LEMBRANÇAS QUE JÁ VÃO LONGE...* FERNANDO BRAGA Estes lances aqui narrados, não aconteciam apenas em frescas madrugadas, mas no dia-a-dia de São Luís, cidade que “nunca será vencida, nem nos combates por armas, nem na nobreza por atos”, como nos versos de Gonçalves Dias, o nosso poeta maior; aonde a aurora é saudada pelos tambores de Mina e de Crioula; e aonde se “servem ótimos crepúsculos”, segundo o gosto poético e boêmio do poeta Lago Burnet. Aquele que ali passa a dirigir seu carro, é de fato e de direito um cidadão fidalgo, é o Dr. Joaquim Sales de Oliveira Itapary Filho, a pitar seu cachimbo, e a soltar bem na curva do Centro Caixeiral com a Rua de Nazaré e Odylo, um rolo de fumaça que vai deixando na algaravia poética do bar e restaurante ‘Aliança’, um cheiro inglês de fumo achocolatado, sem imaginar que um dia viria a escrever ‘Hitler no Maranhão ou o Monstro de Guimarães’, um dos grandes livros da ficção brasileira e ‘Armário de palavras’, uma coletânea de crônicas, ricas pelo conteúdo, pelos temas e pela elegância do estilo. No Bar e restaurante ‘Aliança’, a figura sempiterna e querida do seu proprietário, o lusitano António Tavares, com a calva luzidia e um lápis seguro à orelha, a nos contar proezas acontecidas em Vale de Cambra, sua bela cidade no distrito de Aveiro, Portugal, aonde um dia tive a oportunidade de comer uma ‘uma vitela da Gralheira’, regada a um bom tinto da região; punha-se, também, ele, o António, atento às conversas vindas das mesas onde se assentavam os jornalistas e poetas José Chagas, Nauro Machado, Agnor Lincoln da Costa e Amaral Raposo, enquanto na calçada passa e repassa, de quando em vez, o advogado Clineu Coelho de Sousa e o irrequieto Arimathéa Ataíde, ambos móveis e utensílios da bem querença da Cidade. Aquele canto, como se diz em São Luís, da Rua de Nazaré e Odylo, com a da Rua da Palma, é uma ‘via crucies’ de jornalistas, radialistas, políticos e mais uma gama de gente que por ali trafega em seus afazeres diários, ou simplesmente para ouvirem as reivindicações sociais do escritor e poeta Nascimento Moraes Filho [José] que, em um dos ângulos da praça, estabeleceu seu ‘Beco do Protesto’ de onde braveja com sua voz altitonante, contra os absurdos praticados ao meio ambiente por uma multinacional, instalada às margens do Bacanga...E Zé Moraes, como era carinhosamente chamado, tinha cacife para fazê-lo, vez que é o autor imortal de ‘O Clamor da Hora Presente’, desabrolhado no país inteiro, com endosso da grande crítica brasileira, e do discernimento estético de Otto Maria Carpeaux, como um grito em defesa dos menos aquinhoados na vida. E as pessoas ali se multiplicavam para ouvirem os protestos e trocarem ideias com o poeta. De repente, a atravessar a pracinha Benedito Leite, lá vai o Dr. Antônio José Muniz, requintadamente vestido, em direção à Avenida Pedro II, sobre o qual não deixarei a primazia para o querido e saudoso Bernardo Coelho de Almeida de falar, somente ele, em seu livro ‘Éramos Felizes e não Sabíamos,’ das qualidades funcionais dessa queridíssima figura que é, sem dúvida nenhuma, o nosso amigo e companheiro Muniz, como é conhecido pelos íntimos e pela torcida do Flamengo e do Sampaio Correia, clubes de seu coração. Sem muitas aprazas, confesso que pelas minhas andanças funcionais em gabinetes e assessorias que se fizeram pedaços de minha história, onde tive a oportunidade de cruzar com muita gente boa de serviço e competência funcional, o que de alguma forma me proporciona condições de aferição, apraz-me dizer aqui, de corpo presente, sem receio de erro, que ninguém encontrei “melhor de serviço e de tomada de decisão” do que meu amigo Antônio José Muniz, com quem tive a oportunidade e a alegria de trabalhar no gabinete de uma Secretaria de Estado, em São Luís, quando à disposição, a tais préstimos, mesmo por pouquíssimo tempo, foi o suficiente para endossar em gênero, número e grau o que diz textualmente Bernardo Coelho de Almeida, “ser Muniz o funcionário público de maior competência que já vira por toda sua vida”. E eu também! Aproveito o gancho de ‘Éramos Felizes e não Sabíamos’, onde Bernardo Almeida, com sua elegância ao escrever, aponta um homem que passa pela rua trajando terno de linho branco e levando à destra, uma pequena malinha... Era o médico pediatra João Mohana, recém-chegado da Universidade da Bahia, sempre