PRÉMIO INTROSPEÇÃO
UMA DESCOBERTA SURPREENDENTE
EU, VISTO PELO MEU OLHAR NÓS - 12º ANO
Índice Caríssimos alunos ........................................................................................................................... 5 Gostava de ter consciência sendo inconsciente..................................................................... 7 Serei sempre o Gonçalo ............................................................................................................... 11 Existe tanto que ainda posso fazer... ..................................................................................... 13 Sou um sonhador .......................................................................................................................... 17 “A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente” ............................................... 19 O menino dos avós........................................................................................................................ 21 Todas as vivências ficarã\o eternamente em mim ........................................................... 23 Viver sempre no presente .......................................................................................................... 25 Que se abram as portas do futuro, que um dia chegará .................................................. 29 Eu, visto pelo meu olhar............................................................................................................. 31 Eu sou todas as criações já produzidas por mim ............................................................... 33 Às vezes, tenho vontade de voltar ao passado ................................................................... 35 Quero dar aos Homens o que de melhor há em mim ........................................................ 39 Os meus olhos transmitem a minha felicidade ................................................................... 43 Quero viver a minha vida e aproveitá-la ao máximo ..................................................... 45 Serei uma viajante com muita bagagem .............................................................................. 47 Quero ser para sempre apenas um “miúdo” ........................................................................ 51 Desejo viver uma vida com significado ................................................................................ 55 Eu escolhi não ser zangão.......................................................................................................... 59 Formei o meu próprio “eu”........................................................................................................ 63 A vida é uma história interminável ..................................................................................... 67 “Marisol, agora são férias, guarda os livros!” ..................................................................... 71 Sou e serei sempre as minhas paixões ................................................................................... 73 Os meus sonhos sempre foram grandes demais para o meu tamanho ........................ 75 Espontânea, teimosa e impaciente.......................................................................................... 77 Eu sou o que sou ............................................................................................................................ 79 “Eu sou do tamanho do que vejo.............................................................................................. 83 E não, do tamanho da minha altura” .................................................................................... 83 A minha jornada no mundo está apenas a começar ........................................................ 87 Impossibilidade de ser inconsciente e ter consciência disso ........................................... 89 PORTUGUÊS – 2020/2021
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Pretendo ser fiel a quem sou..................................................................................................... 93 Porque a vida é assim, imprevisível! ..................................................................................... 95 Tenho os olhos postos na melhor versão de mim que está para vir ............................. 99 O importante é daqui para a frente .................................................................................... 103 O Zé do futuro será independente, forte e feliz, à sua maneira! ................................. 105 Vejo-me com o meu próprio olhar e revejo a criança… ................................................. 109 Sou a "miúda das causas", sempre o fui............................................................................... 113 Eu, visto pelo meu olhar!.......................................................................................................... 115 Eu .................................................................................................................................................... 117 Prefiro fazer o que sentir que será melhor para mim ................................................... 119 Sinto-me esperançoso com o futuro ...................................................................................... 123 No futuro serei alguém feliz (espero eu) ............................................................................. 125 Eu, visto pelo meu olhar… ....................................................................................................... 127 “Vai-se indo e vai-se vendo” .................................................................................................... 129 “Our lives are not our own” .................................................................................................... 131 Caminhava de mãos dadas com a audácia ........................................................................ 135 “Não nos vemos se não saímos de nós” ................................................................................ 139 Sou ainda a incerteza dentro da certeza ........................................................................... 143 Deixo que a maré da vida me leve com a brisa das emoções ...................................... 145 O que os nossos olhos dizem ..................................................................................................... 149 “Estou muito orgulhoso de ti” ................................................................................................. 153 Sou a Bea que me cabe no corpo e na alma ....................................................................... 155 Opto por me observar como um puzzle............................................................................... 159 As pessoas têm um jeito alegre de chorar .......................................................................... 163
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Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Álvaro de Campos
O presente livro resulta de um desafio lançado aos alunos do 12º ano, no ano letivo 2020/2021.
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Não sei quem sou, que alma tenho. Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros) … Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente… Fernando Pessoa
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Caríssimos alunos
Num exercício de introspeção, foi-vos pedido que se vissem, se analisassem, se encontrassem e se descrevessem, almejando que conseguissem “sair” de si próprios. Sabia que a tarefa era difícil, até para mim o seria, mas sentia que seria surpreendida. Afinal, já todos tinham dados várias provas de uma enorme capacidade criativa, de uma resiliência notável e, sobretudo, de uma vontade de corresponder àquilo que se pede com mestria e empenho. Deste modo, posso afirmar que o resultado final supera todas as minhas maiores expectativas. Todos estão de parabéns pelo que conseguiram fazer. Quando lancei este desafio, inspirada em Fernando Pessoa e seus heterónimos, considerei que o mesmo era audacioso e difícil. Pensei: E se me pedissem, a mim, o mesmo, seria capaz de o fazer? Talvez sim ou talvez não, mas o papel do professor é esse mesmo, pedir o que parece impossível, transmitir confiança para que o aluno se sinta capaz e esperar pelos melhores resultados. E que resultados estes! Dou os meus mais sinceros parabéns a cada um, pela enorme coragem que teve e pela magnífica reflexão que fez. Agora devem estar à espera de ver se eu também vou ser capaz desse exercício! Até seria, mas isso é o que menos importa, pois o que é certo é que fui uma professora talvez nem sempre simpática, mas sempre cordial, sou uma professora atenta e disponível para vos orientar, pelo menos gosto de pensar que sou, e serei, indubitavelmente, uma professora e uma pessoa muito mais rica depois de ter contribuído para o vosso crescimento e de vos ter conhecido.
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Assim, desejo que este livro vos seja útil para perceberem que olharmo-nos é muito importante, vermos quem fomos e o que o tivemos e temos nos torna únicos e privilegiados. Que somos o resultado das nossas vivências, das pessoas que nos ajudam a crescer, dos que nos desafiam e nos causam dores de cabeça, das viagens que fazemos, mesmo que somente interiores, e que todos à nossa volta contribuem para quem seremos, sendo que este é um processo em permanente desenvolvimento e, como muitos disseram, inacabado. Por último, não se esqueçam dos versos que repeti, ao longo do ano:
«Cada coisa a seu tempo tem seu tempo. Não florescem no Inverno os arvoredos, Nem pela primavera Têm branco frio os campos.»
Um enorme beijinho a cada um, repleto de felicidades e carinho!
Sandra Silva
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Gostava de ter consciência sendo inconsciente
Há algum momento, em toda a nossa vida, em que nos dá para refletir sobre o passado, o momento presente ou o futuro. Tende-se a associar a maior parte dessas reflexões a momentos depressivos e de decadência, porém, considero que as mesmas devem ser feitas todos os dias e questionar-nos “Como estou a viver?”. Vejo o meu “eu” do passado como uma pessoa incapaz de esperar, não possuindo o dom que me permitia ter o discernimento para perceber que tudo na vida leva tempo querendo tudo momentaneamente. Associado a isto, vem a insegurança. Na minha ótica, revelava algumas inseguranças, apesar de ter quem me puxasse sempre para cima e me apoiasse em todos os momentos. Em relação às inseguranças, não eram muitas e preocupantes pois, sendo tão jovem, encontrava-me abstraído da realidade, vivendo um mundo mais fictício e afastado da razão. Demonstrava ser um miúdo nervoso (algo que nunca mudou), estando, porém, sempre excitado com a realidade. Felicidade foi algo que nunca me faltou. Recordo-me no passado como um ser feliz, porque sempre tive tudo à disposição, amor, estabilidade, saúde... Era um simples miúdo apaixonado por viver, considerando-me sempre especial, isto é, louvava muita a pessoa que era e sabia que me poderia tornar alguém especial, acreditando sempre que me poderia adaptar consoante a situação. Resumindo, revejo a minha infância como uma base para aquilo que sou hoje, marcada sobretudo pelo carinho e alegria presentes, associando-a a um tempo onde divagava bastante sobre absolutamente nada. Chegado ao presente, passei a ver a vida de maneira completamente diferente, contudo continuo um rapaz apaixonado e feliz. Represento o tempo presente com uma só palavra, “intensidade”, vivendo e considerando a vida de
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uma forma intensa. Nos tempos que correm, revelo-me pensativo e demasiado racional nas minhas escolhas, por vezes gostava de ter consciência sendo inconsciente. Sinto que a pressão é algo presente na vida adolescente e que esta foi sempre desafiadora para mim, ou seja, adoro sentir pressão porque significa que sei que tenho capacidade para fazer algo e tenho por isso a pressão para alcançar, sendo que esta me foi evidenciada através da escola e do desporto. Para atingir um determinado objetivo, a pressão é fundamental para eu o alcançar. Motivação é a palavra que define o meu ser, sou a pessoa
mais
motivada
que
conheço.
Reconheço-me como alguém que não aceita chegar ao fim do ano e sentir que poderia ter feito mais em qualquer ocasião, em qualquer sempre
jogo, dar
teste, tudo
da
relação,
procuro
minha
pessoa
apresentando-me focado e determinado para qualquer coisa. Hoje vejo a chave do sucesso em três tópicos: fé, trabalho e equilíbrio. Costumam chamar-me crente de vez em quando, não nego e aceito, mas na minha maneira de ser, o acreditar e estar motivado é meio caminho para o sucesso. Ligado à fé que tenho em mim, levo o trabalho, pois sei que sem este não há resultados. Vejo-me como alguém obcecado com o sucesso, indo muitas vezes aos limites na tentativa de demonstrar que sou o melhor. Não em relação aos outros, mas sim ao meu “eu” do dia anterior. Por último, foco-me no equilíbrio mental sabendo que sem este as decisões tomadas por mim não serão as mais acertadas. Esta vertente é a que me causa mais confusão nos dias de hoje, devido à necessidade de equilíbrio entre o racional e o emocional. No futuro, vejo-me como alguém que cairá várias vezes tendo sempre a coragem de levantar mais uma em busca daquilo que acredito. Quero ver um homem que falhe diversas vezes, simplesmente pelo facto de saber que a seguir PORTUGUÊS – 2020/2021
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irei aprender. Um homem vibrante e unido com os seus é algo que não faltará no futuro, à semelhança dos tempos que correm sei que no dia de amanhã continuarei ligado aos meus e àqueles que amo, defendendo-os com tudo. Acima de tudo, desejo nos tempos longínquos ser bem-sucedido em termos académicos, mas sobretudo em termos sociais, estabelecendo uma ótima relação com pais, amigos e namorada que me ensinou tanto, mas tanto. Fui feliz, sou feliz e sei que serei feliz, e continuarei a perguntar-me constantemente “Como estou a viver?”, tendo em conta que a resposta a essa pergunta deve ser sempre um motivo para a ação. Motivação, querer, acreditar foram, são e continuarão a ser o que me move. Tenho prazer na minha pessoa, naqueles que escolhi, onde me formei, e em quem me criou, sou crente e disso tenho orgulho - se é para ir vou com tudo. Francisco Pinto
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“Mantém os teus olhos nas estrelas e os teus pés na Terra”
Theodore Roosevelt
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Serei sempre o Gonçalo
Eu, visto pelo meu olhar... sou eu! Sem sombra de dúvida que fui, sou e serei sempre o Gonçalo Gomes. Não sei se atualmente sou melhor pessoa do que era, ou se no futuro serei melhor do que agora, mas serei sempre o
Gonçalo
e
espero
nunca
me
arrepender de o ser. Desde pequeno que o meu maior objetivo é viver sem arrependimentos.
Poder
dizer
que
aproveitei ao máximo o meu tempo e que vivi sem nenhum desgosto. Não preciso de reconhecimento, nem de ser rico ou extremamente bem-sucedido, apenas preciso de me sentir bem comigo próprio e, acima de tudo, de me sentir
feliz
e
atingir
as
minhas
ambições. Já desde a minha infância que os meus amigos e a minha família são as coisas mais importantes na minha vida, sendo estes dois os pilares que me mantêm motivado e feliz. Se não fosse por estes dois grupos não sei o que seria de mim, sempre tive grande apoio em tudo, quer dos meus amigos quer da minha família, e acho que isso é uma coisa a louvar naquilo que foi o meu desenvolvimento até agora. Quer seja pelos jogos de futebol até rasgar as calças, pelas escondidinhas sem fim ou pela “apanhada” que durava PORTUGUÊS – 2020/2021
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o intervalo inteiro, os meus amigos tiveram um grande papel no desenvolvimento daquilo que sou agora, assim como a família que também sempre me suportou em tudo o que eu fazia. Sempre reconheci que tenho muita sorte nas oportunidades e condições que me foram oferecidas, e como já referi, sempre tentei conseguir satisfazer todas as minhas ambições para não sentir que deixei algo por fazer. Mas o que é certo é que é graças a tudo isto que me tornei no Gonçalo do presente. Acho que se mostrasse ao meu passado o “eu” atual, não ia ter problemas com a pessoa em que me tornei, e é isso que eu quero pensar no futuro quando refletir no que já passei, entretanto. Atualmente, encontro-me na fase mais decisiva da minha vida, uma fase em que as minhas escolhas definem o meu percurso tanto profissional como na minha vida como um todo. Porém, sei que com a minha força de vontade e a ajuda da minha família e dos meus amigos, conseguirei percorrer este percurso alegremente e sem arrependimentos ou desgostos. Futuramente, espero ser feliz e não me lamentar de nenhuma decisão por mim tomada. Espero viver uma vida saudável e que me possa sentir satisfeito com a mesma, poder refletir no passado e dizer: “Vivi ao máximo”. E desejo, sinceramente, que se o Gonçalo do futuro alguma vez ler isto se possa sentir feliz e orgulhoso do seu percurso. Gonçalo Gomes
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Existe tanto que ainda posso fazer...
Apresento aqui a minha essência enquanto pessoa. Eu, na minha forma mais genuína, composta pelo passado, pelo presente e pela incerteza do amanhã. Muitas vezes me questionei sobre o meu papel no meio disto tudo; ainda não tenho uma resposta. Porém, sei que aquilo que sou agora resultou de um processo de construção delineado pelas minhas experiências com as pessoas que fazem parte da minha vida ou fizeram em algum momento. Do passado recordo experiências e lições que aprendi. O carinho e amor desmedido por parte da família, as brincadeiras e novas formas de me relacionar com novos amigos, a persistência e educação com professores. Lembro também experiências que de alguma forma me marcaram, medos que ainda não me deixaram, comidas que talvez nunca voltei a experimentar, memórias que gostaria de reviver. Guardo comigo as recordações desse tempo com apreço e apesar do passado não voltar, é graças às experiências de outrora que sou o que sou. O passado nunca nos deixa, a página vira, mas a história continua. A mudança pode ser algo assustador. A ansiedade e a incerteza do desconhecido do amanhã fazem-nos sentir vulneráveis e hesitantes. Contudo, a mudança abre sempre novas portas para o futuro. Conhecemos pessoas que, tal como nós, estão inseguras e perdidas e isso traz-nos conforto; afinal não estou sozinha. O presente, por sua vez, trouxe inúmeras mudanças. Grandes mudanças. Fiz escolhas, escolhi um caminho. A pior parte foi a aflição, o desassossego de pensar que fiz a escolha errada. A vontade de dar meia volta e regressar ao início era tremenda. Desistir? Nunca. Vou só ignorar esta escolha por uns tempos, pode ser que desapareça. Foi aí que percebi que tudo tem um propósito, um sentido e que, refletindo sobre a situação, talvez estas escolhas não sejam assim tão PORTUGUÊS – 2020/2021
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assustadoras. Escolhas não são mais do que isso. Escolhas. Não é o fim do mundo nem do percurso, e é através desta imensidão de possibilidades que conseguimos continuar o nosso caminho. Acredito que o meu destino não está traçado. Existe tanto que ainda posso fazer... A minha passagem no Colégio não foi curta, até custa acreditar que em algumas semanas não estarei mais aqui como aluna. Cresci muito desde que entrei nesta nova e desconhecida realidade (não só em altura, mas também enquanto pessoa): conheci amigos para a vida, melhorei as minhas competências, compreendi novas realidades. Venci medos, ganhei medos novos. Vivi um tumulto de emoções com o passar dos anos, tanto positivas como negativas, mas não me arrependo. Confesso que o uso do uniforme e algumas das celebrações não foram do meu agrado, contudo, foi neste estabelecimento que passei grande parte da minha vida escolar e é-me impossível negar que não houveram momentos de que verdadeiramente sentirei saudades. Trago do Colégio ensinamentos para a vida que certamente aplicarei no meu futuro e tenho orgulho em dizer que fui aluna do Claret. Ao olhar para trás sinto orgulho nas mudanças que verifico em mim. É uma jornada que ainda estou a percorrer, talvez nunca a termine por completo. É possível que a minha mudança enquanto pessoa não seja tão percetível para os outros, no entanto, para mim, é um alívio o facto de ter mudado. Sou muito mais feliz no presente e, com certeza, isso é algo de elogiar mesmo que de mim para mim. Com
certeza
o
futuro
trará
mais
mudanças, mais inseguranças, mais momentos em
que
desejarei
ter
definido
objetivos
diferentes. Mas esse é um problema para o futuro. O “eu” de agora deseja criar, deixar a perfeição, ignorar os pensamentos que não me deixam seguir em frente e assim, seguir o meu caminho. Espero ser honesta, manter-me fiel aos meus valores, não me deixar
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intimidar e procurar ser verdadeiramente feliz com aquilo que faço. Quero estar junto daqueles que me são mais queridos e continuar a crescer junto deles. Sou o conjunto daquilo que vivi, daquilo que sou para os outros e daquilo que quero ser e, imperfeita como sou, desejo que as novas experiências reservadas para mim moldem o eu de amanhã. Matilde Azevedo
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“Tenho só duas datas – a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.”
Alberto Caeiro
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Sou um sonhador
Desde bastante pequeno que levo uma frase como base para a minha vida, “Mantém os teus olhos nas estrelas e os teus pés na Terra”, de Theodore Roosevelt, e é assim que tento levar o meu percurso, sonho bastante, tenho bastantes desejos e/ou objetivos a alcançar, mas tenho sempre consciência de que a vida não é um mar de rosas e, por isso, tento sempre manter os meus pés bem assentes na terra. É de notar que a minha infância foi passada na casa da minha mãe, dado que o meu pai esteve bastante tempo fora, mais precisamente cerca de dez anos, devido ao seu trabalho. Assim, maior parte do meu tempo foi passado com a minha progenitora, o que fez com que me tornasse mais independente, maturo e desse mais valor às mulheres que passam pela minha vida, uma vez que foi sempre essa a educação que tive. A verdade é que foi bastante difícil para mim crescer sem o meu pai ao meu lado, no entanto, sempre tive consciência que se eu era uma criança privilegiada, pois nunca me faltou nada, se devia à dedicação que o meu pai tinha no seu trabalho, todavia, por vezes, como é normal, necessitava do seu carinho e do seu abraço e este encontrava-se demasiado longe para o poder fazer. A minha adolescência começou quando eu tinha apenas quinze anos, ou seja, no meu secundário. Como todos nós sabemos a adolescência é a fase da mudança, a fase onde desenvolvemos o nosso espírito crítico e onde percebemos realmente quais os nossos valores e quais os nossos objetivos para o futuro. Visto isto, percebi que a escola nos ensina matérias de uma forma muito teórica e que contribuem muito pouco para o meu futuro o que me fez perder o interesse pela escola, e que, por vezes, fez com que os professores tivessem uma ideia errada sobre a minha pessoa.
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Atualmente, tenho consciência de que, apesar de continuar a achar que a escola não me prepara, de maneira alguma, para a vida, preciso de me concentrar ao nível escolar e não perder o rumo ao nível pessoal, uma vez que o meu futuro está nas mãos das atitudes do meu presente. Os meus olhos, visto pelo meu próprio olhar, contam a história de um rapaz humilde e solidário que se encontra sempre disposto a ajudar. A verdade é que, muita das vezes, prefiro ouvir os problemas dos outros ao invés de revelar os meus, devido ao facto de ter um certo receio de incomodar outras pessoas que tem os seus próprios problemas. Em virtude da minha humildade e solidariedade, comparo as pessoas que ajudo aos puzzles, dado que estes apenas se completam quando são resolvidos os problemas e ultrapassados os obstáculos e, para mim, o maior prémio ou recompensa por esta ajuda é saber que no final, provavelmente, a pessoa se encontrará feliz. Como disse inicialmente, sou um sonhador, tanto a nível escolar/ profissional como a nível pessoal. Assim, no próximo ano, espero estar em Leiria, num curso de Engenharia Automóvel, com o principal objetivo de trabalhar numa empresa estrangeira para ganhar experiência na Alemanha e mais tarde criar a minha própria empresa, com o sonho de esta se vir a tornar uma empresa associada à alta-competição. Já a nível pessoal tenho o sonho de viajar pelo mundo, conhecer novas culturas e fazer novas amizades, desejo ter uma família e, acima de tudo, ser feliz. Em suma, os momentos do meu passado marcaram-me de uma forma bastante positiva, uma vez que me fizeram ver a vida de uma forma completamente diferente. Assim sendo, a minha essência deve-se aos obstáculos pelos quais passei no meu passado, visto isto espero nunca deixar de ser o Zé de hoje. José Alves
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“A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente”
“A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente” acompanha-me na busca de novas e inéditas ambições, heterogéneas perspetivas de raciocínio e energia capazes de me nutrir e compor para a concretização dos momentos que,
aos
poucos,
me
arquitetam,
esculpindo uma menina, uma jovem, uma mulher que, espontaneamente, encontra harmonia nos ambientes e contextos que enfrenta. Assim, “tenho em mim todos os sonhos do mundo”. O meu mundo, a minha jornada, a minha vida. A dinâmica da mudança opera como o catalisador que desperta o crescimento pessoal, proporcionando oportunidades para o desenvolvimento de processos de melhoria contínua própria. No entanto, pondo de parte formalismos e didáticas laboriosas, contemplo a vida como um simples complexo, um acumular de memórias e vivências que se desvanecem no tempo, um espelho abstrato e intangível que reflete a imagem que o meu cérebro distorce consoante o que sinto: uma batalha incessante e vigorosa entre o racional e o emocional, sabendo, então, que me manterei “oscilante entre a razão e o desejo” face a todas as decisões que me inquietam o coração ou fortalecem o pensamento, reavivando episódios passados
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que, instintivamente, me desencerram os limites da análise de tentações correntes e me encorajam a abordar vorazmente curiosidades futuras. “Agir, eis a inteligência verdadeira” que me governa e exalta o vício salubre que expresso pelo movimento e pela intensidade, pelo exagero e pela paixão, pelo desafio e pela conquista. Porém, talvez devido à lucidez imensa que me usurpa, sempre sonhei inquieta a presença de algo que tornasse autêntico e palpável o amor em mim: serei eu digna da compaixão, de reconhecer e prosperar o afeto? Bastantes perplexidades me invadem, contudo, a verdade que absorvo é simples: o sentimento é uma “sombra que passa através das sombras” graças à sua natureza absoluta e invencível, uma fuga ao universal deliberado, uma dimensão indefinida que abraça sem escolher razões. Elucidar a realidade torna-se uma obsessão, a constante demanda pela compreensão dos cenários que me ladeiam engendra uma comodidade ilusória, pois apenas a segura e ousada exposição dos meus atos me escuda do abismo que confina os adversários da vida: a apatia, a inércia e a covardia. Posto isto, concebo o eixo que me equilibra por entre o que fui, o que sou e o que serei, por entre o que não fui, o que não sou e o que, sem me restringir e reduzir ao óbvio, afirmo que não serei: alguém vulnerável aos fervores do futuro, incapaz de manifestar os valores da sua educação, dominado pela cegueira que quebra a sensatez e pela umbra que regela a febre da emoção exorbitante. Rita Marques
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O menino dos avós
Saí de casa, bati a porta, lancei a mão ao bolso à procura das chaves do carro que teimavam em diariamente mudar de sítio e qual não foi o meu espanto quando do seu interior retirei um papel amarrotado no qual estava impressa uma fotografia já bastante maltratada. Embora estivessem já os seus traços esbatidos, imediatamente a identifiquei: esta fotografia havia sido tirada no meu primeiro dia de aulas. Vestia uma t-shirt colorida com alguma bonecada, umas calças de ganga a estrear e uma mochila claramente mais pesada do que seria recomendável para uma criança tão pequena. “Quem era este miúdo?", pensei. O miúdo da fotografia era uma criança que enquanto pode foi tudo quanto quis ser… Foi o neto do colo da avó e das cavalitas do avô, a gargalhada que, de tão frequente, se tornava já irritante. Aquele miúdo foi o amigo dos amigos, os porquês multiplicados e o abraço apertado que se prolongava até ouvir um “já chega”. Como me lembrava bem daquela criança que queria ser mágico, pintor, jornalista, escritor, músico… aquela criança tinha em si “todos os sonhos do mundo”, os já por si descobertos e os que nos anos seguintes se revelariam. Despoletado por aquela memória que guardava com tanto carinho, já no interior do carro foi-me impossível não relembrar os anos que se seguiram, o secundário. Foi a partir do décimo ano que finalmente consegui, num exercício de atenção contínuo, perceber quem era o homem que pouco a pouco se construía. A criança que anos antes nem por um segundo era capaz de largar o abraço da mãe sonhava agora com voos distantes que passavam por mundos que nem o próprio conhecia. O adolescente que durante aqueles três anos se mostrara aos outros constituía para a criança tímida de antigamente um motivo de orgulho maior do que o próprio algum dia ousara almejar.
