamos o alvo, estava parado sobre a ponte um trem alemão. As bombas dos setes aviões que me antecederam pegaram a aérea do alvo, mas não atingiram a ponte. Como fui fazer aquelas entregas, acertei em cheio. O trem era de munições. Uma festa pirotécnica. A explosão das duas bombas de 500 lbs do meu D-4, "o Poderoso" (eram esses o número e o nome do meu Thunderbolt), misturou-se à explosão da munição do trem. O dia 22 de abril de 1945 é uma data emblemática para a Força Aérea Brasileira, pois marcou o ápice da campanha do 1º Grupo de Aviação de Caça no Teatro de Operações europeu. Como ataquei a baixa altitude, fui atingido pelos estilhaços. Trouxe mais de 28 marcas no avião, sendo que em duas delas poderia passar uma bola de futebol de salão. Cumprida a missão, com a ponte destruída, transmiti nova mensagem: - "Jambock Verde, é o Jambock Verde 3, vou saltar, a visibilidade é zero, pois, além do fogo, há óleo sobre o pára-brisa, cobrindo também o canopy e fumaça na nacele". Com o excesso de velocidade, levantei o nariz do avião, atingindo a altura de 8000 pés. Agora, só saltar e esperar o bicho que ia dar. Nesse instante, ouvi a voz clara do Lagares: - "Não vai saltar coisa nenhuma, o fogo antiaéreo te pegará durante a queda, toma o rumo 150º que te avisarei quando deves saltar". - "E o fogo? Achas que devo virar churrasco ou explodir feito o trem lá embaixo?" - "É uma ordem, não salta agora, há Flak demais em torno do teu avião, estão te caçando, é burrice saltar agora". Outras vozes chegaram aos meus ouvidos. O estribilho era o mesmo, - "Não salta Arataca!" A solidariedade dos companheiros e a voz experiente do Lagares


clarearam minha cabeça. - "Está bem, Jambock Verde, leva-me para outro local, que o canopy está começando a fundir, e eu estou vendo a hora de dar o último grito". Voei na reta, sempre subindo, seguindo as instruções do Lagares. Não se via nada para o exterior. A labareda que vinha do motor lambia o lado esquerdo do canopy. O óleo, a fumaça tudo impedia que eu visse o azul lá fora. O vôo era por instrumentos, coisa que, na época, não era meu forte. - "Agora salta, estás sobre o Adriático. Já pedi socorro. Dentro de duas horas terás um Catalina que te apanhará. Usa bem a cabeça e teu barco de emergência." Acontece que, naquele instante, meu ímpeto de saltar já estava bem arrefecido. Afinal de contas, não era pára-quedista. Iria tentar um meio de apagar o fogo. Avisei, caprichando no timbre de voz, dando a impressão de que estava calmo de que não iria saltar enquanto não tentasse uma manobra para apagar o fogo. Minha decisão caiu como uma bomba sobre o pessoal. Entre as palavras que me chegavam aos ouvidos, quase todos me chamavam de burro, xingavam minha mãe, diziam que eu iria virar churrasco, que eu estava era com medo de saltar, etc. Ouvi o diabo, mas não dei bola. Aproveitei um intervalo e entrei no ar declarando: - "Estou a 12000 pés, vou cortar a gasolina, mistura, bateria, gerador e magnetos. Picarei em seguida até atingir 350 mph. O fogo deve apagar. Darei partida no motor outra vez, se o fogo voltar, saltarei. Caso contrário voarei até onde der". Pararam de falar, naturalmente para observar-me. Executei a manobra planejada, a labareda extinguiu-se. Ao dar nova partida, ela não voltou. Aumentou a fumaça, talvez por ter aumentado o vazamento de óleo. Com o fogo apagado, o Lagares deu-me o rumo direto de Forli, a tal base de poloneses da RAF. Atendendo ao comando do Lagares, fui guiado até lá. Quando estava mais ou menos a um minuto da cabeceira da pista, em altura conveniente, o Lagares disse-me que estava alinhado com a pista, devendo cortar o motor à sua ordem. Aí entrou São Tomé. Quis conferir. Pus o óculos de vôo, abri o canopy e estiquei o pescoço para fora. Um jato quente de óleo cobriu-me os óculos. Num gesto pouco inteligente, tirei os óculos e insisti. Desta vez paguei caro. A vista esquerda foi atingida com óleo quente. Já estava quase no chão. A ordem para cortar o motor veio rápida. Fazê-lo e deslizar de barriga sobre a pista foi questão de um piscar de olhos. Fiz uma aterrissagem sem rodas, pois tanto eu quanto o Lagares não queríamos correr o risco de "varar" a pista com uma possível explosão. O avião correu o suficiente para parar a uns dez metros do seu final. Depois daquele barulho infernal da lataria deslizando sobre uma pista de emergência feita de grades de ferro, e passado o susto momentâneo, chamei o Lagares, quase implorando que ele não me deixasse naquela base desconhecida, de aliados desconhecidos também, onde teria que me entender com poloneses falando inglês, língua cuja pronúncia arataca (sou nortista do Maranhão) não pegaria bem falando com gente da Polônia, que só conhecia através do rádio, quando Batatais engoliu 5 frangos e Leônidas e Hércules fizeram 6 gols em Majewski, no campeonato de futebol de 1938. Meus apelos foram em vão. As esquadrilhas retornaram a Pisa. Fiquei entregue à minha própria sorte e sabedoria. Deixei o avião às carreiras. Ainda havia o perigo de uma explosão. Afastei-me o quanto pude. Sentei-me sobre o pára-quedas a uns 100 metros, tremendo, mas tremendo mesmo, a vista esquerda no escuro, aguardando o socorro de um carro contra-incêndio, uma ambulância e um jipão. Quem me descobriu primeiro foi o jipão. Sobre o capô vinha sentado um oficial da RAF. Louro, 1,88 m, uniforme bem posto, com algumas condecorações que, de longe, me perguntou: - "Brasileiro?" Como não imaginava que àquela altura dos acontecimentos fosse encontrar um inglês da RAF falando português, dei uma de inteligente e respondi: - "Yes". - "Yes, coisa alguma, seu sacana, como vão as mulheres de Copacabana? Que é que houve contigo?" Caí das nuvens de alegria. Respondi-lhe com outra pergunta: - "E tu, que é que estás fazendo com esse uniforme da RAF?" - "Sou filho de inglês, nasci em Curitiba, e aqui estou nessa merda dessa guerra maluca". - "Mas por que estás aqui com os poloneses?" Aí veio a explicação. Na véspera, dois aviões Focke Wulf-190 fizeram um ataque de surpresa, matando alguns tripulantes de A-20 que assistiam a um cinema ao ar livre. Por solicitação do comando polonês, a RAF mandou uma esquadrilha de Spitfires para fazer a defesa aérea de Forli. Comandando essa esquadrilha, veio o Frederick C. Tate, de Curitiba, Paraná, filho de inglês e tão louco quanto a guerra louca que já estava chegando ao fim.


O médico polonês que me atendeu foi gentilíssimo e eficiente. Ali mesmo fez a faxina no olho esquerdo. Com um chumaço de algodão embebido em líquido amarelo, limpou-me a vista. A impressão que tive é que ele usava um esfregão desses de encerar cerâmica S. Caetano. Doeu pra burro. Antes que eu visse qualquer coisa, pôs-me um tampão no olho esquerdo, ficando com aquela cara que tem hoje o Moshe Dayan. Meu pensamento voava nesse momento para o Brasil. Pronto, acabou-se minha guerra e vou ter que voltar caolho. Que falta de sorte, de tantas me livrei nessa missão e agora fico cego pela metade. Fui interrompido pela voz amiga do Fredy, que me declarou estar tudo bem, inclusive com minha vista esquerda. Talvez passasse a um grau menor de visão, mas estava salva. Respirei, mas sem tranqüilidade. Somente no primeiro curativo, no dia seguinte, no Hospital Central de Livorno, é que tive a certeza que não estava cego. Ainda foi o Frederick que me falou outra vez: - "Agora é que vai começar a tua guerra com esses poloneses. Toda a vez que alguém se safa de uma dessas como tu te safaste, é obrigado a tomar um pileque. E a bebida deles é vodka!" Entramos no Jipão, passamos pelo centro médico de emergência, para uma limpeza corporal rápida (ficara todo sujo de óleo ao deixar o avião) e levaram-me para a cidade de Forli, onde estava localizado o cassino de oficiais dos poloneses. Lembro-me que encheram de vodka um copo próprio para uísque, que foi tomado de um só fôlego, ao som de uma bela canção guerreira polonesa. Nessa hora meu estado moral era o pior possível: dor de cabeça, a tremedeira que ainda não havia passado, um tampão no olho esquerdo, com todas as características que estava cego, aqueles alegres companheiros de língua diferente, um copo de vodka já bebido, que caiu garganta abaixo sem uma interrupção, não há dúvida que minha tábua de salvação ainda era o mesmo grande gozador Frederick Tate, o brasileiro rafeano que Deus mandou para me salvar. Bebido o primeiro copo, encheram outro. Nova canção e pimba! Tive que tomá-lo. Não adiantaram meus rogos ao Fredy. O bandido estava ali para ver o circo pegar fogo. Não teve um gesto de pena. Lembro-me só o que me disse ao iniciar o segundo copo: -"Agora, meu velho, estás..." Apaguei. Acordei no dia seguinte no Hospital Central de Livorno. Sofri uma coma alcoólica. Não morri por pura sorte." Fonte: Livro "Senta a Pua!" - Rui Moreira Lima - Editora Itatiaia.


HISTÓRIA(S) DO/DE PARAIBANO - VOLUME I by Leopoldo Gil Dulcio Vaz - Issuu

HISTÓRIA(S) DO/DE PARAIBANO - VOLUME I by Leopoldo Gil Dulcio Vaz


HISTÓRIA(S) DO/DE PARAIBANO - VOLUME II - ENTRELAÇOS DE FAMÍLIAS by Leopoldo Gil Dulcio Vaz - Issuu

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MEMÓRIA DA FACULDADE DE DIREITO DO MARANHÃO: 1918-1941 - Revista e Ampliada by Leopoldo Gil Dulcio Vaz Issuu

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A FACULDADE DE DIREITO DE SÃO LUIZ - 1941-1966: MEMÓRIAS PARTE II by Leopoldo Gil Dulcio Vaz - Issuu

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EspeciaisConvidados APB Artigo polêmico assinado provavelmente por Rubem Almeida* é reapresentado por Leopoldo Vaz Sobre a BATALHA DE GUAXENDUBA. *Rubem Almeida é um dos ícones da história maranhense, no século XX. 15/11/2021 às 11h37Atualizada em 15/11/2021 às 14h35 Por: Mhario LincolnFonte: Leopoldo Vaz Compartilhe:

google GUAXENDUBA: uma 'BATALHA' ou SIMPLES ESCARAMUÇA? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão , Academia Ludovicense de Letras, Academia Poética Brasileira Aproxima-se a comemoração da 'Batalha de Guaxenduba', ocorrida entre 19 e 21 de novembro de 1614. Buscamos na Imprensa maranhense o que foi escrito sobre esse acontecimento e praticamente não encontramos nada: sete artigos, em três jornais, da coleção existente na Hemeroteca da Biblioteca Nacional: em A Pacotilha, 4; Diário de São Luís, 2; e Jornal do Maranhão: 1. O mais elucidativo - Na edição de 04 de setembro de 1938, da Pacotilha, aparece artigo: "Guaxeduba". Segundo o autor – R.A., seria Rubem Almeida? – houve umas simples escaramuça: "(...) Página ainda não criticada essa da história da colonização francesa em nossa terra. Quantos a versaram, nada mais fizeram de que, incondicionantes e ridículos, reeditar sobre novo estilo, o relato de seu historiador, sem se aperceberem de que, parte profundamente interessado nos sucessos, não podia esquivar-se à eira da parcialidade e do exagero. Testemunha ocular, é certo, conhecedor dos menores detalhes, coparticipe de primeiro plano, seu diário reverte-se entretanto de tantas quixotices que chega a estranhar ninguém até ao presente houvesse posto reparo. Nem atentaram ao significado oculto do qualitativo "milagrosa", imputada aos capuchinhos, pela dificuldade no preparo e cometimento, quando a verdade é ter advindo o apodo do êxito de escaparem mais ou menos ilesos ao ataque dos que vinham atacar. Compreende-se, e justifica-se a atitude de Diogo de Campos Moreno autor da "Jornada"... argumento, porém, oportuno para o estudo elaborado de sua personalidade e obra. Limitemo-nos por a


apresentar o resultado resultado da análise empreendida, despido o relatório de toda a falsa moldura de retumbantes acontecimentos, mercê dos quais esperava galardão. Sentimos ter de profundamente decepcionar aos maranhenses, ciosos dos feitos de seus maiores, assegurando-lhes, entre outros, que: Não houve a apregoada batalha de Guaxenduba. Não foram os franceses vencidos, senão os vencedores. Não foram expulsos.

Pesquisador Leopoldo Vaz, da APB. NÃO HOUVE BATALHA Somos os primeiros a reconhecer os escândalos desta afirmativa inicial. Então, não houve a batalha a que os historiadores têm dedicado os mais fortes adjetivos, colocando-a ao par dos máximos feitos de armas da história pátria?! Cada um, entretanto, e para isso basta o animo da boa vontade e do bom senso, que se der à tarefa de examinar com o devido cuidado, o livro em que primeiro foi relatada, e, não satisfeitos ainda relatam os copistas de agiganta-la, cada um verificará por si o que ora garantimos, e nossa recompensa será apenas a da prioridade da empresa de reconstituição histórica a que há dois bons decênios, nos vimos entregando. Não houve batalha! Houve, sim, um encontro, rusga, refrega, escaramuça ou sinônimo qualquer idêntico, aliás, a vários outros anteriores. Acompanhem-nos o leitor, neste exame à "Jornada"... Chegara a expedição a Guaxenduba no dia 26 de outubro de 1614, vinda da Ilha de Sant´Ana, aonde já os tinha ido inquietar os franceses de Du Pratz, ateando-lhes o quartel de S. Tiago. Mal se estabelecem no novo quartel de Santa Maria de Guaxenduba denominado, recomeçam os ataques dos franceses. Dia não se passa que não os venha molestar uma impertinência qualquer dos vizinhos, que ali mandam índios espiões acompanharem a marcha do estabelecimento. Na tarde de 2 de novembro investe-os Du Pratz, o mesmo que já assolara o quartel de N. S. do Rosário, no Ceará, e o da Ilha de Sant´Ana. Enviam os portugueses naus a Pernambuco, pedindo reforço; intercepta-lhes os franceses a correspondência. Novo assalto a 7. Resolvem mudar de sitio. Impossível! Estão inteiramente sitiados, laçando os franceses o ataque definitivo para o dia 19, e pensando nisso, adverti-los. A armada francesa, com 7 naus de alto bordo e 46 canoas, 400 soldados e 4.600 índios aliados, amanhece fundeada diante de Guaxenduba. Pesieux desembarca com 200 conterrâneos e 2.000 índios: divide-os em dois corpos, o da vanguarda confiado a Du Pratz, e o seu, na praia, onde arma 6 trincheiras, comunicandose com as que La Fos Benart e De Canonville acabam de levantar no monte fronteiro ao forte. Ravardière, Rassily, Mallart, acompanham de bordo, o desembarque. Acantonados, não sabem os portugueses que partido tomar. Situação eminentemente critica. Desanimo na tropa. Murmúrios de sublevação. Conferencia de Jeronimo e Diogo. É quando, estabelecido o cerco por terra e mar, cerco a que os portugueses assistem impassíveis, chegam ao forte trombeta e tambor com uma carta de Ravardière, concedendo-lhes 4 horas para a rendição. Era,


como se vê, legitimo "ultimatum". Jeronimo e Diogo aventuram um ultimo recurso: surpreender os inimigos com um ataque decisivo inesperado. É o que sucede. Nesse ataque, inteiramente desprevenido, porque todos aguardavam a resposta, morrem Pesieux e uns tantos companheiros; 9, feridos, são aprisionados. A armada francesa entra em cena. Os 3 navios contrários, imprestáveis, varados, não podem responder. Bandeira branca no forte de Guaxenduba. Menos de uma hora durara a refrega. Não obstante, contada por interessado, tornou-se na imponente batalha de Guaxenduba. NÃO FORAM OS FRANCESES VENCIDOS. Sem duvida não no foram. E esta verdade todos a podem verificar, por mais que se esgote em torce-la o cronista ora apreciado. Pois bem! Assenta Felipe II, para cardeal de sua politica expansionista, a expulsão definitiva do Brasil, de quantos protestantes aqui estivessem estabelecidos, franceses, ingleses ou holandeses, continuando, aliás o plano debalde empregado pela nação de que se acabava de assenhorar; dá, a esse sentido, ordens terminantes a Manoel Telles Barreto, seu primeiro governador geral; Insiste junto aos sucessores, de Francisco de Sousa a Diego de Menezes; biparte novamente o governo para maior facilidade na empresa e com todas essas providencias gerais, a que agregavam inúmeras outras da politica europeia, apenas consegue desloca-los: eis a prova de quanto estavam fortes! Corram-se, de fato, as páginas d´ "A expansão colonial" (1581 – 1626) e apreciem os repetidos assaltos, sempre vitoriosos, de Cavendish, Lancaster, Venner, Pain de Mih, Pieter Zooil, Van Leijen, van Noord, Riffault, des Veaux, Ravardière, etc, etc. e concluase a situação de nossa terra. Gaspar de Sousa situa-se em Olinda. Expede a Jeronimo de Albuquerque; é malogrado. Idem a de Martim Soares Moreno, como também as de Pedro Coelho de Sousa, Luis Figueira e Francisco Pinto (este morto em combate com os franceses de Ibiapaba e jamais pelos índios). Estamos no tempo da 'jornada milagrosa'. Ainda no Ceará, já estaria seus componentes sendo hostilizados pelos franceses. Tornaram a sê-lo em Sta. Ana. Em Guaxenduba acabamos de mostrar como se portaram. E daí por diante? Pedem socorros meio-cirúrgicos e farmacêuticos, entabulam uma correspondência que tanto tem de cavalheiresca para os franceses quanto para eles de humilhante, pois que nem sequer escrever em 'bom espanhol ou francês' sabiam; aceitam incondicionalmente e do mesmo modo cumprem o Tratado de tréguas; visitam as aldeias e os estabelecimentos onde são principescamente recebidos; observam os fortes; viajam os arredores; recebem mapas e demais informes, enfim, praticam com os inimigos as melhores demonstrações de boa paz. Pergunta-se a esta altura: é isto próprio de vencedor ou de vencido? NÃO FORAM EXPULSOS De fato. Quando se verificou a decantada expulsão? Em novembro de 1615. E para quando determinava o Tratado a sua retomada: Precisamente para novembro de 1615. E por que é asado perquirir, não se conservou Ravardière na colônia? Por várias razões entre as quais estas duas: a noticia de que fora demitido por Maria de Medicis, a pedido de Felipe II; e a do casamento de Luis XIII com Ana D´Áustria. Conquanto dispusesse do aporte da Inglaterra e da Holanda, que tinham armadas prontas para socorre-lo, preferiu cumprir a palavra empenhada, por isso deixou São Luis para amargar 3 anos de cativeiro na Torre de Belém. Estes os fatos na sua crua realidade. Meditem sobre eles os maranhenses estudiosos. R.A. (...)". Os outros artigos apenas fazem referência à Batalha. Em "Pacotilha" (MA) - 1910 a 1938, edição de 21/11/1917, sob o título de "A batalha de Guaxenduba", é lembrada a data, em comemoração aos 303 que "as forças portuguesas venceram as comandadas por La Ravardiére. Dessa memorável batalha resultou o desalojamento dos franceses, que se haviam instalado aqui, em 1612. Citando João Lisboa, que reproduz opinião de Pereira do Lago, que julgava que o nome de enseada de Guaxenduba se perdera, e que corresponde à Baia de Anajatuba. Cita outros autores, que julgam que seja a Baia de São José. Após um breve relato das forças franceses no campo de lutas, considera ser momento supremo que para sempre decidiu os destinos da Pátria. Repudia as acusações injustas contra os nossos genuínos maiores.


No ano seguinte, a 19 de dezembro, é lembrada que estava decorrendo o 306º aniversário desta luta, derivando-se a vitória das forças portuguesas sobre as francesas e a consequente posse do Maranhão pelos vencedores, confirmada em 1615. Informa ainda que, devido à falta de espaço, não se publicaria um artigo a respeito deste fato histórico, o que seria feito numa das próximas edições. O que não acontece... Em A Pacotilha de 04 de agosto de 1922, em matéria sobre o centenário da Independência, e referindo-se à reforma da Catedral, uma pequena nota lembrando de seu nome: Nossa Senhora da Vitória: "[...] A escassez de tempo inibe o eminente antítese de redigir uma narrativa das fases atravessadas pela catedral, desde o início, afim de comemorar a vitória dos portugueses sobre os franceses, na Batalha de Guaxenduba, ferida aos 17 de novembro de 1614. Mas, confiando nos eruditos da terra, acreditemos que se fará esse trabalho necessário" [...] Já no DIÁRIO DE SÃO LUIS - 1920 a 1949 -, edição de 30 de agosto de 1947, em entrevista dada pelo Cônego Bacelar, este diz ser necessária "[...] uma reparação histórica que se impõe: o feito de Guaxenduba [...]", e propõem mudar-se o nome de Morros para "Guaxenduba": Já à 17 de setembro de 1947, em artigo sobre a instalação do Município de Primeira Cruz há apenas uma referência à Batalha. E no Jornal do Maranhão: Semanário de Orientação Católica - Jornal a serviço da Família e do Povo (MA) 1954 a 1971, edição de 22 de maio de 1960: "A voz do Guaxenduba" , nome do jornalzinho do Centro Guaxenduba, destinado a jovens vindos do nada...


Textos escolhidos: indicado por Leopoldo Vaz, imortal APB, secional MA.

Poeta e jornalista, Eduardo Júlio é maranhense de São Luís, onde reside. Passou a infância em Basra, no Iraque. Antes de O mar que restou nos olhos, publicou em 2005, o livro de poemas Alguma trilha além (prêmio da Secretaria de Cultura do Maranhão). trilha-transe (trilhatranse.blogspot.com) Porto "Diante da eternidade deste cais O silêncio é sobra do abandono A ausência tem cor azul e dói Como se não fosse céu Aquele mar que pretendíamos O próximo silêncio parece leve Mas por instantes Cala uma cumplicidade."

(Poema do livro de poesia Alguma Trilha Além, Edição Secma, 2006, reproduzido em Suplemento Cultural & Literário JP Guesa Errante Anuário, São Luis (MA), n.7, 2009). GERMINA - REVISTA DE LITERATURA & ARTE (germinaliteratura.com.br)


A Câmara Brasileira do Livro (CBL) divulgou as obras finalistas do 61º Prêmio Jabuti, entre as 10 finalistas está um maranhense Ester Morgado - 9 de novembro de 2021 às 15:56

Os finalistas foram selecionados por meio das categorias de Literatura, Ensaios, Livros e Inovação. Para a edição deste ano, foram realizadas 3,4 mil inscrições, 31% a mais do que no ano passado. Entre os dez finalistas na categoria poesia, destaque para o jornalista, escritor e poeta maranhense, Eduardo Júlio,50, com o livro “O mar que restou nos olhos” (editora 7 Letras). O poeta Eduardo Júlio fala sobre a sua participação ” Estou muito feliz, não esperava. Entendo como um reconhecimento de um trabalho. Afinal, elaborei os poemas do livro com muita dedicação. O Mar que restou no olhos foi lançado pela editora 7 Letras, uma das principais de poesia do Brasil.” Eduardo disse sobre o que consiste a sua obra e o valor para si “O mar que restou nos olhos” é o meu segundo livro de poesia. Foi lançado exatamente há um ano e reúne um pouco mais 40 poemas, a maioria com temática sobre o mar, contendo vestígios da memória da infância e juventude. O primeiro se chama “Alguma


trilha além” e foi publicado em 2005, após ganhar um prêmio editorial da Secretaria de Cultura do Maranhão.” O Prêmio Jabuti é o mais tradicional prêmio literário do Brasil, concedido pela Câmara Brasileira do Livro. Criado em 1959, foi idealizado por Edgard Cavalheiro quando presidia a CBL, com o interesse de premiar autores, editores, ilustradores, gráficos e livreiros que mais se destacassem a cada ano.

MATHEUS GATO DE JESUS Pós-doutorando pela Universidade de São Paulo (USP). Doutor (2015) e Mestre (2010) em Sociologia pela USP. Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Foi pesquisador visitante no Hutchins Center for African and African American Studies da Universidade de Harvard (2017-2018) e na Universidade de Princeton (2013). Seus temas de investigação são: relações raciais, sociologia política e da cultura, pensamento social brasileiro, sociologia histórica, dos intelectuais, da literatura, dos regionalismos e dos processos de racialização nos espaços urbanos. MATHEUSGATODEJESUS@GMAIL.COM CURRICULO LATTES ARTIGOS DO PESQUISADOR (BIBLIOTECA VIRTUAL DO CEBPAP) NÚCLEOS DE PESQUISA AFRO CEBRAP SOBRE O PESQUISADOR


O Massacre dos libertos: sobre raça e república no Brasil (1888-1889) Autor: Matheus Gato Apresentação: Antônio Sérgio Alfredo Guimarães A História é sempre o resultado de uma escolha. Iluminam-se certos episódios, nublam-se outros, há sempre um presente para se sustentar com os fatos do passado. O futuro porém, está irremediavelmente associado ao passado, que precisa ser revisto e reexplorado para que caminhemos adiante. O Massacre dos Libertos recupera aos brasileiros a violência histórica do racismo e da escravidão no Brasil a partir de dois fatos seminais: a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República. E narra o massacre de negros que protestavam em São Luiz do Maranhão temendo que a República recém-constituída lhes retirasse a liberdade recém-conquistada. A partir desse episódio, o texto traça um panorama das reações racistas que se formavam e se incorporavam às estratégias dos senhores brancos para perpetuar o preconceito e a marginalização da população negra pelo mito da “fraternidade racial”. Uma multidão de negros, cerca de duas a três mil pessoas, se dirige à sede do jornal republicano O Globo em São Luís do Maranhão para protestar contra a proclamação da República que, dizia-se à boca pequena, revogaria a Abolição. Lá, a tropa postada para garantir a lei e a ordem abre fogo contra os manifestantes, matando – números oficiais – quatro pessoas e ferindo várias. O Massacre de 17 de novembro de 1889 articulou de modo singular os dois grandes eventos históricos do período – a abolição da escravatura e a proclamação da República –, revelando como a questão racial permeou as disputas durante a mudança de regime. Nesse contexto, do fim da ordem senhorial, as classificações de cor e outras categorizações de grupo, típicas do escravismo, foram ampliadas para incorporar as novas ideias raciais, e racistas, vigentes, redesenhando as fronteiras entre os grupos sociais. Matheus Gato aborda como o evento foi silenciado e contado ao longo dos anos. O Massacre dos Libertos desnuda as estratégias narrativas e ações políticas que visaram “apagar” as marcas da escravidão de nossa história em nome de um ideário de “fraternidade racial” que não abriu mão de hierarquizações codificadas pela cor. Um documento dos descaminhos da República, ontem como hoje. Texto escrito por Antônio Sérgio Alfredo Guimarães para o livro: Do ponto de vista da gente comum, a República de 1889 não vai mais além da disseminação do trabalho livre, que a Abolição instituíra: a aspiração à liberdade vê-se mesmo ameaçada por várias outras formas de trabalho servil, semisservil, e pelos inúmeros constrangimentos legais, econômicos, políticos, sociais e culturais ao exercício livre da força de trabalho, principalmente no campo. A começar pela ausência de um mercado nacional de trabalho. Nesse sentido, a República representa para a massa de homens recémlibertos o perigo da reescravização, dada a ideologia das camadas sociais que chegam ao poder, ou, se não reescravização, ao menos abandono e exclusão social. Antônio Sérgio Alfredo Guimarães é professor titular e pesquisador da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP


PRIMEIROS REGISTROS DA POESIA NA IMPRENSA DO MARANHÃO – DÉCADA DE 1820 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ACADEMIA POÉTICA BRASILEIRA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO

Tenho me dedicado ao resgate de escritores maranhenses esquecidos. Sirvo-me de comentários sobre este ou aquele autor, quando lembrado, em textos antigos, publicados em nossos jornais – sirvo-me da coleção de jornais da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional (Coleção Digital de Jornais e Revistas da Biblioteca Nacional (bn.br)). Esta semana, a confreira Dilercy Adler – ALL, IHGM – andou a consultar sobre poetas mulheres esquecidas, maranhenses, para indicação de patronato em alguma instituição literária a formar seu conjunto de homenageados com alguma cadeira.

Resolvi-me., então, a pesquisar mais a fundo as poesias publicadas em jornais daquela coleção, além do já levantdo. Segundo Bruno Brasil (2018)2: Entre 1821 e 1831, circularam em São Luís cerca de 13 periódicos de matizes políticas distintas, propensos ao debate à medida em que serviam aos interesses de grupos políticos locais. Tais entraves políticos, afinal, davam-se na imprensa a partir de diferentes interpretações que as elites políticas e intelectuais faziam do liberalismo, sempre adaptado de acordo com seus interesses de classe ou grupo social. Alguns dos principais interlocutores desses debates foram, além d’A Cigarra, O Censor Maranhense, Farol Maranhense, Minerva, A Bandurra, O Amigo do Homem, O Argos da Lei e A Estrela do Norte do Brasil: folhas que debatiam temas ligados à Independência e à monarquia constitucional, bem como aos direitos políticos dos cidadãos.[...] Assim, creio até prova em contrário, neste momento em que a Imprensa Maranhense completa seus 200 anos de existência, serem estas as primeiras poesias publicadas, comreçando pelo jornal “O CONCILIADOR DO MARANHÃO”3, que veio lume em 15 de abril de 1821 em São Luís (MA): [...] pouco após a abolição da proibição de circulação de impressos que não fossem da Impressão Régia, O Conciliador do Maranhão foi o primeiro periódico lançado em sua província. De orientação política estritamente áulica, não era nada “conciliador”, posto que acatasse apenas aos interesses portugueses no contexto do processo político que levou o Brasil à Independência. A razão para isso era simples: foi lançado pelo governador maranhense, o marechal português Bernardo da Silveira Pinto da Fonseca, que importara de Londres a prensa que o imprimia, mostrando, afinal, a força da presença lusitana no Maranhão, já que a ruptura entre a colônia e a metrópole traria desvantagens para a elite local. Tendo como redatores Antônio Marques da Costa Soares (então oficial-maior da secretaria do governo e secretário da Junta da Administração da Imprensa) e o padre José Antônio da Cruz Ferreira Tezinho, o jornal foi fortemente influenciado pela Revolução do Porto, crendo fielmente na Constituição portuguesa

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BNDigital por Bruno Brasil 24 MAIO 2018 Artigo arquivado em Hemeroteca e marcado com as tags Censura e repressão, Crítica política, Dom Pedro I, Imprensa Áulica, Imprensa oficial, Liberalismo, Maranhão, Portugueses no Brasil, Primeiro Reinado.

BNDigital


de 1822, de caráter liberal – mas esse marco inspirava, na verdade, o grupo cujos interesses eram defendidos pelo jornal: a elite provinciana. Tendo abordado os conflitos em torno da adesão forçada do Maranhão ao reino independente sob essa perspectiva, acabou deixando de ser publicado em sua 210ª edição, de 16 de julho de 1823, poucos dias depois da queda de São Luís para as tropas fiéis a Dom Pedro e cerca de duas semanas antes da efetiva inclusão da província ao recém-fundado Império do Brasil. [...] Conciliador do Maranhão (MA) - 1821 a 1823: ano 1821,


a 17 de fevereiro:


em 1822, no Suplemento ao número 64, uma ode “por hum anonymo”, que se identifica como o autor, quando de uma nota publicada em 1828, a 28 de julho, em O Farol Maranhense4: Odorico Mendes:

4 FAROL MARANHENSE, por Bruno Brasil 28 MAIO 2018 Artigo arquivado em Hemeroteca e marcado com as tags Censura e repressão, Crítica política, Dom Pedro I, Liberalismo, Maranhão, Primeiro Reinado: Redigido pelo jovem educador José Cândido de Moraes e Silva, o Farol Maranhense foi um proeminente periódico durante os últimos momentos do Primeiro Reinado. Vindo a lume a 26 de dezembro de 1827, exercia verdadeiro ativismo político pela causa liberal exaltada, ou seja, a considerada mais radical do liberalismo, sendo o primeiro órgão de sua vertente política no Maranhão. Defendendo os princípios constitucionais, conseguindo, aliás, grande sucesso junto ao público leitor da elite maranhense, foi, muito por isso, combatido por diversos jornais ideologicamente opostos e perseguido pelas autoridades da época: em linguagem afiada, atacava violentamente tanto os desmandos do poder provincial quanto o lusitanismo – lembrando-se que força de comerciantes e funcionários públicos portugueses no Maranhão de então, dado seus laços com a metrópole nos tempos coloniais, impôs dificuldades à adesão da província à Independência. Tal posicionamento, ademais, onde portugueses eram chamados pejorativamente de “corcundas”, aproximava o Farol, afinal, do levante conhecido como Setembrada, eclodido em dezembro de 1831. Com publicação finda em 15 de abril desse ano, possivelmente por conta da instabilidade causada pela iminência da revolta e da morte de Moraes e Silva, um de seus líderes, o periódico teve uma curta segunda fase, quando, entre 1832 e 1833, foi dirigido por João Francisco Lisboa. No total, o Farol Maranhense lançou 351 edições. BNDigital



Nesse mesmo suplemento, mais adiante:



Ano 1823



Minerva 5: Folha Politica, Litteraria, e Commercial (MA) - 1828 a 1829

5 MINERVA – FOLHA POLITICA, LITERARIA E COMMERCIAL (MARANHÃO, 1827) por Bruno Brasil 28 MAIO 2018 Artigo arquivado em Hemeroteca e marcado com as tags Conservadorismo, Crítica política, Dom Pedro I, Imprensa Áulica, Imprensa oficial, Maranhão, Portugueses no Brasil, Primeiro Reinado Redigido por David da Fonseca Pinto, Minerva foi um periódico lançado a 29 de dezembro de 1827, em São Luís (MA), em meio ao Primeiro Reinado. Seu surgimento se deu em paralelo ao de outras folhas maranhenses, geradas a partir da adesão da província à Independência. Frente ao ativismo político pela causa liberal, à época, onde a observação aos princípios constitucionais e a rejeição ao absolutismo tinham grande expressão, algumas vinham defender, contrariamente, os interesses da colônia portuguesa no Maranhão: comerciantes e funcionários públicos lusitanos, na província, tinham fortes laços com a metrópole desde os tempos coloniais, algo que dificultou mesmo a integração da província ao Império. Minerva, que trazia o brasão imperial em seu cabeçalho, acabou se enquadrando num gênero governista, pró-Dom Pedro, mas que no contexto local o aproximava mais do segundo do que do primeiro grupo: isso fez com que defendesse o governo provincial de Manoel da Costa Pinto (que durou de fevereiro de 1828 a janeiro de 1829) e fizesse apologia ao ex-presidente maranhense Pedro José da Costa Barros (que teve mandato de setembro de 1825 a março de 1827), publicando matéria oficial e pedindo, afinal, o retorno do Brasil à condição de colônia. Em consequência a essa postura conservadora, foi muito atacado por folhas liberais, sobretudo O Farol Maranhense. Minerva, todavia, acabou tendo vida curta: durou, possivelmente, até sua 51ª edição, de 5 de março de 1829.


A Cigarra (MA)6 - 1829 a 1830

6 A CIGARRA (MARANHÃO, 1829) por Bruno Brasil 25 MAIO 2018 Artigo arquivado em Hemeroteca e marcado com as tags Crítica política, Liberalismo, Maranhão, Primeiro Reinado Lançado a 12 de outubro de 1829, em São Luís (MA), A Cigarra foi um periódico político veiculado durante os últimos momentos do Primeiro Reinado. Redigido por Antônio Joaquim de Picaluga, em linguagem furiosa, estava inscrito no ativismo político pela causa liberal, à época, onde a observação aos princípios constitucionais e a rejeição ao absolutismo tinham grande expressão, indo contra os interesses da colônia portuguesa no Maranhão: comerciantes e funcionários públicos lusitanos, na província, sobretudo durante o governo de Manoel da Costa Pinto, tinham fortes laços com a metrópole desde os tempos coloniais, algo que dificultava a adesão maranhense à Independência. Denunciando, assim, os abusos cometidos pelo poder local e rivalizando com folhas maranhenses de interesses políticos distintos, A Cigarra tinha periodicidade mensal, sendo vendida a 160 réis a edição, primeiro na escola do capitão José Martins e depois no estabelecimento comercial de José Pereira de Sá. Foi editado por Picaluga até sua 19ª edição, de 17 de abril de 1830.


