O SINAL DE BLUMBERG AYMORÉ ALVIM A Medicina quer na área clínica ou cirúrgica, é rica em epônimos. Mas, ultimamente, pelas dificuldades que causam ao médico e ao estudante, vêm sendo mudados. Por exemplo. O Ponto de Mc Burney que coincide com a projeção do apêndice cecal, na parede da fossa ilíaca direita, foi substituído por Ponto apendicular. Na Faculdade de Ciências Médicas do Maranhão, o nosso professor de Clínica Cirúrgica era o Mestre Antônio Hadade. Dentre os vários procedimentos por ele abordados, em sala de aula, um deles foi o Sinal de Blumberg. Quando se faz uma compressão, no ponto de Mc Burney, dói. Mas essa dor se intensifica bastante se, em seguida, se provoca uma súbita descompressão. Isto é sugestivo de irritação peritoneal no local e está, geralmente, associado com apendicite aguda. Esse epônimo foi uma homenagem ao grande cirurgião alemão Dr. Jacob Moritz Blumberg. No dia da inauguração da nova sede da Academia Maranhense de Medicina, conversando com um colega sobre casos da época, lembrei-me de um ocorrido num plantão do Pronto Socorro, um prédio de dois andares que ficava à Rua do Passeio, ao lado dos fundos da Santa Casa de Misericórdia. Quando eu fazia o quinto ano médico, um colega pediu-me, um dia, para tirar o seu plantão noturno, na Equipe do Prof. Zilo Pires. Da equipe fazia parte um quartanista cujo nome não me recordo, mas o apelido dele era “Burrinha”. Por que? Não sei. Em dado momento, quando saí para atender uma ocorrência no Goiabal, deu entrada no plantão um senhor com queixas de dor na barriga e vômitos. Prof. Zilo, como estava terminando outro atendimento pediu ao acadêmico “Burrinha” para iniciar os procedimentos. Daí a pouco ele retorna e Prof. Zilo pergunta-lhe: - Como é, já concluiu? -Tá tudo bem, professor. - Tudo bem o que, rapaz? E o Blumberg? - Blumberg? Sei não, senhor. - Mas você não conhece o Blumberg? - Professor, eu nunca vi esse sujeito por aqui, Mas se o senhor quiser vou perguntar ao pessoal. Talvez alguém o conheça. Bastou. A risada foi geral. Burrinha ficou meio desconfiado. - Vem cá, meu filho. Deixa eu te mostrar como se procura o sinal de Blumberg. - Professor, ele não tem sinal nenhum. Nem no rosto, nem no peito. Não vi nada. Quando entraram na sala de exames... - Ah! Professor, esse tal de Blumberg é esse cara aí? Ele me deu outro nome. Só se for o apelido dele. Prof. Zilo para não perder a paciência, o que era muito difícil, resolveu fazer tudo sozinho. Quando eu voltei, me contaram o ocorrido. Eu não sei como, mas no outro dia, quando eu cheguei à Faculdade que funcionava, ainda, no atual prédio do Hospital Universitário Presidente Dutra, todo mundo já sabia.