S I M O N E P O S S A S F O N TA N A
ABANDONADA NA ESCADARIA Tenho dezessete anos. Já devem ser mais de dez horas da noite. Não tenho certeza, pois saí as dez da escola e já faz uns quantos minutos que aqui estou. Onde? Sentada na escadaria do prédio da Escola J. M. Coloco os livros no degrau da escada e sento-me sobre eles, esperando pela carona de meu pai. A escola J. M. é enorme. Ocupa um quarteirão inteiro. Ao subir essa escadaria com vinte degraus (contei-os enquanto espero), chega-se num saguão chamado de Sala de Espera. Quem aí espera para ser atendido pela diretora, fica rodeado de fotos de ex-professores homenageados. Passando por esse saguão, chega-se numa bifurcação: à esquerda, longo corredor com vinte salas de aula e a direita também. Em frente da bifurcação, uma longa escadaria que leva ao segundo andar igualzinho ao primeiro. Isso é somente uma ala da escola. Nos fundos existe um grande pátio com área de lazer e quadras para prática de esporte. Cercando esse pátio, surgem mais três blocos com dois andares cada, contendo mais salas de aula. Quem conhece a Escola J. M. sabe de sua imponência física e educacional. É uma escola mantida pelo governo estadual com educação pública de alto nível. Estudo no período noturno, pois trabalho como recepcionista num escritório de advocacia durante o dia. Curso o último ano do segundo grau e prestes a fazer as provas do Vestibular. Ocasionalmente acontecia um fato engraçado: a porta da sala de aula se abria bem devagar, rangendo seus velhos e enferrujados parafusos. Olhávamos para a porta aberta e gritávamos num uníssono: – ENTRA J.M.! ENTRA! Nem os professores conseguiam conter o riso. Virou lenda! Quem estudou no J.M. sabe dessa brincadeira fantasmagórica! Todos os alunos estão indo embora. Todos? Todos menos eu que espero sentada na escadaria. Vejo os professores e outros funcionários saindo também. Aceno para uns, converso com outros. A escola está ficando vazia. O silêncio aumenta. Escuto um barulho de interruptor sendo desligado e todas as luzes se apagam, com exceção da lâmpada que fica no lado de fora da escola. É a última funcionária que sai: Dona L., a bibliotecária. 117