LiteraLivre Vl. 5 - nº 29 – Set./Out. de 2021
Chumbo Pinheiro Natal/RN
Carne O cheiro da noite tem o perfume da carne: Da carne da favela, beco, vila; Queimando sob os lençóis amarelados de pedras e barro, líquidos corpos devorados. Amores etéreos em pele nua. Em escombros, em praças, em ruas. Sacia a fome de quem não tem nome, Nem paredes, nem teto, nem travesseiro. Sacia o desejo transbordante de afeto No seu amor primeiro e derradeiro, Tão sincero como a dor que atravessa A alma, a pele, a carne, o peito. E a rua a meia luz revela a sombra Que a assombra a cidade líquida Que escorre pelo ralo e vive No leito marginal do rio banido, Esquecido, ferido, possuído de dejetos, Objetos e corpos liquidados e líquidos.
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