LiteraLivre Vl. 5 - nº 29 – Set./Out. de 2021
Angélica Alves Ruchkys Belo Horizonte/MG
Crônica de uma escrita acadêmica Não
sou
novata,
mas
titubeio.
Experimento a tensão da pré-escrita. E não é uma escrita qualquer, mas a escrita de ciência. Um certo volume de leituras anotadas se avolumou. Agora, elas
vão
Espero.
se
precipitar
Trabalhei
um
em
escrita.
bocado.
Estou
cheia de discursos alheios, de palavras anônimas e de raciocínios meus. A tela em
branco
impaciência.
aguarda,
não
Escrever
um
sem texto,
qualquer texto, é um ato de estreia. O estranhamento com a escrita acadêmica dos primeiros anos de faculdade pode ter ido embora, mas o sentimento de estreia
complica
o
jogo.
Tenho
um
plano, claro! Um claro plano... Uma estrutura para sustentar a coreografia dos meus pensamentos dialogicamente entretecidos
com
Acerquei-me
das
aqueles vozes
que que
li. me
acolheram, bem ou mal, com uma tese, algumas razões que a justificavam e perguntas.
Sem
pelo
menos
uma
intenção de leitura, não haveria diálogo e, se houvesse, não seria frutífero, se se
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considerar que o fruto é uma escrita autoral. Gostaria de dizer isto para o maior número de colegas que estão começando. Não se vai aos teóricos da academia despido de perguntas próprias,
de
inquietudes,
de
incertezas claramente concebidas. A pergunta move a leitura. Sem ela, não há comoção. Da leitura tem que advir um abalo. Tem que entrar sua memória, senso
sua
crítico
história, te
porque
remete
a
o
você
mesmo. E criticidade é essencial, eu diria também. Escrever tanto quanto ler não é jornada puramente racional; é emocional e emocionada. Ler
para
escrever
dá
trabalho.
Destaquei trechos, registrei datas e páginas,
organizei-os
inventadas
por
mim:
sob
rubricas
“Pontos
em
comum entre x e y. Argumento em favor de z. Definição de w”. Está tudo aí e não está nada ali na tela em branco, que, a essa altura já até suspira. O que há entre o texto e o