ERAM PORTUGUESES OS PRIMEIROS AUTORES DE POESIAS PUBLICADAS NOS JORNAIS MARANHENSES – DÉCADA DE 1820 – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Poética brasileira Academia Ludovicense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

Dando continuidade às buscas do que foi publicado nos jornais maranhenses nos primeiros anos da Imprensa encontramos algumas poesias – objeto do estudo – publicadas sem identificação de autores, ou assinados por anônimos. Buscamos a autoria dessas primeiras poesias, odes, e hinos: eram portugueses!!! E encontramos outras peças... Dente os autores, o Major de Cavalaria Rodrigo Pinto Pizarro (ajudante de ordens do Governador Bernardo da Silveira Pinto)i, ii; pressupõe-se que seja o autor do primeiro soneto encontrado. Seria ele RODRIGO PINTO PIZARRO PIMENTEL DE ALMEIDA CARVALHAIS primeiro e único Barão da Ribeira de Sabrosa?iii Em sua biografia consta que colaborou na Revolta Liberal do Maranhão de 1821-1822. SONETO Os ecchos expressivos d´alegria, A pompa, o festival contentamento, Os vivas repetidos cento, a cento, Prazer, brazão, e gloria deste Dia, Pasmarão na ´strellada moradia Os Deoses do remoto Firmamento; Que á Terra mandou Jove n´um momento Mercurio, por saber o que seria: Partio o mensageiro apressurado, Demanda a Maranhense Região, E tal progunta faz alvoroçado: Quem tanto prazer causa ó Maranhão? Não vez (lhe respondeo o Povo honrado) A SANCTA DEVINAL CONSTITUIÇÃO? Segundo Galvesiv, [...] O “povo” ocupou o Teatro, gratuitamente, nos dias 6, 11 e 13 de abril de 1821, para aclamar o rei, a Constituição e Pinto da Fonseca. Para o dia 6, Costa Soares [Antônio Marques da Costa Soares, um dos redatores d´O Conciliador, então oficial-maior da secretaria do governo e secretário da Junta da Administração da Imprensa] v - preparou um monólogo, alusivo à nova ordem política, recitado no Teatro: Oh prazer! Oh Virtude! Oh Pátria, Oh Glória! Oh Astros portentosos, que girais Em torno do Sol radiante que hoje assoma! Emanações d’um Deus, eu vos bendigo! Majestoso Congresso, a quem é dado Neste dia exultar, fruir delícias;


Sem reserva alteai canoros hinos Quais retumbam nos céus do Tejo e Douro Heróica Lusitânia os ferros quebra; E n’um firme padrão ovante eleva Indestrutível bem, vantagem certa, Da glória nacional, prelúdio augusto Santa Constituição! Teu almo [sic] influxo É astro benfeitor que volve em luzes Às vexadas nações, as densas trevas, Que usurpador abuso lhes mandava A tua aparição, sumindo crimes Atrai a Terra com ridente amplexo Virtudes divinais, que espavoridas, Do globo há muito desertado haviam! Graças mil a João, que há de breve Aos votos Nacionais unindo os votos Ser a bem do seu povo, um pai da Pátria, O Soberano maior do mundo inteiro! Maranhenses, louvai este áureo dia, Em que vem rutilar na vossa esfera A sã Constituição que vos promete Os ridentes anais da Idade d’Ouro E gratos exaltai Silveira exímio! A cuja sombra venturosos sempre, Alcançareis a meta esclarecida Por que a Lusa Nação ansiosa anela Continuando: [...] Costa Soares saudou os pilares da “nova ordem”: Constituição, D. João VI e Pinto da Fonseca, chamado de ‘SILVEIRA’”. No mesmo estilo gongórico, compôs o Hino Constitucional, cantado repetidas vezes dentro do Teatro:

HYMNO CONSTITUCIONAL. Viva SILVEIRA, prezado Dos Póvos do Maranhão, Para regellos esp´rando A nova CONSTITUIÇÃO. Sempre Heroes como SILVEIRA, Honrem a Lusa Nação, Para durar quanto o Mundo A nossa CONSTITUIÇÃO, Va fulgurar entre os Astros, Seja eterno, áureo Padrão, Em que o bom SILVEIRA jura A nossa CONSTITUIÇÃO.


SILVEIRA, que he quase hum Nume, Triunfou da ingratidão, Para ser abençoado Dos Povos do Maranhão. Raivando morda grilhões A ímpia rebelião, Em quanto SILVEIRA adorão Os povos do Maranhão. (Conciliador, nº 6, 3/5/1821, p. 47-48).

Antônio Marques da Costa Soares, oficial maior da secretaria do governo, foi diretor da Tipografia e autor de peças teatrais elogiosas apresentadas ao governo português no Teatro União.vi Outro poema, também publicado em O Conciliador do Maranhãovii, foi apresentada pelo leitor “Um amigo da boa ordem” para saudar a nova ordem constitucional, na edição de número 8, de 10 de maio de 1821. O autor da homenagem comentou as informações que a publicação trouxe na primeira edição, quando os redatores detalharam a missão do jornal maranhense. “Um amigo da boa ordem” elogiou o jornal e criticou os opositores do governo, através de um poema de Camões: Mas o pior de tudo é que a ventura Tão ásperos os fez, e tão austeros Tão duros, e de engenho tão remisso Que a muitos lhe dá pouco ou nada disso A 17 de fevereiro aparece este trecho de uma ode, sem identificar o autor, parece que transcrito de Ode Pindáricasviii de Antônio Diniz da Cruz e Silva (Elpino Nonacriense)ix, Dirás talvez calumnia detestável, Que em Dirce emplumo ufano, As aureas setas de hum brilhante engano; ........................................................ Mas talvez por empresa menos belas, Brilhe de Leda a prole entre as estrelas. A.D. da Cruz. Od. Pind.x Segue o seguinte ‘SONETO”: Seja, ou não, a oferenda derradeira, A que aceitas, espada rutilante, Quão própria do teu punho, Heroe prestante, Oh saudoso, magnânimo SILVEIRA! A terra Transmontana, a Herminia Beira, (E por todas o impávido Amarante,) Lysia, Hespanha, América distante, * Dão-te duas Crôas – Cívica, e Guerreira, São estes os lauréis, he este o espólio, Que os Honrados te dão, que te pertence,


Bem que sejas credor d´hum Sceptro, e Sólio: Hum Nume foste!. A Patria que te incense; Colocando no Luso Capitolio, O Paládio do Povo Maranhense!... •

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E este outro, de Manoel Ferreira Freire, [...] portuguez por nascimento, falleceu na capital do Maranhão, cidadão brasileiro, por haver adherido á constituição do Império. Era professor particular da lingua portugueza e da latina e poeta. Escreveu: — Cartas de Calypso, Telemaco, Eucharis e Mentor, escriptas originalmente sobre o romance histórico do Arcebispo Fenelon. Maranhão, 1847, in-8°— São em verso. — O cântico das aves: poema em dous cantos. S. Luiz, 1855, 56 pags. in-8°— Depois do poema, que é em verso hendecasyllabo, seguem-se outras poesias [...]xi. Vous pourez raffermir, por um accord herenux, Du peuple, &c. du Roi les lefitimes noenuds; El faire encore fleurir la liberté publique, Sous l´ombrage sacr´r du pouvir Monatchique. Voltaire. SONETO No tempo em que foi presa, e foi captiva, A Lusa Pátria pelo Côso arteio, Luso Nestor (com ímpeto guerreiro,) Encheste os planos, de Belona altiva: Brio excelso, que a Honra te motiva, Te fez ao Tempo, e ao Lethes sombranceiro, E athe o ardente Clima Brasileiro, Dos teus Commandos as licções deriva. Muitos que o cingem ferro venerando, Os Nuncios são a penas de Mavorte, Tinindo a espada, o bronze trovejando; SILVEIRA ostenta o macio, e o forte !.. De Themys cumpre os Votos, governando, Mas no Crime derrama o susto, e a Morte. Por Manoel Ferreira Freire Ainda em 1822, no Suplemento ao número 64, de 28 de fevereiro, uma “ode” “por hum anonymo”: POEZIA A´ profundíssima dor que sente o Maranhão na Saudosa despedida do Ill.mo e Ex.mo Sr. Bernardo da Silveira Pinto, Cappitão General Encarregado do Governo Provisório desta Provincia. .............................................


ODE Desfez os olhos teus em triste pranto, Teus cabelos disgrenha impetuoso, O´ Maranhão gentil; De funereo yéo, de negro manto Cobre a face magoada; e delorozo Suspiros mil a mil Exala do teu peito amargurado, Que a gemer, e chorar está julgado. Despe o rico Vestido, esse ornamento, Com que ostentas a tua formosura, Toma a lúgrube Veste Em signal do profundo sentimento, Da tristeza mortal, que te amargura; Chora em fim que perdeste Hum Thesouro de preço inextimável, Perdendo hum General o mais amável. Quis a Sorte mostrate alegre o rosto; Com afável sorrizo te oferece O prazer perdurável; Mas oh! Quanto depressa em teu desgosto O enganoso prazer desaparece! Inconstante, mudável Volta a face infiel; já com presteza Sobre ti vem a pallida tristeza. Já de ti se apodera ador aguda; Teu repôzo tranquillo desordena Mortal melancolia; Oh! Como em breve tempo foge, e muda Abrilhante fortuna! em triste pena Se converte a alegria! Teu Genera, o teu SILVEIRA amado, Infelis Maranhão, te he roubado. Ou tu nunca da Sorte mereceras Hum só meigo sorriso, ou permanente A fortuna te fora; Costumado as desditas não gemeras, Esta ausência te fora indeferente; Não sentirás agora, Não choraras de todo inconsolável Do bom SILVEIRA aperda irreparável. Era o Seu Coração Docil, mui Terno, Liberal, Generozo, Compacivo, Benfazejo, Abrigante. No difícil manejo do Governo Sabio, Firme, Fiel, Inteiro, Activo, Verdadeiro, Constante...


Oh! Que tudo perdeste, e só te resta O chorar huma perda tão funesta. Em soluços, e pranto lamentável, Entre erebros suspiros penetrantes, Com voz atroadora Declama contra a Sorte inexorável. Reconheção os povos mais distantes A dor, que te devora. E disse, quando a Náo vires voando, “A Deos, SILVEIRA, A Deos: ah e athe quando?” Por hum anonymo

Em princípio, pensei que poderia ser o autor desse poema Manoel Odorico Mendes, devido a uma nota publicada em 28 DE JULHO 1828 em O FAROL MARANHENSE xii, referindo-se a uma “ODE”, obra de sua primeira mocidade, ante ataques que recebera publicadas em A Bandurra: [...] Que a chamada Ode foi uma obra de minha primeira mocidade, claramente se manifesta a quem a tiver lido, se a comparar com outras pequenas produções poéticas da minha lavra. A tal Ode é um tecido de maus versos, de pensamentos triviais, de declamações, sem que haja ali nem dicção, ne estilo, e o peior de tudo, sem a mínima sobra de Poesia; [...] Envergonhado estou de sair a luz similhante versalhada, mas que admira? O Sr. João Crispim, para me deprimir, era capaz de publicar na Bandurra as vezes que faltei á escola, e todas as minhas travessuras pueris. Contente devo eu estar de ser necessário aos meus detractores recorrer a erros e devaneios dos meus 16 anos, quando me querem censurar pelas minhaqs opiniões na CXamara dos Deputados. [...] Vê-se ser impossível ser o seu autor, embora se refira à uma “Ode” publicada aos 16 anos, conforme afirma. É mais provável seja de autoria de José Pereira da Silva: José Pereira da Silva, 2o — Nascido no Maranhão também no século XVIII, como o precedente, foi bacharel em direito pela universidade de Coimbra, formado em 1785, e cultor das musas. Consta que deixou muitas poesias inéditas e mesmo publicadas. Só conheço delle : — Odes (duas) a S. M. I., e á independência do Brazii —Acham-se no volume « A fidelidade maranhense demonstrada na sumptuosa festividade que no dia 12 de outubro e seguinte fez a câmara da cidade, etc » Maranhão, 1826, pags. 119 a 122.xiii

Nesse mesmo suplemento, mais adiante, um soneto de Sotero dos Reis: POEZIA A´ despedida do Ilmo e Exmo Senhor Bernardo da Silveira Pinto, ex-Governador Provisório do Maranhão SONETO Soberbo dividindo o mar tumente Enche as Vellas o George empavesado; Do grão SILVEIRA o George empavesado; Curva o mesmo Neptumno o seu tridente. Lagreniando no lucido Oriente


Esconde abella Aurora o rosto amado; Mil ais o Maranhão solta magoado A custo alevantando a grave frente. Dos Favonios o hálito volteia Bafejando Galerno o mar de rosa: O echo de um gemido além vagueia!... A Maranese Gente em vão chorosa Seos Fados acusando de dor cheia, Vai nas ondas perder a voz saudosa Por Francisco Suterio do Reis Francisco Sotero dos Reis nascido no Maranhão, a 22 de abril de 1800: então o primeiro maranhense a publicar poesia no Maranhão... Mas Pinheiro (2016), na edição de número 72, de março de 1822, traz, em sua obra, três sonetos e um poema que abordam o retorno do general Bernardo da Silveira para Portugal. Em um dos sonetos, assinado por “um maranhense”, o autor se mostra agradecido ao militar: traz o mesmo soneto publicado no suplemento do número 64, acima transcrito. Prossegue Pinheiro em sua análise: O título é “Saudoso adeus ao general Silveira”, que relaciona dois textos. No primeiro, assinado por “Barboza”, o nome do ex governador é ressaltado: “A inveja, as mãos. Peito dilacera, ouvindo o teu louvor o justo exulte, e a humanidade se honre” (O Conciliador do Maranhão, 20 de março de 1822, nº 72, p. 4: POEZIA Saudozo Adeos ao General Silveira De louvor escudado há-de o teu Nome, Passar de idade em idade, em quanto a terra Pisarem desgraçados. ............................................................... A inveja, os mãos o peito dilacerem. Ouvindo o teu louvor, o Justo exulte, E a Humanidade se honre. Barboza

O segundo texto, também assinado “Por hum Maranhense”, defende as homenagens ao político e militar: Ei-lo no pélago entregue em frágil lenho, Por entre riscos mil na incerta senda! Estaes desafrontados da canceira Acintosa de ouvir chamar-lhe Justo? Ou ainda em vossos broncos peitos lavra, Súlfúreo lume dessa filha do Orco? Nescios!! Ingratos!!! Descaldar tentaveis Provado peito nas mais árduas crises Da honra, do valor, do Patrio zelo,


E do zelo de bem felicitar-nos? Ponde em campo dos Arsenaes da Inveja, Quanto há forjado a sórdida Officina, O convício, as injurias, os sarcasmos: Embora os rostos envidai no ataque; Não tereis mais q´hum lúgubre triunfo. Vós meus Concidadãos, amigos delle, Amigos da virtude, aos Ceos pedi-lhes, Que transpondo feliz o imenso lago, Sem que borrasca lhe enegreça os áres, Nem ouse Eólo suscitar tumutos, Lhe seja fausto o dia entrando o Tejo; Que a \pátria o felicite jubilosa; Jubilosos a Nobre Espoza, e Prole. Em nós aquelle Adeos heroico, ingeno; Que affectos leva mas lições nos deixa; Cravado n´alma remermuro eterno!... Demais se fez credor SILVEIRA exímio: SILVEIRA a quem vereis ainda a seus cultos, Seu culto o Maranhão reunir absorto; E por quem regularse hão-de os vindouros, A quem Povos reger for dado em sorte. Por hum Maranhense

Outro soneto, sem autor informado, também destaca as qualidades do general Bernardo da Silveira. Foi publicado na mesma página da edição citada: SONETO Embora vil intriga monstruosa, Em peso o Maranhão desassossegue; Embora o fanatismo ee-lhe agregue, Do crime na carreira indecorosa. A cândida Virtude luminosa, Que a rasão briladora amante segue, Da calumnia brutal sempre consegue Victoria (inda que tarde) portentosa. O magnânimo Heroe brilha, fulgura; Sua fama imortal, servil maldade Não pode detrair com língua impura. Aclarada de todo alma verdade, Do Silveira sem par a gloria pura No Templo fulgirá da Eternidade. (O Conciliador do Maranhão, 20 de março de 1822, nº 72, p. 4).

Seguem-se-lhe:


MOTE De Silveira o Padrão qual Astro fulge SONETO Sulcando mares, por ninguém sulcados, Eternisa seu nome altivo Gama; Os espantosos feitos sublimados: Do Oriente nos lares apartados, De verde louro Castro a fronte enrama; De Pacheco infeliz decanta a Fama, Portentos divinaes mal compensados. Sepulveda inmortal, Heroe famoso, Doce mimo da Patria hoje refulge D´Ullissea no Clima venturoso: Cabreira ao lado seu também confulge; E da intriga apesar, sempre radiante De SILVEIRA o Padrão qual Astro fulge. Ao Illmo. Sr. Antonio Jozé Meirelles, Commendador da Ordem de Christo &c. &c. &c. SONETO A Diva que embocando a tuba de ouro, Hum Pacheco eterniza, hum Nuno ousado, Teus méritos brilhantes tem cantado, Com suave prazer no Tejo e Douro. Qual athegora, em século vindouro, Fulgindo egrégio sempre á gloria dado, Serás com regozijo celebrado, La na estancia em que habita o Numem louro. Charo às musas, Meirelles fortunoso, Cõ a fronte haureada exulta ovante, Na Maranhense Plaga alti-famoso. Qual d´ Apollo fulgura a luz radiante, Tal brilha o nome teu Varão posmoso Da Memoria no Templo rutilante. Por José Pereira da Silva Segundo Moraes , era poeta satíricoxiv: [...] Sem tardança, tornou-se a Tipografia Nacional Maranhense a gênese das atividades editoriais propriamente ditas no Maranhão. Entre os diversos volumes saídos de seus prelos, vêm-se à lembrança, sem nenhum propósito de citar exaustivamente, mas apenas para efeito de exemplificação, os livros “Poesias”, do poeta satírico José Pereira da Silva, e “A fidelidade maranhense”.[...]


Mais um maranhense entre os primeiros poetas publicados...

NOTAS i BERNARDO DA SILVEIRA PINTO DA FONSECA (Várzea de Abrunhais, Lamego, 1780 — maio de 1830), 1.º visconde da Várzea, foi um marechal-de-campo do Exército Português e administrador colonial. Foi o último governador português da capitania do Maranhão, cargo que exerceu de 24 de agosto de 1819 a 15 de fevereiro de 1822. Nomeado governador e capitão general do Maranhão, cargo que exerceu até 15 de fevereiro de 1822, r evelou-se um excepcional administrador, sendo impresso em tipografia instalada por sua iniciativa o primeiro jornal maranhense, intitulado O Conciliador do Maranhão. Durante o seu governo a cidade de São Luís do Maranhão passa por grandes reformas, com os edifícios públicos restaurados, as ruas calcetadas e o Largo do Palácio transformado em aprazível Passeio Público. ii Apelidado pela chocarrice maranhense de o Dente de Alho, por ter na arcada dentária superior um incisivo pronunciadamente incisivo Comentário de Jomar Moraes em Um editor maranhense, disponível em Um editor maranhense - BLOG – ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS iii por vezes simplificado em Barão de Sabrosa (Alijó, Vilar de Maçada, 30 de março de 1788 — Alijó, Vilar de Maçada, 8 de abril de 1841); consta ter sido militar e político português, presidente do Conselho de Ministros. iv GALVES, Marcelo Chece. Comemorações vintistas no Maranhão (1821-1823). Outros Tempos Volume 8, número 12, dezembro de 2011 – Dossiê História Atlântica e da Diáspora Africana, 2011 v BNDigital vi PINHEIRO, Rosane Arcanjo. O Conciliador e o jornalismo maranhense no início do século XIX. Tese apresentada ao programa de pós-graduação em Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul como requisito parcial para obtenção do grau de doutor. Linha de Pesquisa: Práticas profissionais e processos sociopolíticos nas mídias e na comunicação das organizações. Orientador: Professor Dr. Antonio Hohlfeldt Porto Alegre 2016 vii O Conciliador do Maranhão, 10 de maio de 1821, nº 8, p.6, citado por PINHEIRO, 2016 viii Odes Pindaricas, De Antonio Dinys Da Cruz E Silva: Chamado Entre Os Poetas Da Arcadia Portugueza, Elpino Nonacriense ... Antonio Dinis da Cruz e Silva Hansard, 1820 ix ANTÓNIO DINIS DA CRUZ E SILVA (Lisboa, 4 de Julho de 1731[1] – † Rio de Janeiro, 5 Outubro de 1799) é um poeta português do século XVIII, foi magistrado de profissão e fundador da Arcádia Lusitana em 1756. Em 1801 são publicadas as "Odes Pindáricas", em 1802 o poema "O Hissope" e, entre 1807 e 1817, parte significativa da sua obra foi publicada em seis volumes sob a denominação "Poesias". António Dinis da Cruz e Silva – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org) ANTONIO DINIZ DA CRUZ E SILVA, Cavalleiro professo na Ord. de S. Bento d’Avis, Doutor na faculdade de Direito Civil pela Universidade de Coimbra; seguiu os logares de magistratura até o de Chanceller da Relação do Rio de Janeiro; sendo ultimamente nomeado Conselheiro do Conselho Ultramarino, cargo de que consta tomara posse, mas que não chegou a exercer. – N. em Lisboa, na freguezia de Sancta Catharina a 4 de Julho de 1731, e m. no Rio de Janeiro no anno de 1799 ou principio de 1800, sem que todavia seja possivel designar a data precisa do seu falecimento. António Dinis da Cruz e Silva | Escritores Lusófonos (escritoreslusofonos.net) x Antônio.Diniz da Cruz e Silva (Elpino Nonacriense), Odes Pindaricas , Lisboa—1817; xi SACRAMENTO BLAKE. Augusto Victorino Alves. DICCIONÁRIO BIBLIOGRAPHICO BRASILEIRO. Volume 6. Rio de Janeiro: Imprensa oficial, 1900, p. 77 xii FAROL MARANHENSE, por Bruno Brasil 28 MAIO 2018 Artigo arquivado em Hemeroteca e marcado com as tags Censura e repressão, Crítica política, Dom Pedro I, Liberalismo, Maranhão, Primeiro Reinado: Redigido pelo jovem educador José Cândido de Moraes e Silva, o Farol Maranhense foi um proeminente periódico durante os últimos momentos do Primeiro Reinado. Vindo a lume a 26 de dezembro de 1827No total, o Farol Maranhense lançou 351 edições. BNDigital xiii SACRAMENTO BAKE, Augusto Victorino Alkves. Diccionario Bibliographico Brasileiro (Volume 5: Letras Jo-Ly). [Rio de Janeiro] : Conselho Federal de Cultura, 1970 civ MORAES, Jomar. Um editor maranhense, 30 de janeiro de 2013, Jornal: O Estado do Maranhão, Um editor maranhense - BLOG – ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS


CADEIRA 22 JOSÉ AMÉRICO OLÍMPIO CAVALCANTE DOS ALBUQUERQUE MARANHÃO SOBRINHO

ANTÔNIO AILTON SANTOS SILVA 1º. Ocupante




Este projeto foi iniciado há uns dez anos e contou com textos em homenagem a Arlete Nogueira, Nauro Machado, Luís Augusto Cassas,. Carvalho Junior, Ferreira Gullar, Mário Quintana e muitos outros autores que fazem parte de minhas leituras. Agora retorno com uma homenagem ao poeta amigo Antonio Ailton. Ainda hoje terá um outro a outra pessoa muito especial para mim.

JOSÉ NERES



CADEIRA 26 RAIMUNDO CORRÊA DE ARAÚJO

JOÃO BATISTA RIBEIRO FILHO 1º. Ocupante



CADEIRA 27 HUMBERTO DE CAMPOS VERAS

JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES (Fundador)


Além do Conselheiro XX, Campos usou os pseudônimos de Almirante Justino Ribas, Luís Phoca, João Caetano, Giovani Morelli, Batu-Allah, Micromegas e Hélios. Deixou Humberto de Campos um diário secreto, publicado postumamente em livro e reproduzido parcialmente em algumas edições de O Cruzeiro, causou enorme polêmica, destilando o autor críticas e comentários mordazes aos seus contemporâneos. Além de Poeira, publicou: Da seara de Booz - crônicas - 1918 Vale de Josaphat - contos - 1918 Tonel de Diógenes - contos - 1920 A serpente de bronze - contos - 1921 Mealheiro de Agripa - 1921 Carvalhos e roseiras - crítica - 1923 A bacia de Pilatos - contos - 1924 Pombos de Maomé - contos - 1925 Antologia dos humoristas galantes - 1926 Grãos de mostarda - contos - 1926 Alcova e salão - contos - 1927 O Brasil anedótico - anedotas - 1927 Antologia da Academia Brasileira de Letras - participação - 1928 O monstro e outros contos - 1932 Memórias 1886-1900 - 1933 Crítica (4 séries) - 1933, 1935, 1936 Os países - 1933 Poesias completas - reedição poética - 1933


À sombra das tamareiras - contos -1934 Sombras que sofrem - crônicas - 1934 Um sonho de pobre - memórias - 1935 Destinos - 1935 Lagartas e libélulas - 1935 Memórias inacabadas - 1935[4] Notas de um diarista - séries 1935 e 1936 Reminiscências - memórias -1935 Sepultando os meus mortos - memórias - 1935 Últimas crônicas - 1936 Contrastes - 1936 O arco de Esopo - contos - 1943 A funda de Davi - contos - 1943 Gansos do capitólio - contos - 1943 Fatos e feitos - 1949 Diário secreto (2 vols.) - memórias – 1954


CADEIRA 31 MÁRIO MARTINS MEIRELES

ANA LUIZA ALMEIDA FERRO Fundadora



É COM PRAZER QUE ANUNCIO QUE FUI ELEITA PARA OCUPAR A CADEIRA 13, PATRONEADA POR RAIMUNDO TEIXEIRA MENDES, DA ACADEMIA BRASILEIRA DE FILOSOFIA (ABF), COM SEDE NA CASA HISTÓRICA DE OSÓRIO, NO RIO DE JANEIRO. SÃO MEMBROS DESSA AUGUSTA ACADEMIA, PRESIDIDA PELO PROF. EDGARD LEITE FERREIRA NETO, CARLOS NEJAR, NÉLIDA PINON, JORGE TRINDADE, JEANYVES BÉZIAU, MERVAL PEREIRA, IVES GANDRA, SÉRGIO PAULO ROUANET, LUIS FUX, CÂNDIDO MENDES, DENTRE MUITOS OUTROS. A POSSE PRESENCIAL DEVERÁ OCORRER AINDA ESTE ANO.





CADEIRA 34 LUCY DE JESUS TEIXEIRA

CERES COSTA FERNANDES 1ª. OCUPANTE


AS CEM MIL VAQUINHAS Ceres Costa Fernandes

Meu pai tinha especial predileção por uma anedota aparentemente tola, a das Cem Mil Vaquinhas. É necessário conhecê-la para o bom entendimento da nossa conversa: “Um homem de aparência humilde, roupas modestas, chapéu de palha, após horas na sala de espera de um banqueiro, é introduzido no seu gabinete. Mas pouco lhe adianta essa promoção, porque o banqueiro, sentado à uma enorme mesa, escreve de cabeça baixa e sequer levanta a vista à entrada de nosso personagem que, constrangido, quase colado à porta, permanece de pé rodando o chapéu nas mãos. A cena persiste por mais de vinte minutos: o caboclo de pé, chapéu na mão, ignorado e o banqueiro, cabeça baixa, escrevendo. Finalmente, o visitante cria coragem, Doutor, eu vim aqui tratar das minhas cem mil vaquinhas, como o senhor está muito ocupado, venho outra hora. Opera-se uma súbita transformação no banqueiro. Ele ergue a vista e pergunta, como disse? Cem mil vaquinhas? Sim, da minha fazendinha, mas já vou indo, não quero incomodar. De um salto, o magnata levanta-se e oferece uma cadeira. Sente-se, meu senhor. O caboclo, nada ingênuo, olha a cadeira e diz: sentem-se minhas cem mil vaquinhas.” Vale quem tem. A propósito, conheci um homem rude e semianalfabeto que preconizava, do alto de sua sabedoria cumulada de vivências amargas: Se um homem tem somente uma cabra, ele vale uma cabra; se tem uma cabra e um boi, ele vale uma cabra e um boi. Se não tem nada, não vale nada. E eu complemento, se tem cem mil vaquinhas, vale cem mil vaquinhas. E aí você, meu amigo, tem certeza de que as coisas que lhe são oferecidas, as considerações que recebe, o apoio, a ajuda e até o amor são devidos à sua pessoa, e não às suas cem mil vaquinhas? Ah, não tem? Eu também não. Que fazer então? Tentar separar o joio do trigo. Não deve ser tão difícil saber distinguir o que é nosso, por mérito e amizade, do que é devido somente às vaquinhas. É só pôr o desconfiômetro em ação. Mas isso só funciona se você não for uma pessoa daquelas de ego superinflado - o alvo predileto dos aproveitadores e puxa-sacos, que eles têm faro –, nesse caso, o amigo está fadado a só descobrir a diferença quando perder o cargo, ficar pobre ou não ser mais o detentor daquilo que interessa ao bajulador. Vamos que você consiga fazer essa distinção. Parabéns. Mas não vale ser tolo, não se trata aqui de afastar os puxa, lambaio também tem sua utilidade, carregar pastas, abrir portas, fazer-lhe elogios rasgados – quem gosta de críticas? –, jamais retrucar, concordar incondicionalmente com suas ideias, ouvir com admiração aquele poema xaroposo que escrito na adolescência. E por aí vai. Aproveite. Na sua família e entre seus amigos, você não vai encontrar ninguém que se preste a isso. O perigo é se deixar envolver e abrir a guarda. La Fontaine, na sua fábula “O Corvo e a Raposa”, nos conta como a raposa, cobiçando o queijo que o corvo, pousado em uma árvore, mantinha preso ao bico, mercê de falsos elogios à sua voz, o faz abrir o bico para cantar, soltando, assim, o objeto de desejo do esperto animal. Na moral da história, o mestre fabulista, nos ensina: “Apprenez que tout flatteur vit aux dépens de celui qui l’écoute, cette leçon vaut bien un fromage, sans doute”. (Aprendei que todo bajulador vive às custas daquele que o escuta, esta lição vale bem um queijo, sem dúvida). Aproveite o elogio, mas não solte o queijo. Lembro da clara percepção do meu pai a esse respeito, em diversas ocasiões. Uma delas: um amigo importante frequentava a nossa casa aos domingos. Às vezes, empregados dispensados, meu pai pedia um café à minha mãe. Ele se adiantava, Deixe comigo, e seguia para a cozinha. Mamãe, no fundo, gostava, não era chegada a um fogão, mas se horrorizava, Não é possível, Fulano a passar café na cozinha! E papai, irônico, Deixa, Nega, o café não é para mim, é para as minhas cem


mil vaquinhas. Depois da morte de meu pai, este dedicado amigo nunca apareceu para saber se minha mãe e os filhos precisavam de alguma coisa. A filosofia das vaquinhas me poupou de surpresas ou mágoas maiores em histórias velhas e recentes. As raposas protagonistas não se assustem. Não as contarei. Só lhes digo: Meninos, eu vivi.



CARLOS DE LIMA, UM HOMEM INVULGAR Ceres Costa Fernandes Caras confreiras e confrades, familiares de Carlos e Zelinda Lima, nossos homenageados, queridos amigos presentes, estamos aqui, em 27 de outubro de 2021, cumprindo, com alegria, o dever de homenagear Carlos Orlando Rodrigues de Lima, o patrono da Cadeira nº 33, da Academia Ludovicense de Letras, que vem de completar cem anos de nascimento em 2020, ano em que pretendíamos homenageá-lo pela passagem do centenário, quando sobreveio a pandemia deste inimaginável vírus, o Covid 19. Estamos, pois, com um ano de atraso, mas sempre é tempo de louvar quem nos legou belos e importantes escritos e lúcidos exemplos de cidadania. Carlos de Lima nasceu em São Luís – MA, em quatorze de março de 1920 e faleceu em nove de maio de 2011. Filho de pai comerciante e mãe dona de casa. Escritor, pesquisador, historiador, cronista, folclorista, ficcionista e, acima de tudo, grande figura humana. Em que pese ser polígrafo, foi autodidata, não cursou universidades, nem teve formação específica de historiador, note-se, como também não o tiveram a maioria dos grandes nomes na historiografia maranhense. Mas, esperem, não foi bem assim, Carlos de Lima foi técnico em Contabilidade e Administração e complementou sua formação acadêmica com cursos de aperfeiçoamento em áreas como Crítica Cinematográfica; História Cultural; Cenotécnica; Interpretação Teatral; Folclore; Museologia; Informação Turística; Arte Moderna; Iniciação às Artes Plásticas; Museografia; Metodologia do uso de Fontes Orais, dentre outros. Estudos que melhor lhe aproveitaram para a importante obra que produziu. Do seu currículo, ainda consta ter sido Segundo Tenente R-2 do 24 BC. Durante a 2ª Grande Guerra, apresentou-se como Voluntário da Pátria. Como assim? O tranquilo e pacifista Carlos de Lima quis ir para o coração da luta? Sim. Patriota convicto, ele nos conta, em Memória de velhos, “cheguei a pagar do meu bolso uma radiografia para o exame médico, a fim de fazer um estágio em Recife, para depois embarcar para o teatro das operações, na Europa. Não cheguei a ir a Recife. Não sei se por azar meu ou por sorte dos alemães, a 2ª Guerra acabou antes que eu viajasse.” Além de militar em tempo de guerra, foi membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e ocupante da Cadeira nº 7 da Academia Maranhense de Letras. Filho único de família de classe média, muito jovem precisou parar de estudar e trabalhar para ajudar na subsistência familiar, desde que o pai alternava altos e baixos em seus empreendimentos comerciais. Apaixonado pelo Maranhão e sua cultura, em especial pela sua cidade, São Luís, mesmo empenhado na luta pela sobrevivência, aplicou-se longos anos ao estudo da cultura e história maranhenses no pouco tempo que lhe sobrava. Na juventude, desfiou inúmeros e variados trabalhos, que ele não recusava nenhum, de cobrador da Sociedade de Defesa dos Filhos dos Lázaros e Defesa contra a Lepra, aos quinze anos, a funcionário da Alfândega,


quando começou a estudar para o rigoroso concurso de bancário do Banco do Brasil, no qual foi o primeiro colocado, na que seria a sua profissão definitiva. Longos anos de prestigioso trabalho, até a aposentadoria. Aposentado, enfim, realizou seu grande sonho, dedicar-se apenas a escrever e pesquisar sobre o Maranhão, com grande paixão, como tudo o que realizava. Procurou cercar-se de historiadores e poetas, como Jerônimo Viveiros, Mário Meireles, Odylo Costa, filho, e de artistas acadêmicos e populares, bebia da fonte erudita com os acadêmicos e da água límpida do folclore com os artistas da cultura popular. Possuidor de talento multifacetado, interessado em todas as manifestações de arte, foi fundador do Teatro Experimental do Maranhão (TEMA) e trabalhou como ator nas peças A ratoeira, Gimba, presidente dos valentes, O processo de Jesus, A revolução dos beatos e Por causa de Inês. Fez algumas participações em filmes e televisão locais, a exemplo de A faca e o rio, Uirá, um índio à procura de Deus e Carlota Joaquina, princesa do Brasil. Carlos de Lima foi um grande folião, como ele mesmo revela ”Brinquei carnaval durante quarenta e cinco anos, dos quinze aos sessenta”. Foi um dos fundadores do bloco Coringas, um dos mais famosos blocos tradicionais do carnaval do Maranhão. Nessa época, anos 30 e 40 do século passado, havia uma competição acirrada entre os blocos nascentes, que hoje são os chamados blocos tradicionais, principalmente entre o Coringas e o Vira-Latas. Havia torcidas ferrenhas. Acresce que a competição era lírica, travava-se através de músicas, nada de insultos ou agressões físicas, uma delícia de guerra poética, a usar como armas versos e canções. O Vira-Latas tinha um hino:

Saímos para mostrar a nossa bandeira, Há muitos anos que nós temos união. Salve a mocidade Vira-Lata, como não? Quem fala de nós tem paixão. Carlos de Lima, em resposta, faz a letra e a musica do hino do Coringas: Coringas é o dono do baralho, Essa é a verdade que eu sei, E a Dama, a Dama que é muito boa deixa o Rei que tem coroa pelo Coringa que é rei. Coringa agora que é folião dá carta e joga de mão.

Esta música, junto com outras de sua lavra e de outros compositores de blocos, estão reunidas no CD Carnaval dos Bons Tempos, patrocinado pela Secretaria de Cultura do Estado do governo Roseana Sarney. Por ocasião de sua posse, em fevereiro de 2008, na Cadeira nº 7 da Academia Maranhense de Letras, Carlos de Lima disse, no seu discurso de empossando, fazendo chiste com a sua idade avançada, bem ao seu modo descontraído de falar, que não estava ocupando a vaga deixada por seu antecessor, já que ele mesmo era uma vaga. Tinha, à época da posse, oitenta e oito anos e faleceu aos noventa e um, em plena produtividade literária. Viveu mais três anos. Nunca um curto tempo foi tão grato às lides acadêmicas. Mestre da convivência, cordial e bem-humorado, constantemente presente e com disposição jovial para sugerir e colaborar com os trabalhos. Sobressaiu-se na ocupação da cadeira patroneada por Celso Magalhães, que ele, em momento algum, postulou. Só aceitou assumir a candidatura, após forte bombardeio dos argumentos de seus futuros pares. Bastava-lhe o ofício anônimo e diuturno de escrever. Autor de numerosos livros, dezoito ao todo, e possuidor de alentado conhecimento do Maranhão histórico e popular, preferia o recolhimento e não buscava glórias nem as luzes das passarelas.


