Ponta do Ouro, Moçambique, anos 80
Sexta feira, final de tarde. Na “carrinha” (palavra moçambicana para van), Fernando e Maria Alice, Saulo e Andrea, Vera, Sylvia, eu e Djanira, a caminho da Ponta do Ouro, com um motorista bêbado, que dirigia em ziguezague pela estrada poeirenta. Ansiosos, nos segurávamos como podíamos, pedindo que ele reduzisse a velocidade. Ele fingia que não ouvia. No caminho, “paragens” para verificar nossas “guias de marcha” (documento que nos permitia viajar pelo país). Cantávamos a plenos pulmões velhas músicas de carnaval, sambas, ares de Tom Jobim. Ponta do Ouro era um paraíso perdido ao sul de Moçam‑ bique, na fronteira com a África do Sul. Quilômetros e quilômetros de areia branca, mar azul e um hotel no meio do nada. Um enorme silêncio. Chegamos à noite, exaustos pela tensão da viagem com aquele doido. Depois de instalados nos bangalôs, fomos para a praia com algumas garrafas de Casal Garcia olhar a lua se refletindo nas ondas. Aos poucos, fomos voltando para os quartos. No sábado de manhã, o “mata-bicho” (café da manhã) foi copioso. Enquanto as pessoas chegavam, fomos repartindo bules de café, geleia e torradas. Foram cinco dias de risadas, de vinhos e de muitas histórias. Saulo, com seu histrionismo maravilhoso, nos matava de rir. Sylvia tinha um sorriso maior que o mundo. Vera, quieta, compartilhava a alegria daqueles momentos. Maria Alice e Fernando, em plena paixão, sumiam de repente com caras de cumplicidade. Andrea, na sua alegria de sempre, todos os dias depois do café da manhã, sumia nas ondas do mar. 114