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Medos vencidos, qualidades descobertas, defeitos trabalhados… o eu que no fim do secundário escolhera apresentar aos outros era um eu de quem aprendera a gostar, um eu que se dava aos outros sem que lhe fosse pedido, que entrava em silêncio à procura do seu lugar sempre de forma cautelosa, que amava com tudo quanto tinha e que escrevia na maneira que encontrara de dizer aos outros tudo aquilo que sentia. Era um eu que se ouvia a si próprio, muito firme das suas convicções mas também muito aberto à mudança, um eu que desconhecia ainda as dores da “gente crescida” mas que por uma vez ou outra fora já capaz de as identificar escondidas num abraço. Tenho saudades daquele que, com o passar do tempo, cresceu, não deixando nunca de ser criança pelo menos na forma como via o outro: pelo lado bom. E hoje? Quem sou? Sentado atrás do volante, serei hoje motivo de orgulho para os dois jovens que o tempo deixou para trás? Sou eu, no sentido mais literal da expressão. O homem formado que hoje é família tem já em si o amor que durante
anos
incessantemente.
buscara O
homem formado que hoje conhece os pesos da vida adulta contém ainda em si o ouvido atento do qual durante tantos anos se orgulhara.
O
homem
formado que hoje é o produto do passar dos anos, das suas areias e marés, tem ainda em si as marcas de uma criança que os avós procuram não esquecer, tem ainda em si todos os sonhos do mundo. Diogo Coutinho
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Todas as vivências ficarão eternamente em mim
Fui um miúdo com uma boa infância. Uma conjugação de bom desempenho escolar com família, amigos e desporto fizeram com que todos os dias valessem a pena. Agradecido por agora perceber que sempre fui um privilegiado por ter à disposição tudo o que eu quisesse. À medida que crescemos percebemos que nem a todas as crianças são dadas as mesmas oportunidades e, por isso, agradeço à minha família. Foi tomada a decisão por parte do meu pai de ingressar neste colégio no 5º ano. Revelou-se uma aposta certeira porque não só me permitiu formar academicamente, como também me permitiu desenvolver-me enquanto pessoa através da transmissão de valores que hoje em dia me são intrínsecos. Atualmente, além de estudar continuo com a prática desportiva, o futebol, que com muita pena minha terei de abdicar num futuro próximo, pelo menos enquanto praticante. Talvez um dia possa conciliar o futebol com a área que prosseguir na universidade e ser um interveniente neste meio. Foi neste meio que conheci vários amigos e que me foram ensinadas várias lições de vida: a ser resiliente, paciente e que serei sempre recompensado pelo trabalho árduo. Voltei ao colégio no ano letivo de 2018/19 para o 11º ano. A partida de alguns daqueles colegas que me eram mais próximos no ensino básico, bem como a maior competitividade fruto da importância do ensino secundário na definição do futuro de um aluno, entre outros aspetos, fizeram com que esta segunda passagem não me marcasse tanto como da primeira. Admito que nem sempre me apliquei da forma exigente que me é característica quando faço algo de que realmente gosto, mas a verdade é que me PORTUGUÊS – 2020/2021
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safei bem na generalidade das disciplinas. Uma boa média interna e uma muito boa nota no exame de Economia fazem com que eu só dependa do exame de Matemática para entrar numa das duas mais bem cotadas Faculdades de Economia do Porto. Aproxima-se o fecho de um ciclo que encaro de forma natural estando, inclusive, mais entusiasmado com abertura de um novo, a entrada na universidade, do que propriamente com lamentações sobre o meu percurso escolar. Agradeço a tudo o que a escola me deu, mas é altura de seguir em frente e delinear novos objetivos. Não sei quem serei porque não prevejo o futuro, no entanto, posso dar garantias de que todas as vivências e aprendizagens realizadas neste colégio ficarão eternamente marcadas em mim. Nuno Vieira
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Viver sempre no presente
Esta história começa no dia 25 de abril de 2003, dia em que eu nasci. Como é natural, atualmente, com 18 anos, tenho apenas uma vaga ideia dos meus primeiros 2 anos de idade, mas, pelo que a minha mãe e o meu pai me dizem, eu era um bebé muito irrequieto, que tinha de estar constantemente entretido. Um dos principais acontecimentos deste início de vida foi o começo da prática de natação, desporto que me acompanhou a vida toda. Os primeiros episódios de que me recordo aconteceram a partir dos meus três anos, ano esse que foi, a meu ver, um dos melhores anos da minha infância, visto ter vários episódios marcantes e felizes dos quais me consigo lembrar ainda hoje: a minha primeira ida à terra do meu cunhado, as minhas primeiras férias fora de Portugal, tendo ido a Múrcia, Espanha, e, por último, o casamento da minha irmã, no qual eu fui o menino das alianças. Até então tinha feito a creche e parte do pré-escolar numa escola na vila onde vivia (Paços de Brandão, Santa Maria da Feira), mas no ano 2008, quando tinha 5 anos, mudei pela primeira vez de escola, passando para uma recentemente fundada no centro de Santa Maria da Feira, tendo lá frequentado um ano no préescolar e os quatro anos da primária. A verdade é que, inicialmente, estava bastante apreensivo com a mudança porque não conhecia ninguém e tinha de fazer novas amizades, mas rapidamente deixou de ser um problema já que me consegui ambientar facilmente. Acabei por passar cinco ótimos anos nesta escola, graças às incríveis visitas de estudo que fazíamos, aos espetáculos de final de ano e de Natal que apresentávamos aos pais, às pessoas que conheci, como por exemplo, um dos astronauta da NASA que já tinha pisado lua, o Vítor Pereira, vários escritores e atletas de alta competição, aos concursos de Carnaval em que participávamos, às
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noites de Halloween em que íamos de porta em porta pedir doces, e, claro, graças aos amigos que fiz e pelos professores e funcionários que me acompanharam. Infelizmente, a pouco tempo de concluir o 4° ano, a escola, apesar do grande potencial, acabou por fechar por má gestão. No entanto, não deixou de ser um bom ano pois tivemos aulas na casa de um dos alunos durante um mês, onde nos divertimos bastante. Entretanto, durante estes 5 anos, fui tio aos 6 de duas sobrinhas de irmãs diferentes, com quem acabei por ter uma relação que eu considero mais de irmão para irmã do que de tio para sobrinha. Aos 6/7 anos foi-me diagnosticado um problema de visão, o que me obrigou a começar a usar óculos; nos primeiros tempos, não aceitava muito bem essa ideia, mas acabei por ter de me habituar; apesar disso, acho que foi algo que me afetou psicologicamente, pois passei a ser um rapaz tímido. Com 8 anos comecei um desporto novo chamado Viet-Vo-Dao, uma arte marcial, da qual desisti três anos depois porque, na altura, pensava que passávamos demasiado tempo a treinar flexibilidade e força (que hoje em dia percebo que era importante). Aos 10 anos mudei-me para uma nova casa (onde vivo até hoje), situada numa vila perto de Esmoriz que, até à minha mudança, não conhecia apesar de ficar a 5 quilómetros de onde vivia; até hoje continuo a preferir a minha cidade natal, afinal, não há nada como a nossa primeira casa. Mais uma etapa da minha vida ia começar; ia entrar no 2° ciclo. Uma nova escola, novos amigos. A escolha da nova escola não foi tão difícil como na primeira vez que tive de tomar esta decisão, visto que já estava planeado ir para o colégio que o meu pai outrora andara: o Colégio Internato dos Carvalhos. Lembro-me de que a minha primeira impressão do exterior do colégio não foi muito boa pois era muito diferente das escolas em que tinha andado (era muito maior e tinha muitos mais alunos), mas mal vi o campo de futebol e o espaço de recreio, em geral, mudei rapidamente de opinião. Foi então nesta escola que completei o meu 2° e 3° ciclo, dos quais guardo na memória vários bons momentos, como por exemplo, as férias de verão, as
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semanas culturais, quando íamos à expocic, a ida à praia numa visita de estudo de Moral, o clube da ciência no 6º ano e as viagens a Londres e a Paris. No término do 3° ciclo, ou seja, no fim do 9° ano, tive de tomar a primeira decisão difícil da minha vida que foi a escolha do curso que queria seguir no ensino secundário e, consequentemente, o que realmente queria ser a nível profissional. Quando era mais novo queria ser polícia, bombeiro, construtor, mas passei a estar indeciso entre engenharia ou economia, e, no final, cheguei à conclusão que queria estudar na área das ciências socioeconómicas. Ao mesmo tempo que tomava esta decisão, também escolhi continuar no colégio nos 3 anos seguintes, de forma a completar, assim, o secundário. Quando voltei depois das férias, o antigo Colégio Internato dos Carvalhos em que eu estudei durante 5 anos, chamava-se agora
Colégio
inicialmente,
Internato parecia
Claret,
não
o
fazer
que,
grande
diferença, mas, com o passar do tempo, deu para perceber que algumas coisas tinham mudado;
passou
a
haver
palestras
intituladas “Vidas com sentido”. Acabei por não ter tantas experiências nestes últimos dois anos, por causa da pandemia do vírus COVID-19. Esta pandemia influencia muito aquilo que é minha vida atualmente, pois comecei a passar muito mais tempo em casa, tornando o meu dia a dia bastante repetitivo, o que faz com que de vez em quando perca a noção do tempo, e transformando os meus hábitos. No meu futuro não sei quem serei, apenas tenho em mente entrar na faculdade que desejo- a Faculdade de Economia do Porto- num curso ainda por decidir. Depois de me licenciar entrarei no mercado de trabalho para, mais tarde, poder constituir família, ter a minha própria casa, viajar pelo mundo e ter o meu
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carro de sonho. Para além disso, não sei como é que será o dia de amanhã, porque a verdade é que o importante é “viver sempre no presente, pois o futuro não o conheço, e o passado já não o tenho” (Fernando Pessoa). Francisco Malta
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Que se abram as portas do futuro, que um dia chegará
Já fui uma. Uma só sobre todas, uma que brincava e ria, que com orgulho era diferente. E olhava a janela e via onde estava tudo, e lá chorava
e
ria
e
deixava
os
sentimentos. O mundo era grande e cheio de gente, verdade que uns eram maus, agentes do medo e da vergonha (e pena que esses tanto me influenciaram, e vergonhas me tomaram), mas havia também tantos amigos que faziam o tempo parecer de
ouro
e
que
faziam
minhas
gargalhadas imparáveis. E a música que tanto mais me controla, ela era doida e louca, e cada letra e melodia, que animação. Mas tanto tentei acertar, sem errar e reprimir o que de errado estivesse, que por vergonhas nunca saísse daqui de dentro, ora pois vergonhas dentro entrasteis para muitos anos vos abrigar. Agora sou múltipla. Um dia parti-me e elas agora são muitas na confusão. E só discutem! E é uma em cada língua! E não há tradutor. Há uma que só chora! - Essa é forte e contamina as outras. E ganha sempre, e a janela já não é grande o suficiente para suportar tudo, a emoção transborda e é incontrolável! Também há uma muito alegre a quem tudo faz rir, parecida com aquela de outros tempos,
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infelizmente essa é bem fraca e não se consegue impor por muito tempo. Mas ainda assim solitária, (aparte a minha multidão interior), ainda assim sozinha e mais sozinha só de olhar a essas gentes, essas gentes que são alegres e sempre juntas, (vidas repletas de loucuras e de erros) que riem e que nem por seus ou meus esforços me alegram. Ai, a música, minha grande companheira, pena que agora sejas triste e que eu te faça chorar. Ai, e vergonhas, estão cá, não estais? Junto do pensamento, e de cada ação, pois tanto que eu retinha, (por que não fostes vós que eu perdi) tereis sido vós que assim me tornaram, distorceram e moldaram. Um dia voltarei a ser una, mesmo sendo muitas. Estarão elas em harmonia e dar-me-ão a paz e a calma. Aprenderão a falar outras línguas, a ouvir-se umas às outras. O mundo, minha janela, de onde sairão, oh tantas e diversas melodias, (nessas diversas línguas é claro!) que poder de me animar terão e todas elas retornam à animação. E um dia hei de recuperar as inúmeras amizades que a caminho da dor abandonei, e outras mais talvez farei. E esses constrangimentos, de dores e tormentos, poderei controlar e mesmo com eles aqui, o escuro abandonar. Se de vergonhas um dia fui feita, de vergonhas um século me libertará.
Que se abram as portas ao futuro, que um dia chegará, Que de uma a muitas Lias, una reinará. Lia Jesus
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Eu, visto pelo meu olhar
O meu nome é André Brites. Nasci em Portugal, na cidade do Porto, no dia 27 de janeiro 2003. Passados dois meses do meu nascimento, fui morar para St. Barth, mas todos os anos voltava a Portugal. Eu sempre gostei de brincar com os meus amigos na escola. Sempre gostei de ver os mais velhos a andar de mota e queria ser como eles. Dos meus amigos guardo memórias de tempos passados que me marcaram pela positiva. Sempre preferi estar lá a estar em Portugal já que era lá que estavam os meus amigos mais próximos. No ano de 2015, a minha vida mudou: vim estudar para Portugal e, por consequência, viver também. O início do meu 7º ano foi complicado uma vez que não conhecia nenhuma pessoa da minha nova escola e não falava bem português, o que tornou o meu 7º ano ainda mais complicado. Com toda a vontade que tinha de fazer amigos, esforcei-me bastante, até falar como toda a gente. Quem me conhece diz que melhorei bastante, porém eu mal percebia a língua quando cheguei. Foi depois de muito esforço que me consegui finalmente identificar com certas pessoas e fazer amigos. Mudei bastante nesse ano de 2015, mas continuei sempre a mesma pessoa com a mesma personalidade. Foram passando os anos e fui melhorando o meu português e fazendo mais amigos. Sinto que mudei bastante em todos os aspetos, mas ao mesmo tempo sinto-me igual. Penso muitas vezes como teria sido se certas coisas não tivessem acontecido? Hoje, com 18 anos, sou a mesma pessoa, o mesmo André. Mudei física e mentalmente, mas, lá no fundo, sou o mesmo. Ando de mota como tanto queria quando era mais novo. Faço muita coisa sem pensar bem no futuro, como sempre o fiz, modo de estar que tem tanto de bom como de mau. Espero, no futuro, ser
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uma pessoa responsável, mas sempre com a mesma personalidade. No futuro, quero ser reconhecido no que fizer. O colégio fez-me uma melhor pessoa. André Brites
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Eu sou todas as criações já produzidas por mim
Eu, Filipe Lopes, através do meu olhar vejo quem sou, quem fui, mas não quem serei. Desta incerteza estou eu certo. Penso que sei o porquê. O papel começa a ser escrito a caneta, mas não posso saltar as páginas da frente. Vejo-me pequeno, nem cinco anos tinha. Saudades desse tempo aonde a imaginação via em tudo possibilidade. Saudades desse tempo onde tinha eu tempo. Tempo em que vinte e quatro horas eram mais que apenas vinte e quatro horas. Tempo em que criava os meus próprios brinquedos, normalmente feitos de papel. Não sei se o posso considerar, mas papel era o meu brinquedo favorito. Lembro que quando queria muito um brinquedo, mas não o recebia, simulava e replicava as mesmas funcionalidades num brinquedo imaginário. Criava coleções, revistas, caixas, jornais, eventos, museus e até mesmo jogos de cartas. Penso na vida da mesma forma. A vida é um papel. Eu crio o que quero nela. Eu sou todas as criações já produzidas por mim. Eu sou as minhas ideias, as minhas memórias e pensamentos. Mas é difícil criar aquilo que ainda não foi pensado. Quero continuar a criar até chegar ao meu limite, até ao dia em que não tenha mais ideias e a minha inspiração desapareça. Desta maneira, acho o futuro incerto, por não saber aquilo que virei a ser. Eu sei quem fui, quem sou..., mas amanhã continuarei igual? As várias páginas do papel são numeradas. PORTUGUÊS – 2020/2021
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Uma pequena mudança pode simplesmente mudar o rumo da nossa vida. Que indecisão é, às vezes, tomar escolhas. Sempre fui incerto e indeciso. Em que será que me irei tornar, consequência das minhas escolhas? Escolhi mudar de escola por vários motivos. Afastar-me do meu habitual, do meu aconchego. Assim, desde que entrei para o Colégio Internato Claret, várias foram as mudanças na minha vida. Por estar mais longe da escola que frequentava, o mundo diferente era agora muito diferente. Facto é dizer que me senti sempre mais seguro nesta estadia. Consigo olhar para quem era e olhar para quem sou e certamente dizer que mudei, que evoluí. Afinal, pela primeira vez estava longe daquilo a que me habituara durante uns anos. Caras novas, lugares novos... Apesar de ter sido uma época difícil e diferente, recordo com nostalgia os dias em que estas mudanças ocorreram... Bons e maus momentos. É como tudo na vida. Tenho de valorizar todos estes momentos e fazer deles boas memórias. Eu sou composto por memórias. As várias páginas do papel começam a ser agrafadas. Sou mais um, sou mais que um, sou ninguém... Sou tudo. Sou, a meu ver, o que criei. Tenho em mim todas as ideias e memórias que me permitiram chegar a este percurso. Sou o que quis e talvez quem quero ser. Para isso, continuarei com o mesmo pensamento: criar. Criar o importante. Criar a inspiração. Criar memórias. Criar o que posso. Irei criar o meu papel e escrever a minha própria história, a história que me tem como protagonista. Apenas tenho de continuar a escrever, sem pensar em apagar nada. As várias páginas do papel ainda têm de acabar de ser escritas. Filipe Lopes
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Às vezes, tenho vontade de voltar ao passado
Foi-me pedido que escrevesse um texto subordinado ao tema «Eu, visto pelo meu olhar!». Nem
sei
bem
por
onde
começar. Apesar dos 16 anos, já tenho muito para contar, mas sempre ouvi dizer que se começa pelo início. Chamo-me
António
Seabra;
nasci a 29 de junho de 2004; filho de António Seabra (um nome pouco original por sinal) e Marisa Ribeiro, administrador judicial e advogada, respetivamente; não sou filho único, tenho uma irmã mais velha chamada Paula. Dos
3
meses
aos
5
anos
frequentei a Fundação Couto, na Avenida
da
República
e,
mesmo
sendo em frente ao escritório do meu pai, ele conseguia por vezes chegar atrasado para me ir buscar (chegar atrasado faz parte de nós, portanto). Em 2009, fomos de férias para Moçambique e acabamos por ficar lá a viver quatro anos e meio, justificando, assim, o facto de ter 16 anos e frequentar o 12º ano. A Willow
Internacional School foi a minha casa do 1º ao 4º anos. Colégio com sede na Turquia e com um rigor e disciplina como nunca vi. Todos os dias de manhã, antes de entrar, tínhamos de fazer filas por turmas e cantar o hino do país, só isso diz PORTUGUÊS – 2020/2021
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muito. O meu pai durante esse período continuou a trabalhar em Portugal, indo poucas vezes a Moçambique, o que originou alguns momentos de grande tristeza quando ele viajava de volta para Portugal e, por outro lado, poucos momentos de enorme/gigantesca felicidade quando ele voltava. Foi um período em que viajei muito pois uma das formas de o meu pai passar bom tempo connosco era viajar. Passei pela África do Sul, Alemanha, Dubai, Espanha, França, Gana, Tanzânia, Zanzibar, entre outros. Foram tempos felizes, embora tenha visto Portugal a ser eliminado no mundial de 2010 realizado em África do Sul. Às vezes, tenho vontade de voltar ao passado, como Fernando Pessoa. Razão de voltar a Portugal? Uma onda de raptos que começaram a acontecer a pessoas de cor branca, tendo sido a minha mãe perseguida no último dia em que lá esteve. Quando voltei tive um regresso um pouco atribulado. Ingressei no CLIP, onde estive um dia apenas. Vindo de uma escola onde o rigor e o respeito era do que mais existia, no CLIP os meus colegas insultavam os professores, não dando para mim. Acabei no Rosário, um período foi o tempo durante o qual lá estive. Motivo? Colégio reconhecido por médias e notas altas, o que não acontecia comigo, pois admito que do 5º ao 9º anos, foi rara a vez que estudei, pois o 3 chegava e o que importava era estar atento às aulas e reter a informação e só depois no secundário é que valia a pena estudar e lutar por médias. Assim, fui encostado para canto por não ter as melhores notas, transitando, assim, para o Colégio de Gaia, que foi a minha casa do 5º ao 8ºano. Muitos altos e baixos, até que no 8º ano tive alguns desentendimentos com alguns colegas e uma professora em específico, acabando, por essa razão e para evitar conflitos, por ingressar no Colégio dos Carvalhos, a minha casa do 9º até os dias de hoje. Sempre fui muito decidido quanto ao que queria fazer no futuro já sabendo desde o 7º ano que curso (Economia) iria seguir e em que faculdade (FEP) iria tentar entrar. Embora recentemente a faculdade em que procuro ingressar tenha mudado, não por causa das médias, mas sim por ter descoberto a dupla licenciatura em gestão e direito na Universidade Católica Portuguesa no Porto,
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que aos meus olhos é um curso mais interessante do que aqueles que possivelmente iria fazer na FEP. Após a faculdade ainda tenho de pensar, tenho várias hipóteses: seguir as pegadas do meu pai; ir estudar para fora, Estados Unidos ou Reino Unido, por exemplo; entrar na empresa da minha mãe como gestor; seguir a área de direito. Mas como ainda tenho, felizmente, cinco anos pela frente para decidir, irei deixar isso para o António Seabra mais adulto, maduro e consciente decidir daqui a uns anos. António Seabra
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“Eu sou do tamanho do que vejo E não, do tamanho da minha altura”
Alberto Caeiro
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Quero dar aos Homens o que de melhor há em mim
Eu,
José
Pedro
Coelho Neto, nascido a 31 de agosto de 2002, um mero viajante na terra, sei quem fui, sem sombra de dúvidas, ou apenas tenho uma imagem de quem fui numa
época
distante.
