LiteraLivre Vl. 5 - nº 29 – Set./Out. de 2021
Alberto Arecchi Pavia – Itália
Praias de Venenos Desde o ano 1990, a Somália, na
a
história,
a
lenda,
esconderijo
anos "terra de ninguém", no meio de
altamente tóxicas e radioativas. As
uma sangrenta guerra civil. Os tráfegos
populações locais e os pescadores
ilegais fundaram por aí o paraíso das
pagaram as conseqüências, saindo de
lixeiras e da poluição. Até, para resolver
um banho de mar com as carnes
os problemas da poluição nos Países
gangrenosas e o sistema nervoso em
“desenvolvidos”,
queda. Fumos de incenso e sândalo
engenheiro
de
purificar a pilha de lixo da miséria
e
radioativos,
tráfico
de
para
transformados em torpedos e jogados
humana,
nas profundezas do mar, ao longo da
soldados, arrancadas às famílias pela
costa, fincando na base do continente
guerra de gangues.
africano.
o
suficientes
lixo,
não
tóxicos
ser
de
inventara o “Projeto Urano”: recipientes resíduos
podem
toneladas
o
região do Corno da África, foi por muitos
um
de
tornou-se
crianças-
Um dia, um pescador encontrou
Navios carregados com lixo tóxico e
um pedaço de metal, um invólucro
radioativo viajavam ao longo do Mar
brilhante, preso no recife, não muito
Vermelho para chegar a essas costas.
longe do farol português. Ele tocou o
Os recifes com caranguejos, lagostas,
cilindro,
conchas
e
sensação de ardor cruel. Não foi só
a
uma queimadura: o braço enfraquecia
música evocativa, o cheiro do incenso e
e a pele era clara, queimada, como se
da
memórias
tivesse tocado uma substância ácida.
seculares de comerciantes, marinheiros
Então seu cabelo começou a cair. O
e viajantes, de Simbad, o Marujo, e de
homem
Vasco da Gama... Tudo isso, a natureza,
dolorosamente. Um fogo interno o
do
manguezais, mirra
mar, as
do
praias Iêmen,
palmeiras de as
areia,
7
curioso,
e
morreu
ganhou
lenta
uma
e