Opto por me observar como um puzzle
Desde o início da nossa existência, que vamos desvendando diversos mistérios. Começamos, em primeiro lugar, por conhecer o restrito mundo e as pessoas ao nosso redor, compreendendo o conceito de família. Aprendemos a caminhar. Desvendamos o significado das letras e palavras, passando a saber ler e escrever. Expandimos todo este novo conhecimento ao resto do mundo, acabando mesmo por considerar que já descobrimos ou temos acesso a tudo. Contudo, há perguntas que permanecem constantes sobre o nosso intelecto, que mesmo que não queiramos sofrem mudanças e alterações ao longo do nosso quotidiano. Estas são aquelas que abordam o tão temido “Quem”, levando-nos a questionar “Quem fui?” “Quem sou?” e ainda pior “Quem serei?”. Pessoalmente, devido à minha forte veia científica, que me leva a racionalizar tudo, prefiro percecionar cada característica de uma pessoa como o resultado de um conjunto de acontecimentos na sua vida. Desta forma, consigo compreender mais facilmente o meu ser, no presente, pois basta relembrar os momentos que marcaram o meu passado. Destes, considero pertinente realçar três, que constituem aqueles que tive o singular privilégio de mudar de país, continente, mas, o mais assustador, sair completamente da realidade em que me encontrava. Nasci em Portugal, onde experienciei uma infância comum, porém, com apenas quatro anos, mudei-me para Cabo Verde e posteriormente, com nove anos, naveguei um bocado mais para sul passando a viver em Moçambique. Todavia, não sinto que tenham sido todas essas mudanças geográficas que influenciaram o meu desenvolvimento, mas, na realidade, o que esteve por detrás destas: o contexto social, psicológico e maioritariamente cultural de cada comunidade onde me passei a inserir. Consequentemente, com a minha regular estadia na terra lusitana, concebi a noção de conforto, segurança e patriotismo, visto que, mesmo estando fora do
PORTUGUÊS – 2020/2021
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