Afinal de contas, sempre fui
uma
inesperada
chegada na
minha
família, os braços da minha mãe ansiavam uma menina, talvez por intuição ou apenas por uma ideia que a medicina e os médicos lhe tentaram transmitir. Dadas as circunstâncias e as certezas que os especialistas apresentavam no nascimento de uma menina, a família preparou-se. Um quarto cor-de-rosa, bonecas de trapos e cortinas de princesa, mas, como tudo na vida, a verdade não tardou a chegar e a admiração denotou-se no momento em que afinal não eram precisas princesas, mas sim carros de corridas, não eram necessárias bonecas, apenas personagens fictícias e super-homens. Surgiu um novo conceito, mas nem por momento algum menos desejado, claro está que a caminhada foi grande e as dificuldades apareceram, uma mãe sofre bastante, afinal, tinha nos seus braços um bebé asmático, uma dificuldade sem dúvida, uma preocupação crescente e perfurante. Uma inquietação que logicamente não passa só pelos braços de uma mãe, passa por todos que rodeiam PORTUGUÊS – 2020/2021
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a criança, amigos, familiares, médicos e até meros conhecidos. Claro que a rotina transforma os seres e com a rotina, o desassossego dissipa-se e transforma-se numa mera ideia vaga que, às vezes, volta à mente. Daí em diante de pouco me lembro, tenho a vaga ideia de nas quentes férias de verão dedicar-me a atividades de campos de férias. Era uma criança irrequieta, acho que a tranquilidade nunca chegou a passar por mim. Aquela pequena aldeia onde cresci, Turquel, aquela que me acompanhou, durante a minha infância viume a dedicar-me, exclusivamente, a treinos e jogos de hóquei, época de poucas preocupações, no fundo, desfrutava realmente da vida e de algumas festas de anos, coisas de miúdos. Fui obrigado a descobrir muito cedo que a vida magoa, que a morte dói, não só em quem parte, mas principalmente em quem fica. Nenhuma criança merece receber a notícia do falecimento do seu pai tão novo e, ainda, com tantos sonhos por realizar. Tenho uma ideia daquele a que posso chamar o pior ano da minha vida. Se não o tiver sido espero apenas que nada me volte a doer tanto como aquela dor. Momento de reviravolta, de interrogações e de agonias, mas a vida continua, e às vezes, aquele que parece o fim, torna-se o começo de uma nova era. A dor dissipa-se, nunca desaparece, certamente, mas transforma-se num lugar especial, na parte mais profunda do meu ser. Fui forçado a renascer, a mudar a minha vida e a estudar no Colégio Militar em Lisboa. Mentiria se dissesse que foi fácil desapegar-me do conforto materno, abdicar das tardes com os meus avós, habituar-me a uma realidade diferente. No meio deste novo turbilhão de emoções tinha o meu irmão, o ser que sempre me foi querido, mas que, estando na mesma instituição que eu, raramente se cruzava comigo dada a diferença de idades. Quatro anos se passaram repletos de problemas supérfluos e de uma vivência em comunidade com 90 pessoas, uma família de coração. Contudo, a vida trocou-me as voltas no final do meu oitavo ano. Fui proibido de renovar a matricula por várias ocorrências ao longo do ano, alguns episódios que me ajudaram a crescer. Por consenso familiar fui parar a um colégio em Pedroso, mais
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uma volta de cento e oitenta graus: pessoas novas, uma realidade oposta a que me adaptei. Sempre fui um ser que facilmente se integra seja no contexto que for. O internato foi bom, trouxe-me vários amigos que infelizmente estiveram apenas de passagem. Só o secundário me trouxe aqueles que considero os meus amigos para a vida, aqueles que põem as mãos no fogo por mim e que me apoiam em todas as minhas iniciativas. Atualmente, considero a minha vida monótona, mas no meio da calmaria deparo-me com momentos de felicidade que me motivam a investir em alguns projetos. Encontro-me sem rumo, não sei para que curso ir, que universidade escolher, embora saiba o mais importante - quero voltar para Lisboa, é a minha cidade favorita, sempre foi, é o centro do mundo, o lugar a onde pertenço e a minha segunda casa. No meio destas questões, sei que me encontro numa idade demasiado
bonita
e
que
tem
de
ser
vivida
com
alegria
e
diversão
independentemente de tudo. Do meu futuro, apenas tenho uma visão, é incerto e simultaneamente bem planeado. Pretendo dar continuidade aos projetos da minha família e criar algo que seja fruto de esforço e dedicação minha. Posteriormente, sonho com uma carreira política, de certa forma quero fazer acontecer, abandonar o estado de dormência em que a população portuguesa se encontra e mostrar que reclamar não ajuda uma sociedade, mas sim que só nós temos o poder de a mudar. A caridade sempre mereceu a minha atenção e pretendo nunca a deixar para trás, mas não serão os meus últimos passos, quero ser mais do que planeio, quero dar à raça humana o que de melhor há em mim e ajudar as gerações futuras a irem mais longe. Independentemente das barreiras, o mote condutor da minha vida sempre será “Tenho em mim todos os sonhos do mundo”. José Neto
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“Matar o sonho é matarmonos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.”
Bernardo Soares
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Os meus olhos transmitem a minha felicidade
Blaise
Pascal,
um
matemático
e
filósofo francês, disse algo que, de certa forma, descreve o que eu caracterizo do olhar
das
intérpretes
pessoas:
do
“Os olhos são os
coração,
mas
só
os
interessados entendem essa linguagem”. No entanto, quando nos é feita a pergunta o que vemos nos nossos próprios olhos é bastante difícil responder, pois estamos a examinarnos a nós. Esverdeado e castanho são as cores que os meus olhos apresentam e são estas que me definem enquanto a pessoa que sou, a Kiki. Desde que me lembro, a minha família e amigos sempre me trataram por Kiki até aos dias de hoje. É um nome que criei e associei a mim mesma, quando era pequena e ficou marcado por quem me rodeia. As cores dos meus olhos mudam bastante dependendo da luz solar e acho que é isto que me define, principalmente. Sempre fui uma rapariga indecisa, tanto queria uma coisa como outra. Assim, toda a minha vida, fui uma pessoa que nunca gostou de rotinas e sempre quis mudar e viver experiências novas, contudo quando algo corre mal sei que irei ter sempre a minha família a apoiar-me. Muitas destas experiências acabei por não gostar ou até mesmo detestar, mas, a maior parte delas adorei e, sinceramente, não me arrependo de nada. Na minha opinião,
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devemos de experimentar tudo e sair da nossa zona de conforto, porque, caso contrário, como iremos saber o que realmente gostamos ou não? Com o passar dos tempos, acabei por amadurecer e crescer. Como todos nós, também, tive más fases, mas, sobretudo, boas. Penso que é com esta equidade de experiências, más e boas que fazem a pessoa que sou hoje. Deste modo, pretendo seguir o ditado que a minha mãe está constantemente a dizer “vê a vida como um copo meio cheio”, visto que, assim, conseguimos ser mais felizes e, sobretudo, nutrir uma paz interior plena em relação a nós mesmos. Tenho vários sonhos e experiências novas que pretendo fazer no meu futuro e tenho noção que o medo, neste aspeto, não se apresenta dentro de mim para as impedir. Espero levar para o meu futuro a “Kiki”, a minha essência, uma vez que é ela a base de quem eu realmente sou. Em suma, penso que, ao olharmos para o olhar de outra pessoa conseguimos perceber o seu estado de espírito, tal como Pascal dizia. Nós, seres humanos, somos bastante transparentes quer queiramos ou não. Os nossos olhares acabam por ser pequenas janelas por onde os nossos sentimentos se revelam e, por onde podemos não só ver, mas também sentir o “mundo” do outro. Com isto, o que os meus olhos dizem é bastante fácil de decifrar, mas, acima de tudo, transmitem a minha felicidade perante o outro e a vida que estou constantemente a descobrir. Catarina Teixeira
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Quero viver a minha vida e aproveitá-la ao máximo
Tenho como base da minha vida uma frase icónica de um físico alemão bastante conhecido, Albert Einstein, “A distinção entre
passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente”, uma vez que temos sempre de ter consciência dos momentos passados para não voltarmos a cometer os mesmos erros. É assim que tento levar a minha vida, dou bastante importância ao que aconteceu no meu passado, visto isto a minha infância e a minha adolescência marcaram de uma forma abrupta o meu percurso. A minha infância foi bastante difícil e um pouco traumática, a verdade é que era bastante inocente e amigável e isso fez com que, por vezes, as pessoas se aproveitassem de mim, visto isto tive de mudar a minha forma de ser, perceber que por vezes não podia ser tão simpático ou dar tanta confiança às pessoas. No início do secundário passei pela minha adolescência, o que fez com que nos anos mais importantes e decisivos do meu futuro estivesse bastante à nora, sendo que uma das maiores complicações desta fase, foi tentar encontrar-me e perceber quem era o Eduardo Azevedo. Assim sendo, sentia-me deslocado, perdido e bastante confuso, visto isto foi bastante difícil organizar-me tanto a nível escolar como a nível pessoal. PORTUGUÊS – 2020/2021
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No entanto, com o passar do tempo percebi quais eram os meus valores morais, percebi também quais eram os meus objetivos para o futuro, aprendi quais eram os meus limites e deste modo consegui encontrar-me. Como todos, tenho objetivos para o meu futuro, nomeadamente a nível escolar/profissional, sendo que na faculdade pretendo seguir engenharia informática ou eletrotécnica com o principal objetivo de ter o meu próprio negócio, todavia o curso dá-me a garantia de conseguir um emprego caso necessite. Apesar disto, não quero deixar que o meu trabalho me impeça de viver a minha vida e aproveitá-la ao máximo, nomeadamente, viajar pelo mundo, viver algumas aventuras e ter uma família. Em suma, os meus olhos contam a história da minha vida, contam as dificuldades e inseguranças pelas quais passei, sendo percetível no meu olhar as lutas que travei para ultrapassar estas “barreiras”. Visto isto, é fácil perceber que não irei ter qualquer dificuldade em olhar para a frente e continuar a lutar. Eduardo Azevedo
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Serei uma viajante com muita bagagem
Acredito que uma pessoa, quando nasce, é apenas isso, uma pessoa. No entanto, cada um de nós é responsável pela construção da sua própria essência, assimilando e aprendendo com quem faz parte da nossa vida. Comecei a minha viagem de comboio numa estação chamada “FAMÍLIA”, onde os passageiros aguardavam ansiosamente a minha vinda. Penso que os meus primeiros passos na jornada que é a vida nasceram do carinho imenso dos meus pais e irmãs e dos seus ensinamentos tão importantes para o futuro. O meu pai ensinou-me a importância da sabedoria e a apreciar as pequenas coisas do diaa-dia. A minha mãe mostrou-me como a responsabilidade e a perseverança me podem levar longe. Aprendi com a minha irmã mais velha, Lia, que devo guardar todas as pedras no caminho para um dia construir um castelo. A Fabiana inspiroume a querer aprender sempre mais e a ser curiosa em relação a tudo. E por fim, a Janice ensinou-me a encarar a vida sempre com boa-disposição e a nunca abandonar a criança que vive dentro de mim. Quando olho para trás, para toda a minha vida, admiro-me de como este comboio tem andado tão rápido. Tantas paragens, tantas pessoas que entraram e saíram! Algumas dessas pessoas e as experiências que vieram com elas tornaram a viagem difícil e pesarosa, mas a maior parte deixou-me no regaço algo valioso que agora guardo na minha mala. As suas oferendas modularam firmemente os meus objetivos de vida e sonhos. Na estação “ESCOLA”, entraram os amigos barulhentos e divertidos, que me introduziram nas suas brincadeiras que me fizeram sentir às vezes princesa e outras vezes super-herói. Também vieram os professores, aqueles que guardo a sete-chaves no coração, que me abriram ainda mais a cortina do mundo, para ter acesso a todo o esplendor da vida.
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Conheci na estação “MÚSICA” muitas pessoas que ainda agora me acompanham no meu percurso. Com elas, aprendi a expressar através do piano e da guitarra o que as palavras não conseguem. Cheguei, há pouco tempo, à estação “COLÉGIO”, onde o comboio se encontra parado atualmente. Nesta curta paragem, os professores que entraram presentearam-me com tudo aquilo que me vai ajudar nas próximas estações, lá adiante, para que nunca me sinta perdida. Também me deslumbrei com as cores da verdadeira amizade (lealdade, companheirismo, felicidade), com colegas que espero que continuem a fazer parte da minha vida futura. O comboio está prestes a partir. Já ouço o apito. Confesso que estremeço com a ideia de continuar esta tão incerta viagem. Mas será assim tão incerta? Olho para a minha bagagem e ao ver tantas memórias e tantas lições de vida, sinto-me acompanhada. Viro-me para a janela e vejo as pessoas que deixei na estação. Cruzo as mãos no peito em sinal de agradecimento. “Obrigada!” grito-lhes, comovida, “Obrigada a todos! Fizeram-me feliz!” Elas sorriem e acenam-me de volta. As pessoas que permanecem na carruagem apertam-me as mãos para me lembrarem que estão comigo. Até agora, a viagem tem sido tranquila. O comboio segue sem sobressaltos. Entram, por vezes, ladrões de sonhos, mas aqueles que me acompanham protegem-me e expulsam-nos, ensinando-me como os distinguir entre a multidão. Sei que, com tudo aquilo que fui guardando graças àqueles que fizeram parte da minha vida, serei capaz de alcançar tudo. Aguarda-me lá à frente, muito em breve, uma nova etapa. Quem entrará na próxima estação? Quem sairá que nunca mais verei? E eu, quem serei?
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Serei, certamente, uma viajante com muita bagagem. Mas sei que também terei sempre espaço e força suficiente para carregar mais. Leonor João
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“Viver sempre no presente, pois o futuro não o conheço, e o passado já não o tenho.”
Fernando Pessoa
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Quero ser para sempre apenas um “miúdo”
Nem sempre é fácil escrevermos sobre nós próprios. O outro, amigo ou familiar com quem convivemos e partilhamos o nosso dia a dia, as nossas frustrações, as nossas emoções, alegrias e tristezas, é capaz de nos retratar e definir de uma forma mais imparcial e objetiva. Mas, numa outra perspetiva, o que é difícil para nós, também poderá tornar-se um desafio e, por vezes, é importante pararmos um pouco para refletirmos sobre o nosso percurso quer a nível pessoal, quer a nível académico. Em relação ao meu passado, penso que pode ser caracterizado como “normal”. Fui o típico rapaz amante do desporto, bem-disposto, ansioso por ser adulto, mas frustrado quando alguém dizia que estava na hora de terminar a brincadeira. A minha infância foi de altos e baixos, contudo, as alegrias superaram as tristezas, embora houvessem momentos de grande angústia. A morte do meu avô materno marcou-me profundamente e foi difícil lidar com a perda. Embora o episódio tenha acontecido no passado, ainda hoje me perturba, apesar de a mentalidade ser diferente e também ser diferente a forma como, atualmente, encaro as situações. A pessoa que sou hoje não difere muito daquela que fui outrora. Sigo com os mesmos gostos e feitios, mas marcado por dúvidas que fui criando à medida que fui crescendo e formando a minha personalidade. Crenças, ideologias e comportamentos são hoje fatores que ocupam a minha mente, ficando
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profundamente indignado por não chegar a uma conclusão esclarecedora. Para além destas questões que invadem a minha mente, há uma outra que me causa bastante apreensão e que se traduz pela seguinte frase: “O que serei daqui para a frente?” Embora esteja a terminar um ciclo de estudos deveras importante, ainda não encontrei o meu rumo, não sei exatamente qual o caminho a seguir, o que me faz pensar se a culpa reside em mim porque não estudei o que devia, ou se ainda não experienciei o suficiente para o encontrar. Quando era apenas uma criança, nunca imaginei estar aqui e agora a expor as minhas incertezas e preocupações. Pensava que tudo ia ser simples e que nunca iria ter os problemas que os “outros” tinham, por viver num ambiente acolhedor, onde era tudo fácil e alcançável. Fui crescendo e percebendo que hoje em dia faço parte dos “outros”. Estou cansado de crescer, de relembrar o mundo paradisíaco da minha infância e de passar para a vida “adulta” cheio de dúvidas, de problemas e de situações revoltantes. Já não penso nas brincadeiras que vou ter amanhã, mas sim nas soluções para os problemas que vão surgir no dia seguinte. Quero ser para sempre apenas um “miúdo”. Sinto que ainda sou demasiado jovem para encher os pensamentos com este tipo de problemas, no entanto, se já os sinto aqui tão perto, com 18 anos, nem quero imaginar o que vou sentir quando for mais velho. A passagem do tempo assusta-me, e, tal como Fernando Pessoa, prefiro não crescer “Mais vale ser criança que querer compreender o mundo.”. Apesar destas inquietações e de me sentir, por vezes, um barco à deriva, tenho a certeza de que irei ser uma referência para todos aqueles que se cruzarem comigo no meu caminho. Para que isso aconteça, terei que resolver todas as questões que ocupam a minha mente e que têm influência no meu estado de espírito. Espero um dia participar na iniciativa “Vidas com Sentido” levada a cabo pelo colégio já que foi ele que me ensinou e me preparou para enfrentar a vida e os seus múltiplos desafios. Mais tarde, quero ser um exemplo vivo para os alunos PORTUGUÊS – 2020/2021
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do Colégio Internato Claret e dar-lhes o meu testemunho sobre o contributo desta escola para a minha forma de ser, de estar e de fazer. Tiago Bóia
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“Segue o teu destino, Rega as tuas plantas, Ama as tuas rosas. O resto é a sombra De árvores alheias.”
Ricardo Reis
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Desejo viver uma vida com significado
“Eu,
visto
pelo
meu olhar” é um título efetivamente subjetivo. Numa primeira leitura remete-me para o modo como
a
minha
visão
física me observaria, se fosse
possível
desprender-me do meu corpo. Ela contemplaria a criança que fui, que se tornou na adolescente que
sou
e
que
metamorfoseará
se na
mulher que serei. Numa segunda leitura, a minha interpretação altera-se. Agora deduzo que alude a uma fragmentação psicológica, ou seja, ao modo como os pequenos traços da minha personalidade se agrupam para me “vestir” como uma pessoa. Neste momento, eu sou uma pessoa completamente diferente da pessoa que era. Mudei! A vida continua a apresentar-me diversos desafios que me moldam, relativamente à pessoa que quero ser, ou que estou destinada a ser. Adoro as mudanças que tenho sofrido. Mudar não significa desprender-me das minhas morais, pelo contrário, significa ser capaz de evoluir de modo proporcional aos meus objetivos, com consciência e discernimento. Sinto-me confiante ao tomar decisões, deixei de ter medo das consequências, não as desprezo, mas tenho a lucidez necessária para saber que tenho a força mental suficiente para
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as enfrentar. Se ainda me amas, por favor não ames: traíras-me comigo (in Odes
de Ricardo Reis). Como é obvio, a minha aceitação sobre a pessoa que sou hoje teve um preço. Sei que fui magoada de maneiras que nunca imaginei e tive de lidar com dores que nunca achei que precisaria de lidar. Uma vez amei, julguei que me
amariam, /Mas não fui amado. /Não fui amado pela única grande razão - /Porque não tinha que ser (in Poemas Inconjuntos). Identifico-me como alguém que gosta de caminhar e apreender o máximo de conhecimento, alguém que encara desafios e não tem medo de se expor, gosto de definir metas, (por vezes irreais) que me dão os mecanismos para saber que ainda tenho algo a alcançar. Aprendi a não despender o meu tempo em coisas desnecessárias, aprendi a apreciar as qualidades boas que tenho sem esquecer os traços mais negativos, cuja aprendizagem é, na mesma medida, importante. A vida é uma jornada e estamos constantemente a aprender a vermo-nos na nossa pele. Relativamente ao meu futuro, é difícil ter uma opinião sobre ele visto que ainda usufruí tão pouco da vida. Existem tantos caminhos que eu posso seguir e sinceramente o caminho que eu desejo seguir hoje pode ser diferente do que eu tomarei amanhã. Desejo que no meu futuro tome decisões conscientes e que consiga atingir todos os meus propósitos. Tem só duas datas- A da minha nascença e a da minha
morte. Entre uma e outra cousa todos os dias são meus. (in Poemas Inconjuntos). Um dos meus objetivos primordiais e talvez o que se encontra mais perto de se concretizar é o curso universitário. Espero concluí-lo e formar-me em Medicina Dentária, especializando-me em Cirurgia Oral e tornar-me apaixonada pela profissão que desempenharei. Nunca tive um desejo que não pudesse
realizar, porque nunca ceguei (in Poemas Inconjuntos).
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Desejo formar uma família e partilhar com eles os meus conhecimentos e em troca receber olhares curiosos e interrogativos e desenvolver conversas infinitas aos jantares. Desejo viajar, viajar o mundo todo e experienciar a vida e a adrenalina que dela advêm e a caracteriza. Desejo que a lembrança da minha vida fique marcada como as sensações que derivam de uma viagem noturna. Depois pensemos, crianças adultas, que a
vida\Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa\Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado. (in Odes, de Ricardo Reis). Desejo publicar um livro, não tenho como intenção que seja um best-seller, mas que seja algo que me caracterize e que transponha o meu amor pela literatura e pela escrita. Por último, desejo viver uma vida com significado. Tão cedo passa tudo
quanto passa! Nada se sabe, tudo se imagina. (in Poemas Inconjuntos). Rita Batista
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“A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente”
Albert Einstein
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Eu escolhi não ser zangão
Apis mellifera: Quis eram, Quis sum, Et quis erit A·be·lha : [Entomologia] Inseto himenóptero, que produz o mel e a cera. 1. Descrição A abelha-europeia é uma abelha social, de origem europeia, cuja dimensão varia entre 12 e 13 mm de comprimento. As abelhas provêm de ovos formados nos ovários da rainha e podem ser ou não fertilizados. Os ovos que são fertilizados dão origem às abelhas operárias, enquanto que os ovos não fertilizados dão origem aos zangões. 2. Qual é a diferença entre os zangões e as operárias? Os zangões têm como única função a fecundação das rainhas virgens. Dependem única e exclusivamente das abelhas operárias para sobreviver, pois são alimentados por elas. Nascem num “berço-de-ouro” e são caracterizados pelo oportunismo e parasitismo social. Já as abelhas operárias encarregam-se da higiene da colmeia, garantem o alimento e a água de que a colónia necessita recolhendo pólen e néctar, entre outras funções. Contrariamente aos zangões, as operárias, que foram rejeitadas pela “entidade”, não necessitam de assegurar a ostentação dos zângões e dependem delas mesmas. Pessoalmente, considero a minha maneira de trabalhar parecida porque penso que nada acontece devido à sorte e que todo o sucesso é fruto do meu trabalho. O meu sucesso “está nas minhas mãos”. 3. Funções das operárias ao longo da sua vida Desde o início até ao vigésimo primeiro dia da sua vida, as abelhas operárias trabalham na parte interna da colmeia. Após essa data, dedicam-se à coleta de PORTUGUÊS – 2020/2021
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água, néctar, pólen e própolis, e à defesa da própria colónia. Entende-se que a partir de certo momento, as abelhas operárias necessitam de adaptar o seu trabalho e a sua forma de viver de maneira a assegurar a sua subsistência. Eu também tive de alterar a minha vida a partir de determinado momento. Decisões como a mudança de escolas no início do secundário, tendo em vista um ensino mais completo e mais oportunidades, não foram fáceis. Porém, tenho a maturidade suficiente para entender o que é melhor para mim e para o meu futuro e estou disponível para mudar vários aspetos pessoais para um dia alcançar o que pretendo. 4. A fisionomia das operárias e valores transmitidos As operárias apresentam um esqueleto externo constituído por quitina que fornece uma grande proteção aos órgãos internos, preparando o corpo para enfrentar situações duras. De igual forma, resistência é uma palavra que me caracteriza bem. Alcançar altos níveis em campeonatos nacionais de voleibol e excelência académica em todos os anos do secundário, demonstra os dias “difíceis” em que a minha visão de quem eu quero ser no futuro superou o cansaço. Os olhos das abelhas estão localizados na cabeça e estes permitem-lhes visualizar coisas que outros insetos não são capazes, o que as dota de uma enorme perspicácia. No tórax, destacam-se as pernas e asas. Estas permitem a adaptação das abelhas ao meio onde circulam, possibilitando a liberdade para alcançar os seus objetivos. Também o meu desejo é alcançar o meu máximo em todos os níveis da minha vida, independentemente do que seja. Por último, no abdómen das abelhas encontram-se vários órgãos, entre eles o ferrão, que é um mecanismo de defesa. Este permite injetar veneno em potenciais ameaças. Posto isto, quais são os verdadeiros valores que a abelha operária transmite? Em primeiro lugar, encarna o poder de determinação, esforço e trabalho continuado. De facto, todos os dias, vão em busca de mais oportunidades para concluir os seus objetivos, “ferrando” as distrações que se opõem. Em segundo lugar, trabalham em equipa, com solidariedade e força operacional. Assim, PORTUGUÊS – 2020/2021
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contribuindo com o seu trabalho para a sua colmeia, a abelha operária trabalha em conjunto com as suas colegas para melhorar a sua comunidade. Por último, revela resistência, originalidade e adaptabilidade, visto que tem um corpo duro preparado para os desafios que irá encontrar e características únicas tais como os seus olhos. 5. Conclusão Passaram 18 anos e, se pensar em quem era há três anos, não me reconheceria. Era infantil, não tinha a mentalidade suficiente para um dia poder
chegar
onde
hoje
quero.
Foram as minhas relações pessoais, especialmente pais, irmã e os meus avós,
juntamente
com
vários
professores, que muitos valores e visões
me
passaram,
que
me
moldaram e me ajudaram a ser quem sou hoje. Não sendo crente em relação a destinos, tenho de me contradizer, pois o rumo da minha vida trouxe-me para uma das maiores bênçãos: os meus amigos. Finalmente, interrogo-me sobre quem serei. Não sei. Só o tempo o
dirá.
Posso
assegurar
que
irei
manter
as
minhas
motivações
que,
definitivamente, me trarão sucesso. Por último, concluo que, ao longo da vida, temos a opção entre ser um zangão ou uma operária. Eu escolhi não ser zangão. Nuno Cassiano Couto
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“Que noite serena! Que lindo luar! Que linda barquinha Bailando no mar!”
Álvaro de Campos
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Formei o meu próprio “eu”
O ciclo da vida é como o ciclo das plantas. Nascemos todos de uma semente, semente esta que é equivalente à semente que se planta no útero da nossa mãe, para um dia nascermos, e formamos todos as nossas raízes, e crescemos para um dia formarmos o nosso próprio ser. Como todos, passei por este processo e formei o meu próprio “eu”. A pergunta “quem fui?” é muito fácil de responder. Fui sempre o Yankee. Quando era mais novo, era o Yankee, o gordinho, por causa da fase onde passei por uma obesidade infantil; ou era o Yankee, o “mulatinho” com caracóis, que é o que melhor me descreve, pela forma invulgar como o meu cabelo se destaca no meio de qualquer grupo de pessoas; ou até por Yankee, o com os dentes separados, algo que nunca gostei em mim e me impediu muitas vezes de mostrar o meu sorriso devido à minha insegurança em mostrar os meus dentes. Fui mudando de estilo ao longo do meu crescimento. Comecei a andar com o cabelo preso, porque tornava a minha preparação para a escola mais fácil e cómoda. No entanto, hoje em dia são poucos os que já me viram com o cabelo amarrado. Tive uma infância preenchida com todo tipo de vivências, desde aprender da dor e sofrimento dos outros, que me fez ser grato e humilde pelo que tenho e dou, a momentos de felicidade com os que me eram e são mais próximos, o que impulsionou a minha energia e boa disposição. Devo dizer algo que me perturba bastante até hoje - o sofrimento dos outros. Sinto-me perturbado por ver pessoas tristes, sinto-me perturbado ao ver pessoas aleijadas ou pessoas a passar por qualquer tipo de dor, seja esta física ou psicológica. Isto influenciou bastante a minha personalidade, pois tenho uma necessidade de ajudar quem mais precisa, uma vez que preciso de boa disposição e boas energias ao meu redor para ser feliz.
