Os baús azuis
Sonhei, esta noite, com três baús azuis que me seguiram por algum tempo. Na minha viagem de navio, voltando de Paris, trouxe parte das minhas coisas nesses baús. Quando eu estava me preparando para voltar para o Brasil, lembro quando os arrumei, minuciosamente, para que todos os meus livros, discos e objetos coubessem naquele espaço, cuidando para que nada fosse quebrado. Lembro que o Iuli, com seu jeito especial, me ajudou muito. Os baús me acompanharam por muito tempo. Nas minhas primeiras casas brasileiras, serviram de armário, de mesa ou de sofá. Eram o testemunho de parte da minha história. Cada objeto que eu trouxe nos baús representava um momento de minha vida: as estátuas de ébano e sândalo lembram minha casa em Maputo, as feiras e as visitas aos artesãos, onde eu descobri cada uma delas. Algumas foram compradas na Ilha de Moçambique, no momento da festa da associação de amigos da ilha. Lembro que, em Paris e Estocolmo, eu não podia passar por uma loja de discos sem vasculhar toda a coleção de jazz. Eles foram o pano de fundo de muitos instantes de vida, festas, jantares, risadas e histórias. Discos do Traffic e da Roberta Flack me levam ao apartamento da Conselheiro Lafayette, no Rio, onde eu morei com a Helena e o Sérgio. Lembro que, quando saíamos para trabalhar, deixávamos sempre, na vitrola algum disco para o primeiro de nós que voltasse. Ouvindo o disco branco do Keith Jarrett, o Köln Concert, volto à Gentilly e chego a sentir o cheiro do pano que forrava a parede do nosso quarto. Ouvindo Lilás, do Djavan, me vejo dançando em uma das festas de Maputo. Não sei por que Bob 153