Bruges, um dia qualquer dos anos 80
Desembarcamos do trem numa manhã ensolarada, na “Veneza do norte”, uma cidade medieval, pequena e calma. Vínhamos, eu e Silvia, de Paris, levando conosco uma grande expectativa. Nos perdemos, encantadas, nas pontes, nos canais, nas ruas. Paramos no tempo, de certa forma, ouvindo aquela língua ao mesmo tempo sonora e rude. Entramos nos pequenos cafés para conversar bobagens e comer doces. Olhamos devagar a paisagem no meio das casas baixas e do verde ao longo dos canais. Algumas vezes, as pessoas se dirigiam a nós em flamengo. Na verdade, acho que nossos cabelos claros e o cantado do português brasileiro levavam as pessoas a nos confundir com belgas. Descobrirmos os encantos e as cores calmas dos quadros de Brueggel, Van Eick e Memling nos pequenos museus. Degustamos delicados chocolates. Subimos as escadas da torre da catedral para olhar lá de cima as curvas da cidade. Sentamo-nos à beira dos canais, apesar do frio outonal, para sentir o rumor silencioso dos barcos. Nos deliciamos com as batatas fritas com maionese, vendidas nos quiosques da praça do Grote Markt. As casas medievais, as cores calmas do outono e o tapete de folhas nas calçadas nos fizeram sonhar com os personagens dos séculos XV e XVI, retratados de forma delicada por Memling. Bruges é, sem dúvida, uma cidade para degustar devagar e voltar muitas vezes.
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