M A RC OS C OSTA F IL HO (ORG.)
A VIDENTE Fernanda e Tânia são colegas no mesmo escritório. No final de semana saem para festas, bares ou pizzarias. Numa dessas festas, conheceram um rapaz magrinho com cerca de dezessete anos, moreno, barba rala, tatuagem nos braços e brinco numa das orelhas. Suas vestimentas destoavam do restante dos outros homens já que era aniversário de um jovem advogado e este havia convidado colegas do Forum, do Tribunal de Justiça e escritórios de advocacia. Os convidados e o aniversariante trajavam calça, camisa e sapatos sociais, alguns ainda estavam com blazer; outros, mais acalorados, de mangas de camisa. Conforme o tempo foi passando, a conversa fluindo, o volume das conversas e o calor foram aumentando, as mangas das camisas foram sendo enroladas nos braços, as gravatas foram retiradas, mas isso não diminuía a elegância dos advogados. O rapaz magrinho estava de tênis velho, calça jeans, camiseta muito usada e boné com a aba virada para trás. Tânia notou a diferença, mas não se importou. Fernanda notou e ficou com um pé atrás. – Você vai dizer que sou preconceituosa, mas esse rapaz aí é bem estranho, não? – diz Fernanda apontando o magrinho com o queixo. – É... Achei que ele é um estranho neste grupo, mas no grupo dele não destoaria nadica. – E qual é o grupo dele? – Ora Fer, percebe-se de cara que ele é um morador de uma comunidade pobre, né? – responde a intelectual Tânia. – Mas até que é bem bonitinho... – Hã hã. Venha comigo. – fala Tânia, já puxando a tímida Fernanda pelo braço e encaminhando-se até o magrinho. Contando com o desembaraço de Tânia, logo os três novos amigos já estavam em animada conversa. O papo não fluiu com temas de alto padrão, tendo em vista que a diferença cultural era grande, mas o que fez com que as moças permanecessem na prosa foi o que ouviram do magrinho. Fernanda e Tânia não se lembram de como foram parar nesse assunto, mas após alguns drinques, estavam cochichando sobre adivinhar o futuro. E o magrinho disse: – Minha avó é vidente! E das boas! 120