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A pergunta “quem sou?” é mais difícil de responder. Ao meu olhar, continuo a ser o mesmo Yankee de sempre, porém cresci. Alguns dizem que a adolescência fez com que me tornasse arrogante, que parei de ser humilde e me deixei levar pelas aparências, contudo a arrogância é das coisas que mais desprezo. Não vejo piada, nem gozo na arrogância, desprezo atitudes com intenção de menosprezar as outras pessoas. Posso admitir que as aparências tiveram alguma participação na minha vida, encontrei algum interesse no mundo da moda. Encontrei um passatempo, algo que preenchesse a minha vida e me desse interesse, investi parte do meu tempo para aprender e descobrir sobre este vasto mundo cultural. Ainda assim, nunca vi interesse em me exibir aos outros, mas sei que se tornou em algo que me identifica e as pessoas usam para me descrever, por usar várias marcas de porte dispendioso. A minha relação familiar tornou-se bastante distante depois de ter entrado no colégio. Aprendi a dar valor a todas as minhas amizades mais próximas, sendo que vivo com colegas, vindos de vários cantos de Portugal e do mundo, que se tornaram
em
pessoas
que
contribuíram
para
o
meu
crescimento
e
amadurecimento, e são para mim irmãos de coração. A pergunta “quem serei?” é ainda mais difícil de responder. Não sei em quem me tornarei, pois tenho várias visões de um futuro que se poderá tornar realidade. Contudo, sempre tive a minha vida planeada,
desde
pequeno
que
quero ser engenheiro civil, não só porque o meu pai ocupa uma profissão
do
género,
mas
sim
porque vejo uma profissão que se eu chegar a exercer, poderá contribuir para o desenvolvimento do meu país de origem, Moçambique. Ainda assim, tenho aquele sonho de qualquer rapaz de 9 anos de um dia ser jogador de futebol, ou
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até de basquetebol, pois sinto que tenho um talento nato para estes desportos. Também desenvolvi um amor pelas artes marciais, onde vejo mais do que autodefesa, vejo prática de um desporto de autocontrole e muita técnica. Yankee da Silva
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“O futuro dependerá daquilo que fazemos no presente.”
Mahatma Ghandi
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A vida é uma história interminável
Realizar uma reflexão sobre nós próprios pode ser algo desagradável, principalmente quando não queremos atrever-nos a perscrutar as nossas profundezas. Contudo, penso que um breve momento de introspeção (que, na realidade, acaba de se alastrar por duas tardes) não precisa, necessariamente, de constituir uma experiência enfadonha. Vejamos,
por
onde
começar?
Talvez pelo caminho que já percorri, uma estrada repleta de acontecimentos que acabei por classificar de “bons” ou “maus” dependendo da minha vontade na altura. Não posso negar que muitas vezes me deparei com situações que me provocaram grandes aborrecimentos e me fizeram pensar que o mundo era uma miséria. No entanto, ao longo do meu curto período de vida, fui entendendo que tudo o que vivenciava era necessário para mudar a minha mentalidade e moldar a minha identidade que, até hoje, continua em constante mudança. Apesar de ter consciência de tudo isto, é-me ainda impossível não colocar rótulos nas experiências por que passo. Por outro lado, o facto de ter chegado à conclusão de que nem sempre interpretei as situações que me aconteceram da melhor forma já representa uma pequena evolução de personalidade que, no meu entender, deve ser louvada.
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Foquemo-nos no presente. O mais correto será dizer que, de momento, não consigo explicar concretamente quem sou. No fundo, acho que sou uma pessoa como muitas outras, que vagueiam pelo mundo sem um destino, à procura de um propósito. Parece bastante simples, mas na verdade é um processo imensamente vagaroso. E o mais revoltante é a minha impaciência nesta jornada que acaba por a atrapalhar ainda mais. Sei que se aproximam mudanças estrondosas e, por vezes, duvido se irei gostar delas. Assim, apodera-se de mim uma mistura de emoções lideradas pela confusão. Ter de fazer escolhas, quando nada parece claro na nossa mente, não deveria ser permitido. Não quero ser mal-interpretada. Anseio pela mudança, só não tenho a certeza se a quero de imediato. Vejo ao meu redor um grande número de pessoas que demonstram certeza e segurança nas suas decisões, enquanto eu pareço flutuar à toa, sem ideia de onde aterrar. Talvez a realidade não corresponda a este cenário, no entanto, acho por bem descrever o que perceciono. Tenho a mente repleta de sonhos, ideias e incertezas que se movem num incessante turbilhão e não consigo identificar as intuições que devo seguir. E a aproximação das decisões assusta-me um pouco. Escolher significa eliminar caminhos, temporária ou permanentemente. Enquanto não faço uma escolha, tudo é possível. Por outro lado, essa mentalidade não me serve de muito. Dir-meão: a vida é feita de escolhas. Bem sei, não escolher significa ficar imóvel. Sinceramente, não sei o que é pior. Venha o diabo e escolha. Lá está, até ele tem de escolher. Quanto ao futuro, este encontra-se encoberto, um verdadeiro mistério por desvendar. Por conseguinte, é-me impossível afirmar quem serei daqui a alguns meses, muito menos daqui a alguns anos. Posso, contudo, fazer uma breve descrição do que espero. Em primeiro lugar, espero continuar a procurar o autoconhecimento e a não temer momentos de introspeção (como este, por exemplo) que me façam observar o mundo e a mim própria de uma outra perspetiva. Espero, também, que durante a minha curta passagem pela Terra possa fazer algo com sentido e não qualquer coisa sem significado que, mais cedo ou mais tarde, ficará perdida no tempo. Espero, ainda, desenvolver a minha
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capacidade de comunicação, de forma a expressar-me sem medo ou insegurança. Espero manter sempre uma mente aberta, onde não residam preconceitos ou falsas informações, uma mente livre. E, por fim, espero nunca perder a vontade de viver. Penso ser pertinente terminar este momento reflexivo por aqui (afinal, não façamos disto um confessionário). Concluo esta pequena análise interior afirmando que a vida é uma história interminável, pelo menos por agora. Neste momento, tenho toda a vida pela frente. E creio que isso seja suficiente. Ana Sofia
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“Uma vez amei, julguei que me amariam, Mas não fui amado. Não fui amado pela única grande razão – Porque não tinha que ser.”
Alberto Caeiro
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“Marisol, agora são férias, guarda os livros!”
O passado, o presente e o futuro constituem as três fases que podem resumir a nossa vida. Nós, tal como o mundo que se encontra em constante rotação, mudamos constantemente e, ao longo
destas
crescendo
e
três
fases,
aprendendo
vamos sobre
a
preciosidade que é a vida. O passado é, provavelmente, a fase mais fácil de descrever e transmitir. Posso dizer que fui uma criança normal. É claro que fazia algumas coisas que não devia, mas esta é a beleza de ser criança. Na realidade, sei que algumas coisas foram incorretas, nomeadamente, quando pintei a parede de minha casa e achava que aqueles desenhos eram lindos, mas hoje tenho de admitir que ainda bem que a parede foi pintada, pois foi nessa altura que percebi que não poderia seguir uma carreira nas artes. Sempre sonhei com a minha entrada no ensino secundário, no entanto, esta entrada foi um bocadinho diferente do que sempre imaginei. Quando ingressei no secundário tive de mudar de colégio. Poderia dizer que foi uma fase complicada visto que, para além da adaptação ao novo ensino, teria também de me ambientar a uma nova escola. No entanto, tenho que admitir que a adaptação se tornou fácil. Os colegas, bem como todas as pessoas que trabalham no colégio, fizeram-me sentir como se estivesse a integrar uma nova família. Tive sorte em conhecer pessoas tão fabulosas e que muito me fizeram crescer enquanto pessoa. Recordo-me de vários momentos que passei! A vida é maravilhosa pela sua inconstância e acredito que estava no meu destino conhecer pessoas que me PORTUGUÊS – 2020/2021
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tinham tanto para dar. Existem palavras que recordo com muita estima e gestos que, muito possivelmente, os professores e os colegas não têm noção do bem que me fizeram. Desde um simples carinho, a um “Tem calma, Marisol!” ou quando me dizem “Marisol agora são férias, guarda os livros!”. A pandemia trouxe muita coisa má, é verdade! Contudo, o sentimento de carinho nunca faltou. O meu “eu” do presente pensa e reflete várias vezes sobre a passagem do tempo e como o quero aproveitar da melhor forma. Sinto-me triste por o meu ensino secundário estar a acabar, mas tal como Fernando Pessoa dizia “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”. Ao mesmo tempo que a nostalgia me invade, sinto uma felicidade que me rodeia e me tranquiliza por saber que se nunca tivesse passado pelo colégio nunca teria vivido o que vivi e, certamente, não teria tão boas memórias do meu secundário. Desde os risos aos choros, porque a vida muda constantemente e é esta mudança que a torna tão bela e, ao mesmo tempo, nos permite aprender. O que me poderei tornar no futuro depende de mim. De uma coisa eu tenho a certeza, estarei sempre com a minha família, com os meus colegas e nunca me esquecerei das lições e valores que me transmitiram. Também não tenho dúvidas que darei o meu melhor para me superar todos os dias e para que no dia de amanhã possa ser melhor do que no dia de hoje. Tenho a certeza de que vou sentir muitas saudades do tempo em que vestia o meu uniforme com orgulho e do tempo em que ver o professor com a típica pasta de testes me fazia borboletas na barriga. São estas fases da vida que nos fazem crescer e que nos fazem ser melhores. Na minha bagagem levo um pouco de cada uma das pessoas que passaram na minha vida até hoje e que, de alguma forma, me permitiram evoluir, que contribuíram para o meu crescimento ou que permitiram aprender algumas lições que levo para a vida. Marisol Costa
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Sou e serei sempre as minhas paixões
Uma bebé com demasiado entusiasmo. Sempre a falar com tudo e todos, tão faladora que todos no comboio já a conheciam e lhe traziam doces. Uma criança que experimentava tudo, agora futebol, amanhã pintura e depois guitarra. Uma adolescente que gostava de tudo, não só artes, música e desporto, mas também línguas e ciências. E que, por esse motivo, não sabia o que fazer no futuro. Essa era eu. Via todos à minha volta descobrirem a sua paixão e prepararem o seu futuro consoante a mesma. Várias vezes me questionei sobre a minha, mas sem resposta. Gosto de tudo, faço bem várias coisas, mas nada se destaca. Um passado marcado pela curiosidade, pela experiência, pela incerteza e pelo medo do futuro. E agora? Quem sou? No que me tornei? Como é aquele futuro, agora presente, que tanto temia há uns anos atrás? Posso, com certeza, dizer que mudei, a bebé extrovertida transformou-se numa pessoa calma e calada. A criança curiosa que experimentava tudo mantémse, mas agora pensa e pondera antes de partir para a aventura. Finalmente, a adolescente indecisa e que temia o futuro é agora uma pessoa que sabe o que quer, que é determinada e está ansiosa pelo que está por vir. Sei do que gosto, gosto de tudo. Isso não mudou, e nunca vai mudar. Mas, sei agora, que não ter uma paixão, mas sim várias, é possível, e segui-las todas também. E é aí que surge a seguinte questão: “Então, quem serei?”. O meu futuro é incerto, mas espero conseguir conciliar a minha paixão pelas línguas com a minha paixão pela descoberta e viajar pelo mundo. Espero que, durante a minha visita a PORTUGUÊS – 2020/2021
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todos os locais do globo, possa curar aqueles que precisarem através de voluntariado médico, tendo em conta o meu amor pelas ciências e por ajudar o próximo. Espero, também, ao longo do meu percurso, ser capaz de partilhar com os outros o meu gosto pelas artes, pela música e pelo desporto, fundindo-as com a
minha
paixão
por
ensinar.
Espero, por fim, conseguir aliar a minha paixão por criar a todas as outras. Podia falar daquilo que sou. Sou uma amiga, uma filha, uma irmã, uma pessoa que não fala muito… Mas decidi falar da minha paixão, porque, após alguma reflexão, concluí que é isso que me define. A minha personalidade, o meu comportamento, a maneira como tomo decisões e tudo o resto são consequências da busca por aquilo de que gosto e pelo meu lugar no mundo. Por isso mesmo, vista pelo meu olhar, eu fui, sou e serei sempre as minhas paixões. Nadine Romeira
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Os meus sonhos sempre foram grandes demais para o meu tamanho
Quem fui, quem sou e quem serei são as questões que vêm à superfície quando decidimos falar de nós próprios. Eu, Marcos Aurélio, sou o mesmo de há quase 19 anos, nasci e cresci sendo um menino muito determinado e sonhador. Os meus sonhos sempre foram grandes demais para o meu tamanho (físico), porém nenhuma dessas supostas “adversidades” ou “irregularidades” alguma vez me impediram ou impedirão de alcançar aquilo que almejo desde pequeno. Nasci
em
Angola
e
foi
graças
à
belíssima educação dada pelos meus pais, irmãos e professores que hoje tenho essa mente poderosa e, acima de tudo, focada nos seus objetivos. Cresci valorizando sempre os valores morais e cívicos, os estudos, porque estes garantem um futuro sustentável e claro, com a prática desportiva sempre próxima de mim. Sou alegre e tenho um sentido de humor quase perfeito, só não é perfeito porque a perfeição não existe. Tive todas as bases que poderia ter durante a minha infância, desde a creche ao ensino secundário. Durante todo o processo surgiram alguns altos e baixos. É normal que, ao longo de 19 anos, surjam situações mais complexas, mas devemos recolher as pedras do caminho e construir uma ponte para o sucesso, é assim que eu penso. PORTUGUÊS – 2020/2021
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Hoje, sou um homem com 18 anos e uns tantos meses que corre atrás do sonho de infância, sempre determinado e focado naquilo que são as suas aspirações para o futuro. Acima de tudo quero agradecer a Deus, por me ter acompanhado até nas horas mais difíceis dessa luta que se chama “vida”, depois aos meus pais por se fazerem presentes apesar de toda a distância, sim distância. Distância porque vivo sozinho no estrangeiro desde os meus 16 anos e fui obrigado a crescer muito em tão pouco tempo e orgulho-me disso. Toda a aprendizagem é e será sempre bem-vinda. Quem serei? Isso só o tempo dirá, mas com base naquilo que almejo e tenho a certeza de que conquistarei. Creio que serei uma pessoa acima de tudo feliz, realizada, saudável, com muito sucesso e o mais importante, perto da família. Marcos Aurélio
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Espontânea, teimosa e impaciente
Demorei muito tempo para perceber como iria abordar este tema, já que é mais fácil falar dos outros do que de nós próprios. Então, comecei por pedir às pessoas da minha família que
me
dessem
três
adjetivos
que
me
caracterizam como sou e como era. As palavras que surgiram com mais frequência foram: espontânea,
teimosa
e
impaciente.
Assim,
concluo que sempre fui fiel a mim mesma e nunca tentei mudar para me enquadrar seja onde for ou para agradar seja a quem for. Quem fui? Todos nós já passamos, de uma forma ou de outra, por momentos maus, mas isso faz parte do nosso percurso na Terra. Muitas vezes dou por mim a pensar que podia ter feito as coisas de outra maneira. O que é certo é que não podemos mudar aquilo que já passou, mas sim fazer os possíveis para que não voltemos a reproduzir os mesmos erros. Quando olho para o passado, sinto me grata por todas as lições que ele me ensinou. Quem sou? Hoje, sou quem sou graças ao que aprendi no passado. Sinto me orgulhosa da pessoa que me tornei. É muito bonito recordar o passado e idealizar o futuro, mas o que realmente importa é agirmos agora, é por isso que vivo o presente de forma intensa e real, como se todos os dias fossem o meu último dia neste mundo. Quem serei? Pensar no que virá é um exercício muito arriscado e muitas vezes frustrante por não ser aquilo que pretendia, mas sou uma pessoa que adora sonhar e por isso não consigo resistir à tentação de imaginar o que quero que aconteça. PORTUGUÊS – 2020/2021
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Eu tenho noção que não sabemos o que o futuro nos reserva, mas, como disse há pouco, gosto sempre de sonhar com ele. Estou plenamente de acordo com uma frase que de Mahatma Gandhi - “O futuro dependerá daquilo que fazemos no presente", por isso, sempre que tomo uma decisão, penso sempre de que forma esta vai influenciar o que está para vir. Esta maneira de pensar permiteme, de certa forma, ter algum controlo, porque apesar de ter passado por muitos obstáculos inesperados, ainda não lido muito bem com o imprevisível. De maneira geral, estou satisfeita com o que a vida me deu até agora, tanto os momentos maus, que contribuíram para o meu amadurecimento, como os momentos bons, que me permitiram perceber o que realmente me faz feliz. Vou continuar a traçar o meu caminho com coragem e sem medo do que possa acontecer e fazer de tudo para eu ser feliz, assim como as pessoas que estão à minha volta. Beatriz Pinto
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Eu sou o que sou
Eu, vista pelo meu olhar. Não é um tema simples, sendo que o próprio ser humano de simples não tem nada. Ao estudarmos psicologia conseguimos ter uma pequena noção do que nos faz tão diferentes uns dos outros, não sendo apenas o aspeto físico. Apesar de ser algo que em mim desperta um enorme interesse, raramente ou nunca pensei neste assunto relativamente a mim própria. É sempre mais fácil olharmos para os outros do que nos focarmos em nós mesmos. Acho que isso é uma das minhas características. Refletindo neste assunto, quem fui, aquilo que passei e o que aprendi, fazem de mim a pessoa que sou hoje e não podia estar mais orgulhosa. Para ter uma ideia daquilo que transmito aos outros pedi a alguns membros da minha família e amigos, três adjetivos que, ao olhar deles, me descrevam como pessoa. Recebi adjetivos como madura, resiliente, teimosa, meiga, responsável, perfecionista, extrovertida, diligente, lutadora, insegura, feliz, forte, inspiradora e divertida. São pessoas que, por norma, convivem comigo diariamente, que sabem como reajo perante determinadas situações e quem estou a demonstrar realmente aquilo que sinto. Não gosto de revelar a minha faceta mais vulnerável. Dessa maneira, evito expor-me, com esforço para me manter bem e fazer com que aqueles à minha volta sintam o mesmo. Desde muito nova que consigo transmitir alegria a quem comigo está. A única menina depois de três, fui Gonçalo até nascer. Não fui planeada, mas extremamente amada e desejada. Era uma criança, inocente, ignorante e por PORTUGUÊS – 2020/2021
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consequência, feliz. Isto não significa que não sou feliz atualmente, mas no meu interior consigo identificar como sendo um sentimento que apesar de manter o mesmo nome, é distinto. Cresci, passei por situações extremas, tanto felizes como tristes e abri os olhos para esta minha passagem que é a vida, que é o ser humano, que sou eu. E quem sou eu? Outra pergunta que faz estremecer o chão ao pensar. Acho que não há melhor resposta do que: “Eu sou o que sou”, sou aquilo que a vida me proporcionou ser, sem deixar de estar consciente sobre ela e sobre as minhas próprias decisões. Vivo numa dualidade, entre o que posso fazer e o que as pessoas querem ou esperam que eu faça. Coloco muita pressão em todo o tipo de escolhas ao ponto de chegar mesmo à rutura. Não levo nada de ânimo leve mas apenas no que toca a mim. Sinto que não vivo realmente, sou uma sobrevivente, uma espécie de peça num jogo. Tudo o que fazemos no agora vai repercutir-se no dia de amanhã, no futuro que esperamos vir a ter. Mas a vida não é feita sozinha, é feita com relações de todo o tipo que nos dão conforto, força e vontade de ser mais e melhor. E é isso que espero levar para o futuro. O futuro, ao contrário do passado, será composto de momentos que ainda não usufruí e sobre os quais apenas posso divagar. Podem ser daqui a cinco anos ou até daqui a 5 minutos. Vão acontecer mais depressa ou mais devagar. É algo muito incerto e que apesar de grandes
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expectativas, nunca temos controlo total. Nada é garantido, mas não vou deixar de ser sonhadora. Para o meu eu do futuro tenho apenas um objetivo, ser feliz até com as coisas mais simples e acima de tudo possuir “serenidade para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar as que eu posso e sabedoria para distinguir umas das outras”. Eu sou a Catarina e isto é apenas um capítulo daquilo que vai ser a minha história. Catarina Pinto
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“Sim, sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo, Espécie de acessório ou sobresselente próprio, (…) Sou eu aqui em mim, sou eu.”
Álvaro de Campos
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“Eu sou do tamanho do que vejo E não, do tamanho da minha altura”
10 agosto de 2003. Um dia como todos os outros. Excetuando o simples facto de ser o dia do meu nascimento. Era pequena, frágil e delicada aos olhos dos meus pais e “uma bebé normal” na visão da restante família. Cresci em Vila Nova de Gaia, mais concretamente em Avintes, com os meus pais, irmã, avós e amigos chegados. Hoje, 2021 estou prestes a terminar o ensino secundário e foi-me lançado o desafio de falar sobre mim. Mas, quem fui eu? Quem sou? E quem serei? Recuemos a 2009, ano em que iniciei a escolaridade no Colégio do Sardão e que, sem dúvida, me marcou para a vida. Foi o primeiro contacto que tive com pessoas para além da minha família, onde aprendi a ler, a escrever, a contar e desenvolvi tantas outras capacidades imprescindíveis para a vida adulta. Anos mais tarde, entrei no Colégio Internato dos Carvalhos, onde alguma da minha família tinha estudado. Foram oito anos particularmente relevantes, marcados pelas mais diversas emoções possíveis à face da terra. Foi, com toda a certeza, a minha segunda casa e definiu o meu “eu” do passado. Uma menina pequenina, genuína, doce, humana, empenhada e responsável, mas também inocente, ingénua e desnorteada.
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Atualmente, já pouco me pareço com a Mafalda do passado. Foi uma mudança que decorreu ao longo dos anos, mas que teve particular destaque neste último. Em março de 2020, o mundo deparou-se com uma pandemia. Tudo mudou e eu, como adolescente inconstante, revoltada, com muitas emoções à mistura e presa em casa, também. A vida, por si só, é repleta de imprevisibilidades, mas são estes os obstáculos que definem quem somos. Aprendi a gostar de passar tempo sozinha, ganhei novos hábitos, mudei de casa, conheci novas pessoas e descobri novas paixões. Foi, portanto, um processo de aprendizagem extremamente fundamental para a mulher em que me estou a tornar. Neste momento, considero-me muito mais determinada, ambiciosa, persistente, independente e resiliente e só o sou devido a todas estas experiências. Contudo, estas qualidades, por vezes, também se convertem em defeitos. Quando quero muito atingir um objetivo, não desisto até o conseguir, principalmente quando reconheço que tenho capacidades para tal. Deste modo, são muitas as ocasiões onde a pressão que coloco sobre mim mesma me impede de ser bem-sucedida, obrigando-me a lidar com situações de ansiedade e desilusão sem qualquer necessidade. Além disso, não sou pessoa de demonstrar muito afeto, mas, contrariamente, mostro demasiadas emoções. Quando não gosto de alguma coisa ou de alguém, não o consigo esconder. Porém, quando acontece o inverso, fecho-me, sendo, por vezes, até um pouco fria. Algo que aprendi nos últimos tempos é que tudo pode mudar numa questão de segundos. Algo que, para alguém ansioso que gosta de ter tudo sob controlo, é um verdadeiro pesadelo. Lidar com estas adversidades de última hora têm sido um verdadeiro desafio e o processo de aprender a resolvê-las tem sido lento, mas valioso. Acredito que, num futuro, talvez próximo, consiga finalmente terminar esta adaptação muito mais segura de mim mesma e das minhas capacidades. Por isto mesmo, tenho tentado fazer o mínimo de planos possíveis relativamente ao futuro. No entanto, por um lado, tenho determinados objetivos que pretendo alcançar, como entrar na faculdade, viajar, fazer voluntariado, entre outros. Por outro lado, tenciono continuar a desenvolver a melhor versão de mim mesma diariamente. Focar-me ainda mais em mim e nos meus objetivos, mas sabendo sempre partilhá-los com aqueles de que mais gosto e que mais gostam PORTUGUÊS – 2020/2021
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de mim. Aprender a gerir sentimentos e a saber demonstrá-los. Continuar a seguir os meus exemplos, com os quais tenho a sorte de conviver diariamente: a minha mãe que é o sinónimo de dedicação, afeto e coragem e o meu pai de resiliência, determinação e perseverança. No fundo, sou uma menina simples, verdadeira, com muito para oferecer e ainda com muito por descobrir. Não sei ao certo quem me irei tornar no futuro, mas, com toda a certeza, posso afirmar que será alguém humilde, sempre pronto a ajudar o outro, com objetivos bem definidos e determinada a alcançá-los, aproveitando a vida ao máximo. E, sem nunca esquecer que todos os sonhos são possíveis de serem concretizados até porque “Eu sou do tamanho do que vejo / E não, do tamanho da minha altura” (Alberto Caeiro, in “O Guardador de
Rebanhos” – poema VII). Mafalda Osório
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“Sabemos muito mais do que julgamos, podemos muito mais do que imaginamos.”
