M A RC OS C OSTA F IL HO (ORG.)
DESPEDIDA Na charneca adormecida canta o melro, a cotovia, e nessa terra parida, nascem searas de vida ao romper de cada dia. Alentejo, esse horizonte que se perde na distância, é água fresca da fonte que, um dia, correu do monte, no tempo da nossa infância. A faina traz os cantares dos ganhões, nas caminhadas, que com todos os vagares, enchem de cantos os ares em cadências compassadas. Atrás, vai seguindo, terna, nesse calor tão intenso, a mulher de calma eterna, com a saia atada à perna e o chapéu cobrindo o lenço. Gotas caídas no chão, como chuva descabida, são surpresas de verão quando a minha comoção as chora na despedida. Assim, por onde passar, seja estrada, seja atalho, se alguém me vir a chorar, eu digo, sem me voltar: – lágrimas? – Não, é orvalho! 148