Estocolmo, na cozinha do Stureby, um dia qualquer
Estação Gardet, seis da manhã. Jeans desbotados, camisetas, sono. Mais um dia de trabalho. Aventais brancos, tamancos, panelas imensas. Algumas ordens mal-humoradas. Outras, risonhas. O sorriso da Crica. A cara de desvario do Eduardo. O olhar maroto do Tuomo. O olhar de conquistador do Tanju. Jan, o estudante polonês, conta histórias da destruição de Varsóvia na Segunda Guerra. Tomo uma vodca com ele, à tardinha, ao som de Dollar Brand. Falamos de literatura e da Polônia. Fala-se sueco, português, inglês, finlandês, turco e espanhol na babilônica cozinha. A confusão é maior às 11 horas, quando enchemos os recipientes de comida para os doentes. Sal de mais, purê aguado. Compartilhamos nossas loucuras e rimos uns para os outros enchendo as vasilhas. Amanhã vamos à casa do Hussein, um dos estudantes turcos que trabalha conosco. Narguilé com músicas lânguidas e hard rock. Pinceladas de Artaud. Depois de três meses, a temporada no Stureby terminava. Eu tomava um trem para o Sul, até à Grécia.
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