Lembranças de Cachoeira
Saci, Cachoeira. Cinco copos d’água para nos fazer importantes e poder sentar-nos na sorveteria. O sorvete chegando enquanto nossos corpos nos diziam suor. Distenso verão soando como música em meus ouvidos. No Fusca, Loreto e Maydana nos chamando para o passeio proibido au delà du pont. Sol na ponta dos nossos desejos escondidos, com medo. Sol na estrada poeirenta. No rock do carro ligeiro. A volta e um picolé apressado, nossos 14-15 anos. Rostos afogueados, suados. Desejos escondidos na grama molhada. Sete horas. Hora de voltar. Na casa da vó, a tv ligada e o relógio vibrando nossos passos nas tábuas de madeira. Guisadinho com milho e arroz. E a fala raivosa da Delfinha: isso são horas meninas? Por onde andavam? As notícias da tv na minha cabeça, lembrando a festa do sábado, o passeio na ponte, tua mão quente que me dá arrepio. Outro dia qualquer, passar na Mafalda. Seu Joãozinho no jardim. Calor. Paralelepípedos fervendo. Erecina e Evelin na casa da tia Angélica. Tio Virgílio fazendo canteiros para os netos com seu ar doce e risonho. — Meninas, não voltem tarde! Chácara. Passeios de moto. Ericina, avançadinha, puxa um cigarro com ares de moderna. Na saída do cinema, passar correndo nos terrenos baldios da rua Sete. Depois, na casa da tia Angélica, jogar travesseiros e rir aos montes.
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