Capão da Canoa, anos 50
O vô era apaixonado pelo mar. Adorava ficar boiando no meio das ondas. No início dos anos 50, comprou, com o seu Santinho, um prédio térreo com oito apartamentos que eles chamaram de Solar Cachoeirense. Venderam cada unidade para a família e os amigos. O vô e o Santinho ficaram com um apartamento cada. Todos os anos, passávamos o mês de fevereiro lá. O solar, era cheio de crianças, primos e filhos de amigos da família. Crescemos juntos naqueles fevereiros de sol e mar. Era uma festa ir à praia todos os dias. À tardinha, depois do banho, íamos dar uma volta na praça. Levávamos o Eduardo, pequeninho nos seus macacões bufantes para andar de balanço. Podíamos andar sozinhos para todo o lado descobrindo bairros novos, novas sorveterias, lugares para tomar sucos, revistarias. Um novo circo chegando. O cinema de Atlântida, a praia vizinha. À noite, íamos em bando ao Balneário Rio-Grandense, um hotel com um restaurante enorme, para encontrar amigos, tomar sorvete e ver os meninos. Comíamos melancias, íamos contrariados às missas. Fazía‑ mos passeios de carro pela praia até Tamandaí ou a Torres. Eu usava shorts vermelhos com debrum azul. Camisetas listradas, com cheiro de roupas de férias. Uvas e ameixas na frente de casa. A rua da igreja. Meu medo fóbico dos cachorros que me fez levar muitos tombos. Passar em frente ao cinema na saída da praia para ver qual seria o filme do dia. Lembro que fui, com uma prima, ver o ousado (para a época) filme “E deus criou a mulher” com Brigite Bardot. Não tínhamos ainda 18 anos. Nos maquiamos 31