ALL EM REVISTA, Vol. 8, No. 4 - OUTUBRO A DEZEMBRO 2021

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A VIDA É EFÊMERA, O AMOR, JAMAIS Osmar Gomes dos Santos Após mais de três anos escrevendo de forma ininterrupta, todas as semanas, simplesmente fiquei sem palavras. Entre soluços e lágrimas, apenas prostrava os joelhos no chão e elevava o pensamento ao Divino. Sem forças para resistir, o luto apanhou-me de surpresa e tomou conta de mim. Este que agora vos fala, ainda perdido nos labirintos de uma mente que ainda não assimilou o choque, se arrisca em alguns rabiscos. Não poderia falar de outra coisa, não haveria tema com tanto sentido a ser tratado nesta hora. Afinal, não há tempo para o amor. Recentemente, noutro escrito, falei do convite especial que havia recebido para uma grande festa. Diante do ocorrido, tal escrito vinha em minha mente, como se a literatura se confundisse com a vida real. Vi-me dentro de meus próprios rabiscos enquanto em ti a pensar, minha vida. Lembrei-me que naquela ocasião, vesti-me da melhor maneira, usei o melhor perfume e aproveitei intensamente a oportunidade. Apresentastes a mim, doce e meiga, que ao primeiro olhar, logo percebi que serias tu a mulher que faria meu coração pulsar mais forte a cada dia. Vieram filhos, netos... a família cresceu. Viveste também a tua noite, a tua festa. Ela viveu a sua festa, cujos efêmeros acontecimentos esvaem-se como a névoa da noite ao alvorecer. De forma tão intensa, mas ao mesmo tempo tão sutil. Deixou sua marca, sem precisar marcar ninguém, sem ferir, nem ofender. Tu partiste, ó, Maria. Depois de 37 anos ao meu lado, tão repentinamente como entrou em minha vida, tua alma escorreu pelas minhas mãos naquela fria madrugada. Sem reclamar, sem blasfemar, sem perder o brilho nos seus olhos. Apenas adormeceu e nos deixou. Discreta, doce, meiga e singela, da mesma forma como viveu. Ó, Maria, a forma dileta como acolhia até mesmo os desconhecidos, virou sua marca de vida. Olhar, atenção, doação. Despir-se de si, de vaidades, preconceitos, bens, em favor do outro foi uma missão que perseguiste até o suspiro derradeiro. Não à toa, escolheste ser professora. Não consigo falar de ti, minha rainha, se não for proseando os momentos que vivemos. Dos olhares enamorados na sala de aula, da vida difícil em um quarto pequeno da casa da minha mãe. Ali, frente à rua enlamaçada, arquitetamos nosso projeto de família. Eu servidor público e tu estudante. O salário era mínimo, o sofrimento era grande, mas os nossos sonhos não tinham dimensões. Com retidão de caráter, humildade e seriedade, foi e, sempre será, exemplo de mãe, de esposa e de mulher. Ó, Maria, vivemos com paixão cada momento daquela noite, das nossas vidas. Fazemos valer a pena cada minuto, mas, para ti, o dia amanheceu mais rápido e seu brilho, agora, disputa espaço junto aos mais lindos raios de sol. Nesta festa que é a vida, não queria jamais ser convidado para outra. Aceitaria tantos quantos fossem os convites para estar contigo, meu amor. Se precisasse conquistar-te a cada dia, o faria sem pestanejar. E se recebesse eu a oportunidade de me casar 100 vezes, poderias tu preparar 100 modelos de vestidos diferentes. Saíste repentinamente, com a mesma velocidade com a qual chegaste. Mas tuas lições ficarão guardadas em mim. De quando me punha em seu colo, como criança, afagava-me seus braços e me aconselhava como uma amiga, uma mãe. Foi e será a mulher da minha vida. Espero, ao final da festa, poder pegar em tuas mãos, olhar em teus olhos e te levar para passear. Vou querer matar toda a saudade dessas horas que não passam.


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