Vó Angelina
Doçura sem fim. Angelina tinha uma cara redonda, olhos azuis e sorridentes. Foi morar no apartamento ao lado do nosso quando meus pais faleceram. Ficou viúva cedo, com sete filhos. Sustentava a família como professora, equilibrando-se com um salário pequeno. Morava naquele apartamento, com a tia Liliza e o Chico, seus filhos solteiros e a sua irmã Filomena. Quando o Chico se casou, continuou a viver com ela por algum tempo. Recebia hóspedes de Cachoeira o tempo todo. Nunca se queixava. Tinha sempre uma palavra para cada um, um carinho, um sorriso enorme. Como os apartamentos eram térreos com quintais, o vô abriu um portão no muro que os separava. Passávamos os dias andando de um apartamento para o outro. Lembro-me das duas avós, Delfinha e Angelina, as cabecinhas brancas, conversando no portão entre os pátios. Sempre que estávamos tristes, vó Angelina nos estreitava no seu abraço enorme. Cozinhava divinamente, espaguetes, pizzas, raviólis, canelones. Cantava canções italianas enquanto cozinhava. Tinha vindo da Nocera Superiore, no sul da Itália, para Cachoeira com os pais e irmãos quando era pequena. Contava histórias da sua infância. Histórias do Vesúvio. Tinha muitos amigos. Quando ia a Cachoeira, a casa onde estava se enchia de gente. Lembro que dizia: é preciso cultivar as amizades. Apesar de viver com pouco dinheiro, ajudava sempre todo mundo. Quantas vezes chegamos lá atrás de carinho e de consolo? 25