LiteraLivre Vl. 5 - nº 29 – Set./Out. de 2021
Rodrigo Duhau Brasília/DF
Serviço de bordo Renato sentou-se na poltrona vermelha carmesim. Um desassossego fazia suas mãos suarem e seu corpo tremer um bocadinho. Estava vestido com uma camisa social azul clara e calça de brim preta. Calçava um par de sapatos marrom sem cadarços. Aquela sensação de desconforto, que já bem conhecia, tomava-lhe o corpo. Esticou o braço para o alto e pressionou o botão de chamada de comissários. Um dos tripulantes o atendeu rapidamente, demonstrando falsa simpatia. – Em que posso servi-lo, senhor? – Seria possível me trazer um pouco d’água, por favor? – Pois não – limitou-se a dizer o comissário de bordo. Virou-se e foi pegar a água de Renato, desviando-se dos passageiros que ainda guardavam suas bagagens de mão no compartimento de cima. Ao lado de Renato, na poltrona do meio, uma mulher. Uma bela mulher de pele morena, com cerca de trinta anos. Tinha cabelos que lhe tocavam os ombros, olhos negros e redondos que compunham harmoniosamente seu rosto em forma de diamante. Estava acompanhada de uma garotinha – sua filha –, que gostava de se sentar na janela para ver a asa do avião trespassar as nuvens.
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Renato passava as mãos na calça para enxugar o suor. Decidiu ler a revista da companhia aérea. Pegou os óculos. Desatento e incomodado, ele desistiu, retornando a publicação para o compartimento do encosto da poltrona à frente e os óculos para o bolso da camisa. Suspirou e tomou um pouco de água. – Tudo bem com o senhor? – indagou a mulher ao lado dele. – Hã? O que foi? – Perguntei se o senhor estava bem. – Ah, sim...tudo bem, sim. Só um pouco nervoso. – Medo de avião? – Sim... – respondeu Renato, laconicamente, com um sorriso tímido e envergonhado. – As estatísticas dizem que... – Eu sei o que as estatísticas dizem – interrompeu Renato. – As estatísticas dizem que um acidente fatal ocorre a cada quatro milhões de voos – informou o homem. – É mais ou menos por aí – concordou a bela mulher. – Olha...peço desculpas se fui um pouco rude com a senhora. É que fico...