Carlos de Lima foi perfeito nas duas vertentes buscadas na vivência acadêmica: a convivência cordial e a qualidade da produção intelectual. Nestes três anos, lançou o segundo e terceiro volumes da trilogia sobre historiografia maranhense: História do Maranhão, a monarquia, 2008 – sobre esta obra nos acrescenta Maria de Lourdes Lauande Lacroix, “Sem se acorrentar aos ditames de Chronos, no entanto, ele por vezes passeia na linha do tempo, num ir e vir a épocas mais distantes ou bem recentes, sempre no afã de melhor aclarar e demonstrar as relações de causa e efeito, fornecendo-nos uma visão muito peculiar dos acontecimentos históricos”, e a História do Maranhão, a República, 2010. Publicou a novela Memórias de um garoto de programa e a biografia de Dr. Djalma Marques, 2008. Produtivo e incansável, movido por uma curiosidade quase juvenil, investigava usos e costumes de um Maranhão pitoresco, de onde saíam crônicas saborosas, algumas publicadas na coluna Bisbilhotices, aos domingos, em O Estado do Maranhão, e muitas outras ainda inéditas. Da sua vasta produção literária, destacamos ainda Bumba-meu-boi do Maranhão, 1969; Festa do Divino Espírito Santo de Alcântara, 1972; Morte e vida da cidade de Alcântara, 1997; Caminhos de São Luís, 2002; Lendas do Maranhão, 2006, Historia do Maranhão, a colônia, 2006. Carlos de Lima deixou cinco livros prontos, sendo um deles o denominado Arquivo morto, que contém as suas memórias. Pediu que a família não o publicasse. Mas temos sobre elas grande curiosidade. Falar de Carlos de Lima, dileto amigo, com tantos talentos de pesquisador, historiador, cronista, folclorista, ficcionista, e, além do mais, grande figura humana, não é tarefa difícil. Difícil, senão impossível, é dissociar a imagem de Carlos da de sua outra metade Zelinda Lima, igualmente folclorista, pesquisadora, artesã e uma das maiores conhecedoras da cultura popular maranhense. Seria como falar de Dante Alighieri sem falar de Beatriz ou de Petrarca passando ao largo de Madona Laura. Na comparação, a vantagem é pró-Zelinda: elas foram musas de seus poetas ao longo das suas vidas, mas ficaram no patamar do sonho, da idealização, do amor platônico, enquanto Carlos e Zelinda provaram o seu amor na mais difícil das provas, a convivência cotidiana. Eles usufruíram setenta e um anos de relacionamento, somados sessenta e quatro de casados e sete de namoro, e deram à vida seis filhos. Disse Zelinda, por ocasião da morte do esposo: “Era um marido maravilhoso [...] tivemos uma família perfeita.” De outro lado, o próprio Carlos é quem diz, no seu depoimento na obra Memória de velhos, vol. VI (2006): “Em todas as minhas iniciativas, se tive algum sucesso, devo-o inteiramente à minha mulher, visto que foi ela quem me incentivou a fazer concurso para o Banco, a fazer teatro, a estudar cultura popular. Devolhe tudo e mais alguma coisa.” O casal compartilhava o gosto pelas mesmas coisas. Tinham paixão pelas artes e pela cultura popular. Mais uma vez, no mesmo depoimento, Carlos reitera que foi Zelinda que o introduziu naquele mundo. Curiosos, saíam os dois pelas ruas com gravador e máquina fotográfica, investigando e registrando com paixão cada pedaço de São Luís e suas festas, e continua ele “Aí, comecei a transcrever para o papel as observações que fazia e assim acentuou-se o meu gosto pela cultura popular [...] Passei a acompanhar tudo. Procurei estudar e atrevi-me, então, a tecer minhas próprias considerações.” E deve ter sido desse modo, em momentos assim somados ao contato com artistas populares, pintores, escultores, compositores, artesãos – a própria Zelinda é artesã, que Carlos de Lima concebeu e escreveu Os caminhos de São Luís – ruas logradouros e prédios históricos, livro saboroso, em cujo prefácio o autor declara; “Muitos terão passado nestas ruas considerando-as vias de tráfego apenas, sem nunca atentar para o que há além daquilo que ordinariamente percebemos. Nosso propósito é tentar resgatar o mistério dessas pedras, o guardado por trás destas fachadas, aderido aos muros, casa, fastos e pessoas, tudo o que faz encantadora e apaixonante São Luís do Maranhão e que Odylo chamava a alma da cidade.” E toda a sua vasta obra vai ao encontro desse propósito, a preocupação constante com o que há por detrás dos fatos, buscando o humano, a alma das coisas, sem deixar de lado os comentários espirituosos que tornam leve e saborosa a leitura do que poderiam ser maçantes cartapácios históricos Sua filha, Deborah Baesse, dá-nos um perfil exato deste homem incomum:


Carlos de Lima era um homem avesso a ação desprovida de sentido. Com uma curiosidade nata, tentava sempre desvendar o que estava por trás dos fatos: a etimologia das palavras, a intencionalidade dos atos e a lógica dos acontecimentos. A superficialidade não era para ele uma escolha. Sempre mergulhava fundo em qualquer tema que abordava e, com o mesmo entusiasmo do menino nascido e criado no Caminho Grande, atual Canto da Fabril, passava horas revirando dicionários, enciclopédias e livros em busca do sentido das coisas e da vida. O interesse pelo folclore os levou a viajar para municípios do Maranhão em busca da documentação e descoberta de manifestações folclóricas; assim foram ao município de Rosário, para assistir a Dança do Lelê, e a São Simão, documentar o Pela-Porco, dentre muitos outras incursões nesse sentido. Seu bom humor manifestava-se até mesmo em assunto que é tabu para pessoas mais idosas, a morte. Quando dos seus 90 anos, a academia Maranhense de Letras rendeu-lhe uma homenagem. Parabenizado pelos confrades que lhe auguravam cem anos de vida, ele respondia, “Psiu, não vamos limitar o Criador.” E quando lhe desejavam saúde e paz, ele respondia: “Saúde, eu aceito. A paz, não. Vou ter muita paz depois de morto.” Parodiando outro Carlos, o Drummond, eu diria: Vai, Carlos, ser bom e cordial no céu.


CONVOCAÇAO PARA O ALÉM Ceres Costa Fernandes A equipe da administração do cemitério mais antigo da cidade estava satisfeita; tinha dado um trabalhão, mas todas as tumbas inadimplentes e mal cuidadas haviam sido identificadas e catalogadas, agora era só colar o aviso em cada uma para que os responsáveis viessem resolver as pendências. O Aviso dizia: “Solicitamos o comparecimento, urgente, à Administração para tratar de assunto de seu interesse.” Isso mesmo, curto e fino. A idéia de bolar o aviso e prendê-lo aos túmulos fora de Dorinha, uma morena magrinha e calma, idéia considerada eficiente e até mesmo genial: é que o dia seguinte seria o Dia de Finados, assim os responsáveis pelos túmulos abandonados seriam avisados todos de uma só vez, poupando-se o gasto com correspondências - muitas vezes, nem o endereço da família havia mais. . Rodriguito ainda quis duvidar da eficácia da ação, Se os túmulos estão abandonados todo esse tempo, por acaso virá algum parente para a visita no Dia de Finados? Foi olhado por todos, com desconfiança – sujeito mais derrotista - e murchou. Os túmulos escolhidos para os avisos - nem sempre os mais pobres, que para estes sempre havia uma mãozinha de cal, uma varridinha, um cravinho de defunto espetado, denunciando a lembrança amorosa -, estavam de fazer dó, sujos quebrados, pichados, totalmente despojados do que, algum dia, tiveram por adorno, cruzes, letras, jarros, placas. Restaram em alguns um retrato tristonho sem nome aqui, um pedaço de anjo acolá, uma grade torta, coisas que os ladrões não quiseram ou não puderam levar... O fato é que, na ensolarada manhã do dia dos mortos, estava tudo organizado. O Aviso haveria de surtir algum efeito, pensou a operosa equipe. Passou o feriado, passaram o sábado e o domingo também. Segunda, à tardinha, na sala da Administração, estão Rodriguito, Sheila e Dorinha, esta, de cabeça baixa, escreve enquanto come uma bolachinha folhada da padaria São Luís, da Rua do Passeio. Súbito, Rodriguito emite algo entre um grunhido e um gritinho abafado. Dorinha levanta a cabeça e vê uma verdadeira procissão de pessoas estranhas, magras, com olheiras fundas, de roupas amarfanhadas, algumas sem sapatos, lenços amarrados sob o queixo, e, o mais estranho, todas tinham um vago tom sépia, na pele e nas roupas, assim como em certas fotografias do século passado. Dorinha, agora, tem à sua frente, de pé, um rapaz alto e magro, de cabelos despenteados e barba por fazer, trajando um paletó grande e folgado, parecendo ter pertencido a outra pessoa, camisa com gravata, calção addidas, sapatos de verniz, “ Chamo-me Carlos Fonseca da Silva, recebi o Aviso e vim saber o que querem de mim. A bolachinha que a senhorita está comendo é, por acaso a chamada sete capas, da Rua do Passeio? Posso pegar uma? Sou doido por essa bolacha, quando estudava engenharia em São Paulo, a minha mãe nunca deixou de me mandar, por portador e até pelo correio. Sabe como se manda ela pelo correio? Dentro de caixa plástica, pra não quebrar. Ah, ela também mandava a bolachinha da padaria Santa Maria da Rua dos Afogados. Essa é mais difícil de quebrar, pode ir dentro de uma sacola ou bolsa. Deu uma fome! Sabe, a viagem foi longa, quase não deu pra vir.” A estas palavras, as pessoas que enchiam a sala começam a falar quase ao mesmo tempo sobre os transtornos das respectivas viagens e as dificuldades de liberação dos diversos planos de origem. Sheila e Rodriguito abandonaram a sala, assim que tiveram pernas para isso. Dorinha, plantada na cadeira, muda, estende, com gestos de robô, uma bolacha folhada para Carlos, que come e suspira: “Ah, a minha mãe, enquanto ela viveu meu túmulo sempre foi muito bem cuidado, gostaria que a senhora o tivesse visto!” Dorinha quer desmaiar, mas reage à idéia de ficar só e desmaiada em uma sala cheia de defuntos, amigáveis, amantes de bolachinhas ou não. Então, usando bravamente suas últimas forças, levanta-se e diz, a voz saindo fininha, Os senhores estão dispensados, a Administração cometeu um engano, desculpem os transtornos da viagem. Mandaremos reformar os túmulos dos senhores, podem ir em paz.” Um murmúrio enche a sala e os vultos começam a sair. Dorinha dá o saco com as bolachinhas sete capas para Carlos Fonseca da Silva, que se despede. Sozinha, ainda tremendo, ela relê o Aviso, em cima da mesa a redação fora da Sheila -, e pensa, custava ter colocado: Senhor responsável, solicitamos etc?



A INIMIGA FIEL Ceres Costa Fernandes Relembrado a propósito da morte trágica de Marília Mendonça Nascemos para morrer. Desde que o mundo é mundo, não temos notícia de alguém que nunca morreu. É duro aceitar a morte quando a sentimos perto de nós, atingindo amigos e, dor maior, nossa família. As incursões dessa figura em círculos afetivos tornam-se cada vez mais frequentes, como que se acercando. Amigos e parentes aos poucos se vão, após longas doenças ou de súbito, reiterando a fragilidade do fio que nos liga à vida. Escamoteamos a realidade, acontece com os outros. Assim pensava eu, até descobrir que agasalhava o inimigo, o monstro que se nutre de nós mesmos e, aos poucos, apodera-se de nosso corpo, até a destruição final -, um câncer de alta agressividade. Rebati com igual agressividade. Creio que o afastei. Até quando? . A morte, o enigma terminal, fascina a todos, porque escapa à nossa compreensão. A literatura está repleta de obras em que a magra é a principal personagem. José Saramago a tem como o grande mote dos seus romances: em As intermitências da morte, ele nos mostra o horror da vida na ausência da morte; em O ano da morte Ricardo Reis, os vivos contracenam com os mortos e estes são sempre os mais sábios; em Levantado do chão, a morte assinala os bons - os maus nunca morrem; em Memorial do convento, a heroína, Blimunda, capaz de ver o interior das pessoas, recolhe o espírito dos mortos, que irão alçar a Passarola aos céus. Nas obras de Saramago, a morte é personagem do “bem”. Do bem para uns, elemento de terror para outros, de sedução, sempre. O deslumbre aumenta, quando a tragédia se abate sobre agrupamentos humanos, em meio a situações de glamour ou de suposta segurança, em que a surpresa é a substância principal. São as tragédias para sempre lembradas: Pompéia, invadida por gases venenosos, cinzas e lava que levaram à morte moradores, surpreendidos em meio a atividades rotineiras; o naufrágio do Titanic, campeoníssimo do gênero – luxo, beleza, arrogância –, acontece após o jantar em que ricaços se divertiam no navio mais seguro do mundo. É fácil avaliar o fascínio dessa catástrofe: faz mais de cem anos que o ex-maior transatlântico do mundo naufragou e a tragédia ainda rende livros e filmes. Outra catástrofe, o voo 1907 da GOL, sinistro de grandes proporções a povoar nosso imaginário. Esse voo reuniu todos os ingredientes das grandes tragédias, um avião de novíssima geração, seguro, em uma das primeiras viagens, repleto de pessoas de classe média e alta, sobrevoando a impenetrável selva amazônica, cai e fragmenta-se em mil pedaços. O acidente, provocado por uma tola falha humana, ilustra a fragilidade dos sistemas de segurança em que acreditamos e reforça o que os gregos antigos sempre souberam: quando chega a Hora, de nada adianta nossa hybris. A mídia especula os últimos momentos dos que participaram do vôo fatídico. A sorte do que deixou de viajar; o rapaz que viajou para pedir a namorada em casamento; a moça que vinha de férias fazer surpresa à mãe. Na caixa preta, os pilotos conversam antes da hora fatal. A vida acontecendo, enquanto a morte espreita e prepara a sua cilada. A mata, sepultura implacável, recobre os destroços da aeronave e o que resta das pessoas e seus pertences, assim como o fizeram as cinzas e a lava em Pompéia e o mar profundo do Pacifico. A vida apaga os sinais da morte. Aviões levantam voo e navios singram os mares todos os dias, pessoas constroem novas cidades ao pé das encostas de vulcões. Voltamos ao eterno e sempre novo jogo com o imponderável.


NESTA TERÇA- 16 DE NOVEMBRO 2021- JOSÉ SARAMAGO, GRANDE ESCRITOR PORTUGUÊS, SE VIVO FARIA 99 ANOS. O SITE DO COLETIVO DISPONIBILIZA LIVROS DELE NO LINK: HTTPS://COLETIVORESISTENCIA.COM.BR/LITERATURA JOSÉ DE SOUSA SARAMAGO FOI UM ESCRITOR PORTUGUÊS. GALARDOADO COM O NOBEL DE LITERATURA DE 1998. TAMBÉM GANHOU, EM 1995, O PRÉMIO CAMÕES, O MAIS IMPORTANTE PRÉMIO LITERÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. SARAMAGO FOI CONSIDERADO O RESPONSÁVEL PELO EFETIVO RECONHECIMENTO INTERNACIONAL DA PROSA EM LÍNGUA PORTUGUESA. OBRAS DELE NO SITE DO COLETIVO RESISTÊNCIA: JOSÉ SARAMAGO: "LIVROS SOBRE JOSÉ SARAMAGO (AS PALAVRAS DE SARAMAGO, SARAMAGO SEGUNDO TERCEIROS)", "TEXTOS", "AS PALAVRAS DE SARAMAGO", "A BAGAGEM DO VIAJANTE", "A CAVERNA", "A JANGADA DE PEDRA", "A VIAGEM DO ELEFANTE.EPUB", "A VIAGEM DO ELEFANTE.PDF", "AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE", "CAIM.MOBI", "CLARABÓIA", "ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA.MOBI", "ENSAIDO SOBRE A CEGUEIRA.JPDF", "ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", "FOLHAS POLÍTICAS", "HISTÓRIA DO CERCO DE LISBOA", "LEVANTADO DO CHÃO", "MANUAL DE CALIGRAFIA E PINTURA", "MEMORIAL DO CONVENTO", "O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS", "O CONTO DA ILHA DESCONHECIDA", "O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO", "O HOMEM DUPLICADO", "TERRA DO PECADO", "TODOS OS NOMES", "FOLHAS POLÍTICAS"


CADEIRA 37 MARIA DA CONCEIÇÃO NEVES ABOUD

JADIR MACHADO LESSA 1º . Ocupante


CADEIRA 38 DAGMAR DESTÊRRO E SILVA

JOSÉ NERES 1º . OCUPANTE


Foi maravilhoso ler cada um dos poemas da escritora Francisca Júlia da Silva no esmerado volume organizado pelo professor @guttomello, que vem fazendo um belíssimo trabalho de resgate e de divulgação de nossos escritores injustamente esquecidos pelos olhares pouco atentos de nossa contemporaneidade.



CADEIRA 40 JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS

ROBERTO FRANKLIN 1º OCUPANTE


AMOR DO POETA

O poeta fala de amor vive de amor alimenta-se de amor sente o amor presente ou imaginário. O sentimento maior em uma vida excitante pensamentos incontáveis o envolve de amor, desejos. Vivemos, sofremos e pensamos amamos sim e desse amor real ou fantasioso falamos negamos às vezes sua presença.


AVÔ PROFISSIONAL

Em abril de 2020, após uma semana de internação num hospital de São Luis, tomei uma decisão, depois de quarenta anos de serviço como cirurgião dentista, resolvi me aposentar. Minha decisão foi em virtude de ter sido contaminado e por trabalhar em um local embora fosse meu consultório, o atendimento era aberto a todos, não saberia distinguir portadores e não portadores, contaminado sem sintomas e não contaminados. Por ter me livrado após uma semana de internação, tomei a decisão, com isso fechei meu consultório e a minha clínica, sendo também seguido por minha esposa e minha filha, que estava no início de uma gravidez. Foi uma decisão a princípio fácil, estava saindo de uma internação e ainda movido pelo medo de ser recontaminado tomei a decisão, nesta época a contaminação ainda estava no seu início, em casa cumprindo uma quarentena eu e minha esposa Lu parecíamos monges em seu claustro, não saíamos para nada. Durante esse período iniciou um conflito em meus pensamentos, e agora, estou aposentado, o que devo fazer para que não tenha uma vida triste e com isso possa entrar em uma depressão. Me propus a várias situações, várias coisas que poderia fazer, não na área de odontologia, poderia por exemplo iniciar a escrever um livro, um romance, reunir poemas já escritos e iniciar a formatação de um livro, afinal já havia algum tempo que não lançava um, passar a viajar mais. Ao escolher minha decisão comuniquei a Lu, de imediato ela teria respondido, “impossível”, explico, a Lu não é uma pessoa de ficar em casa, ela ama sua profissão, adora seus pacientes e vive para atender. eu até entendo, a vida da Lu está na medicina, largar seu consultório era demais, ela foi então trabalhar em outra clínica, e assumiu a direção de um hospital pediátrico. E agora, o que fazer, primeiramente como aposentado e desacompanhado da minha wife, decidir inovar, como assim, optei primeiramente a ser dono de casa, (risos), sim, tenho que mudar minha conduta, não posso passar o dia em casa assistindo televisão ou isolado em algum cômodo, então decidir, depois de acordarmos vamos até a litorânea, onde fazemos todos os dias uma caminhada de cinco quilômetros, após regressar, ai sim, começaria a ser o verdadeiro dono de casa, enquanto minha esposa ia tomar seu banho e se aprontar para mais um dia de trabalho eu faço o café, retiro as louças da máquina, recolho as roupas para lavar, ufa! como cansa. Após nossa primeira refeição, o café da manhã, entre conversas e sorrisos o dia vai passando. Após a Lu sair, eu já temperava uma proteína a minha escolha e fazia uma rápida salada, as vezes e muitas vezes a Lu à noite deixava a salada pronta, devo dizer que minha Wife é expert em salada, aí sim era só temperar a proteína e correr para o prato. após meu banho, vinha para o escritório e assim iniciava o meu dia acadêmico, entre leituras e escritos eu ia vivendo, chegando a hora do almoço escolho a maneira de fazer a proteína, assim eu ia vivendo na minha nova função de dono de casa, tai, gostei da experiência, à tarde eu me dedico sempre a limpar e a arrumar a nossa casa, para depois deitar-me em uma rede na área de lazer e ler um livro de crônicas, poemas ou contos. Confesso que aprendi, e até hoje não reclamo, acostumei-me. Agora se tem uma coisa que verdadeiramente amo, é ser avô profissional. Pois é, não existe nada melhor do que ser avô profissional, sou esposo, sou pai, mais a missão de ser avô é linda, gratificante, amorosa, saber que à tarde tem sempre mensagens no zap de netos avisando que se possível eu poderia pegar a Lara no piano, se eu posso levar Theo na natação e no judô, se eu poderia apanhar a Lais (minha fashion) na escola para depois levá-la no vôlei, atender pedidos da Sophia minha pequena artista e escritora, não existe nada tão esperado. Devo dizer que tenho dois netos texanos, o Nicholas, e a Júlia, por não morarem no Brasil, uma vez ao ano quando vou, me dedico exclusivamente a eles. Espero ansiosamente que o Lucas de cinco meses possa ser liberado pela mãe para participar também dos meus dias de avô profissional, não vejo a hora de levá-lo para a natação sua primeira atividade esportiva, já escolhida, por quem? Dentre todas as minhas mudanças a profissão de ser avô profissional é a mais gratificante, sim, ia esquecendo do nosso grande dia, o dia dos netos, sempre às sextas-feiras reúno todos os netos que aqui moram, pego cada um nos seu horários e colégios e vamos almoçar, após o almoço vamos nos divertir, assim é o dia dos netos, confesso que estou ansioso para que o mais novo que hoje tem apenas cinco meses venha para o dia dos netos, assim serei um aposentado, dono de casa e avô profissional mais alegre do mundo.


O ARREPENDIMENTO ROBERTOFRANKLIN Breve é a loucura, longo o arrependimento. Friedrich Schiller Na quinta-feira passada, após um dia de exames e consultas devido a um problema que estou tendo no quadril, deitei-me numa rede, isso já eram mais ou menos umas dezessete horas, o dia já anunciava o fim, a tarde apresentava um sol ainda brilhante que buscava ir embora fazendo com que a noite se apresenta-se, então dei asas à imaginação, sem tomar aquela bebida que aparece numa propaganda na televisão. Dentre todos os pensamentos que naquele dia apareceram, fiquei parado naquilo que me arrependi, aquilo que por motivos diversos não fiz ou fiz de maneira errada, parei nas ações que realmente não fiz, tudo baseado no quadro clínico que estou apresentando. Pensava naquele momento, quantas vezes pediram-me para ir a uma academia, pediram-me para praticar uma caminhada, eu nada, achava isso tudo uma tolice, resultado deu no que deu, estou com problemas no quadril, já fiz dois tratamentos e até agora nada. Encontrei em um texto que o arrependimento é a mudança de atitude, ela muda de ideia no caso muda a direção ou muda o pensamento numa determinada atitude tomada. Para a psicologia o arrependimento seria quando uma pessoa se arrepende de algo que não realizou, ou de algo que fez e deu errado, quem nunca se arrependeu de alguma coisa que deixou de fazer, ou mesmo que fez de maneira impensada ou não, e deu errado de imediato ou mais tarde. O arrependimento tem início quando se tem o reconhecimento do que fizemos ou deixamos de fazer, estamos sempre na posição de que somos humanos e erramos. É uma situação perturbadora quando chegamos à conclusão de que cometemos um ato que não deveríamos ou que deveríamos fazer, no seu poema “A cor do arrependimento” o poeta Carlos Drummond de Andrade fala: “Até a cor do arrependimento desbota com o tempo.” Quem nunca se arrependeu de um castigo dado ao filho, de uma prova não estudada, de amizades, de relacionamentos, quem nunca se arrependeu de um beijo dado, ou até de um beijo não dado, de uma namorada, de um passeio, de um encontro. Se arrepender é decidir mudar de vida na visão da igreja católica, é decidir mudar a sua vida, e viver mais próximo e sempre agradar a Deus. Em conversa com amigos, falávamos a respeito do ano que está terminando, e de nossos arrependimentos para o ano de 2021, diversas opiniões foram ditas, uma só foi unanime, o ano fatídico, um ano que deveríamos esquecer, um ano que somente nos deu tristeza, perdas, isolamento, como escrevi, um ano para ser esquecido, um ano para nos arrependermos de muitas coisas que fizemos e que nos proporcionaram diversos problemas, eu por exemplo, logo no início do ano não ouvi os conselhos da Lu, ia sempre ao supermercado e numa das idas fui contaminado, e passei uma semana internado, isso foi mais um arrependimento Muitos dos que eram próximo se foram, pessoas que ainda teriam muito a produzir, um ano de pouco trabalho, um ano triste para economia, um ano que assistimos uma série de barbáries, protagonizado pela classe política, um ano para nós nos arrependermos de muitas coisas. Muitos dos nossos que se foram, com certeza em algum momento se arrependeram de algo dito, ou de algo que fizeram. Arrependimento é uma mudança de atitude.


O PRIMEIRO BANHO DE PISCINA DE LUCAS ROBERTOFRANKLIN

Assim como aconteceu com os meus filhos quando na sua maravilhosa infância, assim também aconteceu com os meus netos, logicamente em lugares diferente, com os meus filhos aconteceu na casa do avô Sr. Henry, lá no Araçagi, todos os domingos íamos para lá e dentre as brincadeiras meus filhos gostavam mesmo, assim como toda criança ela de banhar na piscina, no início quando ainda não sabiam nadar os mais novos, eu era seu professor (risos), sem técnica sem nenhuma didática, eu só queria é que eles se virassem, que não se afogassem, às vezes eu os jogava na piscina e dizia sempre, feche a boca, olhe sempre para a borda da piscina, e assim graças a Deus tudo saía bem, depois foram os netos com exceção de dois que como já falei moram fora, moram nos USA, eu também aplicava o mesmo método, mais uma vez graças a Deus tudo saiu conforme o script, todos nunca se afogaram e entre nados tecnicamente perfeito ou não, todos estão salvos. Ontem, após uma reforma na piscina, preparei a água, ou melhor tratei–a tecnicamente para eliminação de algas, bactéria e partículas ferrosas, pois na verdade neste domingo ia tomar o seu primeiro banho de piscina o meu neto mais novo, o Lucas, e nada poderia da errado, imagina a mãe, como uma leoa observando sua cria, a avó idem, todos a postos, solicitei então que o momento fosse filmado, não poderíamos perder um só minuto deste dia que com certeza ficará marcado na minha mente, o escolhido para o ato logicamente eram os dois artistas o Lucas e o vô Cacá. Eu já me encontrava na piscina, felicíssimo pois iria participar de um momento com muita emoção o primeiro banho de piscina do Lucas. Chegou a hora, para sorte do Lucas o sol já havia baixado e deixado a água bem morna, então raciocinei, água morna com certeza ele não irá chorar e tudo poderia levá-lo a lembrar que ele se desenvolveu em uma bolsa com líquido amniótico na temperatura morna cerca de 37 graus, na verdade não medimos a temperatura da água, era só o que faltava, mas estava morna e bem prazerosa, sendo assim tudo estava decorrendo conforme havia pensado. Então com a voz de um diretor de filme, pedi silêncio e solicitei a babá que trouxesse o Lucas. Eis que surge o astro principal no seu trono formado pelos braços de sua babá, de camisa proteção UV, com o seu short nos mesmos padrões e um boné, o vô como sempre logo se emocionou, todos a postos ele sem saber o que iria acontecer, peguei-o logo ele nas minhas mãos, primeiramente com muitas palavras de carinho coloquei somente os dois pés, esperei a sua reação, como não chorou então o mestre dos filhos e dos netos no quesito natação foi o introduzindo calmamente na água, ele, acredito que nada estava entendendo, só que estava gostoso e logo com a água na sua cintura iniciou um festival de com as mãos bater na água, logicamente naquele instante senti que estava ficando dono da situação e de imediato comecei a andar e a falar com ele um neto de apenas 6 meses, a vontade era de fazer como os professores de natação infantil fazem , mas não tive coragem . A viajem dos meus sonhos logo chegou então transportei-me para casa do meu sogro quando eu, com os dois últimos no colo iniciava o contato dos meus dois últimos filhos no mundo aquático.


CARTA A MEU IRMÃO

Percebeste? Enquanto dormias, vi que tinham dois anjos na tua cabeceira. Te guardavam acariciavam tua face como que pedissem que voltasse a ser um bebê. Te acompanharam o tempo todo entraram na sala de cirurgia e de lá só saíram quando a cirurgia acabou. A mulher o tempo todo olhando guiando as mãos seguras dos médicos a fim de que fosse um sucesso a cirurgia, e lembra que esse anjo quando viveu na terra, tinha medo de tudo, como anjo não, forte determinada e em muito contribui para o sucesso. O outro anjo com certeza mexeu com todos na sala, falava em futebol e vestia uma camisa vermelha do América, tinha sempre colado ao ouvido um rádio e na mão uma caneta e um caderno, acho que ele foi o responsável por quebrar a tensão na sala. Notei que quando cogitaram que fosse administrado a segunda bolsa de sangue a mulher colocou a mão no teu abdômen, foi como se o sangue dela passasse para ti! Ela te deu toda proteção como se tu estivesses nascendo. Quando tudo acabou notei que uma outra pessoa que na ocasião usava um terno branco constantemente falava, vamos KLIN força KLIN, não desiste KLIN tu deves saber quem era aquele anjo. Pois é meu querido irmão, estavas protegido, os anjos que um dia fizeram parte de nossas vidas, nos protegendo nos ensinando nos amamentando etc. não teriam nessa hora condições de te deixar, ao contrário estavam lá te protegendo muito mais ainda, eu vendo tudo, me senti como se estivesse no dia 13 de novembro, ah! Ah! Ah, Meu querido irmão além dos anjos aqui citados, um exército de amigos, primos, irmãs e irmãos todos que fazem parte da nossa família estão aqui em oração pedindo a Deus que você se restabeleça logo e passe a participar do nosso convívio. Aqui em casa hoje tem uma cadeira desocupada, não está vazia pois tuas frases, tuas brincadeiras tuas provocações com nosso não menos querido Riba, preenche esse lugar, ela como falei não está vazia esta desocupada a tua espera. Te recupera te trata, levanta meu irmão e supera as dificuldades, te amamos muito, te esperamos. Ah! Minhas netas perguntaram por ti ontem, a Lais me falou que quando vieres aqui em casa ela vai te jogar na piscina. És muito amado, vem logo estamos aqui... Um beijo. Infelizmente não consegui entregar a carta ao portador, mas um dia quem sabe quando frente a frente estivermos eu possa relatar o que aqui escrevi. Saudades de você meu irmão!


A CASA Uma casa no passado bem frequentada, no presente apenas um senhor e uma senhora testemunhas de uma vida. A idade chegara, as lembranças felizes de ontem hoje trazem palavras ásperas com relação ao que hoje vivem. Ele, um senhorzinho que passou a vida toda a trabalhar pelos seus, foi roceiro, cacheiro viajante, nunca deixou que nada faltasse. Ela uma senhorzinha dona de casa viveu a vida toda para o lar e para os seus, os anos tinham chegado ao casal, ele o Senhor João até por não conviver muito em casa passou a ser uma pessoa de poucas palavras, porém as poucas se tornavam cada vez mais irritativas para a sua esposa de tantos anos. Dona Felícia as vezes se calava, aquela voz vinda de todos os cantos da casa ecoavam e provocavam, faziam irritação, às vezes ela ponderava em pensamento, “o João tem pouca estrada ainda para percorrer, tenho que considerar que a vida dele foi para nos sustentar e prover nossa família, acho que a tal da esclerose tomou conta, não acredito que a toda hora, até com minha caneca esmaltada de tomar água ele implica”. Numa manhã ao sentar-se à mesa para o café a senhora Felícia percebeu que seu marido João estava a cada dia mais reclamando de tudo, ela pacientemente perguntou, “João o que está acontecendo, porque ultimamente você está reclamando de tudo?” ele por sua vez afirmou, “sabe Felícia o meu maior problema é que estou me sentindo só, sinto que estou desamparado, sem companhia não por você mais pelos nossos filhos”, Felícia acrescentou, “desamparado, nós não estamos, nós não estamos aqui juntos? “ele, sabe estou necessitando de atenção, gostaria muito de tê-los aqui perto, sinto orgulho dos nossos filhos, como estão bem.” A Felícia como uma mãe compreensível sempre ponderava ao seu esposo, “é assim mesmo, não devemos cobrar, eles hoje tem família, porém nunca esqueceram de nós dois.” A Felícia ainda colocou justificando a ausência, “sabe João nossos filhos moram e trabalham distante, assim como você na época que trabalhava, nós só te víamos de duas em duas semanas “, lembra dos dias em que você passava viajando e ausente, lembra quantas noites eu tive que dormir só pois você não estava”. Com estas palavras logo ele se aquietava, porém mais tarde a reclamação se repetia, acho que devido a idade, ele até esquecia que havia falado. A senhora Felícia por ser mais nova que seu esposo era uma senhora atual, teria uma cabeça mais centrada nas coisas da vida, assim na noite quando os dois estavam prontos para dormir ela o chamou para mais uma conversa. “João, procura entender, o tempo passou, as crianças de ontem cresceram, a vida mudou, porém, fique sabendo que nós nunca seremos esquecidos, nossos filhos embora distantes estão sempre presentes, vejamos, mesmo morando em outras cidades hoje graças a Deus temos a tecnologia que nos aproxima através deste celular”. “Assim a qualquer momento podemos falar e olhar nossos filhos e netos”. Já o nosso João não aceitava estas modernidades, afirmava, “imagina minha vista já cansada quase não ouço, e ainda ter que olhar para uma telinha e tentar descobrir quem está do outro lado, ora, eu queria era está com eles aqui, não sei quanto tempo ainda me resta. Não tiremos a razão do senhor João, assim como da senhora Felícia, os tempos mudaram o mundo mudou, ele por ser mais velho teria uma psicose de solidão, achava que estava só, sem companhia. A casa que ambos moravam não era uma casa grande, dispunha de uma porta e duas janelas, local que nosso João ficava com suas lembranças a olhar o tempo que vagarosamente ou não, passava. E foi assim, um dia, estava a casa silenciosa, senhor João a olhar para o tempo que não mais o pertencia, hipnotizado, olhar fixo, abriu a porta e saiu sem um destino certo, foi parar até o rio, aquele que quando estava presente juntamente com os seus passavam as manhãs a banhar, pescar e se divertindo. Não percebendo que os tempos eram outros ele com a visão do passado, via a imagem dos seus e pensando ainda em tê-los se atirou no rio que com sua correnteza o levou para nunca mais as suas margens voltar.


SÓCIOS HONORÁRIOS/ CORRESPONDENTES / colaboradores


CADEIRA 04 FRANCISCO SOTERO DOS REIS

ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO FUNDADOR/ HONORÁRIO





VICEVERSA: COM O FILÓSOFO ROGÉRIO ROCHA/ JORNALISTA MHARIO LINCOLN/ FILÓSOFO ROGÉRIO ROCHA DE MHARIO LINCOLN PARA ROGÉRIO ROCHA

1 – MHARIO LINCOLN - Você, confrade, como um dos pensadores de nossa época, a quem respeito e admiro, sabe que a mente humana é fascinante. Por isso, têm-se falado muito ultimamente numa premissa interessante que repasso com um exemplo comum: quando são vistas luzes estranhas piscando no céu, a primeira ação é pensar em um OVNI – Objeto Voador Não IDENTIFICADO! Então, na lógica, se é Não IDENTIFICADO porque, julgar afirmativamente que é um objeto extraterrestre? Pergunto, com base num dos grandes pensadores deste século, Douglas Neil Walton: esse exemplo é o que se pode chamar de “Argumento da ignorância”? ROGÉRIO ROCHA – A questão trazida por esta pergunta nos convoca a interessantes reflexões. Sabe-se que a Ufologia é um campo de estudos movido pela curiosidade legítima de cidadãos que veem em fenômenos incomuns, por vezes testemunhados por um grande número de pessoas, a motivação para construírem toda uma mitologia no seu entorno. Em boa parte dos fenômenos, após a refutação de hipóteses improváveis, e a exclusão de inúmeras outras possibilidades que dariam conta do ocorrido com uma explicação plausível, passa-se a uma outra etapa, onde certos critérios metodológicos, utilizados pelos pesquisadores mais sérios da área, devem ser observados, a fim de que tenhamos o indicativo da causa daquilo que foi observado. Voltando ao fulcro da pergunta, podemos, sim, afirmar que os fenômenos aéreos não explicados requerem um tratamento sóbrio, não fanatizado, isento de misticismos e mitificações. Razão pela qual, ainda que uma boa explicação causal não seja encontrada, devemos nos distanciar da precipitação em dar nome ao que não é. Portanto, respondendo sua questão, há uma grande dose de ignorância (e até mesmo de má-fé), em indivíduos que reputam a seres de outros níveis de existência cósmico-planetária muitos dos fenômenos estranhos verificados nos céus do planeta. Ainda assim, pondo-se à parte os exageros, as mistificações e o charlatanismo presentes na pseudociência da ufologia, existem estudos sérios no meio ufológico, capitaneados por gente de grande competência intelectual, bem como casos muito bem catalogados, que nos levam a pensar na possibilidade de existência de engenhos e artefatos de construção não humanas, ainda que não possamos indicar de qual origem.

2 – MHL - Um dos vídeos do seu Canal do Youtube de grande sucesso, diz respeito ao conceito de Utopia, características e análises das questões pertinentes à forma como a filosofia, a sociologia e a literatura abordam o tema. Pode nos falar mais sobre isso? RR – A utopia, não-lugar ou lugar que não existe, é uma concepção teórica criada por Thomas Morus, na obra de mesmo nome, para designar uma sociedade ideal ou um mundo “perfeito”. O conceito acabou por ganhar popularidade, espraiando-se como objeto de interesse de outras áreas como a literatura e a sociologia, só para ficarmos em dois campos que sobre ela produzem muitos estudos. A riqueza do tema e as muitas implicações que o pensamento utópico determina são, ainda hoje, elementos que nos ajudam a compreender o motivo do alcance dessas elucubrações. Fato que explica também o elevado quantitativo de obras literárias, por exemplo, que versam sobre mundos inexistentes, sociedades imaginadas e imaginárias, governos e lugares povoados por gente como eu e você, mas organizados das maneiras mais díspares


possíveis. Outro ponto a destacar, ainda nesse campo, diz respeito à capacidade humana de sonhar, criar e inventar. Deve-se, sobretudo, ao imaginário fértil, aos voos mais altos do pensamento, que acabam, por vezes, fazendo transbordar elementos utópicos das páginas dos livros de filosofia ou de ficção para as múltiplas camadas das nossas sociedades. Nesse sentido, a vida real no século XXI tem guardado muitas semelhanças em relação aos vários quadros descritos nas linhas de algumas das mais aterradoras utopias, aproximando, absurdamente, realidade e ficção. (Canal Rogério Filósofo. Clica nesta linha)

4 – MHL - Outro dia eu reservei algumas horas para ler algo interessante. No texto, o autor se referia às várias formas de ver o significado de AMOR, em diversos momentos do pensamento humano. Na filosofia, na Poética, na religião, na astrologia, na família etc. Gostaria de saber se você tem um argumento único que possa unir tantos conceitos acerca? RR – Penso que o amor, por si só, já basta para mover as forças internas que compõem a alma humana, bem assim todos os desdobramentos do campo da cultura. Desse modo, um conceito unívoco de amor, conforme suscitado, a constituir-se numa espécie de campo unificado, aplicável a cada ontologia regional, penso seja desnecessário. Afinal de contas, no centro nevrálgico da filosofia vive o amor, o ato enamorado da busca pelo conhecimento; na poíesis da ação poética, o amor que constrói, que elabora, que ilumina e se põe no mundo enquanto fenômeno; no religare da religiosidade, outra vez a chama ardente de quem ama o Absoluto, o Uno, o Todo, infinitamente maior que si mesmo. Assim sendo, creio firmemente na persistência do amor como conceito de difícil expressão, mas sendo a fonte de (co)existência entre os campos de atividade humana, naquilo que a vivência amorosa possui de mais condicionante, logo, de mais adequado à recepção das facetas desdobráveis de sua essência.

