Rio, um dia qualquer
Segunda-feira, Ella & Louis, Porgy & Bess, eu e Virgínia. Dia sombrio. Café. Na claridade da cozinha, o barulho da máquina. O medo, o cansaço. Um fim de semana com Helena, Iuli e praias. E, depois, Gismonti e um copo de vinho. Um jantar cheio de mulheres, com bolo de nozes. Manhã que começa com Jean-Pierre Rampall e Claude Bolling. Na cozinha, esperando o café com uma suave promessa para o dia. Passarinhos, oito e meia. Menino, te levarei um dia para sairmos juntos, fumar um charo, esperando a lua sair no meio das buganvílias do verão. Te verei pela voz ao telefone? Aonde, você? Sexta-feira à noite. Repartirei conversas mornas e musicais. Promessas de um fim de semana no ar. Esperei por ti. Comprei Porto. Ouvi “My Song” até a exaustão Fumei um charo e comecei a ler o jornal. Terminei de ler As escolhas de Sofia. De repente, tive saudades de mil pessoas. E uma vaga tristeza. Escrevi postais. Ficou tudo intemporal de repente. E um riso nervoso que surge. Tantos dias começaram e o sol desceu rindo. Tantos dias quentes e o barulho da lagoa. A luz acesa, o mar batendo nas areias da Urca, Arica. As partidas, endereços, bobagens que eu disse e quis engolir. Receitas de vida. O Ivan Ângelo agora. Teu carinho, talvez. O te sentir de novo. Não sei por quê. Xiquinho me deu medo. E a gente nem falou disso. Depois, talvez eu tivesse mais medo. Um outro medo. De repente, ficou frio. É mais difícil falar, porque a porta abre, o dia seca. E eu quero te ver. 159