José Saramago
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A minha jornada no mundo está apenas a começar
Enquanto
um
rapaz
de
apenas 17 anos, sei que ainda tenho muito para viver, a minha jornada no mundo está apenas a começar, no entanto sinto que estou num bom caminho para realizar tudo aquilo que me foi destinado e não tenho nenhum arrependimento de seja o que for que fiz e já passei. Desde cedo ganhei um gosto tremendo por viajar, conhecer novas culturas e expandir os meus horizontes de formas que nunca imaginava que fossem possíveis. Considero, sem dúvida alguma, que sempre fui uma criança privilegiada, devido a todos os momentos e experiências que passei na minha infância. Sempre tive uma mãe presente que até aos meus cinco anos brincava todos os dias comigo e me ensinava tudo o que podia sobre história e literatura. Apesar de não ter ficado fascinado por essas áreas, ainda hoje me lembro de todas os momentos que ela passou a ensinar-me a história de Portugal e a ler-me livros. Sempre tive o sonho de me tornar numa pessoa bem-sucedida, no que quer que fosse, e esperava que fosse no futebol a jogar pelo Futebol Clube do Porto, mas rapidamente, ao crescer, percebi que talvez isso não fosse para mim. Uma pessoa que sempre admirei e posso chamar de meu herói é o meu pai, lembrome de ter apenas cinco anos e correr quilómetros e quilómetros atrás dele nas feiras chinesas, alemãs, francesas, por todo o mundo e foi aí que percebi que um PORTUGUÊS – 2020/2021
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dia gostaria de ser como ele. E é isso que estou a fazer hoje, não quero ser igual ao meu pai, nem segui-lo em tudo o que fez, pretendo criar o meu próprio trajeto e alcançar todos os meus objetivos de forma a poder ser o melhor “eu” possível, não só em termos de negócios, mas também pessoais e mentais pois, para mim, sucesso não são apenas números, ser bem sucedido é ser feliz, estar em paz comigo mesmo e com aquilo que faço, tomar responsabilidade pelas minhas ações tanto boas como más e saber ultrapassar todos os obstáculos que possam ser atirados na minha direção. Neste momento, acredito que ainda sou algo ingénuo ao tentar perceber quem sou e o porquê de estar onde estou. Ainda vou cometer muitos erros, assim como já fiz no passado, mas há uma coisa que aprendi até hoje, nunca virar costas a quem me ajudou, a quem me fez quem sou e me apoia quando mais preciso, sejam amigos, família e também o colégio, tanto dos Carvalhos como Claret. Estes tiveram um grande impacto na pessoa que sou hoje e na pessoa em que me tornei, foi aqui onde mais cresci e mais aprendi sobre a vida, onde tive os momentos mais altos e baixos da minha ainda curta história. O mundo é um local misterioso, nunca se sabe o que pode acontecer, tenho grandes planos para o futuro, tenho esperança em me tornar verdadeiramente bem sucedido em todos os sentidos, mas sei que isso não acontece de um dia para o outro, no entanto acredito que tudo acontece por uma razão e que tudo o que fazemos tem consequências. Se quero fazer tudo o que tenho planeado preciso de trabalhar, sacrificar e acima de tudo ajudar, pois ao ajudar os outros também me ajudo a mim mesmo. Não posso dizer exatamente aquilo que estarei a fazer no futuro, pois tudo pode mudar. Hoje planeio ter e liderar a minha própria empresa, porém um dia poderei estar a fazer completamente o contrário, mas acredito que o que quer que faça irei tirar o maior proveito da situação e dar sempre o meu melhor. Nuno Andrade
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Impossibilidade de ser inconsciente e ter consciência disso
Se não fizermos nada, e deixarmos que o tempo e os outros nos arrastem para frente, não podemos, de forma alguma, ficar satisfeitos com a nossa passagem na Terra. Temos de ser intencionais e escolher, pois, se tudo contribui para nos definir (desde o que dizemos àquilo que escolhemos guardar), melhor é sermos autênticos e implicarmo-nos em todas as decisões da nossa existência. Assim, poderemos construir quem somos, em lugar de nos deixarmos apenas moldar pelo vento e pelas ondas do mar que se cruzam connosco. Neste sentido, acredito profundamente que a melhor forma de percorrermos caminho na direção que acreditamos ser mais acertada, é escolher, principalmente as pessoas e os ambientes que nos rodeiam. Estes têm, inevitavelmente, um peso enorme na pessoa que somos e, sabendo isso, é crucial envolvermo-nos de quem nos ajuda a crescer, e que podemos tomar como exemplo. Quando somos mais pequenos, os nossos pais detêm um poder inquestionável nestas decisões, e, apesar de não ser a regra, devemos acreditar que procuram o melhor que nos podem dar. Ao olhar para trás, posso confirmar que, ao longo da minha infância, tive a oportunidade de crescer em “terreno fértil”, ou seja, em lugares transformadores, frequentados por pessoas inspiradoras, ricas em valores e pobres no que é fútil e desnecessário. Recordo-me, por exemplo, do olhar
meigo
das
minhas
educadoras,
da
imponência
das
árvores
que
aconchegavam a primeira escola onde andei, das cores da sala onde aprendi a ler – todos os mais singelos pormenores que influenciam, hoje, tanto a forma como encaro a natureza, como a curiosidade com que abro um novo livro! Efetivamente, acredito que aquilo que vamos vivendo tem um papel incalculável na construção dos mais finos traços da nossa personalidade, dada a forma como condicionam a visão que temos do mundo e, assim, ao falar de mim, tenho de recordar a paciência da D. Fernanda que acompanhou os meus primeiros passos, a primeira PORTUGUÊS – 2020/2021
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vez que andei de bicicleta, as tardes quentes no quintal dos avós que terminavam, invariavelmente, com um lanche preparado pelo avô e as “peguilhices” com o meu irmão, cujo aniversário, curiosamente, todos os anos coincide com o meu! Quando fui para o quinto ano, deixei uma escola onde fui muito feliz e de onde trouxe muitas recordações, às quais depois juntei dezenas de boas memórias no colégio, como as horas de almoço do terceiro ciclo, por exemplo. Houve, também, momentos menos bons, como aqueles em que me senti posta em causa, pela primeira vez e para os quais, olho, agora, de forma construtiva, pois considero que foram alguns dos saltos que eu precisava para crescer e para descobrir a importância de aprendermos a conviver com os outros, ainda que não estejamos sempre de acordo. Ainda no colégio, guardo alguns momentos com particular saudade, como é o caso da participação no encontro Claretiano em Fátima, no secundário, e das festas de Natal e de fim de ano, nos quais sempre fiz questão de participar, revelando, assim, a iniciativa que penso sempre ter feito parte de mim! Além disso, tenho um especial carinho por algumas das pessoas com quem tive o privilégio de me cruzar, no colégio ou fora dele, e que,
garantidamente,
sempre saudade.
deixarão
Nessas alturas,
penso na frase de Antoine de SaintExupéry,
num
dos
livros
que
marcou, também, a minha infância – “Aqueles que passam por nós não vão
sós,
não
nos
deixam
sós.
Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”, e sinto-me grata ao imaginar
que
trago
comigo
um
bocadinho de cada uma dessas pessoas.
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Olhando, então, para trás, encontro uma Ana, alegre, faladora, bemdisposta, com uma enorme determinação e teimosia em igual dose! Atualmente, penso que preservo, ainda, essas características sentido, no entanto, que a alegria de hoje já não é tão espontânea. Ao crescer, ganhamos consciência da complexidade do mundo – os problemas ganham outra dimensão e torna-se mais difícil descentrarmo-nos deles. Na verdade, encontrei em Fernando Pessoa a imagem que melhor traduz esta inquietação, uma vez que, em certa parte, identifico-me com o dilema que ele vive com a impossibilidade de ser inconsciente e ter consciência disso. Desta forma, apesar de muito feliz, sinto que, hoje, é mais difícil deixar-me preencher por uma felicidade tão simples e inocente, como, agora, tenho consciência que acontecia quando era pequena. Hoje, sou uma rapariga mais desperta para as questões ambientais, tentando ser agente de mudança e incentivar os outros a mudar também, de forma a conseguirmos reverter a situação em que nos encontramos. Esta preocupação com o ambiente obriga-me a convocar todo o meu otimismo, pois penso que é a melhor forma de não me deixar desanimar perante algum egoísmo que encontro à volta deste tema. Além disso, sempre fui muito indecisa, característica acentuada, agora, com a necessidade de escolher um curso no ensino superior. Na verdade, penso que esta dificuldade advém da noção de que atravesso uma fase de descoberta e que, por isso, a cada dia que passa, aprofundo cada uma das dimensões que me caracterizam – descubro novos gostos, novos obstáculos e novos sonhos. Ainda nesta lógica, constato que sou uma pessoa racional, mas que também valorizo a nossa dimensão emocional, que nos torna diferentes uns dos outros e menos frios. Olhando para o futuro, vejo a Ana em que me quero tornar - alegre, positiva, resiliente, capaz de pôr as contrariedades no seu lugar e de nunca se esquecer de sorrir! Vejo uma Ana que continua a encontrar na natureza uma enorme liberdade e a apreciar a paz quer do mar, quer das montanhas. Vejo uma Ana feliz por ter a sua horta e por ir de bicicleta para o trabalho; por poder ler um bom livro ao sol e fotografar cidades e paisagens novas. A Ana que vejo procura, ao jeito de Saramago, “não te[r] pressa, mas não per[der] tempo”, continuando, ainda, a lutar por fazer do mundo um lugar mais justo e florido e menos hostil. Assim, PORTUGUÊS – 2020/2021
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sei que há muito de vago no futuro que vejo, mas reconheço nele um pouco daquilo que acho mais importante, sabendo que ainda está ao meu alcance cultivar quem quero ser. Por fim, retomando a ideia inicial, vejo a vontade de escolher e investir o meu tempo de forma intencional e enriquecedora e de certa forma, começando já hoje, dar-me por completo a tudo aquilo que me propuser, seguindo, assim, o conselho que nos dá Ricardo Reis nos dos seus poemas que mais gosto – “Para ser grande, sê inteiro: nada/ teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. / Assim em cada lago a lua toda / Brilha, porque alta vive.” Ana Margarida Monteiro
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Pretendo ser fiel a quem sou
Quem fui? Quando era criança, o meu sorriso era tímido e tinha sonhos no olhar. Era uma menina astuta e inquisitiva, sempre atenta a tudo aquilo que se passava ao meu redor. A minha infância foi vivida com muitas peripécias boas e outras menos boas, mas, acima de tudo, foi uma época muito feliz e plena. O colégio era o espaço da descoberta, uma autêntica segunda casa que me recebia de braços abertos e me ajudava a crescer. Foi lá que conheci algumas das pessoas mais importantes da minha vida e onde passei momentos muito felizes, que guardo na minha memória com todo o carinho. Acredito que todos os meus longos anos passados no colégio moldaram a minha personalidade e potenciaram as minhas qualidades e competências. Quem sou? “Concentra-te, e serás sereno e forte” - Ricardo Reis No presente, embora seja uma jovem algo contida ao nível emocional, sei que, sobretudo nesta idade, devo aproveitar as oportunidades para experimentar novas vivências. Este é o tempo ideal para fugir da mesma rotina do dia-a-dia e aproveitar todos os segundos de cada minuto da melhor forma possível. Gosto, no entanto, de definir metas e de me superar todos os dias. Sou sempre muito consciente do meu caminho e dos árduos percursos diários que enfrento.
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Sempre revelei um grande interesse pelo abstrato e pela parte mais filosófica da vida. A perspicácia da minha meninice ainda persiste e, por isso, procuro estar atenta a pormenores e subtilezas que, muitas das vezes, passam despercebidos aos outros. Dou por mim a indagar com muita tenacidade o porquê de certas coisas. Se me pudesse descrever em poucas palavras, seria dedicada, perseverante, discreta e organizada. A consistência tem um papel importantíssimo na minha vida. Acredito que ser dedicado ajuda a empregar nas pessoas uma boa ética de trabalho, algo indispensável. Quem serei? “O segredo da mudança é o foco não na luta contra o velho, mas na construção do novo” - Sócrates O futuro é ainda uma incógnita. Os dias do ensino secundário estão a chegar ao fim e encontro-me prestes a terminar um ciclo que outrora parecia muito distante. Com a aproximação da entrada na faculdade, aspiro tornar-me na minha melhor versão. Pretendo ser fiel a quem sou e ao que acredito porque, independentemente dos custos, nunca é alto o preço a pagar pelo privilégio de nos pertencermos a nós mesmos. As perguntas para as quais não tenho respostas, eventualmente, virão até mim e tudo fará sentido. Os dias maus serão apenas a demonstração de que dias melhores virão. Matilde Ramos
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Porque a vida é assim, imprevisível!
Olá, o meu nome é Sofia, tenho 17 anos e pretendo apresentar uma reflexão pessoal sobre o tema «Eu, vista pelo meu olhar!». Bem,
sendo
que
venho redigir um texto sobre mim e a minha história,
penso
que
a
melhor forma de o fazer é começando
pelo
meu
passado. Nasci no dia 20 de agosto do ano de 2003, no Porto, pelas nove horas da manhã. Naturalmente, não me lembro de nada desta fase da minha vida, mas pelo que me dizem era uma bebé sossegada e sorridente.
Desde
o
meu
nascimento até aos meus três anos de idade, passei muito tempo em casa dos meus avós maternos, onde pude ter experiências que certamente me permitiram ser quem sou hoje. Efetivamente, o contacto com a natureza e com animais são algumas das minhas atuais paixões. No verão de 2006, mudei de casa e fui viver para Lisboa, a terra natal do meu pai. Este foi, sem dúvida, um ano de grande mudança para mim: mudei de casa, de cidade, deixei os meus familiares do lado materno para trás, tive a oportunidade de conhecer melhor o meu lado paterno da família e entrei para a escola. Foi na minha primeira escola, Os Bobocas, que aprendi a escrever o meu nome e a fazer as minhas primeiras amizades. Também foi nesse ano que fui pela PORTUGUÊS – 2020/2021
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primeira vez para a natação, desporto que ainda fiz durante bastante tempo. Durante estes três anos do jardim de infância, percebi a importância da família para mim, que mesmo estando tão distante, esteve sempre presente no meu coração. Continuando o meu percurso, até aos meus seis anos vivi em cinco casas diferentes, mas não pensem que fiquei por aqui! Foi nesta altura que a minha mãe engravidou da minha irmã, Diana, e voltámos para o nosso querido Porto. Devo dizer que, apesar de toda a felicidade que vivia nesta altura, estes foram uns tempos complicados para mim. Já era mais crescida e toda esta mudança me afetou. De repente, voltei a mudar de casa, de cidade, de escola, deixei os meus amigos e familiares do lado paterno para trás e tudo isto com a novidade de ter que partilhar tudo com uma recém-nascida. Entrei para a escola onde fiz o primeiro ciclo, Jardim Escola João de Deus, mas desta vez não estava totalmente sozinha, a minha prima Ana estava na mesma turma que eu (e desde aí permanecemos juntas), o que me ajudou bastante a integrar. Estes foram, sem dúvida, anos marcantes para mim e devo a esta escola muito do que sou hoje. Foi nesta altura que a minha vida começou a estabilizar. Finalmente, quando tinha dez anos, entrei no Colégio Internato dos Carvalhos, mais uma vez, um sítio bastante marcante para mim, onde fiz amizades que vou levar para a vida, ganhei maturidade e, de forma mais geral, o lugar onde passei os últimos anos da minha infância e grande parte da adolescência. Durante os oito anos que estive neste colégio, foi-me proporcionada muita aprendizagem, sendo apenas uma pequena parte dela a nível escolar. Em paralelo com a escola, durante este período de tempo, continuei na natação até por volta do ano de 2014 e, mais tarde, entrei na patinagem artística, uma experiência que nunca irei esquecer. Passei grande parte de todas as minhas férias de verão em casa dos meus avós maternos, juntamente com os meus primos, onde criei algumas das minhas melhores memórias de infância e adotei dois animais de estimação, uma cadela e um gato, que atualmente são parte da minha família. PORTUGUÊS – 2020/2021
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E assim chegamos ao presente! Nos dias de hoje, vejo muito do meu passado refletido no meu dia a dia, daí achar tão importante fazer referência aos momentos que foram mais marcantes na minha vida, pois foram eles que me tornaram exatamente quem sou hoje. Atualmente, a natureza transmite-me tranquilidade, pelo que uma das minhas atividades favoritas é acampar, algo que faço desde sempre. Considero-me uma pessoa simpática, afetuosa e, apesar de ser bastante envergonhada, depois de ter uma relação mais próxima com as pessoas consigo mostrar mais de mim. Relativamente ao meu futuro, este ano, se tudo correr como planeado, vou entrar no ensino superior, para o curso de Design de Interiores. Devo admitir que não tenho muito mais para além disto perspetivado (na verdade nunca tive), mas uma coisa eu sei: espero ter muito sucesso a nível pessoal e profissional, sentirme concretizada e feliz com a minha situação, seja ela qual for e, acima de tudo, espero conseguir ter a capacidade de aproveitar e valorizar cada momento, de forma a retirar dele aprendizagens que me permitam crescer enquanto pessoa, nunca deixando que os valores em que acredito sejam negligenciados. Assim, considero-me uma pessoa um pouco nostálgica, apesar de não gostar de viver colada ao passado, pois sinto que todas as experiências de vida pelas quais passei fizeram com que a Sofia de um ano se tornasse na Sofia de agora. No entanto, acho que um dos meus lemas de vida é viver no presente, pois por muito que pensemos no passado, ele não passa de memórias e nada podemos fazer para o alterar e por mais que perspetivemos o futuro, nunca vai correr exatamente como o planeamos, porque a vida é assim, imprevisível! Sofia Ferreira
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“Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo.”
Ricardo Reis
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Tenho os olhos postos na melhor versão de mim que está para vir
Desde muito nova que me habituei a mudar de casa em casa, de cidade em cidade e quase de vida. Para mim, lar sempre foi, por isso, sobre um grupo de pessoas e nunca sobre um local específico. Tive
uma
infância
muito
normal, eu diria, porém, fui ao mesmo tempo, durante essa época, uma criança muito feliz. Nasci no Porto e fui, passado pouco tempo, para Lisboa, cidade pela qual até ao dia
de
hoje
tenho
um
enorme
carinho. Passados uns anos mudeime para o Norte do país e desde então que aqui vivo, na belíssima terra que é o Porto. A realidade é que responder à questão “Quem fui, quem sou e quem serei?” tem muito que se lhe diga, porém considero inevitável ser abordada a temática da mudança e da passagem do tempo. A mudança é inerente ao ser humano e fundamental para a evolução da sociedade. Aliás, como Buda uma vez disse, “Nas nossas vidas, a mudança é inevitável. A felicidade reside na nossa adaptabilidade em sobreviver a tudo o que é mau”.
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Deste modo, assim como a realidade que me rodeia hoje é diferente da que vivenciei em tempos passados, também seguramente a que irei, futuramente, vivenciar será distinta da dos dias de hoje. Quem eu uma vez fui, quem eu sou e quem um dia serei são três pessoas diferentes, contudo semelhantes, dado que levo comigo os mesmos valores de sempre e mantenho muitas das minhas perspetivas sobre a vida. A dança, por exemplo, é uma das minhas grandes paixões que me acompanha desde que me lembro. Já não sei referir o ano específico que comecei a dançar, apenas que desde então esse gosto nunca saiu de mim. O mesmo acontece com a música. Ouvir música diariamente sempre foi algo terapêutico para mim, sempre serviu como uma escapatória, ainda que por meros momentos, de todos os problemas ao meu redor. Deste modo, todas os momentos que vivenciei até à data, bons e menos bons, tiveram de algum modo impacto na pessoa que sou hoje. Exemplo disso é a minha experiência no Colégio Internato Claret. Entrei para o colégio em 2013 e como tal, são inúmeras as memórias que aqui fiz e que levo comigo. Durante estes oito anos, o colégio permitiu-me conhecer inúmeras pessoas e construir amizades que hoje já não vivo sem. É verdade que nem tudo foi perfeito mas acredito que as experiências menos positivas me fizeram crescer e me deram força para enfrentar tudo o que a vida me trará daqui para a frente. Em termos de vivências, durante os anos que aqui estudei, é também inevitável falar da pandemia que se está a viver no momento e que veio condicionar a vida de todos nós. Em tão pouco, a COVID-19 exigiu de nós, humanidade, toda uma nova adaptação da nossa forma de viver. Para além disso, tratando-se o décimo segundo ano de um ano tipicamente stressante e exigente só por si mesmo, acrescentar ainda uma pandemia pelo meio e tudo o que esta implica, foi sem dúvida um desafio. Sendo eu uma das dezenas de milhões de pessoas que foram contagiadas com este vírus, posso com certeza admitir que foi uma experiência extremamente
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desafiante vivenciar tudo aquilo num ano tão crucial das nossas vidas como o que estamos a terminar. Porém, acredito que é com a cabeça erguida que se deve encarar a vida e como se costuma dizer, “o que não nos mata, torna-nos mais fortes”. Nos dias de hoje, considero-me uma pessoa ambiciosa. Assim como qualquer outro adolescente, também eu “tenho em mim todos os sonhos do mundo”, o que leva a, por vezes, ser um pouco exigente de mais comigo mesma. A vida no momento está longe de ser perfeita, no entanto, mesmo com todas as complicações, considero-me uma pessoa muito feliz e realizada. Continuo impaciente e teimosa, como sempre fui, mas confesso que isso é algo que tenho vindo a trabalhar em mim. Adoro viajar, apesar de ser algo que no momento atual não é tão viável quanto em tempos foi. Adoro o verão e os jantares fora nas noites de mais calor. Adoro passar tempo com quem é mais importante para mim, organizar jantaradas com os meus amigos e estar horas à mesa a conversar. Adoro a vida, ou pelo menos, o que esta representa para mim. Atualmente não temo a mudança pois acredito na importância da mesma. Quanto ao futuro, creio que só o tempo ditará o rumo que certas coisas tomarão na minha vida. Muitas partes são incertas, porém planeio permanecer ambiciosa, como até à data sempre fui e sonhadora, sempre em busca de algo mais. Gostaria de voltar a ter a possibilidade de viajar pelo mundo fora. Gostaria de ter a experiência de viver fora do país, nem que por pouco tempo e de, um dia, lá no futuro, construir a minha própria família. Lá no fundo, para o futuro, pretendo ser simplesmente, nada mais, nada menos, do que genuinamente feliz. Assim, apesar de me orgulhar da pessoa que sou hoje, tenho os olhos postos no futuro e na melhor versão de mim que está para vir. Como Fernando Pessoa uma vez disse, também eu “Sou, por índole, e no sentido direto da palavra, futurista”. Catarina Alves
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“Às vezes ouço passar o vento, e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.”
Fernando Pessoa
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O importante é daqui para a frente
No Passado fui um miúdo apaixonado, despreocupado, feliz e bastante baixinho. Tinha uma paixão desmedida por desporto, jogos e escola. Foi no colégio onde as minhas amizades nasceram, cresceram e continuam até hoje. Desde todos os intervalos a correr para o campo de futebol, ou a corrida para ver quem chegava primeiro à cantina, tudo isso fez-me crescer com um sorriso nos lábios. Foi a praticar Ténis no colégio que me tornei quem sou, comecei antes de ingressar no quinto ano e já passaram treze anos... Sair a correr das aulas entusiasmado com o treino que ia ter em cinco minutos, equipar-me e esquecerme de apertar os cordões para não correr uma volta a mais, ver o pôr-do-sol enquanto o suor me escorria pela pele. São estas recordações que no momento eram apenas mais um dia como qualquer outro, mas agora, olhando para trás, não consigo ignorar as saudades que sinto. Da simplicidade, tranquilidade, despreocupação com que tudo acontecia. Como Fernando Pessoa dizia “Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já não o tenho.”