5 – MHL - Na entrevista que fiz com o poeta e articulista João Batista do Lago, ao ser perguntado sobre o conceito de ‘poesia’, ele simplesmente respondeu: ‘a poesia é!’ Gostaria de saber seu posicionamento sobre esse pensamento. RR – A resposta do poeta J.B. do Lago está prenhe de suas leituras filosóficas. Leituras que reverberam na força seminal de seus poemas, falas e escritos. Nele há um pouco do que dissera certa vez Raul Pompeia, ao ser questionado sobre o tema, tendo dito que poesia é algo que não se pode definir. De minha parte, creio ser insuficiente a definição livresca de que poesia é a arte de fazer versos com base no uso da linguagem com finalidades estéticas. Ainda que compreensível, tal descrição carece do poder de correlação com o seu objeto. Qual seja? O Ato de criar. Melhor ainda: do ato de criar-se, procriar-se e de ser-se. Dessa forma, enquanto ato de criação na linguagem, essa casa do ser pela qual damos sentidos às coisas, aos entes, aos seres, podemos pactuar com João Batista a partilha dessa percepção, a partir da qual podemos dizer que a poesia é (o ser da poesia), e em sendo, é una consigo mesma. Daí sua singularidade ao criar sendo criada.

6 – MHL - Certa vez você me confidenciou sobre 3 grandes escritoras brasileiras. Aqui, você poderia confessar o que o levou a escolher esses nomes (pode fazê-lo agora também) e o porque disso? RR – Cecília Meireles, Clarice Lispector e Lygia Fagundes Teles são três escritoras fundamentais para entendermos a força feminina na literatura nacional. Cada uma com sua forma peculiar de dizer as coisas, com seu empenho para recriar sentimentos, para criar paisagens internas, estabelecendo um lugar de permanência em nossas letras. Cecília chegou a esse patamar não só por “O romanceiro da inconfidência”, que narra a história pela poesia, mas por ter sido a primeira grande voz feminina da literatura brasileira, por “Motivo (Eu canto)”, poema-síntese de sua coroação poética, pela inteligência, pela altivez de sua personalidade, pelo lado intimista, social e psicanalítico de suas obras. Clarice é um marco, um ícone, uma


escritora-bruxa que transcende seus escritos e torna-se uma estrela cujo brilho dá prova de sua magnitude. Autora cuja obra tem grande destaque fora do país, dando origem a muitos estudos acadêmicos que analisam aspectos centrais do seu estilo e produção. Foi dona de uma escrita também intimista, eivada de angústia e solidão, num diálogo entre as personagens e as epifanias do cotidiano. Já a Lygia tem o dom de desfiar novelos gigantescos, desenrolando-os para, depois, tornar a recompô-los. Assim como Lispector, exterioriza interioridades, revela conteúdos retirados dos confins dos planos oníricos, cavados às entranhas da humanidade, acostumada aos passeios do olhar pelas vias do dito e do interdito. Também por ser a nossa maior escritora viva. Dona de uma obra literária representativa das suas insuspeitáveis qualidades (vide ‘Ciranda de Pedra’, ‘Antes do baile verde’, ‘Verão no aquário’, ‘As horas nuas’, etc.), dentre as quais sua postura vanguardista, corajosa e inteligente.

7 – MHL - Sempre tive dúvidas com relação à importância do silogismo no contexto do pensamento. Na concepção de Aristóteles, com pertinência, há três principais características: mediado, dedutivo e necessário. Em algum momento esse silogismo influenciou em sua vasta produção? RR – Aristóteles foi, talvez, a mente criativa mais importante da antiguidade clássica europeia. Sua lógica é, ainda hoje, um referencial para quem trabalha com o uso racional de argumentos, a fim de alcançar o êxito do convencimento, mas também para melhor formatar pensamentos que buscam uma conclusão com base em critérios válidos e claros. Dizer que não se é influenciado pelo filósofo grego é negar a importância do seu pensamento, sobretudo no que diz respeito às formas de raciocínio baseadas em deduções. Assim sendo, o legado do filósofo estagirita nos auxilia a tentar construir arrazoados cujas conclusões correspondam aos critérios formais do silogismo clássico, com suas duas premissas básicas e a conclusão. Contudo, nem sempre me movo por meio dessa ordem fechado do silogismo e da lógica. A intuição, os insights e o inconsciente por vezes acabam também por ajudar-nos a produzir coisas bem mais interessantes e menos formais.

8 – MHL - Sobre o existencialismo de Marx, com base na argumentação de que “a essência do Homem é o produto do meio em que vive”, como o pensamento coletivo (hodierno) da cidade de São Luís do Maranhão produziu produtos e essências em sua obra? RR – A cidade de São Luís produziu e continua a produzir em mim inúmeras impressões, a maior parte extraída às minhas vivências. A partir daí posso ressignificar minha relação com ela, seus lugares, sua gente, enriquecendo o que penso e escrevo. Como terra de nossos afetos, torna-se um grande manancial de referências, de símbolos e de pautas que, explícita ou implicitamente, tornar-se-ão parte do que sou, logo, parte também do que transponho para o papel. Tal força mobilizadora me instigou a escrever um livro chamado “Cantos noturnos para ilhas devastadas” (no prelo), cujo conceito central é a ideia de ilha (real ou imaginária) e seus muitos não-lugares, existires e (in)existires, dando margem ao burilamento de memórias verdadeiras (e falsas) em torno do eu lírico, que passeia em pensamentos enquanto com ela conversa, a devassa, a trespassa e a reivindica para si.

9 – MHL - Li recentemente “On what matters”, algo como “Sobre o que importa”, em tradução livre, do filósofo britânico Derek Parfit. Na obra, ele fala sobre as rápidas mudanças que vêm acontecendo nos últimos tempos por causa das “descobertas científicas e tecnológicas”, e que o Ser Humano logo “terá maiores poderes para transformar não apenas nosso entorno, mas a nós mesmos e a nossos sucessores". Para você, esse argumento passa uma ideia ‘duvidosa’ sobre os perigos dessa evolução, quando entra no espaço do controle do pensamento da raça humana ou algo parecido?


RR – As questões tecnológicas e suas consequências (benéficas e maléficas) sobre nós e o planeta vem sendo debatidas e analisadas pelos mais importantes pensadores contemporâneos. A bem da verdade, desde o final do século XIX e início do XX que a filosofia vinha voltando suas atenções para a questão da técnica mundializada e suas repercussões futuras. Nesses termos, penso ser válida a preocupação. E não somente. É necessária a indagação acerca do tema. Afinal, muitas das aplicações, ferramentas, mudanças e programas de índole técnico-científica já estão em curso, sendo aplicadas. Sua sombra já paira sobre nós. Big data, Inteligência Artificial, aplicações de algoritmos na world wide web, cães-robôs, armas de guerra, biogenética, alterações corporais, a possibilidade de um trans-humanismo, um pós-humano, etc. Tudo isso e algo mais que se possa imaginar. Sendo assim, a cautela que devem ter os cientistas na aplicação de tais inventos ou melhorias técnicas deve levar em consideração critérios bioéticos, a fim de não colocar em risco os indivíduos implicados. Mudanças essas que, por sinal, já alteraram em definitivo nossos comportamentos, nosso psiquismo, nossas relações sociais, os modos de vida e organização, atingindo diretamente a saúde mental e corpórea de todos nós. Quanto a isso, não tenho dúvida. Já estamos a sofrer alguns dos primeiros efeitos das novas tecnologias que absorvemos e massificamos cotidianamente. Se seremos controlados mentalmente? Já somos! Observe o comportamento das massas, dos jovens, do ser humano. O que irá diferenciar as nossas respostas aos subterfúgios tecnológicos será o modo como cada um irá desenvolver estratégias de preservação de sua sanidade mental, por exemplo. Ou a forma como adotaremos posturas, condutas e comportamentos necessários a nossa blindagem ante os efeitos deletérios de algumas das novas tecnologias.

10 – MHL - Fale-me sobre seus trabalhos. Seus projetos futuros. E qual a produção intelectual que você sonha um dia produzir? RR – São muitos e em vários campos. Tenho dois livros de poemas prontos, apenas aguardando o melhor momento para serem lançados (provavelmente em 2022). Tratam-se dos livros “A linguagem da ausência”, que será minha verdadeira estreia na poesia (Pedra dos olhos foi uma amostra juvenil) e “Cantos noturnos para ilhas devastadas” (uma obra poética conceitual). No campo de intersecção entre a filosofia do direito e o direito constitucional, tenho um trabalho de pesquisa sobre as audiências públicas no STF que pretendo verter para o formato de livro assim que possível. Ele encontra-se em fase de atualização de dados e reescrita de alguns capítulos. No campo da filosofia tenho, em fase inicial ainda, um ensaio filosófico em coautoria com o filósofo Marco Rodrigues, sobre tema pouco discutido e com abordagem diferenciada. No mais, pretendo dar continuidade aos meus projetos culturais (Iniciativa Eidos e Duo Litera) em 2022, tanto com eventos virtuais quanto presenciais. Já a produção intelectual que sonho produzir é um livro de análise filosófica sobre problemas contemporâneos.

ROGÉRIO ROCHA PARA MHARIO LINCOLN

1) ROGÉRIO ROCHA - O século XXI possui todos os ingredientes favoráveis ao estabelecimento de uma geração de indivíduos seriamente afetados em suas saúdes física e mental: pessoas estressadas, angustiadas, solitárias, deprimidas, agressivas, cansadas, pressionadas, etc. O que fazes hoje para não sucumbir ao peso de um tempo propenso ao exaurimento da pessoa humana? Existe algum antídoto para a sociedade do cansaço? MHARIO LINCOLN - Outro dia mesmo estava lendo um livro curto do sul-coreano Byung-Chul Han, professor de filosofia e estudos culturais da Universidade de Berlim e fiquei impressionado com o que ele descreve como “Sociedade do cansaço”, que aliás, é o título. Ele caracteriza esta época hodierna como da velocidade


e por isso, do esgotamento. Um dos principais motivos para isso, é “a violência neural”. A partir daí ByungChul Han entra na concepção neuromédica. Mas, a meu ver e no meu bestunto, esse esgotamento neural, suponho, é resultado da contaminação de boa parte da humanidade, pela síndrome virtual abusiva. Esses usuários se acham grandes produtores de conteúdo. No Twitter, no Instagram, no Facebook etc. Assim, tentam entregar '‘velozmente’' conteúdos que possam atingir o maior número de pessoas. E, quando nada disso funciona, inevitavelmente as pessoas acabam estressadas, angustiadas, solitárias, deprimidas, agressivas e cansadas. No meu caso, então, não há milagre. Apenas superei esse vício de entregar uma quantidade imensa de conteúdos e deixei a angústia de lado: não dependo mais das respostas e dos feedbacks virtuais.

2) RR - Sua atuação nas mídias tradicionais e digitais tem sido marcada pelo caráter diplomático no trato com as pessoas, pela visão de mercado atualizada, pela reconhecida competência e por um espírito inquieto, acompanhado de uma postura, ao mesmo tempo, cordial e agregadora. Caso não fosses hoje o Mhario da cultura, dos versos e da comunicação, o que poderíamos imaginar vendo-lhe fazer? MHL - (Muito legal essa tua visão, amigo). A imprensa me é guarida há mais de 45 anos. Tudo isso é decorrência dessa vasta experiência que venho adquirindo nesse período. Outro dia, ao enviar o www.facetubes.com.br para um amigo de infância, ele me respondeu estupefato: “Ei Mário com H, quem escreve pra ti?”. Então, respondi com uma longa e necessária carta, via correio físico. Argumentei que eu também tenho o direito de crescer. Vale acrescentar sobre minha chegada a Curitiba: a princípio, me apresentava como advogado e como um colunista aplaudido na minha terra. Nada consegui. Então, fui trabalhar como vendedor de anúncios classificados em um jornal local, até alguém me oferecer outros cargos. E assim foi. Estudei, mostrei dinâmica, participei de concursos literários, integrei-me à Feira do Poeta, até ser descoberto e convidado para o tão sonhado Centro de Letras do Paraná, uma das instituições literárias mais antigas do Brasil, integrada pela elite intelectual do sul do país. Isso me fez concluir acerca de minha cultura pessoal. Eu não sabia as filigranas e nem tinha tudo sobre controle. Nestas plagas daqui (era desconhecido), fui obrigado, a partir de 2002, a rever meus princípios e por fim, em definitivo, a minha ignorante prepotência. Tive que ler muito, fazer muitos cursos, me entregar literalmente ao aprendizado. Isso porque, nunca me imaginei estagnado e vivendo de meu salário de Auditor-Fiscal, cargo que exerci por mais de 30 anos, através de concurso público. Precisava contribuir (mais) de alguma forma, com algo que me fizesse destruir a minha mania de sabichão de almanaque. E acho que estou conseguindo. Nunca pensei em fazer outra coisa se não, arte, música e literatura. Por isso, sou músico, jornalista profissional, radialista e advogado. Fora desses parâmetros, talvez eu nem existisse mais....

3) RR - Com todos os artefatos tecnológicos e instrumental técnico disponível, como, por exemplo, os mecanismos de busca, bancos de dados que dão acesso instantâneo a todo tipo de conteúdo, é mais fácil fazer jornalismo hoje? MHL - Na minha modesta opinião, nunca será. Sabe aquela história dos carros de Fórmula 01, cujos controles altamente técnicos quase fazem o bólido falar? Sim! Parece fácil. E por que nem todos conseguem ser campeões do Mundo? Porque tem que haver sensibilidade e talento numa pecinha que fica entre o motor e o volante: o piloto. Assim é no jornalismo. Existem mil cursos em mil lugares. Porém, para se ser jornalista não há necessidade de cultura excepcional, nem ter estudado nas melhores faculdades do Mundo. Apenas 'feeling'. Lembrei disso, porque fiz um curso na Câmara Federal, quando cursava Comunicação Social, na UFMA. Eu, Lourival Bogea e Josilda Bogea (in memoriam), irmã dele (donos do Jornal Pequeno), fomos os escolhidos. Participaram estudantes de todo o Brasil. E lá aprendemos isso. Usar o 'felling", como arma para a superação e o bom desempenho. Éramos 50, acredito. Mas pouquíssimos tiveram sucesso. Infelizmente,


nem só no jornalismo. Mas, ainda há quem acredite que um anel no dedo, um diploma internacional e um "quem indique-QI' são os fatores influenciadores no sucesso da vida.

4) RR - Fora das ocupações cotidianas, ligadas ao tempo do labor, em que mundo habita Mhario Lincoln? Ele consegue usufruir da vida em momentos de ócio? Qual sua relação com a espiritualidade e de que forma isso impacta na sua vida? MHL - Incrível você tocar nesse assunto. No exato momento estou estudando uma tese pertinente ao “ócio criativo”, desenvolvida pelo sociólogo italiano Domenico de Masi. Nela, ele tenta justificar “como um tempo livre ou o justo equilíbrio entre trabalho, estudo e descanso, favorece a criatividade”. Isto é, se temos alegria e satisfação no que fazemos, nas meditações - nos tempos livres - deitados em uma rede na varanda de casa ou numa esteira artesanal de palha de buriti, à beira do mar - poderemos aumentar a capacidade de criação. Claro que ele chama a atenção entre ociosidade criativa e “ócio alienante: a preguiça, que em nada acrescenta”. Pois bem! Acho que nunca paro de pensar. Até mesmo em sonhos recebo registros akáshicos. Ao acordar, sempre lembro do que recebi. Isso também coloco em prática quando brinco com meus netos, conversas familiares, Evangelho no Lar etc. Aproveito todo o momento para aprender, desenvolver ou criar. Quanto à Espiritualidade, o meu amadurecimento só veio após estudar diversos universos: do evangélico (minha origem), passando pela Doutrina Espirita (Kardec) às religiões afro-brasileiras. Tive que analisar cuidadosamente cada ponto e limpar minhas intuições acerca do radicalismo. Hoje posso afirmar que tenho total fé em Deus – e entendo o porque dessa fé. Acredito piamente nas coisas dos Céus (na visão Cósmica), pois minhas orações são diárias e as respostas positivas também.

5)- RR- Que comportamentos e estados de coisa te dão asco ou nojo hoje, tornando a vida insuportável? E o que te faz ter esperança, alegria e vontade de viver? MHL - Tenho um posicionamento quase incompreendido nesse aspecto. Acredito que asco ou nojo é uma emoção primitiva, que norteia, infelizmente, alguns seres humanos perceptíveis da influência negativa. Hoje, é muito comum se falar em “pessoas tóxicas”. Essas dão asco, sem dúvida. Todavia, ainda acredito na observação paleontológica do francês Teilhard Chardin, um padre jesuíta, teólogo e filósofo: “há sim (diante de algumas reações humanas) uma diferença básica entre a criação e a evolução”. Assim, mutatis mutandi, uns, criados nessa cultura infeliz da incerteza profissional, espiritual e pessoal, tornam-se presas fáceis para pessoas ascóticas. Outros, cujo aprendizado e experiência foram muito mais significativos, evoluíram de forma consistente e mais madura, conseguindo maior controle e equilíbrio diante dos populares mausolhados. Com relação à segunda parte dessa original pergunta, caro Rogério, cabe-me chamar para nossa mesa a Monja Coem. Ela ensina perguntando: “Como uma pessoa causa asco em você? É a pessoa que provoca ou ela é apenas o gatilho de alguma coisa que está em nós mesmos? Mas, elas acabam controlando 90% de todos os nossos sentimentos”. A Monja completa:“nós temos que lutar para que nossa raiva não controle a gente”. Com base nesses ensinamentos, sei que é difícil, que é algo meio teórico. Mas quando a gente insiste em controlar nossa raiva ou tenta mudar o foco ou mesmo abandona o ambiente que nos leva a ter reações incontroláveis, pode, sim, dar certo. Como um velho ditado que ouvi de meus avós, na velha Ilha dos Amores: “Chega! Desço na próxima parada do bonde”, ou seja, acaba ali o sofrimento de uma 'fragili filo', em termos latinos. Para complementar esse – dá certo! - li esses dias uma frase postada pelo influencer Arthur Fernandes, no Twitter: “Deve ser difícil me odiar e não poder me chamar de ruim”.

6) - RR- No mundo da hiperconexão quase que contínua, o que farias se tivéssemos que abrir mão desse modo de existir contemporâneo e tivéssemos que retroceder e desacelerar em relação ao manancial de


coisas sempre à mão? Sobraria lugar para um novo modelo de organização da sociedade ou estamos afundados até a alma nessa nova configuração do humano? MHL – Falo por mim. A primeira vez que li a palavra '‘helicóptero’', foi numa revista Tio Patinhas, em 1960. Não foi necessário o famoso “Google” para traduzir. Com relação à minha infância, passei por diversões deliciosas e inesquecíveis, onde também aprendi com bolinhas de gude (lições de equilíbrio e precisão), lanceadas de papagaios (pipas) - onde senti o gosto da derrota e da vitória bem cedo - patins, circo, até luta de Telecath. Durante muitos anos da minha vida profissional usei máquina de datilografia. Fazia a minha coluna diária dentro de um ritual nunca visto: pela manhã, comprava os jornais da cidade e mais tarde, os do eixo Rio/São Paulo. Após o almoço lia as partes que me interessavam, recebia fax, notícias via telefone fixo e começava a redigir minha coluna. Não tinham releases, nem 'control C’/’control V’. Éramos obrigados a redigir a matéria do começo ao ponto final. Isso fez com que todos nós evoluíssemos muito não só na gramática, como na construção do enredo da história. Tem um detalhe, porém: fui um dos primeiros jornalistas diários de São Luís a usar o computador "plug and play”. Um dos primeiros a enviar minha coluna via e-mail. Porém, se houvesse uma rebordosa e tudo voltasse a ser como era antes, "(...) não temeria a mal algum (...)", como diz o glorioso Salmo 23-4.

7)- RR - Como tem sido a experiência de ser o centro gestor, a cabeça, o cérebro e o coração desse grande universo colaborativo, livre e plural, chamado Facetubes? Imaginavas que o alcance da plataforma seria expandido tão rapidamente como temos visto nos últimos tempos? MHL - O Facetubes (www.facetubes.com.br) para mim é a continuação saudável do que fiz sob pressão durante muitos anos de minha vida. Além do que, com quase 70 anos, ainda vivo emoções muito parecidas ao começo de minha carreira profissional quando leio textos sensacionais, como os seus, ou sou levado a conhecer várias informações novas, ler livros dantes nunca lidos ou receber pelo Facetubes comendas internacionais, como recentemente (2021), vinda da França. Afora tudo isso, ainda é um medicamento infalível contra um possível Alzheimer. Trago comigo alguns genes familiares que me forçam a manter minha mente sempre em movimento, ligada no 220 volts.

8) – RR - O audiovisual tem uma força imensa dentro do mundo contemporâneo. O tempo flui e escorre numa velocidade tal que até mesmo a relatividade einsteiniana poderia ser tranquilamente posta em xeque. A paciência, a atenção e o foco são qualidades raras, por isso mesmo tematizadas em cursos, palestras e livros de autoajuda. Ademais, o ritmo nervoso das exigências impostas pela vida produtiva, pela sobrevivência e pelo dinheiro torna um simples vídeo de cinco minutos uma verdadeira eternidade para um jovem ou mesmo para o cidadão médio. Chegará um tempo em que os Tiktoks da vida ditarão o ritmo dos nossos microdramas, das pantomimas e do teatrinho da existência em vídeos de milissegundos, como se a vida pudesse ser reduzida a um flash ou a um fantasma dela mesma? MHL - Em 2006 participei de um concurso de microromances com base no número de linhas do Twitter. Foi sensacional. Consegui fazer 6 histórias com começo meio e fim no limite de 140 caracteres. (Mudou para 280 a partir de 2017). Meu amigo, fiquei deslumbrado com a capacidade de tantas pessoas (mais de 1800) inscritas. Isso mostra o alto poder de síntese do brasileiro. Também escrevi um ensaio sem a letra "A", (com frases curtas). Cheguei a tirar a tecla dessa letra da minha máquina Remington. Foi outra experiência maravilhosa. Se lermos o livro de Jack Dorsey, CEO do Twitter, vamos ver que as micromensagens (na modernidade) se originaram nos lendários SMS (torpedos). Porém outro dia, assistindo ao Canal History, acabei descobrindo que a linguagem cuneiforme de há muito, inventada pelos Sumérios, também podem ser consideradas micromensagens. Claro que daí, surgiram os tik-toks da vida. Todavia acredito, caro Rogério, que nada se inventou com pertinência ao mundo cibernético. Houve um ponto de evolução. Boa


parte dela, advinda, infelizmente, da Segunda Grande Guerra Mundial. Martheus Griffiing, comentarista contumaz de matérias de jornais e revistas, publicou outro dia, abaixo de um artigo da TIME MAGAZINE, que a evolução dos “microgeoglifos escritos e plasmáticos, não terão tanta força num futuro menos distante, ao ponto de ter que juntá-los, cada um deles,

9) – RR - Nietzsche dizia que a vida sem música seria um erro. Qual outra coisa, se lhe faltasse, tornaria a vida também um erro? MHL – A minha fé em Deus, num criador do Cosmos. Sem ele, perderia outra coisa por demais insubstituível: minha liberdade evolutiva e espiritual. Delas, podem acontecer outros milagres. Mas, nessa ordem literal e sine qua non!

10) - RR - Qual o lugar do inconsciente no teu processo de produção literária? Sua escrita é intuitiva, segue fluxos de movimentos dessas camadas de mais difícil acesso do nosso cérebro, ou é constituída a partir do planejamento e da racionalização? MHL – Nada aconteceu como chuva de verão em minha cabeça. Vejo muita gente falar das facilidades em fazer, escrever e construir. Comigo, não! Para chegar a entender um pouquinho de minhas atividades, li, reli, participei, discuti, aprendi, errei, voltei a errar: dores do crescimento, da evolução. Um esforço hercúleo para saber como e em qual caminho trilhar. Nesse ínterim, aprendi que nem toda intuição é sabedoria. Ouvi muito de alguns sabidos afirmarem ter “exercitado muito o cérebro porque o cérebro é um músculo. Quanto mais exercício, mais musculoso”. Não é bem assim porque o cérebro nunca foi composto de miócitos, como os músculos. Mas de milhões de neurônios interconectados por axônios e dendritos. E mais, tem-se que ensinar o cérebro a pensar, pois é ele quem regula cada uma de nossas funções cerebrais e corporais, desde respirar, comer ou correr, à capacidade de raciocinar, de se apaixonar ou de argumentar. Eu tive muita dificuldade em ensinar meu cérebro a pensar. Foram momentos de angústia, decepções e retornos. Senti emoções incríveis, boas, péssimas e cheguei à conclusão de que é a vivência (da vida) e seus altos e baixos, a melhor forma de ensinar o nosso cérebro. Alguns egoístas, se tornam notórios narcisos superficiais, exatamente por aprenderem pra si, através de cultura de almanaque ou de leituras de manchetes, sem aprofundamento. Esqueceram que a cultura, a sapiência, a sabedoria, não diz respeito ao Homem físico. Mas ao Pensamento do Homem. O que ele repassa ao seu cérebro. Assim, a profusão do que o cérebro absorve, acaba fazendo o monge, da mesma forma que o axiomático "...cachimbo faz a boca torta". Portanto para realmente ensinar o cérebro é ultranecessário jogar fora o chamado “conhecimento de almanaque”, ou simplesmente “sabedoria de manchetes”. Isto é, ler sem se aprofundar em assunto nenhum. Apenas decorando vários assuntos aleatórios para conversas convenientes posteriores. Ninguém sobreviverá a isso, intelectualmente. Como Herbert Spencer disse em frase erroneamente atribuída a Darwin: a partir daí, dáse a “sobrevivência do mais apto”. Sim! No mundo de hoje só o mais apto sobreviverá. Não existe mais a história de que “o Mundo é dos espertos”. Vivemos numa era virtual binária. Rápida e sem indulgência. Um tsunami galáctico. Um buraco negro, prestes a engolir quem não estiver pronto para viver neste futuro, agora! Portanto, urge ensinar o cérebro a raciocinar e não só, ‘decorar’. E para o cérebro racionar, haja leitura, vivência, sofrência e muita oxitocina, aquela proteína que o nosso corpo produz quando fazemos o bem “sem olhar a quem”.

Muito obrigado amigo Rogério Rocha.


A LINGUAGEM PÓS-MODERNA DE CARVALHO JUNIOR PAULO RODRIGUES “o mundo ainda não tem os olhos/ rasgados/ pela cápsula do sombrião”

Gravei, com o querido poeta Neurivan Sousa, uma live em que discutíamos a linguagem pós-moderna do livro O homem-tijubina do poeta e ativista cultural Carvalho Junior. O autor caxiense faleceu em março de 2021(vítima da pandemia e do pandemônio que arrasou com as forças do país). Estávamos comovidos. Estamos ainda comovidos. Carvalho deixou sua marca nos afetos da literatura contemporânea. Era um homem de diálogos coletivos. Nunca pensou dentro de uma caixa de fósforo. Queria “de mãos dadas” alçar voos pelo oceano da Língua Portuguesa. Estou convicto que ele conseguiu. O homem-tijubina & outras cipoadas entre as folhagens da malícia (edição bilíngue) foi lançado pela Editora Patuá, em 2019. São setenta e quatro páginas de um mito em construção. O trabalho gráfico é primoroso. Celso Borges diz no último parágrafo da apresentação: “o poeta é um gato do mato perseguindo a cauda do vento selvagem”. Ai dele se virar um gato de fitinha no pescoço. Carvalho sabia – de vivência – os versos: “o lugar da poesia é o da oposição”. Portanto, nunca será um felino adestrado. O fragmentário da linguagem é nítido em algumas construções, na poética carvalhiana. As alterações na linearidade das cenas que o fazem voltar a muitas lições de Oswald de Andrade. Os dois antecipavam novas semióticas na composição do poema. No poema CIPOADA (IV), lemos: gravou a tijubina na areia intensa de febre – com o pitoco de rabo mutilado sobre uma folha também rasgada de mágoas – : te amo do tamanho da minha fuga! (CARVALHO JUNIOR, 2019, p. 40) Carvalho teceu a trama do verso. Ficamos esperando mais imagens. O fôlego alongado, mas ele resolve cortar as expectativas do leitor e encerra o texto bruscamente: te amo do tamanho da minha fuga.


É uma forma de surpreender e pregar nos olhos do interlocutor. O personagem-tema está representado ao longo das seções, na obra. Santos afirma que o simulacro é caraterística fundante da pós-modernidade. Com consciência o poeta molda uma semiose própria, como podemos constatar em: TIJUBINA`LMA das nenhumas almas que tenho treze têm o corpo de tijubina, a cabeça esfolada de pedra, a carne exposta ao sol da sorte. a dor que me chora em sangue é a mesma que em quimeras ri. quanto mais me decepam o ânimo, mais recomponho a tinta da teimosia. (CARVALHO JUNIOR, 2019, p. 42) O crítico literário Ranieri Carli afirmou num ensaio para Revista Mallarmagens: “ A poesia de Carvalho é forte em imagens. O poder evocativo das imagens de sua poesia reluz fortemente”. Ele tem razão, em destacar o trabalho imagético do poeta. Os sistemas significantes vão se construindo em O homem-tijubina com uma força surpreendente. Carvalho Junior deu cipoadas na poética da nossa quadra histórica e colocou a cabeça acima das folhagens.

Paulo Rodrigues (Caxias, 1978), é graduado em Letras e Filosofia. Especialista em Língua Portuguesa, professor de literatura, poeta, jornalista. É autor de vários livros, dentre eles, O Abrigo de Orfeu (Editora Penalux, 2017); Escombros de Ninguém (Editora Penalux, 2018). Ganhou o prêmio Álvares de Azevedo da UBE/RJ em 2019, com o livro Uma Interpretação para São Gregório. Venceu o prêmio Literatura e Fechadura de São Paulo em 2020, com o livro Cinelândia. É membro da Academia Poética Brasileira. e-mail: paulo.rodrigues12512@gmail.com


COLETÂNEA “ENTORNOS POLÍTICOS, AFETIVOS E OUTRAS CERCANIAS LITERÁRIAS” A Universidade Federal do Maranhão e a Coletânea “Entornos políticos, afetivos e outras cercanias literárias” A obra abrange diversos gêneros, temas e abordagens do estudo literário. Por: Mhario Lincoln Fonte: Por: Hugo Oliveira/Produção:Laís Costa/Revisão:Jáder Cavalcante A Universidade Federal do Maranhão e a Coletânea “Entornos políticos, afetivos e outras cercanias literárias” (facetubes.com.br)

Capa da obra/Original Ass.UFMA Professores da UFMA publicam a coletânea “Entornos políticos, afetivos e outras cercanias literárias”, que abrange diversos gêneros, temas e abordagens do estudo literário Os docentes do Programa de Pós-Graduação em Letras (PGLetras) Émilie Geneviéve Audigier, José Dino Costa Cavalcante e Rafael Campos Quevedo publicaram a coletânea “Entornos políticos, afetivos e outras cercanias literárias”, obra que se trata de uma reunião de ensaios acadêmicos sobre literatura e abarcam diversos gêneros, temas e abordagens do campo dos estudos literários. O material também serve como um mapeamento – embora restrito – dos territórios da poesia, ficção e do teatro. O objetivo da coletânea, segundo os organizadores, é divulgar a atualidade das pesquisas da Pós-Graduação em Letras. A obra se refere ao ensaio que propõe acerca de ler criticamente as “cartografias” literárias, especialmente, as contemporâneas acerca dos territórios temáticos, cujos três principais perímetros foram demarcados pelas questões políticas, tanto no sentido amplo quando de política literária; pelos problemas de tradição e tradução literárias; e pelos temas relacionados a afetos e experiências subjetivas e corporais. Para Rafael Quevedo, a importância desse trabalho será de acordo com a forma que o leitor apreciará a leitura, e a obra é direcionada para aqueles que se interessam pela temática. “A coletânea é dirigida ao público acadêmico interessado nos estudos literários e, a julgar pela amplitude de discussões que o livro propõe, o leitor certamente encontrará algo que dialogue com suas questões, algum mapa que oriente sua travessia nas regiões literárias”, explicou. Saiba mais


Quem participou da coletânea foram docentes e pesquisadores da Pós-Graduação em Letras da Linha de Pesquisa 3, dos Estudos Literários. Compõem a coletânea pesquisadores da UFMA, da Universidade de Brasília (UnB), da Universidade Federal do Tocantins (UFT), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), além das instituições estrangerias Universidade Agostinho Neto (UAN), em Angola; Universidad Científica Del Sur (Ucsur), no Peru; e Université Lumière Lyon 2, na França. Conheça a obra "(...) Se já faz algum tempo desde o abandono de uma ideia de literatura como “duplo” da realidade, tal como a fabulosa cartografia exata e da mesma proporção do território do real, talvez não seja inoportuno pensarmos, seguindo o mesmo aproveitamento intempestivo da metáfora borgeana, que a relação entre a literatura e os “territórios do real” exista, atualmente, nesse regime de “perduração despedaçada” a que se referiu o ficcional Suaréz Miranda, ou seja, que suas ruínas recobram zonas, nichos e guetos dos “impérios” da realidade, em torrões e glebas habitadas por existências tão mendicantes quanto animalescas. Essa foi a ideia empregada na concepção e na organização deste livro que está dividido em três partes: os “entornos”, os “arredores” e as “cercanias”. Trata-se de ensaios que se propõem a ler, criticamente, as “cartografias” literárias, especialmente (mas não exclusivamente) as contemporâneas acerca dos “territórios” temáticos sempre urgentes, cujos três principais perímetros foram assim demarcados: questões políticas (tanto no sentido amplo, quanto de política literária), problemas de tradição e tradução literárias e, por último, temas relacionados a afetos e experiências subjetivas e corporais."

Sobre os organizadores Emilie Audigier - Professora de Letras na Universidade Federal do Maranhão. Coordena o Núcleo de pesquisa e extensão em tradução literária VERSA (CNPq-UFMA). Doutora em Letras (Université Aix-Marseille/UFRJ), realizou pesquisas sobre literatura brasileira traduzida na França. É tradutora literária e foi responsável pela divulgação do livro francês na Embaixada da França no Brasil. José Dino Costa Cavalcante - Doutor em Letras pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. Professor Associado do Departamento de Letras da Universidade Federal do Maranhão. Desenvolve pesquisas nas áreas de História da Literatura, Literatura e Sociedade e Literatura Maranhense. Rafael Campos Quevedo - Professor adjunto do Departamento de Letras e professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Maranhão. Doutor em Literatura pela Universidade de Brasília, ele coordena o Grupo de Estudos e Pesquisa em Lírica Contemporânea de Língua Portuguesa e o Grupo de Estudos Girardianos.


PEQUENA CARTILHA DA TROVA ARLINDO TADEU HAGEN

1 – Definição Na paixão em que me abraso tanto sol tem minha estrada, que eu não troco o meu ocaso pela mais linda alvorada! Alcy Ribeiro Souto Maior Esta composição poética é uma trova porque: - tem quatro versos, ou seja, linhas. Assim como o soneto tem quatorze versos, o haicai três, a trova tem a forma fixa de quatro versos. Se tiver mais ou menos que quatro versos jamais será uma trova; - todos os quatro versos devem ser setessílabos, ou seja, devem ter sete sílabas poéticas – as sílabas poéticas são diferentes das sílabas gramaticais, como veremos adiante; - o 1º verso rima com o 3º e o 2º com o 4º; no caso a primeira rima é ASO (1º e 3º versos) e a segunda é ADA (2º e 4º versos). Também adiante maiores informações; - tem sentido completo – a trova deve ser perfeitamente compreensível neste espaço. Não deve necessitar de outras trovas antes ou depois, textos explicativos, título ou outras observações adicionais. A trova deve bastar por si só. Portanto, a definição atual mais correta de trova é “COMPOSIÇÃO POÉTICA DE QUATRO VERSOS SETESSILÁBICOS, RIMANDO O 1º COM O 3º VERSO E 0 2º COM O 4º, TENDO SENTIDO COMPLETO”. Apesar disto, são encontrados em nosso cancioneiro verdadeiras obras-primas de trovas que não rimam o 1º com o 3º verso. São as chamadas trovas de rimas simples. A verdade é que depois do movimento trovadoresco atual, o tempo e, sobretudo os Concursos de Trovas e Jogos Florais aprimoraram o modelo, oficializando a forma mais conhecida atualmente. Alguns exemplos de trovas de rimas simples: Até nas flores se encontra a diferença da sorte: umas enfeitam a vida, outras enfeitam a morte. JERÔNIMO GUIMARÃES Desconfio que a saudade não gosta de ti, meu bem. Quanto tu vens, ela vai. quando tu vais, ela vem. LUIZ OTÁVIO


Não choro a minha cegueira, choro a falta do meu guia; minha mãe quando era viva eu era um cego que via. TITO BARROS 2 – Métrica A primeira coisa que deve ficar bem clara quando se fala em metrificação de versos é que na poesia contamos sons e não sílabas. Na trova não é diferente e quando dizemos que a trova deve ter sete sílabas, fica bem claro que queremos dizer sete sons ou sete sílabas fônicas. São várias as diferenças entre as sílabas gramaticais e as sílabas fônicas, onde destacamos: - na poesia só contamos até a última sílabas tônica (som mais forte) da última palavra de cada verso, desprezando os demais sons. Se, por exemplo, o verso terminar com a palavra PÁSSARO, a sétima (e última) sílaba do verso deve ser “PÁ”. Se terminar com TROVA será “TRO” e se for AMOR será “MOR”. Trova exemplo – de Durval Mendonça Trabalha, filho, trabalha, põe a semente no chão! É promessa que não falha na certeza de ser pão. Pode-se notar que as sétimas sílabas caem sobre as sílabas “BA”, “CHÃO”, “FA” e “PÃO”, parando aí a contagem. - No caso citado não houve nenhuma vogal próxima de outra mas quando isto ocorrer temos que estar atentos para fazer corretamente a fusão. Fusão ou elisão é a união de duas vogais (ou h) quando, estando próximas, geram um único som pois são pronunciadas conjuntamente. Geralmente a vogal forte absorve a vogal fraca anterior ou posterior. Ou então duas vogais fracas se unem formando uma sílaba só. Trova exemplo – de Waldir Neves Posso jurar de mãos postas, Pesando o que já passei, Que as mais difíceis respostas Foi em silêncio que eu dei. - Há também o caso das vogais que aparecem juntas na mesma palavra. Basicamente são dois casos: § quando pronunciadas, as vogais formam sons distintos, sendo facilmente reconhecido que formam sílabas diferentes. É o caso das palavras como covardi-a, lu-a, perdo-a, etc. § quando não for tão fácil perceber pelo fato de variar a pronúncia. São os casos de criança, poente etc... Aí o autor é soberano e deve optar pelo uso de cri-na-ça ou crian-ça, po-en-te ou poen-te. Para exemplificar citaremos duas trovas vencedoras dos X Jogos Florais de Nirerói, sob o tema “Moinho”: Passa o tempo... e no caminho, a gente vê, de repente, que o tempo se fez moinho moendo a vida da gente...


