Em um lugar qualquer
Converso contigo como se nossos papos fossem possíveis agora. Morro de sono. De repente, uma sensação de coisa errada, uma carta urgente a ser escrita. Expectativas demais, sonhos demais. Um telefonema a dar. Um copo que quebrou. Depois, a TV, o parque. Coisas que a gente pensava que tinham ficado para trás. Que surgem na frente e se afogam como grãos de açúcar na mesa. As flores erradas, coisas assim. Tua voz que sumiu no telefone. Teu violão. Alguém dobrou a esquina. Eu tinha uma viagem programada e mil emoções soltas. Depois, o verão. E a noite desencontrada. O riso. O medo de perder a hora. A palavra que ficou escrita. A bola de neve girando rápido. No fundo, os passarinhos e o gato da vizinha. Alguém grita na porta de casa. A estrela caiu, por descuido, no fundo do papel. Enquanto as horas passam dentro do ônibus, eu penso em ti, em mim, em vocês. O ônibus corre em direção a Porto Alegre e eu sonho histórias fantásticas e banais. Olho a paisagem familiar das serras. Volto às origens num calmo Natal na Granja da Penha. Cheiro bom de terra molhada e uma velha promessa. Eu quero dormir com a paz do vento no meu colo, no arrepiar do braço. De repente, não mais que de repente. Existe uma calma nas coisas. Uma calma e uma ansiedade. Não sei bem por quê. A vida é cheia de porquês. Enquanto os carros passam na lagoa.
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