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No
Presente sou
incontrolavelmente pessimista,
continuo
baixinho,
verdadeiro, sincero, honesto, feliz e extremamente sortudo ao olhar para trás. Ao longo dos anos apercebo-me que sempre tive uma obsessão por desportos individuais, no passado Ténis, no presente Xadrez. É o meu novo melhor amigo, quando quero escapar de todas as minhas preocupações, é este jogo com apenas 64 pequenos quadradinhos que consegue tirar todo o peso dos meus ombros, seja cansaço ou preocupação. Neste preciso momento, pergunto-me se valeu a pena, questões que só o futuro vai conseguir responder e como Heráclito dizia “Paremos de indagar o que o futuro nos reserva e recebamos como um presente o que quer que nos traga o dia de hoje”. No Futuro serei eu mesmo, serei quem eu quiser ser, ainda que baixinho, independentemente do que isso signifique, independentemente de perceber ou não, no futuro a resposta vai-me cair nas mãos. O próprio conceito de Futuro é tão ambíguo e incerto, um milésimo de segundo depois de escrever cada palavra é o futuro? Ou nós como seres pensantes e racionais acreditamos num Futuro mais distante? O que quer que seja este futuro como Platão dizia “O importante não é o futuro. O importante é daqui para a frente”. João Azevedo
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O Zé do futuro será independente, forte e feliz, à sua maneira!
A 15 de agosto de 2002, por volta das 16:50, o mundo via pela primeira vez José Luís Leal Duarte. Nascido na maternidade de Gaia, filho de José Luís Duarte Fernandes e de Carla Susana Leal Ferreira. Desde que me lembro, sempre fui uma criança faladora. Nunca gostei de estar quieto e dava-me bem com todos. A minha
infância
foi
deveras
agitada, desde mudar de cidade a mudar de país. A primeira mudança completa-se aos meus quatro anos de idade quando troco a minha cidade natal (Vila Nova de Gaia) por Gião em Santa Maria da Feira, algo que não foi difícil,
dada
a
minha
elevada
capacidade de adaptação. O mesmo não posso dizer relativamente à minha mudança de país. Não me adaptei muito bem ao início, mas aos poucos e poucos a situação foi-se amenizando. Porém, ao final de um ano em Angola, voltei à minha querida terra, por motivos educacionais e de saúde, visto que não são as melhores no continente africano. Com o meu regresso a Portugal aos oito anos, entrei para a EB 1 Gião, escola onde passei momentos inesquecíveis, como os míticos jogos de futebol na hora do almoço, no campo de alcatrão, a entrada à socapa na cantina da escola e episódios na sala de aula envolvendo cadernetas de cromos de futebol e pacotes de leite achocolatado, ou até mesmo o momento em que o
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meu colega Filipe se engasgava com uma mola e começava a vomitar em plena aula de Estudo do Meio. A minha passagem por aquela escola acabou academicamente, mas deixou uma grande marca emocional. Como tinha vindo de Angola, atrasei um ano e aos onze anos entrei para o Colégio Internato dos Carvalhos. Nunca apaguei da minha memória a entrevista de boas-vindas com o professor Raúl, um dos momentos mais marcantes da minha vida, dado que iniciaria uma nova etapa. As minhas amizades no CIC tiveram início de imediato, quando avistei na rampa um miúdo de óculos, João Vilaça. O meu diálogo com ele foi icónico e deveras cómico - «Queres ser meu amigo?», perguntei eu com um relativo entusiasmo e, com agrado ele aceitou. Guardo na minha memória momentos memoráveis como as aulas de Educação Visual com a professora Cármen, que insistia no facto de eu e o Kiko não termos jeito para a disciplina, o sprint do professor Luís Marinho na aula de Físico-química, a mítica Bate-Cave que a turma C tinha o hábito de visitar todos os intervalos (que mais tarde se viria a apelidar de Logitech, graças a uma piada do Zé Carlos sobre os fones do professor David Lopes), as aulas de matemática no nono ano no setor J, ou até mesmo as aulas de matemática no oitavo ano com o professor José Lima em que foi contada a história de quando o professor foi apanhado com a boca cheia de açúcar, passo a citar - «Tinha eu açúcar nos meus lábios, quando a minha mãe perguntou quem tinha comido o açúcar. Eu tinha dito que não era eu, e ela bateu-me», as aulas com a professora Isabel Cristina Ferreira, não esquecendo a lenda das Físico-químicas, Manuel Guedes, ou até mesmo as aulas estrondosas de Geografia, com o professor Sá Lima. E, como não poderia faltar a pessoa mais importante naquela instituição, que foi quem me fez interessar pelo meu curso atual, o grandioso professor Rui Jorge. Não tirando o mérito ao professor Luís Marinho que sempre me ajudou dentro do colégio, nunca irei esquecer o quanto me ajudou no oitavo ano a passar por um momento crítico a nível académico. E é com grande carinho que guardo no meu coração a minha passagem pelo Colégio Internato dos Carvalhos. Tenho a certeza de que o Zé do passado se sentiria orgulhoso da pessoa em que me tornei. Sinto que tomei as decisões corretas ao longo do meu
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percurso, porque mesmo que não tenham sido as mais corretas eu acabei por as tornar, ao meu jeito. Algo que me satisfaz é fazer pessoas rir e deixá-las à vontade comigo, mas à vontade não é a vontadinha. Adoro fazer os meus treinos malucos que só quem é da velha-guarda reconhece. Gosto particularmente de jogar videojogos, visto que sempre tiveram uma grande influência na minha vida e me ajudaram a passar por muitos maus bocados. O meu percurso futurista já está planeado, com a minha entrada no mundo do trabalho, já aos 19 anos. Aspiro traçar o meu próprio caminho ao som de «My Way» de Frank Sinatra. Daqui a cinco anos, vejo-me com uma casa já própria na região da Foz do Porto, algo que sempre ambicionei. O Zé do futuro será independente, forte e feliz, à sua maneira. José Duarte
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“Não tenhamos pressa, mas mão percamos tempo.”
José Saramago
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Vejo-me com o meu próprio olhar e revejo a criança…
Conseguir fazer uma autoinspeção e perceber as nossas ações e emoções é algo deveras difícil. Creio que é impossível compreendermo-nos a nós ou aos outros inteiramente. Existem ciências que se ocupam apenas do estudo da mente humana, mas nem esses inúmeros ramos da psicologia conseguem perceber totalmente e com exatidão a mente humana. Desta forma, ao escrever sobre mim e sobre a maneira como me vejo estou a apresentar uma versão pouco exata, mas que conjuga a minha interação com diferentes mundos (escola, família, amigos…), as minhas vivências passadas, a minha previsão para o futuro e a minha perspetiva da vida. Neste sentido, estamos a colocar em papel os nossos pensamentos que poucas vezes ultrapassam esse plano mental (“Temos, todos que vivemos, /Uma vida que é vivida/E outra que é pensada”, Fernando Pessoa, in “Tenho tanto sentimento”). Olhando para trás, em especial para a criança que fui, acredito que tive uma infância feliz. Brinquei na terra, na lama, joguei futebol em cimento e em terra batida, rasguei muitos joelhos, ri, chorei, fiz todas as coisas que uma criança deve fazer, ou seja, apreciar a beleza e a bondade do mundo enquanto a inocência e a ingenuidade dura (“Quando era criança/Vivi, sem saber,/Só para hoje ter/Aquela lembrança”, Fernando Pessoa, in “Quando eu era criança”). Em relação ao meu “eu” adolescente creio que tive uma adolescência vulgar e feliz. O nosso corpo muda e a inocência e a ingenuidade que tínhamos desaparecem à medida que nos apercebemos da verdadeira aparência do mundo. Fiz muitas idiotices, tive muitos desgostos, mas acima de tudo, diverti-me em vários momentos. Foi a partir dessas experiências que me tornei a pessoa que sou hoje.
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Durante este período da minha vida, aconteceu a minha entrada para o colégio e um novo capítulo iniciou-se. Aqui, o colégio deu-me a conhecer pessoas fantásticas nas quais encontrei alguma estabilidade. Mas é durante o secundário que a minha presença no colégio teve, talvez, uma maior influência em mim próprio, provavelmente devido ao facto de o número de alunos ser pequeno, e então era facilitada uma maior relação entre professor e aluno. Por causa disto, encontrei um ambiente amigável e competente, que priorizava sempre o trabalho e o esforço individual, com pessoas sempre prontas para ajudar por perto. Atualmente, como jovem adulto que sou, levo uma vida cada vez mais autónoma. As responsabilidades acrescem e as oportunidades
para
novas
vivências e experiências também. Infelizmente,
muitas
destas
novas experiências não consegui concretizá-las devido ao atual estado pandémico que afeta o mundo todo. A pandemia e as suas consequências são, decerto, momentos
mais
negativos
na
minha vida. Felizmente, parece que a normalidade vai voltando aos
poucos.
Mesmo
assim,
pretendo aproveitar ao máximo os diferentes momentos da vida enquanto sou jovem. Ao mesmo tempo, estou quase a encerrar um importante capítulo da minha vida e prestes a iniciar outro ainda mais importante. Um novo capítulo que será pensado e decidido em função do meu futuro projeto pessoal de vida. Ainda que seja impossível prever o futuro, tenho planos e ideias que gostaria de concretizar. Pretendo estudar uma área que goste numa faculdade aqui no Porto. Após sair da PORTUGUÊS – 2020/2021
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faculdade, o próximo passo é arranjar um trabalho e a partir daí começar a minha carreira de trabalho. Quando conseguir um mínimo de estabilidade económica, casar e começar uma família seria o meu próximo grande objetivo. Por aí em diante, chega a ser difícil fazer planos por causa da imprevisibilidade que é característica da vida. Muito vagamente, pretendo tentar trabalhar de acordo com os meus gostos, sem nunca esquecer a minha família e as pessoas que me rodeiam, para assim alcançar uma vida realizada. Considerando tudo isto, vejo-me com o meu próprio olhar e revejo a criança que dava uns toques na bola que se tornou num jovem com potencial e com grandes lutas pela frente, que aspira ter sucesso na vida em vários sentidos, sem nunca esquecer aqueles me ajudaram e aqueles que todos os dias me ajudam (“Segue o teu destino,/Rega as tuas plantas,/Ama as tuas rosas./O resto é a sombra/De árvores alheias.”, Ricardo Reis, in “Odes e outros poemas”). Nuno Pinto
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“Má música? Sim, mas há Até na música má Um sentimento de alguém.”
Fernando Pessoa
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Sou a "miúda das causas", sempre o fui.
“Tinhas três anos e já folheavas
as
páginas
do
jornal” - dizia-me o meu tio. E que saudades tenho dele... O meu nome já sabem, a idade também. O resto gostava
de
calmamente café ou
vos
contar
durante
um almoço.
um Na
impossibilidade de tal, estas palavras terão de servir. Provavelmente, alguns de vocês sabem que venho de uma pequena terra, Crestuma. Uma vila encantadora perdida no sul de Gaia, por onde passa o Douro, esse belo rio. Foi precisamente aí que passei toda a minha infância. Foi aí que comecei a estudar, que fiz os meus primeiros amigos, foi aí que tive os meus primeiros contactos com a sociedade. Tarefa essa muito facilitada pelo convívio que sempre fui tendo com os clientes do café da minha mãe. Era eu bebé e a senhora Fátima e o senhor Henrique já me pegavam ao colo e brincavam comigo, quando vinham tomar o seu café diário. Posso dizer que fui uma criança feliz, seria ingrata se não o dissesse. Cresci numa família que me deu tudo, às vezes várias dores de cabeça, mas gosto deles e eles de mim. Tinha cinco anos e já cantava e dançava ao som de Pink Floyd, sempre que o meu pai punha o concerto deles na televisão. É a cultura, a arte e o saber que despertam em mim uma paixão que não consigo explicar. Não há qualquer dúvida, portanto, que o momento em que mais me senti eu mesma, foi no concerto que PORTUGUÊS – 2020/2021
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fui assistir do Roger Waters (ex-membro dos Pink Floyd). Sendo que posso afirmar que foi este o momento que me moldou a mim e à minha personalidade. Diria que a melhor forma de me conhecerem seria assistirem a este concerto. Sou a "miúda das causas", sempre o fui. Não me importo que assim me apelidem, por mais piroso que possa soar. Algumas das minhas lutas são pessoais, outras puramente motivadas pelo desprezo que tenho por injustiças sociais. Gostei particularmente da minha passagem pelo colégio, pois permitiu-me estimular este meu lado intervencionista, assim como fazer vários amigos que pretendo manter por longos anos. Sou uma pessoa muito ambiciosa e sonhadora face ao pessimismo que me é imposto pela sociedade. Revejo-me nas simples palavras de Fernando Pessoa, “Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso". Quanto ao futuro, de muito pouco tenho a certeza. Sei que não vou ser médica - desculpa pai - e muito provavelmente nem engenheira - desculpa mãe. Apenas prometo dar o meu melhor para me sentir feliz e realizada. Não quero casar, muito menos ter filhos, talvez um dia venha a mudar de ideias (provavelmente não). Quero estudar em Lisboa, fazer Erasmus em Berlim, ou talvez em Amsterdão. Quero viver em Edimburgo, Barcelona, Bordéus e Tuvalu. Em Crestuma, a minha família é conhecida por "Errante", talvez venha a ser a primeira a fazer jus ao nome. Não sei quem ou como serei. A minha vida é construída tendo por base a incerteza e a constante e permanente vontade de aproveitar esta curta passagem pelo mundo ao máximo. Percorrer todas as filas da frente de todos os festivais do país, ir ao cinema três vezes por semana, entrar em contacto com todo o tipo de pessoas e experiências é o que quero, o resto vem por acréscimo. Beatriz Santos
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Eu, visto pelo meu olhar!...
No dia 30 de agosto de 2003 nasceu um bebé pacato na cidade do Porto, chamado Miguel. Aos cinco anos entro, pela primeira vez, num mundo novo chamado de escola, no qual aprendi a ler e a escrever e foi onde conheci e formei as minhas primeiras amizades, que ainda hoje tenho. No quinto ano mudo de escola e entro no Colégio Internato dos Carvalhos, atualmente Colégio Internato Claret, no qual ainda estou. Este colégio foi escolhido pelos meus pais pela metodologia de ensino praticada, tendo também sido frequentado pelas minhas irmãs. É a partir desta idade que tenho as melhores e piores recordações da minha vida, pois foi onde tive os meus arranhões de tanto jogar futebol, foi onde tive as minhas quedas e todas as cicatrizes que me marcaram, tanto a nível físico como de personalidade visto que foram essas “quedas” que me fizeram crescer enquanto pessoa. Mas também foi aqui que criei as minhas
melhores
amizades,
onde terei sempre as melhores memórias da adolescência dos meus amigos, pois sempre que precisava estavam presentes e das brincadeiras que eles me proporcionaram. Foi nesta escola que cresci e que aprendi tudo o que sei hoje. Durante a minha infância não tive muitos momentos menos bons, exceto o falecimento da minha avó paterna.
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Atualmente, sou um jovem com 17 anos que apesar da idade ainda se encontra em constantes alterações de personalidade, bem como mudanças físicas. Adoro fazer desporto, inclusive já pratiquei futebol, natação e atualmente pratico ténis. Sou um jovem sonhador porque desde cedo tive bastantes objetivos e ambições, como por exemplo a pretensão de ser piloto de aviões, porém com o passar do tempo esse sonho foi suprimido por outras metas. O que serei? É uma pergunta que me questiono frequentemente, por ainda não ter o meu futuro 100% delineado, e por o futuro ser incerto. Mas num futuro próximo quero acabar o secundário e entrar na faculdade, se possível na área de gestão. Num futuro mais longínquo quero poder exercer na profissão relacionada com o curso que tirei e ter uma carreira de sucesso sendo o melhor na minha área, formar uma família, ter uma boa qualidade de vida e conseguir alcançar os sonhos anteriormente referidos. Concluindo, a minha infância/adolescência foi um período geralmente muito feliz da minha vida, com a exceção referida anteriormente. No futuro espero que esta felicidade continue, de preferência durante muitos e longos anos. Miguel Filipe
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Eu
Quem fui… Eu nasci no dia 26 de janeiro de 2004 e desde desse momento descobri que iria viver uma vida bastante emocionante. Em 2010, foi uma das alturas mais importantes da minha vida, pois entrei no 1 ciclo. Foi, sem dúvida, um dos capítulos mais marcantes da minha vida, porque não só comecei a ter uma nova perspetiva do mundo como fiz os meus primeiros amigos. Na verdade, tive o meu primeiro contacto com o mundo exterior. Nesse mesmo ano, segui a paixão que sempre tive desde muito novo e comecei a jogar futebol. Juntar-me ao futebol fez com que eu seja o homem que sou hoje, porque futebol não é só dar uns pontapés na bola. Eu aprendi muito com o futebol e essa aprendizagem ajudoume a encarar a vida da maneira que eu encaro. Em 2014, diria que tive um dos momentos mais marcante da minha vida. Entrei para o Colégio Internato dos Carvalhos e foi neste colégio que passei a maior parte da minha vida. Estou no colégio desde os meus dez anos e sinto que este colégio me ensinou tudo o que eu sei: desde respeitar os colegas, a partilhar coisas. O colégio abriu-me os olhos e fez com que encarasse esta sociedade que vivemos de outra maneira. Infelizmente nem tudo é um mar de rosas e em 2019 tive um dos momentos mais tristes da minha vida, pois perdi o meu avô que foi sem dúvida um dos grandes pilares da minha vida. Quem sou… Nesta fase da minha vida, com 17 anos, já me vejo como uma pessoa amigável, humilde, responsável e que nunca desiste dos seus sonhos. Infelizmente, não só eu mas toda a gente está a passar por uma fase bastante difícil por causa da COVID-19. Está a ser uma época bastante diferente, mas acho que vamos conseguir passar por esta fase e vai correr tudo bem.
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Quem serei… Sempre me disseram para pensar em deixar os estudos e dedicar-me ao futebol, mas isso é algo que não pretendo fazer, porque não penso que o futebol me irá sustentar até morrer, por isso eu vejo-me como um contabilista. É uma profissão que sempre admirei porque o meu pai é contabilista e esse facto influenciou um pouco a minha decisão. Vasco Oliveira
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Prefiro fazer o que sentir que será melhor para mim
Achar que a felicidade é plena ou que pode existir alegria a 100% na vida é tentar viver uma mentira. Por mais feliz que uma pessoa seja, alguma dificuldade sempre aparecerá, o que muda na verdade é apenas a forma de olhar para tentar solucionar o problema. Ao longo da vida sempre tive visões e opiniões diferentes de mim mesma e talvez, seja por isso que, hoje, tenho uma opinião sobre a minha pessoa tão vincada. Normalmente,
quem
convive
comigo
consegue identificar mais facilmente as minhas qualidades. Pensar em quem fui não é fácil pois a minha infância foi preenchida de altos e baixos. Apesar de todos os baixos que tive, considero que tive uma infância feliz rodeada de momentos, com pessoas que sempre deram o melhor por mim. Fazer uma descrição de nós próprios não é tarefa fácil, mas pelo que sei do meu passado sempre tentei ser a mais afável e cooperativa com as pessoas. O momento mais marcante que me irá acompanhar até ao resto da vida foi o trágico falecimento da minha irmã. Posso afirmar que poucos são os assuntos
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que me conseguem abalar, mas sem dúvida que a minha irmã irá sempre deixar saudades e magoar. Fui sempre uma criança preocupada e dedicada no que toca ao bem-estar dos outros e só me orgulho disso. Em relação à minha vida académica, nunca fui das melhores, mas isso nunca me impediu de dar o meu melhor, apesar de ter tentado desistir várias vezes. Apesar de não ter deixado uma grande marca no colégio, foi um sítio que me apresentou a algumas das melhores pessoas que tenho na minha vida, como as minhas melhores amigas que estão comigo desde que entrei no 5º ano. Nunca vou esquecer os professores que sempre foram atentos a tudo e estiveram dispostos a ajudar. É como se tivesse ganho uma segunda família. Foram muitos os bons momentos vividos. Orgulho-me do que fui, pois tornei-me no que sou hoje. Na fase atual da minha vida, não sou 100% feliz, porque para se ser totalmente feliz era necessário haverem vidas perfeitas, no entanto isso é uma utopia. A pandemia que atravessamos veio trazer várias coisas negativas tal como a depressão, a ansiedade e a desmotivação. Contudo, fez-me crescer mentalmente e mostrou-me também que tenho as melhores amigas. Elas foram sem dúvida uma das melhores surpresas com que a vida me presenteou porque para além de amigas são como irmãs para mim. Tudo o que vivenciei com elas foi algo surreal. Sou muito grata por as ter ao meu lado nos bons e nos maus momentos. O futuro assusta-me! Não tenho objetivos concretos, prefiro fazer o que sentir que será melhor para mim. Terminando o secundário, vou tentar entrar na faculdade e fazer uma licenciatura em psicologia, já que é uma área na qual eu tenho interesse e me identifico. Gosto muito de culinária, pastelaria e decoração, por isso, quem sabe se um dia eu não tiro diferentes cursos e obtenho sucesso nesses ramos. Apesar de não fazer tantas vezes como as que gostaria, adoro viajar e conhecer diferentes povos, culturas e paisagens. Um dia gostaria de conseguir uma independência financeira e viajar sozinha, aproveitando a minha própria companhia, até porque na atualidade esta postura é um pouco rara.
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Para concluir esta reflexão, sinto que o meu autorretrato é simples: sou uma rapariga com poucas metas, mas que luta bastante e que não se deixa vencer, que é altruísta, e que é deveras preguiçosa e muito cabeça dura em relação a alguns assuntos e um pouco mandona. Contudo, orgulhosa do que se tornou e da personalidade que tem. Irina Couto
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“Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.”
José Saramago
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Sinto-me esperançoso com o futuro
Quando olho para trás, vejo um miúdo observador, calado, embora só por fora. Vejo um potencial que só agora se está a desvendar. Mas vejo, também, uma felicidade baseada na inocência da minha outrora infância. Não me interpretes mal, por vezes ainda sou infantil, mas agora sei que o sou. Considero-me pessoa
criativa.
uma
Gosto
de
pegar nas coisas e dar-lhe a volta,
ao
sempre
meu corre
diferente
fica
jeito.
Nem
bem,
mas
de
certeza!
Poderia ser um dom, mas estou crente que se deve ao meu espírito crítico, à minha cultura geral, à minha mente aberta
e
a
referências
de
outras pessoas, que conheci ao longos dos anos, muitas delas aqui, no Colégio, um espaço e comunidade que me proporcionou momentos, que irei para sempre guardar nos recantos da minha memória. As palavras não são o meu forte, gosto de pensar que a minha mente raciocina mais rápido do que me consigo expressar, mas provavelmente a raridade da leitura de livros e textos, no geral, devem ter algo a ver com esta minha dificuldade. Ah, pois, eu sou como se diz, estereotipicamente, um rapaz «dos números e das ciências», até tenho uns daqueles óculos grandes e redondos, estilo Harry Potter. O que estou a tentar dizer é que a Matemática empolga-me, a Física fascina-me, a Química entretém-me e a Biologia... bem a Biologia é só PORTUGUÊS – 2020/2021
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decorar, nem sequer vou tocar no assunto da Geologia, chamar «ciência» a calhaus? Não, obrigado! Adoro rir e ver as pessoas rir, especialmente das minhas piadas. É extremamente agradável e para isso acontecer, basta-me um pouco de destreza, recorrer a situações embaraçosas, jogar com as circunstâncias do momento, entre outros casos. Nem todas as narrativas são necessariamente verídicas, mas não importa. Observar o esmalte dos dentes dos que me ouvem já vale, por si só, a pena. Sinto-me esperançoso com o futuro. A Engenharia parece-me ser o ramo que, mais evidentemente, irei seguir. Mas as coisas são tão imprevisíveis… Uma parte de mim diz-me para ser Diplomata. Será uma vontade de mudar o mundo? Será querer representar Portugal e a União Europeia à minha imagem? Será que é pelo estatuto? Mais importante: será que importa?! Provavelmente não, tanto tu como eu deveremos saber bem o preço que um certo Ser pagou pela procura permanente de respostas. O Ortónimo tinha razão, como por vezes saberia tão bem «Ter a […] alegre inconsciência/ e a consciência disso!». Daniel Couto
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No futuro serei alguém feliz (espero eu)
Até podem ter ouvido a história do incrível Chuck, mas conto-vos
a
história
do
grandioso Diogo. Segundo reza a história, nasci a 26 de abril de 2001, na Ordem do Terço, no Porto. Com 8 meses fui para a Suíça, onde passei grande parte da minha vida. Tive a sorte de ter uma infância que me proporcionou bastante
contacto
com
a
natureza. Julgo que foi nesta altura
que
surgiu
a
minha
paixão por animais e plantas. Tenho inúmeras memórias fantásticas no meio da floresta com amigos e professores. Ao acabar o quinto ano, os meus avós ponderaram voltar para o seu país de origem (Portugal) e eu, na minha inocência, gostei da ideia. Cheguei a Portugal num avião bastante jeitoso e nem imaginava o que ia acontecer depois de chegar. Naturalmente, tive de me inscrever numa escola uma vez que, por convenção da sociedade, a escola ainda é necessária depois do 6º ano. Os meus encarregados de educação decidiram inscrever-me no Colégio Internato dos Carvalhos, que mais tarde veio a ser conhecido por Colégio Internato Claret.