Trova de Aloisio Alves da Costa, contando “mo-i-nho” Nossos destinos bendigo, velho moinho, meu irmão: os meus versos, o teu trigo, são ao mundo sonho e pão! Trova de Jacy Pacheco, contando “moi-nho” Outro caso que gera algumas dúvidas quanto à metrificação é quando aparecem consoantes mudas como advogado, apto, benigno, cactus, etc. Neste caso, segundo o Decálogo de Metrificação, só há uma solução correntemente aceita como correta: contar como se a consoante não existisse, já que na divisão gramatical a consoante muda deve compor a sílaba sempre com a vogal anterior. Trova exemplo – de Alfredo Alisson Valadares Em meio às paixões fictícias de minha vida agitada, comprei milhões de carícias e continuo sem nada. No caso acima, a divisão silábica fica assim: “Em/mei/o às/pai/xões/fic/ti/cias Trova exemplo – de Graziella Lydia Monteiro Num país onde a cobiça só admite seus preceitos o direito de justiça sempre é o menor dos direitos. Neste caso contamos: só/ad/mi/te/seus/pré/cei/tos. 3 – Rima Um dos elementos indispensáveis na trova é a Rima. Por isto ela merece um pouco a nossa atenção e sobre ela teceremos algumas considerações. Rima de uma palavra qualquer é o som que se inicia na vogal da sílaba tónica e vai até o final desta palavra. A rima de “fim” por exemplo é “im”, de “gente” é “ente”, de “dúvida” é “úvida” e assim por diante. A chamada rima de cada verso é a rima da última palavra deste verso e quando duas palavras tem rimas iguais, dizemos que elas rimam entre si. Desta forma “porta” rima com “morta”, “flor” com “amor”, “partida” com “vida”, etc.. As rimas tem diversas classificações que podem ser encontradas em qualquer tratado de versificação. São elas: pobres ou ricas, raras, preciosas, esdrúxulas, etc. Não entraremos em detalhes sobre estas considerações neste estudo rápido. Há quem acredite que rimas difíceis enriquecem o verso. Para a trova, no entanto, isto não ocorre porque, sendo espontânea e de gosto popular, o melhor é que suas rimas sejam bem naturais. O importante mesmo é que elas estejam perfeitamente encaixadas no contexto da trova e não entrem apenas para “rimar”. Lembramos que a trova mais conhecida da língua portuguesa tem rimas extremamente simples: Trova exemplo – de Barreto Coutinho


Eu vi minha mãe rezando aos pés da Virgem Maria. Era uma santa escutando o que outra santa dizia. Todo trovador deve ter, para consulta, um Dicionário de Rimas, Citamos os mais fáceis de se encontrar: - Dicionário de Rimas, Costa Leite; - Dicionário de Rimas, de Guimarães Passos; - Dicionário de Rimas da L[íngua Portuguesa, de José Augusto Fernandes; - Arrimo, de Lóla Prata. 4 – Exemplos Meu lenço, na despedida, tu não viste em movimento. Lenço molhado, querida, não pode agitar-se ao vento... Carlos Guimararães – ex presidente nacional da UBT Prossegue a cantar, insiste, mesmo a sofrer e a chorar, que pior que um canto triste é uma vida sem cantar! Luiz Otávio – Príncipe da Trova Minhas netas, sempre rindo, são meu alegre evangelho. Musgo verde revestindo de esperança um muro velho. Lilinha Fernandes – Rainha dos Trovadores Brasileiros Oh, linda trova perfeita que nos dá tanto prazer! -Tão fácil, depois de feita... -Tão difícil de fazer... Adelmar Tavares – Rei dos Trovadores Brasileiros 5 – União Brasileira de Trovadores A UBT – União Brasileira de Trovadores - é a entidade que congrega os trovadores do Brasil, com representações em diversos países do mundo também. Fundada em 1966 por Luiz Otávio, está distribuída por todo o território nacional em seções (grupos maiores de trovadores) e delegacias (com poucos trovadores, às vezes apenas um). A Rosa vermelha é o símbolo da entidade, São Francisco de Assis, o Padroeiro dos Trovadores e o Dia do Trovador é comemorado em 18 de julho por ser o nascimento de Luiz Otávio.


LEMBRANÇAS QUE JÁ VÃO LONGE...* FERNANDO BRAGA Estes lances aqui narrados, não aconteciam apenas em frescas madrugadas, mas no dia-a-dia de São Luís, cidade que “nunca será vencida, nem nos combates por armas, nem na nobreza por atos”, como nos versos de Gonçalves Dias, o nosso poeta maior; aonde a aurora é saudada pelos tambores de Mina e de Crioula; e aonde se “servem ótimos crepúsculos”, segundo o gosto poético e boêmio do poeta Lago Burnet. Aquele que ali passa a dirigir seu carro, é de fato e de direito um cidadão fidalgo, é o Dr. Joaquim Sales de Oliveira Itapary Filho, a pitar seu cachimbo, e a soltar bem na curva do Centro Caixeiral com a Rua de Nazaré e Odylo, um rolo de fumaça que vai deixando na algaravia poética do bar e restaurante ‘Aliança’, um cheiro inglês de fumo achocolatado, sem imaginar que um dia viria a escrever ‘Hitler no Maranhão ou o Monstro de Guimarães’, um dos grandes livros da ficção brasileira e ‘Armário de palavras’, uma coletânea de crônicas, ricas pelo conteúdo, pelos temas e pela elegância do estilo. No Bar e restaurante ‘Aliança’, a figura sempiterna e querida do seu proprietário, o lusitano António Tavares, com a calva luzidia e um lápis seguro à orelha, a nos contar proezas acontecidas em Vale de Cambra, sua bela cidade no distrito de Aveiro, Portugal, aonde um dia tive a oportunidade de comer uma ‘uma vitela da Gralheira’, regada a um bom tinto da região; punha-se, também, ele, o António, atento às conversas vindas das mesas onde se assentavam os jornalistas e poetas José Chagas, Nauro Machado, Agnor Lincoln da Costa e Amaral Raposo, enquanto na calçada passa e repassa, de quando em vez, o advogado Clineu Coelho de Sousa e o irrequieto Arimathéa Ataíde, ambos móveis e utensílios da bem querença da Cidade. Aquele canto, como se diz em São Luís, da Rua de Nazaré e Odylo, com a da Rua da Palma, é uma ‘via crucies’ de jornalistas, radialistas, políticos e mais uma gama de gente que por ali trafega em seus afazeres diários, ou simplesmente para ouvirem as reivindicações sociais do escritor e poeta Nascimento Moraes Filho [José] que, em um dos ângulos da praça, estabeleceu seu ‘Beco do Protesto’ de onde braveja com sua voz altitonante, contra os absurdos praticados ao meio ambiente por uma multinacional, instalada às margens do Bacanga...E Zé Moraes, como era carinhosamente chamado, tinha cacife para fazê-lo, vez que é o autor imortal de ‘O Clamor da Hora Presente’, desabrolhado no país inteiro, com endosso da grande crítica brasileira, e do discernimento estético de Otto Maria Carpeaux, como um grito em defesa dos menos aquinhoados na vida. E as pessoas ali se multiplicavam para ouvirem os protestos e trocarem ideias com o poeta. De repente, a atravessar a pracinha Benedito Leite, lá vai o Dr. Antônio José Muniz, requintadamente vestido, em direção à Avenida Pedro II, sobre o qual não deixarei a primazia para o querido e saudoso Bernardo Coelho de Almeida de falar, somente ele, em seu livro ‘Éramos Felizes e não Sabíamos,’ das qualidades funcionais dessa queridíssima figura que é, sem dúvida nenhuma, o nosso amigo e companheiro Muniz, como é conhecido pelos íntimos e pela torcida do Flamengo e do Sampaio Correia, clubes de seu coração. Sem muitas aprazas, confesso que pelas minhas andanças funcionais em gabinetes e assessorias que se fizeram pedaços de minha história, onde tive a oportunidade de cruzar com muita gente boa de serviço e competência funcional, o que de alguma forma me proporciona condições de aferição, apraz-me dizer aqui, de corpo presente, sem receio de erro, que ninguém encontrei “melhor de serviço e de tomada de decisão” do que meu amigo Antônio José Muniz, com quem tive a oportunidade e a alegria de trabalhar no gabinete de uma Secretaria de Estado, em São Luís, quando à disposição, a tais préstimos, mesmo por pouquíssimo tempo, foi o suficiente para endossar em gênero, número e grau o que diz textualmente Bernardo Coelho de Almeida, “ser Muniz o funcionário público de maior competência que já vira por toda sua vida”. E eu também! Aproveito o gancho de ‘Éramos Felizes e não Sabíamos’, onde Bernardo Almeida, com sua elegância ao escrever, aponta um homem que passa pela rua trajando terno de linho branco e levando à destra, uma pequena malinha... Era o médico pediatra João Mohana, recém-chegado da Universidade da Bahia, sempre


a pé, que iria com certeza atender alguma criança, sua paciente... Eu, por minha vez, o acompanho e o vejo [ou o via], sem mais o terno branco e a pequena malinha de médico, mas agora [algum tempo depois], chegado do Seminário Maior de Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre, a trajar calças pretas e blusa cáqui de mangas compridas, portando uma pasta, talvez com originais de livros, anotações de pesquisas e tarefas eclesiásticas, já que é [ou foi] Vigário Geral da Igreja da Sé. Tenho muitas saudades de João Mohana, um intelectual de finíssima estirpe, autor imortal de ‘Maria tempestade’ e de ‘Abrahão e Sara’, além de ser um dedicado levita de Deus! Aquel’outro que ali vai, é o Engenheiro e Deputado Federal Domingos Freitas Diniz, o ‘Dominguinhos’ para os mais íntimos, querido amigo, oposicionista ferrenho e um grande parlamentar, que por querelas políticas, como sempre, encontra-se às voltas com uma confusão com Sarney... Parece que o TRE fez despachar, por estas tardes, um ’sursis’ a seu favor... E os curiosos na Praça João Lisboa o rodeiam à cata de novidades... Enquanto isso, uma pequena aglomeração se forma na porta do ‘Bar do Castro’, era o jornalista Erasmo Dias engalfinhado na porrada com o artista plástico Antônio Almeida, sob às vistas gozadoras de populares; e o amontoado de curiosos crescia com a saída da vesperal, do ‘Teatro Artur Azevedo’, arrendado pelo ‘Zecão’ Dualibe para funcionar também como cinema; as senhoras e senhoritas que deparavam com aquela cena se assustavam, a se apressarem horrorizadas, com as mãos nos rostos; enquanto Erasmo, apenas em cuecas, porque as calças lh’as tinham caído no desespero da briga, apelava, aos gritos, para dentro do bar, onde estava no Caixa, o temperamental ‘Manelão’, filho do senhor Leôncio Castro, cônsul de Espanha no Maranhão e proprietário, esta bela locução gramatical: “Maneco, vem cá depressa suspender minhas calças que eu detesto o ridículo”, apelo pelo qual o nosso amigo e tolerante ‘Manelão’ respondia na mesma velocidade ritmada: “Erasmo, vai pra puta que te pariu!” E a cena de pugilato só terminou quando surgiu na esquina da Faculdade de Direito, a figura respeitável do Dr. Djalma Marques, cuja figura, mesmo de longe, fez tremer os arruaceiros, agora, a dependerem da ajuda dos amigos ‘Carroca’, ‘Luis 40’ e Zé Viana, que jogavam sinuca no ‘bar do Henrique Gago’, ali apegado, que correram para desapartá-los, enquanto o jornalista e poeta Salomão Rovedo, como um procurador romano, gritava a plenos pulmões: “Ao vencedor as batatas!” Vivia-se intensamente! o Éramos felizes e... Não sei se sabíamos! Tínhamos, talvez, consciência de que éramos... E como vivíamos... Entretanto, Sérgio Brito afirmava que “tínhamos convicção de que éramos...” Não havia enganos entre os céus das três praças políticas, literárias e boêmias, a João Lisboa, o Largo do Carmo e a Benedito Leite, trinas na forma, no gesto e na grandeza. Hoje nada mais há, porque existe uma outra cidade depois da ponte, bem ali onde o Rio Anil deságua no boqueirão de São Marcos; e a cidade velha, chamada de ‘Centro Histórico’, continua, agora revitalizada, mas sozinha, com as ‘Mangudas dos Remédios’, com as visagens da ‘Carruagem de Donana Jansen’ e com os sortilégios da velha Serpente que rodeia a Ilha. Por favor, não perguntem por ninguém, porque, â salva de poucos, morreram todos, dizem os cadeados nas cancelas!


BRADO DE ALERTA GRACILENE PINTO Grace Do Maranhão

São Vicente Férrer, Anos e anos passaram E aqui estou de novo Pisando neste teu solo, Andando entre o teu povo. Um povo que me acolhe Hospitaleiro e gentil Nestas ruas da Frexeira Espreguicenta ao sol de abril. O amor a esta terra, Onde deixei o umbigo, Vive em minha consciência E anda sempre comigo. Ainda vejo na lembrança A querida amiga Odila e minha vovó Maria, Naquele viver tão simples E tão pleno de alegria. Criança ainda na alma Eu quero pisar de novo poeira da minha terra E correr descalça nos campos, Que tanta beleza encerra. Rever os velhos amigos, Parentes, e tudo, enfim, Para evocar a menina Eterna dentro de mim. As tuas casinhas simples, Do tempo colonial, Remetendo o pensamento À parentela ancestral. Passear de cocho à tarde E chupar manga do pé, Ouvir incríveis estórias, Como verdades de fé. Lamber sem pejo ou pudor O mel que nos dedos cola Quando rasparmos o tacho Dos doces de ginja e de carambola.


Mas, carambola não há mais, Que a mosca já matou, E a ginja também não, Porque ninguém mais plantou. O moderno o casario E em nada nos lembra já As moradas dos primeiros Que um dia chegaram por cá. De birldos e teares já não se fala, Tão pouco de valores e tradições, Esquecidas estão tuas violas E também os doces de corações. Hoje muito pouco existe Do meu tempo de menina, Agora é a modernidade Que tudo e todos domina Nesta nova São Vicente Do mundo globalizado, Onde os valores mais caros São já coisa do passado. E eu procuro a São Vicente Da minha alma infantil Dentro do baú da história Onde ninguém mais a viu. Procuro, mas não encontro, Porque já não mais existe. A que existe é uma outra, Que me deixa muito triste. Porque nesta impera droga, Desrespeito, violência, A desordem, a confusão, E muita, muita mal querência. Por isso, eu levo a voz Para quem quiser ouvir: - Devolvam-me minha terra E o sonho que vivi! Resgatem-lhe a inocência, A paz, a tranquilidade, Nosso senso de decência, Partilha e fraternidade. Este é o grito de alerta Que eu quero deixar aqui:


- Não deixais morrer, criança, À esperança no porvir! Ressuscita, povo meu, Tua nobreza e valor, Pra mostrar ao mundo inteiro Que a esta terra tens amor. Levanta, mostra tua força, Com fé, determinação, Só deste modo trarás Progresso ao nosso torrão. Sou otimista, não nego. E não canso de esperar, Que os nossos jovens unidos Levem a terra a prosperar. E, enquanto espero, vou sempre Te amando do mesmo jeito, Mesmo que minha terra de antes Viva somente em meu peito. Porque a minha São Vicente Simples, faceira e inocente, Essa eu já sei, não tem jeito, Jamais terei de volta, infelizmente! (Texto de Gracilene Pinto - Imagem da Internet)


A POESIA ENTRE A REALIDADE E O REAL JOÃO BATISTA DO LAGO

Talvez a questão mais emblemática para a maioria dos atores da Poesia esteja na complicada equação filosófica de realidade e real. Mesmo aqueles a quem se podem considerar os mais cultos e doutos são, quando em vez, traídos por essa matemática do pensamento universal. O Poeta, como um pensador do (seu) mundo, isto é, fundamentado nas suas percepções oníricas, intuitivas e sensitivas, não foge a essa regra calculatória. Ele é resultado dessa imbricação fenomênico-escatológica, ou seja, o poeta sempre está a pensar entre dois campos imanentes e latentes na poesia: a Filosofia e a Teologia. Mas isso, contudo, é muitíssimo pouco - ou quase nada mesmo! - compreendido entre os principais agentes da Poesia: poetas, escritores e críticos, e leitores também. Aliás, pode-se mesmo inferir, que são raríssimos os que teriam essa compreendidade. Muitos entendem que, são poetas, somente pelo fato de saberem, habilidosamente, concatenar frases e rimas. Que se me perdoem os puristas cheios de pruridos de literatura áulica. E que são muitos espalhados por aí afora! Mas o que se vê, e lê, por aí são, para dizer o mínimo, uma certa tipologia de prosa poética ou historietas contadas em formas vérsicas. Mas saímos dizendo por aí que esses escritos são Poesias (!), posto que, a sonoridade, a métrica e a rima, ou mesmo nenhuma destas - muitas vezes -, nos agradam e nos elevam a alma e o espírito. É exatamente neste ponto que erramos, ou seja, quando nos deixamos levar e enlevar pelo simplesmente belo ou pela simplória estética musicálica que balança no campo da nossa imaginação palavras, frases e versos condicionados e condicionantes de efeito factível. E quando nos perdemos nessa imaginação criadora, inerente em cada ser humano, por mais humilde que o seja, perdemos a capacidade consciente e ciente de analisar, compreender, sentir, e de, sobretudo, "pensar" a Poesia como uma fonte de águas mais claras que a Filosofia ou a Teologia, por exemplo. O que ouso, neste ponto, é salientar um posicionamento político, ou seja, dizer com todas as letras que o conjunto de conceitos e práticas que orientam a Poesia não se reduz, nem se traduz, tampouco re-traduz, pura e simplesmente, ao estádio cognoscitivo do pensamento do poeta. Tudo isto não passaria de um paradigma metodológico, isto é, tudo isto não é mais que um obstáculo para o processo consciente e ciente da construção da Poesia. O que afirmo é que, aos meus olhos, a Poesia não pode e não deve ser condicionada somente ao campo da realidade, mas deve, sobremodo, ser criada, ou ser cozida, a partir do campo do real. Realidade é Filosofia; é Teologia. Real é o e-xistente; a práxis do ente em ato no e-xistir do ser, ou seja, é o real do sujeito na sua micro-estrutura. O que afirmo é que, o poeta e a sua poesia são o resultado do pensamento da intuição do seu instante. Ele abstrai duma realidade qualquer a visão de mundo do seu real: eis aqui, penso eu, o resultado da equação.


CANTO DE AMOR E PRECE à Praia Grande, Trapiche & Cia.

FERNANDO BRAGA

"É esta a alva coluna, o lindo esteio sustentador das obras mais que humanas que eu nos braços tenho e não no creio?” Luís Vaz de Camões A José Ernani dos Santos, meu pai, Aveiro, Portugal, 17.10.1910 – São Luís do Maranhão, 25.12.1975. 1 Nas porcelanas de faiança apenas a sombra da raiz do tempo. As tabuletas caíram das frentes dos sobrados de azulejos portugueses e de madeiras de carvalho, as mesmas das caravelas dos descobrimentos; Nímios argamassados com óleo de baleias e pedras de lioz, eternas nas calçadas, desafiam com ternura as possibilidades do tempo; são pedras que faziam lastros para os navios que teriam de voltar carregados para o sustento mercantil da Companhia de Comércio das Vinhas do alto Douro. Aquelas pedras polidas e feridas e de cantaria e de calendas, de lendas e romarias, fazem a história mágica que canto. Pedras tenazes, de fontes e ruas, e de frades, sentinelas de becos e vielas, dogmas fálicos e blenorrágicos de orgias. 2 Não há mais vivalma de corpos postos e eretos ossos, a encherem o trapiche, de estrume e cálcio... Homens do ganho, sem camisas e com calças arregaçadas às canelas, juntos aos regatões, descansam em horas calmas; no Beco da Catarina-Mina, a velha Honorata, a mulata do peixe-frito, bradava a dizer que o filho tinha sido recrutado pela Marinha de Guerra e levado para uma outra Marambaia... 3 Nas marés altas, Leviatã continua pescado com arpão e sua língua presa à corda. A Praia Grande se me abriu n’alma, uma saudade sem cura e jeito, e uma ferida dentro do peito, feita de uma saudade de pedra-e-cal. Uma saudade lírica e destemperada deixada com os apitos abaritonados dos navios de cabotagem e mistos, que estão no cais, ou nos canais das marés-altas... Os navios que não apitam não se despedem! Uma saudade que amo, quando de perto vivo, uma saudade que sofro, quando de longe morro. Uma saudade a me despencar pelo verde-limo e a me fazer de esperas.


Por isso me faço e desfaço, com o árido pão que mastigo, com as mandíbulas e outros sentidos, e pedaços irregulares de distâncias. Há em mim o nervo de uma ode-Mar na essência desse meu avaro chão, a ditar-me o verbo insepulto, mas sonâmbulo, como um poema verde. 4 Estar-se na Praia Grande é um alívio, um jazer no germinal do mistério e na magia do encantamento, porque meu mar não tem fronteiras e nem medidas. Um assobio trinado, uma mecha de cabelo caída à testa, um lápis atrás da orelha, restou de um mórbido silêncio e longa pausa na pauta do tempo. Com os pés feridos pelos desníveis dos paralelepípedos, um desterrado, fugido das páginas romanescas de Ferreira de Castro, canta sua loucura, em monólogos sofridos, até às lágrimas dos imigrantes que o assistem... Sou apenas um dublê de capitão e pirata, que a viração dos ventos levou no final da tarde. Sinto ainda meu pai ao meu lado, a dizer-me que a pedra mais angular da Praia Grande inteira, é a que deu nome ao peixe. 5 Praia Grande em silêncio, solitária, fidalga e generosa, passeia comigo de mãos dadas na imensidão do domingo, quase na virada da tarde, plena e inteira, meiga e mágica. Caminho com sextilhas no meu ritmo desordenado, mas perfeitamente amparado por um canto de saudade que se me faz marítimo. Ao caminhar, vou a descobrir figuras nas pedras de cantaria, livre por instantes cadentes aos impulsos e circunstâncias, mas preso definitivamente pelo assobio saudoso e trinado de meu pai, que sem querer chamava o vento. E o bonde da Estrada de Ferro passa sobre os trilhos polidos, a levar consigo lembranças do nunca mais... E a Praia Grande plena de imensidão caminha comigo no plano do silêncio... Uma desmedida silencidão! Isto é a alma e a essência deste canto! Estou pleno no altiplano dessa grande mercancia, cativo às correntes do meu hipocampo. 6 Não tenho pressa alguma, porque meu tempo é generoso como se eu tivesse sendo esperado pelo amor e pelos carinhos de minha amada mãe! Os armazéns estão fechados... Estou entre o agora e o passado! Estar-se na Praia Grande é estar-se em Lisboa, Igualzinha a que meu pai me trouxe, e que depois


fui buscá-la, para guardá-la num domingo de minha infância, porque em mim, a Praia Grande há de reviver-se portuguesa, com certeza, rica, festiva, regateira e alfacinha... ---------------------in ‘O Puro Longe’, 2012.



MORRE CUNHA SANTOS, O POETA GENIAL DO MARANHÃO O jornalista e escritor Cunha Santos faleceu, na manhã desta quarta-feira (20 de outubro de 2021), em um hospital de São Luís. Ele tinha 68 anos de idade e fora internado às pressas na madrugada de terça-feira (19), na UPA do Vinhas, com insuficiência respiratória ocasionada por um edema pulmonar, de acordo com informações dos médicos que o atenderam no Setor da Emergência. Jornalista, poeta e escritor, Cunha Santos é autor de diversos livros. Filho de Codó, cidade onde nasceu no dia 10 de novembro de 1952, Cunha Santos é hoje reconhecido como um dos mais importantes e expressivos autores contemporâneos do Maranhão. De seus pais - Durval Cunha Santos e Josefina Alvin de Medeiros -, J.M. Cunha Santos herdou a sensibilidade para as lutas populares e abriu espaço nestas lutas para, numa atividade simultânea, dedicar-se à poesia, à música e à reflexão política. Autor de “Meu Calendário em Pedaços” - seu primeiro livro; “O Esparadrapo de Março”, “A Madrugada dos Alcoólatras”, “Paquito, o Anjo Doido”, “Odisséia dos Pivetes” e “A comunidade rubra”, Cunha Santos ao longo dos últimos meses estava escrevendo mais dois livros: “Terceiro Testamento” e “Lockdown - A literatura da solidão”. Pai de quatro filhas – as gêmeas Larissa e Laiza, Laila e Tiara -, Cunha Santos não cansava de demonstrar o seu amor pela poesia, onde buscava forças até para suportar as dificuldades da vida. Ele mantinha inalterado o notável talento como escritor, poeta, compositor e jornalista, e o gosto de cantar e de fazer poesias. O pai dele, também jornalista, assinava seus artigos como Cunha Santos, daí porque o jovem Jonaval passou então a assinar suas matérias, seus livros e seus artigos como Cunha Santos Filho. E desde então vinha fazendo de seu trabalho na imprensa um instrumento a favor do ideal de cidadania e justiça e, em seus escritos, costumava ressaltar a teimosa insensatez dos homens, causadora de crises, guerras, conflitos e opressões. Como poeta, ele confessava que tinha grande estima, respeito e admiração por dois homens de letras do Maranhão: Nascimento Moraes Filho e Nauro Machado. “Continuo não acreditando que se fabrique poesia. Poesia é sentimento, é emoção. Não se marca hora para escrever poesia. A poesia cai de dentro da gente”, sentenciava Cunha Santos. Como jornalista, profissão que abraçou aos 17 anos e que jamais abandonou, foi o tempo todo um grande lutador. Em 1973, entrou no Jornal Pequeno (tinha então 21 anos) como redator-chefe, substituindo seu pai, o velho Durval Cunha Santos. Na época, “Lourival Bogéa era criança, e atuava como uma espécie de fotógrafo-mirim deste jornal”, lembra Cunha Santos. Ele se orgulhava de ter convivido com o velho José Ribamar Bogéa (1921-1996), que era um gênio para criar figuras como o “Língua de trapo” e seções de jornal, como “No Cafezinho”. Cunha Santos dizia que admirava a genialidade e a ironia impiedosa com que o velho Bogéa vergastava os poderosos do Maranhão. Mesmo sendo um jornalista reconhecidamente lutador, Cunha Santos não escondia de ninguém que preferia a poesia ao jornalismo. “Nunca fui nem serei um bom repórter. Tenho preguiça de ir atrás da notícia”. Passou pela redação de vários jornais de São Luís, entre os quais “O Diário do Norte”, do ex-deputado federal José Teixeira, o “Diário do Povo”, editado por Nilton Ornellas, onde escreveu as melhores reportagens sociais de sua vida; “O Estado do Maranhão”, à época de Bandeira Tribuzi, Adalberto Areias e Vera Cruz Marques; a velha “Folha do Maranhão”, que era comandada pelo ex-deputado Cid Carvalho, “O Debate”, de Jacir Moraes, e “O Litoral”, de Mary Pereira. Na condição de editor de Política do “Diário do Povo”, Cunha Santos escreveu inúmeras matérias sobre lutas sindicais, causas populares e publicou uma série de reportagens sobre menor abandonado, intitulada “A geração perdida do Brasil”, denunciando o drama dos cheira-colas que começavam a se multiplicar pelas ruas de São Luís. Para Cunha Santos Filho, o velho Durval Cunha Santos foi um gênio. Seguindo os passos do velho, J.M. Cunha Santos trabalhou também em muitos jornais alternativos e, como seu pai, conviveu com grandes jornalistas. Além do irreverente Zé Pequeno, ele destacava Othelino Filho, João Alexandre Júnior, que também era poeta e advogado; Luís


Vasconcelos: “o melhor redator que conheci”; e J. B. Bastos Coqueiro: “o melhor sonetista que já houve no Maranhão, embora nunca tenha publicado nenhum livro”. Merecedor de todas as homenagens, Cunha Santos era, sem dúvida, um dos grandes poetas do Maranhão. Alguns de seus poemas estão entre os mais belos da literatura do país. Seu nome consta no livro A Poesia Maranhense no Século XX, antologia organizada por Assis Brasil. É elogiado no livro A Intelectualidade Maranhense, de Clóvis Ramos, e tem alguns de seus poemas na Hora de Guarnicê, de 1975. Manso e afável, embora coerente e firme na defesa dos princípios em que acredita, e movido pela paixão em tudo que fazia, Cunha Santos teve ainda suas incursões pelo teatro, chegando a fundar um grupo teatral denominado Gpap – Grupo de Estudos e Pesquisa da Arte Popular -, no bairro do Tirirical. Foi também presidente da “Coroa do Samba”, escola de samba fundada por negro Sapeca no final da década de 50. Apaixonado por música e poesia, tem duas irmãs – Bia e Didã – que são cantoras e compositoras. Amante da música popular brasileira, era aficionado pelas letras e melodias de Belquior e Chico Buarque. “A música popular talvez seja a forma de arte que os brasileiros façam melhor. A música é a arte do Brasil”, acentuava Cunha Santos. No ano de 1982, ele foi o vencedor do festival de música da UFMA, com a canção Negritude. Foi ainda um dos premiados do festival de música do Sesc, com a música “Cris”, que fez em homenagem à sua esposa, Ana Cristina Batista Marques.


O ANVERSO VISÍVEL NO AVESSO ABSTRATO E POÉTICO DE RAFAEL OLIVEIRA FERNANDO BRAGA in ‘Conversas Vadias’, antologia de textos do autor. Ilustração: capa do livro de Rafael Oliveira, 'O Avesso abstrato das coisas', ora comentado.

Um dos bons livros que li no clamor destes dias difíceis, foi ‘O Avesso abstrato das coisas’, do jovem poeta e brilhante médico Rafael Oliveira. Insaturável por pensar ter perdido algo de seu, no veio do poema, o que não é infrequente que o ache, vez que essa coisa é trazida dentro de si, em paráfrase ao que diz o notável mexicano Octávio Paz, prêmio Nobel de literatura de 1990, Rafael Oliveira, no domínio crescente dessa síntese, neste ‘O Avesso abstrato das coisas’, formata o livro como se fora um código de doenças, onde cada uma das enfermidades descritas, é diagnosticada com perfeição fisiológica, análoga à sua correspondente na simbologia poética. Vou ao encontro do poeta Rafael Oliveira em sua oficina de verbos, ou em seu consultório-ambulatorial, e encontro também o doutor Rafael Oliveira, que numa mais que necessária e providencial ‘Anamnese’, fazme entender, como se num canto de um mais-que-perfeito, o que talvez alguém lh’o dissera há pouco, ou eu mesmo, nem sei: “vivia como um adjetivo velho / morava ao lado de uns parênteses / guardava sempre umas reticências no bolso / delirava comum interjeição na madrugada/ queixava de dores em todas as partes/ esperava partir no barco da lua sem solidão.” E atônito, e atarantado diante daquelas palavras sintomáticas, mas saudáveis, não aguentei o ímpeto e lhe disse que um dos problemas de minha consulta era o meu peso, e precisava de ‘exercício poético’, apesar de minha alma ser leve na magia de suas sombras, e extensa como nos poema de Fernando Pessoa, para o poeta Rafael aconselhar-me: “ estica a ponta do dedo até tocar/ a menina que apanhava horizontes perdidos nos olhos.” E continuamos a consulta: O que faço para a ‘esteatose’, vez que tu sabes que não fico sem o vinho, porque sem o vinho serei órfão de minhas verdades e até de minhas vergonhas, como diria a nossa querida Cora Coralina; o poeta Rafael coçou a cabeça e como um bom abstêmio me disse: ”mal me quer a vida/ bem me quer a vodka /viver sem rumo leva a nada.” [Só que o poeta errou no gênero da bebida]. O ilustre professor de literatura, José Neres, meu ilustre confrade na Academia Maranhense de Letras, diz ao poeta Rafael Oliveira, nas orelhas deste ‘Avesso abstrato das coisas’ que “[...] é impossível não se emocionar com a leveza com que você trabalha os sintomas de males como o Parkinson e o Alzheimer. Cada uma de suas escolhas lexicais foram feitas sob medida para ensinar, emocionar e despertar em cada leitor uma incômoda sensação de estar sentindo na pele os diversos problemas aos quais estão expostos pelo simples motivo de estarmos vivos.” E só para lembrar o que José Neres afirma, ouçamos o poeta a diagnosticar em versos, esses achaques neurológicos. O Parkinson: “a palavra treme no papel / piora noutro verso/ ilegível poema”. E o Alzheimer: “esquecer a virgula depois da manhã/ a tarde perde o sentido/ o pôr do sol não cabe na memória.” Lá pelas páginas tantas peço-lhe conselhos pra estabilizar a ‘pressão alta’, já que vivo a brincar de ‘preto fugido’ com ela, e Rafael, o médico, responde pelo Rafael, o poeta: “ver o pôr do sol numa tarde qualquer/ evitar nuvens insubordinadas dentro dos olhos/ tomar uma cápsula de lua ao dormir.”


Para não perder o embalo da outra pergunta, amenizo, em dizendo-lhe que é a ‘velhice’, a responsável por esses indisposições, o que ele, o duplo Rafael me responde: “não se sabe onde será o fim/ o começo já ficou no passado/ a vida é uma soma de lembranças.” Ou ainda, na mesma esteira, sobre o ‘envelhecimento’, a mesma temática noutro cenário, o que não me liquida, mas me acagiba, já que perdi de um supetão os meus vinte anos, o que o poeta foi incisivo: “na gaveta da oração guardam-se esperanças/ a vida sempre pede mais distâncias/ as mãos lapidam os anos,” E aconselhou-me a fazer um ‘eletrocardiograma’ em dizendo-me pacientemente: “o coração sempre em sístoles e diástoles/ seja dia seja noite de solidão/ melhor pensar na lua/ para vencer as arritmias da vida.” E eu respondi-lhe, quase sem fôlego, como me encontro nestes dias difíceis: “meu poeta é esse o meu flagelo... nunca pensei morrer um dia de coração, se não fosse de amor!?” Creio em não ser mais importuno em escrever sobre doença e poesia, sabem por quê, porque este ‘Avesso abstrato das coisas’, de Rafael Oliveira é um belo livro, onde associa, como se vê, o útil ao agradável... Aqui estão no mesmo banquete, Hipócrates e Euterpe, brincando com as palavras, vestindo-lhes em cores alegres, a dar-lhes uma eufonia e uma euforia carinhosas. O mal ou o mau aqui disserto, tem um outro corpo, um outro peso, uma outra medida, uma outra nuance de gravidade, ou de bem-estar... Como por exemplo, quando Rafael me disse que eu era míope porque “não enxergava depois do azul do céu/ apenas imaginava deus sentado sozinho sobre o nada”. Está aqui, neste ‘O avesso abstrato das coisas’ uma experiência excepcional e apropriadíssima de um médico e poeta, ou vice-versa, servir à mesa de seus convivas e comparsas, que somos nós, seus aprendizados histológicos associados às suas querenças literárias... As doenças, se sabem, se é que se sabem... as poesias se fazem!... Por fim, perguntei ao médico Rafael o que lhe despertara em fazer como especialidade ‘anestesia’, ser anestesista, o que ele respondeu plenamente feliz: “não há dia nem noite/ não há claro nem escuro/ não há riso nem dor/ apenas a mesma vaga.” Ao despedir-me, momentaneamente, de Rafael, o médico, e de Rafael, o poeta, aquele-ser-duplo, um místico de cientista e lírico, me coube apenas dizer [ou dizer-lhes] esse excerto do ‘budismo moderno’, de Augusto dos Anjos, escrito em 1909, e enfeixado no seu único receituário do ‘Eu e outras poesias’: “Tome doutor, esta tesoura, e... corte minha singularíssima pessoa, / que importa a mim que a bicharia roa/ todo o meu coração depois da morte?!” O que ele me respondeu sem titubeios, em ‘efeitos colaterais’: “uma cápsula de poesia/ quando bem indicada/ pode salvar um verso/ posologia: três vezes ao dia/ uma durante a aurora /outra ao pôr do sol/ a terceira quando a lua cheia/ atravessar a madrugada/ não há contraindicação/ palpitando na bula poética.” Para o espanto do poeta e a curiosidade do médico, conclui: “Ah, um urubu posou em minha sorte!” E os dois se entreolharam assustados! E me fui feliz por ter dois queridos amigos num só: um deles, um brilhante médico, e outro, um irmão e grande poeta, muito querido, e ambos chamados Rafael Oliveira! --------------------------*Fernando Braga, in ‘Conversas Vadias’, antologia de textos do autor. Ilustração: capa do livro de Rafael Oliveira, 'O Avesso abstrato das coisas', ora comentado.


