Bireme
Quando eu estava em Roma, me curando da hepatite, recebi um telefonema de São Paulo me oferecendo trabalho na Bireme – Sistema de Informação em Saúde da América Latina. Cheguei no Rio, onde estavam as minhas coisas, e viajei em seguida para São Paulo para conversar com o diretor daquela instituição. O salário era razoável. Eu deveria chefiar uma equipe de trinta pessoas, que trabalhavam nos serviços da Biblioteca do Sistema. Nunca gostei muito de ser chefe. Mas eu estava voltando ao Brasil depois de seis meses e não tinha trabalho. Não gostava muito da ideia de ir morar em São Paulo. Passei uns dias pensando e finalmente aceitei. Trouxe meu fusquinha do Rio, encontrei rapidamente um pequeno apartamento num lugar simpático da cidade e mudei para lá. Fiquei cinco anos na Bireme, entre greves por melhores salários, reuniões com funcionários, cursos, viagens e visitas a bibliotecas. Os dias eram monótonos, mas, quando era possível, no final do dia, eu ia a um cineminha. Fiz alguns amigos, com os quais ia almoçar e tomar café. Com exceção de alguns homens que trabalhavam na seção de informática, minhas amigas eram todas secretárias dos diversos departamentos da Bireme. As bibliotecárias de lá eram, em sua maioria, mulheres de médicos, quase todas dondocas de cabeça oca. Eu não tinha muito o que conversar com elas. Além disso, eu era a única bibliotecária que fazia greve. De vez em quando, aconteciam festas e almoços simpáticos na Bireme. Mas aquele lugar tinha um clima de 184