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Inicialmente eu era um pequeno pupilo de ser humano, dominado pelo ID, como já dizia o grandioso Sigmund Freud, era sempre dominado pela curiosidade… procurava os limites de tudo e (menos eticamente) de todos. A minha capacidade de ponderar as consequências nunca foi muito boa, e nesta altura, era praticamente inexistente, combinada com a minha impulsividade, resultava na receita perfeita para dores de cabeça de qualquer professor. Tive a oportunidade única de passar um ano extra nesta casa de claretianos que me ensinaram uma grande lição: numa situação em que não se tem mais nenhuma escolha, mais vale fazer à primeira do que fazer à segunda. Nesta época, recebi o melhor presente da minha vida. No meu primeiro dia do meu segundo 11º ano, a minha namorada ofereceu-me um pato, ou melhor dizendo uma Pata. Eu, desde pequeno, adorava ver os patos quando ia a algum lago com a minha mãe e andar com um pato ao colo de um lado para outro é dos meus passatempos favoritos. Relembro o meu passado como sendo tudo quanto não consegui ser. Falar do passado é fácil, julgar ou oferecer uma explicação para um acontecimento ainda mais fácil é, no entanto, é no presente que se vive. Falar de mim nunca foi o meu forte daí falar de mim no presente é uma tarefa um pouco complicada. Hoje considero-me uma pessoa simples, brincalhão e pouco preocupado com o que me rodeia. Mantenho algumas das minhas características, a impulsividade ainda não me abandonou, nem a curiosidade, embora estejam mais controladas. No futuro serei alguém feliz (espero eu). Duvido que o meu futuro passe por estudar numa faculdade de renome nacional ou até mesmo internacional, uma vez que as minhas notas não o permitem. Os meus interesses e curiosidade vãose manter e vão-me provavelmente levar a trabalhar com animais ou em algum trabalho relacionado com mecânica. Diogo Henriques
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Eu, visto pelo meu olhar…
Sempre que alguém me pede para me definir enquanto pessoa, eu tento desviar o assunto, porque é sempre difícil e constrangedor falar de nós próprios. O mesmo não acontece quando o objetivo é apontar qualidades e defeitos das pessoas que nos são próximas. Isto verifica-se pelo facto de haver situações que tenho vergonha de partilhar. Quem
fui?
Quando
ainda não sabia ler nem escrever, os meus pais dizem que eu era muito dócil e carinhoso, mas também era um “castigo” para eles, a hora
de
Frequentei
me o
deitar.
Colégio
do
Sardão dos três aos nove anos,
contudo
a
minha
adaptação à rotina de sair de casa para estar com pessoas que não me eram familiares foi extremamente difícil. Para além disso, eu era uma criança muito introvertida, de tal forma que não era de todo normal e portanto precisei de atendimento psicológico, semanalmente, de forma a despertar em mim algum à-vontade social. Posso dizer que resultou, tendo em conta que o ensino primário correu bastante bem a todos os níveis, inclusivamente social. Comecei o ensino básico na Escola Básica Soares dos Reis, tendo saído no sexto ano por opção dos meus pais. Quem sou? Neste momento estudo no Colégio Internato Claret, que frequento desde o sétimo ano e estou bastante satisfeito pela mudança. Considero-me um ser humano atencioso, simpático e respeitador. Um dos meus
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principais defeitos, para além da teimosia, é ser pouco lutador, no sentido em que olho sempre com muita tranquilidade para a maioria das situações e nem sempre dou o meu máximo para atingir os meus objetivos. E como nem tudo é perfeito, sinto que este ano não está a correr como imaginava a nível escolar, algo que desperta em mim alguma ansiedade pelo futuro que me espera e isto precisamente pelo defeito que referi. Quem serei? Olhando para o futuro próximo, a minha meta é acabar o secundário e entrar na Universidade do Porto, (FEUP) em engenharia eletrotécnica. Tenho plena consciência de que para isso ainda vou ter de suar muito e que a ida para a faculdade não é um mar de rosas, mas é na universidade que eu vou adquirir conhecimentos/aptidões que me distinguem dos outros e um currículo mais completo, para posteriormente, se possível, me empregar num sítio que me faça ter um propósito na vida. Em termos familiares e pessoais, quero também casar e construir uma família ao lado de uma mulher que me faça feliz. Concluindo, não posso de maneira alguma comparar os momentos negativos da minha existência com os de Fernando Pessoa, até porque, no cômputo geral, considero que tenho vindo a construir uma vida com sentido, que me faz crescer em todos os aspetos, e espero que assim seja pelo futuro fora. Gonçalo Fernandes
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“Vai-se indo e vai-se vendo”
Quem fui? Fui alegre,
uma
pessoa
divertida
e
brincalhona. A única coisa que queria era estar com os meus amigos e divertirme
com
eles
a
jogar
futebol, andar de bicicleta ou simplesmente conversar. Claro que, como toda a gente, tinha altos e baixos. Por vezes discutia com eles porque era um rapaz que gostava que as coisas fossem feitas à minha maneira. Dum modo geral, considero que a minha vida até os 13 anos não podia ter sido melhor. A partir dos 14, com o meu regresso a Portugal, tudo indicava que a minha vida ia mudar muito, mas a meu ver não mudou quase nada. Claro que, com a mudança de país, tive de fazer novos amigos, sem nunca perder o contacto com os que deixei para trás. Apesar de tudo, no meu ponto de vista, sempre continuei a ser a mesma pessoa que era. À parte disto, sempre fui interessado por desportos e coleções de futebol, já que, desde criança, sempre pratiquei este desporto e também colecionava cromos. Uma das coisas que mais adorava fazer era trocálos com os meus amigos. Quem sou? A partir dos 16 anos, a minha personalidade começou a mudar, a meu ver, para pior. Não sei por onde começar já que é uma coisa difícil de explicar. PORTUGUÊS – 2020/2021
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Não sei porquê, mas comecei a mudar os meus comportamentos e de certa forma a ficar mais agressivo, já que comecei a ter preocupações que nunca tive. Por exemplo: deixei de tocar em coisas que sempre tocava com medo de sujar as mãos e de certa forma isto começou a refletir-se no meu comportamento e nos meus hábitos. Deixei de sair com os meus amigos e de os convidar para a minha casa, com medo de me sujar e de que sujassem as minhas coisas. Se a minha mãe pegasse em algo meu, eu perdia a cabeça e achava que aquilo que a minha mãe pegou estava sujo. Nunca mais voltava a tocar nesse objeto. Ainda hoje, de certa forma, é assim, mas sem tantas preocupações. Na atualidade, pelo explicado anteriormente, considero que sou uma pessoa tímida e agressiva, mas, pouco a pouco, com trabalho e esforço estou a conseguir voltar à normalidade e cada passo positivo é uma vitória para mim. Quem serei? Ainda hoje estou muito indeciso com o meu futuro, mas principalmente o meu objetivo é voltar à pessoa que sempre fui, já que era feliz. Também quero um trabalho que goste e ser feliz com isso, já que o futuro não é uma coisa fácil de se prever e como eu costumo dizer “vai-se indo e vai-se vendo”. Diogo Silva
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“Our lives are not our own”
O que é que faz de nós únicos? Todos nós encontramos conforto em pensar que há algo de especial sobre nós próprios, mas será que a noção de “eu” que tenho de mim mesma é sequer fiel à realidade? Bem, lembro-me de quando li pela primeira vez a expressão “Our lives are not our own” de David Mitchell, que significa “As nossas vidas não nos pertencem”, pois fez-me pensar no quão pouca influência tenho no rumo da minha vida. Penso que são as minhas experiências que me formam e como apenas tenho controlo das decisões que posso tomar, quem eu sou é o resultado de uma junção entre as escolhas que faço e todos os outros fatores externos. Por exemplo, quem eu sou agora é a consequência de ter decidido estudar nesta escola, os amigos com quem me escolhi dar e o curso que optei. No entanto, há elementos fora do meu controlo, tal como os professores que me foram atribuídos ou o ambiente escolar, que foram igualmente impactantes e decisivos quanto ao meu percurso enquanto estudante e pessoa! Tudo isto leva-me a questionar se, caso eu tivesse optado por outros caminhos e passado por outro tipo de experiências, o meu caráter se manteria. O simples facto de ter nascido com dupla nacionalidade ou de sempre ter vivido na praia são fatores que desde logo me moldaram, por isso não sei dizer ao certo se PORTUGUÊS – 2020/2021
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eu seria a mesma pessoa caso tivesse nascido e crescido numa realidade totalmente diferente. Estou perante o velho conflito - O que é mais determinante: a minha natureza ou a minha educação? Não sei se alguma vez saberei responder a essa pergunta, no entanto gosto de pensar que o meu propósito não é “encontrar-me” ou “descobrir quem sou”, mas sim tentar tornar-me em alguém de que me orgulhe. Eu sou agora uma pessoa diferente de quem eu era e de quem serei no futuro, o que apenas revela que, tal como todos nós, sou um ser em constante crescimento e transformação e que, ao longo do tempo, aprendo, adapto-me e renovo-me. Isto significa que é impossível dizer que, ao longo da minha vida, terei uma só identidade que me defina, uma vez que tudo aquilo que me define neste momento, ou seja as minhas crenças, sentido de humor, valores, gostos, passatempos e inclinações, vai eventualmente sofrer alterações. Tenho de admitir que, ao passo que consigo olhar para trás e determinar com alguma facilidade que tipo de pessoa era, é complicado tentar expressar por palavras quem eu sou atualmente. Sinto que consoante as pessoas com quem estou, o ambiente em que estou inserida ou até a língua que estou a falar, a minha personalidade varia. Às vezes tudo isto me leva a ter uma espécie de crise de identidade, no entanto, acho que em última análise tenho de pensar que é um aspeto bom ter a capacidade de moldar a minha personalidade consoante a situação em causa, permitindo-me encontrar sempre algum tipo de harmonia com o meio que me rodeia. Toda esta reflexão acaba por ser bastante egocêntrica, o que não me sai com muita naturalidade. Sempre tive muito interesse em ler livros filosóficos porque gosto de refletir sobre questões que me obrigam a pensar como é que o mundo à minha volta funciona, por isso ter de interpretar a minha própria existência é algo invulgar. No entanto, penso que isto é um exercício fundamental, uma vez que ao aprender mais sobre mim, acabo por conseguir compreender melhor a humanidade como um todo.
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Estou curiosa por descobrir o que é que daqui a uns anos vou achar de mim mesma, mas neste momento posso dizer que sou uma pessoa imensamente grata por tudo aquilo que tem e cheia de vontade de descobrir o que aí vem! Carlota Cutler
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“É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós.”
José Saramago
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Caminhava de mãos dadas com a audácia
Nasci na primavera, mesmo no começo, e gosto de pensar que esse acaso surgiu como uma premonição. Uma menina pouco ou nada delicada, como o vento que não desaparece até ao mês de junho, demasiado irrequieta para não ser constantemente comparada a uma abelha - vestida de amarelo e sempre ocupada com alguma coisa. De alguma forma, permiti-me acreditar durante grande parte da minha infância que era para isso que servia, para fazer barulho e trazer alegria. Durante esses primeiros anos fui tremendamente feliz. Como não o ser? Tive primas que nunca me permitiram sentir filha única, uma horta cheia de couves e uma piscina para aprender a nadar. Como se uma criança precisasse de mais. Cresci numa aldeia, porque, apesar do estatuto oficial de vila, era fácil perceber que não era esse o modo de vida ali praticado. Ia buscar pão de bicicleta, conhecia toda a gente e fazia questão de acenar a cada um deles. Corria sempre com os atacadores desapertados e esfolava os joelhos com uma regularidade assustadora. “Não sabes estar quieta, Daniela?” era o que os meus pais perguntavam, completamente exasperados. Mas não, não sabia. Nunca soube. A vergonha e eu éramos meras desconhecidas. Caminhava de mãos dadas com a audácia e pouco me importava com o que pensavam de mim. De alguma forma, achava que as opiniões negativas só se formulavam em volta de pessoas más, algo que estava perfeitamente ciente de não ser. Olhando para trás é impossível não sentir orgulho, porque era realmente muito atrevida de um modo encantador. Qualquer velhinha nos jantares de família se derretia perante aquela imagem da miúda de cabelos demasiado rebeldes e olhos demasiado brilhantes, que nunca parava de comentar o mundo. Aquela que não tinha problemas em
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pedir garrafas de vinho aos empregados de mesa apesar da idade e muito menos em provocar curtos-circuitos devido a experiências com quadros elétricos. Foi mais ou menos por volta do meu nono aniversário que descobri a literatura. Os meus pais haviam decidido separar-se recentemente e passei a percorrer centenas de quilómetros por mês para me encontrar com a minha mãe, o que me proporcionava uma quantidade assustadora de tempo livre fechada num carro. Com isto, comprei o meu primeiro livro, um número aleatório de uma coleção infantojuvenil - entusiasmou-me tanto que o devo ter relido umas seis vezes. A partir daí, fui explorando esse novo mundo e deixei-me envolver por ele de tal modo que até hoje é possível identificar as marcas que deixou na minha personalidade. A sensibilidade artística, o amor pelo abstrato e o desprezo pela racionalização excessiva perseguem-me até ao momento presente. São, honestamente, as características que mais aprecio em mim própria. Com doze anos já tinha lido obras como Amor de Perdição e Orgulho e
Preconceito, por mero capricho. Para mim era impensável considerar-me uma leitora ávida sem mergulhar nos clássicos, apesar da minha nítida incapacidade para interpretar toda a complexidade daquelas produções literárias. É essa uma outra característica que ainda trago comigo, um desejo permanente de me sentir desafiada e de colocar os meus conhecimentos à prova. Contudo, não posso negar que desenvolvi uma aversão pouco saudável ao fracasso. É-me muito difícil reconhecer que não desempenhei a minha função bem o suficiente, razão pela qual tendo a escolher satirizar excessivamente a situação ou ignorá-la até que aqueles que me rodeiam a esqueçam. O problema é que eu nunca me esqueço. A adolescência atingiu-me como um furacão. Sempre me prometeram anos intensos, selvagens e dolorosos, mas não acreditei numa única palavra até sentir o seu significado na pele. O contexto social em que me encontrava inserida levoume a desenvolver uma necessidade excessiva de validação externa e, acima de tudo, uma necessidade exagerada de companhia. A partir de uma certa idade, estar sozinha tornou-se insuportável e por isso mesmo não poderia deixar de citar Fernando Pessoa: “Má música? Sim, mas há/ Até na música má/ Um sentimento PORTUGUÊS – 2020/2021
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de alguém.” O tempo que passava a sós com os meus pensamentos era indescritivelmente insuportável e vejo hoje que incluí na minha rede de apoio elementos perfeitamente dispensáveis. No entanto, não encontro em mim nenhuma fração que se arrependa dessas decisões. Sim, a música era má, mas a verdade é que me salvou mais vezes do que alguma vez serei capaz de retribuir. Tal como afirmaria qualquer poeta de bom-tom, o futuro é profundamente incerto. Apesar de tudo o que possa prometer para atenuar a preocupação dos meus pais, não tenho ideia de onde a vida me levará. Não obstante, é inegável que a ambição me corre pelas veias a uma velocidade alucinante. Apesar das dúvidas que vão surgindo ao longo do caminho, confio em mim para tomar
as
minhas
próprias
decisões
e
forjar
os
meus
próximos
desafios.
Na
minha
ótica, a espontaneidade é uma qualidade de um valor inestimável - eu não saberia viver de outra forma. Os meus sonhos e ideias têm tanto de abstrato quanto possível e, ainda assim, fazem todo o sentido do mundo, na minha mente. Aproxima-se uma mudança tão drástica que dificilmente manterei o equilíbrio durante todo o processo, um fim implacável. Como aconteceu com todas as mudanças que ocorreram nos meus dezoito anos de vida, a sensação de terror marca a sua presença de um modo muito pouco subtil. Apesar disso, interiorizarei a possibilidade da queda do mesmo modo que trago comigo a esperança de um dia poder voar. Espero que os meus pais nunca venham a ler este documento. Ilustra, realmente, um fragmento muito vulnerável da minha pessoa. Daniela Jesus PORTUGUÊS – 2020/2021
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“Os olhos são cegos. É preciso ver com o coração.”
Antoine de Saint-Exupéry
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“Não nos vemos se não saímos de nós”
O exercício de falarmos sobre nós mesmos nunca é fácil. Acredito que até ao último dia das nossas vidas nunca deixamos de nos conhecer e de aprender novos aspetos sobre nós mesmos. Não somos um produto acabado e cada experiência e vivência vai-nos moldando. José Saramago, na sua obra O
Conto da Ilha Desconhecida, escreve “É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós”. A verdadeira diferença entre quem fui e quem sou começa por aí, por ter tido a capacidade de sair de mim mesma na busca de saber quem sou. Estou completamente agradecida por algumas coisas não terem corrido como queria. Aprendi que a dor é o melhor combustível para o crescimento e para a mudança e que, às vezes, temos de passar por coisas que nos destroem para conseguirmos compreender quem somos. A mais simples e poderosa revolução que aconteceu na minha vida foi ter aprendido a reconhecer o meu próprio valor e a gostar verdadeiramente da pessoa em que me estou a tornar. Saber quem sou faz com que as opiniões e os julgamentos dos outros tenham menos peso. Isso levou-me a deixar de viver sob as expectativas que formam de mim, até porque a vida deixa de ser nossa se estivermos constantemente preocupados com o que pensam de nós. Aprendi que não há PORTUGUÊS – 2020/2021
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problema em viver uma vida que os outros não compreendem. E deixei de perder tempo e energia a tentar provar o meu valor a quem nunca o vai reconhecer. Não sou uma pessoa fácil. Sou orgulhosa e tenho alguma dificuldade em aceitar críticas. Sou também muito teimosa. Não gosto que me digam o que fazer. Não gosto de ceder e gosto das coisas à minha maneira. Tenho uma personalidade forte. Sou independente, determinada e menina do meu nariz. Não como tudo o que me põem no prato. Por isso, sou a primeira a dizer ‘não’ quando tenho de dizer. No entanto, sou também a primeira a dizer ‘sim’. Sou muito impulsiva e, quando sinto que devo fazer alguma coisa, prefiro arriscar do que me vir a arrepender de não ter tentado. Mesmo quando a direção que a minha intuição me indica não é a certa, pelo menos sei que me atrevi a tentar. Acredito que esta coragem me vai levar longe. Há quem diga que sou insensível e fria. Eu acho que pareço fria, mas queimo por dentro. Não suporto mentiras nem injustiças e prefiro a verdade, acima de tudo. Sou sincera, frontal e fiel ao que sinto e penso. Não gosto de deixar nada por dizer. Para que é que temos uma voz se nos calamos, quando a devemos usar? Tenho dificuldade em lidar com pessoas que não são capazes de assumir aquilo que pensam. Sou muito perfecionista e muito exigente comigo mesma e com as pessoas à minha volta. Quando faço alguma coisa, dou sempre o meu melhor. Sou organizada e trabalhadora e dificilmente desisto dos meus objetivos. Por isso, tenho a certeza que vou criar uma vida de sucesso para mim. O meu maior desejo é que nunca deixe de reconhecer os privilégios que tenho e o meu maior objetivo é usá-los para lutar contra as desigualdades e injustiças que ocorrem, todos os dias, à minha volta. Vivo num país desenvolvido e sempre tive casa, comida, segurança, acesso à saúde e acesso à educação e, por isso, olhar para a realidade que me chega de muitas outras pessoas a quem estes direitos fundamentais são negados é revoltante. Tenho o privilégio de me PORTUGUÊS – 2020/2021
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educar sobre problemas como a xenofobia, o racismo e a homofobia, ao invés de ter de os experienciar. Tenho o privilégio de me educar sobre como é viver sob um regime ditatorial, ao invés de ter de o experienciar. Se tenho os direitos que tenho hoje é devido ao sacrifício de muitas gerações passadas e quero perceber o que posso fazer para criar um mundo melhor para as gerações futuras. O que o amanhã trará não me assusta. Confio profundamente nos próximos capítulos, porque confio totalmente em mim para os escrever. Quero viver cada dia e aproveitar ao máximo todas as experiências e aventuras que o futuro me reserva. Tudo aquilo que eu fui e tudo aquilo por que passei faz hoje todo o sentido. Alguns ciclos terminaram, outros começaram e outros irão começar e o mais importante é recolher o melhor de cada um. A vida é demasiado curta para não sermos quem somos e não fazermos o que queremos. Leonor Neto
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“Tive um passado? Sem dúvida... Tenho um presente? Sem dúvida... Terei um futuro? Sem dúvida...”
Álvaro de Campos
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Sou ainda a incerteza dentro da certeza
"Eu, visto pelo meu olhar"… seria um bom começo para uma composição, se eu conseguisse ser imparcial e extrínseca a mim, infelizmente não é possível, portanto comecemos com uma analepse. Uma sexta-feira, a primeira do oitavo mês do ano de 2002, a primeira em que consegui respirar a calmaria do Alentejo, perturbada apenas pela euforia de uma família de três que acabara de passar a quatro. Se para uns acabava de despertar a responsabilidade de irmã mais velha, em mim apenas despertavam as traquinices de irmã mais nova. Em simultâneo, ia crescendo a menina, entre vestidos de princesas e as muralhas de amor que cercavam a aldeia do interior de nome tão glorioso quanto a sua infância. A memória é algo que me trai com alguma frequência, mas é sem esforço que recordo a ingenuidade de criança, a maneira fácil como me deixava levar pelas conversas e brincadeiras de qualquer um. No entanto, era sobre o olhar atento de quem me conhecia melhor que eu, que sentia debaixo das estrelas, a brisa fresca do verão com o cheiro a eucalipto vindo da serra, que curava as feridas com aloé vera e ansiosamente esperava pelo dia seguinte e pelo que ele quisesse que eu fosse. O tempo passou, a ingenuidade passou com ele, a vida tornou-me mais tímida, como uma flor que se prepara para o inverno austero. Felizmente, nem o tempo conseguiu, ainda, apagar a essência da menina, a maneira despreocupada de levar a vida e as recordações felizes que teimam em colar-se à saudade como lapas em rochedos. Percebo agora que fui isso: momentos, histórias, decisões bem ou mal tomadas; fui teimosa, difícil, determinada; fui precoce, com pressa de viver. Tudo isto para dizer que ainda não sou, completamente, o que quis ser, sou o que o hoje me pediu que fosse. Sou agora o encerrar de um sonho, fecho de um PORTUGUÊS – 2020/2021
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ciclo, preocupações da incerteza; sou a construção de uns quantos sonhos maiores, grande parte começados a conceber há anos. Para além disso, sou um pouco do que cada um deixou em mim. Não
sei
o
que
possa
acrescentar ao presente, a verdade é
que
estou
agora
mesmo
a
experienciá-lo, portanto entre o turbilhão de expectativas e deveres, consigo apenas ouvir a voz que me pede que o faça intensamente. Faço por isso, não estivesse eu a escrever enquanto oiço o frenesim das gaivotas e olho o rio que desagua a trezentos quilómetros de casa.