O NEGRO OLHAR SOBRE A SOCIEDADE MARANHENSE RAFAELA PEREIRA

J osé do Nascimento Moraes (1882-1958) figura como expressão de destaque entre os intelectuais de seu tempo. Seus escritos ficcionais e ensaísticos abordam as contradições vigentes em seu Estado, sobretudo no tocante às questões raciais. Como cidadão, combateu os preconceitos, não se deixando intimidar por aqueles que não reconheciam o valor de seu trabalho. Crítico ferino, não tinha benevolência com os que se utilizavam da literatura como forma de promoção pessoal, posicionando-se, também, contra a hierarquização de culturas e a supremacia da cultura europeia. Marcado por uma perspectiva irônica e mordaz, seu romance Vencidos e degenerados (1915) é considerado uma das narrativas de maior impacto sobre a escravidão no Brasil e suas consequências, tanto no plano individual e psicológico, quanto em termos sociais. Publicou ainda Puxos e repuxos (1910), em que exercita seu talento de polemista; a reunião de crônicas Neurose do Medo (1923); além dos Contos de Valério Santiago, editados postumamente em 1972. Jornalista comprometido com os desafios de seu tempo, Nascimento Moraes teve forte atuação nos periódicos O Maranhão, Diário de São Luís e O Globo. Foi também professor do Liceu Maranhense e presidente da Academia Maranhense de Letras. Inspirado pela perspectiva de mudanças políticas no país, especificamente no Maranhão, Vencidos e degenerados constrói outra leitura para a presença entre nós de africanos escravizados e seus descendentes, com ênfase no contexto da abolição e em suas consequências. Utilizando-se de uma linguagem voltada para a fala popular daquela época e com personagens representativos, compõe um painel de rara intensidade sociológica sobre a São Luís do final do século XIX. A narrativa se inicia na manhã de 13 de Maio de 1888, na casa de José Maria Maranhense, espécie de quartel general abolicionista, onde várias pessoas aguardavam a chegada do telegrama com a notícia da aprovação da Lei Áurea. João Olivier, personagem central da trama, é um respeitado jornalista que tem como fonte de sustento as crônicas que escreve para um órgão local. Mestiço, posiciona-se a favor dos cativos e é através de seu olhar que as críticas vão sendo tecidas por toda obra em relação à imprensa e à sociedade maranhense. Nesta passagem percebemos a visão do personagem sobre a abolição: A liberdade dos negros vem contribuir para o desenvolvimento desta terra infeliz, e dar-lhes novas forças, novos elementos, novos aspectos... Esta fidalguia barata virá caindo aos poucos e o princípio de confraternidade virá acabar com supostas e falsas superioridades do ser, que tem sido um dos mais vis preconceitos da nossa existência política. (MORAES, 2000, p. 67). Em sua fala, a queda da “fidalguia” acontecerá com abolição e com ela se extinguirão os preconceitos oriundos das classes superiores que, para se manterem no poder, fazem uso extremo da hipocrisia. Seu otimismo em relação à libertação dos negros o faz acreditar que o fim do regime lhes daria condições de progresso e a queda daqueles que tinham sede de poder. É também na figura de Olivier que se encontra


um “dos maiores elementos contra a escravidão”. É através de sua fala que percebemos as manifestações indignadas sobre os que realmente precisam trabalhar e os que trabalham por vaidade; e sobre a ausência de reconhecimento da sociedade em relação às pessoas esclarecidas. Pai adotivo de Cláudio, tem a intenção de fazer do menino “um homem de luta” pela própria raça, e não um bacharel ou comendador, mas o filho adotivo deixa dúvidas se estava realmente seguindo as intenções propostas por Olivier. Cláudio era filho de Andreza e Daniel Aranha, ex-escravos. Perseguido pelos professores e pelos colegas por causa de sua cor, o menino tem a proteção do pai adotivo, que cuida de sua educação com zelo. Olivier era descendente de família tradicional, o que explica seu prestígio nos círculos intelectuais. Porém, bastou tornar suas ideias conhecidas para que fosse perseguido a ponto de ter que sair do Maranhão. Tem como mestre Carlos Bento, jornalista e professor, também afastado da imprensa por razões políticas, o que o obriga a viver de aulas particulares. Fora também professor de Olivier e escreve um panfleto no qual faz uma síntese política e social. Com a morte de Olivier, Claudio termina os estudos no Liceu e começa a dar aulas particulares para ajudar na renda familiar. Segue o exemplo do pai adotivo e se torna jornalista, chegando a fundar o periódico O Campeão, que logo encontrou um rival, O Triunfo, criado pela elite local como resposta. Não demorou muito para que Cláudio também fosse atacado. Como a renda do magistério não era suficiente para as despesas, recebia um auxílio de José Machado. Este, ao saber que Cláudio era amante de Armênia, começa a tratá-lo com indiferença até que deixa de lhe fornecer a preciosa ajuda mensal. O jovem passa a ser novamente perseguido e após ser salvo de uma emboscada por Aranha, seu pai biológico, sai do Maranhão e vai para o Amazonas, onde passa a ocupar elevada posição como jornalista. A sua volta acontece no dia 15 de novembro, no momento em que estão comemorando a Proclamação da República. Os personagens são construídos através de dualidades: livres e cativos; pobres e ricos; pessoas de famílias tradicionais e pessoas de famílias sem importância social; homens ilustres e homens ignorantes; mulheres de família e mulheres festeiras; entre outros. Os cativos, ao invés de apáticos e submissos, são retratados como homens escravizados que reagem a seu modo às atrocidades praticadas pelas mãos brancas. E são eles que têm amplo desenvolvimento nas ações do romance. São exemplos disso a cena em que D. Amandra, senhora acostumada a aplicar cruéis castigos, leva uma bofetada de sua ex-escrava; das cozinheiras que abandonaram os patrões antes de lhes servirem o jantar; a cena em que os escravos quebram móveis e louças numa expansão de raiva e ódio. Pela figura cômica de Zé Catraia, escravo que é libertado no dia na abolição, o autor ironiza a possibilidade se ser livre mesmo sendo cativo. Catraia é visto por muitos como um bêbado, sem valor, mas tudo vê, tudo ouve e tudo sabe. Era homem de confiança de seu senhor, que sabia de sua inteligência e temia que os seus segredos de contrabando fossem revelados. É através deste personagem que vamos tecendo a imagem de Paletó Queimado, alcunha de José Machado, quando Zé Catraia conta a Cláudio a forma como o português se transformou em homem poderoso. Ex-quitandeiro, torna-se um capitalista por meios duvidosos e figura como representação da corrupção na sociedade. Inescrupuloso e ganancioso, Paletó Queimado representa o arrivismo tão comum naquele momento histórico e, motivado por segundas intenções, chega a oferecer ajuda a Olivier. Já Carlos Bento – o “intelectual falido” – é afastado da imprensa devido à sua postura ideológica. Por sua fala percebemos a desvalorização do professorado e das pessoas sábias, o parecer sobre a sociedade e a educação, e sua crítica sobre a decadência da lavoura quando descreve a imagem do feitor e analisa o atraso econômico do Maranhão. Em um diálogo entre ele e João Olivier, este manifesta a sua desilusão quanto a Proclamação da República: Eu esperava que, depois do 13 de Maio, por que trabalhei tanto; depois do 15 de Novembro, com que me alegrei bastante; esperava que houvesse uma renovação social. Errônea ou acertadamente eu cuidava que a pública administração com luzes mais fortes e puras, tomasse outro caminho que não esse que hoje nos infelicita. (MORAES, 2000, p. 77). Poucos anos depois da Proclamação da República, Olivier percebe que os negros não melhoraram de condição e continuaram marginalizados socialmente. Para Carlos Bento seria necessário que os ex-escravos e seus filhos fossem alfabetizados, o que lhes permitiria conhecer os seus direitos políticos e saber que mudanças efetivas demoram anos, talvez séculos. Pela fala dos personagens, o romance traça um painel de como ficaram os negros após a abolição, principalmente para aqueles que acreditaram numa possível


ascensão econômica e social. Renovação que aconteceu, mas não da forma nem na velocidade como Olivier julgava. Com refinada ironia o autor apresenta o perfil da sociedade maranhense dos anos iniciais da República fazendo uso de registros próximos do jornalístico. A relação entre o campo literário e o político permite ao autor fazer o retrato de uma cidade onde os letrados, principalmente os que eram negros, não tinham importância devido à sua condição. Para alguns críticos, Vencidos e degenerados se assemelha ao O Mulato, de Aluísio Azevedo, mas é preciso ressaltar as diferenças presentes em ambas as obras, a começar pela forma como se posicionam frente às desigualdades raciais. Pode-se dizer também que tal comparação ocorre devido ao fato de Moraes, em sua obra, abordar uma realidade social, descrever os seus personagens de forma minuciosa, tanto física quanto psicologicamente, discutindo questões que certamente eram polêmicas para a época. Afinal, quem seriam os vencidos e os degenerados do Maranhão? A respeito do negro na literatura brasileira, sabemos que sua representação, via de regra, o reduz a ser permanentemente subalterno. Todavia, Nascimento Moraes soube muito bem como romper com esta prática secular ao construir uma obra típica de quem pensava à frente de seu tempo. Suas indagações permanecem vivas se inquietam a todos os que procuram as razões e os sentidos das desigualdades contemporâneas. Referência MORAES, Nascimento. Vencidos e degenerados. 4. ed. São Luís: Centro Cultural Nascimento Moraes, 2000. __________________________ * Rafaela Pereira é graduada em Letras pela UFMG, professora do Ensino Fundamental e Médio e pesquisadora do NEIA - Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Alteridade, desta Instituição.


“A CANÇÃO DO BRASIL” EDMILSON SANCHES

Foi em um mês de julho [...] que um jovem poeta, em 1843, fez (ou datou) sua mais conhecida composição: a “Canção do Exílio”. Sim, é aquela poesia que, se alguém disser “Minha terra tem palmeiras”, é quase certo que outra pessoa, ouvindo, completará, no silêncio da mente ou audivelmente: “Onde canta o sabiá”. Das poesias mais populares que se possa lembrar (quais são?), a “Canção do Exílio” é a que logo é lembrada. Parece até que, “ab initio”, desde a formação embrionária do ser humano, em um dado momento lhe é inserido um neurônio ou grupo deles com versos dessa “Canção”. Já fiz palestras, discursos, participei de conversas em eventos em capitais e dezenas de municípios de 19 Estados e, em momento apropriado puxo assunto, refiro-me a Caxias e confirmo: a “Canção do Exílio” é conhecida de todos. É a canção “de fora” mais interna ao solo e ao sentimento pátrio, brasílico. A “Canção do Exílio” é a “Canção do Brasil”. Embora não seja uma medida científica -- de todo modo dispensável --, mas uma simples consulta por meio de um serviço de busca na rede mundial de computadores (Internet) diz um pouco da força desse poema, inclusive comparado a outro de muitas referências -- “No Meio do Caminho”, de Carlos Drummond de Andrade. Por exemplo, à zero hora de 1º de agosto de 2020, no “site” do buscador mais acessado do mundo, o Google, a expressão “No meio do caminho tinha uma pedra” estava com 50.700 registros. A expressão “Minha terra tem palmeiras” aparecia 62.700 vezes, e “Canção do exílio”, 147.000 vezes. A frase “No meio do caminho” aparece 7,7 milhões de vezes, com certeza por ser expressão de uso comum, inclusive em sentido figurado, com o sentido de “no percurso da vida / de um tempo / de algo”, ou “durante o decorrer de algo / do tempo / da vida” etc.), De qualquer modo, em todos os casos, nem sempre as expressões “No meio do caminho tinha uma pedra”, “No meio do caminho”, “Canção do exílio” e “Minha terra tem palmeiras”, devidamente aspeadas, referem-se aos títulos e/ou versos dos poemas do escritor maranhense e do escritor mineiro. Aqueles números, pois, considere-se uma curiosidade, um “divertissement”.


Nascido no dia 10 de agosto de 1823, o caxiense Antônio Gonçalves Dias ainda não completara 20 anos quando, em julho de 1843, teve à frente de seus olhos, feita, a “Canção do Exílio”. Três anos depois, de volta ao Brasil, agora morando no Rio de Janeiro (RJ), Gonçalves Dias fica sabendo, em agosto de 1846, que já está em fase de provas, na tipografia dos irmãos Laemmert (Eduardo e Henrique), o seu primeiro livro, não sem razão “Primeiros Cantos”. E neste livro primeiro, o canto primeiro é uma canção -- a “Canção do Exílio”, que é, sem favor, a canção do Brasil, tal o modo como naturalmente “grudou” na alma e na memória dos brasileiros, em especial o primeiro quarteto e, neste, os dois primeiros versos: “Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o Sabiá”. Registre-se que, antes de desembarcar no Rio de Janeiro, em 7 de julho de 1846, Gonçalves Dias, pode-se dizer assim, matou a saudade de sua terra natal, o Maranhão, pois, tendo saído de Porto (Portugal) em janeiro de 1845, chegou aos primeiros dias de março a São Luís, sendo recebido e hospedado pelo seu maior e melhor amigo Alexandre Teófilo de Carvalho Leal... e já no dia 6 daquele mês viajou para Caxias, onde ficou na casa da sua madrasta. Enquanto em Caxias, por cerca de dez meses, prestou alguns serviços profissionais, fez algumas declamações e vivenciou algumas chateações... Decide retornar a São Luís, o que ocorre em janeiro de 1846, sendo novamente acolhido por Alexandre Teófilo, que mais tarde providencia para o Poeta, por meio de autoridade estadual, a passagem para o Rio de Janeiro, dia 14 de junho daquele ano. Ressalte-se que foi em seu período de permanência em Caxias que Gonçalves Dias começou a escrever, em junho de 1845, seu livro “Meditação”, que teve partes publicadas em jornal, em 1850. “Meditação” é um diálogo entre um velho e um jovem, uma explícita crítica política e social a diversos aspectos do Brasil daqueles meados do século 19, entre os quais a escravidão. Em “Meditação”, conforme desde 2017 já escrevi e publiquei em jornais, livro e meios digitais, há parte de uma fala do ancião que trata de “ordem e progresso” (Capítulo Terceiro, XII): “E não pelejais por amor do progresso, como vangloriosamente ostentais. // “Porque a ORDEM E PROGRESSO são inseparáveis: -- e o que realizar uma obterá a outra.” (Destaque meu). Isso foi escrito em 8 de maio de 1846, seis anos antes da publicação, em 1852, do livro “Système de Politique Positive”, de Auguste Comte, onde o tema/lema “ordem e progresso” retorna e é posteriormente apropriado pelo filósofo, matemático e escritor caxiense Raimundo Teixeira Mendes no seu projeto da Bandeira do Brasil, entregue por ele no dia 19 de novembro de 1889 e adotado pelos marechais da recémnascida República brasileira, proclamada quatro dias antes, em 15 de novembro.

Livros de Edmilson Sanches & Acervo Pessoal. O “LOCUS” -- TERRITORIAL E ANÍMICO O ambiente espaço-temporal onde foi escrita a “Canção do Exílio” é, o ano, 1843, e o lugar, Coimbra, uma das mais antigas cidades da Europa, fundada em 1111, mas existente como Condado de Coimbra desde o ano 871. Desde 1840 Gonçalves Dias estudava na Universidade de Coimbra (fundada em 1290). Em 1842 ele dividia com amigos o número 5 da Rua de São Cosme. Depois, nesse mesmo ano, mudou para o número 170 da Rua de São Salvador, na região da Sé Nova, onde está a Universidade de Coimbra e sua Faculdade de Direito, curso que o caxiense concluiu. Somente em outubro de 1843 Gonçalves Dias voltou a trocar de endereço, para morar com amigos na Rua do Correio, número 60.


Então, em julho de 1843, quando compôs a “Canção do Exílio”, o caxiense morava na Rua de São Salvador. Perto dessa rua também passa o rio Mondego, de 258 quilômetros, que é o Itapecuru de Portugal, ou seja, é o maior rio genuinamente português, como o Itapecuru, com 1.041 km (quatro vezes a extensão do Mondego) é o maior entre os que nascem e desaguam dentro do território maranhense. (Mondego vem de “Munda”, palavra latina que significa “puro”, “transparente”, e foi o nome que os romanos deram ao rio, que devia ser bem limpo, no início da Era Cristã, quando César Augusto, fundador do Império Romano, fundou a cidade, com o nome “Aeminium” (Emínio = “elevação”, em Latim), na área da atual Coimbra). Claro, não se sabe onde exatamente ocorreram os processos de inspiração, reflexão, elaboração, reelaboração e a forma final da “Canção do Exílio”. Foi um Gonçalves Dias observando o rio Mondego mas olhando mais para dentro de si? Ou foi andando da Rua de São Salvador e passando por diversas quadras até a Universidade ou por uma dúzia de quarteirões, mais ou menos, até o rio? Ou foi no quarto, na residência da estreita Rua de São Salvador, quem sabe no silêncio da noite ou em meio a algazarras de colegas e amigos jovens, bons maranhenses, que tanto tinham apreço pelo Poeta e que o convidaram para morar com eles e lhe custearam despesas? Ou foram pedaços de tudo isso “y otras cositas más” que nós, os que escrevemos, sabemos como “a coisa” é mas não sabemos como se explica -- se é que tem explicação...? Esses processos criativos dão-se pelo cultivo de áreas no imenso latifúndio da mente. Não há, lamentavelmente, quiçá, uma disciplina ou estudo chamado Etiologia Poética, que pesquise e determine causas, origens, princípios, razões do fazer literário, poético sobretudo, e de tudo o mais antes e depois disso -- lembrando que, além da desnecessidade de explicações, na arte de escrever com arte, a última coisa que se faz é... escrever. O “LÓGOS” – ETIMOLÓGICO E SIMBÓLICO As três palavras que fazem o nome do poema (“canção”, “do”, “exílio”), coincidentemente, entraram na Língua Portuguesa no mesmo século 13. “Canção” tem em sua origem mais remota o indo-europeu, a língua pré-histórica (re)construída por especialistas em Linguística e Filologia. Nesse idioma, uma raiz “kan-” chegou ao Latim e pariu formas verbais e substantivas como “cano”, “canere”, “cantare”, “cantus”, “cantionis” / “cantationis”. Destas duas últimas vem nossa “canção”. Já a contração “do” resulta da junção da preposição “de” (mesma grafia em Latim) com o artigo definido masculino singular “o” (antigamente “lo”, vindo do Latim “illu” ou “illum”). Por sua vez, “exílio” é explicado por duas etimologias: uma -- tida às vezes por “etimologia popular” -- registra que essa palavra provém do Latim “exsilium”, formado pela união do prefixo latino “ex-” (originado da preposição latina “exle”, que expressa um movimento para fora ou ser tirado de um lugar) à palavra “silium”, uma forma apofônica (mudança de vogal) do substantivo “solum” (solo). Assim, “exsilium”, convenientemente, é a condição daquele ou daquilo que é tirado de seu lugar, que é colocado para fora de sua terra, seu chão, seu solo. A outra origem nega aquela conveniente formação etimológica e explica que, na protolíngua (a língua-mãe, o indoeuropeu), “exílio” é resultado do mesmo prefixo latino “ex-” à frente da raiz indo-europeia “al-”, com a vogal mudada (apofonia) para “ul-”, que deu em latim “exul”, “exulis”, trazido para o Português como “êxule”, palavra constante dos dicionários de nossa Língua e que significa “exilado”, “banido”, “proscrito”, “desterrado” -- pois a raiz “al-” / “ul-” significa “andar”, “passear”, o que remete ao mesmo sentido de levar/levado para fora. Evidentemente, ao pé da letra, ou da palavra, ou da Etimologia, Gonçalves Dias não foi e não era propriamente um exilado. Seu poema é resultado de um sentimento, não de um banimento. É despiciendo dizer-se/escrever-se acerca do como, quando, onde, por que, para que, que impregnam ou dão origem ao “animus” poético, ao “modus faciendi” literário. A “RATIO” -- COMPLEXIDADE NA SIMPLICIDADE Por que a “Canção do Exílio” é ou tornou-se tão popular? O que nela há que leva outros escritores, poetas, autores a apropriarem-se honrosa e honradamente, humilde e humoradamente do título e dos versos dela em títulos e em versos deles? Livros de poesia e prosa, obras teatrais e musicais (e nem se fale da profusão de trabalhos acadêmicos, da graduação ao pós-doutorado) -- são muitos os esforços e realizações intelectuais, culturais, artísticos, literários, musicográficos sobre ou inspirados naquele poema gonçalvino.


Que magia, fascínio, encantamento se esconde e se revela por aquelas cinco estrofes (três quadras ou quartetos e duas sextilhas) com 24 versos, 113 palavras, 487 letras? Desconheço, e não procurei saber se há, alguma contagem ou estatística acerca dessa influência ou ressonância e respingos da aparentemente despretensiosa e romântica composição de Gonçalves Dias. O insuspeito romancista Machado de Assis já corroborava minha exótica alusão de inserção neuronal, por algum modo, em cada brasileiro que se gera e nasce. Machado assegurou, a plena voz: a “Canção [do Exílio] está em todos nós”. Foi em discurso em junho de 1901, no Rio de Janeiro (RJ), quando se inaugurava um busto do Poeta caxiense, que havia morrido há 16 anos, em águas vimaranenses, na costa maranhense. Wilton José Marques, pós-doutor pela Universidade de Campinas (Unicamp), que pescou a informação acima na “Revista da Academia Brasileira de Letras” de agosto de 1927, também não economiza: “Desde o seu aparecimento em ‘Primeiros Cantos’ (1846), a ‘Canção do Exílio’ [...] tornou-se uma unanimidade geral [...]”. E ainda: “[...] a natureza brasileira atingiu com a ‘Canção do Exílio’ uma dimensão única, elevando-se à condição diferenciada de símbolo de nossa nacionalidade. As palmeiras, o sabiá, as nossas estrelas, os nossos bosques -- que, inclusive, mais tarde seria incorporado à letra do hino nacional --, cantados pelo poema, ganharam um valor simbólico que, de imediato, caiu no gosto popular brasileiro”. E, já no final de seu artigo (“O Poema e a Metáfora”, “Revista Letras”, Curitiba, nº 60, julho/dezembro de 2003), o ilustrado acadêmico reitera: “[...] a força do poema gonçalvino é tal que, inclusive, exerceu -- num contrafluxo – influência sobre a literatura portuguesa”. Wilson José Marques diz que as paródias “dão indícios claros da persistência poética da ‘Canção do Exílio’ e de sua importante contribuição para o delineamento da literatura nacional”. E finaliza, como últimas palavras de seu texto, afirmando que esse poema “fundou por si uma tradição na literatura brasileira que, ainda hoje, encontra ecos”. Lúcia Miguel Pereira, na sua conhecida e reconhecida biografia do poeta maranhense, “A Vida de Gonçalves Dias”, de 1943 (portanto, no centenário de nascimento do caxiense), mencionou “o valor de mostrar a repercussão dos versos de Gonçalves Dias” ao fazer uma anotação sobre uma paródia da “Canção do Exílio” -- uma das primeiras, publicada em jornal de janeiro de 1848, exatos dois anos após a circulação dos exemplares de “Primeiros Cantos”, em janeiro de 1847 (mas o ano de edição consignado no livro é 1846). Um dos mais conhecidos filólogos e dicionaristas da Língua Portuguesa -- e também crítico literário --, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira publicou em 1958 uma obra de ensaios, “Território Lírico”. O livro traz 12 textos, que tratam, entre outros, dos poetas portugueses Antero de Quental, Camões e Fernando Pessoa, do poeta francês Paul Verlaine, do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade... e de Gonçalves Dias. Aliás, é com o poeta maranhense que Aurélio Buarque abre sua coletânea ensaística e lhe dedica um trabalho de 11 páginas, “À Margem da ‘Canção do Exílio’”. É neste ensaio que o lexicógrafo alagoano registrou o que seu olhar clínico percebeu na “Canção” gonçalvina, 111 anos depois da circulação dos “Primeiros Cantos”: a absoluta inexistência de adjetivos entre as 113 palavras do poema que abre a edição “princeps” do livro. Aurélio ainda ressaltou “a admirável técnica de repetição” na poesia. Sobre essa “repetição”, Manuel Bandeira, o notável poeta, tradutor e crítico pernambucano, no trabalhoso e magnífico estudo “A Poética de Gonçalves Dias”, que integra seu livro “Gonçalves Dias: Esboço Biográfico”, de 1952, já antecipava “o partido que o poeta sabia tirar do estribilho” e dizia da “amorável musicalidade de muitos dos seus poemas [de Gonçalves Dias]”, entre eles a “Canção do Exílio”. Segundo Bandeira, “foi, sem dúvida, Gonçalves Dias o poeta brasileiro que mais profundamente e extensamente versou a nossa língua [...]”. Para não tornar ainda mais exaustivas as exemplificações acerca da importância e da influência da “Canção do Exílio”, retornemos a Carlos Drummond de Andrade, o mineiro que foi considerado, em sua época, o maior poeta vivo do Brasil (depois de seu falecimento, em agosto de 1987, foi sucedido pelo pernambucano João Cabral de Mello Neto [1920-1999] e este, pelo maranhense Ferreira Gullar e, com a morte deste, em 2016, dizem as boas línguas que o informal título de maior poeta vivo estaria com o sóbrio, disciplinado, enfim, apolíneo Salgado Maranhão, não por acaso nascido na mesma Caxias de nós três -- o poeta universal Gonçalves Dias, o federal Salgado Maranhão e Edmilson Sanches, inspetor de quarteirão...). Mas... falávamos sobre Drummond e a influência ou respingos, nele, da “Canção do Exílio”. Em agosto de 1997, nos dez anos da morte de Drummond, o Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia publicou uma pequena coletânea de 11 poemas, dedicados ao poeta itabirano, com o título “Minha Terra tem Palmeiras”. Para agradável


surpresa minha, fico sabendo, logo no início do texto introdutório do livrinho, que “‘Minha Terra tem Palmeiras’ foi o primeiro título pensado por Drummond para o livro ‘Alguma Poesia’, publicado em 1930” -- e que li na adolescência, em edição da Nova Aguilar, em papel-bíblia, que reúne 15 livros de poesia e oito de contos e crônicas drummondianos, mais todo aquele aparato crítico e histórico daquela sessentã casa publicadora. Outra revelação sobre o título desejado inicialmente por Drummond para seu primeiro livro: “Embora tenha sido considerado por Mário de Andrade um GRANDE ‘ACHADO’ -- do qual ele CHEGOU A SENTIR INVEJA, como confessa em carta escrita a Drummond em torno de 1925 --, por algum motivo esse título terminou sendo abandonado” (maiúsculas por minha conta).


O ACUADO DE VAL DE GATOS FERNANDO BAGA

Na quinta de Val de lobos, na Póvoa de Santarém, em Portugal, vivia arredio Alexandre Herculano por questões de intrigas e perrices com alguns dos seus companheiros da Torre do Tombo. Nos Apicuns, em São Luís do Maranhão, na antiga quinta dos Frias, que prefiro chamar de Val de gatos, vivia acuado, junto a ‘krupskaia’ sua gata de estimação, José Erasmo Dias, a figura mais extraordinária que conheci na comédia humana, nesse todo de que nos recorda Balzac, apesar de sua figura representar, irremediavelmente, criações de Edgar Allan Poe, como se ele corporificasse ‘O Corvo’, ou aqueles personagens tétricos da ‘Rua Morgue’, ou ainda, os de Dostoievski, nos enredos misteriosos de ‘Crime e Castigo’. Era ao mesmo tempo este Erasmo autor e personagem. Tinha muito também do seu alterego, o de Roterdã, como se fosse uma sombra que monologava no ‘Elogio da Loucura’ contra deuses e demônios. Nasceu José, este Erasmo, em São Luís, no dia 2 de junho de 1916, e gerado no ventre da brilhante geração de 30 do Maranhão. E se fez jornalista, contista, polígrafo e panfletário, abandonando o curso de direito no terceiro ano; exercia influência literária nos jovens, por ser um homem de cultura feita, com metáforas didáticas e arranjos mímicos perfeitos, na sustentação discursiva com que orientava aos que lhe solicitavam ajuda artística. É este o olhar que tenho e recordo de José Erasmo Dias, a ratificar, sem mudar uma vírgula, o que escreveu Graça Aranha, n’O Meu Próprio Romance’, sobre a figura de Tobias Barreto, quando o conheceu na Congregação da Faculdade de Direito do Recife: “O mulato feio, desgracioso, transformava-se na arguição e nos debates; os seus olhos flamejavam; da sua boca escancarada, roxa, móvel, saía uma voz maravilhosa, de múltiplos timbres, a sua gesticulação transbordante, porém sempre expressiva e completando o pensamento. O que ele dizia era novo, profundo, sugestivo”. Erasmo Dias foi um homem honesto e honrado; viveu e sofreu numa pobreza franciscana. Foi Diretor do Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado, Deputado Estadual e Prefeito interino de São Luís. Era aposentado pela Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão, no cargo de Diretor de Debates. A grandeza de Erasmo, como político, como homem de cultura e, sobretudo, como uma figura marcante e marcada que lhe emolduraram a personalidade, quer emblemática, ou estigmatizada, ficou em todos nós ao longo de uma sofrida vida, que ele fingia alegre, mas que no íntimo, interpretou-a e se autodirigiu, inegavelmente sem nenhum retoque, mas com a legitimidade, por exemplo, estampada no seu, à Pirandello, ‘O Roubo dos Personagens’, que em síntese é ele, [ou era ele] por ele mesmo. Sobre essa figura singular, atentemos para o que escreveu a pena abalizada de Lago Burnett: “Erasmo Dias era contagiante. Intimava, empolgava, comprometia. Era difícil ouvi-lo sem um arrebatamento. Suas atividades convergiam para um só mecanismo propulsor e detonador de eventos. Erasmo, o escritor engajado, o polemista, era o elemento catalisador que impulsionava toda uma geração e fazia crescer o fermento do seu entusiasmo pelos grandes temas contemporâneos. Jornalista, foi no panfleto, na folha vibrante e desaforada dos grandes duelos políticos, que encontrou as melhores oportunidades para realizar-se, dizendo com bravura e malícia o que a patuleia perplexa mal conseguia traduzir em sentimentos, quanto mais em palavras.”. Nessa esteira de análise, Carlos Cunha, no seu livro de memórias ‘Caçador da Estrela Verde’, disse sentimentalmente: “Não era do hábito de Erasmo Dias sentar-se à mesa para ensinar os iniciantes da arte. A conversa, com ele, ajudava-nos a aprender as coisas, ver uma luz no fundo do túnel. [...] Como político, alçou voo alto, tão brilhante quanto o intelectual e boêmio. Na tribuna da Assembleia Legislativa, Erasmo Dias fazia discursos brilhantes e eloquentes, arrebatando aplausos, fazendo as galerias delirarem. Com o


seu dom para a ironia, conseguia, com rara sensibilidade, levar os interlocutores, deputados, ao ridículo. Sua passagem na política foi como a trajetória de um cometa, perdendo-se na vastidão de sua inteligência. Defendia as causas dos humildes e dos desvalidos. Era político oposicionista de autenticidade. Admirado pelos adversários”. Confesso que em minhas incursões pela casa de Erasmo, direcionado sempre ao foco de curiosidades, que era uma velha cômoda de jacarandá, estilo Luís XVI, achei, certa vez, um bilhete de cunho histórico e sentimental que o ilustre médico e escritor Clarindo Santiago o presenteara pelo seu amoedo jocoso e lírico. Pois bem, esse bilhete fora escrito pelo intelectual Luso Torres que era General do Exército e também tinha sido Interventor do Maranhão em tempos difíceis, e que, numa noite, acometido de uma crise de hemoptise precisou do socorro profissional do médico Clarindo Santiago, poeta de fina estirpe e seu mais que amigo... Eis o bilhete: “Compadre Clarindo, estou a precisar com urgência dos teus cuidados. Vem depressa aqui em casa, pois estou botando todinho em um penico o sangue que um dia jurei derramar pela Pátria. Do teu de sempre, Luso Torres.” Quis surrupiar aquele pedacinho de papel. Ele me flagrou e arrebatou-me das mãos. O desmazelo, sem dúvida, deve tê-lo destruído. Que pena! Eu, modéstia à parte, teria dado melhor destino àquela lembrança histórica. Ali, naquela cômoda, ele dizia guardar também, envolto em pano de linho cru, os originais de ‘O Gasômetro’, um seu romance inacabado, uma sua visão íntima de São Luís, a pedir-me que, se por ventura o olhasse com olhos de malsinar, não o tocasse; mas só achei alguns papéis anotados com tais referências; o que achei mesmo, e de arrepiar a emoção, foi ‘A Rapsódia das muitas Teresas’, anotações dispersas de um conto, quase novela, que acredito ter sido um dos maiores que já se escrevera pelos nossos Maranhões, tendo ficado, pela incúria e desmazelo do próprio autor, na vala do ineditismo e se perdido na inexorabilidade do tempo. Era simplesmente um monólogo, onde um feto a se contorcer, narrava, dentro do tempo devido, sua infeliz fecundação, a lembrar-nos lances de ‘Coração revelador’, de Edgar Allan Poe, cujas miragens de alucinação e efeitos de terror, pareciam ter transpostos uma arte diferente, em meio àquelas lâminas agitadas, a erguer-se serena e calma, numa figura de melancolia, numa atitude acabrunhada e triste. Para minha exultação, assisti-o, na varanda de sua casa, escrever a lápis, em folhas de papel soltas e sem pautas, com sua letra firme e bem talhada, a novela ‘Maria Arcângela’, pausando de vez em quando para a natural e devida leitura, e para um gole reparador de aguardente. ‘Maria Arcângela’ é uma das maiores novelas já escritas para o Cancioneiro Maranhense, onde se encontra, pela grandeza do estilo, ressonâncias de ‘A Peste’, de Albert Camus, vez que ‘Maria Arcângela’ fora escrita para um cenário da epidêmica varíola que um dia assolou São Luís. O texto é digno de estar enfeixado em antologias dos melhores contos ou novelas brasileiros. Charles Baudelaire, o tradutor em francês do poeta Edgard Allan Poe, nos diz em um belo ensaio sobre o autor de ‘O Corvo’ “... Que as notas, os costumes, os hábitos, o físico dos artistas e dos escritores sempre suscitou uma curiosidade bem legitima”, e era essa, bem se sabe, a intenção do jornalista e poeta Fernando Viana em fazer a caricatura em versos do nosso Erasmo, a qual foi publicada no Jornal ‘A Tarde’, de Salvador, Bahia, quando lá o nosso satírico Fernando estudava medicina, sendo depois publicada no seu ‘Passarela e outros perfis’: “Este, em São Luís, é o que se ufana / com seu timbre de voz desconcertante, / de em casa possuir toda uma estante/ sobre literatura americana. / Na Imprensa Oficial, onde é mandante, / percebe, mensalmente, gorda grana, / e, ali, como num plácido nirvana, / vai meditando e lendo para diante. / Desengonçado, anêmico, disforme, / no contraste do corpo, a cara enorme/ dá-lhe a ambígua aparência de boi manso... / Tem talento e cultura. É inteligente/ e escreve muito bem – principalmente / quando na vida alheia dá balanço...”.


Erasmo, não o de Roterdã, mas o dos Apicuns, era um homem de apurado senso estético, orientador literário de quem o procurava nesse espinhento caminho; orador de peças memoráveis, panfletário e editorialista de artigos imorredouros, como ‘Boi Marrequeiro’, ‘Algodão de capoeira’, ‘Areias de aluvião’ e outros muitos; como escritor deixou legado à história literária do Maranhão, ‘Páginas de crítica’, um livro de ensaios, onde comenta com vigor e técnica extraordinários, os estilos e características de James Joyce, Romain Rolland, Ernest Hemingway, Hermann Hesse, Thomas Mann e outros gênios da Literatura Universal. Foi eleito para a Academia Maranhense de Letras, ao suceder o professor Silvestre Fernandes na Cadeira nº 15, patroneada pelo humanista Manuel Odorico Mendes, em cujo discurso de posse transcendeu à eloquência ao falar do tradutor de Virgílio. Adveio à sua vaga, o jurista e historiador Milson Coutinho; e a este, o também jurista e poeta Daniel Blume, o qual será recebido no próximo dia 2 de dezembro deste 2021, pela acadêmica Sônia Almeida, mãe do recepiendário, fato este inédito na ‘Casa de Antônio Lobo’. Morreu José Erasmo [de Fontoura e Esteves] Dias, em São Luís, no dia 14 de maio de 1981, por ironia, numa segunda-feira, à luz do sol das onze horas, sem conseguir serenar-se com a madrugada, como gostaria; morreu sem aquele grito de ‘Qincas Berro d’água’, mas serenamente; seu corpo foi sepultado no velho cemitério do Gavião, debaixo de um cajueiro em flor, sem a cruz, como símbolo do cristianismo, mas com a Estrela de Davi, ou Signo de Salomão, já que se dizia judeu, a luzir à cabeceira de sua consciência, agora verdadeiramente imortal...


