Ilha de Moçambique, anos 80
Estamos na famosa ilha. Viemos passar cinco dias para os festejos de inauguração da Sociedade de Amigos da Ilha, que fica ao norte de Moçambique, a oito quilômetros da costa. A ilha foi habitada por árabes no século XV. Vasco da Gama, numa de suas viagens à Índia, passou por ali. Os portugueses se instalaram e fizeram um forte. A ilha foi a capital de Moçambique até fins do século XIX. Os indianos também passaram por ali. Durante muito tempo, foi parada obrigatória dos navios que iam para a Índia. Tudo isso resultou numa mistura incrível de raças e de culturas. As mulheres são lindíssimas. Se vestem com “capulanas” coloridas, lenços lindamente amarrados na cabeça, tem um andar gingado. Têm o rosto às vezes pintado de branco (uma máscara para a pele). As danças são acompanhadas por tambores, batuques, gritos, bater de bundas, pés, mãos e cantos. A paisagem é feita de coqueiros, um mar transparente, casas de taipa, uma mesquita (a maioria da população é muçulmana), um templo hindu, igrejas católicas, um forte, casas portuguesas, casas árabes. No meio disso, o sorriso e a simpatia das pessoas. Aqui se fala macúa e swahili. Pouca gente fala português. Estamos alojados numa escola, dormindo em colchonetes, por cima de esteiras em frente ao mar, com o barulho das ondas. Na primeira noite, uma menina nos acordou aos gritos: percevejos, percevejos! Acendemos a luz e descobrimos que nossos colchonetes estavam infestados daqueles bichos. Alguns de nós tinham sido picados por eles. 116