Nem
mesmo
ele
parece
calmo, não tem o ar pachorrento da água que corre no Alentejo. Nada disto é e foi em vão, terá certamente uma continuação. Se serei daqui a alguns anos o que quero hoje, não sei; se serei melhor do que fui ontem, acredito que sim. A resiliência moldou-me de maneira sublime; o amor, a amizade, a confiança e a independência foram depositados em mim de forma inigualável, de tal modo que tudo o que se aproxima tem potencial para ser promissor. Quero que assim seja, desejo que assim seja, mas não tenho garantias de nada. O futuro parece-me longínquo e não me toca a mim dizer como será, sou ainda a incerteza dentro da certeza, resta me esperar e desesperar por ele. Margarida Mira
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Deixo que a maré da vida me leve com a brisa das emoções
“Eu visto pelo meu olhar” ... um
tema
desafiante,
que
proporcionou alguma curiosidade em pensar em mim e em todas as fases da minha vida, porém um pouco injusto falar de mim, sendo que a minha autoestima me faz ver-me como alguém com muito poucos defeitos e qualidades infinitas. Quem fui? Sinceramente fui a criança que quero que o meu filho seja para mim. Bastante curiosa desde muito novo, apaixonado pelos números e pela ciência, com vontade de descobrir a razão pela qual tudo existe. Uma criança bastante curiosa e inocente sem saber a realidade da vida. Todos me diziam que eu tinha uma inteligência muito avançada para a minha idade, mas eu creio que só tinha mais curiosidade que todos. Desde episódios a ensinar à minha turma da pré-escola a função das plaquetas e coágulos sanguíneos, até ao segundo ano onde dei uma “mini”-aula à turma sobre as raízes quadradas. Com o tempo, fui deixando a curiosidade pela matemática de lado, depois de já tão novo ter descoberto tudo o que queria saber sobre ela e desenvolvendo assim a curiosidade pela ciência. Por exemplo, o motivo pelo qual o “velho” Edward inventou a lâmpada. Aos nove anos, já tinha um conhecimento científico e matemático bastante apurado, não escondendo também alguma afinação pela maneira de escrever, tendo tido textos afixados na escola sobre “A PORTUGUÊS – 2020/2021
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minha viagem de sonho”. Uma viagem aos Estados Unidos da América num avião com um spa e banhos de lama... qual era a minha ideia mesmo? Era uma caixa de surpresas, nunca me metendo em nenhuma alhada. Quem sou? Muito confiante, aberto exclusivamente aos mais próximos e muito pensador. Porém, também me sinto mesmo muito frio, calculista e, por vezes, algo sombrio, mas só em ambientes onde não me sinto confortável me mostro como realmente sou. Por exemplo, no colégio onde ando, durante um bom tempo senti-me um pouco desorientado, pois a mentalidade das pessoas lá é muito díspar de toda a mentalidade dos meus amigos de Espinho. Mas o facto de me conseguir ter aberto com estes, também me faz sentir que me consegui adaptar a um sítio a que não estava habituado, sendo este um grande desafio, e ter frequentado o colégio onde ando a consequência da razão do meu crescer como pessoa. Sendo eu também pouco tímido na personalidade, abro-me só aos meus conhecidos mais chegados, sempre com um sentido de humor muito apurado e uma energia contagiante. Vejo-me como um jovem que gostava de ver no meu filho. Alguém que não bebe nem fuma, muito preocupado com família e amigos, e que só se quer divertir (não pensando muito na escola por vezes, mas nada de problemático). Vejo em mim um estereótipo de pessoa que gostava de ter como parceira no futuro. Alguém que pensasse como eu e que visse a realidade da vida que muito poucos conseguem ver. Quem serei? Isso já é uma pergunta mais difícil. Sou do tipo de pessoa que deixa a vida andar, um dia de cada vez. Alguém que, na realidade, pensa mais no presente e não tanto no futuro a longo prazo. Só deixo que a maré da vida me leve com a brisa das emoções e do destino que me espera. E creio que o dia de mudança da minha vida chegará um dia, mas não agora. Por enquanto, preocupome só em viver um dia de cada vez e quando tiver a oportunidade certa, irei agarrar-me a ela com tudo. Por fim, creio que tudo o que disse enquadrou por alto aquilo que vivi. Mas nada apaga as memórias e a infância que vivi, só espero que algum dia a minha
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felicidade supere a que tive enquanto criança nos tempos áureos da minha vida até ao momento. Diogo Nata
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“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”
José Saramago
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O que os nossos olhos dizem
Dizem que os nossos olhos são espelhos
da
alma
e
vitrines
do
coração e é muito fácil concordar com esta expressão. No olhar das pessoas é percetível as emoções de cada um. De
facto,
o
nosso
olhar
transmite mais do que, às vezes, gostaríamos e é de salientar a alegria e a inocência no olhar de uma criança, a dureza e solidão que encontramos no olhar de um mendigo, a amargura, o medo e a insegurança numa vítima de violência, a confiança e frieza de um gestor. Dado que, os olhares contam
histórias
de
uma
forma
abrupta sem necessitarem das palavras para as narrar, realçam as experiências de vida de cada um. Visto isto, o envelhecimento é notório no nosso olhar e vai muito para além das rugas, devido à preocupação em demasia, às mágoas passadas, entre tantos outros motivos que nos deixam marcas irreparáveis. É possível dizer que a forma como olhamos para as coisas é como a arte, uma vez que ao longo dos tempos vamos amadurecendo e tendo perspetivas diferentes. Por exemplo, quando um adulto olha para o céu vê nuvens, mas quando uma criança olha para este as nuvens ganham forma e vida, tornando-se em princesas, animais, em fadas… A verdade é que a falta de inocência leva-nos a ver o mundo de uma maneira mais preto no branco, uma vez que, na perspetiva de um jovem adulto, “Nem tudo o que reluz é ouro”. PORTUGUÊS – 2020/2021
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No entanto, a dificuldade é perceber o que os nossos olhos dizem sobre nós próprios. Considero que o meu olhar é bastante expressivo, assim sendo é muito fácil perceber o meu estado de espírito sem eu precisar de me expressar. Visto isto, o meu olhar conta que sou uma pessoa feliz, com momentos mais baixos na minha vida, mas maior parte das vezes encontro-me feliz. A minha infância foi passada com bastante tranquilidade, passava bastante tempo em casa dos meus familiares. A maior parte deste tempo era passado com adultos dado que era a única criança na família, assim sendo acabei por me tornar bastante comunicativa e sociável, sendo que nunca tive problemas em fazer amizades e desenvolver conversa com outras pessoas, onde quer que fosse. Contudo, passei pela minha adolescência demasiado cedo, a verdadeira idade da estupidez. Cometi bastantes erros, fiz demasiadas asneiras, mas independentemente de tudo acredito que aprendi com eles e que foi preciso fazer escolhas erradas ou até bater no fundo do poço, em alguns momentos, para me tornar na mulher que sou hoje. Com isto, percebi que a vida é como uma montanha russa, tem momentos mais altos e momentos mais baixos, sendo que o principal objetivo é que esta minha “carruagem” não pare ou descarrile, o que por vezes pode parecer complicado. Assim sendo, os meus olhos contam o que a minha boca não quer contar, descrevem os meus mais profundos pensamentos e os meus mais profundos sentimentos, revelando a minha fraqueza para que todo o mundo a possa ver… “Os nossos olhos falam coisas que a boca na maioria das vezes não sabe, ou até mesmo não tem coragem de dizer” - Ivanilson Oliveira. Todavia o meu olhar apenas conta o meu passado e o meu presente, sendo assim o meu futuro visto nos meus próprios olhos é uma mera dúvida e/ou incerteza. Obviamente que, como a maior parte da nossa sociedade, tenho sonhos e objetivos que gostaria de cumprir, como por exemplo, ter uma família, ser uma ótima profissional na minha área, independentemente de qual esta for, viajar pelo mundo, entre tantos outros desejos. No entanto, desde há uns anos para cá prefiro viver no presente e saborear os bons momentos que a vida me dá, ao invés de esperar por algo que poderá não vir, assim tento a ser uma pessoa alegre. PORTUGUÊS – 2020/2021
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Em suma, os meus olhos, vistos do meu próprio olhar, contam a minha história de vida de uma forma inédita e destemida, sendo que, como disse anteriormente, muita das vezes contam o que não quero ou não tenho coragem para dizer por palavras, “Os meus olhos contam coisas que a minha boca não quer falar” – Evelyn Souza. Alexandra Felisberto
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“Cumpramos o que somos Nada mais nos é dado”
Ricardo Reis
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“Estou muito orgulhoso de ti”
Tudo o que começa tem um fim, todo o universo funciona assim, desde as estrelas tornarem-se
em
supernovas
e
posteriormente em buracos negros até às mais pequenas bactérias presentes nos ecossistemas. Assim como tudo o que começa tem um fim, também tudo tem um princípio um meio e um fim. Sempre tive uma educação na qual me diziam para aproveitar a vida e tentar ao máximo amar e preocupar-me com as pessoas no meu círculo de vida, porque como a minha mãe diz “tanto hoje estou aqui como amanhã posso não estar” e esse é o meu lema de vida, tentar ao máximo deixar a minha marca neste planeta a que chamamos de Terra e aproveitar as oportunidades que me são dadas. Desde tenra idade, aproveito o meu tempo livre a ir para o mato ou ajudar o meu avô a arranjar e lavar o carro dele. Sempre soube que era privilegiado e não apenas em termos materiais, mas também familiares. Os meus pais e avós sempre me ensinaram a ser melhor e melhor pessoa, o que não faltou na minha infância foi amor e carinho e devo a vida aos meus pais e avós por me terem proporcionado a melhor infância que alguma vez poderia ter tido. O meu avô sempre foi e será a minha maior inspiração. Começou a trabalhar com apenas seis anos para sustentar a família de oito irmãos e, mais tarde, fruto do seu trabalho e sacrifício fundou a sua empresa na sua própria garagem. Foi ele, a minha avó e os meus pais que realmente me induziram os valores que sigo. Aos seis anos, entrei nos escuteiros, o que me fez desenvolver um espírito de liderança e um caráter que poucos possuem hoje em dia. Pouco mais tarde, entrei no Colégio Nossa Senhora PORTUGUÊS – 2020/2021
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da Paz, um colégio de cariz religioso focado na educação cristã e foi no colégio que realmente percebi que sou um rapaz privilegiado. Com apenas 15 anos, já tinha feito dois Caminhos de Santiago, o que me fez acreditar que realmente existe uma força superior. Apenas digo isto, porque o que senti, quando, após 236 km, finalmente, pisei a Plaza do Obradoiro, foi a melhor sensação que alguma vez experienciei. Senti que tinha um ser superior a bater palmas e a dar-me palmadinhas nas costas, enquanto dizia “Estou muito orgulhoso de ti”. A meu ver toda a gente acredita num ser superior, pode não admitir, mas quando estão ou estiverem numa situação em que não tenham ninguém sem ser eles mesmos, pedem ajuda ao tal ser superior. Aos dezasseis anos, entrei no internato do Colégio Internato Claret e foi aqui que mais aprendi e mais cresci e também aprendi a ser independente. Foi aqui que realmente percebi o que era a amizade, alguém em quem eu confie de olhos fechados. Para mim, esse alguém foi o Yankee, pois ele tornou-se um irmão de outra mãe. Foi a ele que finalmente pude confiar a minha vida pessoal, alguém fora da minha família, e foi ele uma das principais pessoas que me ensinaram a ser mais “crescido” e a ter mais maturidade. Sempre gostei de ter o meu futuro delineado, algo que realmente me incomoda e inquieta é não saber o meu futuro. Posso dizer que tenho literalmente o meu futuro profissional delineado ao pormenor. O meu pai sempre me disse “Faz o que gostas, fá-lo bem e aprende a ganhar dinheiro com isso” e para mim é o curso de Engenharia Mecânica Militar na Academia Militar do Exército. Para mim, a carreira militar é a carreira mais bonita que alguém pode ter, creio que servir o meu país é algo que realmente me emociona e de que, certamente, me vou orgulhar. Sou o que sou por causa dos sacrifícios dos meus pais e avós, não poderia estar mais grato por tudo o que eles fizeram por mim e sempre terei isso presente nas minhas conquistas sejam elas pessoais ou profissionais, porque para mim a família está acima de tudo e espero dar aos meus filhos a educação que os meus pais e avós me puderam dar. Francisco Sá Carneiro PORTUGUÊS – 2020/2021
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Sou a Bea que me cabe no corpo e na alma
Escrever
sobre
mim,
falar sobre mim ou sobre pessoas que são ou têm uma parte
de
particularmente
mim difícil
é e
acredito piamente que o será sempre. Isto não se deve ao facto de não ter nada para dizer, muito pelo contrário, é precisamente por ter tanto para dizer que o meu esforço é insuficiente, as palavras sabem a pouco, tornam-se insignificantes ou talvez eu não arranje as mais corretas. Simplesmente essa dificuldade tem tudo a ver com aquilo em que acredito, pois, para mim, muito mais do que as palavras, as nossas ações e atitudes refletem quem realmente somos. É realmente desafiante tentar ver-me pelos meus olhos e não com os olhos dos outros. Hoje em dia, é tão difícil gostarmos de nós, é tão difícil não focarmos na opinião que o outro tem de nós e eu falo por mim, porque eu sou uma dessas pessoas. Responder a perguntas tão simples como quem fui? Quem sou? E quem serei? Parecem impossíveis e são daquelas que nos dão voltas e voltas à cabeça. Nasci no Porto, em 2003. Trago um dia de inverno na data de nascimento, e neste mesmo dia, conheci não só o mundo em que iria viver, como o ser mais importante da minha vida, o meu irmão gémeo, que faz tanto parte de mim como eu dele. O meu crescimento foi algo que aconteceu naturalmente e que teve influência de diversas pessoas que considero profundamente inspiradoras PORTUGUÊS – 2020/2021
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e exemplos a seguir, que me mostraram que tudo é possível, quando olhamos com os olhos certos e temos o desejo de ser. Tenho uma mãe que é o meu pilar e sinónimo de coragem, generosidade e autenticidade, tenho um pai que é sinónimo de resiliência, criatividade e responsabilidade e tenho o melhor irmão do mundo. A minha família é o meu mundo e como tal, tento dar valor a cada membro e faço tudo o que posso para os ver felizes e para ficarem orgulhosos da pessoa em que me estou a tornar. De olhos azuis-esverdeados, com um olhar intenso e atento a todos os pormenores, cabelos longos e ondulados, que balançam ao vento, com uma perspetiva da vida inocente, caraterística das crianças e com uma enorme vontade de crescer era a menina B. Este meu eu do passado é alguém que guardo com muito carinho no meu coração, é uma parte de mim que nunca vou esquecer. Caraterizava-se pela sua vontade de sonhar, de ajudar o próximo e por querer mudar o mundo, tornandoo num lugar melhor e, consequentemente, mais bonito. Era destemida, teimosa, menina do seu nariz e tinha os seus valores e princípios muito bem definidos. Visualizo-a como detentora de uma energia que seguramente iluminava quem passava por ela e era feliz, muito feliz. Queria a todo o custo ser perfeita e o fracasso era algo que ela temia. Vivia, respirava e tinha uma paixão avassaladora pela dança e esta foi uma parte da sua vida durante tantos anos que até há relativamente pouco tempo pensava em seguir uma carreira de bailarina profissional. Depressa tudo mudou e aquilo que julgava conhecer afinal não conhecia tão bem, as certezas que tinha passaram a incertezas, prevalecendo as dúvidas e perguntas para as quais não tinha resposta. Rápido percebeu que nada é garantido e que tudo muda numa questão de segundos, que aquelas coisas que pensamos que nunca nos vão acontecer acontecem mesmo e a leveza da vida já não é assim tão linear como costumava ser. Neste momento, considero que sou uma pessoa diferente da que fui. Sou mais forte, mais determinada e mais reservada.
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Sou a Bea, não um ser humano qualquer, apenas a Bea que me cabe no corpo e na alma. Sou por isso, diferente do meu eu do passado, porque cresci, aprendi e transformei-me. De repente, a minha perspetiva sobre a vida e sobre o mundo muda abruptamente, «e é aí que percebo o que realmente importa, o que realmente vale a pena, e o que é essencial aos olhos, mas especialmente ao coração.» (Sofia Almeida). Aprendi a dar o melhor de mim sem querer algo em troca e a mostrar gratidão a todas as pessoas que por alguma razão se cruzam no meu caminho e me levam a ser melhor pessoa, pois sem darmos conta tomamos as coisas/pessoas por garantido e não verbalizamos aquilo que elas significam para nós, e eu não quero que chegue o “tarde demais”, para me arrepender de não o ter feito. Já não ambiciono ser perfeita, porque sei que isso não existe e tentar sê-lo é demasiado cansativo e esgotante. É acreditar ser algo que não sou, é acreditar numa coisa que não é real. Sendo assim, assumo-me perfeita na imperfeição, e aprendi a gostar de todas as minhas qualidades assim como de todos os meus defeitos. Não desisto à primeira tentativa e perceciono a vida como um conjunto de estradas e se, por alguma razão, numa houver uma obstrução, terei uma multiplicidade delas à minha disposição pois confio que quando se quer muito uma coisa, com determinação, tudo se consegue. Continuo a ser bastante teimosa e impulsiva, mas agora possuo limites e já não fico presa a algo que não me cabe a mim mudar. Escolho as batalhas que valem o meu tempo e as discussões em que devo intervir. Escolho ser feliz e viver a vida privilegiada que tenho, aproveitando-a ao máximo possível por mim e por aqueles que contribuíram para a ter, deixando o passado, que ninguém pode alterar, no seu devido lugar. Aprendi que todos temos um caminho para percorrer que é diferente para todos, e, portanto, já não me interessa se vou mais à frente ou mais atrás, apenas me interessa saber que sigo o caminho que escolhi e que o meu destino sou apenas eu que o escrevo e que este estará no sítio certo. Foi, exatamente, nas diversas adversidades da vida, injustas e dolorosas, que encontrei uma força PORTUGUÊS – 2020/2021
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que estava contida em mim e eu não sabia. Tiveram um papel de extrema importância naquilo que sou hoje e fazem parte da minha caminhada e da descoberta do que é a vida. Posso dizer que a vida não pede clemência a ninguém porque já tive a prova disso, mas posso dizer com toda a segurança, que ela também ensina que não interessa as vezes que caímos, mas sim, como nos levantamos depois de cair. A Beatriz, será o meu eu do futuro, a incógnita da minha vida que um dia irei desvendar. Apesar de ainda não a conhecer, sei que vai ser uma pessoa dada a causas, preocupada com o mundo e as pessoas ao seu redor. Terá imensos objetivos por cumprir, sendo alguns deles viajar, constituir família e ter uma profissão com a qual se identifique. Concluindo, eu fui tudo o que me permiti ser, sou muito mais do que aquilo que vejo ao espelho e serei a minha melhor versão, com a certeza de que, serei sempre fiel a mim mesma porque no final do dia é apenas isso que importa, é apenas isso que me importa a mim. É precisamente quando chega o momento de pousar a cabeça na almofada e refletir sobre todos os nossos eus, gostarmos do nosso percurso e de tudo aquilo que ele eventualmente cultivou em nós, independentemente de ter sido mais colorido ou não. Assim, apenas me resta dizer que o melhor de mim está para chegar… Beatriz Marques
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Opto por me observar como um puzzle
Desde o início da nossa existência, que vamos desvendando diversos mistérios. Começamos, em primeiro lugar, por conhecer o restrito mundo e as pessoas ao nosso redor, compreendendo o conceito de família. Aprendemos a caminhar. Desvendamos o significado das letras e palavras, passando a saber ler e escrever. Expandimos todo este novo conhecimento ao resto do mundo, acabando mesmo por considerar que já descobrimos ou temos acesso a tudo. Contudo, há perguntas que permanecem constantes sobre o nosso intelecto, que mesmo que não queiramos sofrem mudanças e alterações ao longo do nosso quotidiano. Estas são aquelas que abordam o tão temido “Quem”, levando-nos a questionar “Quem fui?” “Quem sou?” e ainda pior “Quem serei?”. Pessoalmente, devido à minha forte veia científica, que me leva a racionalizar tudo, prefiro percecionar cada característica de uma pessoa como o resultado de um conjunto de acontecimentos na sua vida. Desta forma, consigo compreender mais facilmente o meu ser, no presente, pois basta relembrar os momentos que marcaram o meu passado. Destes, considero pertinente realçar três, que constituem aqueles que tive o singular privilégio de mudar de país, continente, mas, o mais assustador, sair completamente da realidade em que me encontrava. Nasci em Portugal, onde experienciei uma infância comum, porém, com apenas quatro anos, mudei-me para Cabo Verde e posteriormente, com nove anos, naveguei um bocado mais para sul passando a viver em Moçambique. Todavia, não sinto que tenham sido todas essas mudanças geográficas que influenciaram o meu desenvolvimento, mas, na realidade, o que esteve por detrás destas: o contexto social, psicológico e maioritariamente cultural de cada comunidade onde me passei a inserir. Consequentemente, com a minha regular estadia na terra lusitana, concebi a noção de conforto, segurança e patriotismo, visto que, mesmo estando fora do
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país, sempre soube que este era o sítio onde iria retornar. Ao viver num arquipélago, sempre rodeada por mar e natureza, cultivei a minha forte preocupação com o ambiente e com os outros. Vivenciei um quotidiano completamente desapegado de tudo que era tecnológico, o que me levou a priorizar as relações que estabelecemos com as pessoas. Por fim, em Maputo, acompanhando o amadurecimento natural da idade, também aprendi e pude observar em primeira mão a face negativa do mundo, formando-se em mim um lado mais crítico, consciente e preocupado com os problemas da sociedade atual. Neste preciso momento, encontro-me no quarto momento de transição da minha vida, em que, depois de muitos anos, retornei às minhas “raízes” e, como se isso não fosse suficiente, esta mudança foi acompanhada pelo surgimento de um vírus que modificou drasticamente o modo como vivemos. Voltei, assim, ao sítio que sempre chamei casa, mas nunca reconheci como tal. A vida conduziume ao Colégio Internato Claret, onde pude encontrar e conhecer novas pessoas, realidades e histórias, contribuindo para o enriquecimento de toda a minha identidade. Afinal, como é que eu me vejo, pelos meus próprios olhos, no meio
destas
mudanças
todas?
Opto por me observar como um puzzle, mais especificamente um mosaico em constante e regular construção. Neste, cada singular peça simboliza uma memória, uma amizade, um hábito, um gosto, uma opinião... No meu caso, há traços e cores que permanecem inalteráveis: a minha avermelhada e
forte
determinação
em
conquistar tudo que ambiciono; a minha inquietação, sobressaindo num tom azul, para com a injustiça, desigualdade e o desrespeito pelo outro; o PORTUGUÊS – 2020/2021
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meu constante otimismo e curiosidade, em pintas amarelas, em saber e conhecer mais, mais sobre os outros, mais sobre mim e mais sobre tudo que me rodeia. Contudo, neste mosaico também se encontram traços negativos, como o desejo irrealista de atingir a perfeição e de não aceitar o erro, que levam ao escurecimento temporário das outras cores. Sendo a minha história fortemente marcada por mudanças, seria simplesmente
incoerente
afirmar
que
espero
um
futuro
definido
pela
estabilidade. Pelo contrário, aspiro a uma vida baseada em alterações, desilusões e desafios, pois são a partir destas que surgem as melhores experiências e memórias. Ambiciono marcar positivamente a vida daqueles que me são mais próximos, já que é somente através das outras pessoas que nos é possível perpetuar o nosso ser e essência. Planeio, assim, continuar a construir o meu mosaico com as mais distintas peças, dando uso às variadíssimas características que já adquiri. Deste modo, quando olhar para o mesmo, como um todo, reconhecerei uma existência única, díspar, mas principalmente imperfeita, visto que, como Fernando Pessoa defendia, o “perfeito é o desumano”. Maria João Teixeira
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“Quanto mais diferente de mim alguém é, mais real me parece”
Bernardo Soares
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As pessoas têm um jeito alegre de chorar
Para falar do meu “eu” que se
encontra
num
processo
evolutivo constante, tenho de começar por referir de onde vim, do lugar que contribuiu para aquilo que um dia fui, para o que sou hoje e que mesmo já não estando
lá
contribuirá
para
aquilo que serei, porque tudo em mim é o reflexo do lugar que me viu nascer, crescer e me tornar na pessoa que sou hoje. De
onde
eu
venho,
as
pessoas têm um jeito alegre de chorar, uma luz única que reflete, mesmo diante das inúmeras tristezas e foi este lugar que um dia me ensinou a sonhar. Uma menina que nunca fez questão de ser delicada, que procurava o porquê de tudo e que não se conformava com respostas simples e vagas, que sempre via o lado bom das pessoas e que aprendeu desde pequena que o amor é a base de tudo e que nós recebemos aquilo que damos. A menina que um dia eu fui nunca soube lidar com “nãos”, mesmo ouvindo várias vezes que ao longo da vida eles estariam presentes. A menina que sou hoje não é muito diferente, continuo a amar as coisas pequenas da vida, a doar o melhor de mim às pessoas que estão ao meu redor, procurando sempre ser a minha melhor versão, até mesmo nos meus piores momentos. Apesar de sempre ter ouvido que sonhar era de graça, hoje eu sei que isso não é verdade, continuo a alimentar os meus sonhos, o que me levou a PORTUGUÊS – 2020/2021
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conhecer o preço de cada um deles e por isso decidi sair da minha zona de conforto à procura de uma melhor educação para mim, de novas experiências e oportunidades. Esta sou eu hoje, uma menina mulher que não mede esforços para ver os seus sonhos realizados, apaixonada por cultura, alguém que desconhece a palavra limites. Eu sinto-me uma palavra porque eu sou sempre a mesma, mas diferente à vista de cada pessoa diferente. Quem eu serei no futuro? Eu vejo-me a percorrer cada canto do mundo à procura de novas experiências, porque é isso a base da minha felicidade, vejo-me também a dar vida a vários projetos, a criar novas oportunidades para os jovens da minha comunidade, a levar esperança e alegria a diversas famílias, inclusive a minha. A minha versão futura está a ser agora formada por mim, pelos sonhos ainda em papel, por cada cobrança minha e que, de certeza, no futuro fará mais sentido.
“Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.”
- Álvaro de Campos Yossane Lemos
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