LiteraLivre Vl. 5 - nº 29 – Set./Out. de 2021
Rosangela Maluf Belo Horizonte/MG
A conversa entre elas passava sempre pelo mesmo crivo: como andam os amiguinhos da internet? Aos sessenta anos, as três amigas se divertiam com as paqueras virtuais, aquelas com duração máxima de quinze dias, em média. Depois, tudo ia perdendo a graça e os amigos atuais se mostravam tão desinteressantes quanto os anteriores. Não estava sendo fácil. Muita gente, pouco interesse e uma chatice sem fim. Aí era só esperar pelo final de semana, quando o tal do algoritmo permitia a invasão dos seus perfis, com novas fotos sorridentes e dezenas de pedidos de amizade, tanto de homens quanto de mulheres – de todos os tipos, gêneros, procedência, cor & credo, vivendo no Brasil ou fora dele. Até que era divertido! Se houvesse fotos, amigos em comum e dados pessoais, as solicitações seriam aceitas. Caso contrário, recebiam um deletar e apenas pessoas com mais afinidades e mais dados complementares integrariam o time dos amigos. Um critério muito usado era o de amigos em comum, uma fraca segurança, mas, ainda assim, melhor que nada. Naquele almoço, depois de uma garrafa e meia de um bom malbec, ela resolveu contar sobre o seu caso, até então mantido em razoável discrição. Relatou alguns detalhes deliciosos. Mostrou fotos. Um coroa e tanto. Um encontro já vinha sendo programado e ela resolveu falar disto também. Dos planos. Num local neutro, nem lá nem cá. Em qual cidade seria? Ela muito ansiosa. O frio na barriga. E se tudo for um desastre? – E se tudo for uma maravilha, uma delas perguntou. Pense que pode ser bom, pode ser ótimo e se não for, f......-se! — Olha, na nossa idade, tudo pode ser sempre melhor. Nada de muita exigência, amiga. Deixa acontecer! Assim falou a rainha dos namoros pela internet. O seu amigo atual já durava mais de um ano. Vários encontros. Como viviam os dois na mesma cidade, jantares à luz de velas eram muito frequentes. Tudo bem romântico. Inclusive o sexo, surpreendentemente bom, muito bom! Ela adorava contar tudo, nos mínimos detalhes! E nós adorávamos aquelas histórias. Éramos sua plateia. Depois do almoço e da sobremesa, o cafezinho na sala.
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