LiteraLivre Vl. 5 - nº 29 – Set./Out. de 2021
Heloísa Marina Distrito Federal
A poesia renasceu dentro de mim Da sacada o primeiro dia passou, depois a semana, o mês. O que seria apenas uns meses se transformou em ano e continua... Lamentaria, se não fosse os motivos para agradecer, a vida já estava parada, presa na desordem da minha cabeça, pensamentos confusos, monstros antigos despertaram, queriam sair, ver o mundo, o que havia lá fora, mas agora todos estavam do lado de dentro, monstros, duendes, pessoas, lá fora medo e dúvidas. Fui obrigada a sentar-me com meus monstros para um chá, esperando o tempo passar, já que nenhum de nós podemos sair, fugir. Da sacada o sol se pôs inúmeras vezes, me dei conta que raramente o vi nascer, nessa hora estou colocando meus monstros para dormir, eles se recolhem ao amanhecer. Reclamaria se pudesse, se não fosse os motivos para agradecer, agora durmo à noite, eles se cansaram, a graça era me ver trabalhar cansada, mal-humorada, acabada. Apostaram até quando eu aguentaria, mas o mundo parou e ninguém ganhou. Da sacada ouvi serenata, vi aniversário, chá de fralda, pedido de casamento, namoro, ouvi o choro, choro dos desesperados como eu. Queixar-me-ia, se não fosse os motivos para agradecer, quem me dera poder culpar um vírus por minhas dores, aquelas que arrasto, omito, nego. Recusei-me a sofrê-las e ainda me recuso. Alimento os monstros porque deles sei como me livrar, das dores não, não sei me curar. Elas, eu ignoro até acreditar que me curei, mas sempre voltam a arder, corroer, doer. Da sacada nada mais vi, não moro mais ali. Não caibo mais em mim, mas agradeci o quanto amadureci. Os monstros, as dores, os amores, são partes importantes de mim. A poesia renasceu dentro de mim, por tudo que vive e morre dentro de mim... https://www.instagram.com/heloisamarina_/
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