Rio
Luminosa manhã (porque tanto azul). Pino Daniele, Corcovado ao longe. Certa ansiedade. Tu, via aerograma, fazendo voltar um pouco o tempo, os portos, viagens, sóis de Moçambique. Tanzânia, Zanzibar, companheirismo, estados de espírito. Rir juntos e não perder o humor nessa loucura. Um cinzeiro francês, outro egípcio, um cesto tanzaniano. E eu, onde? Pertenço a este verde dos morros de Santa Teresa? Passa um ônibus no meio das árvores. Parece que vai chover. Os passarinhos anunciam a umidade, assanhados. Você, onde, ao meio-dia? Norma Bengel, lânguida, em filmes branco e preto. Anos 60. Cinemateca da Urca. Filmes emendados. Discussões sem fim. Depois, voltar para a mesa verde e falar doce contigo, menina de voz macia. Ao som das estrelas vazias. No fundo dos teus olhos azuis de verão. Verão, vida, mangas maduras. As coisas talvez fiquem mais simples agora. Julinha, Crica, Estela. Lélia. Ciano. O Gordo se ajeitando na areia. Nossos muitos charos antes ou depois da praia. Os filmes da meia-noite de sábado. As idas a Búzios e Cabo Frio. Ipanema como centro das nossas vidas. Os planos para viagens à Europa, os sonhos, as loucuras. Ácidos com Jorge, Helena, Eduardo, Sérgio. Chopes nos bares da vida. Os sucos da esquina da praça General Osório. As butiques novas abrindo, mostrando roupas hippies que nos fascinavam. Janis Joplin, “Submarino Amarelo”, o apartamento da Conselheiro Lafayette. Nosso vizinho Drummond. 156