LiteraLivre Vl. 5 - nº 29 – Set./Out. de 2021
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Qero o Chico
Peladeiro que se preze deve lembrar-se bem do antigo método para a formação dos times. Na escola, na rua ou em qualquer outro lugar em que haveria o “racha”, dois garotos, supostamente os capitães das equipes, tiravam par ou ímpar para determinar quem escolheria primeiro, de forma alternada, os jogadores. Na rua Antônio Basílio, na Tijuca, no quarteirão entre a José Higino e a Conde de Itaguaí, utilizava-se o método, só que a sorte dos capitães já determinava, antecipadamente, o destino da partida. Quem vencesse o par ou ímpar, dizia de cara: eu quero o Chico. Dificílimo, quase impossível, perder a pelada se o Chico estivesse no seu lado! O menino era um verdadeiro craque mirim, que infernizava a vida da defesa e do pobre goleiro. O capitão que escolhia em segundo lugar tratava de chamar o Tadeu, melhor goleiro da vizinhança, bem como os senhores zagueiros Orlando e Mangangá, o rápido lateral Paulo Afonso e o habilidoso armador Tonico, se o adversário ainda não os houvesse convocado.
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Esforço inútil, em geral. O Chico desequilibrava qualquer jogo, com seus dribles desconcertantes e seu faro de gol. Ele parecia efetuar algum passe de mágica e desaparecer subitamente ante o olhar e a marcação vigilante do Orlando, do Mangangá, de quem mais fosse. Se Paulo Afonso possuía a velocidade do som (além da estridência), Chico era a própria luz a percorrer o espaço do campo e a fulgurar com seus tentos brilhantes. Certa vez, inesquecível, ele humilhou o paredão Tadeu com desconcertante gol entre as pernas. Jamais humilhava o adversário com deboche, porém. Comemorava com discrição e mostra precoce de maturidade, para seus perto de doze anos na época. O buço então existente, que se destacava em sua pele clara, seria prenúncio de bigode no estilo Rivelino e de talento equivalente? Não deu para saber. A meninada aos poucos se separou, Chico inclusive, como consequência de mudanças de rua, de bairro, de cidade e até de país. Cada qual