A LINGUAGEM PÓS-MODERNA DE CARVALHO JUNIOR PAULO RODRIGUES “o mundo ainda não tem os olhos/ rasgados/ pela cápsula do sombrião”
Gravei, com o querido poeta Neurivan Sousa, uma live em que discutíamos a linguagem pós-moderna do livro O homem-tijubina do poeta e ativista cultural Carvalho Junior. O autor caxiense faleceu em março de 2021(vítima da pandemia e do pandemônio que arrasou com as forças do país). Estávamos comovidos. Estamos ainda comovidos. Carvalho deixou sua marca nos afetos da literatura contemporânea. Era um homem de diálogos coletivos. Nunca pensou dentro de uma caixa de fósforo. Queria “de mãos dadas” alçar voos pelo oceano da Língua Portuguesa. Estou convicto que ele conseguiu. O homem-tijubina & outras cipoadas entre as folhagens da malícia (edição bilíngue) foi lançado pela Editora Patuá, em 2019. São setenta e quatro páginas de um mito em construção. O trabalho gráfico é primoroso. Celso Borges diz no último parágrafo da apresentação: “o poeta é um gato do mato perseguindo a cauda do vento selvagem”. Ai dele se virar um gato de fitinha no pescoço. Carvalho sabia – de vivência – os versos: “o lugar da poesia é o da oposição”. Portanto, nunca será um felino adestrado. O fragmentário da linguagem é nítido em algumas construções, na poética carvalhiana. As alterações na linearidade das cenas que o fazem voltar a muitas lições de Oswald de Andrade. Os dois antecipavam novas semióticas na composição do poema. No poema CIPOADA (IV), lemos: gravou a tijubina na areia intensa de febre – com o pitoco de rabo mutilado sobre uma folha também rasgada de mágoas – : te amo do tamanho da minha fuga! (CARVALHO JUNIOR, 2019, p. 40) Carvalho teceu a trama do verso. Ficamos esperando mais imagens. O fôlego alongado, mas ele resolve cortar as expectativas do leitor e encerra o texto bruscamente: te amo do tamanho da minha fuga.