A Universidade
Entrei no curso de Biblioteconomia em 1966, com minhas amigas do Sévigné. Na sala, só meninas. Repartíamos o prédio com os alunos do curso de Economia, onde a maioria era homem. Compartilhávamos com os meninos o bar, o auditório, os corredores e o centro acadêmico. Foi uma revolução, na minha cabeça, sair daquele ambiente protegido do colégio de freiras e entrar na universidade, onde algumas aulas eram vivas e cheias de discussão. Lembro das aulas de História da Arte, com o professor Jairo, que me abriram para um outro mundo, com visitas aos museus da cidade e palestras de artistas gaúchos. Lembro das aulas de disciplinas técnicas, dadas, em sua maioria, por professoras sem imaginação. A professora Lucília, que lecionava Referência, era nossa melhor mestra. Suas aulas eram muito criativas, com visitas às bibliotecas da cidade e conversas com bibliotecários. Os bailes na Reitoria eram muito animados e duravam até o amanhecer. Lembro das passeatas contra a ditadura, que endurecia pouco a pouco. Sentia-me importante caminhando na rua, gritando palavras de ordem. O diretório da Faculdade de Economia era bastante engajado politicamente e conseguiu recrutar muitas alunas da Biblioteconomia. Fui descobrindo aos poucos o horror da ditadura que estávamos vivendo nas muitas reuniões no centro acadêmico. Quando concluí o curso, fui trabalhar no arquivo que armazenava as plantas do setor de Obras da Universidade. As aulas de Arquivística não tinham me preparado para esse trabalho. Depois de muitas leituras e de conversas com outros bibliotecários, consegui criar um sistema para recuperar 37