O ANTROPONAUTA VIRIATO GASPAR RAIMUNDO FONTENELE Literatura Limite: O ANTROPONAUTA VIRIATO GASPAR

O Portal TORDESILHAS e o blog LITERATURA LIMITE (www.literaturalimite.blogspot.com.br) chegam nesta primeira semana de agosto com mais uma matéria para se inscrever nas páginas da atual literatura maranhense. Correndo o risco de tornar-me um blogueiro bissexto (bissexto porque tem sido um parto difícil parir uma postagem) fui à cata de alguma coisa essencialmente nova em termos de poesia e acabei chegando ao refúgio deste meu grande irmão e amigo Viriato Gaspar, o poeta tão essencial ao Movimento Antroponáutico quanto os outros 4 que lhe fizeram companhia: Cassas, Chagas Val, Valdelino Cédio e este escriba menor. Escrevo isso porque tomei conhecimento de que alguém cujo nome me escapa referiu-se a nós como a geração de Luís Augusto Cassas. É um tremendo erro, engano ou..., deixa pra lá, o próprio Cassas, de quem conheço a humildade humana e a honestidade intelectual refutaria tal assertiva. A nossa geração é a GERAÇÃO ANTROPONÁUTICA da qual todos nos orgulhamos. Nós afundamos navios de cascos avariados, detonamos velhas pontes de madeira a quem o cupim destroçava, e os grandes nomes da literatura maranhense naquele momento, Nauro, Zé Chagas, Arlete, Jomar, Nascimento de Moraes, Bandeira Tribuzi, Carlos Cunha, Domingos Vieira Filho, Alberico Carneiro e outros nos reconheceram os méritos e nos fizeram as honrarias merecidas, publicando 2 antologias e estendo um imaginário tapete voador por onde desfilamos a nossa tola vaidade juvenil. Portanto, o Soco no Muro nesse blog de hoje é o poeta Viriato quem dá.


CONVITE Dancemos. Agora, Quando a noite se espicha pelos dias E as trevas se enredam em cada alma, Dancemos. Dancemos, Agora, Quando o abraço se tornou uma ameaça E o beijo é quase uma condenação à morte, Dancemos. Mais que nunca, Dancemos. Dancemos na varanda, no quintal, No banheiro, no quarto, na cozinha, No deserto de cada um preso em sua casa, Contra o vírus do medo que avança sobre nós, Dancemos! E cantemos. Agora, Quando há ódios espumando nas esquinas E mãos que fazem gestos nos matando, E há tanta raiva vindo pelas telas, Tecendo teias em cada celular e coração, Cantemos. Sim, cantemos! Mais que nunca, Cantemos. Até que o sol acorde e chame a aurora E possamos entregar nas mãos de nossos filhos Um mundo que consiga se abraçar E transmutar em canto, em dança e riso A dor que desabou em nossos dias E colocou ferrolhos em nossos gestos, E pôs medo em nossos braços e sorrisos E nos distanciou do que já foi nosso melhor: - O (n)osso humano. - O Hermano. Este é o que podemos chamar poema sobre fatos concretos, aí, sim, um poema verdadeiramente concreto, mas nada daquela estética que se chamou concretismo subsiste aqui. Na verdade o concretismo pouco deixou de concreto, em alguns casos soou como um verdadeiro engano, e momentos há em que nada mais abstrato do que muitos dos tais poemas concretos. E ao iniciar seu poema convidando-nos para a dança, convite repetido outras vezes durante o desenvolver do poema, noto naquilo que está implícito no poema e que é sua grande força, a insuspeitada metáfora invisível, que na verdade é uma dança dos desesperados em meio a um caos, não esqueçam, programada por mãos humanas e tiranas.


Por isso, o poeta Viriato nos convida para a última dança, o último canto, uma vez que todas as outras manifestações foram suprimidas do encontro e do calor humano: o abraço forte e o beijo sincero entre irmãos, amigos, namorados, noivos, casais, companheiros. É como se o poeta repetisse Jesus com outras e novas palavras: Pai, afasta de mim esse vírus. E não é esse bichinho chinês, é um outro maior, do qual esse corona é apenas um filhote ou uma pequena larva: é o vírus que veio das trevas e das regiões mais sombrias e diabólicas da mente do homem. DIZER-TE Repara: A palavra que dizes não é a coisa dita. A pedra nunca é a própria dita, pedaço de rocha, sílica, duramente petra, nunca rosa. O sol que encharca o céu de quanto dizes inunda de ouros velhos de outros trigos a lâmina que ocultas no que falas: - quintal de cicatrizes. A pedra de que falas voa, plana, pluma, flama. Aquece o coração de quem a chama. Sempre quando nos arvoramos em crítico ou ensaísta de uma grande arte, como sói acontecer com a poesia de Viriato Gaspar, geralmente nos tornamos menor do que já somos. E por isso costumamos chegar usando uma bengala metonímica na qual nos apoiamos, para, em se caindo, não cairmos sozinhos. Dei de cara logo com uma semelhança: o uso das palavras pedra e pluma neste poema remeteram-me direto para João Cabral de Melo Neto. Mas não foi só isso. A concisão da fala e dos versos, a dureza metafórica que imprime à linguagem no seu canto mais puro, mais lapidado, mais carregado de múltiplos significados faz deste poema do Viriato irmão dos melhores do poeta pernambucano. Mas é só isso: “O sol que encharca o céu / de quanto dizes / inunda de ouros velhos / de outros trigos / a lâmina que ocultas / no que falas: / - quintal de cicatrizes.”, embora João Cabral assinasse embaixo, é a quinta essência da excelência formal e conteudística que Viriato imprime em sua arte. Sempre foi assim. Um poeta que amadureceu no duro aprendizado da pedra e que chega à maturidade poética com a leveza da pluma que nos encanta.

MUSEU DE ASSOMBROS Chegou-me o tempo de chorar por tudo. Olhar pra trás, doendo as mãos vazias.


Gastar os olhos contra o umbreu dos dias. Rilhar os dentes, lagrimundo escuros. Sempre em tudo que amei nada foi cheio. Houve sempre uma nuvem, um pé de vento, Um fosco, uma voragem, um de entremeio, Uma casca entre o fora e o meu mais dentro. Eis-me chegado ao tempo dos remorsos. O longo correr-dor dos sonhos mortos, O re-moer dos rasgos e dos cortes. Um velho é um mar que foi, e hoje é deserto. Palpar nas sombras, cada vez mais perto, O caminhar sutil da Dona Morte. Não há desespero, nem saudade, nem remorso. Embora fale em remorso, não é um remorso a quem a culpa condena. Aqui Viriato Gaspar pode nadar de braçada numa praia que domina e da qual é um dos melhores do Brasil, o soneto. “Nada foi cheio”, “um fosco”, “um pé de vento”, “uma voragem”, pois o poeta sempre soube por intuição desde a tenra infância e em sua juventude pelo fazer poético que a vida seria assim mesmo: essa incompletude que o amor humano preenche pela metade. Embora seja a meta de uma vida inteira, o poeta sabe e poderia e diz como outras palavras, ninguém é pleno. Plena é a vida, mas a vida é além do que é humano e por sermos apenas humanos jamais poderemos alcançá-las: a vida e a plenitude. Cumprir uma sina, realizar um projeto, é isso o que resta. E o nosso amigo Viriato Gaspar cumpre e realiza, não apenas este, mas sonetos e mais sonetos que o fazem ombrear-se com que há de melhor na língua portuguesa, neste mister que é a poesia, esta sim, plena e completa. A FLOR SEM ASAS Pensar em ti clareia as minhas sombras, esparrama quintais pelos meus cílios. Pensar em ti é resgatar um filho, dado por morto, ao fundo dos escombros. Pensar em ti às vezes é uma corda, que vai puxar-me lá, onde esmoreço. E se me amarga o azul, é o que me acorda e me molha de um sol que nem mereço. Teu nome é como chamo o que me aquece, como digo luar quando escurece, e consigo voar quando é só lastro. O que é belo no mundo traz teu rastro. Todo bem que consigo, e é diminuto, fala de ti, é a sombra do teu vulto. Neste belo soneto A FLOR SEM ASAS, cujo título por si só é um enigmático achado poético, o poeta Viriato Gaspar não esconde a condição humana de buscar constantemente o amor no e do outro. Invoca e chama e se desnuda ao revelar quanta dor se apaziguaria, como seria nutrido de uma nova força que tem o poder de fazer com que do sentimento humano e material brote uma metáfora de tal beleza e que é esta “que me acorda e me molha de um sol que nem mereço”.


Luzidio, brilhante, escorregadio o poeta segue a senda e a sina dos grandes poetas, quanto mais dor, mais amor, quanto mais ausência mais poemas que nos fazem acreditar no renascimento e na cura. Evoé, Baco, habemos Poeta! Poemas de VIRIATO GASPAR Comentários de Raimundo Fontenele


O SENSO ESTÉTICO DE OSWALDINO MARQUES FERNANDO BRAGA in ‘Conversas Vadias’, antologia de textos do autor. Ilustração: Foto de Oswaldino Marques, do acervo do professor e escritor Antônio Miranda.

Oswaldino Ribeiro Marques nasceu em São Luís do Maranhão, em 17 de outubro de 1916 e faleceu em Brasília-DF, em 13 de maio de 2003. Abriu seu caminho a golpes de tenacidade, à mercê de inquebrantável adesão aos valores da inteligência. “Se não fosse escritor, gostaria de ser matemático ou físico nuclear”, dizia convicto com as exigências que tinha consigo. Ao falar-se de Oswaldino é bom que se diga qual foi ele o ponto de ligação que houve entre sua geração maranhense de 30, com os ecos da ‘Revolução de Arte Moderna de 22’, e é justamente sobre isso que o escritor Rossini Corrêa, em seu belo livro ‘Atenas Brasileira – A Cultura Maranhense na Civilização Nacional’, Thesaurus Editora, Brasília, 2001, à pág. 187, nos diz: “O ambiente cultural ludovicense não foi contemporâneo do eixo construtor do modernismo brasileiro, na década de 20: ‘os revoltosos assustam no Maranhão’, reconheceria Odylo Costa, filho. Sem movimentos, sem manifestos, sem revistas, sem articulação interativa e sem livro-marco de reconvenção estética inserto na moderna história literária do Brasil. São Luís, na realidade, ficou à revelia do itinerário imediato de expansão da mudança modernista em curso no País. São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, sim. Pernambuco, Paraíba, Rio Grade do Norte e Alagoas, também. No Pará, menos. No Maranhão, não. Se alguns poucos sonharam em ensaiar a luta renhida, perderam a batalha que, em visão crítica, não vingou em terras gonçalvinas. O principal modernista maranhense, jovem da década de 20, foi Nunes Pereira, uma espécie de Raul Bopp fugindo do passadismo, que estava diante do seu mestre Mário de Andrade, em Natal, vindo de Belém, onde frequentara tertúlias peripatéticas. E, no Maranhão, nada de Nunes Pereira”.


Avesso às academias e a ciclos literários, Oswaldino Marques, não sei por quê, pertenceu ao ‘Cenáculo Graça Aranha’, ao lado de alguns dos seus mais legítimos companheiros da geração de 30, como Josué Montello, Franklin de Oliveira, Manuel Caetano Bandeira de Mello, Amorim Parga, José Erasmo Dias, Sebastião Corrêa, Paulo Nascimento Moraes, Ignácio Rangel e outros, “a buscar o sonhado caminho’ apregoado pelos cânones do modernismo de 22, o qual no Maranhão, como se viu, foi “febril e transitório, enquanto que, para o ideal de glória da mitológica tribo timbira, sempre a eternidade foram deusa e rainha sedutora”, como nestes versos do próprio Oswaldino Marques: “E sinto quanto mais contraditória/ é a fortuna de minha realidade:/ ter por órbita a vida transitória/ e em torno a mim só ver eternidade”. Não procuraram e nem acharam ideia modernista nenhuma. Sobre o ‘Cenáculo Graça Aranha’, é Josué Montello que nos diz: “Éramos românticos, e não sabíamos. O Cenáculo não publicou livros, não promoveu conferências, não empossou nem enterrou ninguém. Na verdade, pensando bem, foi uma bela ficção. Cada um de seus membros fundadores tomou rumo próprio, ficando em São Luís ou dali saindo. Tão completa foi a sua extinção que dele não restou o livro de atas, nem o álbum de recortes. Apenas uma tabuleta”. Em 1936, Oswaldino zarpa de navio pra o Rio de Janeiro, onde já lá estavam Montello, Franklin e Bandeira de Mello. Na velha capital, o mais tarde tradutor de Whitman, se torna um dos fundadores da União Nacional de Estudante-UNE, onde trabalhou como bibliotecário e tradutor, tendo sido um dos responsáveis pela divulgação da poesia moderna estadunidense no Brasil. Em 1965, mudou-se para Brasília, como servidor do Ministério da Educação, transferido do Rio de Janeiro. Por concurso, assumiu a cátedra de Teoria da Literatura na Universidade de Brasília [UnB]. Com o agravamento da ‘posição militar no Brasil’, o mestre Oswaldino a trilhar pelos caminhos do marxismo, foi demitido do cargo, se auto exilando nos Estados Unidos, aonde foi professor visitante das literaturas portuguesa e brasileira, na Universidade de Madison, Wisconsin. Algum tempo depois, em 1991, via anistia, foi reintegrado à UnB pelo Reitor Cristovam Buarque. Oswaldino Marques era por temperamento retraído e viveu os últimos anos praticamente isolado em seu apartamento em Brasília, onde dedicava seus dias à leitura e a ouvir músicas. Quantas vezes, a seu convite, participei desses momentos silentes ao seu lado, entre clássicos e músicas de câmera de sua predileção, a degustar, por vezes, um delicioso ‘mingau de milho’, à moda maranhense, que em outras plagas chamam de ‘canjica’, preparado por Maria do Carmo, sua mulher. Infelizmente, Oswaldino se dizia agnóstico, mas não por isso, mas por outros, ‘caprichos’, deixou registrado em cartório, que não desejava qualquer tipo de cerimônia religiosa quando de seu sepultamento, nem discursos, e nem flores, e nem velas, o que foi seguido à risca por sua mulher e seus filhos, o gravador Igor Marques e o também escritor Ariel Marques. Sintamos o quanto o Padre António Vieira tinha razão quando proferiu o seu famoso sermão a ‘Quinta Dominga da Quaresma’ ou ‘Sermão das Mentiras’, Rossini Corrêa [op.cit.p.224], diz assim: “Tribo conflitada e desunida a maranhense, que, no passado, falava mal de si às escondidas, como Humberto de Campos a comentar livro de Coelho Neto, no ‘Diário Secreto’: “Recebi um livro de Coelho Neto. É um punhado de crônicas de jornal, em que seguem os lugares-comuns, se sucedem as expressões banais, os termos de gíria, as frases feitas, compondo páginas sem relevo, sem interesse, sem beleza, uma grande piedade, uma grande dó...” [...] Atualmente, porém o duelo travado em terra estranha é público e notório, à faca peixeira, com fratura exposta, massa cerebral perdida, hemorragia desatada e de vísceras caídas por terra, como o servido em Brasília-Rio, por Oswaldino Marques e por Josué Montello. Combate, este, que inspirou ao primeiro a corrosiva e inédita produção poética, que substitui, em sua concisão, todo um banquete psicanalítico. Em: ‘Auto-epitáfico’– “Osvaldino aqui jaz./ De vezo polêmico, /índole indomada. /Zero contumaz /na vida foi nada /nem mesmo acadêmico”. O que Rossini Corrêa atiça acima, esmiúço abaixo, como ilustração a este dedo de prosa, e para que o leitor entenda melhor essa ‘luta corporal’ que em nada espantaria Ferreira Gullar: Oswaldino e Josué foram colegas no Liceu Maranhense por todo o curso de humanidades; tinham precisamente a mesma idade; ambos intelectuais de fina linhagem; Oswaldino foi ‘eminência parda’ de Montello quando este exerceu a direção da Biblioteca Nacional, mas, infelizmente, um pelo outro nutria uma ‘rezinga figadal’.Oswadino era terno e generoso em gestos e delicadezas, mas quando se aborrecia, por qualquer coisa, perdia as estribeiras, sem medir consequências e sem economizar adjetivos, o mesmo acontecendo com Josué Montello, o que fazia dos dois, apesar de adversos, mais que semelhantes. Um belo dia, pela década de 80,


um ‘Macunaíma’ qualquer, à guisa de fuxico, instigou Oswaldino em relação a um ‘disse-me-disse’ que Josué Montello houvera verbalizado sobre sua pessoa, o que na linguagem cibernética de hoje seria traduzido como ‘fake news’. Pelo sim, pelo não, Oswaldino surtou com que ouvira do ‘herói sem nenhum caráter’, e foi às pressas para o ‘Correio Brasilenze’ onde abriu as ferramentas contra Josué, num artigo intitulado ‘Desmontele-se’, o que imediatamente, o autor de ‘Os Tambores de São Luís’ respondeu pelo ‘Jornal do Brasil’ ao tradutor de Blake, num outro artigo, intitulado ‘Arquive-se’. Foi uma ‘batalha romanesca e ensaística’ espetacular, o que me faz rir até hoje quando as leio; guardei esses artigos comigo, de duas páginas inteiras cada um, devidamente catalogados em hemeroteca; são duas preciosidades literárias, que em matéria de ‘agravos, em alto estilo’, nada existe semelhante em língua portuguesa, nem mesmo os terríveis epigramas trocados por Bocage e Caldas Barbosa na velha Arcádia Lusitana, ou as bandarilhas trocadas entre Alexandre Herculano e seus ‘indesejados’ colegas da Torre do Tombo, ou ainda, as fúrias contidas nas farpas de Eça e Ortigão contra uma comunidade inteira. Uma maravilha de batalha literário! De sua extensa bibliografia, eis aqui alguns livros e antologias de Oswaldino Marques: ‘Poemas quase dissolutos’, 1946; ‘Cantos de Walt Whitman’, 1946; ‘O poliedro e a rosa’, 1952; Cravo bem temperado, 1952; ‘Usina de sonho, 1954; ‘Videntes e sonâmbulos’, 1955; ‘Poemas famosos da língua inglesa’, 1956; ‘A seta e o alvo’, 1957; ‘Ensaios escolhidos’, 1968; ‘O Laboratório Poético de Cassiano Ricardo’, 1976; ‘A dançarina e o horizonte’, 1977, ‘Livro de sonetos’, 1986. “[...] Em seus poemas, onde a beleza formal jamais se afasta da substância, em seus ensaios críticos, onde a arguta percepção está informada do mais dignificante calor humano, em suas traduções exemplares, [William Blake, Walt Whitman, T.S. Eliot] onde a fidelidade ao espírito criador original não está contida pela inevitabilidade da redução, sendo antes recriações válidas e autônomas, o escritor maranhense oferece generosamente o melhor de si [...] “A sensualidade de nossos trópicos se torna evidente mesmo quando os temas são aparentemente intemporais e forâneos”, disse dele o amigo e editor Ênio Silveira. Escutemo-lo, em seguida, em ‘A dançarina e o horizonte’: “Em luz resplandeceu minha palavra/ e se fez sol interior, mental:/ sob seu calor agora torno à lavra/dos campos da sintaxe e do real”. Por fim, ouçamo-lo neste ‘Homo sum’, enfeixado em ‘Poemas quase dissolutos’: “Há nos meus ombros vestígios de asas,/Guardo zeloso uma rica herança de voos;/Não esqueci, de todo, os segredos da levitação,/E me vanglorio de flutuar ainda como leve paina no espaço!/Tem sua obscura razão este ingênuo amor pelas nuvens,/Esta infantil ternura pelas franzinas borboletas,/E o orgulho de atirar o rosto para as estrelas./Mas, ai! apalpo no meu cóccix também uma cauda atrofiada,/ Que em vão dissimulo e dissimulo com meu enganador manto celeste. /Besta e anjo — um meridiano me corta em zonas de luz e treva. /De um dos meus lados nasce a aurora, /O outro é a úlcera de onde jorra a noite. / Ai! Que desgraça ser o antípoda de si mesmo! / Viver se despenhando em violentas diagonais de contradições. / A mão pura e a impuras pendentes do mesmo tronco. /O olho cego e o são coexistindo na mesma face. /O lábio podre e o eterno modelando estranhas palavras híbridas.” A última vez que conversei com Oswaldino Marques, não preciso quando...Foi no gabinete em que ele dividia com Herberto Sales a direção do Instituto Nacional do Livro [INL] em Brasília. Tenho saudade de sua generosidade e de suas colocações discursivas, sempre em altíssimo nível. Ele foi, repito, um querido amigo e um escritor que honra a Literatura Brasileira!


12 POETAS BRASILEIROS DO MARANHÃO NA REVISTA PORTUGUESA INCOMUNIDADE. [Autor - Vários autores ; Carvalho Junior, org.] Adriana Gama de Araújo + Antonio Aílton + Bioque Mesito + Carvalho Junior + Celso Borges + Dyl Pires + Hagamenon de Jesus + Lindevania Martins + Luiza Cantanhêde + Neurivan Sousa + Ricardo Leão + Viriato Gaspar. http://www.incomunidade.com/v98/art_bl.php?art=401

Adriana Gama de Araújo Nasceu em São Luís. Historiador formada pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), com mestrado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Escreve desde os 15 anos, quando começou a ter seu nome associado à poesia pelos mais próximos. Em 2010 criou o blog “Pólen Radioativo”, e passou a ter contato com poetas e escritores do Brasil e do mundo, hábito que mantém até hoje. Em 2017 venceu o III Festival Poeme-se de Poesia Falada e o I Festival Maranhense de Filosofia (categoria: aforismo/poema). Mora em Raposa, município da grande ilha de São Luís, é professora da rede pública municipal e estadual. Por meio de seus experimentos táteis, quase performance, a poeta Adriana Gama de Araújo incorpora um renascimento simbólico para pequenos objetos, miudezas, acúmulos, misturados, amalgamados ao corpo, criando uma silhueta reversa impressionante de tantas formas que testemunham uma experiência poderosamente vulnerável, livre e intuitiva de escrita. Corpo estranho. Por Adriana Gama de Araújo | by Ed Caliban | Revista Caliban VOYEURISMO o gato comeu a borboleta bem na minha frente


por um instante eu os vi reinando absolutos no incompreensível território da fome. * BAR CENTRAL dentro da caixa ficou o postal com a imagem do bimotor em preto e branco vendido aos clientes a noite que começou antes atravessou a pé as pontes até santo amaro centro do mundo sobre o postal plana o cheiro enfumaçado de motor que pifa em pleno ar lembro do susto a queda sobre a cidade corpos pesados de paixão uma catástrofe. * PARA PINTAR UM AMOR IMPOSSÍVEL uma pá de cal não é suficiente. * CORPO ESTRANHO nesta casa cabe uma família eu não tem um quadro que ocupa muito espaço sua moldura de cabelos curtos vento na nuca um poema de schwitters uma flor carícia de gato um arrepio eu não sobra uma pergunta uma porta sem fechadura um coração antigo eu não. * AMOR eu mudo de lugar e acompanho a incidência da luz


nos teus cabelos prefiro morrer ou que saibas? tu e tuas asas imantadas atraindo meu corpo inteiro ferro em brasa estou muito perto de ti sentes uma ânsia silenciosa no teu encalço? homem dos fios e rastros quando eu for palavra direi como a guerra parece contigo. * EXTRAVIO para Lilith no quadro de Anselm Kiefer te dou meus olhos acaso não consigas ver que roubaram o vestido da menina que sorria jogaram terra no vestido e saíram correndo ficou para trás um grande buraco no céu a menina nua grita aos que passam seríssimos — olha ali meu vestido no varal do povo de deus! * MIUDEZA um astronauta lírico contou que da lua ninguém vê a muralha da china uma artesã circense gosta de coisas miúdas porque combate a miopia de longe, muralha é montanha e qualquer cidade, vazia no dialeto humano a olho nu é quase dentro daquilo que significa. * TEMPO a noite nunca se deitou sobre aquele lago a eternidade: uma deformação da existência e ainda estou lá com minhas raízes entre os pássaros. * AUSÊNCIA a ausência não tem vocação para relógio é um algo mais delicado que envolve os corpos vivos ou inanimados na lastimável compreensão das horas um lençol cobrindo os móveis da sala


impondo o estático impedindo o sujo e os rasgos do tempo que não deve ser gasto – a ausência é o destino com os dois pés quebrados – é a fé sem oração toda palavra em vão é um poço sem água nada se move, evapora ou passa tudo demora infinitamente debaixo da dor que te esmaga. * ABRIL OU O TEMPO É UMA FALÁCIA a porta o peito as pernas a boca o guarda-roupa nada mais cabia nada mais passava nada mais se pendurava só a folhinha amarela mofada tudo parado estreito vazio nada mais abril nada mais passava. ***

Lindevania Martins Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Lindevania de Jesus Martins Silva, mais conhecida como Lindevania Martins (Pinheiro, 6 de setembro de 1972) é uma defensora pública e escritora[2] brasileira. Autora dos livros de contos Anônimos, Zona de Desconforto e Longe de Mim. Autora do livro de poesias Fora dos Trilhos. Iniciou seus estudos na cidade de Pinheiro, onde nasceu, mudando-se para São Luís com a família no final da adolescência para ingressar no curso universitário. Chegou a iniciar os cursos de Engenharia Civil e Filosofia, mas não concluiu os mesmos. Bacharel em Direito, concluiu o Mestrado em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal do Maranhão com a dissertação Autoria e Dissenso na Internet:um estudo sobre participação e tecnologia. Atuou como delegada de polícia nos anos de 1999 a 2001, junto à Secretaria de Segurança Pública do Estado do Maranhão. Em seguida, ingressou na Defensoria Pública do Estado do Maranhão, onde atuou no Núcleo Forense da Família e, posteriormente, no Núcleo de Defesa da Mulher e População LGBT. Seu primeiro livro de contos, Anônimos: invenções de amor, morte e quase


morte, venceu o XXVII Concurso Literário Artístico na categoria contos, sendo publicado pela Prefeitura de São Luís no ano de 2003. O livro O Trio venceu a edição do concurso seguinte, optando a mesma por não publicá-lo. O livro Zona de Desconforto foi selecionado para publicação após o I Concurso de originais da Editora Benfazeja. Trata-se de uma obra composta por oito contos escritos num registro realista, a maioria narrados em primeira pessoa. Participou como jurada do Concurso Internacional Her Story, promovido pela Plataforma Sweek em conjunto com o Leia Mulheres e a Pólen Livros. Tem poemas e contos publicados nas seguintes revistas eletrônicas: Gueto, Marinatambalo: crítica e literatura, Ruído Manifesto, Fluxo: revista de criação literária e Quatetê. Integra o coletivo literário feminista Mulherio das Letras. Obras Livros Publicados 2003 – Anônimos: invenções de amor, morte e quase morte (Prefeitura de São Luís) Este livro foi vencedor do XXVII Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, categoria contos, em 2003. O livro apresenta 16 contos, a respeito dos quais, o crítico e poeta Couto Correa Filho, na orelha do livro, afirma: “Ás vezes as narrativas são densas e transcorrem carregadas de tensão, com um desfecho dramático que choca a sensibilidade do leitor, tal como nos contos “Veia” e “Acerto de Contas”. Em outras ocasiões, o tema é simples e o relato se passa em grandes tensões emocionais, como em “Pescaria” e “A Velha”. Mas, em ambos os casos, fica registrado um modo pessoal e autêntico e narrar estórias”. 2018 - Zona de Desconforto (Editora Benfazeja) O livro apresenta oito contos que dialogam profundamente com as questões do nosso tempo e nos faz refletir sobre invisibilidades, pertencimentos e as possibilidades de se viver em conjunto. Os contos apresentem enredos e personagens bem construídos em que ideais de bondade e maternidade são postos em cheque, bem como são expostas as complexidades das relações amorosas e de critérios que valoram a vida humana a partir de perspectivas excludentes. “Na escrita do livro, estive muito preocupada em preservar essas contradições que nos constituem. As personagens circulam por espaços hostis, possuem a necessidade de se afirmar para resistir, porém, suas escolhas com frequências são desastrosas e produzem efeitos imprevistos, desafiando suas próprias crenças ou expondo facetas que lhe são indesejáveis”, diz a Autora. Zona de Desconforto foi vencedor do I Concurso Nacional de Originais da Editora Benfazeja, lançado em 2017. 2019 – Longe de Mim (Sangre Editorial) Terceiro livro da maranhense Lindevania Martins, tem como protagonista Josi, uma menina de 10 anos cuja vida está prestes a mudar. Fruto de uma gravidez na adolescência, se viu forçada a ingressar cedo demais no mundo adulto, cujas regras ela não compreende totalmente. A relação conflituosa que a menina estabelece com a mãe e com os homens que a rodeiam se torna cada vez mais acirrada, até que uma morte acontece. O texto recebeu menção honrosa no Concurso Nacional de Contos da Ordem dos Advogados do Brasil, lançado em 2006. 2019 – Fora dos Trilhos (Venas Abiertas) Neste quarto livro, a escritora apresenta 26 poemas atravessados por temáticas variadas, entre as quais se sobressai o mundo do trabalho, as questões de gênero e a infância, além de trazer aspectos lúdicos e experimentais. Integra uma "coleção de bolsa" composta por 20 volumes de obras individuais de integrantes do coletivo literário Mulherio das Letras. Trabalhos em Antologias 2001- Eros de Poesia (Org: Asta Vonzodas e Nalu Nogueira) 2006- O Advogado e a Literatura (Org: Francisco José Pereira - Ordem dos Advogados do Brasil) 2018- Antologia Internacional Mulheres pela Paz - Mulherio das Letras - (Org: Alexandra Magalhães Zeiner e Vanessa Ratton) 2018- Casa do Desejo - (Org: Eduardo Lacerda) 2018- Conexões Atlânticas Brasil Portugal - (Org: Adriana Mayrinck e Emanuel Lomelino) 2018- Antologia de Contos Ciclo Contínuo Editorial - (Org: Ciclo Contínuo) 2018- 2a. Coletânea de Prosa do Mulherio das Letras - (Org: Cleonice Alves Lopes-Flois) 2018- 2a. Coletânea Poética do Mulherio das Letras - (Org: Vanessa Ratton)


2018- Espantologia Poética Marielle em Nossas Vozes - (Org: Célia Reis, Maria Nilda de Carvalho Mota e Palmira Heine) 2019- Meus Primeiros Versos: poesias para crianças - (Org: Vanessa Ratton - Mulherio das Letras) 2019- Babaçu Lâmina - (Org: Carvalho Júnior) 2019- Entradas para Cotidianos - (Org: Karine Bassi) 2019- Eros das Eras: antologia erótica - (Org: Argemira de Macedo Mendes, Fábio Mário da Silva e Marleide Lins) 2019- O Livro das Marias - (Org: Jeovania Pinheiro) 2019- Antologia 32 - (Org: Leonardo Costaneto, Ana Paula sobrinho, Patricia Cacau e Tânia Diniz) 2019- Admiráveis Mulheres - (Org: Beatriz Santos) 2019- Mulherio das Letras Portugal: poesia - (Org: Adriana Mayrinck) 2019- Caravana Buenos Aires: literatura brasileira por las calles argentinas - (Org: Leonardo Costaneto) 2019- Sou Mulher, Logo existo: 3a. coletânea de prosa e poesia do Mulherio das Letras - (Org: Vanessa Ratton) 2019- Eu, Monstro! - (Org: Rafael Tsuchiya) Trabalhos Técnicos SILVA, Lindevania de J.M. Entre o Público e o Privado: questões sobre autoria a partir da internet. In: SEGATA, Jean; MÁXIMO, Elisa M; BALDESSAR, Maria J (Org). Olhares Sobre a Cibercultura. Florianópolis: CCE/UFSC, 2012. p. 17. Acessado em 21.12.2018 Prêmios e Menções 1º lugar no XXVII Concurso Literário Artístico Cidade de São Luís, Prêmio Odylo Costa Filho (contos) 1º lugar no XXVIII Concurso Literário Artístico Cidade de São Luís, Prêmio Odylo Costa Filho (contos) 5º lugar no I Concurso Eros de Poesia - categoria júri (poesia) Menção honrosa em I Concurso Nacional O Advogado e a Literatura, promovido pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (contos) Finalista no Concurso Nacional Paula de Brito, promovido pela Ciclo Contínuo Editorial (contos) 4 Poemas de Lindevania Martins – Revista Acrobata Game Over este corpo um dia será pó adubo da terra e da imaginação das minhocas todos os idiomas que aprendeu sepultados no ataúde das línguas mortas nenhum rastro ficará das assombrações nas madrugadas murmúrios vindos do que não tinha voz sem barganha nem troca perderão o brilho todos os sóis a memória terá sido um inútil apêndice daquilo que findou nada restará além da ilusão de que foi conhecido aquilo que se apagou Maquinaria sem referência estamos sempre replicando e o motivo porque precisamos replicar se apagou replicamos porque é isso que fazemos há mais de cem anos replicamos porque nos aproximamos dos nossos ancestrais através do mesmo trabalho inútil e sem motivo replicamos porque precisamos de uma tarefa


que nos ultrapasse e nos seja incompreensível replicamos para que nossos bisnetos e trinetos também o façam quando já tivermos ido replicamos para que através desses gestos automáticos que os mergulharão no meticuloso e no absurdo possamos deixar de viver para nos perder no labirinto impreciso da memória Pequena Adaptação seus sonhos domesticados não eram mais imensas feras sem educação amoldados ao contrato de transporte agora podiam caber na sua bagagem de mão Instruções para a Jovem Arqueóloga ouvidos e olhos atentos escavar além do chão explorar o subterrâneo e o sótão o fosso da memória é profundo os ossos ainda se decompõem na fria escuridão dos armários enquanto as gavetas da história oficial acumulam arquivos corrompidos o mal que sai da boca do homem não se equipara àquele que sai das trombetas do estado na disputa sobre qual voz será a mais aguda para contar nossa história só quem não olhar para trás se tornará estátua de sal

Neurivan Sousa Poeta e professor da rede pública, formado em Filosofia. Maranhense, natural de Magalhães de Almeida (1974), mas radicado em Santa Rita/MA. É autor de Polifonia do Silêncio (Scortecci, 2012) e Lume (2013). Palavras sonâmbulas é seu terceiro livro de poesia (2016). (13) Neurivan Sousa | Facebook TODO O PESO carrego nos ombros


curvados pelo pranto o peso de dores ófãs uma âncora oxidada um balde de água uma mala de chumbo todo o peso deste mundo não pesa um grão de areia do deserto que me habita.

GÊNESE acaso eu teria voz acaso eu teria vícios acaso eu teria versos acaso eu teria sede acaso eu teria signos acaso eu teria safra se nas minhas veias não corresse escuridão?

LENTES BINOCULARES O que captam os olhos de um poeta idólatra à beira de um poço ateu? O eco da pedra suicida, o silêncio imo da água com sede de ver o sol? Ou um céu subterrâneo, onde morcegos são anjos aprisionados, e o Diabo é quem puxa o balde? O que avista um poeta debruçado numa janela escancarada para o nada? A falência da vida, a inércia dos mortos, um pássaro sem céu ou um céu sem pássaro?


MÓBIL Escrevo. Escrevo... para não morrer de silêncio. Afogar-me neste mar, onde as palavras sempre nadam para o fundo, para o nada, seria morrer inultimente na exorbitância de ser eu.

CONTRAPOSIÇÃO na beira do cais de costas viradas para o poente sem sigla partidária os barcos recusam o impeachment da tarde.

AS PALAVRAS as palavras não dormem nas esquinas, nos bares, nos bancos das praças, pois não bebem cachaça. elas dormem no frio pó do túmulo das memórias, para de lá ressurgirem fulgurantes de glórias. as palavras não ditas se tornam fantasmas daqueles que um dia cortaram as suas asas.

MOEDA à luz do dia minha cidade é uma bela jovem vendendo jornais e livros no stop do semáforo. ao véu da noite


essa mesma cidade é uma cadela no cio uma prostituta de luxo traficando AIDS a altos executivos.

SHOPPING CENTER uma visão espantosa, uma colmeia em festa. vitrines engenhosas, cada loja uma oferta. um redemoinho de fantasmas, famintos por peles e máquinas. um bando de sanguinários piratas, saqueando o porão do próprio ego um formigueiro medonho, alienados escravos da mo(e)da – indo e vindo enfileirados – em bandos, em zigue-zague. um rebuliço fantasista de queimar a retina de quem olha de fora o caldeirão do Diabo.

POLIFONIA DO SILÊNCIO / Neurivan Sousa Polifonia do silêncio é um desses livros que logo na primeira página faz o leitor cativo do prazer de lê-lo. É um verdadeiro leque de variedades poéticas que aguçam os sentidos, dando a quem o lê a sensação de que ele próprio é o poeta. Como na vida, o tema amor tem seu lugar de destaque, vai e vem é reverenciado com a grandeza que lhe é imanente. O livro, como o título bem sugere, tem a sonoridade de uma brisa em manhãs de outono, é preciso sensibilidade de alma, como diz o autor, para senti-lo e apreciá-lo.

A vida é uma perfeita poesia. Mas é preciso ter sensibilidade de alma para compreendê-la e amá-la sem se perder em seus versos, nem adormecer com suas rimas. Tal como é a poesia em sua essência, os poemas de Polifonia do silêncio são livres, não se prendem à rima e à métrica, preferem focar no mundo real ao ideal. Sua beleza consiste na sonoridade das verdades escondidas por trás das vestes (palavras) que são sutilmente utilizadas para dar forma às ideias e sentimentos que emanam de dentro do espírito humano. O meu passado é pó; o meu presente é água;


o meu futuro é luz; a minha vida é vento. Enfim, é uma obra que ao ser lida, inevitavelmente ilumina os olhos da alma, fazendo-a ver o silêncio como a sublime melodia da vida, de onde ecoam aos corações apaixonados acordes e versos de amor em tons de elevadíssima poesia. Nossos olhos, às vezes ingênuos, outras vezes precipitados, têm no amor seu colírio refrescante nas cores enganosas do pecado. É quando se fecham que melhor enxergam. Porque quando abertos ficam Não enxergam nada.

MINGUANTE A infância perdida da memória. Os sonhos esquecidos numa gaveta. Os filhos – emancipados – mundo afora. A saudade lagrimando frente ao espelho. As horas que se esgotam no crepúsculo. As obras que se evaporam à luz dos olhos. A esperança navega sem bússola. A vida que se esgota a cada ciclo. Tudo se prostra diante do tempo. Então uma dúvida salta do armário: Não seria a morte a perfeita vida para a qual ainda não nascemos? Ou seria a vida já a própria morte, sendo vivida de dentro para fora?

