Porto, voltando de Roma
Primavera e calor numa tarde de sábado. Almoço com teus olhos risonhos de menino e com tuas mãos secas e carinhosas. Estou virada para o rio. Numa tasca tosca, bebemos vinhos à nossa saúde. Foi o começo de um dia lindo, de uma embriaguez sem fim. Éramos ainda a novidade do reencontro, para as nossas mãos, nossos corpos, nossos olhos. Falávamos sem parar, lembrando Maputo, Marina, Nilson, Alice. Fomos crianças naquela tarde. Visitamos a cave do homem da capa preta. Fingimos ser franceses entre risos disfarçados. O Porto nos mostrou suas ladeiras, suas roupas estendidas, suas lavadeiras, suas tascas. Seus mercados, seus cafés de estudantes. Andamos de bonde, eu já bêbada, depois da cave do homem da capa preta, segurava tuas mãos, te beijava, te acarinhava. Tu, meio ansioso e envergonhado, não sabias o que fazer. O bondinho nos levou a um doce pôr do sol. Num fim de linha do bonde, alguns velhos conversavam em bando, com aquele olhar calmo e corado (minha câmera guarda a foto dos velhos portugueses, todos de costas para o mar numa amurada, conversando no fim da tarde). Terminamos o pôr de sol com mais porto no Jardim do Solar, com a ponte, o mar ao fundo e a cidade vermelha e dourada. As cores mudavam nos nossos olhos cheios de vinho. Lembramos mais histórias de Maputo, de Marina, de Alice. Procuramos um hotel, mais bêbados, rindo e falando sem parar. Tu, com teu fôlego sem fim, ainda querias ir ao teatro e a um bar no centro. 182