Luiza Cantanhede Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Maria Luiza Cantanhede Gomes, mais conhecida como Luiza Cantanhede (Santa Inês, Maranhão) é uma escritora e poeta brasileira. Filha de lavradores, possui formação em Contabilidade[3]. É membra fundadora da Academia Piauiense de Poesia. Foi finalista do Concurso de Poesia “Professor Pedro Filho”, em Santa Inês – MA.Publicou os livros de poemas Palafitas Amanhã Serei uma Flor Insana e "Pequeno ensaio amoroso" pela Editora Penalux. Há tradução de sua poesia para o italiano e espanhol, Tem poemas publicados em antologias nacionais e internacionais. Participa com obras de poesia da Antologia Poética A Mulher na Literatura Latino-americana, lançada em 2018 pela Universidade Estadual do Piauí. Vive e trabalha em Teresina, no Piauí desde 1983. Obras Livro Publicados 2016 – Palafitas 2018 – Amanhã serei uma Flor Insana’’ 2019-"Pequeno ensaio amoroso" Antologias e Coletâneas 2018 - Antologia Poética A Mulher na Literatura Latino-americana "Antologia Brasil/Moçambique 4 poemas de Luiza Cantanhêde – QUATETÊ (wordpress.com) TREINAMENTO Na barriga de minha mãe Eu andava pelos babaçuais do Maranhão Não sabia ainda a função do machado O coco aberto e ferido O azeite Depois conheci a fome E a lâmina. DEVOÇÃO AO DESCONHECIDO Eu rezo pela boca do tempo Inútil, todos os deuses estão surdos É o grito que me mostra o Improvável Meus olhos, devotos do Que não se revela Amordaçam o instante Que faz do imponderável A sua santa ceia Em fila indiana Passam as coisas desiguais Não fossem tão apressadas E tão indefinidas Eu pediria que abrissem os Meus olhos sujos. ARIDEZ Não sei sangrar Sem que antes toque


O chão e os pés Sacralizem a ponte Sob a areia movediça Não sei morrer Sem que antes O sangue Banhe a terra E recomece o tempo Há em mim Um grito envenenado Uma areia que me arde E estes olhos santificados Pelo deserto TERRA NATIVA Longe do burburinho da Cidade grande Sou mineral Terra molhada Cheiro de chuva Roça queimada Sou terra nativa Me plantando utopias.

Dyl Pires Dyl Pires, poeta, ator, nascido em São Luís do Maranhão, radicado há uma década em São Paulo. Participou dos espetáculos: Roberto Zucco (2010), Satyros Satiricon (2012), Edifício London (2013), Édipo na Praça (2013), Não Vencerás (2014), Não Saberás (2014), Você Está Livre (2015), Terra dos Outros Felizes (2017), entre outros. Publicou os livros de poesias: O Círculo das Pálpebras (Func, 1999), O Perdedor de Tempo (Pitomba, 2012), O Torcedor (Pitomba, 2014) e Éguas (Pitomba, 2017). 4 poemas de Dyl Pires – QUATETÊ (wordpress.com) Desartista que vive há uma década em São Paulo, entre ações teatrais e poéticas. Dele já disseram: misto de sátiro com coisinha ausente. Acreditou. São 26 anos de caminhada artística. Ainda em São Luís, participou dos espetáculos: Viva el rei D. Sebastião, Paixão segundo nós, Auto de natal, Auto do boi, Morte e vida severina, A bela e a fera, Baal, Torres de silêncio, Nós o fragmento que nos resta. Em São Paulo esteve em cartaz nos espetáculos: Roberto Zucco (2010), Satyros Satiricon (2012), Edifício London (2013), Édipo na Praça (2013), Não Vencerás (2014), Não Saberás (2014), Você Está Livre (2015), Terra dos Outros Felizes (2017), entre outros. Publicou os livros de poesia: O Círculo das Pálpebras (Func, 1999), O Perdedor de Tempo (Pitomba, 2012), O Torcedor (Pitomba, 2014), Éguas (Pitomba, 2017) e Queria falar do deserto dos dias apressados (Chiado books 2019). Tem, ainda, poemas publicados no Jornal Rascunho, Revista Pitomba, Acrobata e Germina – Revista de literatura e arte. Como ator, recebeu em 2014 da câmara municipal de São Paulo a Outorga de Salva de Prata pelos 25 anos da Cia de teatro Os satyros, da qual integrou o elenco de 2009 a 2014. Os textos que integram esta seleção foram extraídos do seu último livro de poemas publicado pela Chiado books, neste ano de 2019.


. Outubro escorregadio de tudo, como ostra. A melancolia era uma rua de seis casas sem saída. Uma vila charmosa! A grande chuva veio à noite. Os móveis da infância não estão mais no lugar. A memória não os organiza mais como lembrança. A chuva altera o sentido de urgência das coisas. A chuva nos devolve à condição da espera, à partilha de pequenos nadas; como arrancar beleza na rua de alguém que simplesmente caminha, mas que pulsa nos fios invisíveis da corporeidade o espantamento da finitude de uma vida inteira. A chuva é um dos rastros mais antigos de humanidade. .. Uma cidade atravessada por um rio morto. Um cadáver permanente na sala. Um ar espectral soletrando um poema concreto. Uma cobra-metrô: Dodeskaden que carrega uma cidade despresente. Às vezes há um grande sol, um extraordinário entardecer, uma maravilhosa manhã. Como uma grande palavra esquecida que chega. Mas rapidamente as pessoas retornam à cobertura gris das pálpebras e o cavalo dos olhos volta a galopar a neblina dos dias. … Escalar o alfabeto do sonho. A sílaba alta do destino. Como um chapéu novo que se põe na vida. …. Os Bandeirantes são os mais fotografados. Por trás de cada click há o concreto. Por baixo de todo o concreto há uma floresta muda. Lá ainda ouço o som do rio a correr pela garganta dos últimos índios.


O SIMBOLISMO E O POETA MARANHÃO SOBRINHO FERNANDO BRAGA in ‘Conversas Vadias’, antologia de textos do autor.Ilustração: Capa do livro: ‘Maranhão Sobrinho – O poeta maldito de Atenas’, do poeta e pesquisador Kissyan Castro, da Academia Barra-Cordense de Letras, referido neste texto.

José Augusto Américo Olímpio Cavalcanti dos Albuquerques Maranhão Sobrinho, nasceu na cidade maranhense de Barra do Corda, em 20 de dezembro de 1879. Não era príncipe. Era poeta. Não tinha título nobiliárquico, mas uma eugenia tão ilustre e extensa quanto, e faleceu nos arrabaldes da cidade de Manaus, na madrugada de 25 de dezembro de 1915, com apenas 36 anos de idade. Por muito tempo, todos os estudos, como ensaios, monografias, artigos e que tais, sobre Maranhão Sobrinho, registravam seu nascimento e morte, numa feliz coincidência, no dia 25 de dezembro, foi quando o poeta e pesquisado Kissyan Castro, membro da Academia Barra-Cordense de Letras, estudioso da vida e obra do nosso simbolista, resolveu revirar documentos em cartórios e na Paróquia de Barra do Corda, onde o poeta nasceu, chegando a conclusão, em confrontando documentos como as Certidões de batismo e de nascimento, bem como outros “velhos papéis roídos pelas traças do simbolismo”, que o poeta nasceu de fato no dia 20 de dezembro de 1879 e não nos dias 25 e/ou 30 de dezembro daquele ano como eram registados anteriormente. Esse exaustivo trabalho de Kissyan Casto teve de logo o reconhecimento do também pesquisador e estudioso da literatura maranhense, escritor Jomar Moraes que, como Presidente da Academia Maranhense de Letras, à época, chancelou, em nome da Instituição, também cofundador por Maranhão Sobrinho, a autenticidade da data, ficando esta a prevalecer ‘ad eternum’. Conta-nos o Dr. Antônio de Oliveira, membro da Academia Maranhense de Letras e meticuloso no campo da pesquisa científica, in ‘Maranhão Sobrinho’ [notas biobibliográficas], separata nº 82 da ‘Revista das Academias de Letras’, Rio de janeiro, 1976, que o poeta estudou as primeiras letras no colégio do Dr. Isaac Martins, em sua cidade natal, educador de excepcionais qualidades, ardoroso propagandista republicano e abolicionista, cujos ideais pregava no jornal ‘O Norte’, de sua propriedade e muito divulgado na região. Em 15 de agosto de 1899, o poeta, com o auxílio do pai Vicente e do seu tio querido José, ambos, tios do nosso estimado amigo Monsenhor Hélio Maranhão, já falecido, fiel escudeiro de Jesus, incardinado a vida inteira na Arquidiocese de São Luís do Maranhão, escritor elegante e orador sacro, membro das Academias Maranhense e Barra-Cordense de Letras e Capelão da Polícia Militar do Estado. Em São Luís, Maranhão Sobrinho, nome pelo qual era conhecido e assinado em suas produções literárias, matriculou-se na tradicional Escola Normal, tendo para isso obtido a ajuda de uma pequena bolsa de estudo, naqueles tempos denominados ‘pensão’. Por rezingas com alguns professores, logo abandona o curso Normal e, sem emprego, ao invés de postar-se como autêntico simbolista, estilo que escrevia com brilhante inspiração, à moda, digamos, de Mallarmé, o poeta do ‘Après-midi d’um faune’ ou o ‘divino Estefânio’, como lhe chamava, não, entregara-se à boêmia descomedida, como uma personagem de Murger. O sábio e etnólogo Raimundo Lopes, autor de ‘O Torrão Maranhense’, escreveu sobre o poeta um estudo publicado in ‘Revista da Academia’, nº 1, São Luís, 1919: “A circunstância do lugar é sugestiva. Na Barra do Corda, atraindo o escol da mocidade sertaneja [...] este se haveria abeberado na poesia espontânea das bucólicas e rapsódias rudes dos vaqueiros, dos descantes selvagens das violas. Agitava-o talvez a ânsia de


novas impressões, mercê das quais o seu espírito viveria uma vida mais alta, num mundo estranho e inédito de mistérios...” E continua o nosso querido e saudoso amigo, Dr. Antônio de Oliveira a nos contar, a seu modo, o que sintetizamos por questão de espaço, que “em 1903, impressionados com a desregrada vida boêmia que o poeta levava em São Luís, alguns amigos mais íntimos e dedicados, o embarcaram, quase à força, para Belém do Pará, na esperança de que ali ele mudasse de procedimento e, trabalhando, arranjasse meios de pelo menos publicar seus livros. Na capital paraense começou a trabalhar no jornal ‘Notícias’ e passou a colaborar na tradicional ‘Folha do Norte’. Bem depressa se tornou popular nas rodas boêmias e nos meios intelectuais. Um dia, em Belém, sem se despedir de ninguém embarcou num navio e voltou para São Luís. Chegando ao velho ‘fortim dos franceses’, fundou com outros intelectuais de sua geração a ‘Oficina dos Novos’ que editava um boletim literário e fazia uma peregrinação todo dia três de novembro à estátua do poeta Gonçalves Dias [patrono da Instituição], em comemoração à data do naufrágio do ‘Ville de Boulogne’, nos baixios maranhenses, em que morreu o imortal Cantor de ‘Os Timbiras’. Foi iniciativa também da ‘Oficina dos Novos’ erguer em Praça Pública o busto do humanista Odorico Mendes, imortal tradutor de Virgílio, a qual, até hoje, solene e serena ilumina o largo que lhe dá o nome. Antônio Lôbo, um dos fundadores da Academia Maranhense de Letras e seu primeiro presidente traçou o perfil do nosso poeta nas páginas do seu livro ‘Os Novos Atenienses’: “Maranhão Sobrinho ressuscita entre nós o tipo clássico do boêmio. Possui, pelas coisas materiais da vida, a mais soberba das indiferenças. Desde que encontre, ao saltar da cama, a sua fatiota costumeira e o seu indefectível chapéu de palha, este último não para trazê-lo à cabeça como toda gente, mas, ao contrário dos outros, para carregar debaixo do braço, à guisa de um embrulho precioso, reputa-se o mais feliz dos homens”. O poeta, inesperadamente, como sempre fazia, embarcou para Manaus, via Belém, numa rota e num destino semelhante ao de Vespasiano Ramos [já anotado por nós nestes apontamentos]. E lá morreu, deixando para a história literária estes livros: ‘Papéis Velho’, 1908; ‘Estatuetas’, 1909 e ‘Vitórias Régias’, 1911. Ouçamo-lo neste antológico ‘Soror Teresa’, enfeixado em ‘Papéis Velhos’, onde o poeta explode todo o simbolismo em resgates a nuances românticas e realistas em contraposição às tendências cientificistas do positivismo estabelecidas na Europa na segunda metade do século XIX: Soror Teresa: “... E um dia as monjas foram dar com ela/morta, da cor de um sonho de noivado,/no silêncio cristão da estreita cela,/lábios nos lábios de um Crucificado.../somente a luz de uma piedosa vela/ungia, como um óleo derramado,/o aposento tristíssimo de aquela/que morrera num sonho, sem pecado../.Todo o mosteiro encheu-se de tristeza,/ e ninguém soube de que dor escrava/morrera a divinal soror Teresa.../Não creio que, de amor, a morte venha,/mas, sei que a vida da soror boiava/dentro dos olhos do Senhor da Penha...” O poeta é o patrono da Academia Barra-Cordense de Letras, da qual pertenço com muita honra; conhecida pelo epiteto ‘Casa de Maranhão Sobrinho’. A intuição de análise me leva a pensar de há muito que, se o poeta Maranhão Sobrinho não tivesse migrado para Belém e Manaus mas se dirigido para o Rio de Janeiro, a desenvolver e aplicar o seu talento poético, como ele mesmo escreve em “Papéis velhos... roídos pela traça do símbolo”, teria, juntamente com Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimarães, composto a brilhante trindade simbolista brasileira.

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THOMÉ THEMISTOCLES MADEIRA JÚNIOR

ACADEMIA JACAREHYENSE DE LETRAS - Cadeira 27 / Patrono: Stélio Machado Loureiro

Nascido em São Luis do Maranhão, onde nasceu no ano de 1967, Thomé Madeira começou sua caminhada na literatura, ainda no ensino médio, através de publicações no grêmio estudantil de sua escola, depois em estudos em clubes de leitura e, mais tarde, em artigos publicados no jornal "O Imparcial" e na Revista Contemporânea, publicação editada pela ABAC – Associação Brasileira de Apoio à Cultura. Posteriormente, também teve publicações de artigos no jornal O IMPARCIAL e no Suplemento Cultural VAGALUME, do Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado (SIOGE) Em São Paulo, onde se radicou desde 2002, começou a colaborar com a “REVISTA CONTEMPORÂNEA”, da Associação Brasileira de Apoio à Cultura (ABAC) e, em Jacareí, colabora no Jornal “DIÁRIO DE JACAREÍ com a coluna “Ditos Cotidianos”, e na seção PEQUENOS GRANDES, no caderno ESTAÇÃO JACAREÍ; seu primeiro livro foi “O CAIÇARA E SUAS HISTÓRIAS – UMA LENDA URBANA DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO”, publicado pela Amazon em 2019, e participou da Coletânea “JACAREÍ –CRÔNICAS DA CIDADE”, publicada em 2020. Atualmente, escreve às sextas no blog... Grande admirador da prosa contemporânea, tem influências marcantes de F. Scott Fitzgerald e Guimarães Rosa, que considera "sua grande matriz literária". Thomé vive hoje em Jacareí, participando de atividades com vários grupos literários. Seu lema: " Sou vontade, sou arte, sou coração e alma" TV Câmara Jacareí 17 h · Gente em Destaque: Thomé Madeira Thomé Madeira é funcionário público estadual, nasceu no Maranhão e vive em Jacareí há alguns anos. No 'Gente em Destaque' falou sobre a sua recém-entrada na Academia Jacarehyense de Letras e contou histórias da infância. BLOCO 1: https://youtu.be/-k0SuzzpyyE BLOCO 2: https://youtu.be/JrVBiMT0f6Y BLOCO 3: https://youtu.be/vMNvMnN3m6w


UMA FAMÍLIA DEDICADA A EDUCAÇÃO PÚBLICA ANGELA CHALOUB

Hemetério José dos Santos (1858-1939) foi professor, gramático, filosofo e escritor. Nascido na cidade de Codó, província do Maranhão, no ano de 1858. Hemetério mudou-se para a província do Rio de Janeiro em 1875, aos 17 anos. Era filho do Major Frederico dos Santos Marques Baptisei, proprietário da fazenda Sam Raymundo, e de sua escrava Maria. Seu pai pagou seus estudos no Colégio da Imaculada Conceição, em São Luis. Na capital do Brasil Império em 1885 se casou com Rufina Vaz Carvalho dos Santos, neta do prestigiado tipógrafo Francisco de Paula Brito , pai da impressa negra brasileira Aos 20 anos de idade Hemetério já era professor de francês do afamado Colégio Pedro II. Sua esposa Rufina também ingressou na carreira de Professora na Escola normal da corte. A prima e única filha do casal, Coema Hemetério dos Santos Pacheco nascida em Outubro de 1888, meses depois da Lei Áurea, assim como os pais, dedicou sua vida a educação na Rede Municipal de Ensino na Capital da República Brasileira entre 1908 a 1960 Hemetério foi nomeado professor adjunto de língua portuguesa do Colégio Militar do Rio de Janeiro pelo Imperador Dom Pedro II, onde, mais tarde, tornou-se professor vitalício. Cursou a Escola de Artilharia e Engenharia, conquistou a patente de Major, obtendo, depois, o galardão de Tenente-Coronel honorário em 1920. A atuação de Hemetério e sua família enquanto professores em diferentes espaços escolares, tais como o Colégio Militar do Rio de Janeiro e a Escola Normal Livre, iam além do fazer em sala de aula, pois o mesmo se utilizava desses e de outros espaços a fim de ministrar palestras e conferências a respeito do ensino e do combate ao Racismo de cunho eugenista. Na opinião de Sílvio Romero, Hemetério ombreava com Olavo Bilac, Graça Aranha, Aluísio e Artur Azevedo, no uso da palavra escrita. A história de Hemetério, sua esposa e filha dão início a uma trajetória familiar de professores e funcionários da administração pública municipal que, de acordo com os padrões de seu tempo, construíram um legado que combinava boas qualidades profissionais, intelectuais e morais. Fonte: Enciclopédia negra: Biografias afro-brasileiras


VESPASIANO RAMOS: ‘COISA ALGUMA & MAIS ALGUMA COISA FERNANDO BRAGA in ‘Estante de Cultura- Caderno B’ – ‘Jornal Alto Madeira’, Porto Velho, Rondônia, 18 de agosto de 1984. [Texto original]. Deus escolhe um tempo para nos presentear com alguma coisa...E justo naquele 1984 fui, por determinação de meus quefazeres profissionais em Brasília, convocado para o honroso e temporário mister de trabalhar na institucionalização do Tribunal Regional Eleitoral, do recém-criado Estado de Rondônia. Cheguei a Porto Velho na noite de Natal de 83, chão em que o poeta Vespasiano Ramos deu o último suspiro de vida aos 32 anos de idade. Agradeço ao nexo causal do Universo por me ter propiciado essa dádiva, de encontrá-lo no Cemitério dos Inocentes, naquelas terras amazônicas do antigo Guaporé, hoje Rondônia, a repousar em louça e lousa, os louros de sua lira, o que me permitiu escrever depois alguma coisa ao poeta de ‘Coisa Alguma’, tempo em que assistia emocionado as comemorações de seu centenário, na companhia de mais três maranhenses ilustres que lá se encontravam: o Juiz de Direito [da judicatura local], João Batista dos Santos, depois Desembargador; e os caxienses, professor Raymundo Nonato Castro, Vice-Reitor da Universidade de Rondônia e o jornalista e advogado Edison de Carvalho Vidigal, já indicado Ministro do STJ, que lá tinha ido rapidamente para realizar uma audiência. Joaquim Vespasiano Ramos, nasceu na cidade maranhense de Caxias, a 13 de agosto de 1884 e faleceu em Porto Velho, a 26 de dezembro de 1916, aonde tinha chegado no início do mês, a bordo do vapor ‘Andersen’, como muita gente pensa, impelido pela ‘borracha’, como meio de um melhor aconchego físico-social, mas, para recolher-se no seringal de Aureliano do Carmo, e dar início à escrita de um seu poema amazônico, cantando as belezas do Grande Vale, como fizeram no passado, o paraense José Verissimo, autor de ‘A História da Literatura Brasileira’ e o português Ferreira de Castro, autor de ‘A Selva’, dentre alguns, conforme notas de João Alfredo de Mendonça, em artigo no ‘Jornal Alto Madeira’, de 17 de abril de 1947, seu amigo e biógrafo, aquele que lhe deu o ombro e fê-lo recostar no último instante de vida. A malária foi tirana e arrancou do poeta, a castiga-lo com febres ácidas, associada a uma doença pulmonar, o sonho de escrever o canto amazônico, que talvez tivesse sido a nossa maior epopeia lírica. Pertencente à segunda geração estoica de românticos, quanto ao seu, ‘modus vivendi’, o poeta, apesar de ter alcançado a efervescência dos movimentos parnasiano e simbolista, a nenhum pertencera, observandose, no entanto, estilos dos dois em suas produções, mas sem qualquer filiação estilística ou formal em ambos, porque Vespasiano fora um poeta desgarrado de movimentos, apesar de visceralmente romântico. Espírito irrequieto e boêmio por natureza e convicção, Vespasiano Ramos já aos dezesseis anos publicava seus versos nos jornais de sua província e logo passou a integrar o grupo de sua geração que, em Caxias, despontava com muita força, oportunidade em que fundaram o jornal ‘A Mocidade’. [Vide foto abaixo]. Com dezoito anos completos, o poeta transfere-se para São Luís, com o intuito de ampliar seus conhecimentos de humanidades e na esperança de melhores dias. O seu brilhante talento abriu-lhe os caminhos da imprensa, onde escreveu poemas e crônicas. São Luís, palco de tantas e iluminadas histórias, como as de Aluízio Azevedo e Humberto de Campos., este último, seu contemporâneo. Assim, transfere-se em seguida para Manaus onde demorou muito pouco, sendo arrastado pelo fascínio que lhe devotava o irmão Heráclito Ramos, que o fez viajar para o Rio de Janeiro sob a promessa de publicar lhe ‘Coisa Alguma’, seu livro de versos. Esse sonho não aconteceu, em princípio, por graças do irmão, em virtude de o poeta continuar mergulhado em festas e saraus madrugueiros. Entretanto, levado pela grande admiração,


Heráclito, entrega os originais de Vespasiano ao editor Jacinto Ribeiro dos Santos, de cujas mãos saiu uma edição de dois mil exemplares em maio de 1916, sete meses, portanto, antes do poeta falecer. “Vespasiano não escolhia tempo para fazer seus versos, nem sonhava em versos para fazer boêmia”, como escrevera o jornalista Nonato Masson no jornal ‘O Estado do Maranhão’ o qual conta de Vespasiano este fato irônico e pitoresco, depois transcrito no ‘Jornal do Brasil’, para onde fora trabalhar: Com ou sem dinheiro, promovia festas e poucos tinham coragem de cobrar-lhe as dívidas com exceção de um português que ao fazê-lo insultuosamente, dele recebeu, em versos esta carta: “Caro amigo, senhor Filomeno, caríssimo credor, recebi pelo ‘Acre’, ultimamente, o seu prezado e último favor, de quinze do corrente, ficando, desde na cônscia de tudo, porque notei muito devidamente, os seus dizeres, o seu conteúdo. Diz o amigo que agora, minha conta vai cobrar-me por meio de postais ... E ao mostrar de que maneira o faz ou vai fazê-lo, creio que você, conjuntamente a seu favor acima referido, um cartão cobrador, mas dirigido em português que mete medo à gente, causando dores de barriga e frio, e, para glória sua, unicamente, mando o cartão para o Museu do Rio, e aqui fico, lamentando às tontas, que do Rio, que indo, agora, o amigo pôr em prática seu novo modo de cobrar as contas, desse tantas taponas na gramática. Notei mais uma vez que meu amigo que me escreve, não se farta de esconder, de guardar consigo, as pobres vírgulas da carta! Que estilo você tem! Ninguém de certo cobrará tão bem, escrevendo tão mal! E a conta pequena duas dúzias e meia de mil réis... Valia mais apena, o credor esquecê-la, duma vez... Enfim, convém que não falemos mais nisso. Eu tenho agora, tanto o que fazer... Vá para a escola; tratar de aprender, que eu vou cuidar, agora, em meu serviço. Vou despachar no Loide Brasileiro, mas metido em gaiola o seu postal: vou pedi emprestado algum dinheiro para pagar o frete do animal estúpido bravio, que, hoje, somente para a glória sua, o Loide leva ao Museu do Rio...” Humberto de Campos, amigo e conterrâneo de Vespasiano Ramos, de Maranhão Sobrinho e Alfredo de Assis Castro, seus companheiros na redação da ‘Folha do Norte’, de Belém do Pará, e da revista literária ‘Alma Nova’, de curta existência como soe acontecer com veículos de gênero, faz publicar o artigo ‘Uma Iniciação Literária’ [de um livro de memórias. Inédito] na ‘Revista da Academia Brasileira de Letras’, Ano XXI, nº 108, vol. XXIV, dezembro de 1930, p.379 a 386, de onde extraímos este trecho revelador do intimismo do ‘Vespa’ como era carinhosamente chamado: “Magro, moreno, de uma palidez terrosa e doentia, Vespasiano era o lirismo feito homem. Sem atentar para o seu estado de saúde ou de finanças, bebia o mais que podia, e desatava a dizer os seus versos. Dizia-os, e chorava. Dizia-os de olhos cheios d’água, e mesmo em soluços, porque era chorando que os escrevia. Um grande amor sem esperança, amor cuja história me revelou numa torrente de pranto, havia-o atirado à poesia e ao álcool, dois grandes com soladores dos que desesperam de toda consolação.” Adiante, como se a ratificar o comentário do nosso Humberto de Campos, o escritor Cursino Raposo, como Redator do MEC, ligado à Divisão de Documentação do Museu Histórico Nacional, dirigido à época por Josué Montello, incumbido de estudar autógrafos de uma produção do poeta maranhense, em poder do MHN, diz-nos que, depois de minucioso exame, concluiu que “a poesia, para Vespasiano Ramos, era mais uma necessidade psicológica de traduzir o seu drama interior, um lenitivo, uma evasão, um transbordamento emotivo, uma forma de sublimação, do que uma realização com finalidade especificamente artística”. Josué Montello escreveu no prefácio da 2ª edição de ‘Cousa Alguma’: “De Vespasiano Ramos se pode dizer que está para as letras maranhenses, na espontaneidade de seu lirismo, como Casemiro de Abreu está para as letras brasileiras; é o poeta do amor e da saudade...” O ilustre mestre Antônio Lopes, ensaísta iluminado e um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, sentenciou: “Vê-se bem qual seja a inspiração que fazia de Vespasiano Ramos, entre os poetas novos do Maranhão, o poeta preexcelente do amor. O amor para ele é o... eterno e grande sentimento.


Havia para o poeta, nesse velho tema, um filão inesgotável pra a explorar. E, por isso, o amor era o assunto favorito dos seus versos...” Já o jovem professor e também poeta Carvalho Júnior, conterrâneo de Vespasiano, da bela e aristocrata Caxias, homenageou o autor de ‘Coisa Alguma’, publicando nas redes sociais em 14 de agosto de 2018 ‘4 Poemas de Vespasiano Ramos’ para a sua série ‘Quatetê’. O escritor Jomar Moraes, orientou a pesquisa, a fixação textual e a revisão do fantástico trabalho ‘Cousa Alguma...&+ Alguma Coisa de/sobre Vespasiano Ramos”, uma bela edição da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, como instrumental de estudos e pesquisas sobre o vate caxiense. Ouçamos o Vespa no soneto ‘Samaritana’, antológico, porque belo; bíblico, porque humano: “Piedosa gentil Samaritana/: venho, de longe, trêmulo, bater/à vossa humilde e plácida cabana,/pedindo alívio para o meu viver!/ Sou perseguido pela sede insana/do amor que anima e que nos faz sofrer:/ tenho sede demais, Samaritana/tenho sede demais: quero beber!/ Fugis, então, ao mísero que implora/ o saciar da sede que o consome,/o saciar da sede que o devora?/ Pecais, assim, Samaritana! Vede:/ — Filhos, dai de comer a quem tem fome, / Filhos, dai de beber a quem tem sede”. .Sintamos o estro do poeta, neste soneto ‘Cruel’, de fino manejo rítmico e de perfeita elaboração estilística: “Ah, se as dores que eu sinto, ela sentisse,/se as lágrimas que eu choro ela chorasse;/ talvez nunca um momento me negasse/tudo que eu desejasse e lhe pedisse! /Talvez a todo instante consentisse/ minha boca beijar a sua face,/ se o caminho que eu tomo ela tomasse,/ se o calvário que eu subo ela subisse!/ Se o desejo que eu tenho ela tivesse,/ se os meus sonhos de amor ela sonhasse,/ aos meus rogos talvez não se opusesse!/ Talvez nunca negasse o que eu pedisse,/se as lágrimas que eu choro ela chorasse/e se as dores que eu sinto, ela sentisse!” . . . O escritor e crítico carioca Othon Costa, em trabalho escrito para a reedição que não houve, de ‘Cousa Alguma’...Publicado depois na Revista da Academia de Letras, ano XIX, nº72, 1958, p.26-31 sobre o autor de ‘Coisa Alguma’, lavra com letras de fogo esta assertiva que chega a doer:: “Vespasiano Ramos é, dentre os poetas maranhenses, um dos mais injustamente esquecidos”. Esperemos que esta amarga sentença seja o mais breve possível transmudada do imaginário coletivo, pelas luzes mais racionais da justeza literária maranhense, principalmente”.

Créditos da Foto - “Intelectuais caxienses, em foto sem data, porém sabidamente de início do século XX da esq. para a direita, em pé: Hegesippo Franklin da Costa [avô do poeta Roberto Franklin da Costa, da ALL], Francisco Nunes de Almeida, Vespasiano Ramos, Wladimir Franklin da Costa [pai do escritor Franklin de Oliveira], Joaquim Franklin da Costa. Sentados, na mesma ordem: Alfredo Guedes de Azeredo, Leôncio de Souza Machado [pai do escritor Walfredo Machado] e João Lemos”.




Criação da Academia Joanina de Letras Ciências e Saberes Culturais: um marco histórico para São João Batista!









https://nedilsonmachado.com.br/autor-maranhense-publica-livro-sobre-o-futuro-da-humanidade/



NOTAS i BERNARDO DA SILVEIRA PINTO DA FONSECA (Várzea de Abrunhais, Lamego, 1780 — maio de 1830), 1.º visconde da Várzea, foi um marechal-de-campo do Exército Português e administrador colonial. Foi o último governador português da capitania do Maranhão, cargo que exerceu de 24 de agosto de 1819 a 15 de fevereiro de 1822. Nomeado governador e capitão general do Maranhão, cargo que exerceu até 15 de fevereiro de 1822, r evelou-se um excepcional administrador, sendo impresso em tipografia instalada por sua iniciativa o primeiro jornal maranhense, intitulado O Conciliador do Maranhão. Durante o seu governo a cidade de São Luís do Maranhão passa por grandes reformas, com os edifícios públicos restaurados, as ruas calcetadas e o Largo do Palácio transformado em aprazível Passeio Público. ii Apelidado pela chocarrice maranhense de o Dente de Alho, por ter na arcada dentária superior um incisivo pronunciadamente incisivo Comentário de Jomar Moraes em Um editor maranhense, disponível em Um editor maranhense - BLOG – ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS iii por vezes simplificado em Barão de Sabrosa (Alijó, Vilar de Maçada, 30 de março de 1788 — Alijó, Vilar de Maçada, 8 de abril de 1841); consta ter sido militar e político português, presidente do Conselho de Ministros. iv GALVES, Marcelo Chece. Comemorações vintistas no Maranhão (1821-1823). Outros Tempos Volume 8, número 12, dezembro de 2011 – Dossiê História Atlântica e da Diáspora Africana, 2011 v BNDigital vi PINHEIRO, Rosane Arcanjo. O Conciliador e o jornalismo maranhense no início do século XIX. Tese apresentada ao programa de pós-graduação em Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul como requisito parcial para obtenção do grau de doutor. Linha de Pesquisa: Práticas profissionais e processos sociopolíticos nas mídias e na comunicação das organizações. Orientador: Professor Dr. Antonio Hohlfeldt Porto Alegre 2016 vii O Conciliador do Maranhão, 10 de maio de 1821, nº 8, p.6, citado por PINHEIRO, 2016 viii Odes Pindaricas, De Antonio Dinys Da Cruz E Silva: Chamado Entre Os Poetas Da Arcadia Portugueza, Elpino Nonacriense ... Antonio Dinis da Cruz e Silva Hansard, 1820 ix ANTÓNIO DINIS DA CRUZ E SILVA (Lisboa, 4 de Julho de 1731[1] – † Rio de Janeiro, 5 Outubro de 1799) é um poeta português do século XVIII, foi magistrado de profissão e fundador da Arcádia Lusitana em 1756. Em 1801 são publicadas as "Odes Pindáricas", em 1802 o poema "O Hissope" e, entre 1807 e 1817, parte significativa da sua obra foi publicada em seis volumes sob a denominação "Poesias". António Dinis da Cruz e Silva – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org) ANTONIO DINIZ DA CRUZ E SILVA, Cavalleiro professo na Ord. de S. Bento d’Avis, Doutor na faculdade de Direito Civil pela Universidade de Coimbra; seguiu os logares de magistratura até o de Chanceller da Relação do Rio de Janeiro; sendo ultimamente nomeado Conselheiro do Conselho Ultramarino, cargo de que consta tomara posse, mas que não chegou a exercer. – N. em Lisboa, na freguezia de Sancta Catharina a 4 de Julho de 1731, e m. no Rio de Janeiro no anno de 1799 ou principio de 1800, sem que todavia seja possivel designar a data precisa do seu falecimento. António Dinis da Cruz e Silva | Escritores Lusófonos (escritoreslusofonos.net) x Antônio.Diniz da Cruz e Silva (Elpino Nonacriense), Odes Pindaricas , Lisboa—1817; xi SACRAMENTO BLAKE. Augusto Victorino Alves. DICCIONÁRIO BIBLIOGRAPHICO BRASILEIRO. Volume 6. Rio de Janeiro: Imprensa oficial, 1900, p. 77 xii FAROL MARANHENSE, por Bruno Brasil 28 MAIO 2018 Artigo arquivado em Hemeroteca e marcado com as tags Censura e repressão, Crítica política, Dom Pedro I, Liberalismo, Maranhão, Primeiro Reinado: Redigido pelo jovem educador José Cândido de Moraes e Silva, o Farol Maranhense foi um proeminente periódico durante os últimos momentos do Primeiro Reinado. Vindo a lume a 26 de dezembro de 1827No total, o Farol Maranhense lançou 351 edições. BNDigital xiii SACRAMENTO BAKE, Augusto Victorino Alkves. Diccionario Bibliographico Brasileiro (Volume 5: Letras Jo-Ly). [Rio de Janeiro] : Conselho Federal de Cultura, 1970 xiv MORAES, Jomar. Um editor maranhense, 30 de janeiro de 2013, Jornal: O Estado do Maranhão, Um editor maranhense - BLOG – ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS


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THOMÉ THEMISTOCLES MADEIRA JÚNIOR

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pages 265-296

FERNANDO BRAGA

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pages 263-264

DEZ POETAS O SIMBOLISMO E O POETA MARANHÃO SOBRINHO

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FERNANDO BRAGA

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RAIMUNDO FONTENELE

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FERNANDO BAGA

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EDMILSON SANCHES

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RAFAELA PEREIRA

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FERNANDO BRAGA

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FERNANDO BRAGA

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MANOEL SANTOS NETO

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JOÃO BATISTA DO LAGO

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GRACILENE PINTO - Grace Do Maranhão

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PAULO RODRIGUES

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FERNANDO BRAGA

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ARLINDO TADEU HAGEN

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MHARIO LINCOLN

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pages 208-209

H O N O R Á R I O S / C O R R E S P O N D E N T E S / C O L A B O R A D O R E S

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O ARREPENDIMENTO

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CADEIRA 38 – JOSÉ NERES

11min
pages 185-189

CADEIRA 37 – JADIR LESSA

2min
page 184

A INIMIGA FIEL

0
pages 182-183

CONVOCAÇAO PARA O ALÉM

3min
pages 180-181

CADEIRA 26 – JOÃOZINHO RIBEIRO

3min
pages 161-162

CADEIRA 22 – ANTONIO AÍLTON

6min
pages 157-160

PRIMEIROS REGISTROS DA POESIA NA IMPRENSA DO MARANHÃO – DÉCADA DE 1820

9min
pages 146-156

MARANHÃO NO PREMIO JABUTI

14min
pages 135-145

O CURITIBANO FREDERICK CHARLES TATE OU O TENENTE RUI E OS POLONESES - RICARDO BÜRGEL

20min
pages 114-126

GUAXENDUBA: uma 'BATALHA' ou SIMPLES ESCARAMUÇA?

4min
pages 131-134

CADEIRA 21 – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

0
pages 112-113

AS MEMÓRIAS DE UM VISIONÁRIO

2min
page 101

O SINAL DE BLUMBERG

1min
page 100

ROMPENDO O SILÊNCIO!!!- JEAN -PIERRE ALVIM FERREIRA

4min
pages 96-98

FLOR DE VERÃO

2min
page 99

DISCURSO DE RECEPÇÃO DO ACADÊMICO DANIEL BLUME POR SONIA ALMEIDA

18min
pages 81-91

Ah! QUANTAS LEMBRANÇAS

14min
pages 102-111

PINHEIRO E O SEU CENTRO CULTURAL

4min
pages 92-93

PAVOR E SANGUE NA NOITE EM TERESÓPOLIS

2min
pages 94-95

A VIDA É EFÊMERA, O AMOR, JAMAIS

5min
pages 66-67

CASA VAZIA FIM DE TARDE

10min
pages 49-59

FELIS

5min
pages 29-36

NA RESERVA

4min
pages 62-63

QUEBRANDO O PRECONCEITO

3min
pages 64-65

CAJARI, ALEGRA-TE

12min
pages 68-80

CERIMÔNIA DE OUTORGA: MEDALHA DO MÉRITO “LAURA ROSA” - SAUDAÇÃO

2min
pages 42-46

POEMA IN(ACABADO

4min
pages 47-48
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